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Medicina Veterinária 1º Período Biologia Celular Maurício Alves do Amaral TRANSGENIA ANIMAL Ana Paula Angelo Verissimo Marianne CorreaMarcelino Viviani Anequim Alves Castelo 2020 2 INTRODUÇÃO A ciência tem sido influenciada de forma impressionante pela habilidade de manipular o genoma dos animais e pela produção de transgênicos. O presente trabalho aborda o tema transgenia animal, referindo-se mais concretamente as principais técnicas de transgenia, sua descoberta e o seu histórico na biotecnologia, mostrando como estes avanços trouxeram inúmeros benefícios para a ciência, incluindo a medicina veterinária. Ademais, cita os casos de transgenia com maior enfoque em cabras com gene de aranha e genes humanos, porcos geneticamente modificados, aedes aegypti transgênico, bovinos transgênicos, entre outros animais e curiosidades. Abordando as formas utilizadas para o processo dos mesmos e ressaltando suas vantagens e desvantagens de tais processos. O objetivo deste trabalho é mostrar com o máximo de clareza possível algumas características desta técnica tão importante que é transgenia no ramo animal. As metodologias utilizadas neste trabalho foram levantamento de pesquisas em sites, artigos e entrevistas, a fim de reunir as mais importantes informações para a concretização do mesmo. 3 CONCEITO Organismos geneticamente modificados (OGMs) são conceituados, conforme o Ministério da Agricultura, como toda entidade biológica em que tenha ocorrido alteração do material genético (ADN/ARN) através de qualquer técnica de engenharia genética. Esta alteração deve ocorrer de um modo que não aconteceria naturalmente. Por conseguinte, todo organismo cujo material genético tenha sido manipulado com o objetivo de favorecer alguma característica específica é um OGM (LEMES; BIANCHI, 2016, p. 311). OGM é definido pelo Decreto nº 5.591/2005 como o organismo cujo material genético foi modificado por qualquer procedimento de engenharia genética. Derivado de OGM, por sua vez, é conceituado no mesmo decreto como o produto efluído de OGM que não possua capacidade autônoma de replicação ou que não apresente forma viável de OGM (BRASIL, 2005a, art. 3º, incs. VII e VIII). Lemes e Bianchi (2016, p. 312) destacam que organismo geneticamente modificado não é sinônimo de organismo transgênico. Isso porque, um transgênico é uma espécie de OGM em que ocorreu a introdução do material genético de outro ser, enquanto OGM é apenas um organismo que teve seu material genético alterado de qualquer maneira. Assim, todo transgênico é um OGM, mas nem todo OGM é um transgênico. Porém, apesar do reconhecimento da diferença entre os termos, neste trabalho, transgênico e organismo geneticamente modificado serão utilizados como sinônimos, dado que a maior parte das fontes consultadas assim o fazem. 4 O QUE É TRANSGENIA? Um animal transgênico, ou geneticamente modificado, é aquele que contém material genético adicional, alterado ou retirado. Ele é submetido à técnica específica de inserção de um certo gene do material genético de um organismo que pertence a uma espécie diferente. O objetivo das alterações que são feitas com recursos da biotecnologia ou biologia molecular é dar ao animal uma nova característica. Todo animal transgênico é um organismo geneticamente modificado (OGMs), mas nem todo OGM é transgênico. OGM é um genoma modificado em laboratório, sem necessariamente receber material genético de outro organismo Os animais transgênicos se caracterizam por possuir um gene de interesse que não está normalmente presente em seu genoma. A transgenia acontece, principalmente, para produzir algum interesse comercial e/ou científico. Uma das mais importantes aplicações da tecnologia dos transgênicos é a criação de modelos animais de doenças humanas que permitem direcionar a expressão direta de genes estranhos para um tipo específico de célula. Essa tecnologia pode ser usado para o estudo de patologias, para identificar agentes que possam eliminar uma doença, retardar sua progressão ou melhorar seus sintomas. 5 TODO ANIMAL PODE SER CLONADO? Em teoria, todo ser vivo que tenha um código genético pode ser clonado. Consequentemente, todos os animais, incluindo os humanos, poderiam, teoricamente, serem clonados. Porém, os ratos são os animais mais comuns usados em experimentos transgênicos. Afinal, o tamanho pequeno, fácil manuseio e boa adaptabilidade à vida em cativeiro justificam a preferência por esse animal. HISTÓRIA DA TRANSGENIA O primeiro experimento realizado com sucesso foi feito em 1982, quando um DNA de rato foi introduzido em um camundongo. O resultado positivo foi verificado através do aumento do tamanho corporal verificado no camundongo. Seguindo o processo de microinjeção, descrito por Lin em 1966, a primeira mudança tecnológica no que se refere à produção de um vertebrado transgênico ocorreu em 1977, quando Gurdon transferiu DNA para embriões de Xenopus e observou que os ácidos nucleicos transferidos podiam ser funcionais. Em 1980, Brinster e colaboradores descreveram estudos similares em camundongos, observando que um produto de tradução compatível era produzido quando seguido da transferência de um RNA mensageiro (RNAm) específico nos embriões. Em consequência, esses estudos foram a base para o desenvolvimento do primeiro mamífero transgênico. Seis grupos de pesquisa obtiveram sucesso na transferência gênica e no desenvolvimento de camundongos transgênicos do final de 1980 a 1981.O termo “Transgênicos” foi inventado por Gordon e Ruddle em 1981, para animais que, na transferência gênica, recebem novos genes (sequência de DNA exógeno integradas em seu genoma). Desta forma, animais transgênicos são reconhecidos como linhagens específicas, seguindo a introdução e integração de novos genes em seus genomas. Ultimamente, o termo transgênico tem se estendido para a tecnologia de células tronco-embrionárias, incluindo camundongos knock-out, nos quais um ou mais genes são removidos do genoma hospedeiro. O termo transgênico, portanto, engloba animais que tiveram genes adicionados (transgênicos por adição), modificados (knockin) ou retirados (knock-out). Segundo Rumpf& Melo (2005), a partir dos avanços obtidos com camundongos, cada vez mais surgiram relatos (a uma velocidade surpreendente) sobre modificações genéticas em animais de produção como bovinos, ovinos, suínos e caprinos. Essas modificações surgiram, em primeira instância, com o intuito da utilização desses animais como biofábricas para produzir, em larga escala e a baixo custo, substâncias com princípios farmacológicos de alto valor no mercado internacional. FORMAS DE TRANSGENIA Existem vários tipos de transgenia, e isso depende da forma que deseja realizar: introdução, modificação ou inativação de um gene. O método mais utilizado na introdução de genes é a transgenia por adição, onde são inseridas no genoma uma ou várias cópias de um gene de interesse, endógeno ou exógeno. O primeiro tipo já existe no genoma do animal, que é usado para produzir uma quantidade maior da proteína codificada já existente, aumentando a quantidade de cópias dele no genoma. Genes exógenos, pertencem à outra espécie e são 6 usados para fazer um animal produzir uma nova proteína, ausente na forma desejada na espécie receptora. As técnicas de adição mais utilizadas são a microinjeçãopronuclear de embriões, a transferência de DNA mediada por espermatozoides, a infecção de embriões por vetores retrovirais, a transferência de DNA mediada por transposons (segmentos de DNA capazes de inserir cópias de si mesmos em outro local do cromossomo), a agregação ou injeção de células-tronco embrionárias geneticamente modificadas,a transferência nuclear de células geneticamente modificadas e a transferência de segmentos de cromossomos (cromossomos artificiais) Dentre as técnicas utilizadas, citaremos alguns exemplos atualmente utilizados : 1- Microinjeção: os óvulos são coletados de animais que foram “superovulados” e fertilizados in vitro. Utiliza-se uma micropipeta ultrafina de vidro para manter o óvulo fertilizado imobilizado enquanto uma segunda micropipeta extremamente fina é usada para injetar uma pequena quantidade de solução, que contém muitas cópias do DNA exógeno (transgene), no pronúcleo masculino. Esses óvulos são então introduzidos cirurgicamente nas tubas uterinas de fêmeas pseudográvidas (mães adotivas). Segundo Abdelhay (2002), a microinjeção no prónucleo consiste na introdução de uma solução de DNA diretamente no prónucleo de um oócito recém-fecundado e em cerca de 30% dos oócitos assim manipulados, o DNA exógeno vai se integrar no genoma e embriões transgênicos serão produzidos. A microinjeção é o principal método utilizado atualmente para produzir animais geneticamente modificados e consiste na injeção de 200 a 300 cópias do gene exógeno em óvulos recém-fertilizados seguido da implantação posterior dos mesmos em mães de aluguel. Apenas uma pequena porcentagem dos animais nascidos é transgênica (ou seja, carrega o gene adicionado de uma geração para a outra) e apenas uma porção deles expressa o gene adicionado a um nível suficientemente detectável. Segundo Ayres (2009), mesmo com várias aplicações da transgenia em modelos animais, a técnica tem uma baixa eficiência e uma a taxa de nascimento dos animais baixa, em parte devido à grande perda gestacional destes embriões, por razões ainda não totalmente compreendidas. De todos os embriões produzidos, 0 a 2% resultam em animais nascidos vivos e com a modificação desejada (transgênicos). 7 2- Utilização de retrovírus como vetores: podem-se utilizar os retrovírus como veículos para transportar a sequência genética (transgene) de interesse para dentro de uma célula embrionária. Entretanto, assim como na microinjeção, o gene é inserido de forma aleatória no genoma. Visto que o DNA pode se localizar em regiões diferentes e em diversas células, os descendentes são muitas vezes mosaicos genéticos. Desta forma, necessita-se fazer vários acasalamentos de indivíduos geneticamente independentes para se obter indivíduos de linhagem pura. 3- Transferência de células-tronco embrionárias:é preferencialmente usado quando se quer direcionar a inserção de um gene em um determinado local do genoma, por ter resultados mais previsíveis. Durante o cultivo de células-tronco embrionárias que, de acordo com Abdelhay (2002), são células totipotentes, obtidas da massa interna de um blastocisto e são mantidas em sua forma indiferenciada, podendo gerar toda e qualquer célula do organismo, é possível, utilizando vetores apropriados, a promoção de modificações genéticas específicas nessas células, por exemplo, a remoção ou substituição de um gene escolhido, ou até mesmo a troca de uma única base dentro do código genético por outra. As células-tronco embrionárias (4 a 5 células) que foram modificadas dessa forma são injetadas dentro de um blastocisto (embrião em fase inicial do desenvolvimento) e este é então implantado no útero de uma fêmea receptora cuja pelagem é diferente da do animal que deu origem a célula-tronco. Os filhotes resultantes dessa gestação poderão ser animais do tipo quimérico ou misto (esta mistura genética ocorre geralmente em todos os órgãos, inclusive nas gônadas). É necessário, nesse caso, realizar vários acasalamentos entre animais quiméricos para se selecionar aqueles com as novas características genéticas introduzidas (cor da pelagem, por exemplo). Esse método é utilizado somente em camundongos, pois ainda não foi possível estabelecer linhagens de células-tronco embrionárias de bovinos, ovinos e suínos. 8 Ainda, segundo Abdelhay (2002), essa técnica é a única que pode ser utilizada para fazer o nocaute de um gene, ou seja, interromper ou anular um gene que, então, não mais se expressa, sendo denominado de nocauteado. Segundo Pereira (2008), os três cientistas que em conjunto criaram a técnica de produzir camundongos nocaute: Oliver Smith, Martin Evans e Mario Capecchi, receberam em 2007 o Prêmio Nobel de medicina. Em 1989, foi anunciado o primeiro camundongo nocaute, um modelo animal para a doença de Lesh-Nyham, doença neurológica rara que, entre outros sintomas, gera crises de autoflagelação nas crianças afetadas. Essa técnica foi então incorporada por inúmeros grupos de pesquisa no mundo inteiro, que a utilizam para gerar animais mutantes que auxiliem em suas pesquisas. Hoje, existem camundongos nocaute para mais de 500 doenças como câncer, diabetes e doenças neurodegenerativas, que são utilizados para se entender melhor cada uma dessas doenças, desenvolver e testar novas terapias. Além disso, um esforço internacional em andamento pretende mutar cada um dos 20 mil genes do genoma do camundongo, criando uma coleção de animais nocaute, cada um com um gene diferente alterado. Esses animais mutantes ajudarão a entender melhor a biologia do camundongo e, logo, a do ser humano também. A FERTILIZAÇÃO IN VITRO Outro experimento que vem sendo usado para produzir o embrião transgênico é a técnica de FIV (fertilização in vitro), cujo objetivo é melhorar as taxas de nascimento de animais transgênicos, que são mais baixas quando se usa a outra tecnologia, a da clonagem. 9 A Fertilização in vitro, consiste basicamente na fecundação dos oócitos colhidos de doadoras pré-selecionadas dentro de um laboratório. Quando se trabalha com a produção de embriões in vitro (PIV), temos diversas etapas, comoAspiração folicular (OPU), Maturação ovocitária in Vitro (MIV), Fertilização in Vitro (FIV), Cultivo in Vitro e Transferência de embriões para animais receptores (inovulação). Um dos principais diferenciais que fez com os produtores de gado se rendessem a esta biotécnica, é que ela permite a uma reprodutora produzir centenas de bezerros por ano. Ainda mais, ela possibilita a utilização de fêmeas geneticamente superiores que por algum motivo não podem se reproduzir naturalmente, evitando o descarte do animal. Aqui no Brasil, o primeiro bezerro in vitro nasceu em 1994, e desde então a técnica ganhou prestígio por suas inúmeras vantagens. Principalmente, pelo fato de permitir o encurtamento de cerca de 10 anos de seleção. Ou seja, proporcionando rápidos saltos na produção de bovinos tanto de corte quanto de leite. A utilização dessa biotecnologia oferece algumas vantagens que citaremos a seguir: Além da produção de um grande número de embriões de uma só doadora, a FIV em bovinos ainda permite a diminuição de intervalos entre as coletas, sendo que a cada 15 dias uma nova aspiração folicular pode ser realizada. Dessa forma, a técnica pode ser aplicada em fêmeas recém paridas, inseminadas pré-púberes e gestantes. A técnica sai na frente em relação à qualidade do embrião na inseminação artificial na qual muitas vezes somente o macho tem uma genética superior. Já que, nesse caso ambos (macho e fêmea) são previamente selecionados. Permite ainda melhor aproveitamento das fêmeas, onde fêmeas mais novas, velhas ou com alguma anomalia que impossibilitam a gestação de forma natural podem ser aproveitadas com esse método. A técnica possibilita também que o produtor dirija o melhoramento e obtenha mais fêmeas extremamente melhoradas na propriedade sem a necessidade de descartar ou vender os machos, ou seja, uma melhor eficiência na utilização do sêmen sexado. Por fim, a FIV em bovinos proporciona maior resistência à criopreservação (congelamento a uma temperatura muito baixa) isto, ainda facilita a comercialização do embrião coletado. VANTAGENS DA TRANSGENIA • Ampliar o conhecimento sobre a configuração genética de muitas espécies.• Ao conhecer melhor o genoma, é possível avançar no desenvolvimento de novos tratamentos para muitas doenças que afetam animais e seres humanos, como o câncer. • Muitos medicamentos foram produzidos graças ao avanço da manipulação genética. • A transgenia pode revolucionar o atual sistema de transplantes de órgãos e tecidos. Esse é um processo difícil, pois os pacientes ficam em longas filas à espera de uma doação. A transgenia também pode facilitar a criação de células-tronco para terapias celulares regenerativas. • Técnicas como a clonagem ajuda na criação de bancos genéticos. Isso impediria que muitos seres vivos desaparecessem dos ecossistemas devido ao impacto das atividades humanas. 10 DESVANTAGENS DA TRANSGENIA • Animais transgênicos podem ser mais vulneráveis a reações alérgicas, entre outros problemas, devido a certas proteínas que não constavam na informação genética original. • Ainda não é possível prever com precisão o local exato que o novo gene ocupará no genoma do organismo transgênico. • Nem sempre é possível prever o resultado final da transmissão de genes de um indivíduo para outro. • Devem ter um controle para não ameaçar as espécies nativas de cada ecossistema. • O uso de seres vivos nos experimentos cria uma discussão ética. Afinal, os limites da ciência e da ação humana sobre outras formas de vida e da natureza precisam ser estabelecidos. ALGUNS CASOS DE TRANSGENIA ANIMAL Bovinos transgênicos A evolução da ciência vem dando muitos passos, principalmente quando é mostrado dados realísticos e até positivos, que mostram até uma direção de grandes melhorias futuras. Um exemplo dessa, é a criação de uma vaca que foi modificada geneticamente, introduzindo genes alterados em laboratório, para a mesma, produzir leite rico em proteína recombinante como a insulina, usada para o controle de diabetes. Esse modo de modificação genética, permite que os cientistas peguem o gene desejado, que há o desempenho produtivo, e incremente no DNA do animal escolhido para ser melhorado. Os embriões modificados podem ser congelados, para ser recriado quando quiser e quantas vezes acharem necessário, assim tendo animais cada vez mais de qualidade. A transgenia também é usada para melhorar a saúde do animal, aumentando também a expectativa de vida dele, fazendo com que ele fique mais resistentes a enfermidades, ao carrapato, a mastite , por exemplo. Nos gados de corte, também é possível fazer com que ganhe peso de uma forma mais acelerada, que traz assim, vantagens gastronômicas, com carnes mais macias e saborosas. Como dito anteriormente, com a modificação genética, é possível fazer com que as vacas produzam proteínas recombinantes, usadas em tratamentos de doenças - um exemplo, é a insulina para controle de diabete – e também será capaz de produzir leite sem lactose para pessoas alérgicas. 11 Curiosidades leite de vaca transgênico: Até 3% das crianças são alérgicas a leite de vaca em seu primeiro ano de vida, Pensando nisso, Cientistas da Nova Zelândia desenvolveram uma vaca geneticamente modificada que produz um leite com menos probabilidade de causar reações alérgicas. A vaca geneticamente modificada produziu um leite sem beta-lactoglobulina: uma proteína do soro do leite à qual algumas pessoas são alérgicas. No DNA das vacas é que estão contidas as instruções para a produção da beta-lactoglobulina. Os cientistas adicionaram material genético extra para interferir no processo, usando uma técnica chamada de RNA de interferência. Após o nascimento do experimento, para poder avaliar o leite, os cientistas usaram hormônios para apressar o início da produção de leite. Em um artigo na publicação científica ProceedingsoftheNationalAcademyofSciences, os pesquisadores disseram: "Todas as amostras de leite da bezerra transgênica foram desprovidas de beta-lactoglobulina". Eles concluíram que a técnica é uma "ferramenta eficaz" para modificar animais de pecuária. Cabra com gene de Aranha A tecnologia natural das aranhas é cobiçada em razão das propriedades da teia que ela produz. O material ultra-resistente é estudado por pesquisadores em busca de tecidos de alta performance e até para desenvolvimento de nanotecnologia. Sua força é equivalente à fibra sintética utilizada em coletes à prova de bala. Sua elasticidade, 33% superior. O peso, entretanto, é 25% menor. O Biólogo Randy Lewis, da Universidade de Wyoming (EUA), isolou os genes que produzem o tipo mais forte de seda, usada quando as aranhas ancoram suas teias (a maioria das aranhas produzem seis tipos diferentes de seda), e os misturou com os genes usados por cabras para a produção de leite. Ele e sua equipe pegaram o gene que codifica a seda de uma aranha e a colocaram no DNA que estimula a produção de leite nas cabras. Esse circuito genético foi então inserido em um ovo e implantado em uma cabra-mãe. 12 O gene transplantado significa que a cabra produz leite com uma proteína extra, extraída e transformada em fio de seda de aranha. De cada litro de leite, se extrai cerca de 28 gramas de teia. Seriam necessárias 100 aranhas de verdade para produzir a mesma quantia. O que dificultaria qualquer teste, já que é inviável a criação de aranhas para esse fim. Acredita-se que a maior utilização virá na área médica, com a criação de tendões, ligamentos e membros artificiais. Pois a teia de aranha tem a resistência e elasticidade ideal para esses usos, além de, até agora, não ter apresentado indícios de rejeição. Cabra recebem genes humanos Aqui no Brasil vive a Gluca, na Universidade de Fortaleza (UniFor), no Ceará. Ela tem no leite uma proteína humana para tratamento da doença de Gaucher. Gluca foi criada pela técnica de clonagem com células geneticamente modificadas. Onde o primeiro passo é introduzir uma sequência genética complexa contendo gene humano da proteína de glucocerebrosidade em células de uma cabra. Quando o gene se incorpora ao genoma do animal, as melhores células são escolhidas pelos pesquisadores para inserção nas células reprodutoras femininas, cujo DNA materno fora removido. Depois, o embrião clonado e transgênico é transferido para uma cabra não transgênica para o estabelecimento da gestação. 13 A glucocerebrosidase é uma proteína que faz a digestão de certo tipo de gordura dentro das células. Se o organismo de uma pessoa não a produz, ela desenvolve a doença de Gaucher, que pode causar aumento do fígado e baço, entre outras manifestações clínicas. O tratamento da enfermidade é caro, já que a enzima precisa ser importada. O Ministério da Saúde gasta cerca de R$ 200 milhões anualmente para atender aos pouco mais de 600 portadores da doença no Brasil. Porcos geneticamente modificados Em 2009 Pesquisadores de uma universidade em Munique, no sul da Alemanha, conseguiram criar porcos geneticamente modificados cujas células provocam uma reação mais fraca do sistema imunológico, quando em contato com o organismo humano. O experimento abria caminho para um possível transplante de órgãos desses animais em pessoas. Com a alteração, o novo tecido suíno geneticamente modificado apresentava proteção contra células que compõem o sistema imunológico humano. Para tal resposta, os pesquisadores trocaram um tipo de molécula na superfície das células de porco por um substituto de origem humana. Até então, os mecanismos naturais de defesa do organismo tornavam impossível o transplante de órgãos animais em humanos. Sem essa modificação, células de defesa destruiriam em poucos dias um órgão de porco implantado em uma pessoa. Em 2016, a Universidade da Califórnia (UC), em Davis, começou a fazer experimentos com esses porcos geneticamente modificados. Os pesquisadores injetaram células-tronco humanas em embriões desses porcos para produzir embriões híbridos apelidados de"quimeras". No experimento da UC, os cientistasremovem o gene de um embrião recém-fertilizado de porco que levaria ao desenvolvimento do pâncreas no feto. 14 Células-tronco humanas são injetadas em embriões de porco - as células podem ser vistas no tubo à direita Isso é feito aplicando-se uma técnica de edição genética (CRISPR). O resultado é um "nicho genético" na estrutura genética do embrião animal. As Células-tronco humanas (iPS), que são capazes de se desenvolver como qualquer tecido no corpo, são então injetadas no embrião suíno. Os pesquisadores esperavam que as células- tronco humanas ocupassem o nicho genético no embrião do porco e gerassem um pâncreas com tecido humano no feto. Os fetos se desenvolvem em fêmeas de porco durante 28 dias - o período completo de gestação é cerca de 114 dias. Após isso, as gravidezes são interrompidas e o tecido é removido para análise. Os órgãos suínos geneticamente modificados dessa forma ainda não são próprios para transplantes. Os cientistas ainda têm que vencer outras barreiras imunológicas do corpo humano.Mas, de acordo com os pesquisadores, a modificação que já foi feita nas células dos porcos constitui um passo importante para que um dia órgãos de porcos possam ser usados em humanos. Aedes Aegypti transgênico O AEDES AEGYPTI é um mosquito responsável pela disseminaçãodaZika, Chikungunya, Febre Amarela e da Dengue, se tornando um dos grandes problemas do Brasil,porao passar dos anos, trazer um grande número de mortes. Uma empresa no Brasil, mediante do problema, desenvolveu uma pesquisa para diminuir e até acabar com a infestação de tal, chamada Oxitec. A Oxitec, diante desse problema, em 2011 desenvolveu uma linhagem transgênica do Aedes Aegypti, o OX513A, com o intuito de suprir infestações do mosquito, não para ser a única forma de combate, mas sim um complemento a ela. Para desenvolver o OX513A foi modificado dois genes, um sendo marcador, fazendo com que o mosquito modificado geneticamente fique florescente, identificando-o na natureza; e o outro, inseri um gene já existente no mosquito,que produz uma proteína chamada tTAV (não tóxica ou alergênica). A proteína tTAV é produzida em grandes quantidades na fase de larva, fazendo com que quando o Aedes macho for cruzar com a fêmea selvagem, geraráfilhotes defeituosos que morrem muito rápido, não chegando a fase adulta, reduzindo assim, a quantidade dos mosquitos causadores de doença. Segundo os dados da Oxitec, os testes foram bem positivos: “Em Piracicaba, começando com o tratamento de uma área com 5 mil residentes e expandindo-se para incluir 11 bairros adicionais, que abrigam mais 60 mil residentes, os lançamentos de nossos mosquitos Aedes do Bem™ OX513A alcançaram 83% ou mais de supressão anualmente, chegando a 98% de supressão, em comparação com áreas não tratadas.” “Os testes ocorreram no bairro de Itaberaba e no distrito de irrigação Mandacaru, em Juazeiro, e na cidade de Jacobina.Nessas versões bem-sucedidas de nossos mosquitos Aedes do Bem™, a população selvagem foi reduzida em mais de 90%, em comparação com uma área de controle que não foi tratada com nossos mosquitos. ” 15 Em 2019 a Oxitecfez outro teste com uma modificação do OX513A, a segunda geração, o OX534. O OX534, no cruzamento com uma fêmea selvagem, também faz com que seus filhotes morrem, porém, só as fêmeas – são elas que transmitem as doenças – e os machos sobrevivam, podendo assim, crescerem e cruzarem também, formando um ciclo e diminuindo a quantidade dos mosquito, sendo bom lembrar que o OX534 também é autolimitado. Já que os filhotes machos, com essa nova geração, poderão crescer para reproduzir, esperasse que o mosquito ofereça supressão de pragas com menos lançamentos de mosquitos tendo vantagens operacionais significativas e economicamente, reduzindo o gasto que tem na quantidade de criação de mosquito. A Oxitec diz também, que a segunda geração também tem potencial para combater a crescente disseminação da resistência a inseticidas em populações. Isso poderia prolongar a vida útil das ferramentas de controle existentes e, ao mesmo tempo, reduzir o nível de inseticidas necessários para a supressão eficaz. A Oxitec falou sobre o teste da segunda geração: “Em parceria com as autoridades municipais de controle de vetores da cidade de Indaiatuba, em 2018, o projeto piloto demonstrou a eficácia da nova cepa na supressão de populações de Aedes aegypti em quatro comunidades urbanas densamente povoadas da cidade em relação a um local não tratado.” “Em relação à área de controle não tratada, as liberações de mosquitos machos Aedes do Bem™ alcançaram uma média de 89% de supressão de pico em duas comunidades tratadas com uma baixa taxa de liberação de mosquitos e uma média de 93% em duas comunidades tratadas com uma taxa de liberação mais alta. A melhor supressão observada ocorreu em uma comunidade em que foi atingido um pico de supressão de 96% com alta taxa de liberação durante um período de 4 semanas.” Por mais que os testes que estão sendo feitos tem sido positivos, deve-se pensar nas possibilidades de erros que podem ocorrer, até porque um organismos que foi geneticamente modificado e é solto na natureza não há previsão do que pode ocorrer, e caso haja um resultado negativo, será difícil contê-lo. 16 Em tese, os mosquitos transgênicos ao cruzar com uma fêmea selvagem, irá gerar filhos em que apenas o macho sobrevive. Mas, e se o mosquito OX534 sofresse uma mutação, e fizesse com que o filhote fêmea se tornasse imune ao gene letal. Mutações são inevitáveis. Caso isso acontecesse, o número de mosquito aumentaria mais e se tornaria incontrolável. A Oxitec diz que como eles são criados em laboratório, seu DNA pode ser monitorado e qualquer alteração feita eles veriam. Os dois genes que foram inseridos são muito estáveis, de 2002 até atualmente não houve alguma modificação. O impacto ambiental é outra questão relevante, pois há uma preocupação se a extinção do aedes aegypti poderia causar um desequilíbrio ambiental. Porém o diretor da Oxitec diz que não haveria efeitos negativos, pois o mosquito da dengue já foi erradicado no Brasil em 1950 e voltou da Ásia em 1980. . 17 CONCLUSÃO É notório que muito já foi descoberto na ciência animal, e os benefícios que a transgenia animal pode proporcionar para os humanos são visíveis. Porém, ainda há muito espaço para descobrir outras utilizações e estudar ainda mais as aplicações dos animais alterados em laboratório. Isso porque apesar de ser uma nova forma de utilização dos indivíduos, acaba não sendo 100% confiável em comparação aos métodos já utilizados tradicionalmente, como por exemplo no transplante de órgãos de suínos para humanos ou no consumo de produtos oriundos de animais transgênicos. Em tese, o xenotransplante seria capaz de solucionar a demanda de órgãos pelos humanos, entretanto não se sabe ao certo os riscos que eles podem trazer, podendo solucionar um problema gerando outro, como uma possível transmissão de doenças entre espécies. Ou seja, os danos à saúde humana a longo prazo são desconhecidos. Outro ponto que deve ser levado em consideração está relacionado com a ética na utilização dos animais para estudos. Nos experimentos que envolvem a transgenia, os animais estão sempre em pleno uso, e é bem provável que em muitos casos não seja possível fazer testes com a total ausência de sofrimento do animal. Isso abre margem para questionamentos relacionados ao bem-estar animal e ao poder do homem em manipular a vida de outros indivíduos em razão da própria satisfação e saúde, que é certamente uma questão bem válida a se discutir. 18 REFERÊNCIAS GOLDIM, José Roberto. Animais Transgênicos. DISPONÍVEL EM: https://www.ufrgs.br/bioetica/animtran.htm. 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