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Autora: Profa. Elisa Nogueira Novaes Botta Colaboradora: Profa. Patrícia Scarabelli Metodologia do Projeto Re vi sã o: S he ila - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /1 0/ 20 18 Professora conteudista: Elisa Nogueira Novaes Botta Nascida em São Paulo, logo pequena se mudou com os pais para o interior, São Carlos – SP, onde morou até completar seus estudos de doutorado. Possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista – Unesp Araraquara (2005), mestrado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar (2009) e doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar, com estágio doutoral na École des Hautes Ètudes en Sciences Sociales – EHESS, Paris, França (2012). Atualmente reside em Campinas – SP e é professora titular da Universidade Paulista – UNIP. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) B748m Botta, Elisa Nogueira Novaes. Metodologia do Projeto / Elisa Nogueira Novaes Botta. – São Paulo: Editora Sol, 2019. 96 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXV, n. 2-041/19, ISSN 1517-9230. 1. Metodologia. 2. Projeto de pesquisa. 3. Publicações científicas. I. Título. CDU 001.8 U501.23 – 19 Re vi sã o: S he ila - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /1 0/ 20 18 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Sheila Folgueral Ricardo Duarte Re vi sã o: S he ila - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /1 0/ 20 18 Sumário Metodologia do Projeto APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 METODOLOGIA: POR QUE APRENDER? .....................................................................................................9 1.1 Caso 1: barbearia .....................................................................................................................................9 1.2 Caso 2: sala de reuniões de uma empresa sustentável ........................................................ 11 2 METODOLOGIA CIENTÍFICA .......................................................................................................................... 12 2.1 O que faz de uma pessoa um cientista? ..................................................................................... 14 3 MÉTODOS DE ABORDAGEM: BASES LÓGICAS DA INVESTIGAÇÃO .............................................. 17 4 CARACTERÍSTICAS DA PESQUISA CIENTÍFICA ...................................................................................... 23 4.1 Classificação das pesquisas .............................................................................................................. 24 4.1.1 Objetivos ..................................................................................................................................................... 27 4.1.2 Procedimentos ......................................................................................................................................... 30 4.1.3 Tratamento dos dados .......................................................................................................................... 38 Unidade II 5 PROJETO DE PESQUISA ................................................................................................................................. 45 5.1 Pensando na pesquisa ........................................................................................................................ 47 5.1.1 Tema ............................................................................................................................................................. 47 5.1.2 Delimitação do tema ............................................................................................................................. 47 5.1.3 Levantamento e análise da literatura ............................................................................................. 49 5.1.4 A pergunta da pesquisa........................................................................................................................ 50 5.1.5 Hipótese ...................................................................................................................................................... 51 5.1.6 Objetivos: geral e específicos ............................................................................................................. 52 5.1.7 Justificativa ............................................................................................................................................... 54 5.1.8 Referencial teórico ................................................................................................................................ 55 5.1.9 Metodologia .............................................................................................................................................. 57 5.1.10 Cronograma ............................................................................................................................................ 63 5.1.11 Orçamento ............................................................................................................................................... 64 6 ELEMENTOS DO TEXTO ................................................................................................................................. 66 6.1 Elementos pré-textuais ...................................................................................................................... 66 6.1.1 Capa ............................................................................................................................................................. 66 6.1.2 Folha de rosto ........................................................................................................................................... 67 6.1.3 Dedicatória ................................................................................................................................................ 68 Re vi sã o: S he ila - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /1 0/ 20 18 6.1.4 Resumo ....................................................................................................................................................... 68 6.1.5 Listas ............................................................................................................................................................69 6.1.6 Sumário ....................................................................................................................................................... 70 6.2 Elementos textuais .............................................................................................................................. 71 6.2.1 Introdução de um projeto ................................................................................................................... 71 6.3 Elementos pós-textuais ..................................................................................................................... 73 6.3.1 Referências ................................................................................................................................................ 74 7 MODALIDADES DO TRABALHO CIENTÍFICO ........................................................................................... 79 7.1 Trabalhos de síntese ............................................................................................................................ 80 7.2 Resenha crítica ...................................................................................................................................... 80 7.3 Trabalho científico e monografia ................................................................................................... 81 7.3.1 Trabalho monográfico ........................................................................................................................... 81 7.4 Trabalho de conclusão de curso ..................................................................................................... 82 7.5 Relatório de pesquisa de iniciação científica ............................................................................ 83 7.6 Relatório de estágio ............................................................................................................................ 83 8 PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS ......................................................................................................................... 84 8.1 Artigo científico .................................................................................................................................... 84 8.2 Paper .......................................................................................................................................................... 85 8.3 Pôster ........................................................................................................................................................ 85 8.4 Dissertação .............................................................................................................................................. 86 8.5 Tese ............................................................................................................................................................. 87 8.6 Formas de disseminação/divulgação ............................................................................................ 87 7 Re vi sã o: S he ila - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /1 0/ 20 18 APRESENTAÇÃO Prezado aluno, O livro-texto que aqui apresentamos servirá de apoio ao estudo da disciplina Metodologia do Projeto. O principal objetivo desta disciplina é fornecer diretrizes, desde as mais técnicas às mais operacionais, as quais visam instaurar no estudante uma postura investigativa, que o leve a buscar as fontes para a construção do conhecimento, e assim realizar sua aprendizagem. Trata-se, pois, em um primeiro momento, de uma iniciação metodológica ao trabalho intelectual, a partir da apresentação de normas práticas e instrumentos operacionais, que o ajudarão a tornar-se cientificamente organizado, o que garantirá, sem dúvida, resultados compensadores. Além disso, este livro procura demonstrar, com base em discussões, debates e casos, que metodologia não é algo que tenha função apenas para a ciência. Mesmo que sua intenção não seja seguir uma carreira acadêmica, você perceberá que a organização das ideias, a partir das informações contidas neste livro, o ajudará a ter eficiência. E quem não quer eficiência nas tomadas de decisões do dia a dia? Neste sentido, e com esse espírito, este livro abordará o que é método, suas utilizações e como este está também diretamente relacionado à atividade científica. Depois, tratará de noções gerais, conceito e etapas do projeto de pesquisa. Focará na estrutura do trabalho científico, passando pelas normas de citações e finalizando com as referências bibliográficas. Esperamos que você aprecie o texto. Bons estudos! INTRODUÇÃO Um grande desafio nos dias atuais é convencer o aluno da importância de aprender metodologia, bem como demonstrar sua aplicabilidade. As perguntas cruciais são “por que” e “para que” estudar tantas regras, tantos detalhes, indicações rígidas para digitação e formatação do texto, que parecem cercear a liberdade do aluno em pensar e escrever sem nenhuma exigência metodológica. Esta disciplina que você inicia contribui para a formação do estudante, ajudando-o a pensar, refletir e raciocinar sobre sua existência na sociedade, sobre o “caminhar” das tecnologias e o futuro da ciência. Bem por isso, a maioria dos cursos superiores no Brasil têm na sua ementa disciplinas de metodologia. Caros alunos, começaremos esta disciplina respondendo à pergunta que a maioria de vocês faz: por que eu, estudante do curso de Design de Interiores, preciso cursar uma disciplina de metodologia? A resposta a essa pergunta envolve considerar e conhecer algumas questões que a permeiam, tais como pensamento, formas de conhecimento, instituições de pesquisa e instrumentos de estudo/pesquisa. 8 Re vi sã o: S he ila - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /1 0/ 20 18 Sendo assim, a melhor maneira de você, prezado aluno, compreender todos esses debates é ser introduzido neste mundo aos poucos. Para isso, iniciamos este livro com as operações básicas do método: decompor, compor, organizar, analisar. O objetivo é fornecer noções que o ajudarão a construir perspectivas sobre um tipo de conhecimento utilizado nas universidades, o científico. Para isso, poremos o foco no método, passando pelas diversas formas de conhecimento – com especial atenção ao científico e todas as suas possibilidades de aplicação. Após essa introdução ao mundo das ciências, abordaremos os elementos estruturantes da pesquisa científica. Identificaremos todas as etapas que compõem as atividades de pesquisar: desde a pergunta central da pesquisa, os processos de delimitação, os objetivos, as justificativas, até sua finalização, com as referências bibliográficas. Faremos reflexões sobre a redação e a linguagem apropriadas a serem adotadas na pesquisa e as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). O principal objetivo deste livro é fornecer a você, estudante, através destas diretrizes metodológicas, instrumentos para o aperfeiçoamento do espírito crítico, bem como para o desenvolvimento das capacidades e habilidades de produção e geração de conhecimento. A disciplina metodologia científica, devido ao seu caráter sistêmico e inter-relacionado entre suas variáveis de estudo, deve estimular os estudantes, a fim de que busquem motivações para encontrar respostas às suas indagações, respaldadas e sistematizadas em procedimentos metodológicos pertinentes. Se nos referimos a um curso superior – graduação e pós-graduação – estamos naturalmente nos remetendo a uma Academia de Ciência e, como tal, as respostas aos problemas de aquisição do conhecimento deveriam ser buscadas através do rigor científico e apresentadas através de normas acadêmicas vigentes (PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 12). Neste sentido, a elaboração desta disciplina sempre teve comonorte a desmistificação do papel e da aplicabilidade da ciência nos dias atuais. Buscamos apresentar ao estudante algumas orientações que visam fornecer uma visão global de como organizar o trabalho na universidade de modo disciplinado, para que se possa tirar maior proveito. Além disso, dado o seu caráter instrumental, este livro deve ser paulatinamente abordado, em função das progressivas solicitações, e continuamente retomado até que se adquira familiaridade indispensável para que sua aplicação se torne espontânea, eficaz e agradável. Esta disciplina objetiva, mais do que levar o aluno a elaborar projetos, a desenvolver um trabalho monográfico ou um artigo científico como requisito final e conclusivo de um curso acadêmico. Ela permite ao aluno comunicar-se de forma correta, inteligível, demonstrando um pensamento estruturado, plausível e convincente. 9 Re vi sã o: S he ila - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /1 0/ 20 18 METODOLOGIA DO PROJETO Unidade I 1 METODOLOGIA: POR QUE APRENDER? Segundo Prodanov e Freitas (2013), podemos definir método como o caminho para chegarmos a determinado fim. Ou seja, método, em sua acepção mais simples, é o modo como cada um de nós faz algo, desde atividades corriqueiras, como realizar uma compra em um supermercado ou preparar um café, até atividades mais complexas, como abrir um negócio. Para todas elas, pensamos, planejamos. Além disso, segundo Costa e Costa (2015), o emprego de métodos para essas diversas atividades pode aumentar inclusive sua eficiência. Mesmo fora do contexto acadêmico, a metodologia é fundamental para a reprodução do aprendizado, das experiências. Para que possamos continuar explicando o preparo de um café, para que seu processo seja descrito, para que a experiência, o aprendizado se dissemine, é necessário o emprego da metodologia. Mesmo que você não seja um cientista, você desenvolverá diferentes métodos em tarefas do seu dia a dia, buscando aprimorar sua eficiência. Como? Para explicar melhor sua utilização, usaremos um exemplo: você deve preparar o almoço durante os dias da semana, dias corridos. Conforme executa essa tarefa diariamente, vai aperfeiçoando as técnicas, melhorando o tempo de preparo e, portanto, a eficiência do processo. Metodologia é isso: pensar nos caminhos que irá seguir para atingir um objetivo da melhor forma possível. Observação Mesmo fora do contexto acadêmico, a metodologia é fundamental para a reprodução do aprendizado, das experiências. Até em situações do cotidiano, usamos a metodologia para melhorar a eficiência dos processos. 1.1 Caso 1: barbearia Para que você, caro aluno, entenda melhor a aplicabilidade do método, usaremos alguns exemplos que poderão, futuramente, fazer parte do seu cotidiano como designer de interiores. No primeiro deles, vamos imaginar que um cliente entrou em contato com você porque precisa transformar um salão antigo numa barbearia. Você, como o designer do projeto, aceitando o convite, inicia o processo pensando na sequência de etapas que devem ser respeitadas para que o projeto seja finalizado no prazo. Tendo em vista que o negócio de barbearia, inserido no ramo de estética e beleza, pode apresentar extrema diversidade de alternativas, desde o atendimento informal domiciliar a sofisticados salões de 10 Re vi sã o: S he ila - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /1 0/ 20 18 Unidade I luxo, podendo ainda contemplar as opções apenas masculino ou unissex, você focará em um salão pequeno, do tipo “de bairro”. Figura 1 – Um novo projeto, novos desafios Inicialmente, é provável que você divida o projeto em duas etapas: planejamento e execução, ou projeto e gerenciamento. Sabemos que essas etapas não são fáceis de serem pensadas, e muitas vezes requerem parceria com mais de um profissional, pois haverá muito trabalho pela frente. De qualquer forma, o que nos importa aqui é imaginarmos que você, como profissional, precisa planejar tudo o que será feito, sem erros, para que consiga atingir o objetivo com êxito. O projeto se refere a toda a parte das ideias e soluções baseadas nas necessidades específicas de cada cliente. É o conceito e a sua representação técnica, o que normalmente é feito por plantas, memoriais, referências, esquemas, 3-Ds etc. Para isso, você deve criar/adquirir uma planta de layout, para determinar a posição e tamanho dos móveis. Já nesta etapa, você se preocupará com uma sequência a ser pensada para que tudo decorra bem. Essa sequência que você escolherá talvez não seja a mesma que outro designer escolheria, mas o que importa é que você desenvolva um método para atingir a eficiência do projeto levando em consideração algumas questões. Na primeira etapa do projeto, perguntas como “Quantas cadeiras de barbeiro caberão no projeto?”, “Que tipo de móveis (cor, materiais) devo usar?”, “Em quais lugares farei orçamentos?”, “Qual deve ser a melhor sequência da entrega destes?” farão parte do seu planejamento. Figura 2 – Esquema de cores e materiais do seu projeto 11 Re vi sã o: S he ila - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /1 0/ 20 18 METODOLOGIA DO PROJETO Em uma segunda etapa, pensar sobre detalhamentos dos pontos de elétrica, marcenaria, hidráulica, entre outros, também o obrigará a considerar a melhor sequência para que tudo corra bem: “Quem deve entrar primeiro? Encanador? Eletricista? Marceneiro?”. Figura 3 – Eletricista em obras Pensar sobre esses processos envolve reflexão, preparação, descrição, razão e avaliação para que continuem acontecendo de modo progressivamente aprimorado. 1.2 Caso 2: sala de reuniões de uma empresa sustentável Neste segundo caso, você, profissional de Design de Interiores, aceitou um grande desafio: após ter estudado e lido muito sobre sustentabilidade, e perceber que esse deve ser o caminho para que as próximas gerações vivam tão bem quanto você, resolveu se dedicar a pensar em projetos que tenham como norte os preceitos da sustentabilidade. Sendo assim, o planejamento e a execução têm uma dificuldade maior, já que o projeto foge do convencional (embora esse caminho tenha ganhado cada vez mais adeptos). Priorizar o uso de materiais que levem em conta a economia de energia, a redução do gasto de água e o impacto ambiental, bem como indicar reaproveitamento de materiais, serão fatores que farão parte desse projeto. Figura 4 – Estudar e planejar para um bom resultado 12 Re vi sã o: S he ila - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /1 0/ 20 18 Unidade I Projetos sustentáveis também exigem planejamento e sequência. Começar pensando na iluminação, na ventilação, para depois imaginar os móveis, as disposições e as cores, por exemplo, pode ser um método que você tenha desenvolvido. A sequência que você acredita ser a melhor, que trará maior eficiência ao projeto, será o seu método escolhido para esse projeto. Esses casos confirmam nossa tese de que a metodologia está em todas as dimensões e atividades da vida em que se queira melhorar a qualidade do que é feito. Segundo Costa e Costa (2015), toda atividade, teórica ou prática, requer procedimentos adequados e previamente elaborados para sua execução, necessitando, portanto, de um projeto. No campo da ciência, segundo os autores, esse projeto deve seguir parâmetros de coerência científica. Mas qual será o primeiro passo para fazer ciência? 2 METODOLOGIA CIENTÍFICA Segundo Borges (2013), o primeiro passo para fazer ciência é: pensar. Então você diz para si mesmo: “Mas eu sou um ser racional, penso o tempo todo. Será que todo o tempo estou ‘fazendo ciência’?”. Vamos refletir sobre isso. Desde pequenos somos curiosos. As crianças costumam fazer perguntaso tempo todo. E buscam respostas para satisfazer sua curiosidade, sem se preocupar se seus questionamentos são bobos ou absurdos. O saber, como forma de compreensão das coisas, está presente nas nossas vidas desde pequenos. A sabedoria, segundo Knechtel (2014, p. 24), engloba “o conhecimento, a prudência, a moderação, a sensatez, a reflexão, e pressupõe a utilização dos conhecimentos em todos os fatos da vida”. A sabedoria da mãe, por exemplo: mesmo sem curso superior, desde o nascimento de seu filho, ela o orienta e passa-lhe valores, sabedoria, que podem ser os fundamentais de toda a sua educação. Esse tipo de conhecimento, que aprendemos a partir de processos formais, informais e até mesmo inconscientes, e que inclui um conjunto de valorações, tem o nome de senso comum. “O senso comum é o saber que se adquire por meio de experiências vividas ou ouvidas no cotidiano. Engloba costumes, hábitos, tradições e normas éticas. É o conhecimento passado de geração para geração” (KNECHTEL, 2014, p. 24). Segundo Appolinário (2004), o senso comum é a primeira forma de conhecimento, gerada basicamente pela interação do ser humano com o mundo, e fundamentada na experiência individual. Você já deve estar desconfiando aonde essa reflexão chegará: o senso comum não é a única forma de conhecimento; as práticas sociais podem gerar outros tipos de conhecimentos. Segundo Martins e Theóphilo (2009), há quatro tipos de conhecimento: o filosófico, o teológico, o senso comum (também conhecido como vulgar) e o científico. O homem utiliza cada um deles dependendo daquilo que quer conhecer, ou conforme a realidade a que pertence. 13 Re vi sã o: S he ila - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /1 0/ 20 18 METODOLOGIA DO PROJETO Você já entendeu que o senso comum é aquele que as pessoas adquirem em seu cotidiano, a partir de experiências vivenciadas ou por simples observação de fenômenos do dia a dia. Por não ter preocupação com explicações científicas, ou ditas corretas, o senso comum é, na maioria das situações, limitado, incoerente e impreciso e está no nível da opinião, pois esta pode ser emitida por qualquer sujeito a partir de informações previamente armazenadas, tomadas de forma corriqueira, ou simplesmente pelo fato, ou hábito, de dizer algo sem que haja argumentação passível de comprovação (MATALLO JR., 1994). Agora, partimos para os outros conhecimentos: o conhecimento filosófico é caracterizado unicamente pela razão humana, ou seja, procura discernir entre o certo e o errado tendo a razão humana como fundamentação. Suas hipóteses e resultados não podem ser confirmados ou verificados (LAKATOS; MARCONI, 2010). O estudo filosófico, pelo emprego da lógica, tem como objetivos a ampliação dos limites de compreensão da realidade e o estabelecimento de uma concepção geral do universo. Especulativo, utiliza-se de experiências, e não de experimentações, não permitindo levantamento de hipóteses que não poderão ser submetidas à observação. O olhar e a interpretação da Filosofia, predominantemente dedutivos, partem de ideias e relações entre conceitos que não são redutíveis à realidade material (LAKATOS; MARCONI, 2010). O conhecimento teológico apoia-se em doutrinas que contêm proposições sagradas. É um conhecimento sistemático, porém suas evidências não são verificáveis (LAKATOS; MARCONI, 2010). Resultado da fé humana na existência de forças sobrenaturais, consideradas como criadoras do universo, o conhecimento teológico, ou religioso, surge com as revelações do mistério, do oculto, por alguma manifestação divina, sagrada, as quais são transmitidas por alguém, por tradição ou por escritos tidos também como sagrados (MARTINS; THEÓPHILO, 2009) e que, portanto, devem ser adorados e obedecidos. O conhecimento científico resulta de investigação metódica e sistemática da realidade. Utilizando-se do intelecto, o homem procura respostas para as causas dos fatos e, a partir de classificações, comparações e análises, enfim, de métodos, pode chegar a leis gerais que os regem. O processo de investigação, descoberta e expansão do conhecimento faz do ser humano sujeito ativo em relação a fatos e objetos (MARTINS; THEÓPHILO, 2009). O conhecimento é uma adequação do sujeito ao objeto. O sujeito tem seus meios de conhecimento, e o objeto revela-se a ele conforme tais meios. Segundo Fachin (2003), o sujeito entra em contato com o objeto por intermédio de uma relação determinada, e esse contato se transforma em conhecimento por meio dessa mesma relação. Toda compreensão necessita de um contato com o real. Seguindo as palavras de Tomaino et al. (2016, p. 4): De modo geral, o conhecimento científico é definido como aquele conhecimento sistemático que busca o que há de universal e permanente nos fenômenos através de um método que pressupõe uma inquirição do objeto, produzindo uma explicação crítica, objetiva, segura e exata [...]. 14 Re vi sã o: S he ila - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /1 0/ 20 18 Unidade I Assim como o senso comum, o conhecimento científico se inicia pela observação do objeto, mas se diferencia daquele porque pretende o sujeito que sua observação seja neutra e assume uma postura inquisitiva sobre o referido objeto. Portanto, para essa concepção clássica, é o método na relação sujeito-objeto que torna científico um conhecimento, formulando enunciados descritivos, genéricos, comprovados e reproduzíveis. Dessa forma, podemos finalmente responder à pergunta do início dessa parte: não. Embora sejamos seres racionais, na maioria das vezes em que adquirimos ou desenvolvemos algum conhecimento, o fazemos como consequência da necessidade de resolvermos problemas imediatos, que aparecem na vida prática e decorrem do contato direto com os fatos e fenômenos que vão acontecendo no dia a dia. Esses conhecimentos não são antecipadamente programados ou planejados. Conforme salienta Köche (2016), os conhecimentos derivados de situações como essas, do nosso cotidiano, são vivenciais, e por isso ametódicos. Mas como se faz ciência? Como desenvolvemos o conhecimento científico? Vamos responder a essa pergunta na próxima parte! 2.1 O que faz de uma pessoa um cientista? Segundo Borges (2013, p. 2), o que existe em comum entre todos os cientistas é uma grande curiosidade com relação à natureza ao nosso redor: “É a capacidade de formular questões e tentar respondê-las através de hipóteses que podem ser testadas por meio de investigações detalhadas”. Mas o que as pessoas comuns pensam sobre o cientista? Segundo Alves (2007, p. 9): Pensam num gênio louco, que inventa coisas fantásticas; o tipo excêntrico, ex-cêntrico, fora do centro, manso, distraído; o indivíduo que pensa o tempo todo sobre fórmulas incompreensíveis ao comum dos mortais; alguém que fala com autoridade, que sabe o que está falando, a quem os outros devem ouvir e... obedecer. Podemos perceber que em muitas sociedades criaram-se algumas ideias falsas, carregadas de estigmas, sobre a figura do cientista. Na realidade, este é um ser social, que está entre nós, carregado de vícios, trejeitos e pré-conceitos. No entanto, na medida em que se propõe a fazer ciência, deve se despir de todos essas pré-noções e se entregar ao novo. Além de criativas, essas pessoas devem cumprir com rigor requisitos pontuais, que justifiquem, corroborem ou refutem teses inovadoras ou já estabelecidas a partir de dados empíricos, de modo neutro e impessoal (TOMAINO et al., 2016). Seu trabalho acadêmico, na medida em que busca se inserir no mundo da ciência, deve seguir inúmeros parâmetros, tais como universalista, racionalista, dedutivo, indutivo, interdisciplinar etc. Isso porque investigar, segundo Tomaino et al. (2016), significa reelaborar a realidade a partir de instrumentos intelectuaisracionais e diversificados. 15 Re vi sã o: S he ila - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /1 0/ 20 18 METODOLOGIA DO PROJETO Além disso, a atividade de pesquisar oferece inúmeras possibilidades. Há investigações pautadas pela coleta e sistematização de dados, visando à descrição do real; outras visam à elaboração de quadros teóricos referenciais que expliquem a realidade; outras ainda buscam a interlocução entre prática e teoria. De qualquer forma, Tomaino et al. (2016, p. 21) salientam que, “para cada movimento de elaboração de novas teorias, ou correntes de pensamento, são necessários inúmeros debates e disputas nos limites de cada instituição disciplinar”. Embora pensemos na ciência como algo único, Fachin (2003, p. 15) diz: A ciência se apresenta como uma forma uniforme de achar alguma razão na observação dos fatos. Sua estrutura permite a acumulação do conhecimento de forma organizada e fundamentada em sistemas lógicos, sempre sob a direção de um elenco de procedimentos da metodologia científica. A classificação das diversas ciências é importante porque é uma preocupação que, ao longo do tempo, tem se tornado uma problemática intelectual do ser humano. A partir de Lakatos e Marconi (2010) e Fachin (2003), é possível proceder à classificação e à divisão da ciência. É o que vemos na figura a seguir: Ciências Formais Factuais Naturais Humanas Figura 5 –Divisão da ciência e suas classificações As ciências formais são aquelas que lidam com dados que não são concretos, com abstrações cujos teoremas e argumentos dispensam experimentos. Trabalham sobre a forma do conhecimento, e não sobre seu conteúdo. A exemplo da Matemática e da Lógica, trabalham com ideias. Já as chamadas factuais procuram lidar com situações reais, baseadas em fatos. Seus objetos têm uma existência que independe de nossa mente, e suas características são geralmente perceptíveis aos sentidos. As ciências factuais, que também podem ser chamadas de experimentais ou empíricas, são divididas em duas grandes áreas, em razão das diferenças entre os objetos de investigação, bem como entre os métodos de investigação, análise e conclusão. As ciências factuais naturais são aquelas relacionadas à Física, à Química, à Biologia, à Geologia e à Astronomia, para listar algumas. Operam com os dados fornecidos pela natureza. Por exemplo: 16 Re vi sã o: S he ila - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /1 0/ 20 18 Unidade I • Astronomia: estudo dos astros, das estrelas. • Geologia: estudo das ciências da Terra, no que diz respeito à sua composição e estrutura. • Biologia: estudo dos seres vivos, buscando conhecer o funcionamento dos organismos. • Química: trata das substâncias da natureza, dos elementos e suas características. • Física: estuda a natureza em seus aspectos mais gerais. As ciências factuais humanas preocupam-se, em sentido mais amplo, com fenômenos e atividades relacionadas com o homem. Assim, a Antropologia, a Psicologia Social, a Sociologia, a História, o Direito, a Economia e a Política fazem parte dessa divisão. Tratam do homem, de seu comportamento, de sua vida grupal. O método, quando incorporado a uma forma de trabalho ou de pensamento, leva o indivíduo a adquirir hábitos e posturas diante de si mesmo, do outro e do mundo que só têm a beneficiar a sua vida, tanto profissional quanto social, afetiva, econômica e cultural. Por método entendemos caminho que se trilha para alcançar um determinado fim, atingir um objetivo; para os filósofos gregos, metodologia era a arte de dirigir o espírito na investigação da verdade. Ora, as regras e os passos metodológicos que são ensinados na universidade, visando à inserção do estudante no mundo acadêmico-científico, e que são pertinentes e necessários objetivam também, e sobretudo, criar hábitos que o acompanharão por toda a sua vida, como o gosto pela leitura, a compreensão dos diferentes interlocutores, um espírito crítico maduro e responsável, o diálogo claro e profundo com os outros e com o mundo, a autodisciplina, o respeito à alteridade e ao diferente, uma postura de humildade diante do pouco que se sabe e da infinidade de saberes existentes, o exercício da ética e do respeito a quem pensa diferente, a ousadia/coragem de expor o próprio pensar. A disciplina de metodologia nas universidades deve ajudar os alunos na experiência de sentirem-se cidadãos livres e responsáveis, a administrar suas emoções e exercitar o bom senso e a equidade. De um modo peculiar, os alunos do curso de Design de Interiores muito se enriquecem quando assimilam bem tudo o que foi exposto. Como em tantos outros cursos, os alunos de Design saem da faculdade cheios de teorias, de novas ideias para aplicar nos projetos; acumulam ensinamentos dos mais renomados especialistas na área. Deparam-se, muitas vezes, com a questão do método. Por onde começar? Qual o primeiro passo a ser dado? O que é mais urgente? Entre teoria e método há uma grande diferença, ainda que sejam interdependentes. Ambos buscam realizar o objetivo proposto; a teoria pode gerar e dar forma ao método e vice-versa; o método, quando alimentado de estratégia, iniciativa, invenção e arte, estabelece uma relação com a teoria capaz de propiciar a ambos regenerar-se mutuamente pela organização de dados e informações (MORIN apud VERGARA, 1996, p. 335). Agora que você já entendeu o que é método e como a ciência se apropria dele, vamos falar sobre os diferentes tipos de métodos científicos. 17 Re vi sã o: S he ila - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /1 0/ 20 18 METODOLOGIA DO PROJETO 3 MÉTODOS DE ABORDAGEM: BASES LÓGICAS DA INVESTIGAÇÃO Conforme descrito acima, os métodos esclarecem os procedimentos lógicos que deverão ser seguidos no processo de investigação científica dos fatos da natureza e da sociedade. Segundo Lakatos e Marconi (2010), Trujillo Ferrari (1974), entre outros, são também os métodos que possibilitam ao pesquisador decidir acerca do alcance de sua investigação, das regras de explicação dos fatos e da validade de suas generalizações. Partindo da concepção de que método é um procedimento ou caminho para alcançar um fim preciso e que a finalidade da ciência é a procura do conhecimento, podemos dizer que o método científico é um conjunto de procedimentos adotados com o propósito de alcançar o conhecimento. De acordo com Trujillo Ferrari (1974), o método científico é um traço característico da ciência, constituindo-se em instrumento básico que ordena, inicialmente, o pensamento em sistemas e traça os procedimentos do cientista ao longo do caminho até atingir o objetivo científico preestabelecido. Lembrete O método científico não pode ser entendido como algo fechado, infalível. Deve possuir um rigor científico compatível com o nível de estudo em desenvolvimento. O importante, em qualquer pesquisa, é que o método adotado esteja dentro de um contexto coerente e lógico. De acordo com Prodanov e Freitas (2013), muitos foram os pensadores e filósofos do passado que tentaram definir um único método aplicável a todas as ciências e a todos os ramos do conhecimento. Segundo os autores, essas tentativas culminaram no surgimento de diferentes correntes de pensamento, por vezes conflitantes entre si. Na atualidade, já admitimos a convivência e até a combinação de métodos científicos diferentes, dependendo do objeto de investigação e do tipo de pesquisa. O quadro a seguir resume a evolução histórica do método científico: Quadro 1 – Evolução histórica do método científico Período histórico Pensadores Principal contribuição Grécia Antiga Euclides, Platão, Aristóteles, Arquimedes, Tales, Ptolomeu Além das chamadas questões metafísicas, trataram também da Geometria,da Matemática, da Física, da Medicina etc., imprimindo uma visão totalizante às suas interpretações. Séculos IV – XIII Santo Agostinho, São Tomás de Aquino Transformação dos textos bíblicos em fonte de autoridade científica e, de modo geral, a existência de uma atitude de preservação/ contemplação da natureza, considerada sagrada. Séculos XVI – XVII Copérnico, Kepler, Galileu e Newton Ruptura com a estrutura teológica e epistemológica do período medieval e início da busca por uma interpretação matematizada e formal do real. O método acontecendo em dois momentos: a indução e a educação. Bacon, Hobbes, Locke, Hume e Mill Aprofundamento da questão da indução, lançamento das bases para o método indutivo-experimental. Descartes Método dedutivo. 18 Re vi sã o: S he ila - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /1 0/ 20 18 Unidade I Século XVIII Kant Sujeito como ordenador e construtor da experiência: só existe o que é pensado. Século XIX Hegel “O processo histórico”. Marx Explicações verdadeiras para o que ocorre no real não se verificarão através do estabelecimento de relações causais ou relações de analogia, mas sim no desvelamento do “real aparente” para chegar ao “real concreto”. Século XX Popper Propõe que o indutivismo seja substituído por um modelo hipotético-dedutivo, ressaltando que o que deve ser testado não é a possibilidade de verificação, mas sim a de refutação de uma hipótese. Kuhn Método em dois momentos: (1) a ciência trabalha para ampliar e aprofundar o aparato conceitual do paradigma; (2) em um momento de crise, trabalha pela superação do paradigma dominante. Fonte: Prodanov e Freitas (2013, p. 25-26). Dada a diversidade de métodos, alguns autores costumam classificá-los em gerais e específicos (também denominados de abordagem e discretos). Segundo Prodanov e Freitas (2013), são os métodos que irão oferecer ao pesquisador as normas genéricas destinadas a estabelecer uma ruptura entre objetivos científicos e não científicos (ou de senso comum). Eles irão esclarecer os procedimentos lógicos que deverão ser seguidos no processo de investigação científica dos fatos da natureza e da sociedade. São, pois, métodos desenvolvidos a partir de elevado grau de abstração, que possibilitam ao pesquisador decidir acerca do alcance de sua investigação, das regras de explicação dos fatos e da validade de suas generalizações (PRODANOV & FREITAS, 2013). Podem ser incluídos, neste grupo, os métodos: dedutivo, indutivo, hipotético-dedutivo, dialético e fenomenológico. O método dedutivo foi proposto pelos racionalistas Descartes, Spinoza e Leibniz, e pressupõe que só a razão é capaz de levar ao conhecimento verdadeiro. É o método que parte do geral e, a seguir, desce ao particular. A partir de princípios, leis ou teorias consideradas verdadeiras e indiscutíveis, prediz a ocorrência de casos particulares com base na lógica. “Parte de princípios reconhecidos como verdadeiros e indiscutíveis e possibilita chegar a conclusões de maneira puramente formal, isto é, em virtude unicamente de sua lógica” (GIL, 2008, p. 9). O raciocínio dedutivo tem o objetivo de explicar o conteúdo das premissas. Por intermédio de uma cadeia de raciocínio em ordem descendente, de análise do geral para o particular, chega a uma conclusão. Usa o silogismo, a construção lógica para, a partir de duas premissas, retirar uma terceira logicamente decorrente das duas primeiras, denominada de conclusão. Veja um clássico exemplo de raciocínio dedutivo a seguir: Todo homem é mortal. (premissa maior) Pedro é homem. (premissa menor) Logo, Pedro é mortal. (conclusão) 19 Re vi sã o: S he ila - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /1 0/ 20 18 METODOLOGIA DO PROJETO De acordo com Prodanov e Freitas (2013), o método dedutivo encontra ampla aplicação em ciências como a Física e a Matemática, cujos princípios podem ser enunciados como leis. Já nas ciências sociais, o uso desse método é bem mais restrito, em virtude da dificuldade para obter argumentos gerais, cuja veracidade não possa ser colocada em dúvida. Saiba mais Para mais informações sobre o pensamento moderno de René Descartes e o papel da dúvida na construção do saber e do conhecimento, consulte as seguintes obras: DESCARTES, R. Regras para a direção do espírito. Lisboa: Edições 70, 1989. p. 65-89. DESCARTES, R. Meditações. São Paulo: Abril Cultural, 1983. p. 93-106. (Coleção Os Pensadores). O método indutivo, responsável pela generalização, pressupõe que se parta de algo particular para uma questão mais ampla, mais geral. De acordo com Lakatos e Marconi (2010, p. 86): Indução é um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, não contida nas partes examinadas. Portanto, o objetivo dos argumentos indutivos é levar a conclusões cujo conteúdo é muito mais amplo do que o das premissas nas quais se basearam. Isso significa que a indução parte de um fenômeno para chegar a uma lei geral por meio da observação e da experimentação, visando investigar a relação existente entre dois fenômenos para generalizar. Temos, então, que “o método indutivo procede inversamente ao dedutivo: parte do particular e coloca a generalização como um produto posterior do trabalho de coleta de dados particulares” (GIL, 2008, p. 10). Ainda segundo o autor, “se por meio da dedução chega-se a conclusões verdadeiras, já que baseadas em premissas igualmente verdadeiras, por meio da indução chega-se a conclusões que são apenas prováveis” (GIL, 2008, p. 11). Tal método serviu para que os estudiosos da sociedade abandonassem a postura especulativa e se inclinassem a adotar a observação como procedimento indispensável para atingir o conhecimento científico. Devido à sua influência é que foram definidas técnicas de coleta de dados e elaborados instrumentos capazes de mensurar os fenômenos sociais. Assim, podemos afirmar que o método indutivo foi fundamental para o fortalecimento das ciências sociais. 20 Re vi sã o: S he ila - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /1 0/ 20 18 Unidade I O método hipotético-dedutivo foi definido por Karl Popper a partir de críticas à indução, expressas em A lógica da investigação científica, obra publicada pela primeira vez em 1935, e consiste na adoção da seguinte linha de raciocínio: [...] quando os conhecimentos disponíveis sobre determinado assunto são insuficientes para a explicação de um fenômeno, surge o problema. Para tentar explicar as dificuldades expressas no problema, são formuladas conjecturas ou hipóteses. Das hipóteses formuladas, deduzem-se consequências que deverão ser testadas ou falseadas. Falsear significa tornar falsas as consequências deduzidas das hipóteses. Enquanto no método dedutivo se procura a todo custo confirmar a hipótese, no método hipotético-dedutivo, ao contrário, procuram-se evidências empíricas para derrubá-la (GIL, 2008, p. 12). O método hipotético-dedutivo inicia-se com um problema ou uma lacuna no conhecimento científico, passando pela formulação de hipóteses e por um processo de inferência dedutiva, o qual testa a predição da ocorrência de fenômenos abrangidos pela referida hipótese. Vamos usar um esquema na figura a seguir para deixar mais claro: Problema Conjecturas Dedução de consequências observadas Tentativa de falseamento Corroboração Figura 6 – Esquema do método hipotético-dedutivo 21 Re vi sã o: S he ila - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /1 0/ 20 18 METODOLOGIA DO PROJETO De acordo com Popper, toda investigação tem origem em umproblema, cuja solução envolve conjecturas, hipóteses, teorias e eliminação de erros; por isso, Lakatos e Marconi (2010) afirmam que o método de Popper é o método de eliminação de erros. Veja a figura a seguir: Conhecimento existente Problema ou lacuna no conhecimento: fatos; descoberta do problema; formulação do problema. Modelo teórico Suposições plausíveis; hipóteses principais (centrais) e auxiliares (decorrentes). Dedução das consequências Busca de suportes racionais e empíricos – consequências, predições e retrodições. Teste das hipóteses Planejamento; realização das operações; coleta de dados; tratamento e análise dos dados; interpretação. Cotejamento ou avaliação Resultados com as previsões com base no modelo teórico. Refutação (rejeição) Erros na teoria ou nos procedimentos. Corroboração (não rejeição) Extensões; nova teoria e/ou nova lacuna ou novo problema. Correção do modelo Figura 7 – Etapas do método hipotético-dedutivo O método hipotético-dedutivo desfruta de notável aceitação, em especial no campo das ciências naturais. Saiba mais Para conhecer a fundo o método proposto por Karl Popper, leia o livro: POPPER, K. R. A lógica da pesquisa científica. 2. ed. São Paulo: Cultrix, 2013. 22 Re vi sã o: S he ila - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /1 0/ 20 18 Unidade I O método dialético já foi usado por Platão no sentido de arte do diálogo; na Antiguidade e na Idade Média, utilizado para significar simplesmente lógica. Assim, o método dialético, que atingiu seu auge com Hegel (GIL, 2008), e depois foi reformulado por Marx, busca interpretar a realidade partindo do pressuposto de que todos os fenômenos apresentam características contraditórias organicamente unidas e indissolúveis (PRODANOV; FREITAS, 2013). Para Hegel (1969), a dialética é a do devir, do desenvolvimento da história, que é estabelecida em três fases: tese, antítese e síntese. Assim, o desenvolvimento da história é obra da razão, que tem como finalidade a liberdade, o espírito universal, o absoluto (PEROVANO, 2016). Saiba mais Os livros a seguir podem propiciar um entendimento mais profundo sobre a tão discutida dialética hegeliana: HEGEL, F. Enciclopédia das ciências filosóficas. Lisboa: Edições 70, 1969. v. 1-2. HEGEL, F. Fenomenologia do espírito. Petrópolis: Vozes, 1988. v. 1-2. O método fenomenológico, tal como foi apresentado por Edmund Husserl (1859-1938), propõe-se a estabelecer uma base segura para todas as ciências (GIL, 2008). Para Husserl, as certezas positivas que permeiam o discurso das ciências empíricas são “ingênuas”. “A suprema fonte de todas as afirmações racionais é a ‘consciência doadora originária’” (GIL, 2008, p. 14). Então a primeira e fundamental regra do método fenomenológico é: “avançar para as próprias coisas”. Por coisa entendemos simplesmente o dado, o fenômeno, aquilo que é visto diante da consciência. A fenomenologia não se preocupa, pois, com algo desconhecido que se encontre atrás do fenômeno; só visa o dado, sem querer decidir se esse dado é uma realidade ou uma aparência. O método fenomenológico não é dedutivo nem empírico. Consiste em mostrar o que é dado e em esclarecer esse dado. “Não explica mediante leis nem deduz a partir de princípios, mas considera imediatamente o que está presente à consciência: o objeto” (GIL, 2008, p. 14). Consequentemente, tem uma tendência orientada totalmente para o objeto, ou seja: o método fenomenológico limita-se aos aspectos essenciais e intrínsecos do fenômeno, sem lançar mão de deduções ou empirismos, buscando compreendê-lo por meio da intuição, visando apenas ao dado, ao fenômeno, não importando sua natureza real ou fictícia (PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 36). 23 Re vi sã o: S he ila - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /1 0/ 20 18 METODOLOGIA DO PROJETO A segunda revolução científica do século XX, iniciada em várias frentes nos anos 1960, produz grandes desdobramentos, que conduzem à necessidade de ligar, contextualizar e globalizar os saberes, até então fragmentados (MORIN, 2000 apud KNECHTEL, 2014, p. 52). A partir desse momento, esses saberes permitem articular com sucesso as disciplinas umas às outras, para o desenvolvimento do espírito científico. Assim, a nova dinâmica científica após esse período se realiza a partir de um sistema complexo, que forma um todo organizado. As ciências “conversam” umas com as outras, o que contribui para quebra de paradigmas e criação de novos enfoques de descobertas. Saiba mais Para ampliar seus conhecimentos sobre as mudanças nas ciências, leia: MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. 3 ed. Porto Alegre: Sulina, 2007. Em razão dessas transformações nas ciências, especialmente a partir do século XX, diversas correntes de pensamentos deram origem a vários caminhos na busca pelo conhecimento (SAMPIERI; COLLADO; LUCIO, 2013). Veremos a seguir estas diversas possibilidades de fazer pesquisa. 4 CARACTERÍSTICAS DA PESQUISA CIENTÍFICA Conforme visto anteriormente, a pesquisa científica é uma atividade humana, cujo objetivo é conhecer e explicar os fenômenos, fornecendo respostas às questões significativas para a compreensão da natureza, a partir do método científico. Para essa tarefa, o pesquisador utiliza o conhecimento anterior acumulado e manipula cuidadosamente os diferentes métodos e técnicas para obter resultado pertinente às suas indagações. Segundo Lakatos e Marconi (2010, p. 157), em referência a Ander-Egg (1978, p. 28), a pesquisa é um “procedimento reflexivo sistemático, controlado e crítico, que permite descobrir novos fatos ou dados, relações ou leis, em qualquer campo do conhecimento”. Esse procedimento fornece ao investigador um caminho para o conhecimento da realidade ou de verdades parciais. O termo pesquisa por vezes é usado indiscriminadamente, confundindo-se com uma simples indagação, procura de dados ou certos tipos de abordagens exploratórias. Você já sabe que existem diferenças entre senso comum e ciência: a pesquisa, como atividade científica completa, deve percorrer um longo caminho, desde a formulação do problema até a apresentação dos resultados. Todos os passos dados nesta trajetória, de fazer ciência, devem ser muito bem pensados, planejados e executados. Para facilitar esse processo, sugerimos a seguinte sequência de fases: • Preparação da pesquisa com seleção, definição e delimitação do tópico ou problema a ser investigado, planejamento de aspectos logísticos para a realização da pesquisa, formulação de hipóteses e construção de variáveis. 24 Re vi sã o: S he ila - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /1 0/ 20 18 Unidade I • Trabalho de campo com coleta de dados. • Processamento com sistematização e classificação dos dados. • Análise e interpretação dos dados. • Elaboração do relatório da pesquisa. No momento, demostraremos as diferentes maneiras de fazer pesquisa. Para compreendê-las, tenhamos sempre em vista que, seja qual for a natureza de um trabalho científico, ele precisa preencher algumas características, tais como: • Discutir ideias e fatos relevantes relacionados a determinado assunto, a partir de um marco teórico bem fundamentado. • Tratar o assunto de forma clara, tanto para o autor quanto para os leitores. • Ter alguma utilidade, seja para a ciência, seja para a comunidade. • Demonstrar, por parte do autor, o domínio do assunto escolhido e a capacidade de sistematização, recriação e crítica do material coletado. • Dizer algo que ainda não foi dito. • Indicar com clareza os procedimentos utilizados, especialmente as hipóteses (que devem ser específicas, plausíveis, relacionadas com uma teoria e conter referências empíricas) trabalhadasna pesquisa. • Fornecer elementos que permitam verificar, para aceitar ou contestar, as conclusões alcançadas. • Documentar com rigor os dados fornecidos, de modo a permitir a clara identificação das fontes utilizadas. • Organizar a comunicação dos dados de modo lógico, seja dedutiva, seja indutivamente. • Ser redigido de modo gramaticalmente correto, estilisticamente agradável, fraseologicamente claro e terminologicamente preciso. 4.1 Classificação das pesquisas Toda pesquisa científica deve ser sistemática, metódica e crítica. O produto da pesquisa científica, segundo Prodanov e Freitas (2013), deve contribuir para o avanço do conhecimento humano. Na vida acadêmica, a pesquisa é um exercício que permite despertar o espírito de investigação diante dos trabalhos e problemas sugeridos ou propostos pelos professores e orientadores. 25 Re vi sã o: S he ila - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /1 0/ 20 18 METODOLOGIA DO PROJETO Destacamos que “o planejamento de uma pesquisa depende tanto do problema a ser estudado, da sua natureza e situação espaçotemporal em que se encontra, quanto da natureza e nível de conhecimento do pesquisador” (KÖCHE, 2015, p. 122). Isso significa que podem existir vários tipos de pesquisa. Cada tipo possui, além do núcleo comum de procedimentos, suas peculiaridades próprias. A seguir, serão caracterizados a pesquisa bibliográfica, a experimental e os vários tipos de pesquisa descritiva. De acordo com Demo (2000), as pesquisas variam conforme seus gêneros. Assim, a pesquisa pode ser: • Teórica: dedicada a estudar teorias. • Metodológica: que se ocupa dos modos de fazer ciência. • Empírica: dedicada a codificar a face mensurável da realidade social. • Prática ou pesquisa-ação: voltada para intervir na realidade social. Para Andrade (1997), as pesquisas podem ser: • Observações ou descrições originais de fenômenos naturais, espécies novas, estruturas e funções, mutações e variações, dados ecológicos etc. • Trabalhos experimentais, que submetem o fenômeno estudado às condições controladas da experiência, abrangendo os mais variados campos. • Trabalhos teóricos, de análise ou síntese de conhecimentos, levando à produção de conceitos novos, por via indutiva ou dedutiva, apresentação de hipóteses, teorias etc. Dito isso, Prodanov e Freitas (2013, p. 50) acrescentam ainda que “nenhum tipo de pesquisa é autossuficiente. Na prática, mesclamos todos, acentuando um ou outro tipo”. Segundo Demo (2000, p. 22): [...] todas as pesquisas são ideológicas, pelo menos no sentido de que implicam posicionamento implícito por trás de conceitos e números; a pesquisa prática faz isso explicitamente. Todas as pesquisas carecem de fundamento teórico e metodológico e só têm a ganhar se puderem, além da estringência categorial, apontar possibilidades de intervenção ou localização concreta. Existem várias formas de classificar as pesquisas. As formas clássicas de classificação serão apresentadas na figura a seguir. 26 Re vi sã o: S he ila - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /1 0/ 20 18 Unidade I Quanto à natureza Quanto aos procedimentos Pesquisa bibliográfica Pesquisa documental Pesquisa experimental Pesquisa participante Estudo de caso Pesquisa-ação Pesquisa qualitativa Pesquisa quantitativa Quanto aos objetivos Pesquisa exploratória Pesquisa descritiva Pesquisa explicativa Quanto ao tratamento dos dados Pesquisa básica Pesquisa aplicada Figura 8 – Tipos de pesquisa científica Para ficar mais claro, vamos explicar cada tópico da figura anterior: a pesquisa, sob o ponto de vista da sua natureza, pode ser básica ou aplicada. A pesquisa básica objetiva gerar conhecimentos novos úteis para o avanço da ciência sem aplicação prática prevista. Dela, derivam os pressupostos teóricos e conceituais adotados por todos os ramos do conhecimento. A pesquisa aplicada, comumente adotada para fins institucionais ou tecnológicos, apresenta o viés prático de investigação. Na pesquisa básica, as teorias, os conceitos, os teoremas e demais estruturas são construídos para explicar o comportamento de diversos fenômenos em diferentes conjunturas (PEROVANO, 2016, p. 24). Uma teoria, elaborada no contexto da pesquisa básica, pode ser validada em um estudo de caso no âmbito de uma pesquisa aplicada. Mas o que é exatamente a pesquisa aplicada? Segundo Perovano (2016), a pesquisa aplicada, comumente adotada para fins institucionais ou tecnológicos, apresenta o viés prático de investigação. Normalmente é adotada para o estudo de problemas e a resolução de determinadas demandas organizacionais. Envolve verdades e interesses locais. 27 Re vi sã o: S he ila - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /1 0/ 20 18 METODOLOGIA DO PROJETO Por exemplo: uma pesquisa realizada em uma empresa sobre o comportamento de seus clientes diante de um lançamento de um novo produto no mercado (pesquisa aplicada) pode servir de referência para o estudo da conduta de consumo, e a partir disso para a elaboração de uma teoria que explique esse fenômeno. Essa é a relação que explica a derivação de investigações científicas de pesquisas básicas para aplicadas, ou vice-versa. Saiba mais Para compreender o processo de investigação e busca por respostas científicas, bem como os trâmites e o alcance dos resultados, sugerimos o filme: O ÓLEO de Lorenzo. Dir. George Miller. EUA: Universal Pictures, 1992. 129 minutos. 4.1.1 Objetivos De acordo com Gil (2008), os objetivos de pesquisa, a partir de tipos de estudos, indicam como os dados serão coletados, como será desenhada a amostragem, e como será realizado o levantamento da bibliografia adequada ao estudo. Sendo assim, a pesquisa, sob o ponto de vista de seus objetivos, pode ser exploratória, descritiva e explicativa. A pesquisa exploratória é a fase preliminar. Tem como finalidade proporcionar mais informações sobre o assunto que vamos investigar, possibilitando sua definição e seu delineamento, isto é, facilitar a delimitação do tema da pesquisa; orientar a fixação dos objetivos e a formulação das hipóteses; ou descobrir um novo tipo de enfoque para o assunto. Assume, em geral, as formas de pesquisas bibliográficas e estudos de caso. De acordo com Sampieri, Collado e Lucio (2013), o estudo exploratório serve para examinar um problema de pesquisa pouco ou ainda não estudado. Consiste em aplicar instrumentos para a medição e a descrição inicial de determinados estudos. A pesquisa exploratória possui planejamento flexível, o que permite o estudo do tema sob diversos ângulos e aspectos. Em geral, envolve: • levantamento bibliográfico; • entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; • análise de exemplos que estimulem a compreensão. 28 Re vi sã o: S he ila - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /1 0/ 20 18 Unidade I Saiba mais Apresentamos um resumo de uma pesquisa científica para que o estudante identifique possíveis problemas de pesquisa e suas soluções a partir de pesquisas exploratórias. JABBOUR, C. J. C.; JABBOUR, A. B. L. S.; OLIVEIRA, J. H. C. Decifra-me ou te devoro: uma análise das variáveis e fatores que influenciam o impacto da pesquisa científica desenvolvida na área de sustentabilidade no Brasil. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 18, n. 2, p. 79-90, jun. 2013. A pesquisa descritiva tem como foco especificar as propriedades, as características e os perfis de pessoas, populações e fenômenos sociais ou físicos. Envolve o uso de técnicas padronizadas de coleta de dados: questionário e observação sistemática.Assume, em geral, a forma de levantamento. Tal pesquisa observa, registra, analisa e ordena dados, sem manipulá-los, isto é, sem interferência do pesquisador. Assim, para coletar tais dados, utiliza-se de técnicas específicas, entre as quais se destacam a entrevista, o formulário, o questionário, o teste e a observação. A diferença entre a pesquisa experimental e a pesquisa descritiva é que esta procura classificar, explicar e interpretar fatos que ocorrem, enquanto a pesquisa experimental pretende demonstrar o modo ou as causas pelas quais um fato é produzido. De acordo com Prodanov e Freitas (2013), nas pesquisas descritivas: Os fatos são observados, registrados, analisados, classificados e interpretados, sem que o pesquisador interfira sobre eles, ou seja, os fenômenos do mundo físico e humano são estudados, mas não são manipulados pelo pesquisador. Incluem-se, entre as pesquisas descritivas, a maioria daquelas desenvolvidas nas ciências humanas e sociais, como as pesquisas de opinião, mercadológicas, os levantamentos socioeconômicos e psicossociais (PRODANOV; FREITAS, 2013, p. 52). Em um estudo descritivo, ao investigar as características de uma escola, por exemplo, podem ser levantados os seguintes dados: modelos de gestão, características do layout, sistemas de segurança, princípios pedagógicos, entre outros. O importante é definir atributos e definições das variáveis, mas sem cruzá-las, sem relacioná-las. A pesquisa explicativa procura explicar os porquês das coisas e suas causas, por meio do registro, da análise, da classificação e da interpretação dos fenômenos observados. Visa identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos fenômenos; “aprofunda o conhecimento da realidade porque explica a razão, o porquê das coisas” (GIL, 2008, p. 28). 29 Re vi sã o: S he ila - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /1 0/ 20 18 METODOLOGIA DO PROJETO De acordo com Sampieri, Collado e Lucio (2013), a pesquisa explicativa estabelece a relação entre conceitos e responde às causas dos acontecimentos, dos fatos, dos fenômenos físicos e sociais. Esse tipo de estudo visa apontar por que determinado fenômeno ocorre e suas condições de ocorrência. Segundo Prodanov e Freitas (2013), esses tipos de pesquisas são mais complexos, e portanto, aprofundam o conhecimento da realidade, já que, além de registrar, analisar, classificar e interpretar os fenômenos estudados, têm como preocupação central identificar seus fatores determinantes. A pesquisa explicativa apresenta como objetivo primordial a necessidade de aprofundamento da realidade, por meio da manipulação e do controle de variáveis, com o escopo de identificar qual a variável independente ou aquela que determina a causa da variável dependente do fenômeno em estudo para, em seguida, estudá-lo em profundidade. Exemplo de aplicação Identifique no resumo a seguir possíveis problemas de pesquisa e suas soluções: Este estudo teve como finalidade explorar e descrever o fenômeno de adaptação após lesão medular, enfatizando a explicação das estratégias de adaptação adotadas, e procurando identificar as implicações que têm nos cuidados de enfermagem. A metodologia utilizada foi a qualitativa, tendo como referência metodológica a Grounded Theory. Para tal, foi dada voz ativa a nove indivíduos que sofreram lesão medular, com um percurso de adaptação de sucesso à nova condição, utilizando a entrevista semidirigida. Foi efetuada também análise documental de alguns relatos de vida, partindo para a análise dos dados à luz da Grounded Theory. Foi possível explicar o fenômeno de adaptação após lesão medular, sendo evidenciada a influência do encontro com um novo sentido da vida na manutenção da disposição para gerir as consequências que advêm do confronto com uma lesão medular. O tema central do estudo prende-se assim com a dimensão espiritual da pessoa, o que antevê uma intervenção de enfermagem específica nesta área, junto do indivíduo após lesão medular. Adaptado de: Amaral (2009, p. 573). O quadro a seguir resume as informações sobre os tipos de pesquisa, com relação aos objetivos: Quadro 2 Tipo de pesquisa Descrição Exploratória Familiarizar-se com fenômenos relativamente desconhecidos. Obter informações sobre a possibilidade de levar a cabo uma investigação mais completa sobre um contexto particular da vida real. Investigar problemas do comportamento humano considerados cruciais aos profissionais de determinada área. Identificar conceitos ou variáveis promissoras e estabelecer prioridades para investigações posteriores. 30 Re vi sã o: S he ila - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /1 0/ 20 18 Unidade I Descritiva Relatar descritivamente situações e eventos, no sentido de apontar como se manifestam determinados fenômenos. Buscar especificar as propriedades importantes de pessoas, contextos e processos, bem como qualquer fenômeno que seja submetido à análise. Medir de maneira independente os conceitos ou as variáveis aos quais se faz referência na pesquisa. Explicativa Identificar fatores que determinam a ocorrência de fenômenos ou contribuem para isso. Realizar o aprofundamento da análise da realidade com base no entendimento da relação entre duas ou mais variáveis. Adaptado de: Perovano (2016). 4.1.2 Procedimentos Nesta parte, trataremos da maneira pela qual obtemos os dados necessários para a elaboração da pesquisa. Falamos, nesta etapa, em delineamento da pesquisa, ou seja, tratamos do planejamento da pesquisa em sua dimensão mais ampla, envolvendo diagramação, previsão de análise e interpretação de coleta de dados, considerando o ambiente em que são coletados e as formas de controle das variáveis envolvidas. O elemento mais importante para a identificação de um delineamento é o procedimento adotado para a coleta de dados. Assim, podem ser definidos dois grandes grupos de delineamentos: o grupo dos que se valem das “fontes de papel”, e o grupo que coleta dados a partir de “fontes de pessoas” (PRODANOV; FREITAS, 2013). A pesquisa bibliográfica tem como finalidade colocar o pesquisador em contato com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre o assunto/tema pesquisado, tais como livros, revistas, jornais, publicações em periódicos e artigos científicos, boletins, monografias, dissertações, teses, material cartográfico, internet etc. Entretanto, é fundamental que o pesquisador que opte por tal procedimento verifique a veracidade dos dados obtidos, observando as possíveis incoerências ou contradições que as obras possam apresentar, principalmente quando se trata de informações coletadas da internet. Observação Use o cifrão como recurso de truncamento para incluir variações de uma mesma palavra/termo/nome. Por exemplo: epidemi $ inclui epidemiologia, epidemiology, epidemia, epidemiológico etc. O idioma utilizado na pesquisa pode influenciar em seu resultado. Inglês, português e espanhol são os idiomas mais utilizados nas bases de dados incluídas em portais. Essa pesquisa fornece fundamentos analíticos para qualquer outro tipo de pesquisa – pois todas as pesquisas necessitam de um referencial teórico – embora possa esgotar-se em si mesma. Além disso, 31 Re vi sã o: S he ila - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /1 0/ 20 18 METODOLOGIA DO PROJETO neste tipo de pesquisa, não são realizadas entrevistas, nem são feitas observações sobre situações vividas, mas o pesquisador “conversa” e “debate” com outros, por meio de seus escritos. Para facilitar a atividade de investigação, destaca-se a importância da elaboração de fichas de leitura, que favorecem a organização das informações obtidas. Quanto às etapas da pesquisa bibliográfica,destacamos alguns itens que se caracterizam como etapas imprescindíveis para a realização da pesquisa bibliográfica: • escolha do tema; • levantamento bibliográfico preliminar; • formulação do problema; • elaboração do plano provisório do assunto; • busca das fontes; • leitura do material; • fichamento; • organização lógica do assunto; • redação do texto. Segundo Gil (2008), no momento da elaboração do texto, o pesquisador deve estabelecer as relações entre o conteúdo selecionado (e fichado) e as variáveis ou termos contidos na pergunta de pesquisa. A pesquisa documental é realizada em documentos, descritos no quadro a seguir. Quadro 3 – Fontes da pesquisa documental Tipo de fonte Definição Documentos Certidões, diários oficiais, atas, jornais, revistas, obras literárias, científicas e técnicas, cartas, memorandos, ofícios, relatórios e outros. Evidências fiscais Monumentos, pinturas antigas, artefatos paleontológicos e arqueológicos, acreção controlada, medidas de erosão natural e medidas de erosão controlada. Elementos iconográficos Fotografias, filmes, sinais, grafismos, imagens, mapas e outros. Fonte: Gray (2012, p. 211 apud PEROVANO, 2016, p. 188). 32 Re vi sã o: S he ila - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /1 0/ 20 18 Unidade I De acordo com Gil (2008), embora parecida com a pesquisa bibliográfica, a principal diferença da documental é a natureza das fontes. Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições de vários autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental baseia-se em materiais que não receberam ainda um tratamento analítico ou que podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa. Para Prodanov e Freitas (2013), a utilização da pesquisa documental é destacada no momento em que podemos organizar informações que se encontram dispersas, conferindo-lhes uma nova importância como fonte de consulta. Nessa tipologia de pesquisa, os documentos são classificados em dois tipos principais: fontes primárias e fontes secundárias. As fontes primárias são aquelas que se apresentam e são disseminadas exatamente da forma como são produzidas por seus autores. São materiais originais, nos quais outras pesquisas são baseadas. Apresentam o pensamento original, reportam descobertas ou compartilham novas informações, sem interpretação, sumarização ou avaliação de outros escritores. São exemplos de fontes primárias: • anais de congressos, conferências e simpósios; • legislação; • nomes e marcas comerciais; • normas técnicas; • patentes; • periódicos; • projetos de pesquisa em andamento; • relatórios técnicos. As fontes secundárias são as obras referenciadas por um segundo autor. São interpretações e avaliações de fontes primárias que, de alguma forma, já foram analisadas, cujos registros fazem referência a fontes primárias, tais como: relatórios de pesquisa, relatórios de empresas, tabelas estatísticas, índices, bases de dados e diretórios, publicações ou periódicos de indexação e resumos, artigos de revisão, catálogos, entre outros. Após a leitura dos textos relacionados à área temática investigada, o pesquisador deverá elaborar um fichamento – seja feito à mão ou digitado no computador – a fim de anotar resumos e sintetizar 33 Re vi sã o: S he ila - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /1 0/ 20 18 METODOLOGIA DO PROJETO conceitos e pressupostos sobre o tema abordado, os quais são apresentados pelos autores estudados. Essa parte é fundamental para a elaboração da pesquisa: organizar o material, as ideias e os autores facilita o trabalho posterior de confrontar ideias, apresentar debates, citar autores e obras. Seleção das obras e dos trabalhos sobre o tema Para que o pesquisador se oriente e saiba usar uma biblioteca da forma mais produtiva possível, apresentamos a seguir, um “método de tomar notas”: a) antes de começar a fazer anotações, devemos dar uma folheada na fonte que estamos usando como referência; é muito bom que tenhamos uma noção de conjunto antes de decidirmos qual material deve ser recolhido e usado; b) é fundamental o uso de fichas para fazer anotações. Colocamos sempre o tema na parte superior da ficha e, na parte inferior, a citação bibliográfica completa; c) para cada ficha, um tema: se as anotações forem muito extensas, usamos várias fichas, enumerando-as; d) devemos tomar cuidado para não escrever coisas inúteis nas fichas; e) nas fichas, deve ficar claro aquilo que é um resumo, uma citação do autor, uma referência do autor a outro e a própria apreciação crítica do material consultado; f) não perder tempo “passando a limpo” anotações, pois é possível preparar as fichas adequadamente já na primeira vez; g) é bom que tenhamos um sistema prático para ordenar as fichas, tendo-as sempre à mão durante todo o tempo de realização do projeto. Fonte: Prodanov e Freitas (2013). A pesquisa experimental consiste em determinar um objeto de estudo, selecionar as variáveis capazes de influenciá-lo e definir as formas de controle e observação dos efeitos que essas variáveis produzem no objeto. Nesse tipo de pesquisa, o pesquisador é um agente ativo, ou seja, procura refazer as condições de um fato a ser estudado, para observá-lo sob controle. Para tal, ele se utiliza de local apropriado, aparelhos e instrumentos de precisão, a fim de demonstrar o modo ou as causas pelas quais um fato é produzido, proporcionando, assim, o estudo de suas causas e seus efeitos. De acordo com Prodanov e Freitas (2013), nesse tipo de pesquisa, a manipulação das variáveis proporciona o estudo da relação entre as causas e os efeitos de determinado fenômeno. Através da criação de situações de controle, procuramos evitar a interferência de variáveis intervenientes. Interferimos diretamente na realidade, manipulando a variável independente, a fim de observar o que acontece com a dependente. A pesquisa experimental estuda, portanto, a relação entre fenômenos, 34 Re vi sã o: S he ila - D ia gr am aç ão : M ár ci o - 05 /1 0/ 20 18 Unidade I procurando saber se um é a causa do outro. Normalmente, é realizada por amostragem, e seu resultado por indução é válido para todo o universo estudado. O estudo de caso consiste em coletar e analisar informações sobre determinado indivíduo, uma família, um grupo ou uma comunidade, a fim de estudar aspectos variados de sua vida, de acordo com o assunto da pesquisa. Essa modalidade tem caráter de profundidade e detalhamento, e suas principais características, segundo Knechtel (2014, p. 18-20), são: • Visa à descoberta, pois o investigador deve buscar novas respostas e novas indagações no desenvolvimento do seu trabalho. • Enfatiza a interpretação do contexto. O pesquisador leva em consideração o contexto em que o objeto de estudo está inserido, as percepções, os comportamentos e as interações das pessoas relacionadas à situação específica ou à problemática determinada a que estão ligadas. • Busca retratar a realidade de forma completa e profunda. O pesquisador revela a multiplicidade de dimensões presentes em uma situação ou problema investigado. • Utiliza grande variedade de fontes de informação. Os dados são os mais variados, e a coleta ocorre em diferentes situações e com os mais diversos tipos de informantes. • Revela experiências vicárias e permite generalizações naturalísticas. O pesquisador relata suas experiências durante o estudo, de modo que a pessoa que o leia possa fazer suas próprias generalizações. • Procura representar os diferentes, e às vezes conflitantes, pontos de vista em uma determinada situação social. O pesquisador procura trazer para o estudo as opiniões divergentes
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