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ASPECTOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL SISTEMA DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE E AS AÇÕES ESPECÍFICAS DE CONTROLE CONCENTRADO O objetivo deste estudo é apresentar o sistema de controle judicial, político, misto, os modelos de controle difuso e concentrado. Ainda se pretende tratar da Cláusula de Reserva de Plenário e da Súmula Vinculante n⁰ 10, que são importantes para o nosso estudo. Finalmente, trataremos das ações específicas de controle de constitucionalidade concentrado, assim o acadêmico conseguirá ter uma visão do funcionamento delas junto ao judiciário. SISTEMA DE CONTROLE Em cada país temos uma forma de controle diferente, pois cada nação tem a possibilidade de escolher a sua forma de controle constitucional, e tudo dependerá da escolha do legislador constituinte. Assim, com tal informação, temos os seguintes sistemas de controle: o controle judicial, o controle político e o controle misto. “Se a Constituição outorgar a competência para declarar a inconstitucionalidade das leis ao Poder Judiciário, teremos o sistema judicial (ou jurisdicional)” (PAULO; ALEXANDRINO, 2017, p. 738). SISTEMA DE CONTROLE “O sistema jurisdicional nasceu nos Estados Unidos da América e foi o primeiro Estado a reconhecer a competência dos juízes e tribunais; Judiciário para, nos casos concretos submetidos à apreciação, declarar a inconstitucionalidade das leis” (PAULO; ALEXANDRINO, 2017, p. 738). SISTEMA DE CONTROLE “De regra, nos Estados que adotam controle político, a fiscalização da supremacia constitucional é realizada por órgão especialmente constituído para esse fim, distinto dos demais Poderes do Estado” (PAULO; ALEXANDRINO, 2017, p. 738). Podemos exemplificar tal situação com a França, onde a fiscalização da constitucionalidade é realizada e de encargo do Conselho Constitucional, um órgão que se encontra equidistante das demais estruturas. SISTEMA DE CONTROLE “No Brasil, o controle de constitucionalidade realizado nas Casas Legislativas, pelas Comissões de Constituição e Justiça, é exemplo de controle político. Também é controle político de constitucionalidade o veto do Chefe do Poder Executivo a projeto de lei, com fundamento em inconstitucionalidade da proposição legislativa (veto jurídico)” (PAULO; ALEXANDRINO, 2017, p. 738). SISTEMA DE CONTROLE “Ademais, poderá também a Constituição outorgar a competência para a fiscalização de algumas normas a um órgão político, consubstanciando o denominado controle de constitucionalidade misto” (PAULO; ALEXANDRINO, 2017, p. 738). Temos como exemplo o caso da Suíça, onde as leis nacionais são reguladas na forma do sistema de controle político e as leis locais são reguladas pelo Poder Judiciário. SISTEMA DE CONTROLE “A maioria das Constituições contemporâneas tem adotado o sistema judicial para a fiscalização da validade das leis, inclusive a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988” (PAULO; ALEXANDRINO, 2017, p. 739). Na figura trazida por Paulo e Alexandrino (2017, p. 739) temos a divisão do sistema de controle e uma breve explanação sobre o que elucidará suas ideias sobre o tema: MODELOS DE CONTROLE Na maioria das constituições existe a previsão de dois momentos de controle: um seria o controle difuso, ou também chamado de jurisdição constitucional difusa, com origem nos Estados Unidos da América, e o outro, o controle concentrado, também chamado de jurisdição concentrada), com origem na Áustria. MODELOS DE CONTROLE “Ocorre o controle difuso (ou aberto) quando a competência para fiscalizar a validade das leis é outorgada a todos os componentes do Poder Judiciário, vale dizer: qualquer órgão do Poder Judiciário, juiz ou tribunal, poderá declarar a inconstitucionalidade das leis” (PAULO; ALEXANDRINO, 2017, p. 740). MODELOS DE CONTROLE “O modelo difuso de fiscalização surgiu nos Estados Unidos da América, a partir do célebre caso Marbury v. Madison, em 1803, quando a Suprema Corte Americana, sob o comando do Chie/Justice John Marshall, firmou o entendimento de que o Poder Judiciário poderia deixar de aplicar uma lei aos casos concretos a ele submetidos, por entendê-la inconstitucional” (PAULO; ALEXANDRINO, 2017, p. 740) MODELOS DE CONTROLE Após a situação narrada o sistema foi expandido para diversos ordenamentos constitucionais. Assim, tem-se a imagem de que o Poder Judiciário, os juízes e os tribunais só precisam apor as situações e as leis que avaliem ajustada a Constituição. “Temos o sistema concentrado (ou reservado) quando a competência para realizar o controle de constitucionalidade é outorgada somente a um órgão de natureza jurisdicional (ou, excepcionalmente, a um número limitado de órgãos)” (PAULO; ALEXANDRINO, 2017, p. 740). MODELOS DE CONTROLE No sistema, o órgão competente poderá desempenhar, concomitantemente, as atribuições de jurisdição e de controle de constitucionalidade das leis, ou ainda, tão somente o controle da constitucionalidade. O modelo concentrado teve sua origem na Áustria, em 1920, sob a influência do jurista Hans Kelsen. Para Kelsen, a fiscalização da validade das leis representava tarefa especial, autônoma, que não deveria ser conferida a todos os membros do Poder do Judiciário, já encarregados de exercerem a jurisdição, mas somente a uma Corte Constitucional, que deveria desempenhar exclusivamente a função (PAULO; ALEXANDRINO, 2017, p. 740). MODELOS DE CONTROLE Na época tem-se que se constituiu o Tribunal Constitucional Austríaco, que tinha a competência específica de efetivar o controle de constitucionalidade das leis. “Na visão de Kelsen, a função precípua do controle concentrado não seria a solução de casos concretos, mas sim a anulação genérica da lei incompatível com as normas constitucionais” (PAULO; ALEXANDRINO, 2017, p. 740). Na figura trazida por Paulo e Alexandrino (2017, p. 742) temos um resumo dos modelos de controles difuso e concentrado, para que tenhamos uma compreensão melhor sobre o conteúdo tratado até o momento. MODELOS DE CONTROLE “É preciso entender que o controle ou é concentrado ou é difuso. São modelos que não podem ser simplesmente conjugados entre si. Não se pode falar em modelo misto aqui” (TAVARES, 2012, p. 252). “A mistura, união de ambos, é uma contradição, pois ou um grande número (eventualmente todos, como no Brasil) de órgãos judiciais pode fazer o controle, e ele será difuso, ou apenas um específico órgão (STF), caso em que será concentrado” (TAVARES, 2012, p. 252). Assim, passamos a uma análise mais pormenorizada dos Controles de Constitucionalidade Difuso e Concentrado. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DIFUSO Segundo Novelino (2015, p. 183), “a Constituição brasileira adota o controle jurisdicional misto (ou combinado) de constitucionalidade, exercido nos modelos difuso (sistema norte-americano) e concentrado (sistema austríaco ou europeu)”. “Consagrado no sistema constitucional brasileiro desde a primeira Constituição Republicana (1891), o controle difuso (ou aberto) pode ser exercido, incidentalmente, por qualquer juiz ou tribunal dentro do âmbito de sua competência” (NOVELINO, 2015, p. 183). CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DIFUSO “A finalidade principal do controle difuso-concreto é a proteção de direitos subjetivos (processo constitucional subjetivo)” (NOVELINO, 2015, p. 183). A espécie de controle de constitucionalidade surge sempre a partir de um caso concreto levado à apreciação do Poder Judiciário, por iniciativa de qualquer pessoa cujo direito tenha sido supostamente violado. “O parâmetro invocado poderá ser qualquer norma formalmente constitucional, mesmo quando já revogada, desde que vigente ao tempo da ocorrência do fato (tempus regit actum)” (NOVELINO, 2015, p. 187). CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DIFUSO “Como objeto, admite-se qualquer ato emanado dos poderes públicos. Não existe restrição quanto à natureza do ato questionado (primárioou secundário; normativo ou não normativo) ou quanto ao âmbito de sua emanação (federal, estadual ou municipal)” (NOVELINO, 2015, p. 188). Na situação, não se leva em consideração se o ato impugnado ficou efetivamente abolido, se seus efeitos já se concretizaram ou ainda se ele é ou não anterior à Constituição em vigor. O interessante é observar se existiu ou não a infração de um direito pessoal advindo do antagonismo entre um ato do poder público e a Constituição em vigor no instante em que o episódio aconteceu. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DIFUSO ⇨ Cláusula de Reserva de Plenário: Prevê a Constituição Federal de 1988 que somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público (BRASIL, 1988). Assim, para ser declarada a inconstitucionalidade existe a necessidade do voto da maioria absoluta dos membros do plenário ou, onde houver, do órgão especial. Dirigida apenas aos tribunais, a regra constitucional não se aplica aos juízes singulares, nem às turmas recursais dos juizados especiais. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DIFUSO “A Segunda Turma do STF, invocando norma regimental, entendeu ser dispensada a observância da cláusula da reserva de plenário pelos órgãos fracionários daquele Tribunal nos casos de julgamento de Recurso Extraordinário” (NOVELINO, 2015, p. 188). “A regra full bench (tribunal completo) se aplica tanto ao controle difuso quanto ao concentrado, sendo que neste o quórum de maioria absoluta deverá ser observado também na hipótese de declaração de constitucionalidade” (NOVELINO, 2015, p. 188, grifo nosso). CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DIFUSO Dispõe o art. 23, parágrafo único da Lei n⁰9.868/1999, que: Art. 23. Efetuado o julgamento, proclamar-se-á a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da disposição ou da norma impugnada se num ou noutro sentido se tiverem manifestado pelo menos seis ministros, quer se trate de ação direta de inconstitucionalidade ou de ação declaratória de constitucionalidade. (...) CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DIFUSO (...) Parágrafo único. Se não for alcançada a maioria necessária à declaração de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade, estando ausentes ministros em número que possa influir no julgamento, este será suspenso a fim de aguardar-se o comparecimento dos ministros ausentes até que se atinja o número necessário para prolação da decisão num ou noutro sentido. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DIFUSO “No controle difuso (incidental) o pronunciamento do plenário ou do órgão especial deve se restringir à análise da inconstitucionalidade da lei em tese (antecedente), sendo o julgamento do caso concreto feito pelo órgão fracionário (consequente), vinculado àquele pronunciamento” (NOVELINO, 2015, p. 188). CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DIFUSO Prevê o art. 949, parágrafo único do Código de Processo Civil de 2015, que: Os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao plenário ou ao órgão especial a arguição de inconstitucionalidade quando já houver pronunciamento ou do plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a questão (BRASIL, 2015). CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DIFUSO “Existindo pronunciamento anterior sobre a constitucionalidade da norma por parte do Supremo Tribunal Federal, guardião da Constituição incumbido de dar a última palavra em termos de interpretação constitucional, a adoção do mesmo entendimento pelo órgão fracionário prestigia a força normativa da Constituição” (NOVELINO, 2015, p. 188). CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DIFUSO No caso de pronunciamento anterior do próprio tribunal, por ser a análise da constitucionalidade feita sempre em abstrato (incidente processual de natureza objetiva), o entendimento adotado pelo plenário (ou órgão especial) deve valer não apenas para o caso concreto em que surgiu o incidente, mas também como paradigma (leading case) para todos os demais processos da competência do tribunal (NOVELINO, 2015, p. 188). CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DIFUSO Segundo Novelino (2015, p. 189), a cláusula da reserva de plenário somente é exigida nas hipóteses de declaração da inconstitucionalidade da lei ou ato normativo. Não é necessária sua observância, portanto, nas seguintes hipóteses: I) reconhecimento da constitucionalidade (princípio da presunção de constitucionalidade das leis); CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DIFUSO II) nos casos em que o tribunal utiliza a interpretação conforme a Constituição, mesmo havendo exclusão de um determinado sentido ou âmbito de abrangência da norma; III) no caso de normas pré-constitucionais, por não se tratar de inconstitucionalidade, e sim de não recepção. No caso, apesar de haver precedente, neste sentido, foi reconhecida a existência de Repercussão Geral, sendo o tema submetido à reapreciação da Corte. Por se tratar de uma regra de competência funcional, a inobservância da cláusula da reserva de plenário fora das hipóteses supramencionadas acarreta a nulidade absoluta da decisão proferida pelo órgão fracionário (NOVELINO, 2014, p. 189). CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DIFUSO Súmula Vinculante 10: O Supremo Tribunal Federal aprovou a Súmula Vinculante n⁰ 10 com o seguinte teor: “Viola a cláusula de reserva de plenário a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, afasta sua incidência no todo ou em parte” (BRASIL, 2008). CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DIFUSO “O Tribunal optou pela expressão ‘lei ou ato normativo’, conforme prevê o texto constitucional, em substituição ao termo ‘norma’, constante na redação original do enunciado da súmula” (NOVELINO, 2015, p. 189). “Ao mencionar o afastamento da incidência ‘no todo ou em parte’, o enunciado deixa clara a necessidade de submeter a questão ao plenário quando do reconhecimento da inconstitucionalidade, não apenas de toda a lei, mas também de alguns de seus dispositivos [...]” (NOVELINO, 2015, p. 189). CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DIFUSO A edição da Súmula Vinculante n⁰ 10 teve por intenção “afastar qualquer dúvida acerca da necessidade de os órgãos fracionários de tribunais submeterem a análise da constitucionalidade de uma norma ao plenário ou órgão especial” (NOVELINO, 2015, p. 189). O STF considera “declaratório de inconstitucionalidade o acórdão que – embora sem o explicitar – afasta a incidência da norma ordinária pertinente à lide, para decidi-la sob critérios diversos alegadamente extraídos da Constituição” (NOVELINO, 2015, p. 189). CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DIFUSO “A análise da jurisprudência praticada no âmbito dos tribunais revela a frequente utilização de artifícios por parte de órgãos fracionários com o intuito de subtração da incidência da cláusula constitucional full bench” (NOVELINO, 2015, p. 189, grifo nosso). “A não aplicação de uma norma constitucional a um caso concreto em razão de suas circunstâncias específicas não pode ser comparada a um juízo de inconstitucionalidade” (NOVELINO, 2015, p. 189). CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DIFUSO A edição da súmula não teve escopo diante da exigência da cláusula nas situações em que o tribunal encurta a aplicação de uma norma a um certo número de casos, apartando a sua incidência. “Por não admitir a declaração de nulidade parcial sem redução de texto no controle difuso, o STF vem adotando o entendimento de que a decisão que atribui ou exclui um determinado sentido confere à lei uma interpretação conforme a Constituição” (NOVELINO, 2015, p.189). CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DIFUSO Não se aplicaria a cláusula da reserva de plenário, pois a inconstitucionalidade seria uma interpretação inconciliável com o texto constitucional, e não na lei ou no ato normativo. “Com o advento da súmula, poder-se-iasupor uma mudança de orientação jurisprudencial, no sentido de ser exigida a observância da cláusula também para os casos nos quais uma hipótese de aplicação é excluída” (NOVELINO, 2015, p. 189). Por fim, vale registrar que o dispositivo do Código de Processo Civil citado anteriormente não foi extinto com a edição do novo enunciado de súmula. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE CONCENTRADO “O controle concentrado de constitucionalidade surgiu na Constituição da Áustria de 1920, fruto da criação intelectual de Hans Kelsen (sistema austríaco). Por ser a principal modalidade de controle adotada pelos países da Europa, costuma ser identificada também como sistema europeu” (NOVELINO, 2015, p. 195). “No direito brasileiro, a Emenda Constitucional 16/1965 foi a responsável por introduzir o controle concentrado na Constituição de 1946” (NOVELINO, 2015, p. 195). CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE CONCENTRADO “O controle concentrado exercido abstratamente tem por finalidade precípua a defesa da ordem constitucional objetiva, razão pela qual o processo constitucional objetivo pode ser instaurado independentemente da existência de uma lide ou de lesões concretas a direitos subjetivos” (NOVELINO, 2015, p. 195). Ressaltamos que não quer dizer que os amparos aos direitos não são relevantes no controle abstrato, contudo não são o foco principal. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE CONCENTRADO Temos, na Constituição Federal de 1988, quatro mecanismos de controle concentrado-abstrato de constitucionalidade: a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), a Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC), a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) e a Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO). CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE CONCENTRADO “Por se tratar de controle concentrado, a competência para processar e julgar todas essas ações, quando o parâmetro for norma da Constituição da República, é reservada ao Supremo Tribunal Federal” (NOVELINO, 2015, p. 195). Assim, temos, ainda, a figura explicativa de Paulo e Alexandrino (2017, p. 886), que destaca as situações e os meios de controle concentrado-abstrato nos âmbitos federal, estadual e municipal. VIAS DE AÇÃO As vias de ação levam a uma forma que poderá impugnar uma lei diante do Poder Judiciário que, após instigado, fará a fiscalização da legislação. O questionamento é: como pode a lei ser contestada pelo Poder Judiciário? Temos, em nosso ordenamento, a princípio, duas formas de exercício do controle de constitucionalidade das leis: a via incidental, chamada de defesa ou de exceção, e a via principal, chamada de abstrata ou de ação direta. VIAS DE AÇÃO “O exercício da via incidental dá-se diante de uma controvérsia concreta submetida à apreciação do Poder Judiciário, em que uma das partes requer reconhecimento da inconstitucionalidade de uma lei, afastando a sua aplicação ao caso concreto de seu interesse” (PAULO; ALEXANDRINO, 2017, p. 741). VIAS DE AÇÃO “A apreciação da constitucionalidade não é o objeto principal do pedido, mas um incidente do processo, um pedido acessório. Assim, a eventual declaração da inconstitucionalidade é dita incidental, incidenter tantum (o provimento judicial principal será o reconhecimento do direito pleiteado pela parte, decorrente do afastamento da lei àquele caso levado ao juízo)” (PAULO; ALEXANDRINO, 2017, p. 741, grifo nosso). VIAS DE AÇÃO “É o modelo norte-americano de fiscalização da validade das leis, em que todos os juízes e tribunais do Poder Judiciário realizam o controle de constitucionalidade durante a apreciação dos casos concretos que são apresentados” (PAULO; ALEXANDRINO, 2017, p. 741). VIAS DE AÇÃO Segundo o modelo americano, no pedido realizado ao Judiciário não pode ser contida a declaração de inconstitucionalidade da lei, mas sim, tem-se o interesse de um direito seu, contudo, de forma incidental, faz a arguição de inconstitucionalidade. Uma vez instigado o juiz, este deve decidir primeiro a situação. Desse modo, o controle incidental pode ser exercido perante qualquer juiz ou tribunal do Poder Judiciário, em qualquer processo judicial, seja qual for a sua natureza (penal, civil etc.), sempre que alguém, na busca do reconhecimento de determinado direito concreto, suscitar um incidente de inconstitucionalidade, isto é, alegar, no curso do caso concreto, que determinada lei, concernente à matéria, é inconstitucional (PAULO; ALEXANDRINO, 2017, p. 741). VIAS DE AÇÃO Assim, tem-se a modalidade de controle de constitucionalidade incidental, que se fundamenta na situação de que todos os casos reais devem ser decididos de acordo com a Constituição. “Pela via principal, o pedido do autor da ação é a própria questão de constitucionalidade do ato normativo. O autor requer, por meio de uma ação judicial especial, uma decisão sobre a constitucionalidade, com o fim de resguardar a harmonia do ordenamento jurídico” (PAULO; ALEXANDRINO, 2017, p. 741). AÇÕES ESPECÍFICAS DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE CONCENTRADO Na Constituição Federal temos várias espécies de controle concentrado: a Ação Direta de Inconstitucionalidade Genérica; a Ação Direta de Inconstitucionalidade Interventiva; a Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão; a Ação Declaratória de Constitucionalidade e a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental. AÇÕES DIRETAS DE INCONSTITUCIONALIDADE É de competência do Supremo Tribunal Federal (STF) processar e julgar as ações diretas de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual. O impetrante do pleito suscita ao STF que observe a lei ou ato normativo federal ou estadual, no intuito de conseguir o cancelamento da lei. O procedimento fundamenta-se para garantir a segurança das relações jurídicas, uma vez que essas relações não podem ser fundamentadas em leis ou atos inconstitucionais. AÇÕES DIRETAS DE INCONSTITUCIONALIDADE Hans Kelsen, citado por Moraes (2017, p. 531), criador do controle concentrado de constitucionalidade, justificou a escolha de um único órgão para exercer o controle, salientando que: “se a Constituição conferisse a toda e qualquer pessoa competência para decidir a questão, dificilmente poderia surgir uma lei que vinculasse os súditos do Direito e os órgãos jurídicos. Devendo evitar uma situação, a Constituição apenas pode conferir competência para um determinado órgão jurídico”. AÇÕES DIRETAS DE INCONSTITUCIONALIDADE Entende-se que se o controle da constitucionalidade das leis é reservado a um único tribunal, este pode deter competência para “anular a validade da lei reconhecida como inconstitucional não só em relação a um caso concreto, mas em relação a todos os casos a que a lei se refira. Até o momento, porém, a lei é válida e deve ser aplicada por todos os órgãos aplicadores do Direito” (MORAES, 2017, p. 531). AÇÕES DIRETAS DE INCONSTITUCIONALIDADE Por meio do controle, procura-se obter a “declaração de inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo em tese, independentemente da existência de um caso concreto, visando-se à obtenção da invalidação da lei, a fim de garantir-se a segurança das relações jurídicas, que não podem ser baseadas em normas inconstitucionais” (MORAES, 2017, p. 531). Passamos a uma análise específica de cada uma das ações e observando suas características principais e fundamento legal. AÇÕES DIRETAS DE INCONSTITUCIONALIDADE Ação Direta de Inconstitucionalidade Genérica (ADI GENÉRICA): A Ação Direta de Inconstitucionalidade Genérica encontra-se prevista na Constituição Federal de 1988: Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - Processar e julgar, originariamente: a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal (BRASIL, 1988).AÇÕES DIRETAS DE INCONSTITUCIONALIDADE A Ação Direta de Inconstitucionalidade tem “natureza dúplice, pois sua decisão de mérito acarreta os mesmos efeitos, seja pela procedência (inconstitucionalidade), seja pela improcedência (constitucionalidade), desde que haja maioria absoluta dos ministros do Supremo Tribunal Federal” (MORAES, 2017, p. 532). AÇÕES DIRETAS DE INCONSTITUCIONALIDADE São competentes para interpor a Ação Direta de Inconstitucionalidade as pessoas elencadas no art. 103 e seus incisos da Constituição Federal de 1988: Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) I - o Presidente da República; II - a Mesa do Senado Federal; III - a Mesa da Câmara dos Deputados; IV - a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) AÇÕES DIRETAS DE INCONSTITUCIONALIDADE V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) VI - o Procurador-Geral da República; VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VIII - partido político com representação no Congresso Nacional; IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional (BRASIL, 1988). AÇÕES DIRETAS DE INCONSTITUCIONALIDADE Ação Direta de Inconstitucionalidade Interventiva (ADI INTERVENTIVA): Art. 36. A decretação da intervenção dependerá: [...] III - de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de representação do Procurador Geral da República, na hipótese do art. 34, VII, e no caso de recusa à execução de lei federal (BRASIL, 1988). A Constituição Federal prevê que a organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, Estados, Distrito Federal e os municípios, todos autônomos. AÇÕES DIRETAS DE INCONSTITUCIONALIDADE Segundo Moraes (2017, p. 589), podemos afirmar que uma das hipóteses de decretação da intervenção federal da União nos Estados e no Distrito Federal fundamenta-se na defesa da observância dos chamados princípios sensíveis: Forma republicana, sistema representativo e regime democrático; direitos da pessoa humana; autonomia municipal; prestação de contas da administração pública, direta e indireta e aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida e proveniente de receitas de transferência, na manutenção e desenvolvimento do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde (MORAES, 2017, p. 589). Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) Art. 103. [...] § 2º Declarada a inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar efetiva norma constitucional, será dada ciência ao Poder competente para a adoção das providências necessárias e, em se tratando de órgão administrativo, para fazê-lo em trinta dias (BRASIL, 1988). “O objetivo pretendido pelo legislador constituinte de 1988, com a previsão da ação direta de inconstitucionalidade por omissão, foi conceder plena eficácia às normas constitucionais, que dependessem de complementação infraconstitucional” (MORAES, 2017, p. 553). Assim, é possível o ingresso da ação no momento em que o poder público se priva do exercício de uma obrigação que a Constituição designou a ele. AÇÕES DIRETAS DE INCONSTITUCIONALIDADE Na conduta negativa consiste a inconstitucionalidade. A constituição determinou que o Poder Público tivesse uma conduta positiva, com a finalidade de garantir a aplicabilidade e eficácia da norma constitucional. O Poder Público omitiu-se, tendo, pois, uma conduta negativa (MORAES, 2017). “A incompatibilidade entre a conduta positiva exigida pela constituição e a conduta negativa do Poder Público omisso configura-se na chamada inconstitucionalidade por omissão” (RAMOS, 1992, p. 100). AÇÕES DIRETAS DE INCONSTITUCIONALIDADE Art. 102. [...] a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal (BRASIL, 1988). “A emenda constitucional nº 3, de 1993, introduziu, em nosso ordenamento jurídico constitucional, uma nova espécie dentro do controle de constitucionalidade, que posteriormente sofreu alterações com a EC nº 45/03: a ação declaratória de constitucionalidade” (MORAES, 2017, p. 555). AÇÃO DIRETA DE CONSTITUCIONALIDADE “Foi alterado o art. 102, I, a, e foram criados o § 2º ao art. 102 e o § 4º ao art. 103, da Constituição Federal, sendo que, no último caso, houve revogação pela EC nº 45/04 (MORAES, 2017, p. 555)”. Assim, o Supremo Tribunal Federal tem a competência de processar e julgar, de forma originária, a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal. A ação declaratória de constitucionalidade, que consiste em típico processo objetivo destinado a afastar a insegurança jurídica ou o estado de incerteza sobre a validade de lei ou ato normativo federal, busca preservar a ordem jurídica constitucional (MORAES, 2017). AÇÃO DIRETA DE CONSTITUCIONALIDADE Art. 102. [...] § 1.º A arguição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente desta Constituição, será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei (BRASIL, 1988). “A Constituição Federal determina que a arguição de descumprimento de preceito fundamental decorrente da Constituição será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei” (MORAES, 2017, p. 558). ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL (ADPF) “Trata-se, portanto, de norma constitucional de eficácia limitada, que depende de edição de lei, estabelecendo a forma pela qual será apreciada a arguição de descumprimento de preceito fundamental decorrente da Constituição” (MORAES, 2017, p. 558). “O Congresso Nacional editou a Lei nº 9.882, de 3 de dezembro de 1999, em complementação ao art. 102, § 1º, da Constituição Federal, tornando-a integrante de nosso controle concentrado de constitucionalidade” (MORAES, 2017, p. 558). ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL (ADPF) Arguição de descumprimento de preceito fundamental (preventiva e repressiva): Caberá, preventivamente, arguição de descumprimento de preceito fundamental perante o Supremo Tribunal Federal com o objetivo de evitar lesões a princípios, direitos e garantias fundamentais previstos na Constituição Federal, ou, repressivamente, para repará-las, quando causadas pela conduta comissiva ou omissiva de qualquer um dos poderes públicos (MORAES, 2017). ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL (ADPF) Podemos dizer que, na hipótese, o nosso ordenamento jurídico foi menos generoso que o argentino, pois somente possibilita a arguição quando se pretende evitar ou cessar lesão, decorrente de ato praticado pelo Poder Público a preceito fundamental previsto na Constituição, diferentemente do direito de Amparo argentino, que é admissível contra toda ação ou omissão de autoridades públicas ou de particulares. De forma atual ou iminente, estas lesionam, restringem, alteram ou ameaçam, com arbitrariedade ou ilegalidade, direitos e garantias reconhecidos pela Constituição, pelos tratados e leis (GOZAÍNI, 1995). ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL (ADPF) O Supremo Tribunal Federal poderá, ainda, de forma rápida, geral e obrigatória (em face da possibilidade de liminar e da existência de efeitos erga omnes e vinculantes) evitar ou fazer cessar condutas do poder público que estejam colocando em risco os preceitos fundamentais da República, e, em especial, a dignidade da pessoa humana e os direitos e garantias fundamentais (MORAES, 2017). Após a observação das ações cabíveis de controle de constitucionalidade concentrado, a figura fornecida por Lenza (2012, p. 286) exemplifica, de forma transparente, a Ação, o Fundamento Constitucional e a sua Regulamentação. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTODE PRECEITO FUNDAMENTAL (ADPF) Assim, terminamos nossos estudos das ações possíveis de controle de constitucionalidade. Esperamos que você tenha compreendido a importância dos conteúdos tratados e do Direito Constitucional.
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