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Apostila didática para a Disciplina Petrologia I Departamento de Mineralogia e Petrologia Ígnea Edição 2004 Akihisa Motoki Apostila didática para a Disciplina Petrologia I Departamento de Mineralogia e Petrologia Ígnea Edição 2004 Akihisa Motoki Descrição Petrográfica de Rochas Ígneas Apostila didática para a Disciplina Petrologia I Departamento de Mineralogia e Petrologia Ígnea Edição 2004 Akihisa Motoki Descrição Petrográfica de Rochas ÍgneasDescrição Petrográfica de Rochas ÍgneasDescrição Petrográfica de Rochas Ígneas - i - Foto da capa: Vulcão Fuji, Provincia de Shizuoka - Yamanashi, Japão Sumário 1. História de desenvolvimento da petrologia --- 1 1.1. Alvorada da petrologia --- 1 1.2. Petrologia moderna --- 2 1.3. Desenvolvimento nas últimas décadas --- 4 2. Conhecimentos fundamentais --- 7 2.1. Corpo, rocha e mineral --- 8 2.2. Rochas ígneas, sedimentares e metamórficas --- 9 2.3. Estrutura do Planeta Terra e geração do magma --- 8 2.4. Energia interna do Planeta Terra --- 17 2.5. Desenvolvimento no futuro --- 32 3. Classificação de rochas ígneas --- 34 3.1. Critérios de classificação --- 34 História de desenvolvimento da petrologia - 1 - 1. História de desenvolvimento da petrologia Desde a época do Império Romano, a humanidade já conhecia presença de diversos tipos de rochas. Certos nomes de rochas atualmente utilizados, tais como basalto e sienito, são originados daquele tempo (Fig. 1.1). Mas, descrições científicas e classificações organizadas de rochas iniciaram-se apenas no final do século XVIII, por meio de observações a olho nu e a lupa. No século XIX, foi introduzido o microscópio equipado com polarizadores ópticos. Este instrumento possibilitou a identificação exata dos minerais constituintes e classificação quantitativa de rochas. Tal estudo, que constitui uma parte da petrologia, é denominado petrografia. 1.1. Alvorada da petrologia A petrografia do sentido moderno foi fundada no final do século XVIII por A.G. Werner (1749-1817), que trabalhou em Bergakademie Freiberg (Academia de Mineração de Freiberg, Alemanha). Os estudos dele foram baseados apenas em observações a olho nu e lupa, por isso, as descrições foram parciais e limitadas. Por exemplo, não houve como observar a composição mineralógica de rochas com granulometria muito fina, ou seja, rochas constituídas por minerais pequenos, indistinguíveis a olho nu. Ele considerou que todas as rochas, sejam estas, granito ou basalto, foram originadas de materiais depositados no oceano primitivo hipotético que cobria a Terra inteira. Naquele tempo, a origem do Planeta Terra ainda não era tão esclarecida como no presente. A idéia dele é chamada de neptunismo. Ele atribuiu vulcanismos à combustão de carvão mineral em locais profundos. A presença de oxigênio e sua função química ainda não eram conhecidas. Sob ponto de vista atual, a teoria dele é considerada como problemática, por outro lado, as descrições das amostras de mineral foram excelentes. Uma parte da coleção dele está conservada no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Na mesma época, apareceu um aristocrata inglês J. Hutton (1726-1797) que se dedicou a ciências de vários ramos. Ele reconheceu a existência de calor subterrâneo, e considerou este calor como causa fundamental da geração de magmas e atividades vulcânicas. A expansão da Terra, a paradigma daquele tempo, e as atividades tectônicas eram interpretadas como Fig. 1.1. Vistas macroscópicas das rochas conhecidas desde a época do Império Romano, sienito e basalto: (A) álcali sienito, Caldas - Minas Gerais; (B) álcali olivina basalto, Agua Escondia, Provincia de Mendoza, Argentina. BA História de desenvolvimento da petrologia - 2 - conseqüência do calor subterrâneo. Ele observou um afloramento de dique, ou seja, corpo intrusivo de forma tabular e, de composição granítica, considerando que este granito é de origem magmática e as rochas encaixantes foram metamorfoseadas pelo calor do magma. Quase 100 anos depois, as pesquisas dele foram publicadas na forma de um livro entitulado “Theory of the Earth” (1895). A idéia dele, denominada plutonismo, explica que nem todas as rochas são sedimentares, mas existem rochas originadas do resfriamento e consolidação de magmas, denominadas rochas ígneas. Além disso, existem rochas transformadas pelo calor e pressão subterrâneos em estado sólido, chamadas de rochas metamórficas. Por outro lado, as rochas formadas a partir de sedimentação são denominadas rochas sedimentares. Após o falecimento deles, houve muitas discussões entre os neptunistas e os plutonistas, e até a década de 1920, o plutonismo chegou a prevalecer no mundo científico. Juntos com J. Lamark e C. Lyell, J. Hutton é conhecido, também, como fundador do uniformitarismo, um princípio importante na geologia: Tanto os fenômenos antigos quanto os atuais são controlados pelas mesmas leis físicas e químicas. O uniformitarismo enfrentou violentas reações do “catastrofismo”, que considerava os acontecimentos antigos, sobretudo os que aparecem na Bíblia, como sendo controlados pela força incomum. Os dois grupos chocaram- se em vários pontos, sobretudo na real existência, ou não, do dilúvio lendário. Através de trabalhos científicos, os uniformitaristas provaram cientificamente a inexistência do referido dilúvio. Até o presente, o termo “depósito diluvial” está sendo utilizado na geologia, porém, de outro significado, que corresponde aos depósitos sedimentares do Quaternário. 1.2. Petrologia moderna No meio do século XIX, foram iniciadas análises químicas de rochas. O microscópio, que foi inventado na mesma época, provocou revoluções drásticas nos estudos de rochas e minerais. Junto com a aplicação da técnica de lâmina delgada, este instrumento possibilitou análise de rochas de granulometria muito fina e estudo detalhado de cada mineral. A lâmina delgada é película fina de rocha com 30 µm de espessura, preparada para observação microscópica. A invenção posterior do polarizador por W. Nicol, em 1928, causou outra revolução, aperfeiçoando a técnica de identificação e classificação de minerais, ou seja, mineralogia óptica (Fig. 1.2). O microscópio equipado de polarizadores é chamado de microscópio petrográfico. Através disso, a petrografia microscópica foi estabelecida até o início do século XX, principalmente por pesquisadores alemães e franceses: H.C. Sorby (1858; On the mineralogical structure of crystals), F. Zirkel (1866; Lehrbuch der Petrographie), A. Michel-Lévy, K.H.F. Rosenbusch (1877; Microscopische Phisiographie der massigen Gesteine), etc. Entre eles, Rosenbusch é conhecido como o fundador da petrografia de rochas do Brasil. Estes trabalhos, Fig. 1.2. Instrumentos ópticos: (A) Microscópio petrográfico; (B) Lupa binocular. A B História de desenvolvimento da petrologia - 3 - considerados como a petrografia moderna, foram escritos na forma de livros de quatro volumes por A. Johannsen (1931; A descriptive petrography of the igneous rocks). Após o estabelecimento da petrografia descritiva, os pesquisadores se interessaram mais pela gênese das rochas, criando a petrologia. No início do século XX, F. Becke desenvolveu conceito de províncias petrográficas através de trabalhos geoquímicos, e classificou faixas metamórficas por meio de condições de pressão e temperatura (1903; Ueber Mineralbestand und Struktur der Kristallinen Schifer). J.H.L. Vogt interpretou magmas como silicatos que formam um sistema eutético, e estabeleceu diagramas de fase de minerais félsicos, que são compostos principalmente de Si, Al, Na e K, com baixo teor de Fe e Mg (1903-1904; Die Silikatschmelzlozungen). A. Harker relacionou tipos de rochas ígneas com as condições tectônicas: Nas regiões tectonicamente compressivas ocorrem magmas não alcalinos, e nas distensionais, magmas alcalinos (1909; The natural historyof igneous rocks). Nesta publicação, Harker chamou as rochas não alcalinas como “tipo pacífico”, e as alcalinas como “tipo atlântico”. No início do século XX, foi fundado, em 1907, o Carnegie Institute - Washington, que inclui Geophysical Laboratory. Neste laboratório foram realizados estudos de fusão e consolidação de várias rochas naturais e artificiais em condições controladas, denominados de petrologia experimental. N.L. Bowen trabalhou neste laboratório e propôs a teoria de fracionamento magmático, isto é, um modelo de evolução química do magma por meio de resfriamento. Um magma primário basáltico, gerado no manto a partir da fusão parcial, fraciona- se em outros magmas de diversas composições químicas através da cristalização e afundamento de minerais, o fenômeno denominado cristalização fracionada (1925; The evolution of igneous rocks). Nas décadas de 1950 e 1960, vários pesquisadores de diversas nacionalidades, H.S. Yoder, C.E. Tilley, J.F. Schairer, I. Kushiro, M.J. O’Hara, D.H. Green, A.E. Ringwood, etc., pesquisaram neste laboratório processos de geração dos magmas primários e sua evolução, sem influência de materiais voláteis (estado seco), com o auxílio do aparelho piston-cilinder que é capaz de produzir pressões de até 5 Gp (gigapascal) ou seja 50 kb (kilobar), que corresponde à pressão do manto superior. A unidade “kb” corresponde 1000 atms. e “Gp”, a 10000 atms. Internacionalmente, a unidade kb tende a ser menos utilizada, sendo substituída por Gp. Posteriormente, os efeitos dos materiais voláteis contidos no manto, sobretudo H 2 O, chamaram a atenção dos experimentalistas, e foram realizados muitos experimentos com materiais voláteis (estado úmido). Os materiais voláteis abaixam a temperatura de fusão e mudam a composição do magma primário. Na década de 1970, o efeito do CO 2 na fusão parcial chamou atenção para a gênese dos magmas primários ultramáficos e carbonatíticos. As pesquisas estabeleceram uma visão geral da gênese e evolução dos magmas, e portanto, as idéias clássicas de rochas ígneas se transformaram em grande escala até o ano 1970. Na mesma época, houve desenvolvimentos de geoquímica de isótopos, juntos com as datações geocronológicas radiométricas, causando mais um avanço. A datação geocronológica corresponde à determinação da idade de rocha ou mineral por meio de estudos isotópicos. O sistema de desintegração radioativa de Rb-Sr e a razão inicial de Sr, 87Sr/86Sr, forneceram informações sobre o local de geração do magma dentro do manto. Os comportamentos de isótopos de oxigênio e os elementos terras raras (REE), ou seja os elementos da série lantanídios, atraíram o interesse dos geoquímicos sob ponto de vista da origem dos magmas primários e as rochas mãe do manto que geraram os magmas. A teoria da tectônica de placas foi estabelecida naquela época e aplicada para explicar as variedades químicas de magmas primários de acordo com as condições tectônicas. Posteriormente, junto com a razão inicial de Sr, o sistema de desintegração Sm-Nd e a razão inicial de Nd, 144Nd/143Nd, e os sistemas U-Pb e Th-Pb e as razões isotópicas de chumbo, 206Pb/204Pb, 207Pb/204Pb e 208Pb/206Pb, chegaram a serem utilizadas para discussão das características geoquímicas das rochas mães do manto. História de desenvolvimento da petrologia - 4 - O Projeto Apollo realizou as expedições lunares com tripulação durante 1969 a 1972 e trouxe importantes amostras de rochas lunares. Logo depois, o Projeto Luna trouxe amostras de solos lunares por meio das expedições sem tripulação durante 1973 a 1974. Nas expedições do Continente Antarctica, sobretudo do Japão, encontraram-se um imenso número de meteoritos presentes dentro do gelo e, entre essas, encontraram-se rochas lunares e marcianas. As pesquisas destas rochas extraterrestres revelaram os acontecimentos na época da formação do Sistema Solar e mudaram fundamentalmente o conceito geral da origem do Planeta Terra. Ao contrário da consideração que se acreditava até a década de 1970, a Terra nasceu como uma bola de fogo, cuja superfície era coberta por oceano do magma. As viagens de naves interplanetárias, Voyager I, Voyager II, Galileu, etc., estão reconfirmando e detalhando a nova idéia. Portanto, os modelos sobre os magmatismos nas eras muito antigas estão em reconsideração (Fig. 1.3). 1.3. Desenvolvimento nas últimas décadas Na década de 1980, foi proposto o modelo de geração do magma primário andesítico sob forte influência de H 2 O. Tal magma, denominado magma primário adakítico, é gerado em Fig. 1.3. Equipamentos modernos de análises petrológicas e geoquímicas: (A) fluorescência de Raios-X, Tokyo Institute of Technology, Japão, para análises químicas de elementos principais e menores em rocha total; (B) difratômetro de Raios-X de quatro eixos, Hirosaki University, Japão, para análises cristalográficas de minerais em pó; (C) microssonda eletrônica para análises químicas de elementos principais em pequena área, Tokyo Institute of Technology, Japão; (D) diamond window cell para ensaios em condição do manto inferior e do núcleo externo, Kyoto University, Japão. D C A B História de desenvolvimento da petrologia - 5 - 50 a 70 km de profundidade por meio da fusão da crosta oceânica presente na superfície do slab em subducção, de composição de hornblenda eclogito, o fenômeno denominado “slab-melting”. Este tema é um dos focos atuais da petrologia ígnea, mineralogia e geoquímica e, portanto intensas pesquisas estão sendo realizadas na região sul da Patagônia, onde ocorre a subducção de cadeia meso-oceânica. A evolução do aparelho diamond window cell possibilitou ensaios em pressão extremamente alta, acima de 100 Gp, correspondente ao núcleo externo. Na década de 1990, foram esclarecidos as propriedades físicoquímicas dos minerais do manto inferior e os fenômenos que ocorrem no manto inferior e o núcleo externo. A coligação de dados isotópicos de Sr, Nd e Pb possibilitaram mais um avanço nas pesquisas isotópicas e, a partir da década de 1990, as pesquisas do sistema Re-Os e razão isotópica de Os, 183Os/182Os, e, estão em desenvolvimento. Após o ano 2000, a razão isotópica de He , 4He/3He, e o sistema Hf-W e razão isotópica W/W, estão chamando atenção sob ponto de vista da origem dos magmas kimberlíticos e segregação do manto e o núcleo. Atualmente, os REE presentes em zircão estão revelando os acontecimentos desde a formação do magma primário até a chegada para a superfície. As inovações científicas foram possibilitadas freqüentemente por desenvolvimento de novos aparelhos de análises de área muito pequena, denominando-se análises em spot (pin-point). Uma grande utilidade das análises em spot é determinação química e isotópica de inclusão de vidro dentro dos minerais, denominada melt-inclusiton. Os aparelhos utilizados são microssonda eletrônica de modelos modernos (EPMA) para análises químicas em spot de diâmetro inferior a 2 micrômetros, SIMS (secondary ion mass spectrometer) para análises químicas e isotópicas em spot de diâmetro de 15 micrômetros, LA-ICPMS (laser ablation inductive coupled mass spectrometer) para análises químicas e isotópicas em spot de diâmetro de 16 micrômetros, espectrômetro de Laser Raman, para análises mineralógicas de tamanho inferior a 3 micrômetros, etc. (Fig. 1.4). Fig. 1.4. Equipamentos da tecnologia de ponta para análises petrológicas, geoquímicas e cristalográficas: (A) SIMS, secondary ion mass spectrometer, Tokyo Institute of Technology, Japão, que realiza análises químicas e isotópicas de ultra- alta sensibilidade em pin-point (pequena área); (B) LA-ICP-MS, Lazer Abration Inductive Coupled Prasma Mass Spetrometer, Tokyo Institute of Tech- nology, para análises químicas e isotópicas de ul- tra-alta sensibilidade em pin-point; (C) Laser Raman Spectrometer, que realiza análises mineralógicas em pin-point, Tokyo Institute of Technology. D C A Históriade desenvolvimento da petrologia - 6 - Fig. 1.5. Trabalho de campo é o fator fundamental da geologia. No ano 2000, Chirstoph David Parkinson, Akihisa Motoki e Kenji Freire Motoki realizaram trabalhos de campo, encontrando novas descobertas. Conforme a explicação acima, a utilização de novos equipamentos revolucionou a ciência da Terra. Para que ocorra isso, os usuários, ou seja, os geólogos, precisam ter o nível de inteligência suficiente para aproveitar os equipamentos de forma adequada e eficiente. Além disso, as amostragens e descrições do campo também devem ser feitas conforme os objetivos das análises. Sem isso, os equipamentos não produzem nenhumas novidades científicas. Desta forma, os fatores definitivos de bons trabalhos de geologia são inteligência e condição física, tanto no campo quanto nos laboratórios (Fig. 1.5). Conhecimentos fundamentais - 7 - 2. Conhecimentos fundamentais Ao estudar petrologia de rochas ígneas, deve-se confirmar alguns conhecimentos fundamentais da geologia geral. O mundo da geologia está com cheio de mitos e superstições. Até mesmo no presente, início do século XXI, as teorias já abandonadas nos séculos passados continuam sendo divulgadas através de livros, jornais, revistas e programas de televisão. 2.1. Corpo, rocha e mineral A superfície da Terra é coberta geralmente pelo solo. Abaixo do solo, porém, existe a parte sólida composta principalmente de materiais silicáticos. De acordo com o tamanho e as propriedades, esses materiais, constituintes da crosta terrestre, são classificados em: 1) corpo geológico; 2) rocha; e 3) mineral. Corpos geológicos são unidades que compõem a crosta terrestre, com tamanho variando de metros até dezenas de quilômetros, estudadas normalmente em trabalhos de campo. O estudo de corpos geológicos é denominado geologia (stricto sensu), ou seja, geologia do campo. Rochas são materiais constituintes dos corpos geológicos, estudadas no tamanho de amostras de mão, cerca de 10 cm, em laboratórios. As rochas são normalmente materiais heterogêneos, compostas principalmente de várias fases de silicato, e cada fase é quimicamente homogênea, denominada mineral. Os estudos específicos das rochas e dos minerais são chamados respectivamente de petrologia e mineralogia. A descrição e a classificação das rochas são chamadas de petrografia. O tamanho dos minerais varia geralmente de micrométrico até centimétrico (Fig. 2.1; Tabela 2.1). Cientificamente, o termo mineral (stricto 10 cm 1 mm arenito gabro C. MineralA. Corpo geológico 1 m B. Rocha augita magnetita dique plagioclásio 3 m 200 mm Fig. 2.1. Ilustração esquemática de: (A) corpo geológico, dique de gabro, Cabo Frio - RJ; (B) rocha, granada anfibolito, Aiuruoca - MG; (C) mineral, bronzita, Vulcão Lautaro - Patagônia, Chile. Conhecimentos fundamentais - 8 - sensu) significa os materiais inorgânicos que possuem estrutura cristalina ordenada e composição química homogênea. Corpos ígneos são definidos como corpos formados através do resfriamento de magmas. Um corpo ígneo corresponde a um pulso de intrusão magmático ou extravasamento de lava. A diferença entre rochas ígneas e corpos ígneos está basicamente nas escalas. Certos corpos ígneos são compostos apenas de um tipo de rocha ígnea, porém, a maioria dos corpos ígneos inclui mais de um tipo de rocha ígnea. Sem dúvida, a origem e natureza dos corpos ígneos são intimamente relacionadas às de rochas ígneas. Entretanto, poucos livros didáticos explicam detalhadamente e corretamente a relação entre os dois, portanto, ainda existem confusões. 2.2. Rochas ígneas, sedimentares e metamórficas As rochas são classificadas tradicionalmente em três categorias por sua gênese: 1) ígneas; 2) sedimentares; e 3) metamórficas (Fig. 2.2; Tabela 2.2). As rochas ígneas são definidas como as que são formadas por meio do resfriamento de magmas, sendo consideradas como rochas primárias, ou seja origem líquida. A energia formadora das rochas ígneas de magmas é o calor interno da Terra. O resfriamento dos magmas pode ocorrer tanto na superfície quanto no interior da Terra. As rochas sedimentares são definidas como as que são formadas por meio da sedimentação ou decantação de materiais na superfície da Terra. Normalmente existem rochas originais que foram desagregadas, decompostas e transportadas, e esses materiais foram levados até o local de sedimentação. Neste sentido, as rochas sedimentares são consideradas secundárias, origem sólida. A energia formadora das rochas sedimentares é fundamentalmente solar e química. O local de formação é especificamente a superfície da Terra. As rochas metamórficas são definidas como as que se formam por meio da transformação de rochas originais sob altas temperaturas e pressões do interior da Terra. As rochas originais podem ser tanto ígneas, sedimentares quanto metamórficas. Neste sentido, as rochas metamórficas são classificadas como as secundárias, também de origem sólida. A energia formadora das rochas metamórficas é térmica e mecânica da parte interna da Terra, e o local de formação é especificamente o interior do planeta. Desta forma, as gêneses de rochas ígneas, sedimentares e metamórficas são comparadas com os processos de fabricação de vidro (mineral fundido), cimento (grãos de areia colados) e cerâmica (argila calcinada no forno). Na realidade, existem rochas cuja origem não é esclarecida ou difícil a ser definida. Por exemplo, as rochas consideradas de proveniência direta do manto são enquadradas convencionalmente na categoria de rochas ígneas. Porém, não há certeza de serem realmente de origem magmática. Tufos são originados do magma e depositados na superfície da Terra, neste sentido, podem ser enquadrados tanto na categoria de Tabela 2.1. Diferenciação entre corpo geológico, rocha e mineral. Unidade Tamanho exemplar Modo geral de ocorrência Estudo Metodologia do estudo Corpo 1 m - 10 km composto de uma ou mais rochas geologia trabalhos de campo Rocha 2 cm - 20 cm composta de mais de um mineral petrologia estudo no laboratório Mineral 1 µm - 10 mm cristal, quimicamente homogêneo mineralogia estudo no laboratório Tabela 2.2. Classificação genética das rochas em três categorias: ígnea, sedimentar e metamórfica. Categoria Energia Local de formação Temperatura Natureza Exemplos Ígnea terrestre superfície e interior 600 a 1200°C primária granito, basalto Sedimentar solar e química superfície ambiental secundária arenito, argilito, calcário Metamórfica terrestre interior 300 a 700°C secundária gnaisse, xisto, mármore Conhecimentos fundamentais - 9 - rochas ígneas quanto as sedimentares. Apesar destes problemas, a classificação em três categorias se tornou popular desde o final do século XIX. 2.3. Estrutura do Planeta Terra e geração do magma O termo geológico “magma” corresponde ao material subterrâneo de composição silicática em fusão devido à alta temperatura. Mesmo sendo um líquido subterrâneo, a água de fontes térmicas não é o magma, porque não é silicato. Mesmo sendo líquido silicático, o vidro em fusão na caldeira de fábricas não é o magma, porque a energia térmica não é subterrânea. Na literatura geológica, este termo é utilizado comumente para líquidos silicáticos, eventualmente para os carbonáticos, com inclusão de voláteis (gases) e cristais (sólidos). O termo melt corresponde somente à parte líquida do magma. Quando o magma se resfria e se consolida, são formadas as rochas ígneas. Na década de 1960, houve descoberta de lavas compostas de rochas carbonáticas no Vulcão Oldoinyo Lengai, Tanzânia. Além disso, foram descobertos corpos intrusivos de rochas carbonáticas em vários locais do mundo, inclusive no Brasil. Apesar de não ser de composição silicática, os comportamentos destes líquidos são os mesmos dos magmas silicáticos. Desta Rocha metamórficaRocha ígnea Rocha sedimentar 0 5 10 p ro fu ndid ad e (k m ) vulcanismo lava erosão transporte câmara magmática plutonismo conduto sedimentação metamorfismo Fig. 2.2. Classificação genética das rochas em três categorias: rocha ígnea (granito, Bico do Papagaio - Rio de Janeiro); rocha sedimentar (arenito, Rincón de Salces - Neuquen, Argentina); rocha metamórfica (cianita sillimanita xisto, Armação de Búzios - RJ). Conhecimentos fundamentais - 10 - forma, essas rochas carbonáticas foram incluídas na categoria de rochas ígneas, denominadas de carbonatito junto com reconhecimento de magma carbonatítico. Os carbonatitos estão associados freqüentemente a minerais de importância econômica, tais como apatita (minério de fósforo), pirocloro (minério de nióbio), monazita (minério de urânio, tório e elementos terras raras), etc. O Planeta Terra possui um raio de aproximadamente 6330 km, sendo constituído principalmente pelo núcleo com 3470 km de raio e o manto com 2850 km de espessura. Na região continental, a espessura da crosta é muito variável, sendo de 30 a 60 km de espessura e na região oceânica, a espessura é relativamente homogênea, sendo em torno de 6 km (Tabela 2.3). A estrutura foi determinada através de estudos sísmicos, ou seja, os de transmissão de ondas sísmicas dentro da Terra (Fig. 2.3; 2.4). A divisão entre o núcleo, o manto e a crosta é função da diferença na composição química. Mais de 90% de componentes do núcleo são materiais metálicos, interpretados como a liga de Fe e Ni. A parte externa, com 2660 km de espessura está em estado líquido, denominado núcleo externo. O fato de estar em estado líquido foi determinado por não transmitir a onde sísmica S. A parte interna, com 1210 km de raio, está em estado sólido e é chamada de núcleo interno. As pesquisas recentes de físico-química indicam que o núcleo interno é composto provavelmente de ferro puro. O manto ocupa cerca de 83 % do volume da Terra e é constituído principalmente por silicatos sólidos com muito alto Tabela 2.3. Materiais constituintes da crosta, manto e núcleo. O manto superior e o inferior são divididos pela composição mineralógica, e não química. Divisão Composição Materiais representativos Estado Crosta continental félsica a intermediária granito, granodiorito, gnaisse, rochas sedimentares sólido oceânica máfica rochas basálticas sólido Manto superior ultramáfica dunito e lherzolito com olivina a sólido inferior ultramáfica magnesio-perovskita e magnesioustita sólido Núcleo externo metálica Fe, Ni e outros elementos líquido interno metálica Fe puro sólido núcleo interno (sólido) núcleo externo (líquido) manto inferior (sólido) manto superior (sólido) Crosta (sólida) C B A D D" cro sta 5 a 40 km lito sfe ra 10 0 a 12 0 k m descontinuidade de Gutenberg descontinuidade de Mohorovicic M an to N ú cl eo 285 0 km ma nto inf eri or 218 0 k m 347 0 km 5110 km F ma nto su per ior 670 km E nú cle o e xte rno 226 0 k m núcleo intern o 1210 km Fig. 2.3. Estrutura interna do Planeta Terra com base nos estudos sísmicos. Planos de descontinuidade de Mohorovicic e de Gutenberg correspondem, respectivamente, ao limite entre a crosta e o manto, e o manto e o núcleo. Conhecimentos fundamentais - 11 - teor de Mg e Fe e muito baixo Na, K, Al e Si. Tais materiais são denominados rochas ultramáficas. As rochas ultramáficas são os silicatos de abundância predominante no Sistema Solar, inclusive na Terra, entretanto, muito raras na superfície da Terra. O manto superior, até 670 km de profundidade , é composto de rochas ultramáficas menos densas. O manto inferior, de 670 km até 2850 km, é constituído pelas rochas da mesma composição, porém mais densas devido à compactação e transformação de fase mineralógica por causa da alta pressão. A crosta também é composta de silicatos sólidos. A crosta continental é constituída por rochas com muito baixo teor de Mg e Fe e com alto teor de Na, K, Al e Si, denominadas rochas félsicas. O granito é uma rocha representativa de composição félsica. Por outro lado, a crosta oceânica é composta de rochas com teor relativamente elevado de Mg e Fe, e baixo teor de Na, K, Al e Si, mas não tanto quanto as rochas do manto, denominadas rochas máficas. O basalto é uma rocha representativa da composição máfica. Tradicionalmente, as composições félsicas e máficas são chamadas respectivamente de Sial (sílica e alumínio) e Sima (sílica e magnésio). Até a década de 1950, acreditava-se que na região continental a crosta oceânica de composição máfica (básica, basáltica, Sima) era sobreposta pela crosta continental félsica (ácida, granítica, Sial). O plano da descontinuidade sísmica de Conrad era interpretado como o limite entre as duas partes (e.g. Wilson, 1954). Entretanto, as pesquisas sísmicas detalhadas após a década de 1960 vêm revelando o fato de que não há a crosta oceânica basáltica abaixo da crosta continental granítica (Fig. 2.5). Atualmente, acredita-se que a parte superior da crosta continental é composta de rochas de composição félsica (graníticas), e a parte inferior, de rochas de composição intermediária (andesítica ou diorítica), entretanto, há uma grande heterogeneidade na distribuição horizontal. A variação vertical de composição da crosta continental é gradativa, não havendo plano de descontinuidade notável (e.g. Oliver 1982; Kaneoka, 1989). O plano de Conrad, que se detecta em algumas regiões continentais, pode corresponder à camada de fusão parcial, ou seja, da anatexia, (estado de fusão parcial) na crosta continental média, com cerca de 15 km de profundidade. Ao entrar no interior da Terra, eleva-se a temperatura. Desta forma, antes do século XX, prevaleceu a seguinte idéia: abaixo de determinada profundidade as rochas estariam em estado de fusão, isto é, o magma estaria presente em qualquer região do mundo. Entretanto, junto com a temperatura eleva-se, também, a pressão. O aumento da pressão dificulta a fusão do manto, sendo de efeito contrário ao da temperatura. Com a exceção da parte superficial, a velocidade de ondas sísmicas dentro do manto aumenta conforme a profundidade (Fig. 2.4). Jeffreys (1936) Gutenberg (1951) ond a P onda S Profundidade (km) ve lo ci da de (k m /s ) 14 12 10 8 6 4 1000 2000 3000 4000 5000 6000 LVZ LVZ Núcleo Dziewonski (1981) Crosta onda S externo internoinferiorsuperior Manto 2 F E C B A D" D Fig. 2.4. Variação da velocidade das ondas sísmicas P e S em função da profundidade, segundo Jeffreys (1936), Gutenberg (1951) e Dziewonski (1981). Conhecimentos fundamentais - 12 - O fato significa que, de acordo com a profundidade, o manto se torna mais rígido, e a sua fusão se torna mais difícil. No estado térmico atual da Terra, o efeito da pressão é superior ao da temperatura, sendo contrário da opinião que prevaleceu no século XIX. Quanto maior for a profundidade tanto mais difícil será a fusão. Nos dicionários, livros, jornais e revistas de caráter popular não científico, encontra-se ainda a opinião de que o manto geral está em estado pastoso, semi- derretido, ou o manto inferior está em estado líquido. Entretanto, tal argumento de fato já era derrubado pelas observações sismológicas estabelecidas na década de 1930. Conforme a Fig. 2.4, a onda sísmica S propaga-se no manto. Este é um comportamento físico típico de materiais em estado sólido. Desta forma, pode-se afirmar que não há uma camada geral em estado líquido no manto. A geração do magma é um fenômeno raro e regional, que ocorre na parte próxima à superfície do manto. O núcleo externo está certamente em estado líquido, entretanto, o fato não é devido à elevação da temperatura, mas, à sua composição químicametálica. Os materiais metálicos que constituem o núcleo possuem a temperatura de fusão mais baixa do que a dos silicatos que compõem o manto. A parte próxima à superfície da Terra, até cerca de 100 km de profundidade, é intensamente resfriada pela irradiação, ou seja, a emissão do calor interno do planeta Terra ao espaço. Nesta camada fria, denominada litosfera ou placa, não ocorre geração do magma devido à baixa temperatura apesar de estar em pequena profundidade. Portanto, a fusão parcial do manto pode ocorrer somente em uma faixa estreita de profundidade, logo abaixo da litosfera, denominada astenosfera (Fig. 2.6). A astenosfera é determinada pelos estudos sísmicos na forma da zona de baixa velocidade (LVZ), que está presente de 100 a 400 km de profundidade, onde as velocidades de ondas sísmicas P e S são inferiores às na camada superior, a litosfera. O magma gerado a partir da fusão parcial do manto superior é denominado magma primário. A. Modelo clássico B. Modelo atualizado cobertura sedimentar cobertura sedimentar félsica (Sial) máfica (Sima) ultramáfica félsica intermediária ultramáfica ~~ ~~ ~~ ~ ~ ~~ ~ ~~~ ~ ~~~~ ~~ ~~ ~ ~~ ~ ~~~~ ~~ ~~ ~ ~ ~~ ~~ ~~ ~ ~~ ~ ~ ~~ ~~ ~ ~~ ~ ~~ ~ ~~ ~~~~ ~ ~~~ ~~~ ~ ~ ~ ~~ ~~~ pr of un di da de (k m )0 10 20 30 40 pr of un di da de (k m )0 10 20 30 40 manto descontinuidade de Conrad crosta continental crosta oceânica zona migmatizada manto crosta continental crosta oceânica descontinuidade de Mohorovicic descontinuidade de Mohorovicic Fig. 2.5. Estrutura da crosta segundo: A) modelo clássico, e.g. Wilson (1954), aceito até a década de 1950; B) modelo atualizado, e.g. Oliver (1982), divulgado a partir da década de 1960. Conhecimentos fundamentais - 13 - Interpreta-se que a maioria do magma primário é de composição basáltica. O basalto que constitui a crosta oceânica é denom inado MORB (Mid Ocean Ridge Basalt) e possui composição próxima à do magma primário. No século XIX, com base na hipótese do manto do estado líquido, acreditava-se que o magmatismo poderia ocorrer em qualquer região do mundo onde as fraturas da crosta continental chegassem até o manto. Entretanto, com a compreensão do estado sólido do manto, pode-se dizer que em condições normais, o manto não se funde , isto é, não há lençol de magma dentro do manto. Nota-se que as curvas da fusão de rochas basálticas e do gradiente geotérmico da região oceânica não se cruzam (Fig. A: crosta B: litosfera C: astenosfera D: manto inferior E: núcleo externo F: núcleo interno Fig. 2.6. Estrutura detalhada do manto superior: (A) velocidades de ondas sísmicas, segundo Anderson & Hart (1983); (B) densidade em pressão zero, segundo Mason & Moor (1982); (C) propriedades mecânicas de acordo com a tectônica de placas. As linhas inteiras e tracejadas da (A) apresentam respectivamente os exemplos da região oceânica e continental. A área sombreada da (C) se refere à faixa de profundidade onde pode ocorrer fusão parcial quando houver condições locais favoráveis. 50 100 1500 1000 500 2000 10 20 30 40 pressão (kb) profundidade (km) te m pe ra tu ra (° C ) tem pera tura da reg ião cont inental fusão de basa lto seco fusão de granito saturado em H O2 tem per atu ra d a re gião o ceânica Fig. 2.7. Variação da temperatura de fusão de rochas basálticas (basalto e eclogito) em estado seco (sem H 2 O) e de granito em estado úmido (com H 2 O em excesso) em comparação com a temperatura subterrânea (gradiente geotérmico) da região continental e da oceânica, em função da profundidade (pressão), segundo Kushiro (1982). Nota-se que a rocha do manto não se funde sem H 2 O e, a rocha da crosta continental se funde com excesso de H 2 O. 3.43.3 3.5 3.6 3.7 3.8 3.9 densidade em pressão zero (g/cm )3 pr of un di da de (k m ) 0 100 200 300 400 500 600 700 Litosfera (placa) Mesosfera Crosta piroxênio granada olivinaa olivinab 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 velocidade (km/s) 0 100 200 300 400 500 600 0 100 200 300 400 500 600 700 B. Densidade C. Propriedade mecânicaA. Ondas sísmicas 4.0 Manto inferior olivinab onda S onda P LVZ contato brusco descontinuidade de 20° olivina (espinélio)g descontinuidade de 670 km oceânica continental M a n to s u p er io r olivina perovskita + magnesioustitag passagem gradativa Astenosfera Z o n a d e t ra n si çã o Conhecimentos fundamentais - 14 - 2.7). Porém, estas se aproximam na faixa de profundidade de 60 a 150 km (área sombreada). O fato indica que a fusão parcial do manto pode ocorrer nesta faixa de profundidade em condições especiais. Além da fusão parcial do manto superior, a crosta continental média, de profundidade em torno de 15 km também pode se fundir com presença de H 2 O em quantidade suficiente, (Fig. 2.7). O magma gerado através deste processo tem composição granítica a granodiorítica. Considera-se que, a maioria das rochas graníticas da região continental de idade mais jovem do que 2700 Ma são derivadas principalmente do magma granítico gerado a partir deste tipo de refusão da crosta continental antiga. A sigla internacional “Ma”, que representa idades geocronológicas significa milhões de anos atrás a partir do presente. Isto é, a expressão “2700 Ma” corresponde a 2 bilhões e 700 milhões de anos atrás contando a partir do presente. Os magmas máficos e ultramáficos podem ser gerados também pelo calor dos impactos de pequenos corpos celestes, tais como asteróides e cometas. Até o final do século XX, fenômenos extraterrestres eram considerados como pouco importantes para a gênese de magmatismos terrestres. Entretanto, nas últimas décadas, os impactos estão chamando atenção dos geólogos progressistas, sobretudo no sentido de formação das jazidas metálicas do Precambriano. Na segunda metade do Século XX, chegou a ser considerado que a fusão parcial do manto, que é o processo principal da geração dos magmas, se processa apenas abaixo de algumas regiões em condições excepcionalmente favoráveis, onde ocorre: 1) aquecimento local do manto por ascensão ativa de pluma quente em hot-spots; 2) descompressão por ascensão passiva do manto nas cadeias meso-oceânicas; 3) abaixamento de temperatura de fusão por atividades físico-químicas de materiais voláteis, sobretudo de H 2 O, nas zonas de subducção (Tabela 2.4; Fig. 2.8). Estudos recentes indicam que o efeito de H 2 O é muito mais importante do que as considerações anteriores, isto é, a geração do magma no manto é mais difícil a ocorrer do que as interpretações da meidana do Século XX. O aquecimento local e a descompressão podem estabelecer condições regionais de geração magmática porém, a princípio, não são fatores satisfatórios para o estado térmico da Terra do presente. O manto terrestre parece não ser tão quente tanto quanto à idéia anterior. Desta forma, a partir do final do Século XX, surgiu a idéia de que a presença de H 2 O é o fator direto e fundamental para geração dos magmas primários do manto, sobretudo nas zonas de subducção e hot-spots. Falando em extremidade, o manto seco não gera o magma. A interpretação sobre o processo de ascensão magmática também transformou na segunda metade do Século XX. Na primeira metade do Século XX, prevaleceu a idéia de que o magma estaria presente abaixo de qualquer região. Bastaria a existência de zonas de fraqueza na crosta sólida, tais como falha, diaclasamento e zona de cizalhamento, o magma subiria através dessas, resultando em erupções vulcânicas. Certos autores se basearam nesta idéia e interpretaram as zonas defraqueza como fatores fundamentais para vulcanismos e plutonismos (Almeida 1986). Tabela 2.4. Principais condições que causam a fusão parcial do manto conforme a idéia da segunda metade do Século XX. Causa Fator Rochas ígneas representativas Local (ambiente tectônico) Abaixamento de temperatura de fusão desidratação dos minerais e liberação de H2O, fusão- desidratação andesito, dacito e granito da série Ca- alcalina, trondhjemito, tonalito, adakito, basalto toleítico, álcali olivina basalto zona de subducção: arco de ilhas, cordilheiras, hot-spot Descompressão ascensão passiva do manto superior basalto toleítico (MORB) cadeia meso-oceânica Aquecimento local ascensão ativa de pluma quente do manto álcali olivina basalto e basalto toleítico hot-spot, rifte continental Conhecimentos fundamentais - 15 - Até mesmo nas regiões cuja crosta se apresenta altamente fraturada, se o magma não está presente, obviamente não ocorrem magmatismos. Como por exemplo, as falhas transformantes e sua continuação, zonas de fraturas, presentes no fundo dos oceanos são as fraturas existentes na superfície que penetram inteiramente a crosta oceânica (6 km de espessura) e o manto litosférico (94 km de espessura) e, atingem o manto astenosférico de profundidade maior do que 100 Fig. 2.8. Relação entre tectonismo e magmatismo segundo: (A) o conceito que prevaleceu no século XIX; (B) nos século XX e XXI, junto com (C) o perfil esquemático de falhas transformates e zonas de fratura do fundo do oceano da interpretação atual. No perfil de zonas de fratura, a profundidade do mar (4000 m) e a saliência linear ao longo de zonas de fratura (1000 a 1500 m) são exageradas em comparação com a espessura da crosta oceânica (6000 m). A espessura da zona serpentinizada do manto superior não está bem determinada. 67 0 km crosta sólida 30 k m sobrecarga da crosta falha cadeia meso-oceânicafossa oceânica seamount hot-spot pluma quente zona de subducção fusão parcial litosfera pluma fria fusão parcial megálito manto superior manto inferior B. Conceito nos séculos XX e XXI C. Perfil esquemático da zona de fratura A. Conceito no século XIX vulcanismo vulcanismo vulc ões alinh ados zona de fraquezazona de fraqueza co rd i lh ei rabacia sedimentar intracontinental tectônica de plumas (movimento vertical) tectônica de placas (movimento horizontal) saliência submarina superfície da água manto zona serpentinizada zona de fratura fundo do oceano sem vulcanismo sem fusão manto líquido = magma crosta oceânica Conhecimentos fundamentais - 16 - km. Mesmo assim, ao longo dessas não ocorrem magmatismo (Fig. 2.8B). Estas são contatos de placas de baixa temperatura, representados pela extrusão sólida de serpentinito. Ao contrário, se o magma está presente em quantidade suficiente, o magmatismo acontece até mesmo nas áreas sem zonas de fraqueza crustal. Os estudos na segunda metade do Século XX revelaram o mecanismo de ascensão magmática com base no modelo fraturamento hidráulico (Fig. 2.9; Hubbert and Willis, 1959; Nakamura, 1969; Phillips, 1974; Hills, 1975; Haimson, 1975; Motoki and Avila, 1988, etc.). Isto é, a pressão do magma cria fraturas crustais em direção perpendicular ao eixo s3 para se intrudir, ao invés de aproveitar as fraturas preexistentes. As fraturas preexistentes que não são paralelas à referida direção recebem esforço litostático subterrâneo no sentido de não abrir, o que dificulta a intrusão magmática ao longo dessas. Portanto, para ocorrerem magmatismos, as zonas de fraqueza crustal não são fatores necessários. As pesquisas acima citadas chegam à conclusão contra a opinião dos geólogos tradicionais, porém, muito simples, natural e lógica: os magmatismos ocorrem nas regiões onde o magma está presente. Por outro lado, observa-se que há uma confusão amplamente difundida dos conceitos entre placa e crosta, isto é, a placa seria composta da crosta rígida e a astenosfera seria constituída pelo manto pastoso. Entretanto, de fato, a crosta (félsica a intermediária) e o manto (ultramáfico) são distinguidos por propriedades químicas e a litosfera (mais rígida) e a astenosfera (menos rígida) são distinguidas por propriedades mecânicas. O limite entre a A, Interpretação tradicional B. Interpretação atualizada zona de cisalhamento diapirismo preenchimento das fraturas crosta superior crosta inferior s1 s2 s3 esforço litostático s s s1 2 3 > > fraturamento hidráulico 30 k m balooning direção dos diques diquevulcões alinhados câmara magmática vulc ões alin had os sill dique falha Fig. 2.9. Mecanismo de intrusão magmática, segundo: (A) interpretação tradicional com base no preenchimento das fraturas preexistentes; (B) interpretação atualizada com base no diapirismo e balooning na crosta inferior dúctil e fraturamento hidráulico na crosta superior rúptil. Conhecimentos fundamentais - 17 - crosta e o manto foi definido inicialmente pela elevação brusca da velocidade da onda sísmica que ocorre na descontinuidade de Mohorovicic. A descoberta sismológica de Mohorovicic em 1904 indica o fato de que o manto é mais rígido do que a crosta. Na região oceânica, a placa tem espessura geral de 100 km e a crosta, 6 km. Isto é, 94% da placa são constituídos pelo manto e apenas 6% pela crosta. Na verdade, a tectônica de placas é movimento horizontal do manto. Até mesmo hoje em dia, no início do século XXI, o conceito fundamental da tectônica de placas não está sendo bem compreendido. Acredita-se que o referido equívoco é originado da consideração geral do século retrasado, como indicada na Fig. 2.8A. O entendimento da teoria da tectônica de placas é, sem dúvida, um pré-requisito fundamental para os geólogos contemporâneos e, portanto, os assuntos abordados neste capítulo devem ser bem aprendidos. 2.4. Energia interna do Planeta Terra A consideração sobre a origem da energia interna do Planeta Terra, que causa magmatismos, está intimamente relacionada à interpretação do processo de formação do Planeta Terra. No século XIX e na primeira metade do século XX, era acreditada mundialmente a teoria de origem da Terra em alta temperatura. Esta teoria era chamada, também, como teoria de fissão e é baseada na idéia de que os planetas foram formados depois da formação do Sol. Isto é, antigamente, o Sol não tinha o sistema planetário. Em um tempo no passado, uma estrela aproximou-se ao Sol e a força gravitacional desta estrela extraiu uma parte do gás presente na superfície do Sol. O gás extraído foi resfriado no espaço, e se contraiu pela própria gravidade universal para formar os planetas. A Terra também foi formada através deste processo, isto é, do resfriamento do gás solar incandescente e portanto era uma bola de fogo na época da sua formação (Fig. 2.10A). Desde a época da sua formação a Terra vem se resfriando até o presente. Conforme esta teoria, no final do século XIX, W. Thomson, um físico inglês conhecido popularmente como Lord Kelvin, calculou a idade do Planeta Terra a partir da comparação entre o estado térmico da Terra da época da formação e do presente. Através da teoria física com base no resfriamento por irradiação a partir da superfície do planeta, ele concluiu que a formação Terra ocorreu no mínimo 20 Ma e no máximo 400 Ma. Esta idade calculada era amplamente aceita pelos fiscos ingleses daquele tempo. Entretanto, C.R. Darwin, representando outra estrela aproximção ocasional ext raç ão de gás A. Fissão B. Acumulação C. Planetésimal massa central borda Sol Fig. 2.10. Três teorias sobre a origem do sistema planetário em torno do Sol: (A) teoria de fissão, que sugere a origem da Terra em alta temperatura, aceita antes da Segunda Guerra Mundial; (B) teoriade acumulação, em baixa temperatura, até o Projeto Apollo; (C) teoria de planetésimal, em alta temperatura, após o Projeto Apollo. Conhecimentos fundamentais - 18 - a opinião dos geólogos e paleontólogos, contestou que é inacreditável ocorrer a evolução das espécies tão complexas durante um tempo tão curto. Entretanto, a opinião de Darwin tinha um problema fatal. Se a Terra tivesse uma idade muito maior, não poderia ocorrer os magmatismos atuais devido ao resfriamento geral do planeta. Este paradoxo foi aparentemente solucionado pelo descoberto de fenômeno de desintegração radioativo descoberto por H. Becquerel em 1896. No início do século XX, elementos radioativos foram pesquisados pelo casal Curie. Estes, tais como 238U, 235U, 232Th, 40K e 87Rb, se desintegram espontaneamente em outros com o tempo, liberando a energia nuclear. Esta energia se transforma em calor e aquece o planeta Terra. Apesar de que o teor destes elementos é muito baixo, a soma da energia liberada durante o tempo geológico é muito grande. Se a Terra fosse colocada em uma garrafa térmica perfeita, o calor radiogênico poderia fundir o planeta em algumas vezes. Por outro lado, a desintegração dos elementos radioativos é função do tempo, ou seja, um relógio geológico. Por meio da comparação de teores do elemento original e radiogênico, denominando-se respectivamente pai e filha, pode-se medir a idade da amostra. As expressões “pai e filha” são traduções dos termos originais, respectivamente “parent” e “daughter”. A medida da idade é chamada de datação radiométrica, simplesmente datação, e o estudo deste ramo é denominado geocronologia. As técnicas da geocronologia foram estabelecidas na Segunda metade do século XX. Atualmente, os métodos K-Ar e Rb-Sr estão sendo aplicados para datação de várias rochas de várias faixas de idade, principalmente as que têm biotita ou hornblenda, Sm-Nd para rochas muito antigas, especialmente as rochas com plagioclásio, U-Pb para as amostras de zircão e 14C para os materiais orgânicos de idade muito recente (Fig. 2.11). Por outro lado, a teoria da Terra em alta temperatura, acima citada, tinha problemas fatais. De acordo com os cálculos físicos, a massa total do gás solar extraído ao espaço foi muito pequena e portanto a força gravitacional é insuficiente para ocorrer a atração gravitacional e conseqüente acumulação. Ao contrário, devido à alta temperatura o gás se dispersa ao espaço, desta forma, é impossível formar os planetas. Além disso, a possibilidade de aproximação de uma outra estrela em uma distância tão curta ao Sol é extremamente baixa. Por estas razões, esta teoria perdeu o apoio dos cientistas após a década de 1940. Ao invés da teoria acima citada, chegou a ser acreditada até a década de 1970, a teoria da origem da Terra em baixa temperatura. Esta teoria é chamada também como a teoria de acumulação e é caracterizada pela formação simultânea do Sol e dos planetas (Fig. 2.10B). O espaço não é vácuo perfeito, mas existe pequena quantidade de micro-partículas, denominadas poeira cósmica ou materiais interestrelares. A poeira cósmica é de temperatura muito baixa, sendo próxima à temperatura zero Kelvin, e portanto se acumulou suavemente pela força gravitacional, formando o Sol e os planetas. Esta teoria foi associada à idéia de aquecimento da Terra pela desintegração dos elementos radioativos. A Terra nasceu como um planeta frio de estado sólido, e foi aquecido gradativamente a partir do interior do planeta pela desintegração dos elementos radioativos. Através das erupções vulcânicas causadas pelo aquecimento nuclear, os materiais voláteis presos dentro do planeta foram extraídos à superfície, formando tempo qu an tid ad e do is ót op o pa i ½ meia vida isótopo pai isótopo filha energia Fig. 2.11. Redução exponencial de teor do isótopo pai por tempo, através do processo de desintegração nuclear espontânea. O tempo que reduz o teor do pai em metade é denominado meia vida. Conhecimentos fundamentais - 19 - gradativamente o oceano e a atmosfera . O aquecimento pelo calor radiogênico era interpretado como a principal fonte do calor subterrâneo, que causa magmatismos e tectonismos terrestres, inclusive para a convecção térmica do manto, que resulta a tectônica de placas. O apoio dos cientistas à opinião acima citada era muito forte, até que sendo falado como se fosse um fato indubitável. O objetivo científico do Projeto Apollo, que enviou homens à Lua no período de 1969 até 1972, foi a comprovação da teoria de origem da Terra em baixa temperatura. Eles consideraram que a Lua, igualmente à Terra, foi formada como um corpo celeste frio, e desde a sua formação até o presente, a Terra e a Lua foram mantidas em baixa temperatura. Por isso, não houve nenhuma experiência de fusão, mesmo sendo parcial. Esta idéia é chamada popularmente como “cold Moon theory”. Os materiais constituintes da Lua seriam materiais originais do Sistema Solar, que foram conservados até hoje sem modificação. Se conseguisse coletar tais materiais na Lua, a teoria de origem da Terra e da Lua em baixa temperatura seria comprovada. Entretanto, a teoria de origem da Terra em baixa temperatura se desmoronou a partir das pesquisas das rochas lunares coletadas pelo próprio Projeto Apollo. As rochas da Lua são, de fato, rochas ígneas, sobretudo, a primeira rocha amostrada foi de lava basáltica. Estas rochas, que são completamente diferentes da expectativa anterior do Projeto Apollo, comprovam que na época da formação da Lua, houve magma na Lua. A rocha encontrada no planalto (highland) da B. BrechaA. Anortosito C. Basalto 5 cm 5 cm5 cm 10 cm Fig. 2.12. Rochas representativas da crosta lunar, segundo NASA: (A) anortosito do planalto; (B) brecha do planalto; (C) basalto da bacia. lava basáltica 60 k m manto lunar (rocha ultramáfica) crosta lunar (rocha anortosítica) bacia planalto bacia planalto Fig. 2.13. Perfil esquemático da crosta lunar, determinado por pesquisas sismológicas. No planalto, parte clara da Lua, expõe-se o anortosito da crosta lunar. Na bacia, parte escura, o basalto preench a depressão da cratera de meteorito cobrindo o anortosito. Conhecimentos fundamentais - 20 - Lua, a parte clara vista a partir da Terra, tem idade superior a 4000 Ma e é constituída pela rocha branca composta predominantemente de plagioclásio, denominada anortosito (Fig. 2.12A). O planalto era chamado antigamente de “continente”, porém, sob ponto de vista geológico, esta expressão não está mais sendo utilizada. A rocha coletada na bacia (basin), a parte clara vista a partir da Terra, é constituída pela rocha de cor preta, chamada de basalto (Fig. 2.12C), com idade mais jovem, sendo em torno de 3900 a 4000 Ma. As bacias são, na realidade, grandes crateras de meteorito preenchidas por lavas de basalto. Em comparação com o anortosito do planalto, a espessura total das lavas basálticas é pequena (Fig. 2.13). O magma basáltico das bacias lunares foi gerado por meio da fusão parcial do manto lunar pelo calor do impacto de meteoritos. A bacia era chamada antigamente de “oceano”, porém, sob ponto de vista geológico, este termo não está mais sendo utilizado. Algumas amostras de anortosito lunar são constituídas pelo plagioclásio altamente cálcico, que não se encontram na Terra. A composição altamente cálcica deste plagioclásio indica que o magma da Lua era de temperatura mais alta do que a dos magmas atuais da Terra, sendo acima de 1700 °C. De fato, a temperatura máxima dos magmas terrestres atuais é cerca de 1200 °C. O magma lunar tão quente sugere que, naquela época, ocorreu a fusão total da parte superior do manto lunar, gerando o magma da mesma composição do manto, isto é, ultramáfica. O anortosito lunar é formado pela cristalização e flutuação de plagioclásio cálcico a partir do oceano do magma ultramáfico (Fig.2.14). Com base neste argumento, pode-se calcular o volume total do magma lunar a partir da quantidade total do anortosito. As pesquisas sísmicas da Lua revelam que o anortosito ocupa parte superficial da Lua em 60 km de espessura, formando a crosta lunar. Para justificar o volume do anortosito acima citado, é necessário um volume surpreendentemente grande do magma ultramáfico. Isto é, naquela época, o magma cobria inteiramente a superfície da Lua em 400 km de espessura. A superfície em fusão total é chamada popularmente de oceano do magma . As pesquisas acima citadas revelaram que a origem da Lua está longe de ser de baixa temperatura, mas, de muito alta temperatura. Considera-se naturalmente que a Terra também tinha o oceano do magma na época da sua formação. A Terra possui seu tamanho maior do que a Lua e, portanto a profundidade do oceano do magma deveria ser maior. A eficiência da acumulação de energia interna de um corpo celeste depende do seu volume e da sua área superficial. O volume representa retenção da energia e a área superficial, a perda do calor através da irradiação. No caso de objetos esféricos, o volume é proporcional ao terceiro grau do raio e a área superficial ao segundo grau. Desta forma, durante um determinado período, um corpo celeste que possui o dobro do raio de um outro, pode reter 8 vezes mais de calor, enquanto perderia 4 vezes. Portanto, o objeto de tamanho maior perde apenas a metade do calor por volume unitário. Este fenômeno é denominado a lei de volume-superfície (Fig. 2.15). Desta forma, os planetas grandes são mais suscetíveis à Fig. 2.14. Processos de cristalização fracionada de plagioclásio e formação de rochas anortosíticas: (A) anortosito da Terra atual, por meio de cristalização do magma basáltico e decantação do plagioclásio; (B) anortosito da Lua antiga, através de cristalização do magma ultramáfico e flutuação do plagioclásio. Pl Magma basáltico menos denso Magma ultramáfico mais denso Pl flu tu aç ão decantação - anortosito Pl - plagioclásio A. Terra B. Lua Conhecimentos fundamentais - 21 - ocorrência de vulcanismos e tectonismos. Conforme a lei de volume-superfíce, a profundidade mínima do oceano do magma da Terra é estimada como pelo menos 1500 km, o que corresponde aproximadamente a um quarto do raio do planeta. Existe a opinião estrema de que a Terra era totalmente fundida. A Terra é o maior planeta de estado sólido do Sistema Solar, e portanto, sua dinâmica interna é muito ativa. O Júpiter, o Saturno, o Urano e o Netuno são planetas maiores do que a Terra, porém, são compostos principalmente de gás e líquido. Considera- se que na época da sua formação, a Terra também tinha grandes crateras de impacto de meteorito. Entretanto, por causa da intensa dinâmica interna, as estruturas da superfície formadas naquela época não estão mais preservadas, sendo modificadas pelos movimentos posteriores durante o tempo geológico. Por isso, a Lua preserva parcialmente as rochas da época do seu nascimento, com idade cerca de 4555 Ma, porém, não se encontram as rochas tão antigas na Terra. A rocha mais antiga da Terra é gnaisse da Acasta, Território Noroeste da Canadá (Acasta Gneiss), que tem idade de U-Pb em zircão de SHRIMP de 3962 Ma (Fig. 2.16; Bowring et al, 1989). Esta datação quebrou o recorde do gnaisse de Amîtsoq, oeste da Groenlândia, 3710±70, Pb-Pb pelo TIMS, 3730±40, Sm-Nd, 3694±52, Rb-Sr (Moorbath et al, 1973; 1975; 1986). Trabalhos recentes para ortognaisses do mesmo corpo revelaram existência de idades mais antigas ainda, entre 4000 e 4030 Ma (Bowring & Williams, 1999; Iizuka et al. 2002). Para pesquisar os acontecimentos daquela época que ocorreram na Terra, deve-se recorrer às pesquisas comparativas com aquelas dos corpos celestes de tamanho menor do que o da Terra, tal como Lua. Na geologia e na ciência planetária, a era antiga em que a Terra atual não possui registros preservados, ou seja, de 4555 a 4000 Ma, é denominada Hadeano. São conhecidos alguns grãos de zircão com idade hadeana, datados pelo método U-Pb de SHRIMP. O zircão detrítico de quartzito de Jack Hill do Craton Yilgan, oeste da Austrália, apresentou uma idade de 4276±6 Ma (Compston & Piedgon, 1986) e as datações posteriores de zircão detrítico do Mt. Narryer e Jack Hill mostraram idades mais antigas em torno de 4400 Ma (Wilde et al, 2001), sendo mineral o mais antigo do mundo. A descoberta do oceano de magma na Lua inverteu, de novo, a consideração sobre a origem do Planeta Terra. Hoje em dia, não se pode falar ciência da Terra sem conhecimento da ciência da Lua, dos planetas e dos satélites. A fonte do calor que fundiu a superfície dos corpos celestes, inclusive da Terra e da Lua, foram os impactos de meteoritos gigantes, ou seja, a colisão de pequenos corpos celestes. Os meteoritos gigantes são, na verdade, pequenos asteróides Fig. 2.15. A lei de volume-superfície. O café em uma xícara pequena se resfria rapidamente, enquanto que, o café em um bule grande se resfria lentamente. Do mesmo princípio, um corpo celeste pequeno, como a Lua, se resfria rapidamente, enquanto que, um corpo celeste maior, como a Terra, se resfria mais lentamente. As fotografias são originadas de NASA. A. Xícara C. Lua B. Bule D. Terra frio quente pequeno grande Conhecimentos fundamentais - 22 - com tamanho representativo de 10 km, porém, denominado planetésimais (Fig. 2.17). Através do impacto de um meteorito deste tamanho, forma-se uma cratera de diâmetro em torno de 200 km na superfície da Terra. Acredita-se que na faixa atual de asteróides, existe ainda incalculável número de planetésimais. De outra forma, pode-se dizer que os asteróides são os planetésimais sobreviventes de tamanho muito grande que podem ser observados ao telescópio. No estágio inicial da formação do Sistema Solar, foram formados numerosos planetésimais através da condensação da poeira cósmica. Os planetésimais formados se chocaram violentamente e cresceram através das repetidas colisões e agregações, formando corpos celestes grandes como os planetas e satélites atuais. Naquela época, um grande número de planetésimais estava presente não somente na faixa atual de asteróides, como também, na proximidade da órbita da Terra. Portanto, não foi que o impacto de meteoritos gigantes ocorreu após a formação da Terra, 1cm 10cm C BA 10cm Fig. 2. 16. Afloramento (A, B) e amostras de mão (C) do Gnaiss de Acasta, Acasta Lake, Northwest Territory, Canadá. Esta rocha é a mais antiga do mundo encontrada até o presente, com idade pelo método U-Pb de 3962 Ma em zircão. Fig. 2.17. Fotografias de asteróides, segundo NASA: (A) Ida (maior), com tamanho de 58 x 23 km, e sua satélite Dactyl (menor); (B) o detalhe de Dactyl; (C) Eros, 33x13x13 km. Acredita-se que os planetésimais foram corpos celestes deste tipo. C. Eros B. Dactyl A. Ida Conhecimentos fundamentais - 23 - mas sim, o impacto foi próprio processo de formação e crescimento dos planetas (Fig.2.18). Este modelo é denominado teoria de planetésimal, sendo basicamente da acumulação de poeira cósmica, mesmo assim, origem em alta temperatura (Fig. 2.10A). Uma simulação recente sobre o processo de formação do Sistema Solara com o auxílio de um supercomputador, realizada pela equipe do Observatório Astronômico Nacional do Japão, sugere que através das colisões os planetécimais se juntaram formando cerca de 20 planetas pequenos de tamanho maior do que a Lua e menor do que o Marte na área na a partir do Sol até a órbita do Marte. De acordo com a quebra de equilíbrio gravitacional, estes planetas se colidiram e cresceram no tamanho. O Mercúrio é formado por dois, a Vênus, de oito e a Terra, de dez planetas originais. O Marte é uma exceção, sendo sobrevivente de um planeta original. A colisão de planetésimais, ou seja, impacto de meteoritos gigantes foram muitointensa. A superfície da Lua e de Mercúrio, que está repleta de crateras, mostrando conseqüências dos impactos daquela época (Fig.2.19). Não há nenhum lugar que não sofreu o impacto. Nas colisões os planetas se fundiram totalmente, tornando em planetas de estado líquido, pela alto calor gerado durante o impacto. A última colisão que formou a Terra foi um evento espetacular. Os fragmentos gerados pelo impacto foram espalhados em torno do plano equatoriano da Terra, força gravitacional A. Sem fragmentação B. Fragmentação total C. Fragmentação parcial D. Fusão dos objetos Fig. 2.18. Vários tipos de colisão dos planetésimais: (A) reflexão sem fragmentação; (B) fragmentação total; (C) fragmentação parcial; (D) fusão dos objetos. A. Lua C. PhobosB. Mercúrio Fig. 2.19. Visão da superfície com repletas de crateras de impacto da: (A) Lua; (B) Mercúrio; (C) Phobos, um satélite de Marte, segundo NASA. Nota-se grande a presença de grande cratera no Phobos. Conhecimentos fundamentais - 24 - como no caso de anel do Saturno, porém muito maior. Os fragmentos se juntaram pela força gravitacional, formando a Lua. Isto é, o impacto dividiu a Terra em dois pedaços, o maior atualmente chamado da Terra e, o menor, a Lua. Se o impacto fosse um pouco maior, a Terra poderia não existir mais. Os sinais de um impacto tão violento como esse são observados na Terra e no Plutão. Esta opinião é denominada “giant impact theory” (Fig.2.20). Neste caso, a fusão total da Terra seria inevitável. O modelo de “giant impact” pode justificar o tamanho muito grande da Lua para ser o satélite da Terra, e o núcleo metálico muito pequeno da Lua, sendo estimado de 300 a 425 km de raio. A simulação por computador mostra a possibilidade de que um impacto de um planeta com o tamanho correspondente ao de Marte com velocidade e ângulo adequados, pode formar a Lua através deste processo. Sendo assim, a formação da Lua foi um acontecimento relativamente raro no Universo. A energia do impacto é nada mais do que a liberação da energia gravitacional, denominada energia potencial. Este termo corresponde à energia relacionada à diferença de altura, e não, à energia escondida imperceptível. Conforme o crescimento do tamanho da Terra primitiva, a superfície recém crescida funcionou como isolante térmico e o calor originado da energia potencial foi retido dentro do corpo celeste (Fig.2.21). A energia potencial foi gerada principalmente durante a formação do núcleo, com tamanho do planeta de 50 a 70% do raio atual. Na superfície do planeta, os materiais voláteis que eram incluídos nos planetésimais, tais como H 2 O e CO 2 , foram extraídos pelo impacto, o fenômeno denominado desgasificação, e cobriram o planeta em crescimento, formando atmosfera primitiva. Quando a Terra cresceu até a proximidade do tamanho atual, a atmosfera primitiva se tornou extremamente espessa, sendo estimado como composta de 100 atm. de CO 2 e 500 atm. de H 2 O. A quantidade do CO 2 estimada é baseada na pesquisa comparativa com a atmosfera do Vênus, e a de H 2 O, no equilíbrio físico- químico entre H 2 O atmosférico e H 2 O dissolvido no oceano de magma. O teor relativo de nitrogênio, o componente principal da atmosfera atual, era muito baixo, e quase não havia oxigênio. O efeito estufa de CO 2 é popularmente conhecido, porém, o de H 2 O é muito maior. Portanto, o efeito estufa causado pela atmosfera primitiva tão espessa era extremamente forte. Devido a isso, o calor gerado pelo impacto de meteoritos gigantes na superfície foi muito difícil a ser disperso ao universo. Além da energia potencial dos impactos, existe uma outra energia potencial causada pela formação ou crescimento do núcleo. Os componentes metálicos, Fe e Ni, presentes no manto fundiram-se e os líquidos desceram no manto para o núcleo, liberando a energia potencial. Se a Terra fosse formada como um objeto homogêneo de composição condrítica e acontecesse a formação do núcleo conforme o processo acima citado, o calor gerado através deste processo seria mais do que suficiente para fundir o planeta inteiro. O condrito corresponde a um tipo de meteorito que possui a composição dos materiais primitivos do Sistema A B C Terra atual D Lua atual planeta maior planeta menor Fig. 2.20. A teoria de “giant impact” que explica a formação da Lua: (A) Impacto de baixo ângulo; (B) fusão do núcleo dos dois planetas; (C) extração de uma parte do manto do planeta menor; (D) formação da Terra e da Lua. Conhecimentos fundamentais - 25 - No estágio inicial da formação do Sistema Solar, foram formados numerosos planetésimais através da condensação da poeira cósmica. Os planetésimais formados se chocaram violentamente e cresceram através das repetidas colisões e agregações, formando corpos celestes grandes como os planetas e satélites atuais. Naquela época, um grande número de planetésimais estava presente não somente na faixa atual de asteróides, como também, na proximidade da órbita da Terra. Portanto, não foi que o impacto de meteoritos gigantes ocorreu após a formação da Terra, mas sim, o impacto foi próprio processo de formação e crescimento dos planetas (Fig.2.18). Este modelo é denominado teoria de planetésimal, sendo basicamente da acumulação de poeira cósmica, mesmo assim, origem em alta temperatura (Fig. 2.10A). A colisão de planetésimais, ou seja, impacto de meteoritos gigantes foram muito intensa. A superfície da Lua e de Mercúrio, que está repleta de crateras, mostrando conseqüências dos impactos daquela época (Fig.2.19). Não há nenhum lugar que não sofreu o impacto. Existe a opinião de que, naquela época, ocorreu a colisão de um planeta de tamanho aproximado do Marte à Terra, rachando o planeta em dois pedaços: o maior pedaço corresponde à Terra atual, e o menor, à Lua. Este modelo é denominado “giant impact theory” (Fig.2.20). Neste início de formação da atmosfera formação do núcleo formação do oceano de magma 0.1r 0.8r 0.8r 0.2r 0.9r 0.9r 0.3r 1.0r 1.0r 1.0r 1.0r 0.4r 0.5r 0.6r 0.7r formação de oceanodesaparecimento do oceano de magma atmosfera oceano de água oceano de magma manto sólido núcleo líquido (Fe, Ni) mistura de silicatos com metais (silicatos) Fig. 2.21. Processo de formação e de acumulação da energia potencial do Planeta Terra primitivo. O tamanho do planeta em crescimento é expresso em comparação com o raio da Terra atual, utilizando- se a letra “r”. Conhecimentos fundamentais - 26 - caso, a fusão total da Terra seria inevitável. O modelo de “giant impact” pode justificar o tamanho muito grande da Lua para ser o satélite da Terra, e o núcleo metálico muito pequeno da Lua, sendo estimado de 300 a 425 km de raio. A simulação por computador mostra a possibilidade de que um impacto de um planeta com o tamanho correspondente ao de Marte com velocidade e ângulo adequados, pode formar a Lua através deste processo. Sendo assim, a formação da Lua foi um acontecimento relativamente raro no Universo. A energia do impacto é nada mais do que a liberação da energia gravitacional, denominada energia potencial. Este termo corresponde à energia relacionada à diferença de altura, e não, à energia escondida imperceptível. Conforme o crescimento do tamanho da Terra primitiva, a superfície recém crescida funcionou como isolante térmico e o calor originado da energia potencial foi retido dentro do corpo celeste (Fig.2.21). A energia potencial foi gerada principalmente durante a formação do núcleo, com tamanho do planeta de 50 a 70% do raio atual. Na superfície do planeta, os materiais voláteis que eram incluídos nos planetésimais, tais como H 2 O e CO 2 , foram extraídos pelo impacto, o fenômeno denominado desgasificação, e cobriram o planeta em crescimento, formando atmosfera primitiva. Quando a Terra cresceu até a proximidade do tamanho atual, aatmosfera primitiva se tornou extremamente espessa, sendo estimado como composta de 100 atm. de CO 2 e 500 atm. de H 2 O. A quantidade do CO 2 estimada é baseada na pesquisa comparativa com a atmosfera do Vênus, e a de H 2 O, no equilíbrio físico- químico entre H 2 O atmosférico e H 2 O dissolvido no oceano de magma. O teor relativo de nitrogênio, o componente principal da atmosfera atual, era muito baixo, e quase não havia oxigênio. O efeito estufa de CO 2 é popularmente conhecido, porém, o de H 2 O é muito maior. Portanto, o efeito estufa causado pela atmosfera primitiva tão espessa era extremamente forte. Devido a isso, o calor gerado pelo impacto de meteoritos gigantes na superfície foi muito difícil a ser disperso ao universo. Além da energia potencial dos impactos, existe uma outra energia potencial causada pela formação ou crescimento do núcleo. Os componentes metálicos, Fe e Ni, presentes no manto fundiram-se e os líquidos desceram no manto para o núcleo, liberando a energia potencial. Se a Terra fosse formada como um objeto homogêneo de composição condrítica e acontecesse a formação do núcleo conforme o processo acima citado, o calor gerado através deste processo seria mais do que suficiente para fundir o planeta inteiro. O condrito crosta continental fonte do calor crosta oceânica núcleo manto inferior manto superior fonte do calor resfriamento por irradiação superficial placa oceânica aquecimento radiogênico B. Energia potencial do núcleo placa continental megálito pluma fria sla b placa pluma quente hot spot tectosfera cadeia meso-oceânica sem convecção térmica ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? A. Energia radioativa da crosta convecção térmica Fig. 2.22. As teorias sobre a energia interna principal do Planeta Terra é a energia: (A) antes do Projeto Apollo, a energia gerada por desintegração espontânea dos elementos radioativos; (B) depois do Projeto Apollo, a energia acumulada no núcleo desde a formação do planeta. Conhecimentos fundamentais - 27 - corresponde a um tipo de meteorito que possui a composição dos materiais primitivos do Sistema Solar. Entretanto, a opinião atualmente mais favorável é que durante o processo de crescimento do planeta, a Terra já tinha um núcleo primitivo, desta forma, a subsidência dos materiais metálicos corresponde ao crescimento posterior do núcleo primitivo. Neste caso, a geração do calor seria menor. Em ambos os casos, a temperatura do planeta chegou a ser a máxima na época da conclusão do núcleo e o calor gerado através deste processo foi retido no núcleo. Os argumentos acima referidos, sobretudo o efeito estufa da atmosfera primitiva, não eram colocados suficientemente em consideração na teoria de origem da Terra em baixa temperatura. Portanto, antes do Projeto Apollo, era interpretado que cerca de 99% do calor de origem potencial seria dissipado ao espaço pela irradiação. Desta forma, estimava-se que o calor radiogênico ocuparia mais de 90 % da energia interna do planeta. Entretanto, devido à consideração do efeito estufa da atmosfera primitiva, a estimativa térmica mudou drasticamente. Isto é, cerca de 99% da energia potencial foi retida dentro e acumulada no planeta e o calor radiogênico ocupava menos de 10% da energia térmica interna do Planeta Terra. Os elementos radioativos estão concentrados predominantemente na crosta terrestre , portanto, o aquecimento ragiogênico ocorre na parte superficial do planeta. Entretanto, a existência da convecção do manto indica que a parte principal do calor interno da Terra não está presente na crosta, mas no núcleo. Se o calor radiogênico fosse a energia principal, o aquecimento da Terra seria de cima para baixo, o que impossibilita a convecção térmica do manto (Fig.2.22). Atualmente, considera-se que a fonte principal do calor interno do planeta, que provocou e está provocando os magmatismos e os tectonismos, é a energia potencial, e a fonte secundária é a energia radiogênica. Sendo a energia potencial como o calor principal do planeta, a presença da convecção térmica do manto é razoavelmente explicada. Por outro lado, a energia térmica gerada pelos impactos de pequenos corpos celestes também é importante fator para geração dos magmas máficos e ultramáficos. Interpreta-se que até o final do Hadeano a superfície do Planeta Terra foi consolidada devido à redução da intensidade dos impactos. Mesmo assim, em comparação com o presente, os impactos eram muito intensos. De fato, as datações radiométricas de muitas rochas basálticas coletadas nas grandes bacias da Lua apresentam as idades em torno de 3900 a 4000 Ma. Após esta época, os grandes impactos ainda continuaram cavando as crateras de diâmetro superior a 100 km, porém, com menor freqüência. Os impactos marcaram estruturas geológicas circulares, ou seja cicatrizes astrogenêticas, na superfície da Terra, denominados “astroblemas”. Até o início do ano 2002, por meio dos estudos de fotografias adquiridas de satélites artificiais, foram conhecidas 169 crateras de meteoritos na superfície da Terra, inclusive 9 ocorrências do Brasil, tais como Araguainha, Mato Grosso - Goiás, Vargeão, Santa Catarina e Riachão, Maranhão A. Araguainha B. Riachão C. Vargeão Fig. 2.23. Astroblemas do Brasil: (A) Araguainha, Mato Grosso – Goiás; (B) Riachão, Maranhão; (C) Vargeão, Santa Catarina. Imagens segundo NASA. Conhecimentos fundamentais - 28 - Fig. 2.24. Formas de crateras lunares de acordo com o diâmetro: (A) Bessel, uma pequena cratera de 7 km de diâmetro de 2 km de profundidade; (B) Euler, uma cratera média de 28 km de diâmetro e 2.5 km de profundidade, com cone central; (C) Schorodinger, uma grande cratera bi-anelar de 320 km de diâmetro, com anel interior de 150 km de diâmetro; (D) Oriental Basin, uma cratera tri-anelar muito grande de 930 km de diâmetro, com anel médio de 480 km e anel interior de 320 km(E) bacias lunares, de diâmetro maior ainda. Fotografias são fornecidas pela NASA. C. Schorodinger D. Oriental Basin A. Bessel B. Euler 5 km 20 km 300 km 1000 km E. Bacias lunares 1000 km (Fig. 2.23). Estima-se que serão descobertas cerca de 5000 astroblemas da Terra no futuro próximo. De acordo com o tamanho do corpo celeste, forma-se vários tipos de crateras (Fig. 2.24). Grandes impactos provocam magmatismo e as crateras são preenchidas por lavas (Fig. 2.24C, D, E). Por outro lado, existem as crateras soterradas por depósitos sedimentares mais jovens. Um exemplo é a cratera soterrada de Chicxulub, Yucatan, México, de 150 km de diâmetro. Este astroblema foi formado durante o impacto que ocorreu há 65 Ma, no limite entre o Cretáceo e Terciário, que extinguiu os répteis avançados característicos do Mesozóico, tais como dinossauros, pterossauros, plesiossauros e mosassauros. A estrutura subterrânea de cratera soterrada de Ames, Oklahoma, Estados Unidos está funcionando como reservatório de petróleo e de Ries, Alemanha, como de carvão mineral. Como no caso das grandes crateras lunares, os impactos contra a superfície da Terra podem causar fusão parcial do manto, gerando magmas de composição máfica e ultramáfica. A partir destes magmas, foram formadas grandes jazidas metálicas ortomagmáticos do Precambriano, tais como de níquel de Sadbury, Canadá e, de ouro de Verdefort, África do Sul. A lógica de “cratera fóssil” pode ser aplicada também às estruturas geológicas que indicam a existência de erupções vulcânicas durante o tempo geológico. Como por exemplo, o Complexo Intrusivo Alcalino de Poços de Caldas, Minas Gerais - São Paulo, é citado por vários livros e revistas como “a maior caldeira vulcânica de colapso do mundo”. Este complexo corresponde a Conhecimentos fundamentais - 29 - uma estrutura geológica subterrânea de cerca de 2 a 3 km abaixo da superfíciede uma região vulcânica, que era ativa no Cretáceo, em torno de 85 Ma. Naquele tempo, a superfície da Terra estava presente em um nível correspondente à altitude atual de mais de 3000 m. Acima desta superfície, houve um vulcão cuja existência é sugerida pela presença de condutos vulcânicos. Porém, não há nenhuma evidência sobre a caldeira vulcânica (Motoki, 1988; Motoki, et al., 1988). Hoje em dia, tanto a superfície daquele tempo quanto os edifícios vulcânicos foram eliminados completamente pela erosão e denudação regional, expondo a estrutura subvulcânico de câmara magmática que estava presente naquela época em profundidade de mais de 2 km. Na fotografia de satélite, a morfologia atual é parecida à de um astroblema, porém essa é devida ao intemperismo e erosão diferencial que representa parcialmente a câmara magmática. Portanto, o planalto de Poços de Caldas não possui nenhuma relação direta com o edifício vulcânico (Fig. 2.26). A mesma lógica é válida para o Complexo Alcalino Intrusivo de Nova Iguaçu, RJ, também do Cretáceo. Nem todas as morfologias aparentemente circulares correspondem a cratera de impacto de meteorito ou edifício vulcânico. Dentro dos planetas e satélites de estado sólido, foram observados, a Terra, Vênus, Marte, a Lua, Io (satélite de Júpiter) e Tritão (satélite de Netuno) possuem edifícios vulcânicos. Na Lua, encontram-se apenas dois pequenos edifícios vulcânicos confirmados, além disso, há alguns suspeitos. A areia composta de vidro de cor laranja coletada durante a expedição do Apollo 17, denominada “orange soil”, corresponde ao depósito de erupções vulcânicas da Lua no longínquo passado (Fig. 2.27). Entre estes, a existência de vulcanismos atuais já foi confirmado na Terra e no Io. É possível haver vulcões ativos em Vênus, sendo indicados pela presença de vulcões recentes (Fig. 2.28A). Os vulcões do restante dos corpos celestes são muito antigos e atualmente extintos. Os três primeiros corpos celestes referidos são de diâmetro relativamente grande, porém B. Astroblema de Manicouagan A. Cratera de Cañon Diablo Morfologia original shatter cone depósito de impacto borda da cratera elevação central lava superfície atual denudação glacial lago anelar Morfologia atual depósito de impacto borda da cratera Fig. 2.25. Fotos e ilustrações esquemáticas de morfologias e estruturas geológicas formadas por impacto de meteorito: (A) Cratera Barringer, Arizona, Estados Unidos da América, uma cratera de 1.18 km de diâmetro formada por impacto recente de 0.049 Ma na região desértica; (B) astroblema de Manicouagan, Canadá, uma estrutura geológica de 100 km de diâmetro formada por impacto de meteorito em 214 Ma, que foi ressaltada morfologicamente por erosão diferencial. Conhecimentos fundamentais - 30 - Fig. 2.26. Ilustração esquemática que explica os níveis de denudação de edifícios vulcânicos, tais como Vulcão Fuji, Shizuoka-Yamanashi, Japão e Vulcão Payún, Mendoza, Argentina (superior) e, estruturas sub- vulcânicos, Complexo Alcalino Intrusivo de Poços de Caldas, MG-SP, e Complexo Alcalino Intrusivo de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro (inferior). fluxo piroclástico corpo geológico conduto piroclástico domo de lava corpo plutônico corpo vulcânico embasamento tufo soldado rocha constituinte tufo e brecha soldado traquito, fonolito, dacito granito, sienitoo traquito, fonolito, dacito, tufo gnaisse e granito A. sem denudação, edifício vulcânico e derrames B. denudação rasa (~1 km), somente condutos vulcânicos C. denudação profunda corpo plutônico e condutos (~3 km) cratera fluxo piroclásitco neck neck neck condutos piroclásitcos condutos piroclásitcos stock stock domo de lava colapso do domo fluxo piroclásitco megaxenólito megaxenólito 1 km 1 km 1 km condutos piroclásitcos Vulcão Fuji, Japão VulcãoPayun, Argentina Poços de Caldas Nova Iguaçu Conhecimentos fundamentais - 31 - os últimos quatro são pequenos. Apesar de que o tamanho do Planeta Marte não é muito grande, existem pouco mais de 10 vulcões de tamanho muito grande em comparação com os da Terra. O Vulcão Olimpus, com 600 km de diâmetro e 25 km de altura relativa, é o maior edifício vulcânico presente no Sistema Solar (Fig. 2.28B). Entretanto, Marte tem somente vulcões gigantescos, porém há ocorrência de vulcões pequenos. O Planeta Marte tem seu diâmetro menor do que o da Terra, portanto internamente é mais frio, não havendo a tectônica de placas. Desta forma, as erupções de lava causadas por um hot-spot permanecem no mesmo local na superfície do planeta, formando os grandes vulcões. O Io, um satélite do Júpiter, apresenta violentas erupções vulcânicas de enxofre e sulfetos (Fig. 2.29). A energia destas erupções é interpretada como de origem astronômica. A translação deste satélite ao longo da órbita elíptica é muito rápida, sendo no período de 42.5 horas, o que provoca deformação periódica do corpo celeste pela grande força da gravidade do Júpiter. O fenômeno é denominado “fricção gravitacional” (Fig. 2.29D) que gera o calor interno do Io. Os estudo recente da Europa, um outro satélite do Júpiter, com o auxílio da sonda Galileo, revelou A. Luz transmitida B. Luz refletida Fig. 2.27. “Orange soil”, vidro vulcânica da Lua, coletado pelo Apollo 17: (A) luz transmitida; (B) luz refletida. A. Vênus B. Marte C - Tritão Fig. 2.28. Vulcões extraterrestres, segundo imagens adquiridas por naves espaciais da NASA: (A) Vênus, dois vulcões com fluxos de lava, foto superior, e pancake, inferior; (B) Marte, Vulcão Olimpus, superior; Apollinaris, inferior; (C) Tritão, o satélite mais próximo do Netuno. Conhecimentos fundamentais - 32 - que este corpo celeste possui oceano de água abaixo do gelo que cobre a superfície. A fonte do calor interno da Europa, que viabiliza a existência do oceano de água em estado líquido, também é interpretada como de fricção gravitacional. O vulcanismo de Tritão, um satélite do Netuno, é representado por manchas pretas na foto (Fig. 2.28C). Estes são originadas de erupções da água e nitrogênio líquido, sendo um fenômeno similar ao de gêiser. 2.5. Desenvolvimento no futuro No ano 2004, duas sondas móveis estão em serviço na superfície de Marte, comprovando existência do mar, no passado, deste planeta desértico. A nave japonesa Hayabusa, que foi lançada no dia 9 de maio de 2003 está voando para o Asteróide Itokawa e vai trazer a primeira amostra da superfície do asteróide para a Terra em junho de 2007 (Fig. 2.30A). No futuro, dentro de poucas décadas, a NASA está planejando uma missão para trazer amostras de Marte. Mais para o futuro, poderá ocorrer uma expedição dentro do oceano de água abaixo do gelo do Satélite Europa utilizando-se uma sonda submarina (Fig. 2.30B). Os cientistas do mundo estão deixando uma grande esperança nestes projetos. Será que as idéias atuais serão comprovadas? Pode ser que sim e, pode ser que não. Lembre-se da grande virada do Projeto Apollo. As idéias atualmente acreditadas poderão ser reveladas no futuro como equívocos. Os cientistas devem tomar ciência na ciência. A B C erupção lava Júpiter Io Io órbita elíptica deformação periódica ED Fig. 2.29. Erupções vulcânicas (A), (B), lava (C) e caldeira vulcânica do tipo havaiano (D), observadas em Io, o satélite mais próximo de Júpiter, segundo NASA. A altura da fumaça vulcânica é de mais de 200 km. O magma é gerado por meio da fricção gravitacional (E). Conhecimentos fundamentais - 33 - Durante a graduação, na década de 1970, o autor estudou que a fonte principal do calor interno da Terra seria de origem radiogênica. Entretanto, naquele tempo, ninguém conseguiu responder à questão do autor sobre a contradição da convecção do manto apresentado na Fig. 2.22. Esta contradição lógica foi o sinal do desenvolvimento drásticoda ciência. A partir da década de 1980, a idéia com base nos estudos do Projeto Apollo tem sido aceitos mundialmente, como o consenso geral entre os cientistas de topo de linha. As pesquisas posteriores de meteoritos de origem lunar e marciana, descobertos no gelo da Antarctica, estão confirmando a nova idéia. Entretanto, até o presente, no ano 2004, encontra-se os livros com base na idéia antes do Projeto Apollo. O fato indica que a divulgação científica é muito mais difícil do que o desenvolvimento científico. Portanto ocorrem casos de que a divulgação não alcança o desenvolvimento e o conhecimento do público em geral, inclusive os geólogos, é afastado do tempo atual, tanto no Brasil quanto no exterior. Portanto, uma idéia antiga já abandonada como equívoco científico está sendo publicada como se fosse uma novidade de ponta, na forma de citação das citações. Além disso, o Brasil tem um outro problema sério, a barreira do idioma. No presente capítulo, o autor apresentou alguns assuntos das ciências planetárias que foram estabelecidos nos últimos trinta anos com objetivo de mostrar a importância da interação entre os diferentes ramos da ciência. A geologia, petrologia, mineralogia, geoquímica e geocronologia contemporâneas da Terra do Século XXI não existem sem interação com as ciências planetárias. Sem este ponto, os geólogos caem no beco sem saída do anacronismo, que é incompatível com a ciência contemporânea. A nostalgia do século passado é incompatível à ciência contemporânea, sendo simplesmente anacronismo e, a geologia também não é uma exceção. Espero que os leitores renovem diariamente seus conhecimentos através de estudos para manter o nível da ciência contemporânea. C. Superfície congelada da EuropaB. Hayabusa e Itokawa Fig. 2.30. Novas expedições no Sistema Solar: (A) ilustração esquemática da nave Hayabusa, da JAXA, Japão, que está em missão para trazer o primeiro material de asteróide; (B) Imagem da superfície da Europa fotografada pela Nave Galileo, a segunda satélite do Júpiter. A textura similar é observada no gelo que cobre a superfície do Mar Ártico da Terra e, o fato indica presença da água em estado líquido abaixo da camada de gelo e existência de fonte do calor interno deste corpo celeste. Classificação de rochas ígneas - 34 - 3. Classificação de rochas ígneas Antes do século XIX, os corpos, as rochas e os minerais não eram bem distinguidos. Desta forma, a classificação de rochas por meio de modo de ocorrência geológica, idade geológica e cor visual característica era comumente praticada, havendo mais de 1000 nomes. Para resolver este problema, foram realizados vários esforços para padronizar os nomes das rochas ígneas (Shand 1927; Niggli 1931; Trögger 1938; Johanssen 1931-1938, etc.). Até o presente, a classificação de rochas ígneas não está bem organizada, principalmente para rochas máficas e ultramáficas. Entretanto, graças aos esforços, a classificação foi relativamente organizada diminuindo os nomes em um décimo do passado. 3.1. Critérios de classificação Cada método de classificação tem sua vantagem e desvantagem e, portanto é difícil apresentar um método adequado para classificar quaisquer rochas ígneas. Entre as tentativas de classificação organizada de rochas ígneas propostas até o presente, a recomendação pela Subcomissão da Sistemática de Rochas Ígneas da IUGS (Subcomission on the Systematics of Ingeous Rocks, Comission on Petrology, International Union of Geologicas Sciences) é mais conhecida (Streckeisen 1967; 1976; 1978, etc.). Atualmente, a classificação de rochas ígneas é baseada na textura, principalmente granulometria, e composição mineralógica quantitativa, e subordenadamente na textura específica, composição química, gênese, modo de ocorrência, etc. A granulometria é representada pelas categorias grossa, média e fina , e a composição mineralógica é pelo índice de cor, proporção entre feldspato alcalino e plagioclásio, composição de plagioclásio, etc. 3.2. Critérios texturais Os critérios texturais importantes para classificação de rochas ígneas são: 1) cristalinidade; 2) granulometria ; 3) homogeneidade granulométrica. Estas texturas são intimamente relacionadas ao processo de resfriamento magmático, e a granulometria é a mais importante. 3.2.1. Cristalinidade A cristalinidade corresponde ao grau de cristalização do magma , ou seja, a proporção de minerais e vidro que estão presentes nas rochas ígneas. Para ocorrer a cristalização dos Tabela 3.1. Relação entre as expressões utilizadas para representar a granulometria de rochas ígneas. Expressão Holocristalina Resfriamento Classificação Exemplo grossa sim muito lento plutônica gabro, granito, nefelina sienito média sim meio lento hipabissal dolerito, granito pórfiro, tinguaito fina sim rápido vulcânica basalto, riolito, fonolito microcristalina sim rápido vulcânica basalto, riolito, fonolito criptocristalina sim muito rápido vulcânica basalto, riolito, fonolito hialocristalina não super rápido vulcânica basalto, riolito, fonolito vítrea não ultra rápido vulcânica basalto, riolito, fonolito Classificação de rochas ígneas - 35 - D - granito E - basalto F - tufo soldado 1 mm esferulito VQ V V V 0.1 mm fenocristal Cpx Hb V Pl massa fundamental Pl 1 mm 2 cm Q Bi Kf Pl A - holocristalina B - hipocristalina C - vítrea 1 cm 5 cm Fig. 3.1. Ilustrações esquemáticas (A, B, C) e fotografias (D, E, F) relativas à cristalinidade de rochas ígneas: (A) granito, holocristalino; (B) basalto porfirítico com massa fundamental intersertal, hipocristalino; (C) riolito com esferulitos, vítreo; (D) Granito porfirítico, Andorinha - RJ, holocristalino; (E) basalto, Rio Caí, Nova Petrópolis - RS, hipocristalino; (F) Tufo soldado riolítico, Nova Petrópolis - RS, vítreo. minerais a partir do magma, precisa-se de um determinado tempo. Portanto, quando o resfriamento é relativamente lento, há tempo suficiente para formar uma rocha ígnea constituída totalmente de cristais. Por outro lado, quando o resfriamento é extremamente rápido, não há tempo suficiente, resultando uma rocha composta de vidro (Fig. 3.1; Tabela 3.1). De acordo com a cristalinidade as rochas são classificadas em: 1) holocristalina; 2) hipocristalina; 3) vítrea: Holocristalina: A rocha é composta inteiramente de cristais. A maioria das rochas ígneas se encaixa nessa categoria. Todas as rochas plutônicas são holocristalinas. As expressões rocha cristalina e embasamento cristalino, encontradas na literatura tradicional, correspondem respectivamente à rocha holocristalina e ao embasamento continental constituído por rochas holocristalinas, tais como granito e gnaisse, sobretudo de granulometria grossa e de idade precambriana. Entretanto, tais expressões tendem a serem menos utilizadas nas publicações recentes. As rochas holocristalinas são formadas através de resfriamento relativamente lento do magma. O prefixo holo significa totalmente. Hipocristalina: É chamada também de hialocristalina: A rocha é constituída por uma mistura de cristais e vidro. As rochas hipocristalinas são formadas através de resfriamento Classificação de rochas ígneas - 36 - 20 mm 20 mm microscópio lupa olho nu grossa média fina dolerito basaltogabro 20 mm 3 mm 3 mm 3 mm 1 mm 0.5 mm 0.05 mm Fig. 3.2. Ilustrações esquemáticas de granulometria grossa, média e fina de rochas ígneas, de acordo com os meios e instrumentos de observação. Nota-se que as escalas das observações microscópicas não são iguais. rápido do magma. Determinadas rochas constituintes de lavas são hipocristalinas. Os prefixos hipo e hialo significam, respectivamente, pouco e vítreo. Vítrea: É chamada também de holohialina. A rocha é composta quase inteiramente de vidro, o que significa resfriamento magmático extremamente rápido. Algumas rochas vulcânicas constituintes de lavas, tais comoa obsidiana, são vítreas. 3.2.2. Granulometria A granulometria representa a medida quantitativa do tamanho dos minerais constituintes de rochas ígneas, sobretudo as holocristalinas. A expressão “granulação”, que é utilizada freqüentemente como sinônimo de granulometria, é desaconselhável devido a ter um outro significado. Para um cristal formado a partir do magma tornar-se grande, necessita-se de um determinado tempo. Portanto, quando o resfriamento é lento, há tempo suficiente para formar uma rocha ígnea constituída por minerais de granulometria grossa. Por outro lado, quando o resfriamento é rápido, não há tempo para formar cristais grandes, resultando uma rocha com granulometria fina (Fig. 3.2). A definição quantitativa das categorias de granulometria grossa, média e fina é variável de acordo com cada autor. Portanto, na descrição das rochas, é Classificação de rochas ígneas - 37 - 0.5 mm 25 ~ 30 m seção delgada de rocha A - microcristalina B - criptocristalina lamínula resina lâmina delgada lâmina Fig. 3.3. Relação entre a espessura da lâmina delgada e a granulometria das rochas ígneas finas: (A) microcristalina e (B) criptocristalina, com visão esquemática das respectivas imagens microscópicas. A escala é comum para ambas as rochas. aconselhável referir à medida quantitativa, tal como milimétrica. A definição aqui apresentada é apenas um exemplo prático: Grossa: Granulometria de 1 a 10 mm. Muitas rochas de natureza plutônica possuem granulometria em torno de 6 mm, se encaixando nesta categoria. As rochas ígneas com granulometria maior do que 10 mm são raras. A expressão rocha “grosseira” e de “granulação grosseira”, que se encontram em certas publicações nacionais como sinônimo de rocha de granulometria grossa, tendem a não serem utilizada. De fato, o termo “grosseiro” significa rude, inconveniente ou de má qualidade. Normalmente, as rochas compostas de minerais com tamanho suficientemente grande, podendo ser identificados com facilidade a olho nu, são descritas como de granulometria grossa. Granito, sienito, diorito e gabro são exemplos de rochas de granulometria grossa. Média: Granulometria de 0.2 a 1 mm. Esta categoria granulométrica quantitativamente não é bem definida, sendo variável de acordo com cada autor. Na prática, muitas rochas descritas como de granulometria média são compostas de minerais de tamanho visível a olho nu ou a lupa, porém, são pouco difíceis de serem identificados. Dolerito é um exemplo de rochas com granulometria média. Nos continentes americanos, o termo diabásio é utilizado freqüentemente no lugar de dolerito. Entretanto, na Europa, este termo corresponde a diorito ou a rocha máfica com textura ofítica com idade anterior ao Terciário. Desta forma, o termo diabásio tende a ser substituído mundialmente por dolerito. Fina: Granulometria menor do que 0.2 mm. Normalmente, as rochas compostas de minerais com tamanho dos grãos invisíveis a olho nu ou a lupa são descritas como de granulometria fina. Tais rochas são estudadas em lâminas delgadas ao microscópio petrográfico. Riolito, fonolito, traquito, andesito e basalto são exemplos de rochas com granulometria fina. Encontram-se os seguintes termos utilizados na literatura para representar a granulometria macroscópica de rochas ígneas: Fanerocristalina: A rocha é constituída por minerais de tamanho distinguível, ou seja, identificável a olho nu ou em lupa. Todas as rochas de granulometria grossa e uma parte das rochas de granulometria média se encaixam nesta categoria. Afanítica: A rocha é composta de minerais de granulometria fina, sendo indistinguíveis a olho nu ou em lupa. Em muitas publicações, a expressão textura afanítica é utilizada para expressar textura da massa fundamental de rochas porfiríticas. Classificação de rochas ígneas - 38 - Nas observações das rochas naturais, a maioria das rochas ígneas se classifica em uma das duas categorias acima citadas, sendo fanerocristalina (grossa) ou afanítica (fina). Existem rochas com granulometria entre as duas categorias, que poderia corresponder a granulometria média, porém, os exemplos não são muito freqüentes. Nas observações microscópicas de rochas com granulometria fina, são utilizados os seguintes termos granulométricos (Fig. 3.3). Microcristalina: A rocha é constituída por minerais de tamanho distinguível, ou seja, são identificáveis à lâmina delgada. Quando o tamanho dos minerais constituintes da rocha é maior do que a espessura da lâmina (25 a 30 µm), cada mineral é identificável. Criptocristalina: A rocha é composta de minerais de granulometria muito pequena, sendo menor do que a espessura da lâmina delgada, e portanto, não se pode identificar ao microscópio petrográfico. 3.2.3. Homogeneidade granulométrica Existem rochas ígneas constituídas por minerais de tamanho aproximadamente igual, que são denominadas de textura equigranular. As rochas compostas de minerais de granulometria gradativamente variável são denominadas transgranulares, porém, essas são raras em rochas ígneas. Desta forma, a maioria das rochas inequigranulares, ou seja, não equigranulares, é classificada em uma das duas texturas granulométricas distintas, equigranular e porfirítica (Fig. 3.4): Equigranular : A rocha é constituída por minerais com tamanho relativo aproximadamente igual, ou seja, a granulometria é homogênea. Muitas rochas ígneas de granulometria grossa são equigranulares. O prefixo “equi” significa igual. A expressão “textura granular” encontrada na literatura referente às rochas ígneas corresponde à textura equigranular, porém, tende a ser menos utilizada. A maioria das rochas equigranulares possui granulometria de 1 a 10 mm. A homogeneidade granulométrica das rochas equigranulares significa que o resfriamento do magma foi um processo regular em um único estágio. O resfriamento natural de uma câmara magmática grande comumente forma um corpo intrusivo cuja maioria das partes é constituída por rochas equigranulares. A textura equigranular é observada comumente em granito, granodiorito, quartzo diorito, diorito, gabro, álcali sienito e nefelina sienito. Porfirítica: A rocha é constituída por minerais com duas granulometrias distintas, minerais grandes e pequenos. Os minerais grandes, normalmente menos freqüentes, são denominados fenocristais, e os pequenos, que constituem a maioria, são chamados de massa fundamental. O termo “pórfiro” corresponde ao grão de mineral destacadamente grande em relação aos outros de qualquer gênese, ou seja, fenocristal é um tipo de pórfiro de origem ígnea e porfiroblasto é outro tipo, porém, de origem metamórfica, que é chamado de “porfiroblasto”. Por outro lado, o termo matriz corresponde à massa fina de qualquer origem, enquanto que, a massa fundamental é um tipo de matriz de origem magmática. A textura porfirítica é observada tipicamente em riolito, dacito, andesito, basalto, traquito e fonolito. A heterogeneidade granulométrica das rochas porfiríticas indica que o resfriamento magmático não foi um processo regular, havendo pelo menos dois estágios. Os fenocristais foram cristalizados no primeiro estágio por meio do resfriamento lento, que ocorreu provavelmente em uma câmara magmática dentro da crosta terrestre. Durante a cristalização dos fenocristais, a parte correspondente à massa fundamental ainda estava em estado líquido. Posteriormente, aconteceu o evento de resfriamento rápido, tais como extravasamento de lava, que solidificou a Classificação de rochas ígneas - 39 - microscópio olho nu 5 mm basalto fenocristal massa fundamental B - porfiríticaA - equigranular granito 5 mm Pl Q Kf Pl Bi 1 mm 2 mm 0.2 mm B - porfiríticaA - equigranular D - dacitoC - nefelina sienito 2 mm Fig. 3.4. Ilustração esquemática de visão macroscópica e microscópica de (A) textura equigranular grossa de granito e (B) textura porfirítica finade basalto, junto com as fotografias de (C) textura equigranular grossa de nefelina sienito de Mesquita - RJ e (D) textura porfirítica fina de dacito adakítico do Vulcão Lautaro, Patagônia chilena. Q: quartzo Kf: feldspato potássico Pl: plagioclásio Bi: biotita massa fundamental. O tamanho dos fenocristais geralmente está na faixa de 1 a 10 mm, e da massa fundamental é submilimétrica. Existem rochas com massa fundamental holocristalina, e também, hialocristalina e vítrea. Muitas rochas de granulometria fina possuem textura porfirítica. Certas rochas graníticas e sieníticas possuem duas granulometrias distintas, neste sentido, podem ser classificadas descritivamente como de textura porfirítica. Entretanto, a granulometria dos fenocristais e da massa fundamental são incomparavelmente maiores do que rochas porfiríticas comuns. Os fenocristais, normalmente feldspato alcalino, possuem tamanho centimétrico, podendo atingir 10 cm. A massa fundamental apresenta granulometria de 1 a 10 mm, correspondendo ao tamanho dos fenocristais da textura porfirítica comum. Esses fenocristais, denominados “megacristais”, freqüentemente exibem textura de zoneamento heterogêneo. Os megacristais são de tamanho variável, e encontram-se normalmente orientados, formando faixas Classificação de rochas ígneas - 40 - megacristal de feldspato potássico megacristal de feldspato potássico faixa de concentração de biotita B - textura porfiróideA - textura porfirítica faixa de concentração de biotita faixa de concentração de megacristais 50 cm50 cm C - granito porfirítico 5 mm Fig. 3.5. Ilustração esquemática de (A) textura porfirítica e (B) textura porfiróide de rochas graníticas, junto com a fotografia de (C) granito porfirítico de Itu - SP. de concentração. A massa fundamental também tende a ser orientada, formando faixas de concentração de minerais incolores e coloridos. Quando os fenocristais de feldspato alcalino estão em contato uns com os outros, a textura é chamada de porfiróide (Fig. 3.5). Tais rochas são exploradas freqüentemente para usos ornamentais e aplicadas à fabricação de mesas e balcões. Acredita-se que a gênese da textura porfirítica de rochas graníticas é diferente da textura porfirítica comum. Para os fenocristais crescerem até o tamanho dos megacristais, é necessário um longo tempo ou condições especiais, tais como alta viscosidade e alto teor de materiais voláteis do magma granítico. Certas rochas graníticas com esta textura, sobretudo as que se encontram na parte inferior de um corpo de forma tabular de intrusão sub-horizontal, a textura pode ser originada da acumulação dos minerais na base, sobretudo no caso da textura porfiróide. Muitos textos didáticos clássicos explicam que a textura equigranular é originada do resfriamento lento, e a textura porfirítica, do resfriamento rápido. A velocidade do resfriamento pode definir a granulometria, mas não, a homogeneidade granulométrica. Entretanto, de fato as rochas com textura equigranular são grossas e as porfiríticas possuem sua massa fundamental fina. Existem também as rochas de granulometria grossa com textura porfirítica e as finas com textura equigranular. Classificação de rochas ígneas - 41 - mistura de cristais e líquido líquidocristal resfriamento rápido completo na superfície rocha equigranular grossa rocha porfirítica denudação por soerguimento corpo plutônico corpo subvulcânico eliminação por erosão A - durante atividade magmática B - após o resfriamento total resfriamento lento parcial na câmara magmática resfriamento lento completo Fig. 3.6. Um exemplo do processo de formação das rochas com (A) textura equigranular grossa e (B) textura porfirítica com massa fundamental fina. Conforme o texto acima, a textura porfirítica é representada por duas granulometrias distintas, sendo caracterizada por dois estágios de resfriamento com velocidades diferentes. Quando o magma sobe na crosta em baixa velocidade, ou aloja-se em uma câmara magmática, este magma se resfria lentamente, cristalizando minerais grandes. Neste estágio, há coexistência de sólido e líquido. Quando este magma retoma a ascensão e extravasa na superfície , a parte líquida transforma-se em matriz de granulometria fina ou vítrea, formando a massa fundamental, e os minerais grandes já cristalizados tornam-se fenocristais. Se não acontecesse a retomada da ascensão magmática, o magma se cristalizaria lentamente até o final, e a câmara magmática se transformaria em um corpo intrusivo constituído por rocha com textura equigranular grossa (Fig. 3.6). Neste sentido, a velocidade do resfriamento magmático de rochas de textura porfirítica é representada pela granulometria da massa fundamental, e não, pelos fenocristais. 3.2.4. Granulometria e velocidade de resfriamento A granulometria das rochas ígneas, ou seja, a velocidade de resfriamento do magma foi correlacionada tradicionalmente à profundidade de posicionamento do magma (Rosenbusch, 1887- 1908; Die Euptivgesteine des Kristianiagebietes; Brögger 1894-1921; Die Mikroskopische Physiographie der massigen Mineralien): magmas intrusivos nos locais profundos deveriam resfriar-se lentamente, e os da superfície ou da subsuperfície deveriam resfriar-se rapidamente. A partir deste ponto de vista, foi estabelecida a seguinte classificação granulométrica clássica das rochas ígneas. Rochas vulcânicas, chamadas também de as eruptivas, efusivas ou extrusivas, são formadas através do resfriamento rápido do magma na superfície da Terra, constituindo corpos vulcânicos, tais como lava e tufo. As rochas possuem granulometria fina e textura porfirítica, com massa fundamental vítrea, hialocristalina ou holocristalina. Exemplos típicos são basalto, andesito e riolito. Rochas hipabissais, chamadas também de rochas subvulcânicas, ou no Século XIX de rochas de diques ou rochas filonares, são formadas através do resfriamento magmático com Classificação de rochas ígneas - 42 - média A - conceito tradicional do século XIX B - conceito atualizado dique dique margem borda centro centro corpo vulcânico borda 5 mm 5 mm grossa 5 mm corpo vulcânico sill dique rocha vulcânica rocha hipabissal corpo plutônico rocha plutônica corpo subvulcânico (hipabissal) corpo plutônico (sem raíz) Fig. 3.7. Relação entre a granulometria das rochas ígneas e o modo de ocorrência geológica, conforme (A) conceito tradicional do século XIX e (B) conceito atualizado. velocidade média, constituindo corpos subvulcânicos, ou seja, intrusivos pequenos e rasos, tais como diques e sills. Possuem textura porfirítica com massa fundamental holocristalina. Exemplos típicos são granito-pórfiro, quartzo pórfiro e dolerito. Rochas plutônicas são formadas através do resfriamento lento de magma nos locais profundos, constituindo corpos intrusivos grandes, tais como batólito e stock. Possuem granulometria grossa e textura equigranular. Exemplos típicos são granito, sienito e gabro. De acordo com este conceito, era aplicada a denominação de rochas ígneas conforme o modo de ocorrência geológica, tais como: a rocha constituinte de uma lava era basalto, a de um dique era dolerito, e a de um stock era gabro. Os corpos vulcânicos, subvulcânicos e plutônicos eram interpretados como bem distinguidos de acordo com a profundidade. No Brasil, as rochas de composição máfica encontradas na forma de diques eram denominadas diabásio (dolerito), independentemente da sua granulometria. Da mesma maneira, foi praticada a dedução do modo de ocorrência geológica e profundidade de posicionamento a partir da granulometria de uma amostra (Fig. 3.7A). Entretanto, na realidade, a granulometria de rochas ígneas está relacionada à velocidade de resfriamento magmático, e não ao modo de ocorrência geológica ou profundidade de posicionamento. Como por exemplo, na região litoral dosEstados de São Paulo e Rio de Janeiro, ocorrem diques de composição máfica com mais de 5 m de largura. Nesses diques, observa-se a variação granulométrica da rocha formada pela diferença da velocidade de resfriamento: a granulometria é fina nas bordas, correspondente a basalto, e grossa no centro, correspondente a Classificação de rochas ígneas - 43 - Fig. 3.8. Variação granulométrica gradativa dentro de um dique de composição basáltica, observada na Joatinga, Rio de Janeiro, RJ. Observa-se a diferença nas escalas das ilustrações das imagens microscópicas. As rochas constituintes variam de basalto (rocha vulcânica), dolerito (rocha hipabissal) e gabro (rocha plutônica) dentro de um único dique. basalto vítreo basalto holocristalino dolerito gabro 0.1mm 0.1mm 1mm 4mm NE NE borda centro nível do marcontato10m dique basáltico do Cretáceo zona de contato margem gnaisse migmatítico Tabela 3.2. Rochas vulcânicas, hipabissais e plutônicas em relação aos corpos extrusivos e intrusivos. Rocha Textura Corpo geológico profundidade Tamanho do corpo vulcânica granulometria fina, hialocristalina, vítrea extrusivo - lava, tufo soldado, intrusivo - dique, sill, borda de plutão superficial, rasa, média pequeno hipabissal granulometria média intrusivo - dique, sill, borda de plutão, plutão rasa, média pequeno, médio plutônica granulometria grossa intrusivo - plutão, dique, sill rasa, média profunda médio, grande gabro, com passagem gradativa (Fig. 3.8). Desta forma, os três tipos de rochas acima citadas, basalto, dolerito e gabro, podem ser formados na mesma profundidade e do mesmo modo de ocorrência. Cada dique foi formado por um único pulso de intrusão magmática, e tanto a borda quanto o centro foram formados na mesma profundidade. A temperatura da rocha encaixante na época da intrusão era cerca de 120 °C (Zimbres et al., 1990; Motoki, 1994), e o magma intrusivo estava acima de 1200 °C. Devido ao grande contraste térmico, as bordas do dique resfriaram-se rapidamente por condução térmica, e o centro resfriou-se lentamente. A partir das características petrográficas, não é possível definir o modo de ocorrência geológica e a profundidade do posicionamento magmático. A princípio, o modo de ocorrência deve ser estudado através do trabalho de campo, e não por dedução petrográfica. Da mesma forma, as rochas devem ser classificadas por características petrográficas, e não pelo modo de ocorrência. Na realidade, a relação entre as rochas ígneas e os corpos geológicos é muito complexa (Fig. 3.7B; Tabela 3.2). De fato, a correlação exata e imediata entre a granulometria de rochas ígneas ao modo de ocorrência geológica ou à profundidade do posicionamento é equivocada. Hoje em dia, os termos texturais estão utilizados puramente no sentido petrográfico, como por exemplo: rochas vulcânicas correspondem às rochas de granulometria fina, seja de Classificação de rochas ígneas - 44 - 5 cm A B C 5 cm5 cm Fig. 3.9. Visão macroscópico de pegmatito: (A) pegmatito não gráfico; (B) pegmatito gráfico; (C) veio de pegmatito. ocorrência extrusiva ou intrusiva; rochas plutônicas são de granulometria grossa, sejam de diques ou de stocks. Isto é, as expressões rochas vulcânicas, hipabissais e plutônicas representam apenas granulometria, e nada mais. Neste sentido, é aconselhável adotar as expressões granulometria fina, média e grossa. Por outro lado, as expressões corpo vulcânico, hipabissal e plutônico devem ser utilizados no sentido geológico, conforme modo de ocorrência determinada por trabalhos de campo, independentemente da granulometria de amostras de mão observada no laboratório. A classificação granulométrica moderna das rochas ígneas é a seguinte: Rochas vulcânicas: Rochas de granulometria fina, formadas através do resfriamento rápido do magma. Certas rochas desta categoria possuem textura porfirítica. A massa fundamental pode ser tanto holocristalina, hialocristalina quanto vítrea. Exemplos típicos são basalto, andesito e riolito. Rochas hipabissais: Rochas de granulometria média, formadas através do resfriamento magmático com velocidade média. Quando estas rochas possuem textura porfirítica, a massa fundamental é holocristalina. Exemplos típicos são granito-pórfiro, quartzo pórfiro e dolerito. Rochas plutônicas: Rochas de granulometria grossa, formadas através do resfriamento lento de magma. Exemplos típicos são granito, sienito e gabro. As rochas da granulometria média de textura porfirítica são denominadas adicionando- se “pórfiro” com hífen atrás do nome da cada rocha de granulometria grossa, tais como granito- pórfiro, granodiorito-pórfiro, etc. As rochas de granulometria média com textura equigranular (sem fenocristais) são chamadas freqüentemente com o prefixo “micro”, tais como “microgranito”, “microgranodiorito”, “microdiorito”, “microgabro”, etc. O termo “diabásio” foi utilizado freqüentemente pelos petrólogos dos continentes americanos para representar as rochas básicas de granulometria média. Porém, este termo possui significados diferentes na Alemanha (rochas máficas pré-terciárias) e na Inglaterra (basaltos alterados). Neste sentido, os autores recomendam o termo “dolerito” (origem inglês) no lugar de diabásio. No campo, encontram-se rochas ígneas de composição máfica de granulometria grossa (gabro), média (dolerito) e fina (basalto), com eventual passagem granulométrica gradativa dentro de um corpo (Fig. 3.8). Entretanto, no caso de rochas félsicas, as rochas de granulometria média (granito-pórfiro, micro-granito) são raras, apesar da abundância de rochas grossas (granito) e finas (riolito). Devido à escassez dos exemplos da categoria hipabissal, certos pesquisadores propuseram abolição desta categoria. Por outro lado, os magmas máficos contêm baixo teor de Classificação de rochas ígneas - 45 - Pl Cpx Mt 0.5 mm Fig. 3.10. Ilustração esquemática de aspectos microscópicos de minerais incolor (Pl, plagiocásio), colorido (Cpx, augita) e opaco (Mt, magnetita) de um gabro. materiais voláteis representados por H 2 O (maioria) e CO 2 (minoria), enquanto que, os magmas félsicos contêm alto teor destes materiais. O fato acima citado sugere que a velocidade de resfriamento não é o único fator controlador de granulometria de rochas ígneas. Os materiais voláteis contidos no magma aumentam a granulometria por meio da elevação de fluidez do magma. Este fator pode ser de importância comparável à velocidade de resfriamento, sobretudo para rochas félsicas. O pegmatito é um grupo de rochas ígneas altamente félsicas constituídas por minerais de tamanho extremamente grande, de tamanho de alguns centímetros até 1 m, originadas de magmas de baixa temperatura, cerca de 500 °C, supersaturados em H 2 O (Fig. 3.9). A temperatura de magma comum, denominado ortomagma, é acima de 600 °C. Neste caso, acredita-se que os materiais voláteis são fatores mais importantes do que a velocidade de resfriamento magmático para definição da granulometria. 3.3. Critérios composicionais Junto com a granulometria, a composição mineralógica quantitativa constitui um importante critério fundamental para classificação de rochas ígneas. A composição mineralógica quantitativa de rochas holocristalinas é obtida através de análise modal quantitativa. 3.3.1. Índice de cor O mineral constituinte de rochas ígneas é classificado por meio de diafaneidade microscópica, ou seja, grau de transparência, em três categorias: 1) minerais incolores; 2) minerais coloridos; 3) minerais opacos (Fig. 3.10). Minerais incolores: Minerais transparentes em lâminas delgadas e, normalmente brancos ou de cor clara a olho nu. Muitos minerais coloridos a olho nu se tornam incolores nas lâminas delgadas. São normalmente silicatos, compostos principalmente de SiO 2 , Al 2 O 3 , Na 2 O e K 2 O com baixoteor de MgO e FeO. Sob o ponto de vista químico, esses são chamados como minerais félsicos. Quartzo, feldspato alcalino, plagioclásio e feldspatóides são exemplos. O peso específico é geralmente baixo. Minerais coloridos : Minerais coloridos, translúcidos, em lâminas delgadas e de cor escura a olho nu. Normalmente, são silicatos compostos principalmente de SiO 2 , MgO, FeO e Fe 2 O 3 , sendo caracterizados por alto teor de MgO e FeO. Sob o ponto de vista químico, são chamados como minerais máficos. Olivina, ortopiroxênio, clinopiroxênio, hornblenda e biotita são exemplos. O peso específico é geralmente alto, sendo superior a bromofórmio. Minerais opacos: Minerais opacos mesmo nas lâminas, e possuem freqüentemente brilho metálico. Quimicamente são óxidos, sulfatos e hidróxidos de metais pesados. Magnetita, ilmenita e pirita são exemplos. O peso específico é geralmente muito alto, sendo chamado de minerais pesados. Os minerais incolores e coloridos constituem os principais minerais das rochas ígneas. Os opacos são Classificação de rochas ígneas - 46 - BA 5 cm Fig. 3.11. Tufo soldado de cor macroscópica preta, de composição riolítica, São Francisco de Paula - RS: (A) afloramento; (B) amostra de mão. encontrados em baixo teor, normalmente inferiores a 1 %. Apesar da pequena quantidade, observa-se em quase todas as rochas ígneas. Juntos com zircão e apatita, os minerais opacos são agrupados como minerais acessórios ou secundários. A expressão “mineral secundário”, utilizada freqüentemente no lugar de “mineral acessório”, não é recomendada devido a homônimos. A porcentagem volumétrica dos minerais constituintes de rochas é denominada moda ou quantidade modal e, a moda de minerais coloridos e opacos totais é denominada índice de cor, abreviando-se M. Este parâmetro é um fator importante na classificação de rochas ígneas, Sob o ponto de vista de diafaneidade microscópica, a muscovita, a apatita e os minerais primários de carbonatos como calcita são enquadrados dentro da categoria de minerais incolores, portanto, devem ser excluídos no cálculo do índice de cor (refere-se o índice M´ da IUGS). Entretanto, certos autores incluem estes minerais por serem acessórios. Na prática, o índice de cor representa a soma dos minerais máficos. Por meio do índice de cor, M, rochas ígneas foram subdivididas por Shand (1927) em três categorias: 1) rochas leucocráticas, 0<M<30; 2) rochas mesocráticas, 30<M<60; 3) rochas melanocráticas, 60<M<100. No caso de rochas de granulometria grossa, as rochas da categoria leucocrática tendem a serem macroscopicamente de cor clara, as mesocráticas são de cor escura, e as melanocráticas são de cor mais escura. Entretanto, as rochas de granulometria fina apresentam freqüentemente cor macroscópica escura independentemente do índice de cor, até mesmo de composição leucocrática (Fig. 3.11). A maioria das rochas encontradas no campo se encaixa na categoria leucocrática e uma parte na categoria mesocrática, havendo apenas poucos exemplos de rochas da categoria melanocrática. Muitos autores utilizam os termos leucocrático, mesocrático e melanocrático no sentido qualitativo e comparativo, e não, quantitativo como acima citado, como por exemplo, “a amostra A é mais leucocrática do que B”. Por outro lado, a subcomissão da IUGS (Streckeisen, 1967) definiu o índice de cor M’. Este índice corresponde à soma dos minerais máficos e minerais acessórios, não incluindo muscovita, apatita e carbonatos primários, isto é, a soma pura dos minerais máficos e os opacos. Desde que na maioria das rochas ígneas o teor de muscovita, apatita e carbonatos primários seja muito baixo, o M´ é praticamente igual a M. Através deste índice de cor, M´, rochas ígneas são classificadas em 5 categorias: 1) rochas holo-leucocráticas, 0<M´<5; 2) rochas leucocráticas, 5<M´<35; 3) rochas mesocráticas, 35<M´<65; 4) rochas melanocráticas, 65<M´<95; 5) rochas ultramáficas, 95<M´<100. 3.3.2. Análise modal Para realizar a classificação quantitativa, é necessário determinar a abundância relativa em volume de cada mineral constituinte de rochas ígneas. A porcentagem volumétrica dos Classificação de rochas ígneas - 47 - 1 % 2 % 3 % 5 % 10 % 15 % 20 % 30 % 40 % 50 % Fig. 3.12. Folha padrão para análise modal semi-quantitativa por visada. minerais constituintes é denominada quantidade modal, ou simplesmente, a moda, e o processo para determinação da moda é chamada de análise modal. A análise modal é realizada normalmente por meio petrográfico utilizando-se lâminas delgadas. Considerando que a espessura de uma lâmina delgada é constante, a porcentagem volumétrica é representada pelas áreas relativas em que cada mineral constituinte ocupa na lâmina delgada. Classificação de rochas ígneas - 48 - Q Pl Kf BiQ Pl Kf BiQ Pl Kf Bi Q Kf Bi Pl Q Kf Bi A - passo 1 B - passo 2 C - passo 3 E - passo 5D - passo 4 Q Kf Pl Bi = = 1 0 = 0 = 0 Q Q Q Q Kf Kf Kf Kf Pl Pl Pl Pl Bi Bi Bi Bi = = = = = = = = 2 2 2 2 0 0 0 1 = 0 = 0 = 0 = 0 = 0 = 1 = 2 = 2 Fig. 3.13. Procedimento de análise modal quantitativa, de (A) para (E), conforme movimento da charriot de passo. Existem duas maneiras de análises modais de lato sensu: 1) semiquantitativa; 2) quantitativa. A análise semiquantitativa, chamada também de moda por visada, é o método para reconhecer a abundância aproximada dos minerais por simples visão da lâmina delgada através da comparação com a folha padrão (Fig. 3.12). Normalmente, são realizadas a visada de 10 partes não superpostas seqüenciadas em uma lâmina. Em cada parte, são examinados 4 quadrantes, sendo total 40 quadrantes. A média das modas examinada nos 40 quadrantes representa o resultado final da análise semi-quanitativa. Este método serve para uma rápida observação por fins de caracterização aproximada de composição mineralógica de rochas ígneas, podendo examinar uma lâmina em 30 minutos. Entretanto, mesmo para os examinadores altamente treinados, é difícil obter a precisão melhor do que 5 %, desta forma, o referido método não deve ser utilizado para classificação de rochas para fins de pesquisa científica. A análise modal quantitativa, ou seja, simplesmente análise modal, é a análise pontual dos minerais localizados no centro exato da imagem do microscópio, que se situa no cruzamento dos retículos (Fig. 3.13 A). Após o registro do mineral, desloca-se a platina em uma determinada distância, utilizando-se o charriot de passo da platina do microscópio. Nesta nova posição, o mineral localizado no cruzamento dos retículos é analisado (Fig. 3.13 B). Caso o cruzamento dos retículos indique o mesmo mineral, este mineral é computado novamente. Desta forma, as análises continuam até o final da coluna (ou linha; Fig. 3.13 C, D, E). Ao final da coluna (ou linha), efetua- se o deslocamento horizontal (vertical). Através deste processo, a lâmina delgada é analisada na forma de varredura. A soma dos pontos computados para cada mineral representa abundância relativa do mineral em volume, e a porcentagem corresponde à moda. O número de ponto examinado é variável, conforme objetivo científico. Em geral, a análise é realizada com um total de 1000 pontos por lâmina. A precisão relativa desta análise, no caso de 1000 pontos, é melhor do que 1 %, podendo chegar até 0.1 %, conforme homogeneidade textural da rocha analisada. Somente o resultado da análise modal quantitativa pode ser utilizado para classificação científica de rochas ígneas, utilizando-se as nomenclaturas, tal como de IUGS (Streckeisen, 1973). Durante a análise modal, o pesquisador deve identificar todos os minerais que se localizam no cruzamento dos retículos, entretanto, existem casos difíceis. Como por exemplo, feldspato Classificação de rochas ígneas - 49 - HCl concentrado vaporde HCl lâmina sem cobertura corante lâmina delgadalâmina delgada A - gelatinização B - coloração C - cobertura Fig. 3.14. Método para coloração de feldspatóides: (A) gelatinização da superfície de feldspatóides por vapor de HCl; (B) aplicação do colorante na superfície dos minerais gelatinizados; (C) lavagem e cobertura da lâmina. alcalino e nefelina, incluídos em rochas nefelina sieníticas e fonolíticas, possuem aspectos ópticos similares, podendo ser confusos quando ângulo de corte do mineral é desfavorável para identificação. Uma solução deste problema freqüentemente utilizada é a coloração de nefelina. Este método pode ser aplicado tanto para amostras de mão, quanto para lâminas delgadas. Obviamente, a lâmina delgada a ser submetida ao processo de coloração não deve ser coberta. A coloração é efetuada por duas etapas: 1) gelatinização da superfície de nefelina por ataque químico de ácido; 2) infiltração do colorante na superfície gelatinizada (Fig. 3.14). A espécime é exposta ao valor de HCl concentrado durante 1 a 2 minutos, o tempo suficiente para gelatinizar a superfície de nefelina. Em seguida, uma gota de azul de metileno é espalhada na superfície do espécime durante 1 a 2 minutos para que este corante penetre na superfície gelatinizada. Após a infiltração, a espécime é lavada em água para remover o corante que está cobrindo a superfície dos minerais não gelatinizados. Este método é muito eficiente para análise modal de rochas nefelina sieníticas e fonolíticas, entretanto, não é perfeito. Junto com a nefelina, os feldspatóides originados de alteração de nefelina, tais como natrolita e cancrinita, são coloridos. Entretanto, certos minerais de alteração de feldspato alcalino, também, são coloridos. Se a gelatinização é imperfeita, a coloração da nefelina se torna heterogênea. Existe ainda, o problema do corante que se infiltrou ao longo das fraturas de minerais, que é difícil de ser eliminado através da simples lavagem. Desta forma, a identificação deve ser realizada junto com outras propriedades ópticas. No caso de rochas graníticas, o feldspato alcalino potássico é distinguido de plagioclásio através da coloração com o auxílio de HF e nitrato de cobalto. Estes reagentes são de alto custo e de tratamento difícil. Além disso, existe uma facilidade de distinguir feldspato alcalino e plagioclásio em lâminas delgadas por meios ópticos. Desta forma, a coloração é utilizada apenas em casos especiais, tal como análise modal semiquantitativa de amostras de mão para rochas de granulometria muito grande. 3.4. Classificação quantitativa pela nomenclatura Até o presente, vários autores propuseram nomenclaturas para classificação quantitativa de rochas ígneas. Essas propostas são subdivididas em dois grupos principais: 1) classificação clássica européia, que se baseia principalmente no índice de cor, conveniente para classificação de rochas mesocráticas e melanocráticas; 2) classificação moderna americana, que se baseia principalmente na proporção relativa entre quartzo, feldspato alcalino, plagioclásio e nefelina, Classificação de rochas ígneas - 50 - adequada para classificação de rochas leucocráticas. Atualmente, ambas as classificações são utilizadas, porém no Brasil, a classificação moderna é altamente preferida. 3.4.1. Classificação clássica com base no índice de cor O índice de cor representa semiquantitativamente o teor de FeO e MgO em rochas ígneas. Durante resfriamento magmático, os minerais acessórios, apatita, magnetita, etc., tendem a se cristalizar em primeiro lugar em alta temperatura , os minerais máficos, olivina, ortopiroxênio, clinopiroxênio, etc., em segundo lugar em temperatura média, e os minerais félsicos, plagioclásio, feldspato alcalino, quartzo, etc., no último lugar em baixa temperatura. Entretanto, o plagioclásio se cristaliza em uma ampla faixa de temperatura. Os minerais cristalizados possuem composição química diferente do magma , sendo normalmente mais máfica, e se decantam na base da câmara magmática devido ao peso específico superior à do magma. Desta forma, o magma residual muda de sua composição de máfica para félsica, formando uma série de rochas ígneas. De acordo com o resfriamento e cristalização parcial do magma, a composição muda de basáltica, andesítica, dacítica e riolítica. A evolução química do magma por meio da decantação dos minerais cristalizados é denominada cristalização fracionada (Fig. 3.15). Ol OlOlOlOl Opx Opx Opx Opx Cpx Cpx Cpx Hb Hb Bi melt basáltico melt andesítico melt andesítico melt dacítico melt riolítico A B C D E F alta temperatura baixa temperatura félsica básica composição original ácida máfica fracionada de ca nt aç ão d os m in er ai s m áf ic osmelt de magma primário Ol Mt Q: quartzo Kf: feldspato potássico (microclina) Bi: biotita Fig. 3.15. Processo esquemático de cristalização fracionada do magma primário basáltico segundo a série Ca-calcaina. Através do resfriamento e conseqüente cristalização dos res- pectivos minerais, o magma primário basáltico, que é máfico (alto FeO e MgO) e básico (baixo SiO 2 ), fraciona-se em félsico (baixo FeO e MgO) e ácido (alto SiO 2 ), diminuindo a quantidade do líquido residual. A - granito B - gabro 2 cm Fig. 3.16. Cor macroscópica geral de: (A) granito; (B) gabro. Classificação de rochas ígneas - 51 - De acordo com avanço da cristalização fracionada, as rochas derivadas do magma em evolução tendem a diminuir o índice de cor (Fig. 3.16). Desta forma, rochas melanocráticas são relacionadas a magmas de alta temperatura, de composição máfica, que é próxima à do magma primário. Por outro lado, rochas leucocráticas são relacionadas a magmas de baixa temperatura, de composição félsica, correspondente ao estágio avançado de cristalização fracionada. Por esta razão, o índice de cor é um parâmetro indicador da temperatura e do grau de evolução química do magma, podendo ser um importante parâmetro para classificação de rochas ígneas. Para classificação de rochas ígneas, as categorias melanocrática, mesocrática e leucocrática definidas por Shand não são práticas. Conforme esta classificação, muitas rochas se encaixam na categoria leucocrática, havendo poucas rochas melanocráticas. Além disso, a maioria de basalto e gabro é classificada como rochas mesocráticas, e não, melanocráticas. Desta forma, são utilizadas as categorias: 1) félsica, 0<M<20; 2) intermediária, 20<M<40; 3) máfica, 40<M<70; 4) ultramáfica, 70<M<100. Conforme resfriamento magmático, os minerais máficos cristalizados muda de olivina, hiperstênio, augita, hornblenda e biotita. Por outro lado, o plagioclásio cristaliza-se em uma ampla faixa, variando-se sua composição química: de plagioclásio cálcio (bytownita, labradorita) 50 90 10 80 70 60 40 30 20 qu an tid ad e m od al ( % ) m in er ai s fé ls ic os minerais máficos Pl Af Qcálcico sódico BiHb Cpx Opx Ol 10 K O2 Na O2 Al O2 3 K O2 Na O2 MgO CaO FeO + Fe O2 3 45 5245 66SiO (% em peso)2 20 15 5 0 el em en to s pr in ci pa is (% e m p es o) 35 10índice de cor félsica ácida intermediáriamáfica básica intermediária riolito granito-pórfiro granito M SiO2 fina média grossa escura mais densa (3.1) clara menos densa (2.6) andesitobasalto porfirito dioritogabro dolerito Fig. 3.17. Minerais constituintes de rochas da série Ca-alcalina. Classificação de rochas ígneas - 52 - para plagioclásio sódico (oligoclásio). No estágio final, cristalizam-se quarto e feldspato alcalino potássico (Fig. 3.17). A maioria das rochas ígneas encontradas no campo segue a esta série de cristalização fracionada, denominada série Ca-alcalina. A expressão “sériecalco-alcalina” não é recomendada devido a que o prefixo “calco” significar fogo. As rochas ígneas desta série são encontradas principalmente nas regiões continentais, sobretudo nas cordilheiras e arcos de ilha. Existe uma tendência geral de que tanto maior for o índice de cor, quanto menor será teor de SiO 2 . De acordo com o teor de SiO 2 , rochas ígneas são classificadas quimicamente em: rochas ultrabásicas (SiO 2 <45%), básicas (52%<SiO 2 <45%), rochas intermediárias (66%<SiO 2 <52%) e rochas ácidas (SiO 2 >66%). Esta classificação por teor da sílica é válida apenas para as rochas ígneas da série Ca-alcalina. Neste sentido, basalto é uma rocha máfica e básica, e granito é uma rocha félsica e ácida. A grosso modo, as rochas ultrabásicas, básicas, intermediárias e ácidas acima definidas correspondem respectivamente às categorias ultramáfica, máfica, intermediária e félsica utilizadas na Tabela 3.3. A Tabela 3.3A. apresenta classificação de rochas da série Ca-alcalina baseada no índice de cor. As rochas ultramáficas não estão incluídas nesta nomenclatura, devido à ocorrência muito rara na crosta terrestre. Além disso, as nomenclaturas para rochas máficas e ultramáficas, propostas até hoje, são complexas, sendo difíceis a serem organizadas para ser unificadas. As rochas ígneas de granulometria ou textura diferente , mas de composição mineralógica ou química similar, são chamadas como pertencentes do mesmo clã. Como por exemplo, granito e riolito pertencem a um clã, e gabro e basalto pertencem a outro clã. O magma primário basáltico da série Ca-alcalina, fonte da maioria das rochas ígneas de região continental, tem teor de sílica suficientemente alto em relação aos álcalis, Na 2 O e K 2 O. Por isso, a sílica em excesso se cristaliza na forma de quartzo no último estágio da cristalização fracionada. Tal propriedade geoquímica é chamada de caráter não alcalino. Por outro lado, apesar de poucas ocorrências no mundo, existem rochas ígneas derivadas a partir de um outro magma primário basáltico, que contém alto teor de álcalis relativo à sílica. Devido à insuficiência da sílica no magma primário, no estágio final, cristalizam-se feldspatóides, representados por nefelina, ao invés de quartzo (Fig. 3.18). Tal propriedade é chamada de Q Ne A B 2 cm 2 cm Fig. 3.18. Quartzo (A, mineral com brilho vítreo) e nefelina (B, mineral xenomórfico marrom escuro, cinza escura na fotografia), incluídos respectivamente em granito e nefelina sienito. Classificação de rochas ígneas - 53 - Tabela 3.3. Nomenclatura de classificação simples de rochas ígneas com base no índice de cor e granulometria, segundo Miyashiro & Kushiro (1975). Nota-se que certos autores recomendam abolição da categoria hipabissal (granulometria média). A) Rochas com feldspatos e/ou quartzo: série Ca-alcalina e uma parte da série toleítica Categoria máfica intermediária félsica 70 > M > 40 40 > M > 20 M < 20 Feldspato Pl cálcico Pl intermediário plagioclásio sódico e/ou potássico Kf < Pl Kf > Pl Fina basalto andesito dacito riolito Média dolerito quartzo diorito-pórfiro granodiorito-pórfiro granito-pórfiro Grossa quartzo gabro quartzo diorito granodiorito granito B) Rochas ígneas com feldspatos e/ou feldspatóides: série alcalina Categoria máfica intermediária félsica 70 > M > 40 40 > M > 20 M < 20 Feldspato Pl cálcico Pl intermediário Pl sódico e/ou Af Fina basanito, olivina nefelinito, melilitito tefrito fonolito Média teschenito nefelina monzonito-pórfiro tinguaito Grossa theralito, essexito, ijolito nefelina monzonito nefelina sienito C) Rochas ígneas com feldspatos, sem quartzo e sem feldspatóides: uma parte da série toleítica e uma parte da série alcalina. Categoria máfica intermediária félsica 70 > M > 40 40 > M > 20 M < 20 Feldspato Pl cálcico Pl intermediário Pl. sódico e/ou Kf Fina basalto, olivina basalto andesito traquítico, mugearito traquito Média dolerito, olivina dolerito monzonito-pórfiro sienito-pórfiro Grossa gabro, olivina gabro monzonito álcali sienito M: índice de cor Kf: feldspato alcalino potássico Af: feldspato alcalino Pl: plagioclásio caráter alcalino. Esta série de cristalização fracionada, caracterizada por nefelina e outros minerais alcalinos peculiares, é chamada de série alcalina. As rochas desta série são observadas nas ilhas vulcânicas em região oceânica e riftes continentais. A Tabela 3.3B apresenta classificação de rochas da série alcalina baseada no índice de cor. Além de típicas rochas da série Ca-alcalina e da série alcalina, ocorrem rochas félsicas que não contêm quartzo nem nefelina, podendo ser classificadas geoquimicamente como da série intermediária entre as duas. A origem dos magmas deste grupo é complicada, sendo que, uma parte é da série alcalina, e outra parte é da série toleítica. A série toleítica é uma outra série de cristalização fracionada de caráter não alcalino, diferente da série Ca-alcalina. Conforme a cristalização fracionada, o magma basáltico da série toleítica tende a aumentar a proporção FeO/MgO, ao invés de diminuir o teor total de MgO + FeO, ou seja, o índice de cor. Devido a ser de caráter não alcalino, as rochas da série toleítica altamente fracionadas contêm quartzo. As Classificação de rochas ígneas - 54 - rochas desta série são encontradas na crosta oceânica. A Tabela 3.3C apresenta classificação de rochas da série sem quartzo e sem nefelina. O detalhamento sobre cristalização fracionada da série Ca-alcalina e de outras séries será explicado nos capítulos posteriores. De grosso modo, quase todos os autores adotam basicamente os nomes e seus significados conceituais de rochas ígneas conforme a Tabela 3.3. Porém, há pequenas divergências entre os autores. Como por exemplo, sobre o limite entre basalto e andesito, existem alguns critérios diferentes: andesito possui maior teor de sílica (acima de 52, 52.5, ou 53.5 %, depende de autores), menor índice de cor (30, 35, 37.5, 40, depende de autores), ou composição de plagioclásio mais sódico (andesina; Ab>50). Trabalhos recentes tendem adotar composição química da massa fundamental como o critério. 3.4.2. Classificação pela IUGS Os nomes e definições de rochas ígneas foram desenvolvidos separadamente em cada escola tradicional. Em conseqüência disso, ocorreu grande confusão de nomes de rochas ígneas, incluindo vários sinônimos, homônimos e nomes desnecessários. Os critérios de classificação também foram diversos. A Subcomissão da International Union of Geological Sciences (IUGS) tentou a unificação dos nomes de rochas ígneas durante décadas, e adotou a composição mineralógica quantitativa e a granulometria semiquantitativa como únicos critérios de classificação de rochas ígneas, não dependendo da gênese, modo de ocorrência geológica e textura específica, denominada classificação descritiva quantitativa. Desta forma, as rochas que pertencem a uma categoria, de mesmo nome, podem ter mais de uma gênese. Com este conceito básico, a Subcomissão apresentou uma nomenclatura de classificação descritiva de rochas ígneas (Streckeisen, 1976), conhecida popularmente como diagrama de Streckeisen. Os nomes a serem adotados foram definidos de acordo com aqueles encontrados na literatura. Atualmente, a classificação da IUGS se tornou o método mais utilizado do mundo, sobretudo para rochas félsicas. Os principais parâmetros de classificação é a abundância volumétrica (moda) relativa dos minerais félsicos, isto é, quartzo, feldspato alcalino e plagioclásio. Tal método foi utilizado pelas escolas americanas, tais como Johannsen (1931), sendo diferente da classificação clássica da Europa, que adota o índice de cor ou composição do plagioclásio como principal parâmetro classificador. Apesar da diferença dos critérios, a classificação da IUGS se correlaciona bem com as categorias definidas pelaclassificação clássica. Segundo a classificação da IUGS, minerais constituintes de rochas ígneas são subdivididos nos seguintes 5 tipos: Q - Minerais de sílica, SiO 2 ; quartzo, tridimita e cristobalita A - Feldspato alcalino, inclusive albita altamente sódica (0<An<5); ortoclásio, microclina, albita pertítica, anortoclásio, sanidina, etc. P - Plagioclásio não albítico (5 < An < 100); plagioclásio geral e escapolita F - Feldspatóides (fóides); Nefelina, leucita, pseudoleucita, analcima, sodalita, cancrinita, etc. M - Minerais máficos, opacos, e acessórios; biotita, anfibólios, piroxênios, olivina, etc.; magnetita, ilmenita, pirita, etc.; zircão, apatita, titanita, epidoto, allanita, granada, melilita, carbonatos primários, etc. Classificação de rochas ígneas - 55 - O teor de cada grupo é apresentado em porcentagem modal. São utilizadas também as seguintes abreviações. As proporções são expressas em porcentagem: P/A+P - Plagioclásio relativo a feldspato total em porcentagem A/A+P - Feldspato alcalino relativo a feldspato total em porcentagem Pl - Plagioclásio não albítico Bi - Biotita, inclusive flogopita Gr - Granada Hlb - Hornblenda (anfibólio comum) Cpx - Clinopiroxênio (representado por augita) Opx - Ortopiroxênio (representado por hiperstênio) Px - Piroxênio, Cpx + Opx Ol - Olivina Opq - Minerais opacos Para representar a composição química do feldspato alcalino, utilizam-se as seguintes abreviações: K/Na+K - 100 ´ K/(Na+K) moleculares Na/Na+K - 100 ´ Na/(Na+K) moleculares As rochas ígneas com parâmetro M, ou seja, de índice de cor inferior a 90 são classificadas pelo diagrama QAPF. As rochas máficas, tais como gabro e monzogabro, são subclassificadas pela composição de plagioclásio e abundância relativa de minerais máficos por meio dos diagramas Pl-Px-Ol, Pl-Opx-Cpx e Pl-Px-Hbl. As rochas com parâmetro M superior a 90, denominadas de rochas ultramáficas, são classificadas pelos diagramas Ol-Opx-Cpx e Ol- Px-Hbl. O diagrama QAPF é constituído com base nos teores modais relativos dos principais minerais incolores, e não, pela porcentagem modal absoluta destes minerais. Portanto, os três parâmetros utilizados para a projeção, Q, F e P/A+P, devem ser recalculados, excluindo os minerais máficos e opacos: Q novo = 100 ´ Q original / (Q original + A original + P original + F original) F novo = 100 ´ F original / (Q original + A original + P original + F original) P/A+P = 100 ´ P original / (A original + P original) A maioria das rochas ígneas encontradas no campo possui M inferior a 90, e portanto, é submetida à classificação desta nomenclatura. Entretanto, o presente diagrama, na realidade, é adequado para a classificação de rochas ígneas félsicas, ou seja, rochas originadas de magmas altamente fracionados, porém, não é muito próprio para rochas máficas e intermediárias. Devido à incompatibilidade termodinâmica entre os minerais de sílica e feldspatóides, o diagrama é dividido em dois triângulos, QAP (superior) e FAP (inferior). O triângulo QAP é utilizado para classificação das rochas não alcalinas e, o FAP, para as rochas alcalinas. A partir do valor recalculado dos parâmetros Q ou F, a rocha ígnea é classificada em um dos seguintes grupos: I (Q>60); II (20<Q<60); III (5<Q<20); IV (0<Q<5). VI (0<F<10); VI (10<F<60); VII (F>60). Em seguida, a rocha é classificada em cada categoria por meio da proporção P/A+P (Fig. 3.19; Tabela 3.4A, 3.4B). A proporção P/A+P representa Classificação de rochas ígneas - 56 - 1a 1b 1c 2 3a 3b 4 5 6* 7* 8* 9* 10* 6 7 8 9 10 6' 7' 8' 9' 10' 11 12 13 14 15a 15b 15c Q F A P 90 60 20 5 10 35 65 90 10 50 60 90 Classificação de rochas ígneas - 57 - Fig. 3.19. Classificação de rochas ígneas félsicas (M<90) por meio da nomenclatura QAPF, segundo Streckeisen (1976). As rochas dioríticas e gabróicas, que se enquadram nos campos 9*, 10*, 9, 10, 9’ e 10’ são subclassificadas de acordo com composição do plagioclásio incluído. No caso das rochas com feldspatóides, 6’, 7’, 8’, 9’, 10’, 11, 12, 13, 14 e 15, utiliza-se, também, o nome junto com o feldspatóide presente, tais como álcali sienito com nefelina, álcali nefelina sienito, nefelina sienito, nefelina monzonito, nefelina monzogabro, etc. As rochas félsicas com hiperstênio (rochas charnockíticas) são normalmente rochas metamórficas de origem ígnea granítica, portanto, muito pouco utilizada. Em detalhe, refere-se à Tabela 3.2 Granulometria grossa Granulometria fina Rochas com hiperstênio 1a quartzolito 1b quartzo granito 1c quartzo granodiorito 2 álcali granito álcali riolito álcali charnockito 3a granito (sienogranito) riolito charnockito 3b granito (monzogranito) riodacito charnockito 4 granodiorito dacito opdalito 5 M > 10, tonalito, M < 10, trondhjemito quartzo andesito enderbito 6* quartzo álcali sienito quartzo álcali traquito hiperstênio álcali sienito 7* quartzo sienito quartzo traquito hiperstênio sienito 8* quartzo monzonito quartzo latito hiperstênio monzonito 9* An < 50, quartzo monzodiorito An > 50, quartzo monzogabro andesito jotunito 10* An < 50, quartzo diorito An > 50, quartzo gabro basalto hiperstênio diorito 6 álcali sienito com quartzo álcali traquito com quartzo 7 sienito com quartzo traquito com quartzo 8 monzonito com quartzo latito com quartzo 9 An < 50, monzodiorito com quartzo An > 50, monzogabro com quartzo andesito com quartzo 10 An < 50, diorito An > 50, gabro andesito, basalto 6’ álcali sienito com fóides álcali traquito com fóides 7’ sienito com fóides traquito com fóides 8’ monzonito com fóides latito com fóides 9’ An < 50, monzodiorito com fóides An > 50, monzogabro com fóides andesito traquítico com fóides 10’ An < 50, diorito com fóides An > 50, quartzo gabro com fóides basalto traquítico com fóides 11 fóide sienito fonolito 12 fóide monzosienito fonolito tefrítico 13 An < 50, fóide monzodiorito An > 50, fóide monzogabro basalto, fóide basalto 14 An < 50, fóide diorito An > 50, fóide gabro basanito 15a foidito foiaítico foidito fonolítico 15b foidito teralítico foidito tefrítico 15c foidito foidito extrusivo Classificação de rochas ígneas - 58 - Tabela 3.4. Detalhe da classificação de rochas félsicas (M<90) por meio do diagrama QAPF, segundo Streckeisen (1976). A. Rochas de granulometria grossa. No caso das rochas com feldspatóides, (6’), (7’), (8’), (9’), (10’), (11), (12), (13), (14) e (15), utiliza-se, também, o nome junto com o feldspatóide presente, tais como álcali sienito com nefelina, álcali nefelina sienito, nefelina sienito, nefelina monzonito, nefelina monzogabro, etc. I - Q > 60 de minerais incolores Q > 90 (1a) quartzolito (silexito) Q = 60 a 90, P/A+P < 65 (1b) quartzo granito Q = 60 a 90, P/A+P > 65 (1c) quartzo granodiorito II - Q = 20 a 60 de minerais incolores P/A+F = 0 a 10 (2) álcali feldspato granito (álcali granito) P/A+F = 10 a 35 (3a) granito 3a (granito do sentido estreito da definição tradicional da Inglaterra) P/A+F = 35 a 65 (3b) granito 3b (adamellito) P/A+P = 65 a 90 (4) granodiorito P/A+P = 90 a 100 (5) 1. M > 10 tonalito 2. M < 10 trondhjemito III - Q = 5 a 20 de minerais incolores P/A+P = 0 a 10 (6*) quartzo álcali feldspato sienito P/A+P = 10 a 35 (7*) quartzo sienito P/A+P = 35 a 65 (8*) quartzo monzonito P/A+P = 65 a 90 (9*) 1. Composição do Pl - An >50 quartzo monzodiorito 2. Composição do Pl -An <50 quartzo monzogabro P/A+P = 90 a 100 (10*) 1. Composição do Pl -An >50 quartzo diorito, quartzo anortosito 2. Composição do Pl -An <50 quartzo gabro IV - Q = 0 a 5 de minerais incolores P/A+P = 0 a 10 (6) álcali feldspato sienito (álcali sienito com quartzo) P/A+P = 10 a 35 (7) sienito (sienito com quartzo) P/A+P = 35 a 65 (8) monzonito(monzonito com quartzo) P/A+P = 65 a 90 (9) 1. Composição do Pl - An < 50 monzodiorito (monzodiorito com quartzo) 2. Composição do Pl - An > 50 monzogabro (monzogabro com quartzo) P/A+P = 90 a 100 (10) 1. Composição do Pl - An < 50 diorito (diorito com quartzo), anortosito (anortosito com quartzo) 2. Composição do Pl - An > 50 gabro (gabro com quartzo) V - F = 0 a 10 de minerais incolores P/A+P = 0 a 10 (6’) álcali feldspato sienito com fóides P/A+P = 10 a 35 (7’) sienito com fóides P/A+P = 35 a 65 (8’) monzonito com fóides P/A+P = 65 a 90 (9’) 1. Composição do Pl - An < 50 monzodiorito com fóides 2. Composição do Pl - An > 50 monzogabro com fóides P/A+P = 90 a 100 (10’) 1. Composição do Pl - An < 50 diorito com fóides 2. Composição do Pl - An > 50 quartzo gabro com fóides VI - F = 10 a 60 de minerais coloridos P/A+P = 0 a 10 (11) fóide sienito P/A+P = 10 a 50 (12) fóide monzosienito P/A+P = 50 a 90 (13) 1. Composição do Pl - An < 50 fóide monzodiorito (essexito) 2. Composição do Pl - An > 50 fóide monzogabro P/A+P = 90 a 100 (14) 1. Composição do Pl - An < 50 fóide diorito 2. Composição do Pl - An > 50 fóide gabro (teralito, teschenito) VII - F = 60 a 100 de minerais incolores F < 90, P/A+P < 50 (15a) foidito foiaítico F < 90, P/A+P > 50 (15b) foidito teralítico F > 90 (15c) foidito Classificação de rochas ígneas - 59 - B. Rochas de granulometria fina. No caso das rochas com feldspatóides, (6’), (7’), (8’), (9’), (10’), e (15), utiliza-se, também, o nome junto com o feldspatóide presente, tais como álcali traquito com nefelina, nefelina latito, nefelina andesito, nefelina basalto, etc. As rochas correspondentes a (11), (12), (13), (14) possuem próprios nomes que justificam presença de feldspatóides. I - Q > 60 de minerais incolores Não há definição devido à inexistência das rochas desta categoria II - Q = 20 a 60 de minerais incolores P/A+F = 0 a 10 (2) álcali feldspato riolito (álcali riolito, liparito) P/A+F = 10 a 35 (3) riolito P/A+F = 35 a 65 (3) riodacito P/A+P = 65 a 90 (4) dacito P/A+P = 90 a 100 (5) quartzo andesito III - Q = 5 a 20 de minerais incolores P/A+P = 0 a 10 (6*) quartzo álcali feldspato traquito (quartzo álcali traquito) P/A+P = 10 a 35 (7*) quartzo traquito P/A+P = 35 a 65 (8*) quartzo latito P/A+P = 65 a 90 (9*) andesito P/A+P = 90 a 100 (10*) basalto IV - Q = 0 a 5 de minerais incolores P/A+P = 0 a 10 (6) álcali feldspato traquito com quartzo (álcali traquito com quartzo) P/A+P = 10 a 35 (7) traquito (traquito com quartzo) P/A+P = 35 a 65 (8) latito (latito com quartzo) P/A+P = 65 a 90 (9) andesito P/A+P = 90 a 100 (10) andesito, basalto V - F = 0 a 10 de minerais incolores P/A+P = 0 a 10 (6’) álcali feldspato traquito com fóides P/A+P = 10 a 35 (7’) traqui to com fóides P/A+P = 35 a 65 (8’) latito com fóides P/A+P = 65 a 90 (9’) andesito com fóides (andesito traquítico com fóides) P/A+P = 90 a 100 (10’) basalto com fóides (basalto traquítico com fóides) VI - F = 10 a 60 de minerais coloridos P/A+P = 0 a 10 (11) fonolito P/A+P = 10 a 50 (12) fonolito tefrítico P/A+P = 50 a 90 (13) tefrito fonolítico (basalto, fóide basalto) P/A+P = 90 a 100 (14) tefrito, basanito VII - F = 60 a 100 de minerais incolores F < 90, P/A+P < 50 (15a) foidito fonolítico F < 90, P/A+P > 50 (15b) foidito tefrítico F > 90 (15c) foidito extrusivo C. Rochas félsicas com ortopiroxênio (hiperstênio), ou seja rochas charnockíticas Campo no diagrama QAPF Nome da rocha 2 hiperstênio álcali feldspato granito = álcali feldspato charnockito 3 hiperstênio granito = charnockito 4 hiperstênio granodiorito = opdalito ou charnoenderbito 5 hiperstênio tonalito = enderbito 6*, 6, 6’ hiperstênio álcali feldspato sienito 7*, 7, 7’ hiperstênio sienito 8*, 8, 8’ hiperstênio monzonito 9*, 9, 9’ monzonorito, hiperstênio monzodiorito = jotunito 10*, 9, 9’ norito, hiperstênio diorito Classificação de rochas ígneas - 60 - semiquantitativamente a temperatura do magma, ou seja, grau de cristalização fracionada, isto é, as rochas com alta proporção P/A+P são originadas de magmas de alta temperatura. Na classificação da IUGS, este parâmetro substitui a função do índice de cor da classificação tradicional. Algumas categorias com alto P/A+P são subclassificadas pela composição do plagioclásio. As rochas félsicas de caráter não alcalino se encaixam normalmente nos campos 3a, 3b e 4, félsicas e intermediárias no campo 10*, e intermediárias e máficas no campo 10. As rochas félsicas de caráter alcalino se encaixam normalmente nos campos 6’ e 11, e as máficas alcalinas no campo 10’. As rochas que se encaixam nos outros campos são raras, sendo que, as dos campos 1 e 15 normalmente não são rochas ígneas ortomagmáticos. O granito de definição tradicional da Inglaterra se encaixa neste diagrama de classificação no campo 3a. Normalmente, tal tipo de granito possui uma boa aparência visual de cor avermelhada devida à abundância de feldspato alcalino, sendo adequada para usos ornamentais. O “Granito Vermelho Capão Bonito” (nome comercial) é um exemplo brasileiro. Entretanto, as rochas desta categoria não são encontradas freqüentemente. Por outro lado, as rochas similares com P/A+P maior, que se projetam no campo 3b, ocorrem mais freqüentemente. Antigamente, as rochas do campo 3b eram chamadas como “granodiorito”, “adamellito” (nome utilizado em certas escolas da Europa) ou “quartzo monzonito” (nome utilizado em algumas escolas americanas), de acordo com cada escola. Os petrólogos europeus não ingleses chamavam as rochas dos campos 3a e 3b como “granito”. Portanto, a IUGS recomendou os nomes “granito 3a” e “granito 3b”, ou “sienogranito” e “monzogranito”. Junto com as rochas alcalinas típicas com feldspatóides abundantes, tal como, fóide sienito do campo 11, conhecido popularmente como nefelina sienito, ocorrem comumente as rochas sieníticas com baixo teor de feldspatóides, tal como álcali feldspato sienito com fóides do campo 6’, chamada popularmente como pulaskito. Além disso, encontram-se, também, as rochas sem feldspatóides e sem quartzo, tal como álcali feldspato sienito, álcali feldspato sienito com quartzo do campo 6, e quartzo álcali feldspato sienito do campo 6*. O termo “nordmarkito” indica a rocha desta categoria, porém, tende a ser menos utilizado. Estas rochas freqüentemente constituem um corpo comum, cuja parte central é constituída pela rocha com nefelina, e a borda, pela rocha com quartzo, com passagem gradativa. Essas rochas normalmente não possuem plagioclásio, e são chamadas geneticamente como rochas alcalinas, até mesmo aquelas que contêm quartzo. Tais rochas são raras no mundo, porém, são comuns no Brasil ocorrendo na forma de corpos intrusivos quilométricos, sobretudo nas regiões litorâneas dos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo. Nesses complexos intrusivos, a rocha mais comumente encontrada é álcali sienito sem quartzo e sem nefelina, que se projetam no vértice A do diagrama QAPF. As rochas félsicas não alcalinas, ou seja, rochas graníticas, chamadas popularmente como granitóides, normalmente contêm plagioclásio e a maioria do sódio presente na rocha está incluída neste mineral. O termo “granitóide” é utilizado atualmente para tais rochas ígneas, e não, para as rochas graníticas metamorfoseadas. Desta forma, o feldspato alcalino é deficiente em sódio, tornando-se altamente potássico (Na/Na+K = 10 a 25), demonstrando textura pertítica de peixe ou chama. Por outro lado, nas rochas alcalinas félsicas, ou seja, rochas sieníticas, o cálcio está presente em minerais máficos, tais como clinopiroxênio e anfibólio. Devido à escassez de cálcio disponível, o sódio não pode formar plagioclásio, sendo obrigado a entrar no feldspato alcalino. Desta forma, o feldspato alcalino se torna razoavelmente sódico (Na/Na+K = 40 a 60), apresentando texturade “interlocking perthite”. Classificação de rochas ígneas - 61 - As rochas do campo 2 possuem duas gêneses diferentes: 1) Rochas graníticas geneticamente não alcalinas que possuem baixa P/A+P, tais como alaskito (nome pouco utilizado); 2) rochas quartzo sieníticas geneticamente alcalinas com alto teor relativo de quartzo. A IUGS recomendou para as rochas de ambas as gêneses o nome “álcali feldspato granito”, “álcali granito” ou “granito 2”. Neste caso, a expressão “álcali” de “álcali granito” não significa gênese alcalina, mas sim, abundância de feldspato alcalino. O álcali feldspato granito de caráter não alcalino normalmente é altamente leucocrático, sendo considerado que o magma estava sob influência físico-química de materiais voláteis contidos no magma, sobretudo H 2 O. Desta forma, é interpretado geneticamente como uma rocha intermediária entre granito comum (3a, 3b) e pegmatito. A rocha ornamental “Granito Vermelho Itu” (nome comercial) é um exemplo (Fig. 3.20). Quando a influência de H 2 O é mais expressiva, ou seja, o magma é de caráter próximo ao magma pegmatítico, forma-se aplito. O aplito é uma rocha de composição granítica altamente leucocrática com muito baixo teor de biotita, composto predominantemente de microclina (feldspato alcalino potássico de baixa temperatura). Ocorrência típica de aplito é de veios de largura inferior a 1 m com granulometria inferior a 1 mm. Existem exemplos de veio de largura superior a 5 m constituído por aplito de granulometria milimétrico. Por outro lado, o álcali feldspato granito de caráter alcalino é encontrado no Complexo Alcalino Intrusivo de Itatiaia, onde se observa uma passagem gradativa de nefelina sienito, álcali sienito, quartzo sienito e álcali feldspato granito. O Silexito que se encontra no topo do diagrama QAPF é uma rocha rara composta quase totalmente de quartzo e calcedônia. Esta rocha não é tipicamente magmática, mas no estágio de pegmatito ou hidrotermal. O trondhjemito é uma rocha leucocrática (M < 10) com alta P/A+P (> 90), que se encontra nos terrenos arqueanos. A composição do plagioclásio é de oligoclásio a andesina. O essexito se encaixa na categoria de nefelina monzodiorito e o teralito e teschenito, de nefelina gabro e analcima gabro. Além dos diagramas para classificação de rochas ígneas comuns, a IUGS apresentou uma nomenclatura para rochas félsicas com ortopiroxênio (hiperstênio), isto é, rochas charnockíticas (Tabela 3.4C). Entretanto, hoje em dia, as rochas charnockíticas não são consideradas como rochas ígneas, mas sim, metamórficas de origem ígnea com alto grau metamórfico, correspondentes à fácies de granulito. Desta forma, a nomenclatura é pouco utilizada. Conforme o texto anterior, o diagrama QAPF não é muito próprio para rochas intermediárias e máficas, que se projetam nos campos 9*, 9, 9’, 10*, 10 e 10’. Para classificação destas rochas, tipo dos minerais máficos e composição de plagioclásio são mais importantes. As rochas ultramáficas (M superior a 90), que não podem ser classificadas pelo diagrama QAPF, são A B C 2 cm 2 cm2 cm Fig. 3.20. Álcalis feldspato granito (granito 2) e rochas relacionadas: (A) álcali feldspato granito de caráter não alcalino, “Granito Vermelho Capão Bonito”, São Paulo; (B) álcali sienito com quartzo, “Granito Marrom Caldas”, Caldas, Minas Gerais; (C) álcali sienito com quartzo da Ilha de Vitória - SP. O mineral vermelho escuro (cinza na fotografia em preto e branco) do “Granito Vermelho Itu”, que ocupa cerca de 70 % do volume, é feldspato alcalino. Classificação de rochas ígneas - 62 - rochas ultramáficas anortosito gabrono rit o CpxOpx Pl ortopiroxenito clinopiroxenito rochas ultramáficas anortosito hornblenda gabronorito hornblenda gabro ga br o, n or ito ga br on or ito HlbPx Pl piroxenito Hornblendito rochas ultramáficas anortosito olivina gabro olivina gabronorito troctolito ga br o, n or ito ga br on or ito OlPx Pl piroxenito dunito gabronorito 90 10 10 10 90 55 10 10 10 90 10 5 10 10 A B C Fig. 3.21. Classificação de rochas máficas de granulometria grossa (rochas gabróicas) por meio das nomenclaturas segundo Streckeisen (1976): A) Pl - Px - Ol; B) Pl - Opx - Cpx; C) Pl - Px - Hlb. Tabela 3.5. Detalhe da classificação de rochas máficas de granulometria grossa (gabróicas), segundo Streckeisen (1976). A. Rochas gabróicas com plagioclásio, ortopiroxênio, clinopiroxênio e olivina, sem ou pouca hornblenda por meio do diagrama Pl - Px - Ol, sendo que Px corresponde a Opx + Cpx. C. Rochas gabróicas com plagioclásio, ortopiroxênio, clinopiroxênio e hornblenda, sem ou pouca olivina por meio do diagrama Pl - Px - Hlb, sendo que, Px corresponde a Opx + Cpx. I - Pl > 90 anortosito II - Pl = 10 a 90 rocha máfica (gabróicas) Hlb < 5 gabro, norito, gabronorito Px < 5 hornblenda gabro Hlb > 5, Px > 5 hornblenda gabronorito III - Pl < 10 rochas ultramáficas - piroxenitos e hornblenditos I - Pl > 90 anortosito II - Pl = 10 a 90 rocha máfica (gabróicas) Cpx < 5 norito Opx < 5 gabro Opx > 5, Cpx > 5 gabronorito III - Pl < 10 rochas ultramáficas - piroxenitos B. Rochas gabróicas com plagioclásio, ortopiroxênio e clinopiroxênio, sem ou pouca olivina e hornblenda por meio do diagrama Pl - Opx - Cpx. I - Pl > 90 anortosito II - Pl = 10 a 90 rocha máfica (gabróicas) Ol < 5 gabro, norito, gabronorito Px < 5 troctolito Ol > 5, Px > 5 olivina gabro, olivina gabronorito III - Pl < 10 rochas ultramáficas - peridotitos e piroxenitos Classificação de rochas ígneas - 63 - classificadas exclusivamente pelo teor relativo dos minerais máficos. Para essas rochas, a IUGS apresentou uma classificação por meio dos teores relativos de plagioclásio, olivina, ortopiroxênio e clinopiroxênio. O plagioclásio é o mineral félsico representativo das rochas máficas e ultramáficas, e a olivina, o ortopiroxênio e o clinopiroxênio são os minerais máficos desidratados mais comuns. Certas rochas gabróicas contêm considerável teor de hornblenda (anfibólio comum). Essas rochas são classificadas por meio de 4 grupos de mineral, isto é, plagioclásio, hornblenda, piroxênio (Px = Cpx + Opx) e olivina. As rochas que possuem a soma desses acima de 95 % são submetidas à classificação pelos diagramas triangulares Pl-Px-Ol, Pl-Opx-Cpx e Pl-Px-Hlb (Fig. 3.21A, 3.21B, 3.21C; Tabela 3.5A, 3.5B, 3.5C). Na projeção ao respectivo diagrama triangular, o valor modal de cada parâmetro classificatório deve ser recalculado, como por exemplo, no caso do diagrama Pl-Px-Ol: Pl novo = 100 ´ Pl original / (Pl original + Px original + Ol original) Px novo = 100 ´ Px original / (Pl original + Px original + Ol original) Ol novo = 100 ´ Ol original / (Pl original + Px original + Ol original) O método de projeção é igual aos diagramas triangulares convencionais. Embora a IUGS tenha apresentado o diagrama para rochas máficas de granulometria grossa, ainda não foi definida a nomenclatura para as rochas destes clãs de granulometria fina. Quando as rochas máficas possuem considerável teor de minerais acessórios, tais como biotita, granada, espinele e minerais opacos, o nome do mineral é acrescentado da seguinte forma: Gabro com menos de 5 % de granada - gabro com granada Com mais de 5 % de granada - granada gabro Com menos de 5 % de magnetita - gabro com magnetita Com mais de 5 % de magnetita - magnetita gabro A B dunito 90 lherzolito olivina websterito websterito 40 10 10 5 5 40 10 10 ortopiroxenito clinopiroxenito ol iv in a or to pi ro xe ni to ha rz be rg ito wehrlito olivina clinopiroxenito Opx Cpx pe rid ot ito pi ro xe ni to 5 dunito 90 40 10 10 55 40 10 10Opx +Cpx Hlb +Bi 5 pe rid ot ito pi ro xe ni to , ho rn bl en di to piroxenito hornblenda piroxenito hornblendito piroxênio hornblendito hornblenda peridotito olivina hornblendito ol iv in a pi ro xe ni to pi ro xê ni o pe rid ot ito piroxênio hornblenda peridotito olivina hornblenda piroxenito olivina piroxênio hornblendito Fig. 3.22. Classificação de rochas ultramáficas, com índice de com superior a 90, (M>90), por meio das nomenclaturas trigangulares F) Ol - Opx - Cpx e G) Ol - Px - Bi, segundo Streckeisen (1976). Classificação de rochas ígneas - 64 - As rochas ultramáficas, com M superior a 90, são classificadas mediante 4 minerais principais, olivina, ortopiroxênio, clinopiroxênio e hornblenda. As rochas que possuem a soma modal destes minerais acima de 95 % são classificadas mediante os diagramas triangulares Ol- Opx-Cpx e Ol-Px-Hlb (Fig. 3.22A, 3.22B; Tabela 3.6A; 3.6B). Neste caso, porém, a IUGS apresentou somente os diagramas para rochas de granulometria grossa. Certas rochas ultramáficas contêm alto teor de minerais opacos. Tais rochas são denominadas da seguinte maneira: Dunito com menos de 5 % de cromita - dunito com cromita Com 5 a 50 % de cromita - cromita dunito Com 50 a 95 % de cromita - olivina cromitito Com 95 a 100 % de cromita - cromitito Tabela 3.6. Classificação de rochas ultramáficas (M > 90), segundo Streckeisen (1976). A. Rochas ultramáficas sem, ou com pouca, hornblenda por meio do diagrama Ol - Opx - Cpx. I - Ol > 40 peridotito Ol > 90 dunito Ol = 40 a 90, Cpx < 5 harzbergito Ol = 40 a 90, Opx < 5 wehrlito Ol = 40 a 90, Cpx > 5, Opx > 5 lherzolito II - Ol < 40 piroxenito Opx > 90 ortopiroxenito Cpx > 90 clinopiroxênio Ol < 5 websterito Cpx < 5 olivina ortopiroxenito Opx < 5 olivina clinopiroxenito Ol > 5, Opx > 5, Cpx > 5 olivina websterito B. Rochas ultramáficas com hornblenda por meio do diagrama Ol - Px - Hlb, sendo que, Px corresponde a soma de Opx e Cpx. I - Ol > 40 peridotito Ol > 90 dunito Ol = 40 a 90, Hlb < 5 piroxênio peridotito Ol = 40 a 90, Px < 5 hornblenda peridotito Ol = 40 a 90, Px > 5, Hlb > 5 piroxênio hornblenda peridotito II - Ol < 40 piroxenito e hornblendito Px > 90 piroxenito Hlb > 90 hornblendito Ol < 5, Px > Hlb hornblenda piroxenito Ol < 5, Px < Hlb piroxênio hornblendito Hlb < 5 olivina piroxenito Px < 5 olivina hornblendito Ol > 5, Px > 5, Hlb > 5, Px > Hlb olivina hornblenda piroxenito Ol > 5, Px > 5, Hlb > 5, Px < Hlb olivina piroxênio hornblendito Classificação de rochas ígneas - 65 - A natureza e a gênese das rochas máficas e ultramáficas são complexas, e portanto, tipos descritivos também são variáveis. Dentro das rochas referidas pelas nomenclaturas acima citadas, existem algumas com dúvida na sua gênese ígnea. Por exemplo, uma rocha classificada como hornblendito pode ser ígnea de origem cumulática, e também, uma rocha metassomática de composição máfica e ultramáfica. O granada lherzolito que ocorre como xenólitos de kimberlitos e procede diretamente do manto. As rochas máficas e ultramáficas altamente alcalinas possuem muito baixo teor de plagioclásio, e contêm feldspato alcalino e feldspatóides como minerais félsicos principais, sendo difíceis de serem classificadas pelas nomenclaturas acima citadas. Neste sentido, a classificação das rochas máficas e ultramáficas propostas pela IUGS não possui uma boa aplicabilidade. Por isso, as nomenclaturas não estão sendo utilizadas tão amplamente quanto o diagrama QAPF para rochas félsicas. Na prática, a classificação de rochas máficas e ultramáficas por um padrão universal é quase impossível. 3.5. Classificação geoquímica Conforme a explicação anterior, a análise modal é um poderoso instrumento para classificação de rochas ígneas, porém, é válida somente para rochas holocristalinas. Mesmo sendo holocristalina, rochas de granulometria inferior a 30m, com textura criptocristalina, são muito difíceis a serem analisadas pela análise modal. No caso de rochas vítreas e hialocristalinas, não é possível obter a moda. Neste caso, as rochas podem ser classificadas por meio da sua composição química. Desde o início do Século XX, houve tentativa de classificação padronizada de rochas ígneas por meio geoquímico, como Shand (1927) e Niggli (1931). A classificação conforme o teor da sílica em quatro categorias, rochas ultrabásicas, básicas, intermediárias e ácidas, é um método tradicional, porém, é aplicável apenas para rochas ígneas da série Ca- alcalina. Por outro lado, a norma CIPW é um método aplicável para quase todas as rochas ígneas, por isso, está sendo utilizado até hoje. 3.5.1. Norma CIPW A norma CIPW foi proposta por proposta por Cross, Iddings Poisson e Washington (1902) como um método de classificação geoquímica de rochas ígneas. Este método define um conjunto de minerais, denominados minerais normativos. A partir da composição química da rocha, é calculado o teor dos minerais normativos conforme a regra definida. Os minerais normativos são baseados nos minerais reais encontrados em rochas ígneas, porém, muito simplificados. Por exemplo, anfibólio e biotita, que ocorrem comumente em rochas ígneas félsicas, não estão incluídos. Por serem minerais normativos teóricos e hipotéticos, obviamente são diferentes dos minerais reais, ou seja, minerais modais, tanto qualitativa quanto quantitativamente. A proposta original foi em prol de classificação quantitativa de rochas ígneas conforme o teor dos minerais normativos. O cálculo normativo corresponde a uma simulação de cristalização de rochas ígneas. Neste sentido, determinados minerais normativos, tais como quartzo, nefelina, acmita e coríndon, possuem importante significado geoquímico. Hoje em dia, a norma CIPW não está mais sendo utilizada para classificação de rochas ígneas, mas, para obtenção destes parâmetros geoquímicos. Como por exemplo, no Arquipélago de Açores, Oceano Atlântico, encontra-se típico álcali olivina basalto com nefelina modal. Além disso, ocorre também o basalto sem nefelina modal. Tal basalto, apesar da ausência de nefelina modal, possui nefelina normativa. Este fato Classificação de rochas ígneas - 66 - indica que esta rocha tem, pelo menos, potencialidade química de cristalizar a nefelina. Presença de nefelina normativa é a característica de rochas ígneas da série alcalina. No cálculo normativo, os minerais acessórios são calculados em primeiro lugar. Estes minerais normalmente se cristalizam em alta temperatura. Os mais importantes são apatita e ilmenita. Em segundo lugar, feldspatos. Em terceiro lugar, minerais máficos, e no último quartzo ou feldspatóides. O detalhe do cálculo normativo é apresentado no apêndice I. Existem vários programas de computador que executam cálculo normativo. 3.5.2. Saturação álcali-sílica Feldspatos são minerais mais comumente encontrados em rochas ígneas. Este fato indica que os feldspatos são minerais fisico-quimicamente mais estáveis em cristalização de magmas na condição da crosta terrestre. Quando o magma tem teor suficiente de alumina (Al 2 O 3 ), os componentes K 2 O, Na 2 O, CaO e Al 2 O 3 presentes no magma reagem prioritariamente com a sílica, SiO 2 , para formar os feldspatos. Conforme o teor relativo entre os álcalis (Na 2 O e K 2 O) e a sílica (SiO 2 ) presentes no magma, a composição mineralógica da rocha ígnea varia significativamente. Esta relação química - mineralógica é denominada conceito de saturação álcali - sílica. Quando o teor da sílica no magma é suficientemente alto, após a cristalização dos feldspatos, ainda existe SiO 2 no magma. Esta sílica reage com MgO, FeO e CaO para cristalizar minerais máficos, tais como olivina, ortopiroxênio e clinopiroxênio, até o esgotamentode SiO 2 . As rochas com esta característica química são chamadas de rochas saturadas em sílica. Tais rochas possuem olivina (forsterita e/ou fayalita), hiperstênio (enstatita e/ou ferrossilita), albita e anortita normativos, ou seja, as rochas são caracterizadas pela presença de olivina normativa e ausência de nefelina normativa. Quando o teor da sílica é muito alto, mesmo após a cristalização dos minerais máficos, ainda existe SiO 2 . Esta sílica se cristaliza como minerais cuja composição química é SiO 2 , tais como, quartzo, tridimita, cristobalita, etc. As rochas com esta característica são chamadas de rochas supersaturadas em sílica, e têm quartzo, hiperstênio, albita e anortita normativos, ou seja, as rochas são Di Hy Q Ol Ne Ab+An subsaturada saturada supersaturada barreira térmica Fig. 3.23. Classificação geoquímica de magmas basálticos por meio de minerais normativos, junto com a definição do conceito de saturação álcali - sílica, segundo Yoder & Tilley (1962). Q = quartzo normativo Ab + An = soma de albita e anortita normativos Ne = nefelina normativa Di = diopsídio normativo Ol = olivina normativo (Fo + Fa) Hy = hiperstênio normativo (En + Fs) Classificação de rochas ígneas - 67 - caracterizadas pela presença de quartzo normativo. Existem livros e publicações científicas que confundem rochas saturadas e supersaturadas em sílica. Por outro lado, quando o teor da sílica no magma é muito baixo, cristaliza-se relativamente pequena quantidade dos feldspatos devido à insuficiência de SiO 2 . Para compensar esta insuficiência, uma parte K 2 O, Na 2 O é utilizada para cristalizar feldspatóides. Os feldspatóides no sentido moderno correspondem aos minerais com composição química similares aos feldspatos, porém, possuem teor de SiO 2 mais baixo, tais como nefelina e leucita. Neste sentido, a petalita, LiAlSi 3 O 8 , não deve classificada como um feldspatóide. As rochas com esta característica geoquímica são chamadas de rochas subsaturadas em sílica, e contêm olivina (forsterita e/ou fayalita), nefelina, albita e anortita normativos, ou seja, as rochas são caracterizadas pela presença de nefelina normativa. Encontram-se, muito raramente, rochas com muito baixo teor em relação aos álcalis, que contem leucita (KAlSi 2 O 6 ) e kaliofilita (KAlSiO 4 ) normativas. Por outro lado, de acordo com este novo conceito de feldspatóides, a petalita, LiAlSi 3 O 8 , não é classificada como um feldspatóide. De acordo com a explicação acima, minerais de sílica, representados por quartzo, e feldspatóides, representados por nefelina, são fisico-quimicamente incompatíveis em equilíbrio. Da mesma forma, os ortopiroxênios, como hiperstênio, e feldspatóides, como nefelina, também são incompatíveis. A Fig. 3.23 apresenta a relação entre os minerais normativos e as três categorias de saturação de sílica, supersaturada, saturada e subsaturada. As rochas subsaturadas em sílica, ou seja, com nefelina normativa, pertencem à série alcalina. As rochas saturadas em sílica, com olivina e hiperstênio normativos, e as supersaturadas, com quartzo normativo, pertencem às séries não alcalinas. O triângulo constituído por Di - Ol - Ab+An corresponde à barreira térmica. Praticamente, todas as rochas pertencentes à série alcalina são quimicamente subsaturadas em sílica. As rochas altamente subsaturadas possuem nefelina modal, podendo ser identificadas com facilidade às observações na lâmina delgada. Tais rochas são poucas no mundo. Entretanto, as rochas ligeiramente subsaturadas não possuem nefelina modal, mas, têm nefelina normativa, sendo difíceis de serem identificadas por meios ópticos. Apesar da ausência de nefelina, estas rochas basálticas freqüentemente contêm titano-augita e titano-magnetita. O basalto que contem nefelina normativa é denominado álcali olivina basalto, que se encontram freqüentemente nas ilhas vulcânicas das regiões oceânicas. Por outro lado, certas publicações chamam o basalto sem nefelina normativa, ou seja, saturado em sílica, de basalto toleítico. Neste caso, a expressão toleítico significa exclusivamente a saturação em sílica na sua composição química, e não, da série toleítica. Isto é, o basalto toleítico acima citado pode ser tanto da série toleítica quanto da série Ca-alcalina. Para representar a composição de magmas basálticos em relação à saturação álcali - sílica, os autores recomendam as seguintes expressões: 1) basalto não alcalino, ou das séries não alcalinas, para as rochas saturadas em sílica; 2) álcali olivina basalto, ou da série alcalina, para as rochas subsaturadas em sílica. 3.5.3. Saturação álcali-alumina Para a cristalização de feldspatos, além de álcalis e sílica, precisa-se de alumina. Conforme o teor relativo entre os álcalis e a alumina presentes no magma, a composição mineralógica da rocha ígnea varia significativamente. Esta relação química - mineralógica é denominada conceito de saturação álcali - alumina. Classificação de rochas ígneas - 68 - Feldspatos são subdivididos em dois tipos: feldspato alcalino (KAlSi 3 O 8 - NaAlSi 3 O 8 ) e plagioclásio (NaAlSi 3 O 8 - CaAl 2 Si 2 O 8 ). Em feldspato alcalino, a proporção molecular entre álcalis (Na 2 O, K 2 O) e alumina (Al 2 O 3 ) é 1:1, tanto em feldspato potássico quanto em albita. Existe a mesma relação molecular em feldspatóides. A maioria das rochas ígneas possui teor de Al 2 O 3 suficientemente alto, isto é, K 2 O+Na 2 O<Al 2 O 3 (molecular). Portanto, após a cristalização de feldspato alcalino e/ou feldspatóides, sobra Al 2 O 3 . Neste caso, o feldspato alcalino inclui componente de albita do plagioclásio. A alumina sobrada é ligada com o CaO e SiO 2 para formar componente de anortita e se esgota. O cálcio sobrado é utilizado para cristalizar clinopiroxênio e hornblenda. Apesar de serem poucos em número de ocorrência, existem rochas ígneas com alto teor de álcalis em relação à alumina, isto é, K 2 O+Na 2 O>Al 2 O 3 (molecular). Neste caso, após a formação de feldspato alcalino e/ou feldspatóides, sobra álcalis. Devido à insuficiência da alumina, não se forma plagioclásio. Os álcalis sobrados são utilizados para cristalizar piroxênios alcalinos, tais como egirina e egirina-augita, e/ou anfibólios alcalinos, riebeckita e alfovdzonita. As rochas com esta característica são denominadas rochas peralcalinas, e os minerais característicos são chamados de minerais peralcalinos. A proporção molecular (K 2 O+Na 2 O)/Al 2 O 3 é denominada peralcalinicidade. As rochas peralcalinas têm acmita normativa. As rochas altamente peralcalinas, com peralcalinicidade acima de 1.2, possuem típicos minerais peralcalinos na moda. Tais rochas são extremamente poucas no mundo, porém, são identificadas às lâminas delgadas com facilidade devido às características ópticas peculiares destes minerais. Entretanto, as rochas ligeiramente peralcalinas, com maior número de ocorrências, mesmo assim poucas no mundo, não possuem típicos minerais peralcalinos, contendo piroxênio e anfibólio com baixo teor de álcalis, tais como soda-augita e barkevicita. Desta forma, a identificação óptica é mais difícil, tornando-se necessário os métodos geoquímicos. Encontra-se na literatura, as expressões rocha agpaítica e agpaicidade, que têm significados qualitativamente similares respectivamente à rocha peralcalina e à peralcalinicidade. Entretanto, sua definição quantitativa não está unificada, sendo variável de acordo com a bibliografia. Como por exemplo, um autor define como (K 2 O+Na 2 O)/Al 2 O 3 >1.2 e outro autor, como (K 2 O+Na 2 O)/ Al 2 O 3 >1.1. Por esta razão, os autores não recomendam utilização dessas expressões. Ao contrário das rochas peralcalinas, existemrochas ígneas com alto teor de alumina em relação a álcalis. Isto é, além de ser K 2 O+Na 2 O<Al 2 O 3 (molecular), o teor de alumina é mais alto ainda, sendo K 2 O+Na 2 O+1/2CaO<Al 2 O 3 (molecular). Neste caso, após a formação de feldspato alcalino, feldspatóides e plagioclásio, sobra ainda Al 2 O 3 . A alumina que sobrou é utilizada para cristalizar m inerais caracterizados por excesso de Al 2 O 3 , tais como muscovita, granada e coríndon. As rochas com esta característica são denominadas rochas peraluminosas, e os minerais característicos são chamados de minerais peraluminosos. As rochas peralcalinas têm coríndon normativo e os minerais peraluminosos e os peralcalinos são incompatíveis em equilíbrio. As rochas altamente peraluminosas possuem muscovita modal, portanto, são identificadas por meios ópticos. Entretanto, as rochas ligeiramente peraluminosas, ou seja, com a proporção molecular K 2 O+Na 2 O+1/2CaO<Al 2 O 3 próxima a um, é mais difícil de serem identificadas devido à ausência deste mineral. As rochas ígneas peralcalinas são poucas, sendo que, a maioria das rochas ígneas não é peralcalina nem peraluminosa. Certas rochas graníticas cujo magma é originado da refusão da crosta continental são peraluminosas. Por outro lado, determinadas rochas sedimentares, tal como argilito, e rochas metamórficas de composição pelítica são peraluminosas. Classificação de rochas ígneas - 69 - Encontra-se na literatura, a expressão rocha miaskítica, com significado qualitativamente similar à rocha peraluminosa. A referida expressão é utilizada normalmente como de sentido contrário da rocha agpaítica. Entretanto, sua definição quantitativa varia muito conforme bibliografia. Desta forma, os autores não recomendam a utilização da expressão miaskítico. 3.5.4. Conceito de rochas alcalinas A expressão rocha alcalina é encontrada em várias publicações. Apesar da freqüente utilização, o significado deste termo não está unificado, sendo de significado muito confuso. Desta forma, os autores apresentam três definições representativas: mineralógica; química; genética. A princípio, as rochas alcalinas são definidas pela sua composição mineralógica peculiar, e não, por alto teor percentual de álcalis. Geoquimicamente, as proporções álcali - sílica e álcali - alumina são importantes. Shand definiu rochas alcalinas com base da composição mineralógica, isto é, as rochas ígneas que contêm feldspatóides modais e/ou minerais peralcalinos modais são chamadas de rochas alcalinas. As rochas alcalinas desta definição são fáceis de serem identificadas por meio da petrografia óptica, entretanto, para aparecer os minerais acima citados, as rochas devem ser altamente subsaturadas em sílica e/ou altamente peralcalinas. Isto é, essas rochas são tipicamente alcalinas, sendo classificadas por todos os geólogos como rochas alcalinas. Tais rochas são muito raras no mundo, e portanto, esta definição mineralógica é atualmente pouco utilizada. Por outro lado, muitos geólogos que trabalham com rochas ígneas, sobretudo as basálticas, adotam a seguinte definição: as rochas pertencentes à série alcalina são chamadas de rochas alcalinas. Na prática, esta definição é química, atribuindo rochas alcalinas às rochas subsaturadas em sílica, ou seja, às rochas com nefelina normativa. Os autores propõem a inclusão de rochas peralcalinas, ou seja, as rochas com acmita normativa, na categoria de rochas alcalinas definida por meio químico. Para definir quimicamente as rochas alcalinas, o teor de álcalis relativo à sílica e alumina é importante, e não, o teor percentual de álcalis nas rochas ígneas. No campo, rochas alcalinas de definição mineralógica normalmente são acompanhadas por rochas alcalinas de definição química. Além dessas, ocorrem rochas não alcalinas no sentido mineralógico e químico. Estas rochas possuem, além da proximidade geográfica, proximidade 4 8 4 8 12 1.0 1.1 Ne Q (norm) Na + K Al 0.8 0.9 0 álcali sienito com nefelina modal álcali sienito com quartzo modal álcali sienito sem nefelina e quartzo modais (norm) (mol) Fig. 3.24. Projeção das rochas sieníticas do Complexo Alcalino da Ilha de Vitória, SP no diagrama de (Na 2 O+K 2 O)/ Al 2 O 3 molecular (horizontal) em função dos valores normativos de quartzo - nefelina (vertical), segundo Motoki (1986). Classificação de rochas ígneas - 70 - Fig. 3.25. Projeção das rochas padrão da USGS (United States Geological Survey) no diagrama de Harker. S iO 2 70 60 50 20 16 12 8 4 0 4 8 12 16 Al O2 3 CaO FeO MgO M gO , F eO , A lO2 3 C aO 4 0 4 0 K O2 K O2 N a O2 Na O2 0-5 5 10 15 20 25 30 35 índice de solidificação 1/3 SiO + K O - FeO - MgO - CaO (w%)2 2 basalto andesito riolito 50 20 40 10 0 50 40 20 10 0 Al O2 3 CaO Na O2 K O2 MgO MgO 40 50 60 70SiO (w%)2 básica intermediária ácida Fig. 3.26. Diagrama de variação dos elementos de acordo com a cristalização fracionada, segundo proposta de Kuno. cronológica, formando uma associação petrográfica e por isso, são consideradas da mesma gênese. Como por exemplo, o que ocorre na parte central do Complexo Intrusivo Alcalino da Ilha de Vitória - SP, é álcali sienito com nefelina modal, que é uma rocha alcalina de definição mineralógica. Na borda do mesmo corpo intrusivo, encontra-se álcali sienito sem nefelina modal, mas com nefelina normativa, que é uma rocha alcalina de definição química. Na zona de contato, observa-se álcali sienito com quartzo, que é classificada como uma rocha não alcalina, tanto no sentido mineralógico quanto no sentido químico. O contato entre as três rochas acima citadas é gradativo (Fig. 3.24). Os quadrantes superiores correspondem às rochas supersaturadas em Classificação de rochas ígneas - 71 - (1) (2) álcali olivina basalto basalto toleítico SiO2 (w%) 40 45 50 55 K O +N a O 2 2 8 6 4 2 0 sílica, com quartzo normativo, e os inferiores, às subsaturadas, com nefelina normativa. Os quadrantes à direita correspondem às rochas peralcalinas, com acmita normativa. Típicas rochas alcalinas se projetam no quadrante inferior a direita, e típicas rochas da crosta continental de caráter não alcalino, no quadrante superior a esquerda. Neste caso, essas rochas, que foram formadas durante o mesmo evento magmático, são classificadas como rochas alcalinas de definição genética. As rochas alcalinas de definição mineralógica são muito raras, as rochas de definição química são mais freqüentes, e as rochas de definição genética são mais freqüentes ainda. 3.5.5. Nomenclatura de classificação Com avanço da cristalização fracionada, ocorre aumento de SiO 2 , K 2 O, Na 2 O e redução de MgO, FeO e CaO no líquido residual. A maioria dos minerais constituinte de rochas está saturada em oxigênio, portanto, os elementos são expressos normalmente na forma de óxidos. Harker apresentou esta tendência na forma de diagrama de variação utilizando o teor percentual em peso de SiO 2 para a abscissa (eixo horizontal) e o de outros elementos para a coordenada (eixo vertical). Tal diagrama de variação química é denominado diagrama de Harker (Fig. 3.25). O diagrama de Harker mostra a característica fonolito traquito riolito andesito traquítico dacito benmoreito ne fel ini to fon oli tic o ne fel ini to tef rito fo no líti co ba sa nit o e te fri to hawaiito basalto basalto picrítico basalto andesítico basalto traquítico mugearito SiO2 (w%) 40 50 60 70 N a O + K O (w % ) 2 2 16 10 4 14 8 2 12 6 0 andesito Fig.3.27. Divisão entre rochas basálticas da série alcalina e da série não alcalina (toleítica) no diagrama SiO 2 v.s. Na 2 O + K 2 O em porcentagem de peso segundo: (1) MacDonald & Katsura com base nas rochas da Ilha de Havaí; (2) Kuno, as do Japão. Fig. 3.28. Classificação geoquímica de rochas vulcânicas, com base no diagrama SiO 2 v.s. Na 2 O + K 2 O em porcentagem, segundo Cox et al. (1987). Classificação de rochas ígneas - 72 - do processo de cristalização fracionada do magma primário das rochas ígneas da série Ca- alcalina. Entretanto, devido à utilização de SiO 2 para a abscissa, não há boa aplicabilidade para as rochas da série toleítica e alcalina. Por outro lado, Kuno apresentou um outro diagrama de variação utilizando o parâmetro 1/3SiO 2 + K 2 O - FeO - MgO - CaO, denominado índice de solidificação, para abscissa e o teor percentual dos outros elementos para a coordenada (Fig. 3.26). Estes diagramas de variação são úteis tanto para as rochas da série Ca-alcalina, quanto para as da série toleítica, entretanto, não é próprio para as da série alcalina. Um outro parâmetro para a coordenada que é freqüentemente utilizado é a soma de minerais félsicos normativos com a exceção de anortita, isto é, Q + Ab + Or + Ne (norm) , denominado índice de diferenciação (differenciation index, D.I.). Este parâmetro é útil para montar diagramas de variação de todas as três séries principais de cristalização fracionada dos magmas primários basálticos, Ca-alcalina, toleítica e alcalina. Mais um que está sendo bem adotado é a proporção entre Fe e Mg, tal como FeO*/FeO*+MgO. A expressão FeO* corresponde ao valor total de Fe recalculado com FeO. Além destes, vários autores propuseram índices geoquímicos de diferenciação e solidificação magmática com base nas próprias idéias, porém, estes não estão sendo amplamente utilizados. De fato, é difícil definir um parâmetro universal que vale para todas as séries magmáticas. O problema principal dos diagramas de variação da série alcalina está no teor de álcalis (K 2 O + Na 2 ) relativo à sílica (SiO 2 ). McDonald e Katsura apresentaram, baseando-se na pesquisa de rochas basálticas da Ilha de Havaí, que as rochas da série alcalina e da série não alcalina ocupam campos distintos no diagrama de Harker com coordenada Na 2 O + K 2 O, ou seja, SiO 2 v.s. Na 2 O + K 2 O. Kuno apresentou a tendência similar das rochas basálticas do Japão (Fig. 3.27). Considerando o fato acima citado, Cox et al. (1987) propuseram a nomenclatura de classificação química de rochas ígneas por meio de composição com base no diagrama SiO 2 v.s. Na 2 O + K 2 O em porcentagem de peso (Fig. 3.28). Séries de cristalização fracionada - 73 - 4. Séries de cristalização fracionada A maioria dos magmas basálticos é considerada como originada de fusão parcial do manto superior. Como a primeira aproximação, a composição química e a mineralógica das rochas constituintes do manto superior é interpretada como relativamente homogêneas, sendo 3/ 4 de rocha peridotítica de composição utlramáfica, que é composta de olivina, ortopiroxênio, clinopiroxênio e granada, e 1/4 de rocha eclogítica de composição máfica, de clinopiroxênio e granada. Tal composição hipotética do manto superior é chamada por Ringwood como pirolito. As condições físicas da fusão parcial, tais como temperatura, pressão, etc., também são pouco variáveis. Portanto, os magmas formados diretamente pela fusão parcial, denominado de magma primário, possuem sua composição química relativamente pouco variável. Um forte candidato do magma primário é magma basáltico. Por outro lado, existe também a opinião de que este magma basáltico, aparentemente primário, já é produto de cristalização fracionada e, o magma primário de verdade é magma picurítico, que é mais máfico do que o magma basáltico. Dentro das rochas basálticas, há certos grupos que contêm poucos fenocristais. Esta textura, denominada afírica, sugere que o referido magma passou o processo apenas incipiente de cristalização fracionada na crosta terrestre (Fig. 4.1). O fato indica que o magma gerado no manto superior ascendeu-se rapidamente dentro da crosta até a superfície da Terra em curto espaço de tempo. Portanto, a composição química deste basalto pode ser próxima à do magma primário. Por outro lado, existem determinadas rochas basálticas que contêm xenólitos de rochas ultramáficas cuja composição mineralógica é caracterizada por alta abundância de olivina (Fig. 4.2). Estes xenólitos, chamados popular- mente como nódulos, são considerados frag- mentos do manto capturados pelo magma basáltico. As rochas ultramáficas do manto têm peso específico maior do que o magma e por- tanto os xenólitos, sobretudo de tamanho gran- Fig. 4.1. Fotomicrografia da textura afírica do basalto andesítico encontrado na proximidade de Galópolis, RS: (A) nicois paralelos; (B) nicois cru- zados. Fig. 4.2. Xenólito de composição lherzolítica proveniente do manto (cor clara), encontrado em álcali olivina basalto (cor escura) intrusivo no final do Terciário, no Cerro Redondo, Provincia de Santa Cruz, Argentina. B. Nicois cruzados A. Nicois paralelos 0.2mm 0.2mm Séries de cristalização fracionada - 74 - de, tendem a afundar rapidamente no magma, não chegando até a superfície. A presença des- tes xenólitos dentro de lava basáltica implica na ascensão rápida do magma, não havendo tempo para afundar os xenólitos. Considera-se que tal tipo de basalto possui sua composição próxima à do magma primário. Após a geração, os magmas primários são submetidos ao processo de evolução química principalmente por meio de resfriamento e conseqüente cristalização dos minerais. Em modo muito grosso, os processos de evolução magmática são similares em qualquer região do mundo. Desta forma, a composição química de rochas ígneas é relativamente limitada. Como por exemplo, existem as rochas sedimentares e as metamórficas compostas quase inteiramente de sílica, tais como arenito e quartzito. Entretanto, não se encontram rochas ígneas de tal composi- ção (Tabela 4.1). Durante o resfriamento, o magma evolui quimicamente de várias formas, de acordo com a composição química do magma primário, pressão, teor de fluídos, etc. Devido à diversidade dos fracionamentos magmáticos, as rochas ígneas formam séries de cristalização fracionada. 4.1. Magma primário basáltico Acredita-se que a composição química do magma primário é basáltica, ou seja, máfica. Este conceito, ou seja, a hipótese de trabalho, não implica diretamente que o magma gerado primeiramente no manto é de composição basáltica. Dentro do manto, podem ocorrer vários fenômenos que podem modificar a composição do magma. Entretanto, quando o magma sai do manto e entra na crosta, a sua composição é basáltica. O basalto é a rocha vulcânica mais freqüentemente encontrada no mundo. Seja de qual- quer região do mundo, as rochas basálticas que ocorrem em grande escala possuem sua compo- sição química similar, até certo nível (Tabela 4.2). Portanto, estima-se que a composição do magma primário é similar a das rochas basálticas afíricas e/ou as rochas basálticas com xenólitos do manto. Porém, estima-se que os teores de SiO2, Na2O e K2O são pouco inferiores, o de MgO é pouco superior e, a proporção FeO*/MgO é pouco inferior. A expressão FeO* corresponde ao ferro total recalculado como FeO. O teor de SiO2 do magma primário é estimado como sendo um pouco superior a 45%, mas significativamente inferior a 50%, e a sua temperatura é de cerca de 1200 °C. De fato, as rochas ígneas com teor de SiO2 inferior a 45%, denominadas rochas ultrabásicas, são muito raras. Tabela 4.1. Composição química das principais rochas ígneas,compilado por Miyashiro & Kushiro (1975) e Motoki (1986). A - basalto; B - gabro; C - andesito; D - diorito; E - riolito; F - granito; G - traquito; H - álcali sienito; I - álcali sienito com nefelina (pulaskito); J - nefelina sienito; K - fonolito. Elem.(%) A B C D E F G H I J K SiO2 49.06 48.24 59.59 58.00 72.80 70.18 60.5 60.8 50.7 60.4 58.7 TiO2 1.36 0.97 0.77 0.76 0.33 0.39 0.16 0.74 0.70 0.46 0.18 Al2O3 15.70 17.88 17.31 16.46 13.49 14.47 19.10 17.50 17.90 18.90 19.10 FeO 6.37 3.16 3.33 2.89 1.45 1.57 2.30 2.10 1.70 1.10 2.30 Fe2O3 5.38 5.95 3.13 4.04 0.88 1.78 3.40 3.36 3.35 3.20 3.28 MnO 0.31 0.13 0.18 0.12 0.08 0.12 0.16 0.18 0.19 0.10 0.17 MgO 6.17 7.51 2.76 3.57 0.38 0.88 1.20 0.70 0.80 0.58 0.35 CaO 8.95 10.99 5.80 6.14 1.20 1.99 1.20 2.20 2.40 1.70 1.30 Na2O 3.11 2.55 3.58 3.46 3.38 3.48 5.70 5.60 6.30 6.20 7.00 K2O 1.52 0.89 2.04 2.10 4.46 4.11 6.00 6.30 6.10 6.60 6.40 H2O 1.62 1.45 1.26 1.27 1.47 0.84 1.07 0.34 0.48 0.52 1.19 P2O5 0.45 0.28 0.26 0.27 0.08 0.19 0.07 0.2 0.22 0.13 0.05 Séries de cristalização fracionada - 75 - A composição do magma primá- rio é obviamente diferente daquela da rocha do manto, que é ultramáfica. Du- rante a fusão parcial do manto, os ele- mentos com raio iônico grande, tais como K+, Na+, Ca2+, etc., denominados ele- mentos incompatíveis, são extraídos preferencialmente para formar o magma. Portanto, o magma possui mai- or teor de SiO2, Na2O e K2O, menor teor de FeO* e MgO, e maior proporção de FeO*/MgO do que a rocha original do manto. Isto é, o magma é mais félsico do que a rocha do manto. Por outro lado, a rocha do manto remanescente da fusão parcial é empobrecida nesses elementos. O manto constituído por uma típica ro- cha com esta característica química é denominado manto depletado. Durante a cristalização do magma por meio de resfriamento, os ele- mentos incompatíveis tendem a perma- necer no líquido, e não, entrar nos mine- rais cristalizados. Os primeiros minerais cristalizados a partir do magma geral- mente afundam em direção à base da câ- mara magmática, e portanto, os elementos incompatíveis tendem a se concentrar no magma residual. Desta forma, o magma é enriquecido em SiO2, Na2O e K2O, e empobrecido em FeO* e MgO, ou seja, se torna mais félsico, e aumenta na proporção FeO*/MgO. A evolução química do magma por meio de resfriamento e conseqüente cristalização é denominado cristali- zação fracionada. Este fenômeno é muito importante em discussões de composição química e mineralógica de rochas ígneas (Fig. 3.15). Tanto na fusão parcial, quanto na cristalização fracionada, a composição química do magmas evolui de máfica para félsica. Considerando a composição química do manto, ultramáfico, da crosta oceânica, máfica, e da crosta continental, félsica, se deduz que a crosta oceânica é gerada a partir da fusão parcial do manto, e a crosta continental é formada por meio dos complexos processos que envolvem a refusão da crosta continental antiga e da crosta oceânica. De qualquer forma, todas as rochas da crosta, tanto continental quanto oceânica, passaram pelo menos uma vez a experiência de fusão. 4.2. Série Ca-alcalina e modelo de Bowen Os minerais que se cristalizam no estágio inicial do resfriamento do magma primário basáltico, tais como olivina e plagioclásio cálsico, contêm alto teor de MgO, FeO e CaO. Portanto, o magma residual se torna empobrecido nestes componentes, e enriquecido em sílica (SiO2) e álcalis (Na2O, K2O) por efeito relativo. Decorrente da evolução magmática pelo resfriamento, as rochas ígneas originadas de magmas em estágio avançado de cristalização fracionada possuem baixo teor de minerais máficos. Desta forma, o índice de cor é utilizado como um importante indicador semiquantitativa da temperatura do magma. Através da cristali- Tabela 4.2. Composição química média das principais rochas basálticas do mundo (% de peso), compilado por Miyashiro & Kushiro (1975). Elemento 1 2 3 4 5 SiO2 47.41 50.56 50.03 49.34 53.81 TiO2 2.87 2.78 0.84 1.49 0.95 Al2O3 18.02 12.79 15.71 17.04 17.79 FeO 4.17 3.23 2.92 1.99 2.44 Fe2O3 5.8 11.24 8.83 6.82 6.60 MnO 0.16 0.22 0.27 0.17 0.19 MgO 4.79 5.40 7.35 7.19 5.87 CaO 8.65 10.29 11.95 11.72 8.79 Na2O 3.99 2.55 1.47 2.73 2.76 K2O 1.66 0.59 0.24 0.16 0.62 H2O 1.40 - - 1.27 - P2O5 0.92 0.31 0.09 0.16 0.19 Total 99.84 99.96 99.70 100.08 100.01 FeO*/MgO 1.99 2.62 1.56 1.20 1.50 1: Álcali olivina basalto de ilhas oceânicas e seamounts. 2: Basalto toleítico de Platô de Deccan, Índia. 3: Basalto toleítico da Região Izu-Hakone, Japão. 4: Basalto toleítico da cadeia meso-oceânica do Oceano Atlântico. 5: Basalto e andesito Ca-alcalinos da Região Izu- Hakone, Japão. Séries de cristalização fracionada - 76 - zação fracionada, o magma é fracionado de alto índice de cor para baixo índice de cor, ou seja, de melanocrática para leucocrática. A evolução química por meio de cristalização dos minerais de acordo com o esquema acima citada é denominada a série Ca-alcalina. Na cristalização fracionada desta série, o pri- meiro mineral máfico que se cristaliza é a olivina magnesiana ((Mg,Fe)2SiO4), como crisolita (Fo70-90) ou forsterita (Fo90-100). Este mineral é altamente máfico no sentido químico e denso no sentido físico, e portanto, afunda rapidamente na base da câmara magmática, retirando magnésio e ferro do sistema. Através do afundamento de olivina, o magma residual se torna mais félsico, ou seja, menos máfico. Quando o magma se resfria até a temperatura denominada temperatura da reação, ou seja, temperatura cotéctica, os grãos de olivina cristalizada reagem com a parte líquida do magma, denominada “melt”, transformando-se em ortopiroxênio. O ortopiroxênio comumente encontrado nas rochas basálticas com teor de SiO2 entre 45~52% possui Fe/Mg ligeiramente superior a 1 (En70-50), denominado hiperstênio ((Mg,Fe)2Si2O6)). Em alta temperatura, a olivina magnesiana é físico-químicamente estável, porém, em baixa temperatura, com SiO2 suficiente, torna instável. Por isso, na temperatura da reação, a olivina absorve a sílica presente no melt, e se transforma em ortopiroxênio. Nas lâminas delgadas, observa-se que os fenocristais de olivina magnesiana presentes em certas rochas basálticas são transformados em hiperstênio na sua margem ou ao longo das fraturas. Esta textura é denominada borda de reação (Fig. 4.3) ou englobamento. O sistema físico-químico que envolve a reação acima citada é denominado fusão incongruente (Fig. 4.4.). Desta forma, o mineral máfico cristalizado muda de olivina para ortopiroxênio. Em estágio mais avançado, ou seja, de temperatura do magma mais baixa, a cristaliza- ção de clinopiroxênio (Ca(Mg,Fe)Si2O6) assumi o lugar de ortopiroxênio e a composição do magma evoluem a ser para mais félsica. O clinopiroxênio comumente encontrado nas rochas basálticas e andesíticas é augita (Ca(Mg,Fe)Si2O6)) com proporção Fe/Mg em torno de 1. Junto com a elevação de SiO2, a proporção de FeO*/MgO do magma e dos minerais cristalizados aumenta através do avanço de cristalização fracionada. Estes parâmetros são importantes indi- cadores químicos semiquantitativa da temperatura do magma. Concomitantemente com a cristalização dos minerais máficos, ocorre também a cristali- zação de plagioclásio. Este mineral forma um sistema de solução sólida contínua entre albita (NaAlSi3O8) e anortita (CaAl2Si2O8). O plagioclásio cálcico (labradorita, An50-70, bytonita An70- 90) é o único mineral félsico que se cristaliza nos magmas basálticos. Através da cristalização fracionada, o plagioclásio evolui-se para ser mais sódico, sendo labradorita (An50-70). A com- posição química de plagioclásio tambémé um importante indicador de temperatura do magma. Com a redução da temperatura magmática, cristaliza-se anfibólio no lugar de clinopiroxênio. O anfibólio comumente encontrado nas rochas andesíticas é hornblenda (Ca(Mg,Fe)5Si8O22(OH)2, etc.; a composição de hornblenda é muito complexa), com teor de ferro superior ao de magnésio. O mineral félsico que se cristaliza continua sendo plagioclásio, mas, sua composição se torna mais sódica (andesina, An30-50). O teor de SiO2 neste estágio está na faixa de 52~66% (composição intermediária) e a rocha vulcânica correspondente é andesito. Em estágio mais avançado, inicia-se a cristalização de biotita, chamada popularmente de mica preta, como mineral máfico principal. A biotita comumente encontrada nas rochas dacíticas e riolíticas é annita (K(Mg,Fe)3Al2Si8(OH)4, etc.; a composição de biotita é complexa), com teor de ferro muito superior ao de magnésio. Paralelamente, cristalizam-se os minerais félsicos, tais como feldspato potássico (KalSi3O8) e quartzo (SiO2), com eventual presença de muscovita (mica branca de alumínio). O plagioclásio cristalizado neste estágio é sódico (oligoclásio, An10- 30). Séries de cristalização fracionada - 77 - Ol: olivina Opx: ortopiroxênio Amf: anfibólio Q: cristobalita ou quartzo (minerais de sílica) En: proto-enstatita ou enstatita (ortopiroxênio) Fo: forsterita (olivina de magnésio) Ol: olivina rica em magnésio Opx: ortopiroxênio (hiperstênio) E: ponto eutético L1: líquido rico em magnésio L2: líquido rico em sílica Fig. 4.3. Imagens microscópicas de: A) ilustração esquemática de borda de reação simples composta de ortopiroxênio (hiperstênio) em torno de um fenocristal de olivina magnesiana observado em rochas basálticas da série toleítica; B) ilustração esquemática de borda de reação bem desenvolvida composta de ortopiroxênio magnesiano e anfibólio magnesiano (tremolita - actinolita) em torno de olivina magnesiana parcialmente serpentinizada; C) fotomicroscopia do exemplo B, denominada textura quelifítica (nicois cruzados). Fig. 4.4. Diagrama de fase do sistema fusão incongruente entre forsterita e quartzo no estado seco, segundo Bowen & Anderson, 1914, e sua relação com o processo de formação de borda de reação (B, C, D). 0.5 mm C.A. Opx Ol 0.5 mm B. Opx Ol Amp 1 mm 1600 1500 1700 1800 10 20 30 40 50 60 70 80 90 Q Fo SiO2 Mg SiO2 4 E te m pe ra tu ra (° C ) composição (w%) A A. Sistema de fusão incongruente B. Borda de reação B B" C" D" TB TC TA TE TD En + L1 Fo + EnQ + En sólidus1543 1557 En MgSiO3 temperatura peritética Ol Opx Ol Ol D C Fo + L1Q + L2 L1 L + L1 2 L2 L1 L1 L1 Séries de cristalização fracionada - 78 - Entretanto, no estágio final, cristalizam-se feldspato potássico, quartzo e plagioclásio sódico (andesina, An10-30). O teor de SiO2 neste estágio é alto, sendo acima de 66% (composi- ção ácida). As rochas ácidas, tais como granito, granodiorito, riolito e dacito são específicas do Planeta Terra, sendo parte constituinte da crosta continental. Em 1928, N.L. Bowen apresentou um modelo de evolução magmática conforme a expli- cação acima, com base nos ensaios físico-químicos e observações de rochas ígneas naturais. Segundo o modelo dele, todas as variedades de rochas ígneas são derivadas a partir de um único magma primário de composição basáltico. A variedade química de rochas ígneas é devi- da à diferenciação por meio de cristalização fracionada a partir do magma primário basáltico (Fig. 4.5.). Ele esclareceu a existência de reações físico-químicas entre o magma e os minerais cristalizados, denominada de princípio de reação, e propôs duas séries de reação em função do resfriamento magmático: séries descontínua e contínua. A série descontínua é observada na cristalização dos minerais máficos. Conforme as explicações acima citadas, durante o resfriamento magmático o mineral máfico em flutuação no magma se torna instável e reage com o magma (melt) para formar um outro mineral máfico, que é estável em temperatura mais baixa. Ele considerou que a cristalização seqüencial de olivina, ortopiroxênio, clinopiroxênio, hornblenda e biotita é devida a este fenômeno. A reação da olivina com o melt residual já foi comprovada através das observações de textura de englobamento, ou seja, borda de reação em lâminas delgadas e dos ensaios físicos no laborató- rio. Entretanto, a mesma reação entre outros minerais máficos ainda não foi confirmada. A série contínua é observada na cristalização de plagioclásio. Durante o resfriamento magmático, este mineral é cristalizado em uma ampla faixa de estágios, variando sua composi- ção química, de cálcica para sódica, formando textura de zoneamento (Fig. 4.6). Isto é, a parte central dos cristais de plagioclásio é relativamente cálcica, e a borda é sódica, com passa- série contínua cirstalização de plagioclásio série descontínua cirstalização de minerais máficos clinopiroxênio (augita) plagioclásio cálcico hornblenda (anfibólio) ortopiroxênio (hiperstênio) olivina plagioclásio sódicobiotita (mica preta) magma primário de composição basáltica quartzo, feldspato alcalino (ortoclásio) muscovita (mica branca) rocha ígnea basalto, gabro andesito, diorito dacito, granodiorito riorito, granito pegmatito Fig. 4.5. Modelo de evolução magmática da série Ca-alcalina, segundo Bowen (1928). Séries de cristalização fracionada - 79 - Fig. 4.6. Perfil composicional esquemático de: (A) zoneamento regular; (B) zoneamento oscilatório de plagioclásio; (C) fotomicrografia de zoneamento oscilatório de plagioclásio, encontrado em Galópolis, RS (nicois cruzados). Fig. 4.7. Diagrama de fase do sistema solução-sólida (A) e zoneamento de plagioclásio (B). De acordo com o processo de resfriamento, a partir da temperatura TB até TG, a composição química do plagioclásio cristalizado muda de CBS para CGS. Devido a isso, o grão de plagioclásio cresce formando o núcleo cálcico e a borda sódica. 1 mm C. al bi ta an or tit a B. Oscilatório al bi ta an or tit a A. Regular zoneamento normal zoneamento inverso 10 20 30 40 50 60 70 80 90 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1118 bytownitalabradoritaandesinaoligoclásioalbita anortita CaAl Si O2 2 8NaAlSi O3 8 1553 te m pe ra tu ra (° C ) composição de plagioclásio (% em peso) A B NaSi CaAl G" TG A. Diagrama de fase de plagioclásio B. Zoneamento TF sólido líquido 1 mm C" D" E" F" B' C' D' F' G' E' sólido + líquido CGS CFS CDSCCS CBSCES evolu ção d o líqu do evo luçã o do sól ido TA TB TC TD TE Séries de cristalização fracionada - 80 - gem geralmente gradativa. Este fenômeno está de acordo com o princípio de sistema de solução sólida (Fig. 4.7). Desta forma, Bowen tentou explicar as variedades químicas de rochas ígneas presentes no mundo inteiro por meio de um único processo de evolução magmática: por meio da crista- lização fracionada, o magma primário basáltico (gabróico) evolui-se para andesítico (diorítico), dacítico (granodiorítico) e riolítico (granítico), aumentando SiO2, Na2O, K2O e diminuindo MgO, FeO e CaO. De fato, nem todas as rochas ígneas seguem ao modelo de Bowen. Mesmo assim, o presente modelo é importante para interpretar a variação química das rochas eruptivas de vul- cões da região de cordilheiras e arcos de ilhas. Hoje em dia, as rochas ígneas com composição de acordo com o modelo de Bowen sãoclassificadas como uma das séries principais de evolu- ções magmáticas, denominada de série Ca-alcalina (Fig. 3.17). No magma residual, junto com os elementos incompatíveis, ocorre a concentração de materiais voláteis, tais como H2O, H2S, CO2, B, Cl, F, etc. Com o auxílio das atividades físico- químicas dos materiais voláteis, sobretudo de H2O, o magma aumenta fluidez e pode manter o estado líquido mesmo em baixa temperatura como 500°C. Tal magma é denominado magma pegmatítico. No caso do magma comum, ortomagma, a temperatura mínima é de cerca de 600°C. Certos tipos de pegmatito demonstram textura de complexa interdigitação entre quartzo e feldspato potássico (microclina), denominada textura gráfica (Fig. 4.8). Essa textura é formada a partir da cristalização dos dois minerais no ponto eutético (Fig. 4.9). O magma pegmatítico contem, em alta concentração, vários elementos incompatíveis tais como U, Th, Zr, REE (ele- mentos terras raras), Be, Bi, Li, etc., formando eventualmente depósitos minerais. O resfriamento de magma pegmatítico forma a rocha constituída por cristais muito grandes, de escala centimétrica a decimétrica, denominada pegmatito. Os principais minerais constituintes são feldspato potássico (microclina, KalSi3O8), quartzo (SiO2), plagioclásio altamente sódico (albita, An0-10) e pequena quantidade de biotita e muscovita. O índice de cor é geralmente inferior a 5, freqüentemente próximo ao zero, sendo altamente leucocrático. O aplito também é uma rocha originada de magma granítico residual, com granulometria de 1 a 3 mm, composta de feldspato potássico e outros minerais, ocorrendo na forma de diques de largura decimétrica. Certos livros de geotecnia opinam que os minerais cristalizados em estágio inicial da série de Bowen são frágeis à alteração intempérica e os em estágio final são mais resistentes, 2 cm A. Gráfica B. Micrográfica C. Mirmequítica Kf Kf Pl Q 0.5 mm Fig. 4.8. Texturas relacionadas à cristalização simultânea no ponto eutético: (A) visão macroscópica da textura gráfica; (B) visão microscópica da textura micrográfica; (C) e textura mirmequítica. Os grãos pe- quenos de quartzo de forma vermicular, observados na (B) e (C), são ligados tridimensionalmente, apre- sentando extinção simultânea em nicois cruzados. Séries de cristalização fracionada - 81 - L: líquido Pl: plagioclásio Cpx: clinopiroxênio (augita) Mt: magnetita Fig. 4.9. Diagrama de fase do sistema eutético entre diopsídio e anortita no estado seco. (A) Diagrama segundo Osborn & Tait, 1952, e (B) Relação com o processo de formação de textura porfirítica de rochas máficas com a massa fundamental ofítica. Na área de diopsídio + anortita, coexistem as duas fases sólidas. O diopsídio e a anortita do diagrama de fase representam respectivamente a augita e plagioclásio cálcico. De acordo com o resfriamento a partir da temperatura TB até TE, a composição e a temperatura do líquido residual muda ao longo do líquidus a partir do ponto B” até E. Até o ponto eutético, a anortita é o único sólido cristalizado. No ponto eutético E, o líquido restante consolida-se integralmente cristalizando simultaneamente o diopsídio e a anortita. tentando relacionar a fragilidade intempérica com a temperatura de cristalização. De fato, a olivina é frágil e quartzo é resistente. Entretanto, esta opinião não é baseada nas pesquisas petrológicas e mineralógicas. Como por exemplo, a biotita se cristaliza no estágio posterior ao da augita, porém, é muito mais frágil. O zircão que se cristaliza em temperatura muito alta é um dos mais resistentes, sendo em contrapartida, a nefelina que se cristaliza no último estágio da série alcalina é a mais frágil. A resistência depende da estrutura cristalina e composição química de cada mineral, e não, da temperatura de cristalização. 4.3. Série alcalina e não alcalina O modelo de Bowen é baseado nos seguintes três princípios: 1) único magma primário de composição basáltica; 2) evolução química por única série de cristalização fracionada; 3) série descontínua por fusão incongruente (Tabela 4.3). Bowen considerou que todas as varie- dades químicas de rochas ígneas do mundo, com apenas poucas exceções, são formadas de acordo com o modelo dele, inclusive imenso volume de rochas graníticas das regiões continen- tais. Certamente, um grande número de ocorrências mundiais de rochas ígneas presente nas regiões continentais estão concordantes com o modelo de Bowen, isto é, da série Ca-alcalina. Entretanto, de fato, existem certas rochas ígneas cuja composição química não está de acordo 1 mm 1600 1500 1700 1800 10 20 30 40 50 60 70 80 90 Q Fo SiO2 Mg SiO2 4 E te m pe ra tu ra (° C ) composição (w%) A A. Sistema de fusão incongruente B. Borda de reação B B" C" D" TB TC TA TE TD En + L1 Fo + EnQ + En sólidus1543 1557 En MgSiO3 temperatura peritética Ol Opx Ol Ol D C Fo + L1Q + L2 L1 L + L1 2 L2 L1 L1 L1 Séries de cristalização fracionada - 82 - com a teoria de Bowen. Este fenômeno é devido principalmente à existência de: 1) mais de um tipo químico de magma primário; 2) mais de um processo de cristalização fracionada. De fato, existem vários tipos de magmas primários e diversas séries de cristalização fracionada. Uma contestação tradicional ao modelo de Bowen foi de Kennedy (1933), que propôs a existência de dois tipos de magmas primários basálticos: 1) magma primário toleítico ou magma primário não alcalino; 2) magma primário álcali olivina basáltico ou magma primário alcalino. A expressão “toleítica” utilizada por Kennedy corresponde exclusivamente à composição quí- mica de caráter não alcalino. Ele distinguiu quimicamente o magma primário basáltico não alcalino do mesmo alcalino. A diferença química entre os dois é pequena (Tabela 4.1. A, B), porém, a direção da evolução magmática por meio da cristalização fracionada de cada um é muito diferente (Tabela 4.1. E, K). Este fato é devido à grande estabi- lidade termodinâmica de feldspatos e olivina magnesiana. Feldspatos, plagioclásio e feldspato alcalino, são os minerais encon- trados em quase todas as rochas ígneas, sendo os minerais fisico-quimicamente mais estáveis durante o processo de cris- talização magmática na profundidade correspondente à crosta terrestre. Os feldspatos formam um sistema de solução- sólida com três principais componentes terminais (Fig. 4.10): feldspato potássico (KalSi3O8; sanidina, ortoclásio e microclina), albita (NaAlSi3O8; albita de alta temperatura e de baixa temperatura) e anortita (CaAl2Si2O6). A albita e a anortita formam a solução-sólida contí- nua, denominada de plagioclásio. Em alta temperatura, o feldspato potássico e a albita formam a solução-sólida de uma fase contínua, denominada de feldspato alcalino, porém, em baixa temperatura, Tabela 4.3. Três principais problemas do modelo de Bowen. Argumento de Bowen Fator afirmativo Fator negativo Conclusão único magma primário basáltico similaridade relativa de composição química de rochas basálticas existência de magmas primários saturado em sílica (Bowen) e subsaturado em sílica (Kennedy) séries não alcalina (Bowen) e alcalina (Kennedy) única série de cristalização fracionada evolução química observada em vulcões de rochas basálticas cristalização fracionada do magma saturado em ambientes oxidante (Bowen) e redutor (Fenner) séries Ca-alcalina (Bowen) e toleítica (Fenner) evolução química de rochas ígneas apenas por cristalização fracionada evolução química observada em vulcões de rochas basálticas grande volume de rochas graníticas na região continental possível existência do magma primário andesíticoortoclásio KAlSi O3 8 albita NaAlSi O3 8 anortita CaAl Si O2 2 8 plagioclásio fe lds pa to a lca lin o área de instabilidade feldspato potássico Fig. 4.10. Composição química de feldspatos no dia- grama triangular de Or (ortoclásio, feldspato potássico em geral) - Ab (albita, feldspato sódico em geral) - An (anortita, feldspato cálcico em geral), em porcentagem de peso. Os componentes ao longo da aresta Or - Ab são chamados de feldspato alcalino e os ao longo da aresta Ab - An, de plagioclásio. A maioria dos feldspatos naturais é projetada nas áreas sombreadas. Séries de cristalização fracionada - 83 - não se misturam bem, separando-se em duas fases, isto é, feldspato potássico e plagioclásio sódico. Durante o resfriamento na crosta, o magma que contem K2O, Na2O, CaO, Al2O3 e SiO2 cristaliza preferencialmente os feldspatos. Por outro lado, olivina magnesiana é o mineral encontrado somente em rochas ígneas máficas e ultramáficas, sendo o mineral máfico fisico- quimicamente mais estável. Portanto, o magma que contem MgO e SiO2 cristaliza preferencial- mente a olivina. Desta forma, os primeiros minerais a serem cristalizados a partir do magma primário basáltico são olivina magnesiana e plagioclásio cálcico. A composição química dos magmas primários é próxima à mistura de olivina magnesiana e plagioclásio cálcico. Sob o ponto de vista de equilíbrio de K2O, Na2O e CaO, v.s. SiO2, existem os magmas que possuem excesso de SiO2 para formar a olivina magnesiana e o plagioclásio cálcico, denominados de magmas saturados em sílica. Por outro lado, existem também os que têm SiO2 insuficiente, ou seja, possuem excesso de álcalis, chamados de magmas subsaturados em sílica. O primeiro tipo corresponde ao magma primário toleítico (não alcali- no) e o segundo tipo, ao magma primário álcali olivina basáltico (alcalino). Devido à sua alta densidade, a olivina e o plagioclásio cristalizados a partir dos magmas primários afundam-se na base da câmara magmática, sendo retirados do sistema. Este fenôme- no é chamado de cristalização fracionada. Por causa do efeito relativo, o líquido residual do magma toleítico (não alcalino) se torna mais saturado em sílica, e o magma álcali olivina basáltico (alcalino) se torna mais subsaturado. Isto é, através da cristalização fracionada, a forsterita (olivina) Mg SiO2 4 albita (plagioclásio) NaAlSi O3 8 quartzo (sílica) SiO2 nefelina (feldspatóide) NaAlSi O2 4 enstatita (ortopiroxênio) MgSi O2 6 supersaturada saturada subsaturada basalto toleítico (não alcalino) álcali olivina basalto (alcalino) série alcalina sé ire s n ão al ca lin as Fig. 4.11. Ilustração esquemática da evolução química do magma primário basáltico de composição toleítica (área sombreada do lado esquerdo) e de álcali olivina basáltico (área sombreada do lado direito), no diagrama Q - Fo - Ne, em porcentagem de peso. Nota-se que os dois magmas primários possuem suas composições quími- cas similares, porém, os magmas fracionados são quimicamente muito diferentes. Q - En - Ab: supersaturada em sílica En - Fo - Ab: saturada em sílica Fo - Ne - Ab: subsaturada em sílica Fo - Ab: barreira térmica Séries de cristalização fracionada - 84 - feldspato feldspato álcalis álcalis sílica sílica decantação decantação decantação decantação decantação decantação decantação decantação nefelina quartzo magma primário álcali olivina basáltico (alcalino, subsaturado em sílica) magma primário toleítico (não alcalino, saturado em sílica) A. Série alcalina B. Série não alcalina 1. Magma máfico 1. Magma máfico 2. Magma intermediário 2. Magma intermediário 3. Magma félsico 3. Magma félsico álcalis sobrados sílica sobrada Fig. 4.12. Relação entre sílica e álcalis durante a cristalização fracionada da série: A) alcalina e B) não alcalina. Nota-se que no início do processo de cristalização fracionada, as composições químicas dos magmas referen- tes às duas séries são similares (A1, B1). Entretanto, através da retirada de feldspatos por meio de cristalização e decantação deste mineral, a diferença composicional dos líquidos residuais aumentam (A2, B2). No final do processo, os álcalis sobrados da série alcalina e a sílica sobrada da séries não alcalinas cristalizam respectiva- mente feldspatóides, representados por nefelina, e minerais de sílica, representados por quartzo (A3, B3). Séries de cristalização fracionada - 85 - composição química dos líquidos residuais tende a se afastar da composição da mistura de olivina magnesiana e plagioclásio cálcico. Portanto, um magma saturado em sílica não se fraciona em uma composição subsaturada e, um magma subsaturado não se fraciona em uma composição saturada (Fig. 4.11; 4.12). Isto é, os magmas saturados e subsaturados são divididos em dois campos e a divisão destes é denominada barreira térmica (Fig. 3.23.). Confirma-se que a barreira térmica é originada da estabilidade termodinâmica de feldspatos. Durante o resfriamento do magma primário toleítico de sentido químico (não alcalino), CaO, MgO e FeO são utilizados para cristalizar olivina, ortopiroxênio, clinopiroxênio, hornblenda e plagioclásio cálcico. No estágio final, K2O e Na2O são consumidos para cristalizar feldspatos alcalinos, plagioclásio sódico e biotita. Finalmente, a SiO2 excedente é cristalizada na forma de quartzo, ou outros minerais de sílica, tais como calcedônia e opala. Desta forma, as rochas ígneas relacionadas a cristalização fracionada do magma primário toleítico formam uma seqüência de basalto (gabro) - andesito (diorito) - dacito (granodiorito) - riolito (granito), denominada de séries não alcalinas. A série de Bowen é uma das séries não alcalinas. A maioria das rochas ígneas presentes no mundo pertence às séries não alcalinas. Rochas graníticas da região conti- nental, basálticas do fundo do oceano, vulcânicas do arco de ilhas, etc., são exemplos típicos. Por outro lado, no estágio final da cristalização fracionada do magma primário álcali olivina basáltico (alcalino) evolui-se para enriquecer em K2O e Na2O relativo a SiO2. No está- gio final, a maioria de SiO2 é consumida para formar feldspatos e minerais máficos. Desta forma, o líquido final se torna rico em K2O e Na2O e pobre em SiO2. Estes componentes são cristalizados na forma de feldspatóides, representados por nefelina. No século XIX, o termo feldspatóide era utilizado para representar quaisquer minerais félsicos quimicamente similares a feldspato, sendo compostos de sílica, álcalis e alumina, po- rém, cristalograficamente diferentes. Entretanto, no sentido da petrologia moderna, os feldspatóides correspondem exclusivamente aos minerais félsicos que contêm alto teor de álca- lis (K2O e Na2O) e baixo teor de SiO2 em relação a feldspatos, tais como nefelina (NaAlSiO4), leucita (KAlSi2O6) e kaliofilita (KAlSiO4). Neste sentido, a petalita não deve ser considerada como um feldspatóides. Os feldspatóides são minerais raros, caracterizantes de rochas alcali- nas típicas. As rochas ígneas originadas da cristalização fracionada do magma primário álcali olivina basáltico formam a seqüência de álcali olivina basalto (álcali olivina gabro) - tefrito (nefelina monzonito) - fonolito (nefelina sienito), ou de álcali olivina basalto (álcali olivina gabro) - havaiito (monzodiorito) - mugeaurito (monzonito) - traquito (álcali sienito). Essas seqüências são denominadas da série alcalina (Tabela 4.4). O diagrama SiO2 v.s. K2O+Na2O em porcenta- gem de peso demonstra a diferença química das rochas das séries alcalina e não alcalina (Fig. 3.27). Normalmente, as rochas da séries não alcalinas e asda série alcalina ocorrem em regiões tecnicamente diferentes, formando províncias petrográficas individuais. Nas ilhas oceânicas, encontram-se álcali olivina basalto na forma de lavas. Na região litorânea dos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo, encontram-se rochas nefelina sieníticas na forma de stocks. A intrusão Tabela 4.4. Comparação entre a série alcalina e as séries não alcalinas série magma primário mineral característico área de ocorrência alcalina álcali olivina basalto, subsaturado em sílica nefelina, alto teor de olivina, ausência de quartzo e ortopiroxênio rifte continental, hot-spot, zona de subducção retro-arco não alcalinas basalto toleítico não alcalino, saturado em sílica quartzo e ortopiroxênio (hiperstênio), sem nefelina, baixo teor de olivina zona de subducção, hot-spot, cadeia meso-oceânica Séries de cristalização fracionada - 86 - destes corpos sieníticos ocorreu na época da formação de rifte continental, relacionada à sepa- ração do Supercontinente Pangea no início do Cretáceo. Conforme a explicação anterior, os feldspatos são minerais termodinamicamente mais estáveis em rochas ígneas. Durante o resfriamento de magmas basálticos, este mineral se cristali- za prioritariamente, consumindo sílica, álcalis e alumina. Portanto, a evolução magmática por meio da cristalização fracionada ocorre sempre para que a composição química do magma resi- dual se afaste da composição dos feldspatos. Desta forma, minerais de sílica, como quartzo, e feldspatóides, como nefelina, não podem ocorrer dentro da mesma rocha ígnea em equilí- brio. Os feldspatos possuem a composição intermediária entre sílica e feldspatóides, e portanto, podem coexistir tanto com minerais de sílica quanto com feldspatóides. Para um magma de composição NaAlSi3O8, a cristalização de albita (um feldspato; NaAlSi3O8) é mais estável do que a de quartzo (SiO2) e nefelina (um feldspatóide; NaAlSiO4) separados (Fig. 4.13). Isto é, a barreira térmica de feldspatos separa as composições saturada e subsaturada em sílica. De- vido à mesma razão, os feldspatóides e ortopiroxênio são incompatíveis. Isto é, os as rochas originadas dos magmas da série alcalina não possuem minerais de sílica e ortopiroxênio, como quartzo e hiperstênio. Por outro lado, a cristalização de enstatita (um ortopiroxênio; Mg2Si2O6) é mais estável do que forsterita (olivina magnesiana; Mg2SiO4) e quartzo separados, portanto, os minerais de sílica e olivina magnesiana também são incompatíveis em equilíbrio. A incompatibilidade termodinâmica entre quartzo e olivina magnesiana não é devida à barreira térmica, mas sim, à fusão incongruente. Entretanto, a olivina de ferro (fayalita; Fe2SiO4) é compatível com quartzo. Desta forma, a enstatita subdivide a composição saturada em duas subcategorias: supersaturada (rica em sílica, lado de quartzo); saturada (pobre em sílica, lado de olivina). Yoder & Tilly (1962) visualizou a relação entre a composição química das rochas subsaturadas, saturadas e supersaturadas, utilizando o diagrama tetraédrico de diopsídio (di) - olivina (ol) – nefelina (ne) - quartzo (Q), denominado de sistema simplificado de magmas basálticos (Fig. 3.23). Os teores relativos dos minerais citados neste diagrama não são da moda (quantidade volumétrica dos minerais constituintes reais), mas sim, da norma CIPW. A norma é a composição mineralógica hipotética das rochas ígneas, que é calculada a partir de suas compo- 10 1000 1200 1400 1600 1800 20 30 40 50 60 70 80 90 NaAlSi O2 4 nefelina NaAlSi O3 8 albita SiO2 quartzo carnegieita tridimita + líquido líquido albita + líquido albita cristobalita + líqudo carnegieita + líquido nefelina nefelina + líquido nefelina + albita albirta + tridimita te m pe ra tu ra (C °) composição química (w%) Fig. 4.13. Diagrama de fase do sis- tema nefelina (NaAlSiO4) - albita (NaAlSi3O8) - quartzo (SiO2) em porcentagem de peso, segundo Miyashiro & Kushiro (1977). A carnegieita corresponde a fase de alta temperatura de nefelina e, a tridimita e cristobalita, às fases de alta temperatura de quartzo. A bar- reira térmica de albita está presen- te na crista central do diagrama. Séries de cristalização fracionada - 87 - sições químicas completas segundo a fórmula matemática definida por Cross, Iddings, Pirsson e Washington (1902). Neste diagrama, tanto o magma primário toleítico (não alcalino) quanto álcali olivina basáltico situam-se na proximidade do plano triangular olivina (ol) - plagioclásio (ab+an) - diopsídio (di). A olivina (ol), o plagioclásio (ab+an) e o diopsídio (di) apresentados neste diagrama correspondem respectivamente às somas normativas de forsterita (fo) e fayalita (fa), de albita (ab) e anortita (an), e de diopsídio (di) e hedenbergita (hd), representando respectivamen- te olivina magnesiana, plagioclásio cálcico e clinopiroxênio. O hiperstênio (hy), situado na linha entre a olivina e o quartzo, corresponde à soma normativa de enstatita (en) e ferrossilita (fs). Este componente representa ortopiroxênios. O quartzo (Q) e a nefelina (ne) representam respectiva- mente todos os minerais de sílica e feldspatóides. O magma primário toleítico, não alcalino, situa-se na proximidade do plano triangular acima citado, dentro do tetraedro hiperstênio (hy) - plagioclásio (ab+an) - olivina (ol) - diopsídio (di), e o magma primário álcali olivina basáltico situa-se também na proximidade do plano triangular, porém, dentro do tetraedro nefelina (ne) - plagioclásio (ab+an) - olivina (ol) - diopsídio (di). Os três minerais, olivina magnesiana, plagioclásio e clinopiroxênio, que consti- tuem o divisor central, são os primeiros a serem cristalizados a partir dos magmas primários basálticos. Através da retirada desses minerais por meio da cristalização fracionada, os magmas residuais se evoluem em direções opostas afastando-se do plano triangular, isto é, este triângulo funciona como barreira térmica. Os magmas subsaturados em sílica, tal como de álcali olivina basalto, se encaixam no tetraedro (esquerdo) composto de nefelina (ne), plagioclásio (ab+an), olivina (ol) e diopsídio (di), e os magmas saturados em sílica, tais como os toleíticos, ou seja, não alcalino, no tetraedro (direito) composto de quartzo (Q), plagioclásio (ab+an), olivina (ol) e diopsídio (di). Esta divisão é baseada na incompatibilidade entre quartzo e nefelina. Por outro lado, com base na incompatibilidade entre quartzo e olivina magnesiana, o segundo tetraedro (Q - ab+an - ol - ne) é subdividido pelo plano triangular composto de hiperstênio (hy), plagioclásio (ab+an) e diopsídio (di). Desta forma, Yoder & Tilly (1962) dividiram composições químicas de magmas em três domínios tetraédricos: 1) domínio subsaturado em sílica, nefelina (ne) - plagioclásio (ab+an) - olivina (ol) - diopsídio (di), ou seja, com nefelina normativa; 2) domínio saturado em sílica, hiperstênio (hy) - plagioclásio (ab+an) - olivina (ol) - diopsídio (di), ou seja, com olivina e hiperstênio normativos; 3) domínio supersaturado em sílica, quartzo (Q) - hiperstênio (hy) - plagioclásio (ab+an) - diopsídio (di), ou seja, com quartzo normativo. Rochas da série alcalina, tais como álcali olivina basalto, são, a princípio, projetadas no domínio subsaturado, rochas basálticas das séries não alcalinas no domínio saturado, e rochas félsicas da séries não alcalinas no domínio supersaturado. O magma álcali olivina basáltico possui nefelina normativa, entretanto, nem todas as rochas com nefelina normativa contém este mineral como constituinte real (modal). Normalmente, o estado termodinâmico de rochas ígneas, sobretudo as de granulometria grossa, está próximo ao equilíbrio físico-químico, porém, não perfeitamente. Portanto,apesar de possuir a potencialidade química de cristalizar feldspatóides, certas rochas que se situam na proximidade da barreira térmica não contém nefelina modal. A nefelina modal aparece nas rochas da série alcalina mais fracionadas. Devido à barreira térmica, os magmas primários toleítico (não alcalino) e álcali olivina basáltico, apesar da pequena dife- rença química, se evoluem em direções opostas, fracionando-se em magmas félsicos com com- posições químicas completamente diferentes. Na realidade, comportamentos químicos de magmas naturais não são tão simples. Como por exemplo, certos magmas que se situam na proximidade da barreira térmica dentro do domí- nio saturado demonstram evolução magmática da série alcalina. O fato é devido à projeção Séries de cristalização fracionada - 88 - incorreta da composição de plagioclásio. Neste diagrama, o plagioclásio é localizado exatamente em cima da linha entre quartzo (SiO2) e nefelina (NaAlSiO4). Entretanto, o que se situa exatamente neste ponto é a albita (NaAlSi3O8), que é um componente final de plagioclásio. Porém, a anortita (CaAl2Si2O8), que é outro componente final, não se localiza nesta linha. O plagioclásio cristali- zado a partir dos magmas primários é cálcico, com alto teor de componente de anortita, entretan- to, este diagrama tetraédrico não está capacitado para representar a composição de anortita. Apesar dos pequenos problemas, o presente diagrama representa bem a essência do conceito de saturação em sílica, ou seja, saturação de álcali-sílica. O basalto de composição toleítica e alcali olivina basáltica não são fáceis de serem distinguidos por observação macroscópica. O basalto que tem fenocristais de olivina tende a ser álcali olivina basalto, porém, há poucos exemplos de basalto não alcalino com fenocristais de olivina e de álcali olivina basalto sem fenocristais de olivina. A expressão “alcali olivina” indica a composição química de caráter alcalino, e não necessariamente a presença de fenocristal de olivina. Eventualmente, álcali olivina basalto possuem xenólitos de rocha do manto, tais como dunito e lherzorito (Fig. 4.2.). Este fenômeno é muito raro em basalto toleítico. A composição química de alcali olivina basalto de textura afírica tende a ser de composição tipicamente basáltica, com SiO2 em torno de 48%. Por outro lado, a composição de basalto toleítico de textura afírica tende a ser com SiO2 mais alto, em torno de 52%, correspondendo ao limite entre basalto e andesito. Portanto, a densidade de álcali olivina basalto tende a ser maior do que a de basalto toleítico. Em observação microscópica, o basalto que contem nefelina é certamente álcali olivina basalto. Porém, há muitos casos que álcali olivina basalto apresenta-se sem nefelina modal. O basalto que contem ortopiroxênio, normalmente hiperstênio, é certamente basalto toleítico. Em alguns casos, álcali olivina basalto tem fenocristais de titano-augita. Este clinopiroxênio é carac- terizada por textura hour-glass, ou seja, relógio de vidro (Fig. 4.14A) e cor de extinção anômala, geralmente de coloração azul escuro. Na massa fundamental, pode-se observar titano-magnetita, caracterizada pelo hábito dendrítico (Fig. 4.14B). Tanto titano-augita, quanto titano-magnetita, são atribuídas ao teor alto de TiO2 em comparação com o de SiO2, porém, este é apenas uma característica secundária. As rochas basálticas pouco fracionado, derivadas do magma álcali olivina basáltico, têm feldspato alcalino. Fig. 4.14. Ilustração esquemática das texturas indicativas de álcali olivina basalto: (A) textura hour-glass, ou seja, relógio de vidro de titano-augita, em nicois cruzados; (B) textura dendrítica de titanomagnetita presente em álcali olivina basalto, em nicois paralelos; (C) textura traquítica de fonolito, em nicois cruzados. Tu-Ag: titanoautiga Bi: biotita Af: feldspato alcalino C. Textura traquíticaA. Textura hour-glass micrólito de feldspato alcalino B. Textura dendrítica 1 mm 1 mm Ti-Au Bi Af Séries de cristalização fracionada - 89 - As rochas félsicas da série alcalina, tal como fonolito, possuem orientação de feldspatos alcalinas, denominada textura traquítica (Fig. 4.14C). A textura similar, caracterizada por orien- tação de plagioclásio, é observada em determinadas rochas basálticas da série alcalina. O basalto com tal textura, denominado basalto traquítico, é chamado eventualmente por alguns geólogos como basalto alcalino. Entretanto, a orientação de plagioclásio, na realidade, representa o fluxo magmático, e não, a composição química, sendo assim, comum também em rochas toleíticas. Além disso, a expressão “basalto alcalino” não é muito recomendada devido à sua definição ambígua. Com a exceção de presença de nefelina, quartzo ou ortopiroxênio, as características ópti- cas acima citadas são apenas indícios de alcali olivina basalto e basalto toleítico. Portanto, a exata definição deve ser tomada pela análise química. A diferenciação composicional entre os magmas primários toleítico e alcali olivina basáltico é interpretada como devida à diferença de pressão, ou seja, profundidade, da fusão parcial do manto. O lherzolito encontrado em kimberlito como xenólito, chamado popular- mente de nódulo, é interpretado como a rocha peridotítica representativa do manto. Os ensaios de fusão artificial desta rocha ou dos materiais artificiais simuladores da rocha peridotítica do manto mostram que o primeiro líquido da fusão parcial na pressão de 1Gp, ou seja de 10kb, é saturada em sílica e na pressão cerca de 3Gp, 30 kb, é subsaturada em sílica. O fato indica que o magma primário toleítico é gerado à cerca de 1Gp, ou seja de 10kb, de pressão, que corresponde a 30km de profundidade (na pro- ximidade do ponto A da Fig. 4.15). Enquanto que, o magma primário álcali olivina basáltico é formado em locais mais pro- fundos, à c, 100km de profundi- dade (na proximidade do ponto B da Fig. 4.15). Entretanto, os fenômenos naturais são pouco mais compli- cados. Conforme a explicação acima citada, em pressão de 3Gp, o primeiro líquido da fu- são parcial é álcali olivina basáltica. Entretanto, de acordo com o aumento da proporção da fusão parcial, a composição do líquido muda para ser toleítica. Isto é, mesmo sendo de profun- didade grande, o magma gerado pode ser toleítico, ou seja não al- calino, quando a fusão é de pro- porção maior. No caso da fusão em proporção maior ainda, a composição do magma torna komatiítica, uma rocha ultramáfica. Todos os argumentos aci- ma citados são baseados em uma olivina clinoenstitita NaAlSiO nefelina 4NaAlSi O jadeita 2 6 carnegieitanefelina NaAlSi O albita 3 8 albitatridimita SiO quartzo 2 cr ist ob ali ta pr ot oe ns ta tit a espinele olivina líq uid o de d ua s f as es Mg SiO forsterita 2 4 A B albita subsaturada saturada supersaturada barreira térmica 2G Pa Fig. 4.15. Diagrama de fase triangular quartzo (SiO2) - nefelina (NaAlSiO4) - forsterita (Mg2SiO4) em porcentagem de peso, nas pressões de 0.1GPa (1kb, linhas, curvas e setas cheias pretas) e 2 GPa (20 kb, linhas tracejadas e setas cinzas, letras itálicas), com- pilado a partir de Shairer & Yoder (1961) e Kushiro (1968). Pon- tos A e B representam as composições eutéticas respectivamente em: 0.1GPa, ou seja, 3 km de profundidade; 2 GPa, ou seja, 60 km de profundidade. Séries de cristalização fracionada - 90 - hipótese, isto é, o magma primário é gerado a partir da fusão parcial do manto peridotítico. Entretanto, na fusão parcial do manto eclogítico, mesmo em profundidade grande a composi- ção do magma primário é toleítica. Além disso, o teorde SiO2 é relativamente elevada, sendo em torno de 52%, que corresponde ao limite entre basalto e andesito. Tal tipo de magmatismo ocorre freqüentemente em hot-spots. Entretanto, existem opiniões de que as profundidades acima apresentadas nem sempre correspondem diretamente aos locais de geração do magma. Como por exemplo, um magma primário gerado a 100 km de profundidade a partir de fusão parcial do manto peridotítico é de composição álcali olivina basáltico. Este magma pode subir lentamente no manto mantendo o equilíbrio com a rocha encaixante. Neste caso, a composição do magma muda de acordo com a condição físico-química. Quando este magma chega até a profundidade de 30km, a sua composi- ção torna toleítica, sendo igual ao do magma primário toleítico gerado nesta profundidade. Por outro lado, quando o manto contem minerais hidratados, como flogopita, um tipo de mica (K(Mg,Fe)3Al2Si8(OH)4), ou seja, em sistema úmido, o magma gerado torna-se significati- vamente félsico (baixo teor de ferro e magnésio) e ácido (alto teor de SiO2). Desta forma, o magma primário gerado mesmo em grande profundidade pode ter sua composição relativamente félsica. Além disso, há possibilidade de formação de magma primário andesítico a partir da fusão parcial do manto. Nas explicações anteriores, a origem do magma primário basáltico foi atribuída à fusão parcial do manto de composição peridotítica. Entretanto, o manto não é composto puramente de rochas peridotíticos. Acredita-se que o manto superior é constituído por 3/4 de peridotito (ultramáfico) e 1/4 de eclodito (máfico), sendo esta rocha hipotética denominada pirolito. Esta estimativa é baseada nos estudos de rochas basálticas presentes na superfície da Terra, ou seja, nas partes do manto que sofreram fusão parcial. Obviamente, existem outras partes do manto que não sofreram fusão parcial e a composição destas partes não estão em consideração. Portanto, a proporção entre peridotito e eclogito proposta pelo modelo de pirolito não repre- senta exatamente a composição do manto. Apesar deste problema, considera-se que o manto superior da Terra atual é constituída principalmente de peridotito, especificamente lherzolito, e eclogito e, os magmas basálticos são formados a partir da fusão parcial destas rochas. A temperatura de fusão parcial do eclogito é significativamente mais baixa do que a do peridotito. Portanto, quanto a temperatura do magma é insuficiente, o manto se fundi somente na parte do eclogito, deixando a parte do peridotito sem fusão. Quando ocorre tal fusão seletiva do manto eclogítico, mesmo que o magma seja gerado em grande profundidade, a composição do magma primário é toleítica, e não, álcali olivina basáltica. As rochas ígneas da série alcalina, que são derivadas teoricamente do magma primário de composição toleítica, encontram-se em cordilheiras, arco de ilhas e regiões de continente estável. Sob o ponto de vista da tectônica de placas, os magmatismos acima citados são relaci- onadas às atividades de zonas de subducção. Por outro lado, as rochas ígneas da série alcalina, derivadas teoricamente do magma primário álcali olivina basáltico, são encontradas em rifes continentais e ilhas oceânicas, sendo relacionadas ao magmatismo de hot-spots. Existe um conceito tradicional, desde Harker (1908), de que as rochas não alcalinas ocorrem em ambiente de tectonismo convergente e as rochas alcalinas, de tectonismo diver- gente. Apesar de haver esta tendência geral, de fato, existem um grande número de exceções. Como por exemplo, nas cadeias meso-oceânicas, encontra-se o magmatismo de maior escala do Planeta Terra. As lavas aí encontradas são compostas de um tipo de basalto toleítico, denomina- do MORB. No estágio inicial da separação continental, ocorrem erupções de lavas basálticas constituídas predominantemente por basalto toleítico. Os grandes derrames de lava do início do Cretáceo que se encontram nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, chamados de Basalto do Paraná, Séries de cristalização fracionada - 91 - são exemplos deste (Fig. 4.16A). As duas ocorrências acima citadas são magmatismos de escala muito grande que ocorreram durante a atuação de tectonismo tipicamente divergente. Por outro lado, na região de retro-arco encontra-se as lavas de álcali olivina basalto relacionado à subducção da placa, isto é, de tectonismo convergente. O álcali olivina basalto do final de Terciário a Quaternário que cobre grande área da Patagônia austral é um exemplo típico (Fig. 4.16B). No meio das placas oceânicas, onde não há um movimento relativo à tectônica de placas, ocorrem ilhas vulcânicas constituídas por lavas tanto de basalto toleítico quanto de álcali olivina basalto. Os fatos acima citados confirmam que não é possível afirmar a correlação perfeita entre as séries de cristalização fracionada com ambientes tectônicos. 4.4. Séries Ca-alcalina e toleítica Uma outra contestação tradicional ao modelo de Bowen foi de Fenner (1929). Ele inter- pretou a seqüência de basalto - ferro basalto - islandito - dacito como a série normal de cristalização fracionada do magma primário de composição toleítica. O ferro basalto é o basalto com alta proporção Fe/Mg nos minerais máficos, como ferro-hiperstênio, ferro-augita, etc. O islandito é uma rocha andesítica com minerais máficos de alta proporção Fe/Mg, e é caracteri- zado por ausência ou escassez de hornblenda. Fenner denominou esta série de cristalização fracionada de magma primário basáltico não alcalino de série toleítica, e considerou que a série toleítica é a principal série do mundo. A maioria das rochas ígneas das regiões continentais é da série Ca-alcalina, ou seja, de Bowen, entretanto, o basalto que constitui a crosta oceânica, chamado de MORB, é da série toleítica, ou seja, de Fenner. Mesmo nas ocorrências das regiões continentais, as rochas basálticas de erupções de lava de grande escala, tais como cadeias meso- oceânicas e platôs de lavas (Paraná, Deccan, Abissínia, etc.) estão de acordo com a série toleítica. As rochas constituintes de grandes corpos complexos intrusivos gabróicos, tais como Skaergaard (Groenlândia), Bushveld (África do Sul) e Stillwater (Estados Unidos da América), mostram a seqüência de gabro - ferro gabro - granófiro, que segue à série toleítica. Por outro lado, rochas basálticas e andesíticas da série Ca-alcalina são encontradas comumente na forma de corpos magmáticos relativamente pequenos de faixas orogênicas. A. Basalto toleítico B. Álcali olivina basalto Fig. 4.16. Basalto toleítico e álcali olivina basalto: (A) lavas de basalto toleítico do Paraná, do início do Cretáceo, Serra do Rio do Rastro, SC; (B) lava de álcali olivina basalto, Volcán Matru, Mendoza, Argenti- na, Quaternário. As lavas de basalto toleítico do Paraná tem composição intermediária entre basalto e Séries de cristalização fracionada - 92 - Di: diopsídio (CaMgSi2O6) Hd: hedenbergita (CaMgSi2O6) En: enstatita (Mg2Si2O6) Fs: ferrossilita (Fe2Si2O6) Ska: corpo Intrusivo Skaergaard W: andesito Weiselberg R: corpo granofírico Rhum CV: Cape Vogel Fig. 4.17. Composição química, índice de refração e ângulo dos eixos ópticas 2V de pigeonita no diagrama diopsídio (Di; CaMgSi2O6) - hedenbergita (Hd; CaFeSi2O6) - enstatita (En; Mg2Si2O6) - ferrossilita (Fs; Fe2Si2O6) em porcentagem molecular (A); piroxênios cristalizado a partir de magma (B), segundo Miyashiro & Kushiro (1975) e; C) ilustração esquemática da figura de interferência de pigeonita (C). As linhas tracejadas da parte B indicam a cristalização simultânea entre o clinopiroxênio e o ortopiroxênio. As áreas assombra- das indicam as composições de piroxênios em questão, augita (clinopiroxênio), pigeonita (clinopiroxênio) e hiperstênio (ortopiroxênio). Além de Fenner, Kuno (1950) observou rochas basálticas que ocorrenos vulcões do Japão e anotou que existem duas séries de cristalização fracionada: 1) série de hiperstênio, caracterizada pela ausência de pigeonita e presença de hiperstênio na massa fundamental e abundância de minerais hidratados como hornblenda e biotita; 2) série de pigeonita, caracteri- zada pela presença de pigeonita na massa fundamental e ausência ou escassez de minerais hidratados. A série de hiperstênio de Kuno corresponde à série Ca-alcalina de Bowen, e a série de pigeonita, série toleítica de Fenner. Pigeonita é um clinopiroxênio caracterizado quimi- camente por baixo teor de CaO (Fig. 4.17A; B) e opticamente por baixo ângulo 2V, portanto, apresenta no conoscópio a figura de interferência similar à de minerais uniaxiais (Fig. 4. 17.C). O conhecimento sobre a existência das duas séries de cristalização fracionada do magma primário não alcalino foi difundida mundialmente na década de 1950. Antes disso, o termo toleito era tratado como o sinônimo de basalto não alcalino. Encontram-se certas bibliografias com significado confuso do termo “toleítica”. Desta forma, deseja-se aos alunos leitores toma- rem cuidado com os dois significados atuais do termo “toleito” ou “basalto toleítico”: 1) basalto de composição química não alcalina, ou seja, pertencente às séries não alcalinas; 2) o mesmo En Fs Fs HdDi Di hiperstênio clinopiroxêniopigeonita Ska R RCV augitaW WSka 1.66 1.67 1.68 1.69 1.70 1.71 1.72 1.73 1.68 1.69 1.70 1.71 1.72 1.73 1.74 1.75 1.76 60 5555 5050 4545 4040 20 25 0 35 30 2510 0 25 2V(°) eix o óp tic o α β (0 10 ) (0 10 ) 2V(°) índice de refração ortopiroxênio clinopiroxênio A. B. C. Hd En pigeonita hiperstênio augita Séries de cristalização fracionada - 93 - que pertence à série toleítica (Tabela 4.5). O autor recomenda a utilização da expressão “toleítica” exclusivamente para série de cristalização fracionada toleítica. Para representar o magma basáltico de composição toleítica, deve ser utilizada a expressão “magma basáltico não alcalino” ou “saturado em sílica”. No caso da série Ca-alcalina, o aumento de SiO2 e a redução de MgO, CaO e FeO durante a cristalização fracionada são notáveis. Entretanto, no caso da série toleítica, o aumen- to da proporção FeO/MgO é marcante. O diagrama triangular MFA, chamado também como AMF, MgO (magnésio) - FeO* (ferros) - Na2O + K2O (álcalis), em porcentagem relativa de peso (Fig. 4.18), mostra a diferença na evolução magmática entre as duas séries. Neste diagrama, o magma primário situa-se na proximidade da linha MgO - FeO*. No caso da série toleítica típica, como as rochas constituintes do corpo intrusivo de Skaergaard, o magma primário evo- lui-se paralelamente à linha MgO - FeO* em direção a FeO*, e aproxima-se do vértice FeO*. Neste estágio da evolução magmática, o aumento de SiO2 é pequeno. Em seguida, a evolução magmática muda de direção para o vértice Na2O + K2O, aumentando notavelmente o teor de SiO2. Por outro lado, o magma da série Ca-alcalina evolui-se a partir do magma primário diretamente para o vértice Na2O + K2O, com aumento constante de SiO2. O dia- grama MFA é eficiente para distinguir qualitativamente as séries Ca-alcalina e toleítica, mas, não é muito bom para as séries Ca-alcalina e alcalina. Miyashiro & Kushiro (1975) apresenta- Tabela. 4.5. Comparação entre séries Ca-alcalina e toleítica. série mineral característico evolução química área de ocorrência Ca-alcalina hiperstênio, hornblenda, biotita elevação de SiO2 zona de subducção e de colisão continental Toleítica pigeonita, fayalita elevação da proporção Fe/Mg cadeia meso-oceânica, rife continental, hot- spot, zona de subducção a: corpo Intrusivo Skaergaard, Groenlândia b: rochas vulcânicas da série toleítica da região Izu - Hakone, Japão c: rochas vulcânicas da série Ca-alcalina da região Izu - Hakone, Japão c: rochas vulcânicas da série Ca-alcalina do Vulcão Amagi, Izu, Japão Fig. 4.18. Comparação de evolução química pela cristalização fracionada entre as séries toleítica (a, b) e Ca-alcalina (c, d) no digrama MFA, isto é, MgO - FeO* - Na2O+K2O em porcenta- gem de peso. FeO* corresponde ao ferro to- tal recalculado com FeO. A área assombrada apre- senta a composição hipo- tética do magma primá- rio basáltico. Nota-se que ambas as séries são originadas do magma pri- mário da mesma compo- sição química. a b c d FeO* Na O+K O2 2 MgO magma primário basáltico Ca -alc alin a tol eít ica Séries de cristalização fracionada - 94 - ram dois outros diagramas, FeO*/MgO v.s. SiO2 (Fig. 4.19A) e FeO*/MgO v.s. FeO* (Fig. 4.19B), que distinguem mais eficientemente a evolução magmática das séries Ca-alcalina e toleítica. As séries alcalina e não alcalina são diferenciadas pela composição química do magma primário. Entretanto, as séries Ca-alcalina e toleítica são originados do mesmo magma primá- rio toleítico. O responsável da diferenciação é interpretado como o grau de oxidação dos magmas durante a cristalização fracionada (Osborn, 1959; Fig. 4.20): com alta fugacidade de oxigênio (ambiente oxidante) o magma evolui-se segundo a série Ca-alcalina (modelo de Bowen, série de hiperstênio), e com baixa fugacidade (ambiente redutor), segundo a série toleítica (modelo de Fenner, série de pigeonita). Em ambiente oxidante, o ferro presente no magma basáltico é ligado com o oxigênio e cristaliza-se na forma de magnetita (Fe3O4). Como este mineral óxido tem alta densidade, cerca de 5.2g/cm3, os grãos cristalizados do magma afundam rapidamente na câmara magmática. Devido à retirada de ferro, o magma residual se torna Fig. 4.19. Comparação de evolução quími- ca entre as séries toleítica (a, b) e Ca-al- calina (c, d) nos diagramas de (A) SiO2 - FeO*/MgO e (B) FeO - FeO*/MgO, se- gundo Miyashiro & Kushiro (1975). A área assombrada apresenta a composição hipo- tética do magma primário basáltico. As rochas vulcânicas apresentadas nestes di- agramas são mesmas da figura anterior. Fig. 4.20. Diagrama triangular de fase do sistema SiO2 - FeO - Fe2O3 em por- centagem de peso, segundo Muan (1955). As linhas tracejadas indicam fugasidade de oxigênio em Atm. Neste diagrama, o magma primário basáltico situa-se no ponto A. Em ambiente oxidante, com abastecimento de oxigênio externo, o líquido residual evo- lui-se em direção ao ponto B por meio de cristalização de magnetita. Do ponto B para C, cristalizam-se magnetita e fayalita (olivina de ferro) e, no ponto C, magnetita, fayalita e tridimita (sílica), formando a série Ca-alcalina (A→→→→→B→→→→→C). Em ambiente redutor, sem abastecimento de oxigênio, o líquido re- sidual evolui-se em direção ao ponto D. Do ponto D para C, cristalizam-se magnetita e tridimita e, no ponto C, magnetita, fayalita e tridimita (sílica), formando a série toleítica (A→→→→→D→→→→→C).A: basalto B: ferro basalto C: andesito D: riolito SiO2 FeO (ustita) Fe O2 3 (hematita) 50 Fe fayalita Fe O3 4 (magnetita) cristobalita tridimita C DB Austita hematita10 -1 10-3 10-5 10-7 magnetita série Ca-alcalina A - B - C série toleítica A - D - C d c toleítica Ca-alcalina b ad A 50 0 1 2 3 4 5 60 70 Si O (W % ) 2 Fe O * ( W % ) FeO*/MgO (W%) 80 c b to leí tic a Ca -a lca lin a a B 5 10 15 20 0 1 2 3 4 5 FeO*/MgO (W%) Séries de cristalização fracionada - 95 - A - série toleítica A - série Ca-alcalina 1 - magma altamente máfico 2 - magma máfico 3 - magma intermediáriso decantaçãoolivina magnesiana pigeonta ferroaugita fayalita Fe >>> Mg Fe >> MgMg Fe > Mg Fe SiO2 decantação olivina magnesiana hiperstênio augita hornblenda biotita N S N S N Smagnetita 3 - magma intermediáriso1 - magma altamente máfico 2 - magma máfico N S N S magnésio ferro sílica oxigênio magnetita mineral máfico mineral máfico ferroso Fe > MgFe > Mg N S N S N S N S SiO2 oxigênio sílica sobrada Mg Fe > Mg Fe Fig. 4.21. Relação ferro e oxigênio durante a cristalização fracionada das séries: (A) toleítica e (B) Ca-alcalina. Nota-se que o magma da série Ca-alcalina possui teor elevado de H2O. No início do processo de cristalização, o ferro da série Ca-alcalina reage com o oxigênio formando magnetita (B1). Portanto, em comparação com a série toleítica. o líquido residual da série Ca-alcalina é caracterizada pela abundância de sílica e relativa escas- sez de ferro. Séries de cristalização fracionada - 96 - mais félsico desde o estágio inicial de cristalização fracionada (Fig. 4.18). Esta evolução quí- mica corresponde à série Ca-alcalina. Por outro lado, em ambiente redutor a formação de magnetita, ou seja, a retirada de ferro é limitada. Enquanto que MgO, CaO e SiO2 presentes no magma são cristalizados na forma de minerais máficos e o ferro permanece no líquido. Desta forma, o magma residual é enriquecido em ferro e o ferro sobrado é utilizado no estágio poste- rior de evolução magmática para cristalizar minerais máficos com alta proporção Fe/Mg, tal como fayalita (olivina de ferro; Fe2SiO4), que se encontra em típico ferro gabro. Esta evolução química do magma corresponde à série toleítica (Fig. 4.20). Os magmas da série toleítica são de alta temperatura e contém baixo teor de H2O, enquanto que, os da série Ca-alcalina são de temperatura relativamente baixa e contém alto teor de H2O. Os componentes voláteis, tais como H2O, Cl, e F, abaixam a temperatura da fusão dos magmas, e portanto, os magmas hidratados podem manter o estado líquido até mesmo em uma temperatura relativamente baixa. Desta forma, as rochas da série Ca-alcalina freqüentemente possuem minerais máficos hidratados, tais como hornblenda. Este fato indica que a oxidação pode estar relacionada à H2O da rocha encaixante. As rochas da crosta são normalmente hidratadas. O H2O está presente dentro da rede cristalina dos certos minerais constituintes, deno- minados minerais hidratados, tais como biotita, muscovita, etc. Além disso, existe também fora dos minerais como fluído livre. Os magmas gerados no manto superior são normalmente conside- rados como pobres em H2O. Durante a intrusão desses magmas, a água da rocha encaixante crustal pode ser incorporada aos magmas, e uma parte da H2O separa-se em hidrogênio e oxigênio. O oxigênio cria o ambiente oxidante, e o hidrogênio é disperso na rocha encaixante. Portanto, os corpos magmáticos pequenos são altamente influenciados pela H2O extraída da rocha encaixante crustal, e nos corpos intrusivos de escala superior a quilométrica, a influência da H2O crustal é pequena em relação ao grande volume do magma. A Fig. 4.18 e a Fig. 4.19 mostram que existem séries toleíticas típicas (como Skaergaad) e não típicas (como as rochas basálticas do Japão). O fato é devido provavelmente à diferença do grau de oxidação, ou seja, o grau de hidratação. Neste sentido, interpreta-se que a série toleítica é a série de cristalização fracionada em condição normal do magma primário basáltico e a série Ca-alcalina, em condição especial com alta fugasidade de oxigênio. Rochas da série Ca-alcalina são encontradas tipicamente em cordilheiras, tais como a dos Andes, e arcos de ilhas (zonas de subducção), Japão, Indonésia, Filipinas, etc., ou seja, em zonas de subducção, onde existe H2O abundante. Dentro do Sistema Solar, as rochas da série Ca-alcalina são presentes especificamente no Planeta Terra, isto é, as rochas caracterizantes da Terra, onde a tectônica de placas está em funcionamento. Por outro lado, as rochas da série toleítica são observadas no fundo do oceano, platôs de lavas terrestres e submarinos, grandes corpos intrusivos gabróicos, etc. Ign2004_1.pdf Ign2004_2 Ign2004_3 Ign2004_4