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Anais resumos expandidos X ABraSD

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ISSN 2358-4270 
Anais do X Congresso da ABraSD: resumos expandidos 
55 anos de ensino da Sociologia Jurídica no Brasil 
 
 
Associação Brasileira de Pesquisadores em Sociologia do Direito 
DIRETORIA (BIÊNIO 2018-2019) 
Diretores 
Presidente: Fernando Rister de Sousa Lima (MACKENZIE-SP) • 1º Vice-Presidente: Guilherme de Azevedo (UNISINOS-RS) • 
2º Vice-Presidente: José Rodrigo Rodriguez (UNISINOS-RS) 
 
Conselho Deliberativo 
Fernanda Busanello Ferreira (UFG) • Igor Suzano Machado (UFES) • Marília Montenegro (UFPE/UNICAP) • Olga Krel (UFAL) • 
Virgínia Leal (UFPE) 
 
Conselho Fiscal 
David Oliveira (UFC) • Marcelo Pereira de Mello (UFF-RJ) • José Antônio Callegari (UFF) 
 
 
COMISSÃO ORGANIZADORA 
Alexandre da Maia (UFPE) • Artur Stamford da Silva (UFPE) • Fernando Rister de Sousa Lima (MACKENZIE-SP) • 
Manuela Abath (UFPE) • Marcelo Labanca (Unicap) • Maria Lúcia Barbosa (UFPE) • Mariana Pimentel Fischer (UFPE) • 
Marília Montenegro (UFPE/Unicap) • Pedro Parini (UFPE) • Virgínia Leal (UFPE) 
 
Comissão Executiva 
David Oliveria (UFC) • Fernando Mangianelli Bezzi (USP) • Marco Antonio Loschiavo Leme de Barros (UNIP/USP) • 
Raphael da Rocha Rodrigues Ferreira (Unisanta/USP) 
 
Comissão Científica 
Ana Cláudia Torrezan Andreucci (Mackenzie-SP) • Antonio Callegari (UFF) • Alessandra de Lucca (Universidade de Firenze) • 
Artur Stamford da Silva (UFPE) • David Oliveira (UFC) • Fernanda Busanello (UFG) • Fernanda Rosenblatt (Unicap) • 
Fernando Rister de Sousa Lima (Mackenzie-SP) • Germano Schwartz (UNILASSALE) • Guilherme de Azevedo (UNISINOS) • 
Igor Suzano Machado (UFV) • João Paulo Allain Teixeira (UFPE/UNICAP) • José Roberto Xavier (UFRJ) • José Rodrigo 
Rodriguez (UNISINOS) • Kelly Gianezini (UNESC) • Leonel Severo Rocha (UNISINOS) • Marcelo Mello (UFF) • 
Marília Montenegro (UFPE/Unicap) • Olga Jubert Krell (UFAL) • Orlando Villas Bôas Filho (USP/Mackenzie-SP) • 
Rafael Lazzarotto Simioni (FDSM) • Rebecca Sandefur (Universidade de Illnois) • Sandra Regina Martini (UNIRITTER) • 
Susana Henriques da Costa (USP) • Virgínia Leal (UFPE) 
 
 
EDITORAÇÃO 
Diagramação 
Carolina Leal Pires (UNIBRA) 
 
Normatização e revisão 
Os autores 
 
 
REALIZAÇÃO PATROCÍNIO APOIO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2019 © Todos os direitos reservados. As informações contidas nos artigos são de responsabilidade de seu(s) autor(es). 
 
 
SUMÁRIO 
09 
 
GP 01 – A CULTURA DA VIOLÊNCIA DE GÊNERO E AS NOVAS PERSPECTIVAS PARA O 
ASSEGURAMENTO DOS DIREITOS HUMANOS DA MULHER 
Coordenação: 
Arnelle Rolim Peixoto (GEDAI/UFC) 
Maria da Glória Costa Gonçalves de Sousa Aquino (UFMA) 
 
35 GP 02 – A “MULTIDÃO QUEER”: SEXUALIDADES, CORPORALIDADES E 
TRANSGRESSÕES EM DIÁLOGOS INTERSECCIONAIS 
Coordenação: 
Jorge Luiz Oliveira dos Santos (UNAMA) 
Andreza do Socorro Pantoja de Oliveira Smith(UFPA) 
 
43 GP 03 – AS AGÊNCIAS DE CONTROLE E A(S) JUVENTUDE(S) NO BRASIL: 
COMPREENDENDO A RACIONALIDADE NORMATIVA E CONSTRUINDO ITINERÁRIOS 
DE RESISTÊNCIA 
Coordenação: 
Erica Babini (UNICAP) 
Mariana Chies Santiago Santos (IBCCRIM-SP) 
Ana Paula Motta Costa (UFRGS) 
 
59 GP 04 – A TUTELA JURÍDICA PROTETIVA DOS GRUPOS SOCIALMENTE 
VULNERABILIZADOS 
Coordenação: 
Andréia Garcia Martin (UEMG) 
Juliana Izar Soares da Fonseca Segalla (FJÁU/ANHANGUERA-Jaú) 
Carolina Valença Ferraz (UNICAP) 
 
84 GP 05 – BIOPODER, VIOLÊNCIA E DIREITOS HUMANOS 
Coordenação: 
Camila Holanda Marinho (UECE) 
Karyna Batista Sposato (UFS) 
Lídia Valesca Pimentel (UNIFB) 
 
105 GP 06 – (BIO)POLÍTICAS MIGRATÓRIAS BRASILEIRAS: ENTRE DEMOCRACIA E 
AUTORITARISMO 
Coordenação: 
Maiquel Ângelo Dezordi Wermuth (UNIJUÍ/UNISINOS) 
Paulo Velten (UFES) 
Daiane Moura de Aguiar (ANHEMBI MORUMBI) 
 
121 GP 07 – CRIMINOLOGIA CRÍTICA E SOCIEDADE BRASILEIRA: URGÊNCIAS TEMÁTICAS E 
DESAFIOS METODOLÓGICOS 
Coordenação: 
Salo de Carvalho (UFRJ/UNILASALLE) 
Renata de Almeida Costa (UNILASALLE) 
 
146 GP 08 – CRÍTICA DO DIREITO: DESIGUALDADES DE CLASSE, RAÇA, GÊNERO, 
NACIONALIDADE 
Coordenação: 
Fabiana Severi (USP-Ribeirão Preto) 
José Rodrigo Rodriguez (UNISINOS) 
Marcus Dantas (UFJF) 
156 GP 09 – DESIGUALDADES E NOVOS PARADIGMAS PARA A PARTICIPAÇÃO NO 
PROCESSO 
Coordenação: 
Bruna Guapindaia Braga da Silveira (ESTÁCIO-PA/USP) 
Bruno Takahashi (USP) 
Daniela Monteiro Gabbay (FGV-SP/USP) 
João Eberhardt Francisco (USP) 
Luciana Gross Cunha (FGV/USP) 
Maria Cecilia de Araujo Asperti (FGV/USP) 
Susana Henriques Costa (USP) 
 
170 GP 10 – DIREITO E DESIGUALDADE(S) NA TEORIA DOS SISTEMAS SOCIAIS 
Coordenação: 
Artur Stamford da Silva (UFPE) 
Guilherme de Azevedo (UNISINOS) 
 
193 GP 11 – DIREITO E DISCURSO: DESIGUALDADE EM CONFLITOS E LUTAS POR 
RECONHECIMENTO DE IDENTIDADES ÉTNICAS, RACIAIS E RELIGIOSAS 
Coordenação: 
Mônica Rugai Bastos (FAAP) 
Douglas de Castro (FGV-SP) 
Danielle Mendes Thame Denny (UNISANTOS) 
 
198 GP 12 – DIREITO, ECONOMIA E TEORIA SOCIAL NA PESQUISA EMPÍRICA 
Coordenação: 
Marco Antonio Loschiavo Leme de Barros (USP/UNIP-SP) 
Lucas Fucci Amato (USP/EDB-SP) 
Gabriel Ferreira da Fonseca (FACSAL/UNICEUSA/TCE-BA) 
Luiz Felipe Rosa Ramos (USP) 
 
214 GP 13 – DIREITO E MIGRAÇÕES 
Coordenação: 
Marcelo Pereira de Mello (UFF) 
Luiz Cláudio Moreira Gomes (UFRJ) 
Livia Salvador Cani (FBM-ES) 
 
240 GP 14 – DIREITO E MÚSICA 
Coordenação: 
Germano Schwartz (UNIRITTER) 
Martorelli Dantas (UNIFG-PE) 
 
253 GP 15 – DIREITO E SOCIOLOGIA AMBIENTAL 
Coordenação: 
Rogerio Borba da Silva (UVA) 
Daniel Braga Lourenço (UNIFG-BA) 
 
266 GP 16 – DIREITO INTERNACIONAL E DESCOLONIALISMO: REPENSANDO A PROTEÇÃO 
DE DIREITOS HUMANOS 
Coordenação: 
Tatiana Cardoso Squeff (UFU) 
Cícero Krupp da Luz (FDSM) 
Gustavo Pereira (PUCRS) 
 
286 GP 17 – DIREITO, PLURALISMO E SOCIOLOGIA DO CONSTITUCIONALISMO 
Coordenação: 
João Paulo Allain Teixeira (UNICAP/UFPE) 
Raquel Fabiana Lopes Sparemberger (FMP-RS/FURG-RS) 
 
 
304 GP 18 – DIREITO, RACISMO E DESIGUALDADES RACIAIS 
Coordenação: 
André Augusto Pereira Brandão (UFF) 
Carlos Alberto Lima de Almeida (ESTÁCIO) 
Delton Ricardo Soares Meirelles (UFF) 
 
317 GP 19 – DIREITO, TECNOLOGIA E SOCIEDADE DE CONTROLE 
Coordenação: 
Márcio Pugliesi (USP) 
Nuria López (DIGITAL HOUSE-SP) 
 
329 GP 20 – GÊNERO, MINORIAS E DIREITOS SOCIAIS 
Coordenação: 
Lúcio José Dutra Lord (UEMG) 
Luísa Helena Marques de Fazio (IMES) 
Marco Aurélio Serau Júnior (IBDP) 
Plínio Antônio Britto Gentil (PUC-SP/UNIP) 
Solange Bassetto de Freitas (UNIP) 
 
348 GP 21 – GÊNERO, SEXUALIDADE, CRIME E VIOLÊNCIA 
Coordenação: 
Marília Montenegro Pessoa de Mello (UNICAP/UFPE) 
Roberto Efrem Filho (UFPB) 
Mariana Pimentel Fischer Pacheco (UFPE) 
 
375 GP 22 – GÊNERO, SEXUALIDADE E DIREITO 
Coordenação: 
Caroline Ferri (UFSC) 
Crishna Mirella Andrade Correa (UFSC) 
Fernanda da Silva Lima (UFSC) 
 
405 GP 23 – JUSTIÇA E DIREITOS HUMANOS NA AMÉRICA LATINA 
Coordenação: 
Flavianne Nóbrega (UFPE) 
Bruno Galindo (UFPE) 
Jayme Benenuto (UNILA/UFPE) 
Lorena Freitas (UFPB) 
 
440 GP 24 – JUSTIÇA FISCAL E GÊNERO 
Coordenação: 
Luciana Grassano de Gouvêa Mélo (UFPE) 
Ana Pontes (UFRPE) 
Marciano Seabra de Godoi (PUC-MG) 
 
455 GP 25 – JUSTIÇA RESTAURATIVA: AVANÇOS E DESAFIOS 
Coordenação: 
Fernanda Fonseca Rosenblatt (UNICAP) 
Raffaella Pallamolla (UNILASALLE) 
Daniel Achutti (UNILASALLE) 
 
480 GP 26 – JUSTIÇA SOCIAL, EDUCAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS 
Coordenação: 
Kelly Gianezini (UNESC) 
Fabíola Garrido (UFRRJ) 
 
 
496 GP 27 – LINGUAGEM E DIREITO 
Coordenação: 
José Antonio Callegari (UFF) 
Rosalice Pinto (UNL-Portugal) 
Virgínia Leal (UFPE) 
 
524 GP 28 – MODERNIDADE E DIREITO NA SOCIOLOGIA E NA HISTÓRIA 
Coordenação: 
Orlando Villas Bôas Filho (USP/UPM) 
Alexandre da Maia (UFPE) 
Gustavo Angelelli (UNIV. CRUZEIRO DO SUL) 
Raphael da Rocha Rodrigues Ferreira (UNISANTA) 
 
540 GP 29 – METODOLOGIA DA PESQUISA E DO ENSINO DA SOCIOLOGIA JURÍDICA 
Coordenação: 
Aleteia Hummes Thaines (UNOSOCIESC) 
Celso Fernandes Campilongo (USP)Fernanda Busanello Ferreira (UFG) 
Fernando Rister de Sousa Lima (UPM) 
 
553 GP 30 – MÍDIA, JUSTIÇA E NEOLIBERALISMO 
Coordenação: 
Sylvio Gadelha (UFC) 
Karina Valença (UFPE) 
David Oliveira (UFC) 
 
567 GP 31 – MOBILIZAÇÃO DO DIREITO E MOVIMENTOS SOCIAIS: IMPACTOS 
ACADÊMICOS E POLÍTICOS 
Coordenação: 
Celly Cook Inatomi (INCT-INEU) 
Fabiola Fanti (CEBRAP) 
 
574 GP 32 – O ENSINO DA SOCIOLOGIA JURÍDICA E A PRÁXIS DA ASSESSORIA JURÍDICA 
POPULAR 
Coordenação: 
Emiliano Maldonado (IPDMS) 
Fernando Goya (UNILASALLE) 
 
583 GP 33 – PERSPECTIVAS SOCIOLÓGICAS E JURÍDICAS ACERCA DAS INFÂNCIAS E 
ADOLESCÊNCIAS NOS 30 ANOS DA CONVENÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS DA 
CRIANÇA 
Coordenação: 
Ana Cláudia Pompeu Torezan Andreucci (USP/UPM) 
Michelle Asato Junqueira (UPM) 
Josilene Hernandes Ortolan Di Pietro (UFMS-CPTL) 
Laura N. Lora (UBA-Argentina) 
Paula Noelia Bermejo (UBA-Argentina) 
 
602 GP 34 – O IMIGRANTE E OS INSTITUTOS JURÍDICOS DE PROTEÇÃO HUMANITÁRIA À 
LUZ DA TEORIA DOS SISTEMAS SOCIAIS 
Coordenação: 
Cynara de Barros Costa (UEPB/UFCG) 
Dayse Amâncio dos Santos Veras Freitas (UFPE) 
 
 
 
 
 
610 GP 35 – PROCESSO PENAL, GARANTIAS CONSTITUCIONAIS E A SUA CRÍTICA 
Coordenação: 
Ana Cláudia Pinho (UFPA) 
André Carneiro Leão (FADIC) 
Manuela Abath Valença (UFPE/UNICAP) 
 
635 GP 36 – SISTEMAS DEMOCRÁTICOS EM CRISE, CONSTITUCIONALISMO E SOCIEDADE 
Coordenação: 
Carina Barbosa Gouvêa (UFPE) 
Jayme Benvenuto (UFPE) 
Pedro H. Villas Bôas Castelo Branco (IESP/UERJ) 
 
664 GP 37 – SOCIOLOGIA DO DIREITO E POLÍTICA SOCIAL 
Coordenação: 
Evilasio da Silva Salvador (UNB) 
Marcio Henrique Pereira Ponzilacqua (USP) 
Maria Lúcia Barbosa (UFPE) 
Maria Raquel Lino de Freitas (PUC-MG/USP) 
 
690 GP 38 – SOCIOLOGIA DO PODER JUDICIÁRIO: CRISES E REFORMAS 
Coordenação: 
Flávia Santiago Lima (UPE) 
Jairo Lima (UENP) 
João Andrade Neto (PUC-MG/FACULDADE ARNALDO) 
Vanice Regina Lírio Valle (UNESA) 
 
717 GP 39 – SOCIOLOGIA DO PROCESSO E DA ADMINISTRAÇÃO DE CONFLITOS 
Coordenação: 
Paulo Eduardo Alves da Silva (USP) 
Pedro Heitor Barros Geraldo (InEAC/UFF) 
José Mário Wanderley Gomes (UNICAP/CESMAC) 
 
734 GP 40 – TEORIA SOCIOLÓGICA E PESQUISA DO DIREITO 
Coordenação: 
Igor Suzano Machado (UFES) 
Paula Pimenta Velloso (UFJF) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Coordenação: 
Arnelle Rolim Peixoto (GEDAI/UFC) 
Maria da Glória Costa Gonçalves de Sousa Aquino (UFMA) 
10 
 
 
 
 
 
 
 
A VIOLÊNCIA DE GÊNERO NA CONTEMPORANEIDADE A PARTIR DA SUSPENSÃO 
DO JUÍZO E DA OBEDIÊNCIA CEGA: A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NA REPRODUÇÃO 
E NATURALIZAÇÃO DO MACHISMO 
 
Ananda Gabriella dos Santos Dornas 
Graduanda em Direito pela PUC Minas-Serro 
José Emílio Medauar Ommati 
Mestre e Doutor em Direito Constitucional pela UFMG, Professor do Curso de Direito da PUC Minas-Serro e Professor 
do Mestrado em Direito da Universidade de Itaúna-MG 
 
 O presente trabalho tem por intuito principal trazer discussões acerca do machismo 
presente na violência de gênero estrutural e a forma como esse mecanismo patriarcal (PATEMAN, 
1993) reforça as violências multifacetas que ocorrem sobre o gênero feminino em uma sociedade 
baseada em uma burocracia de massa que retira dos sujeitos a sua faculdade de pensar e faz com 
que pessoas comuns reforcem as violências de gênero, reproduzindo-as de modo banal. (ARENDT, 
1999). Os ambientes institucionais que formam as modernas democracias burocráticas (ARENDT, 
1999), afastam do indivíduo sua capacidade de juízo sobre suas ações, uma vez que este não mais 
consegue observar o resultado das suas ações, uma vez que se coloca como apenas um 
mecanismo dentro de uma teia muito maior que se engendra nessas burocracias. É, o que chama 
Arendt (2010) da vitória do animal laborans: “*…+ apenas uma das espécies animais que povoam a 
Terra – na melhor das hipóteses, a mais desenvolvida” (ARENDT, 2010, p. 104), um ser vivente na 
solidão perante ao produto de seu trabalho e de vida, e de manter-se em uma dinâmica na qual o 
estar vivo é compartilhado com outros animais viventes, permanecendo “*…+ adstrito à satisfação 
de suas necessidades corporais compulsivas, incompartilháveis e significativamente 
incomunicáveis.” (CORREIRA, 2013, p. 210). Ou seja, é esse ser solitário e comum, na burocracia 
que pode praticar o mal e torná-lo banal, melhor dizendo, torná-lo comum, tendo em vista que a 
existência do outro é meramente “animalesca”. Devido à isso, as questões relacionadas as formais 
mais diversas de violência, podem se perpetuar na contemporaneidade, e, no caso do trabalho em 
si, esse movimento é uma das explicações para a violência de gênero: a ausência do juízo impede 
o pensamento crítico, e, nesse espaço de silêncio, o “cumprir” ordenou a invisibilidade do Outro, 
no caso, o gênero feminino, ou mesmo a matabilidade do outro, torna-se algo comum, esperado 
e, por vezes, até desejado. Esse sintoma é potencializado com os mecanismos de comunicação 
midiáticos, quere forçam o machismo no ocidente, moldando esse animal laborans, e sua 
suspensão do juízo. A mulher nas mídias é desumanizada de uma forma sutil, pois é “*…+ vista 
apenas como um corpo a ser consumido; a violência de veros crimes de de violência doméstica *…+ 
de ser excluída dos espaços de decisão, de ser futilizada dia após dia por meio da generalização” 
 
11 
 
(CHAVES, 2010, p. 219). A transformação da mulher em um produto de consume midiático é uma 
forma de violência de gênero que se aplica na suspensão do juízo praticada pelo animal laborans 
da teoria de Arendt. O “homem supérfluo”, que é o que labora, é criado por essa suspensão do 
juízo e produze a violência sutil midiática que reforça a discriminação de gênero e culpabiliza a 
vítima. Assim, o presente trabalho tem como problema identificar as formas como essa violência 
pode ser observada na modernidade, discernindo a participação das mídias no mecanismo da 
violência de gênero. O trabalho tem por objetivos apresentar a teoria de Arendt sobre a 
banalidade do mal, bem como descrever a forma como esse machismo sútil midiático é tão nocivo 
quanto à violência explícita contra o gênero feminino. A metodologia será a bibliografia 
documental com método qualitativo, e tem por conclusões parciais o fato de que a banalidade do 
mal fomenta, cria e desenvolve o machismo em vários âmbitos, e, sutilmente, se engendra nas 
esferas midiáticas, na qual principalmente a objetificação e culpabilização da mulher amplia as 
formas de violência de gênero contra esta. 
REFERÊNCIAS 
ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém: um relatosobre a banalidade do mal. Trad. José 
Rubens Siqueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. 
ARENDT, Hannah. A condição humana. 10. ed. Trad. Roberto Raposo. Rio de Janeiro: Forense 
Universitária, 2010. 
CORREIA, Adriano. Quem é o animal laborans de Hannah Arendt? Rev. Filos. Aurora, Curitiba, 
v. 25, n. 37, p. 199-222, jul./dez. 2013. 
CHAVES, F. N. A sociedadecapitalista e o feminino: suaestruturafalocêntrica e a questão da 
aparência. In: MARCONDES FILHO, C. (org). Transporizações. São Paulo: Eca-Usp, 2010. 
PATEMAN, Carole. O contrato sexual. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993. 
 
PENSANDO A VIOLÊNCIA DE GÊNERO A PARTIR DA ZONA DO NÃO SER 
 
Daniela dos Santos Almeida 
Mestranda em Teoria do Estado e Direito Constitucional pela PUC-RJ 
 
PROBLEMA INVESTIGADO 
A presente pesquisa tem como objetivo mapear, à luz do feminismo decolonial e 
afrodiaspórico, o que se tem conceituado teoricamente como “violência de gênero” ou 
“violência contra mulheres” e as violências denunciadas por mulheres situadas na zona do não 
ser, confrontando-as, avaliando e explicitando eventuais problematizações que possam 
emergir desse encontro. A questão surgiu especialmente do contato com uma pluralidade de 
dados estatísticos que sugerem que a evolução concreta do cenário de violência contra 
mulheres no Brasil tem se dado de forma distinta para mulheres brancas e negras bem como 
com o trabalho de autoras feministasantirracistas que já trazem uma série de produções que 
dão sentidos aos dados. 
Verifica-se, à luz dos conceitos de zona do ser e de zona do não ser que a elaboração e 
implementação de políticas e estratégias de enfretamento à violência contra mulheres é 
diretamente influenciada pelos sistemas de opressão, que têm a violência como engrenagem 
estruturante. Uma vez explicitado que a violência opera de maneiras distintas na zona do ser e 
12 
 
na zona do não ser, torna-se possível empreender o esforço de reconfigurar o que se registra e 
entende como violência contra mulheres de modo a visibilizar e efetivamente combater a 
violência de gênero imposta a mulheres negras. 
OBJETIVOS 
O principal objetivo do trabalho é reconfigurar teórico-conceitualmente a noção de 
violência de gênero desde perspectivas e experiências amefricanas lidas como inseridas em 
uma matriz de poder composta por sistemas de dominação imbricados. 
MÉTODO DE ANÁLISE 
Realiza-se um estudo bibliográfico, de caráter exploratório, nas obras de Frantz Fanon e 
Martín-Baró, que são tomados como principais referenciais para compreender o modus 
operandi da violência, seus aspectos, funções e dimensões. Toma-se uma concepção 
amefricanizada do feminismo como epistemologia, como modo de compreender a realidade 
política a partir da noção de simultaneidade de opressão. Toma-se como premissa a existência 
de uma matriz de poder composta por pelo menos quatro sistemas de dominação – o 
colonialismo, o capitalismo, o racismo e o cisheteropatriarcado – que se sustentam 
mutuamente porquanto articulados de forma complexa e imbricada. 
CONCLUSÕES PRELIMINARES 
Na medida em que a matriz de poder estabelece um sujeito de direitos que se pretende 
universal mas que, contudo, tem raça, gênero, classe, sexualidade e religião definidos, o 
direito não se aplica à proteção daquele que não cabem nesse paradigma. Àqueles confinados 
à zona do não ser a regra é a violência, mas esta também se opera, ainda que na gramática do 
desvio, na zona do ser, que é heterogênea. 
A concepção teórica de violência contra mulher deve estar suficientemente aberta de 
modo que não se proponha a dar conta de todas as modalidades possíveis e, ao mesmo 
tempo, permita que elas sejam reconhecidas como violentas. Em análise sumária, entendo que 
as agressões físicas, morais e simbólicas constituem, todas elas, formas de violência que 
podem estar presentes em modalidades de violência contra mulheres. Reputo necessário 
atribuir à violência contra mulheres enquanto categoria contornos capazes de distingui -la das 
modalidades que as violências contra as mulheres podem assumir. 
É necessário que se tenha uma chave para identificar e explicitar a violência de gênero 
mesmo quando não se tem o reconhecimento jurídico-formal da respectiva modalidade. É 
importante que se tenha uma categoria que não se confunda com as agressões que 
configuram determinada modalidade de violência para que a caracterização do fato em tese 
como violência de gênero não seja capturada por particularismos. Por isso, inicialmente, me 
parece que violência de gênero ou violência contra mulheres é uma categoria de violência 
estrutural que comporta modalidades de violência institucionais e interpessoais, 
caracterizáveis por variadas formas de agressão (física, psicológica, moral, etc.). 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
A RELAÇÃO SOCIOGEOGRÁFICA COMO PROPULSORA DO ABANDONO DA MULHER 
NO CÁRCERE FEMININO EM ALAGOAS 
 
Dávila Lorena de Jesus 
Graduanda em Direito pela UFAL/FDA 
Robson Nazaro da Conceição 
Bacharel em Ciências Sociais pela UNESP e Graduando em Direito pela UFAL/FDA 
 
Constitui-se como um ponto revisitado na literatura jurídica, a presença da dupla punição 
que recai sobre a mulher criminosa, ora pelo cometimento do ato tido como ilícito, ora pelo 
estigma advindo da quebra do papel social imposto ao gênero mulher. 
Em decorrência dessa construção do estigma da mulher criminosa, eminentemente 
sociocultural, se apresenta um problema no sistema carcerário feminino, a saber, o abandon e 
consequente solidão da mulher no cárcere. No entanto, sem negarmos essa faceta que 
consideramos ser a base sustentadora deste problema, o presente trabalho busca trazer à tona 
outro elemento que contribui de maneira relevante e peculiar para o fenômeno do abandono e 
decorrente solidão da mulher no cárcere no Estado de Alagoas. 
O elemento que se pretende explorar é o do caráter sociogeográfico do presidio feminino 
Santa Luzia em Alagoas, visto que é a única unidade prisional feminina em todo o Estado, fazendo 
com que, independente do município que estas mulheres provieram e constituam família, suas 
visitas tenha que deslocar até a capital. 
É com base nessa dinâmica que se objetiva discutir em que medida a questão geográfica 
contribui para a problemática do abandono e solidão da mulher no cárcere, diante do obstáculo 
para o deslocamento periódico dos visitantes até a unidade prisional em questão. Bem como, de 
que forma este elemento é reafirmador da segregação e invisibilização da situação das mulheres 
no cárcere feminino, apresentando-se como uma violência simbólica perante estas, de modo que 
muitas tem inviabilizado o exercício de seu direito à visita. 
Para tanto, o presente trabalho tem como objeto de estudo o presídio feminino de 
segurança máxima Santa Luzia, situado no Complexo Penitenciário de Maceió, BR-104, Alagoas. 
Para explorar a problemática explicitada, ter-se-á como suporte a revisão bibliográfica que se 
debruça nos aspectos socioespaciais do cárcere e sua relação com o instituto das visitas no âmbito 
do cárcere feminino, bem como na observação de dados empíricos de base documental sobre esta 
unidade prisional, a saber: a) As comarcas de origem das mulheres que se encontram em situação 
de cárcere; b) Número de visitas que cada uma dessas mulheres recebem, mensalmente. 
Posteriormente, dada à presença, neste mesmo presídio, de mulheres em duas situações 
jurídicas distintas – presas provisórias (Módulo 1) e condenadas (Módulo 2), observar-se-á, 
separadamente, como se manifestam os dois pontos supracitados em relação às presas 
provisórias, mulheres que aguardam o julgamento, quanto para as presas condenadas, mulheres 
que já cumprem sua pena em definitivo. 
No tratamento dos dados recolhidos, proceder-se-á, ainda, o cruzamento dos pontos A e B, 
com vistas a produzir dados que nos permitam quantificar a relação existente entre o número de 
visitas que cada mulher encarcerada recebe com a sua comarca de origem, observada esta relação 
em cada módulo. 
14 
 
Até então, observou-se que a questão sociogeográfico em relação presídio Santa Luzia 
coloca-se como um obstáculo para a visitação das mulheres, dado que, como única unidade 
prisional feminina de todo o estado, abarca em seu seio mulheres advindas das mais diversas 
localidades, do sertão ao litoral, fazendo com que seus familiares, principalmente, encontre 
obstáculos na distância e, por consequência, no gasto financeiro para custear a visitação periódica. 
De mesmo modo, observa-se, desde já, como a categoria de classe precisa ser evidenciada 
neste cenário, posto que impossibilita e dificulta o translado de muitas famílias em condição de 
vulnerabilidade socioeconômica. Por isso, a necessidade de discussão dos dados observados, a 
partir de um viés interseccional. E, por fim, constata-se, centralmente, como essa problemática 
não se constituindo um afronte direto ao direito de visita, se manifesta como uma violência 
simbólica naturalizada. 
 
VIOLÊNCIA DE GÊNERO E CULTURA ÍNDIGENA EM PERNAMBUCO: ESTUDO ACERCA 
DA APLICAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA EM CONTEXTOS DE 
INTERCULTURALIDADE 
 
Glebson Weslley Bezerra da Silva 
Mestre em Direito pela UNICAP. Especialista em Direito Penal e Processo Penal pela UCAM. Graduado em Direito pelo 
DeVryUNIFAVIP. Professor do Curso de Direito do UNINABUCO-Campus Recife. Membro do Núcleo Docente 
Estruturante do Curso de Direito UNINABUCO-CampusRecife. Coordenador do Grupo Tejucapapo de Criminologia da 
UNINABUCO. Advogado, inscrito na OAB -PE. Pesquisador do Grupo Asa Branca Criminologia da UNICAP/CNPq. 
Extensionista do Grupo Além das Grades da UFPE. 
 
Este trabalho busca compreender as situações de violência doméstica que mulheres 
indígenas tem enfrentado em suas relações interpessoais e perceber como o ordenamento 
jurídico brasileiro se comporta diante dessas violências sofridas. Entendemos o enfrentamento a 
violência de gênero como a criminalização da violência as mulheres, não só pela letra das normas 
ou leis, mas também pela consolidação de estruturas culturais, sociais e políticas que são 
intimamente ligadas a uma sociedade patriarcal. Desse modo, ao pensar no ordenamento jurídico 
uma lei com nome de mulher, observamos a Lei Maria da Penha enquanto mecanismo legislativo e 
como forma de prevenir e coibir a violência doméstica à mulher. Quanto a mulher ser indígena e 
se encontrar em situação de violência doméstica, temos que levar em consideração a concepção 
cultural de gênero e suas resoluções de conflito. Assim, a presente pesquisa tem como proposta 
analisar a aplicabilidade dessa normativa em contextos de interculturalidade, universos de 
comunidades indígenas do estado de Pernambuco, para investigar a aplicabilidade e efetividade 
da norma a partir desses marcadores culturais, elegemos desse modo a Vara Criminal localizada 
no munícipio de Pesqueira. Justifica-se uma vez que quando da aprovação da Lei 11.340/2006 não 
foram pensadas as situações de violência contra mulheres indígenas no contexto das comunidades 
ou fora delas por homens do mesmo grupo étnico Tem-se como objetivos específicos a discussão 
sobre as estruturas de poder que fazem parte do modelo colonial de gestão, bem como a 
discussão sobre como o feminino foi construído no Sistema de Justiça Criminal. Assim, poderemos 
entender como que a população indígena feminina é considerada (e se é considerada) pelo 
Sistema de Justiça Criminal e como as estruturas de poder influenciam numa invisibilidade e na 
cultura do silenciamento e encobrimento do outro, provocando dessa forma um genocídio 
cultural. 
Palavras-chave: Decolonialidade. Interculturalidade. Gênero. Violência Doméstica. Indígenas. 
 
15 
 
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA, MEDIDAS PREVENTIVAS E RESPALDO ESTATAL: UMA 
ANÁLISE ANTIPUNITIVISTA 
 
Iasmim Queiroz Grosso 
Acadêmica de Direito da UFPE 
Jessica Cristina Souza do Nascimento 
Acadêmica de Direito da UFPE 
 
 Cerca de 100 mulheres por dia sofrem violência doméstica em Pernambuco, segundo 
balanço apresentado no início de 2018 pela Secretaria de Defesa Social do estado (QUASE…, 
2018). Nas últimas décadas, importantes mecanismos jurídicos foram criados sob o foco de tal 
realidade, como a Lei Maria da Penha (2006). Segundo seu art. 1º, a referida Lei, estão entre os 
objetivos “criar mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a 
mulher”, e “estabelecer medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de violência 
doméstica e familiar”. O art. 8º discorre sobre medidas preventivas de responsabilidade pública 
que visam à desconstrução das condições sociais que perpetuam a violência. 
 Na realidade prática, no entanto, há uma ausência de políticas públicas efetivas de 
prevenção, sobretudo quanto à eficácia do instrumento de Medida Protetiva de Urgência. O que 
vê-se, na verdade, é um pedaço de papel sem materialidade preventiva, usado para fins 
meramente processuais. 
 O respaldo do Estado, dessa maneira, vem apenas quando a violência já está posta; não há 
um processo de escuta com as acionantes, cujo interesse, muitas vezes, não é ter os seus 
companheiros submetidos à violência do cárcere, e sim romper o ciclo de violências. Assim, 
buscamos questionar o papel do Sistema de Justiça Criminal (SJC) em tais casos. A partir de uma 
criminologia crítica feminista, Vera Regina Pereira de Andrade pontua que: 
o SJC é ineficaz para a proteção das mulheres contra a violência porque, entre outros 
argumentos, não previne novas violências, não escuta os distintos interesses das vítimas, 
não contribui para a compreensão da própria violência sexual e a gestão do conflito e, 
muito menos, para a transformação das relações de gênero. O sistema não apenas é 
estruturalmente incapaz de oferecer alguma proteção à mulher, como a única resposta 
que está capacitado a acionar – o castigo – é desigualmente distribuído e não cumpre as 
funções preventivas (intimidatória e reabilitadora) que se lhe atribui. Nesta crítica se 
sintetizam o que denomino de incapacidades protetora, preventiva e resolutória do SJC. 
(ANDRADE, 2005, p. 75) 
 A partir dessa crítica, este trabalho objetiva aprofundar um debate acerca da atuação do 
Sistema de Justiça Criminal em seu pretenso papel de combater violências direcionadas a minorias 
sociais, com recorte para a violência doméstica, analisando qualitativamente como tal violência se 
constrói sobre a noção de violência de gênero, numa realidade em que nosso Direito Penal, 
essencialmente punitivista, é o mais forte mecanismo posto pelo poder Estatal para responder a 
essa questão. Para além, buscamos respostas que possam acolher o problema da violência 
doméstica no que transcenda seu estereótipo de manifestações, no universo que constitui 
relações de poder viscerais no lar. 
 Focando nas possibilidades de prevenção de agressões lato sensu que o Estado pode 
oferecer, preliminarmente concluímos que a violência doméstica não será combatida de maneira 
eficaz sem a busca por possibilidades de atuação que não se restrinjam à esfera penal ou até 
mesmo jurídica. Tudo isso ensejando não transformar a dor de tantas que têm suas vidas 
16 
 
marcadas pela insegurança em suas próprias casas numa abstração teórica, tratando a pauta com 
a urgência que lhe é inerente, mas sem esquecer que nossos olhares imediatos são viciados por 
sentimentos punitivos de eficácia simbólica. 
REFERÊNCIAS 
ANDRADE, V. R. P. de. A soberania patriarcal: o sistema de justiça criminal no tratamento da 
violência sexual contra a mulher. Revista Seqüência, Florianópolis, v. 26, n. 50, p. 71- 102, jul. 2005. 
QUASE cem mulheres sofrem violência doméstica a cada dia em pernambuco. JC online. 2018. 
Disponível em: jconline.ne10.uol.com.br/canal/cidades/geral/noticia/2018/02/15/quase-cem-
mulheressofrem-violencia-domestica-a-cada-dia-em-pernambuco-327959.php. Acesso em: 14 jun. 2019. 
 
O PATRIARCALISMO, A DIMENSÃO PÚBLICA DA VIOLÊNCIA DE GÊNERO E O 
DOMÍNIO (BIO)POLÍTICO SOBRE CORPO FEMININO: MUITO MAIS DO QUE “BRIGA 
DE MARIDO E MULHER” 
 
Joice Graciele Nielsson 
Professora-pesquisadora do Programa de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado em Direitos Humanos), do Curso de 
Graduação em Direito e Coordenadora da Especialização em Justiça Restaurativa e Mediação na UNIJUI. Integrante do 
Grupo de Pesquisa Biopolítica e Direitos Humanos, certificado pelo CNPq. Doutora em Direito pela UNISINOS. Mestre 
em Desenvolvimento e Direitos Humanos pela UNIJUI. 
 
 Considerando dois fenômenos recentes que tem afetado o Brasil e, especialmente os 
países latino-americanos: o avanço de uma frente conservadora que busca desqualificar o debate 
sobre questões de gênero; e o alarmante aumento da violência contra a mulher, este artigo 
propõe uma reformulação nas teorias clássicas acerca da violência de gênero e seu 
enclausuramento ao espaço privado, doméstico, considerado como um problema individual 
decorrente de relações afetivas entre homens e mulheres. Seu objetivo é explorar a existência de 
uma dimensão pública, política e estatal dos crimes do patriarcalismo como uma pedagogia da 
crueldade, apresentando como hipótese, a partir dos estudos da antropóloga Rita Segato, e da 
teoria biopolítica de Giorgio Agamben, a consideração de que a violência patriarcalista é 
estruturante do modelo estatal colônia da modernidade liberal, e, portanto, sua reprodução 
torna-se um elemento (bio)político fundamental paraa sustentação e perpetuação deste modelo 
de poder, especialmente em suas versões mais autoritárias, conservadoras e politicamente 
fascistas. Em seu desenvolvimento, na primeira parte traça o caminho das formas tradicionais de 
patriarcado de baixa intensidade da Antiguidade, ao patriarcalismo moderno-colonial, cuja 
implementação passa pela tomada de controle do corpo (individual e coletivo) das mulheres, 
agora um corpo-território político. Na segunda, conceitua a violência de gênero como uma 
violência patriarcalista, ou seja, pública e, portanto, política, que se recrudesce em tempos de 
avanços de regimes autoritários e fascistas, cuja atuação violenta sistemática contra corpos 
femininos e feminizados passa despercebida pela construção de um imaginário de privatização e 
individualização de tais crimes como “crimes de marido e mulher”, nos quais o Estado, no máximo, 
passa a ter o “dever de meter a colher”. Diante disso, afirma que a violência legitimada, praticada 
sobre os corpos femininos, constitui uma estratégia política que faz circular marcas de soberania 
de uma confraria masculina que mantém seu funcionamento e lealdade à um poder soberano 
estatal, branco, colonial e heteronormativo. Conclui, portanto, que o controle sobre o corpo 
feminino e feminizado é, portanto, instrumental ao avanço de poderes políticos autoritários e 
fascistas, e é urgente a necessidade de desvelamento desta função estratégica e biopolítica da 
 
17 
 
violência patriarcalista. Para sua realização, utiliza, na investigação o método de abordagem 
histórico e o método de procedimento indutivo, em um caráter qualitativo. 
Palavras-chave: Patriarcalismo. Violência de gênero. Corpos femininos. Fascismo. Biopolítica. 
 
A MULHER ENCARCERADA É TRIPLAMENTE DISCRIMINADA 
 
Josiane Pantoja Ferreira 
Mestranda do Programa de Mestrado Profissional em Planejamento e Políticas Públicas da UECE 
Maria Helena de Paula Frota 
Professora-Orientadora do Programa de Mestrado Profissional em Planejamento e Políticas Públicas da UECE 
 
 O objetivo deste texto é contribuir com a discussão a respeito da educação em espaço de 
privação de liberdade e evidenciar que a mulher encarcerada sofre os impactos da tripla exclusão, 
primeiro por serem das camadas populares da sociedade e não terem seus direitos garantidos, 
segundo por estarem presas e terceiro por serem mulheres (discriminação de gênero). O lócus da 
investigação foi o Instituto de Administração Penitenciária do Amapá, mais especificamente no 
Anexo da Escola Estadual São José - EESJ que fica no interior da Penitenciária Feminina. O método 
utilizado para a concretização desse estudo científico foi o dialético, de acordo com Gil (2008), ele 
possibilita uma compreensão dinâmica da realidade, ao considerar os fatores econômicos, 
políticos, ou seja, o contexto histórico e social. A pesquisa seguiu as seguintes etapas: pesquisa 
bibliográfica do objeto de estudo; visita de campo e observação. Os instrumentos e as técnicas 
para coleta de dados foram: questionários; análise documental e grupo focal. O grupo focal foi 
realizado com as mulheres presas que estudam e a aplicação de questionários foi utilizado com as 
mulheres encarceradas que não estudam e com as mulheres egressas que estudaram no período 
de reclusão. Por meio dessas técnicas ficou cristalino que mesmo com todas as dificuldades como: 
a falta de estrutura física, material, pedagógica e de pessoal dentre outras mazelas, o ensino 
ofertado na EESJ é capaz de contribuir com o retorno social da mulher privada de liberdade ao 
possibilitar por meio da educação a ressignificação de sua trajetória de vida e assim alargar seus 
horizontes fazendo com que seja possível acreditar em um projeto de vida longe da criminalidade 
ao sair da prisão. 
 
A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER À LUZ DOS DIREITOS HUMANOS 
 
Josicleide de Oliveira Freire 
Mestra em Serviço Social pela UFAL e Graduanda em Direito pelo UNIT 
Fagner Roberto Ferreira Freire 
Graduando em Direito pelo UNIT 
 
 Este resumo tem como objetivo analisar a violência contra a mulher à luz dos Direitos 
Humanos, considerando que na trajetória humana a mulher tem sido vítima de uma série de 
violências em decorrência do não reconhecimento do seu direito humano enquanto mulher. Foi 
na luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres, que após um lapso temporal de 
18 
 
omissão, o Estado passou a reconhecer esse direito, com a implementação de legislação e politicas 
de combate à violência contra a mulher. No entanto, apesar de um conjunto de normas que 
disciplinam sobre a temática, os casos de mulheres que tiveram a sua vida ceifada pelo 
preconceito, oriundo de uma sociedade patriarcal só cresceu, exigindo por parte do Estado, não 
apenas legislação e politicas públicas para uma maior efetivação no enfrentamento a violência 
contra a mulher, mas a conscientização dos atores envolvidos no crime, visto que a aplicação da 
lei é ineficaz sem essa consciência. Nessa direção, propomo-nos inicialmente a expor a concepção 
de Direitos Humanos, tão marginalizada na sociedade, por não concebê-la como um direito de 
todo ser humano, independentemente de sua raça, gênero, cor ou credo. E na sequência nos 
dedicaremos em situar à construção da Política de Combate a Violência contra a Mulher no Brasil, 
desde os tratados internacionais de Direitos Humanos a legislação nacional vigente, bem como, 
quais os desafios dessa política para a efetivação do direito humano de toda mulher. Levando em 
consideração a construção histórica desvirtuada da figura da mulher, edificada a partir de uma 
visão machista e preconceituosa, que ao longo dos anos gerou círculos de violência contra o 
gênero feminino. Tal concepção contribuiu para que o Estado fosse omisso a problemática da 
violência contra a mulher, incorporando no seu ordenamento jurídico a Lei Maria da Penha de nº 
11.340/06, após um largo período de silêncio e aceitação, o que contribuiu para uma série de 
arbitrariedades contra a mulher, configurando numa verdadeira violação aos direitos humanos. 
Apesar da existência de legislação e de politicas públicas voltadas a proteção do gênero feminino, 
compreende-se que a ausência de conscientização sobre o crime imputado, de nada contribuirá 
para a sua erradicação, haja vista que fomos marcados por uma sociedade machista e 
preconceituosa, prova disso é o número cada vez crescente de mulheres que tiveram sua vida 
ceifada por companheiros que tinham nelas o não reconhecimento enquanto sujeito de direito e 
sim como um objeto disposto atender seus anseios e devaneios. Assim, todas as formas de 
violência e opressão ao gênero humano, são uma violação aos Direitos Humanos, um direito 
fundamental, preconizado pela carta magna de 1988 e seus antecessores, tal direito é banalizado 
e desvirtuado por não se compreender que os direitos humanos são sinônimos de um direito 
inerente a todos os seres humanos, essa condição humana independentemente de fatores 
externos nos tornam únicos e iguais entre si. 
 
O RENASCIMENTO DO PARTO: A REESTRUTURAÇÃO DA POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA 
À SAÚDE DA GESTANTE EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS - SP 
 
Juliana Frei Cunha 
Mestra em Direito pela UNESP. Professora de Direito e Voluntária da Defensoria Pública-SP 
Júlio Camargo de Azevedo 
Mestre em Direito pela USP. Professor de Direito e Defensor Público no Estado de São Paulo. 
 
 A violência obstétrica apresenta-se como uma prática estrutural no Brasil e como uma espécie de 
violência de gênero que vulnerabiliza direitos fundamentais da mulher, dos nascituros e recém-
nascidos. Esse problema social e de saúde germina no solo mais profundo da cultura, portanto, a 
despeito da existência de marcos normativos e políticas públicas destinadas a humanização do 
parto, estas são insuficientes quando apartadas de ações específicas para a transformação da 
realidade. Essa pesquisa tem como objetivo abordar a recente experiência da reestruturação da política de 
assistênciaà saúde da gestante no município de São José dos Campos/SP. A identificação e compreensão 
do problema brotou em 2014 como fruto da iniciativa de movimentos sociais – ÓPIS – Obstetrizes do Vale, 
 
19 
 
Parto do Princípio, Roda Bebêdubem e Centro Dandara de Promotoras Legais Populares - junto ao Núcleo 
de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher (NUDEM) da Defensoria Pública Estadual (DPE). Pautadas por 
perspectivas feministas, emancipatórias e de empoderamento social, essas protagonistas sociais 
privilegiaram a utilização de um modelo sustentável, cooperativo e extrajudicial fundamentado em uma 
ampla participação democrática – reuniões administrativas com o Poder Público, Movimentos Sociais e 
Especialistas, colhimento de depoimentos, audiência pública, elaboração de cartilha informativa - para o 
enfrentamento da violência obstétrica e a humanização do parto. Desse esforço conjunto, nasceu, em 
junho de 2018, o Termo de Ajustamento de Conduta nº 01/2018 por meio do qual o município 
comprometeu-se a cumprir as leis estaduais nº 10.241/99 a lei nº 15.759/15 que versam, 
respectivamente, sobre os direitos dos usuários dos serviços de saúde e o direito ao parto 
humanizado nos estabelecimentos públicos de saúde. O TAC estruturou-se em seis eixos centrais: 
1. Humanização do atendimento; 2. Direito à informação adequada; 3. Direito ao acompanhante; 
4. Respeito à autonomia da mulher; 5. Dever de justificação por escrito das práticas médicas 
interventivas; 6. Dever de adequação dos métodos e procedimentos às normativas vigentes. Esses 
eixos cuidam diretamente dos problemas identificados durante a gestação do TAC compreendida 
entre 2014 e 2018 e, guardadas as circunstâncias dos casos em concreto, essa metodologia foi 
pensada para ser replicável em outras localidades. Os resultados serão analisados ao longo dos 
próximos anos por meio de relatórios periódicos e visitações in loco. De imediato, já é possível 
apontar as seguintes modificações: a readequação da área física do Hospital Municipal com 
separação entre Pronto Socorro Obstétrico e Centro Obstétrico; a implantação de um Centro de 
Parto Humanizado; a reestruturação das práticas e procedimentos adotados no serviço de 
obstetrícia, bem como a capacitação dos profissionais sobre o TAC; livre presença do 
acompanhante no pré-parto, parto e pós-parto; diminuição do número de cesárias; regionalização 
do atendimento; obrigatoriedade do Plano Individual de Parto; divulgação acessível do TAC nas 
maternidades; abertura de curso mensal de natureza informativa para gestantes na rede básica de 
saúde; dentre outras. Até o momento, as principais dificuldades práticas vivenciadas são a 
resistência cultural e a violência obstétrica como tabu, já que trata-se de uma violência 
naturalizada e institucionalizadas, bem como a alteração estrutural de uma política pública em 
curso. 
 
TRAMAS DO FEMINICÍDIO NO DIREITO BRASILEIRO 
 
Marcela Dalia Carneiro 
 
 Este trabalho tem como objeto de estudo o art. 121, §2º-A, II, dispositivo acrescentado ao 
atual Código Penal pela Lei nº 13.104/15, que previu a qualificadora do feminicídio no referido 
diploma legal. O feminicídio, disposto no art. 121, §2º, VI, prevê o aumento da pena de reclusão se 
o homicídio é cometido contra a mulher por razões da condição de sexo feminino, que seria 
caracterizado no caso de I - violência doméstica e familiar; II – menosprezo ou discriminação à 
condição de mulher (art. 121, §2º-A). 
 Porém, antes da supracitada Lei nº 13.104/15, o Código Penal já previa enquanto 
qualificadora o motivo torpe (art. 121, §2º, I, CP), definido como “o motivo que atinge mais 
profundamente o sentimento ético-social da coletividade” (BITENCOURT, 2006, p. 85). Ora, devemos 
cogitar, portanto, que o legislador, ao prever a qualificadora do feminícidio no caso do menosprezo 
ou discriminação à condição de mulher, estaria incorrendo em terrível bis in idem, afinal, esta 
situação deveria atingir o mais elementar sentimento ético, sendo um evidente motivo abjeto. 
20 
 
 A necessidade da positivação de tal qualificadora, ao que tudo indica, ocorreria porque a 
violência motivada pela condição de ser mulher não estaria sendo enquadrada como motivo 
torpe, por não ser percebida como fundamentalmente contrária ao sentimento ético-social da 
coletividade. Porém, seria acurado crer que os mesmos aplicadores do Direito que não 
enquadravam tais situações na qualificadora de motive torpe passarão a compreender tal crime 
como motivado pela discriminação à condição de mulher, aplicando a qualificadora do 
feminicídio? 
 Para compreender melhor os motivos para a elaboração de tal qualificadora e como ela 
vem sendo aplicada na prática, pretende-se efetuar uma análise acerca das decisões dos mais 
diversos Tribunais do país na aplicação do art. 121, §2º-A, II, CP. 
 Ademais, como nosso sistema penal vem conceituando a “condição de ser mulher”, tema 
sempre abordado no movimento feminista, marcado fortemente pelo questionamento de Simone 
de Bevoir no prólogo do Segundo Sexo? (BEAVOIR, 2016, p. 14-16). Nesta perspectiva, devemos 
levar em consideração a crítica de Butler aos estudos sobre o gênero e às formas de ação política 
que se apoiam em identidades, perquirindo quais grupos e padrões comportamentais estão sendo 
excluídos da “condição de ser mulher” (BUTLER, s.d., p. 19). 
 Por fim, pretende-se suscitar, como questões a serem analisadas após a depuração dos 
dados, a problemática abordada por Fraser acerca das coletividades ambivalentes, como o gênero, 
que necessitam tanto de políticas afirmativas quanto de políticas transformativas (FRASER, 2001, 
p. 232-239) – estas que, em nosso país, aparentam estar sendo renegadas com o aumento do 
movimento conservador e as severas críticas traçadas tanto à “ideologia de gênero” quanto ao 
próprio movimento feminista. 
 O objetivo destas críticas não é o de desqualificar o feminicídio, afinal, temos a quinta 
maior taxa do mundo (AGÊNCIA BRASIL, 2017) de violência contra a mulher, de maneira que não 
se deve insistir apenas com divagações teóricas, renegando as lutas práticas. Contudo, deve ser 
questionado desde já se esta tipificação não seria apenas uma tentativa simplista e paliativa de 
solucionar um problema multifacetário, mascarando a necessidade de uma abordagem 
transformativa a respeito da temática do gênero. 
REFERÊNCIAS 
AGÊNCIA BRASIL. Taxa de feminicídios no Brasil é a quinta maior do mundo. Publicado em 27 de 
agosto de 2017. Disponível em: https://exame.abril.com.br/brasil/taxa-de-feminicidios-no-brasil-
e-a-quintamaior-do-mundo/. Acesso em: 10 jun. 2019. 
BEAVOIR, Simone de. O segundo sexo: fatos e mitos. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2016. 
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte especial 2: crimes contra a pessoa. 
São Paulo: Saraiva, 2016. 
BUTLER, Judith. Is kinship Always already heterossexual? Disponível em: 
http://hartza.com/butler2.pdf. 
FRASER, Nancy. Da redistribuição ao reconhecimento? Dilemas da justiça da era pós-socialista. In: 
SOUZA, J. (org.) Democracia hoje. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2001. 
 
 
 
 
21 
 
AS EXPRESSÕES DA CULTURA DA VIOLÊNCIA NO ÂMBITO DA SEXUALIDADE: 
DESAFIOS PARA A EFETIVAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS DA MULHER 
 
Maria da Glória Costa Gonçalves de Sousa Aquino 
UFMA 
 
As discriminações contra as mulheres demonstram a necessidade de se promover uma 
profunda análise sobre as raízes culturais que manifestam um modelo de dominação simbólica 
masculina, o que constitui barreira à consolidação do direito legal previsto, prejudicando a eficácia 
da Lei Maria da Penha e motivando graves violações de direitos humanos contra as mulheres. 
No ano de 2006, foi sancionada no Brasil a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340), com o 
objetivo de estabelecer uma proteção legal à violência doméstica e familiar contra as mulheres. 
Em que pese a pontual previsão normativa, a 11ª Edição do Anuário Brasileiro de Segurança 
Pública constatou queocorre um estupro a cada onze minutos no país, e que uma mulher é 
assassinada a cada duas horas. Comparando os anos de 2015 e 2016, verifica-se um aumento 
gradativo no número de vítimas de violência decorrente do crime de estupro, que saltou de 47 mil 
casos no ano de 2015 para 49 mil casos no ano de 2016. 
Apesar da realidade estarrecedora que merece a devida atenção da sociedade e dos 
órgãos de segurança pública, dados de pesquisa realizada em 2013, pelo Instituto Avon/Data 
Popular indicam que a violência moral, patrimonial e psicológica ainda não são vistas como 
passíveis de enquadramento na Lei Maria da Penha. Nesse sentido, é preciso reforçar que a Lei 
surgiu com o escopo de proteger a mulher não apenas das agressões físicas, mais fáceis de serem 
identificadas. O inciso III do artigo 7º da Lei Maria da Penha, aborda expressamente a violência 
sexual, conceituando-a como: 
Qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação 
sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza 
a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar 
qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à 
prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou 
anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos. (BRASIL, 2006). 
Por sua vez, o Relatório Mundial sobre Violência e Saúde, realizado pela Organização 
Mundial do Trabalho (OMS) em 2002, apontou que a violência física nos relacionamentos íntimos 
normalmente é acompanhada por abuso psicológico e, de um terço a mais da metade dos casos, 
por abuso sexual. Dentre 613 mulheres no Japão que alguma vez sofreram abuso, por exemplo, 
57% sofreram todos os três tipos de abuso – físico, psicológico e sexual. Menos de 10% dessas 
mulheres vivenciaram apenas o abuso físico. O Relatório indica também que as mulheres que são 
vítimas de abuso por parte de seus parceiros têm mais depressão, ansiedade e fobias do que as 
mulheres que não sofrem nenhum tipo de abuso, conforme estudos realizados na Austrália, nos 
Estados Unidos, na Nicarágua e no Paquistão. (OMS, 2002). 
A expressa proteção legal, portanto, não alcança a efetiva proteção da mulher, isto 
porque, a violência contra a mulher se sustenta em uma cultura da violência de gênero, o que 
implica na necessidade de se promover um profundo combate à: 
injustiça cultural dos preconceitos, estereótipos e padrões discriminatórios que constrói a 
identidade de homens e mulheres, atribuindo-lhes diferentes papéis na vida social, 
política, econômica, cultural e familiar. (PIOVESAN; PIMENTEL, 2017). 
22 
 
Sendo assim, justifica-se a pertinência de analisar as expressões da cultura da violência no 
âmbito da sexualidade, à medida que esta conduz à objetificação da mulher, como norma 
socialmente aceita e inquestionável, ao tempo em que se enfatiza que a falha na proteção à 
integridade sexual feminina resulta em grave violação dos direitos humanos e atingem as 
mulheres em sua dignidade como pessoa humana. 
Assim, necessária se faz a busca por explicações que justifiquem o modo de pensar da 
sociedade e de legitimar a perpetuação da violência abordada contra as mulheres. Ressalte-se que 
o enfoque da análise em questão será, especialmente, pautado no contexto social 
contemporâneo. 
Nesse sentido, o presente estudo busca apontar os principais desafios que envolvem a 
erradicação da violência de gênero, a partir da violência sexual, em um contexto social de 
discriminação das mulheres e impunidade para os agressores. Para tanto, utiliza como referencial 
metodológico a análise do poder simbólico discutido por Pierre Bourdieu, destacando-se as 
categorias de habitus e pré-construções vulgares. 
 
O PAPEL DO MEDO NA DESCONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE FEMININA, NA 
NEGAÇÃO DA EMANCIPAÇÃO E DA CIDADANIA FEMINISTA 
 
Mariana Veríssimo de Andrade 
Graduanda em Direito pela UNICAP. Pesquisadora do Grupo Frida de Gênero e Diversidade. 
 
 As diferentes formas de violência contra a mulher inseridas no contexto familiar e social 
sempre estiveram presentes na história e se manifestam como forma de reafirmação e autoritarismo 
do homem, que sempre viveu na busca incessante de se sobrepor à mulher, estabelecendo relações 
verticais, visando impedir a liberdade e o empoderamento feminino. Diante deste cenário, surge 
então o machismo, como forma de opressão à autonomia da vontade da mulher. 
 Embora os modelos de família tenham se tornado cada vez mais diversos, visto que a 
Constituição Federal reconheceu outras formas que divergem da “tradicional”, resguardando os 
direitos concernentes a cada uma delas, é fato que nas famílias matrimoniais formadas por casais 
heterossexuais, ainda há uma grande expressão do patriarcado, ou seja, o homem como símbolo de 
poder e autoridade, destacando a posição de submissão e inferioridade da mulher em relação a si. 
 Cientes dessa campanha machista instituída nas relações interpessoais, faz-se necessário o 
estudo dos tipos de violência e mecanismos utilizados por esses indivíduos para violentar as 
vítimas moral, verbal, psicológica e fisicamente, afim de induzí-las a acreditar que são dignas 
daquele cenário degradante ao qual estão expostas, desconstruindo toda e qualquer possibilidade 
de luta e engajamento pela estruturação da cidadania feminista como expressão de libertação. 
 Faz-se necessário reconhecer então que a violência pode se expressar de diversas formas, 
desde que o intento seja desqualificar o outro, diminuí-lo e torná-lo desprovido de desejos, 
autonomia e voz. No referido trabalho, o objetivo é analisar de que forma essa violência se 
manifesta nas relações entre homens e mulheres, quais são os diferentes graus atingidos pelos 
agressores e as estratégias de silenciamento utilizadas por eles, bem como o comportamento das 
vítimas diante deste contexto. 
 Diante dessa problemática, o estudo busca identificar por meio da metodologia voltada 
para revisões bibliográficas (BIROLI, 2018; FERRAZ, 2019; OLIVEIRA; CAVALCANTI, s.d.; GUERRA; 
 
23 
 
SANTOS, 2014; PEREIRA, 2017) e análises de casos práticos vivenciados o papel do medo inerente 
às relações familiares e sociais como fator de desconstrução da identidade e autonomia feminina, 
a partir de uma análise acerca dos danos e reflexos psicológicos causados na mulher vítima de 
violência, investigando métodos de intervenção e suporte a elas, afim de assistí-las na 
recuperação da autonomia da vontade e na construção da cidadania feminista. 
Palavras-chave: Identidade Feminina. Emancipação da mulher. Cidadania Feminista. Reflexos 
violência doméstica. 
REFERÊNCIAS 
BIROLI, Flávia. Gênero e desigualdades: limites da democracia no Brasil. Brasília: Boitempo 
Editorial, 2018. 
FERRAZ, Carolina Valença. O direito privado e a opressão feminina nas relações sociais: como o 
patriarcado construiu relações nefastas de poder em face do gênero, na obra “Manual Jurídico 
Feminista”. Recife: Letramento, 2019. 
OLIVEIRA, A. P. G.; CAVALCANTI, V. R. S. Violência doméstica na perspectiva de gênero e políticas 
públicas. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano. 
GUERRA, Marcela Gorete Rosa Maia; SANTOS, Andréia Colhado Gallo Grego. Dos reflexos da 
violência doméstica contra a mulher no exercício da parentalidade responsável e das políticas 
públicas de enfrentamento. Paraná, 2014. 
PEREIRA, Sérgio Henrique da Silva. A autonomia de vontade como determinante do feminismo. 
Rio de Janeiro, 2017. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/60674/aautonomia-da-vontade-
como-determinante-do-feminismo. Acesso em: 1 abr. 2019. 
 
ENTRE A MANIPULAÇÃO, A PERSUASÃO E O CONSENTIMENTO: RESIGNIFICANDO A 
VIOLÊNCIA DE GÊNERO, SOB A PERSPECTIVA DE UMA MATRIZ CULTURAL 
MACHISTA, A PARTIR DO MODELO BOURDIEUSIANO DE VIOLÊNCIA SIMBÓLICA 
 
Marilene Pantoja 
 
INTRODUÇÃO 
O presente trabalho propõe o estudo de um modelo de violênciade gênero, que embora 
disseminado nos relacionamentos conjugais, permanece imperceptível para o senso comum, sem 
nenhuma previsão em lei. Encoberto por discursos sedutores e comportamentos manipuladores, 
submetem a mulher a uma condição de submissão e inferioridade, sem, contudo, assumir 
contornos de uma violência tradicional. 
A coação não se opera pela força, mas pela manipulação e pela sedução, de tal forma que a 
mulher não percebe que está sendo vítima de violência; na grande maioria dos casos, ela assimila 
essas condutas opressoras como atos de amor e de cuidado e, então, o seu consentimento deixa 
de ser um ato de vontade, para tornar-se a satisfação do desejo do opressor. 
JUSTIFICATIVA 
Em 2016, um total de 4.645 mulheres foram assassinadas no Brasil, segundo o Anuário de 
Segurança Pública (2017), o que representa uma taxa de 4,5 homicídios para cada 100.000 
brasileiras. Embora esses dados sejam verdadeiros, eles não representam a realidade da violência de 
24 
 
gênero no país. No Brasil, muitos assassinatos perpetrados por homens contra suas companheiras 
são subnotificados e passam ao largo da atuação do Estado. Sequer tornam-se dados estatísticos, 
porque não chegam ao conhecimento das autoridades que deveriam investigá-los. 
Ademais, desse total de mortes, apenas 621 casos foram considerados feminicídios. Os 
demais foram tratados como homicídios comuns, e não com a conotação de conflitos de gênero. 
Esses dados demonstram como ainda há muita resistência do Estado no reconhecimento da 
condição de gênero como determinante do crime de homicídio praticado contra mulheres. 
Por outro lado, o crime de estupro tem apresentado índices estatísticos muito elevados. 
Em números absolutos, foram levantados pelo 11º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 49 mil 
casos. A despeito da alteração do Código Penal, em 2009, quando a tipificação do crime de 
estupro passou a incluir além da conjunção carnal, o ato libidinoso e o atentado violento ao pudor, 
permitindo que homens pudessem ser vítimas de tais crimes, historicamente a vítima desse crime 
é preponderantemente mulher, com valores que se encontram entre 85 a 88% dos casos. Em 
relação aos agressores, estima-se que em torno de 90% ou mais são homens. 
De forma mais grave que o homicídio, a subnotificação do estupro mascara a realidade 
sobre a ocorrência desse crime. 
Segundo o Atlas da Violência 2017, as polícias brasileiras recolheram um total de 49.497 
registros de estupros em 2016. A nota técnica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) 
de 2017 sugere que apenas 10% dos crimes de estupro sejam efetivamente notificados. É 
consenso que este é um dos crimes mais subnotificados, em razão de suas características. Muitas 
vítimas, por vergonha, medo e até culpa, deixam de denunciar. Outro fator importante diz 
respeito ao perfil do autor: na maioria, são pessoas muito próximas da vítima. Dados do IPEA, de 
2017, apontam que mais de 50% dos estupros sofridos por crianças e adolescentes foram 
praticados por conhecidos, como pais, padrastos, namorados ou amigos. Entre adultos esse índice 
se aproxima dos 40%. 
Esses dados revelam como dois dos crimes mais graves cometidos contra a mulher, a 
despeito de um aparato estatal organizado para punir exemplarmente os responsáveis, ainda são 
subnotificados. Isso implica dizer que muitos desses crimes jamais serão investigados e seus 
autores jamais serão punidos. Muitas mulheres, que deveriam ser protegidas pelo Estado, irão 
permanecer sob a dominação de seu agressor, que estimulado pela impunidade, volta a agredir 
suas vítimas, reiteradamente. 
Dessa perspectiva, se num contexto mais manifesto, crimes graves ainda são 
subnotificados, como homicídio e estupro, num espaço mais reservado, que envolve 
comportamentos sutis e dissimulados dos agressores, muitas mulheres, mergulhadas numa 
cultura discriminatória e abusiva, silenciam diante da violência sofrida, relativizando a própria dor. 
São mulheres que não percebem o limite entre o seu direito e o direito do outro. Permitem-se ser 
invadidas em sua integridade física e moral, na sua intimidade e nos seus sentimentos. Não 
identificam a violência, tampouco reconhecem a violência do outro, e assim o relacionamento 
abusivo passa a ser endossado pela própria vítima. 
Pequenos fragmentos de atos violadores da dignidade das mulheres, uma vez 
estabelecidos nas relações afetivas, são naturalizados sem que ninguém os questione; eles 
simplesmente existem. Não se pode negar que esses arranhões na dignidade da mulher, ainda que 
na forma embrionária da violência, tem potencial para evoluir para crimes graves; sim, eles 
evoluem. 
Porém, o que interessa para esta pesquisa é estudar esse embrião de violência, não apenas 
como um perigo futuro para a sociedade, com potencial para se transformar em crimes graves, 
 
25 
 
mas como ações abusivas por si mesmas. Condutas detentoras de autonomia na exata condição 
em que são praticadas, independentemente da capacidade de consentimento da vítima estar ou 
não comprometida. Por si só, são condutas violentas e, portanto, capazes de violar a dignidade das 
vítimas, desafiando todo o sistema de proteção à mulher. 
Embora o ordenamento jurídico brasileiro esteja legitimado para apurar a responsabilidade 
penal de cada sujeito que eventualmente infrinja a lei, violando quaisquer direitos das mulheres 
tutelados pelo Estado, boa parte dos crimes perpetrados contra mulheres não é punida. As razões 
dessa inação estatal residem em diversos fatores, inclusive culturais. 
Em resposta a esse quadro de impunidades, entrou em vigor no Brasil, em 2006, a Lei 
11.340, que ficou conhecida como lei Maria da Penha, em alusão à mulher que, vítima de tentativa 
de homicídio por parte de seu companheiro, lutou para evitar sua impunidade, o que lhe causou 
seqüelas físicas, inclusive. 
Muito festejada pelos movimentos feministas, na época de sua publicação, essa lei 
surpreendeu, entretanto, por não trazer, em seu texto tipos penais, ou seja, condutas descritas 
como crime; ao contrário, ela utilizou os tipos penais já existentes no Código Penal, para atribuir-
lhes maior rigor na apuração, estabelecendo um rito processual diferenciado para eles, a exemplo 
da obrigatoriedade da prisão em flagrante para qualquer crime que fosse cometido contra 
mulheres. Com essa teleologia, a citada lei construiu a definição de violência de gênero em cinco 
categorias: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral, conforme estabelece seu art. 7º, I, II, III, 
IV e V, respectivamente. 
Assim, o Estado passou a proteger com maior amplitude a violência perpetrada contra a 
mulher, no âmbito da unidade doméstica, familiar ou em qualquer relação íntima de afeto atual 
ou passada. 
Entretanto, para serem consideradas criminosas, as condutas devem estar previstas na lei 
penal, a fim de que o Estado possa movimentar a máquina judiciária. Caso contrário, em respeito 
ao princípio da reserva legal, que rege o Direito Penal e exige a previsão em lei de uma conduta 
anterior ao cometimento do ato, nada poderia ser feito contra o sujeito que praticasse violência 
contra mulher, caso não fosse possível o enquadramento legal daquela conduta. 
De um modo geral, esse é o quadro legal no que diz respeito à aplicação da Lei Maria da 
Penha: que a conduta esteja prevista em lei como crime e que essa conduta seja cometida no 
âmbito da unidade doméstica, familiar ou em razão de uma relação íntima de afeto. 
Pensar acerca de condutas que não sejam reconhecidas como criminosas, pela simples 
ausência de previsão legal, mas que violam inúmeros direitos das mulheres nas relações conjugais, 
impondo-lhes sofrimento, já justifica, por si só, a necessidade deste trabalho. Além disso, essa 
forma silenciosa de violência reifica uma cultura machista ainda muito forte e disseminada na 
sociedade brasileira, instigadora e motivadora da violência doméstica que vitima milhares de 
mulheres anualmente no Brasil. 
PROBLEMAConsiderando que a sociedade brasileira é estruturada a partir de uma cultura machista, 
onde práticas sexistas são disseminadas e naturalizadas, é possível considerar violência de gênero 
a conduta de homens que, inseridos e adaptados nessa cultura, apropriam-se de um discurso 
legitimador da superioridade masculina, para impor seus valores e crenças sobre a mulher que, 
imersa na mesma cultura, além de não perceber a violência, dissimulada e naturalizada pelo 
imaginário social, nega sua condição de vítima, tornando-se conivente com a própria agressão? 
 
26 
 
Hipóteses 
 A mulher não tem consciência da agressão por estar culturalmente tão absorvida da 
cultura machista, que não se percebe no lugar de oprimida; 
 A mulher tem consciência da violência, mas aceita a agressão, por entender que os homens 
gozam de privilégios sociais que legitimam suas ações agressivas. 
 A mulher percebe a relação de dominação, mas sujeita-se à violência como um 
instrumento de negociação a ser utilizado na resolução do conflito; 
OBJETIVOS 
Geral 
Compreender se é possível entender como violência de gênero a conduta de homens que, 
inseridos e adaptados numa cultura machista, apropriam-se de um discurso legitimador da 
superioridade masculina, para impor seus valores e crenças sobre a mulher que, imersa na mesma 
cultura, além de não perceber a violência, dissimulada e naturalizada pelo imaginário social, nega 
sua condição de vítima, tornando-se conivente com a própria agressão? 
Específicos 
 Relacionar as diversas formas de violência de gênero previstas em lei; 
 Analisar como a cultura machista interfere nos valores da sociedade e afeta 
comportamentos, por meio de leituras dos teóricos sobre o tema; 
 Identificar discursos estereotipados nas relações afetivas que povoam o imaginário social; 
 Entrevistar mulheres que vivenciam relacionamentos abusivos, mas que não se percebem 
nessa condição; 
MÉTODO DE ANÁLISE 
A metodologia a ser utilizada no presente estudo utilizará a pesquisa pura, recorrendo aos 
teóricos que produziram acervo bibliográfico sobre o tema, que irão subsidiar a pesquisa. 
A coleta de dados será por amostragem estratificada por idade, classe social, grau de 
instrução e opção religiosa. A pesquisa de campo será realizada, com utilização de entrevistas e 
questionários a serem aplicados em homens e mulheres no âmbito das relações afetivas. 
O tipo de análise será qualitativo, com vistas a compreender o processo de dominação 
masculina, identificando comportamentos a partir do papel social dos atores envolvidos. 
O método a ser utilizado será o dedutivo, vez que partirá da generalidade do tema, para 
alcançar situações específicas de relacionamentos abusivos. 
CONCLUSÃO 
Em um universo machista como a sociedade brasileira, em que a superioridade masculina é 
historicamente sustentada por um arcabouço sócio-cultural, a desigualdade de gênero encontra-
se infiltrada no tecido social de forma tão impregnada, que passa a ser percebida não como uma 
realidade construída, mas como consequência natural da vida em sociedade. 
 No âmbito das relações afetivas, a naturalização da proeminência masculina determina o 
cumprimento de papeis sociais a serem desempenhados por homens e mulheres. Numa relação 
amorosa heterossexual, práticas sexistas submetem a mulher a uma condição de inferioridade em 
espaços conjugais nem sempre harmônicos, gerando diferentes níveis de conflitos, que podem 
variar em intensidade e freqüência, assumindo, na maioria dos casos, contornos de 
 
27 
 
relacionamento abusivo, quase sempre com uso de violência física. Os conflitos emergem e crimes 
são perpetrados no âmbito familiar, quase sempre por homens contra suas mulheres. 
No mundo inteiro, mulheres são assassinadas e violentadas diariamente por homens que 
um dia disseram amá-las, pelo simples fato de serem mulheres. 
Agindo com violência, praticando qualquer delito previsto em lei contra sua mulher, o 
agressor responderá pelo crime cometido. Denunciado o crime, ele torna-se objeto de 
investigação policial, ensejando a prisão do criminoso. Seu registro irá compor as estatísticas 
oficiais de violência doméstica, informando acerca do quadro de vulnerabilidade da mulher no 
âmbito doméstico e familiar e ensejando políticas públicas de proteção às vítimas. 
Evidente que pela própria natureza dos crimes cometidos, a vítima encontra-se numa 
condição de vulnerabilidade maior, em razão da coabitação e/ou da dependência afetiva, 
sobretudo quando há ameaças recorrentes do agressor. Submetida a essa condição, a mulher 
pode optar por não denunciar o seu agressor, seja por temer represálias, seja por desacreditar no 
sistema de proteção estatal. Em ambas as hipóteses, entretanto, ela tem ciência de que foi vítima 
de violência doméstica, sabe que houve um crime, mas prefere silenciar. 
 São, portanto, crimes subnotificados, o que implica dizer que os dados estatísticos 
apresentados sobre violência de gênero não refletem a realidade do que acontece numa parcela 
significativa da sociedade brasileira. 
Observa-se, então, que uma vez sendo vítima de qualquer tipo de violência prevista em lei, 
praticada no âmbito doméstico e/ou familiar, a mulher pode denunciar seu companheiro, exigindo 
a punição estatal correspondente. Pelas razões já demonstradas, ela também pode silenciar 
acerca da agressão sofrida. Conforme se observa nas duas hipóteses, a análise reporta-se a crimes, 
ou seja, toda conduta humana prevista na lei penal como típica e antijurídica. São práticas 
criminosas que estão previstas no ordenamento jurídico de conhecimento de todos os aplicadores 
da lei. Nenhuma delas, entretanto, é o objeto desta pesquisa. 
Este trabalho se propõe a analisar uma modalidade diferente de violência; uma violência 
que não está descrita em nenhum tipo penal, por não ter sido considerada pelo legislador. Ela não 
é estudada pelos juristas, tampouco está presente na maioria dos discursos feministas ou nos 
debates acadêmicos, mas está poderosamente infiltrada nos relacionamentos afetivos, ditando 
regras e definindo papéis sociais. Silenciada por uma forte cultura machista, essa violência torna-
se invisível. 
Num ambiente familiar estabelecido num sistema patriarcal, com evidente assimetria de 
poder entre seus membros, bastante comum nas estruturas familiares brasileiras, nem sempre as 
relações familiares podem se revelar abusivas. 
A incidência de inúmeras variáveis no relacionamento entre um homem e uma mulher no 
âmbito conjugal pode conduzir a diversas formas de apreensão da realidade e, como 
conseqüência, de percepção de uma possível violência dentro de uma relação afetiva. Por 
inúmeras razões, uma mulher pode silenciar acerca da violência infligida por seu companheiro. Se, 
na maioria das vezes, ela o faz por temer represálias, a intimidação, nesse caso, será sempre um 
fator manifesto e concreto de uma violência silenciada. 
Essa concretude, traduzida na presença factual do medo da vítima, contudo, pode não ser 
tão evidente. Nem sempre uma mulher que silencia sobre a violência praticada por seu 
companheiro o faz por medo de represálias. 
 O medo pode ser apenas a conseqüência de uma causa subjacente, encoberta pelo que 
Bourdieu chamou de habitus. Pensar no relacionamento conjugal, dessa perspectiva, implica em 
28 
 
afirmar que a subjetividade feminina é individual, mas concomitantemente social e coletivamente 
organizada por uma cultura machista. A subjetividade feminina é, portanto, uma subjetividade 
socializada. 
Há nos relacionamentos afetivos uma espécie de “cumplicidade” nas práticas conjugais, 
sustentada por valores e crenças que conduzem a um reforçamento de condutas que, ao serem 
gradualmente engendradas na rotina dos casais, podem vir a naturalizar comportamentos 
atravessados por discursos machistas, capazes de legitimar práticas abusivas clandestinas, 
naturalizando-as dentro da relação. A maneira como os casais apreendem essas linguagense as 
atualizam na rotina dos seus relacionamentos é que demarcará o limite entre um relacionamento 
abusivo e um relacionamento equilibrado. 
 Dessa perspectiva, os relacionamentos afetivos podem se tornar espaços de produção e 
reprodução de discriminação da mulher e, portanto, de violência 
Algumas vezes, porém, podem ser ambientes de consenso entre dominador e dominado; 
lugares de convivência, conveniência e conivência com a violência. É dessa perspectiva silenciosa 
da violência e, portanto, distanciada do seu conceito tradicional, que este trabalho se propõe a 
analisar os relacionamentos afetivos. 
O cotidiano vivenciado pela mulher, nas relações conjugais espalhadas pelo Brasil, aponta 
para um gap, um vazio não contemplado pela Lei Maria da Penha, quanto às modalidades de 
violência doméstica, onde os relacionamentos se desenvolvem a partir da lógica da superioridade 
masculina, que permite a naturalização de abusos e violências contra mulheres, sem a devida 
proteção estatal. 
O interesse pelo tema resultou da observação despretensiosa, e até mesmo casual, mas 
que pela sua recorrência chamou a atenção para uma análise mais cuidadosa. Independente da 
classe social, da instrução, da religião, da origem dos casais, é comum encontrar relacionamentos 
abusivos dissimulados. São abusadores e vítimas que convivem e se reconhecem como amantes 
apaixonados. Não raro, os abusos são percebidos pelas vítimas como excesso de amor, enquanto 
que para o abusador esse consentimento inadvertido funciona como reforço positivo, 
incentivando sua repetição. Uma vez estabelecido o ciclo da violência, ele reproduzir-se-á 
continuamente. 
 
AS MULHERES E O SISTEMA DE JUSTIÇA CRIMINAL: A CRIMINALIZAÇÃO DO 
FEMINICÍDIO E A FUNÇÃO SIMBÓLICA DA PENA 
 
Natalia Girlene Pereira da Silva 
Graduanda em Direito pela UFPE 
 
O crime de feminicídio consiste na conduta de matar mulher vitimando-a por violência 
doméstica ou familiar, ou por discriminação pela condição de sexo feminino. Este crime tem como 
uma de suas características o fato de geralmente ser precedido por um histórico de agressões de 
natureza moral, física, psicológica, e de não tratar-se de um evento isolado durante a relação da 
vítima com o autor do fato, que geralmente faz parte do seu círculo íntimo de relações. A morte 
de uma mulher é considerada como a forma mais extrema de um continuum de atos de violência, 
definido como consequência de um padrão cultural que é aprendido e transmitido ao longo de 
gerações (PASINATO, 2011). 
 
29 
 
No intuito de viabilizar a proteção à mulher, e de erradicar as mais variadas formas de 
violência doméstica, o Poder Legislativo nacional nas últimas décadas aprovou uma série de 
legislações que buscam desde a prevenção geral dos delitos, a meios mais eficazes e severos de 
retribuição. Neste sentido, os principais marcos destas alterações legislativas a Lei 11.340/2006 
popularmente conhecida como Lei Maria da Penha (CNJ, 2018), e, a Lei 13.104 de 2015 que 
alterou o Código Penal criando a qualificadora do Feminicídio, que eleva os patamares do 
Homicídio de seis a dez anos para doze a trinta anos de reclusão, insere o feminicídio 
expressamente no rol dos crimes hediondos o que significa dizer, que a pessoa condenada pelo 
crime começará a cumprir sua pena necessariamente em regime fechado e com requisitos mais 
rigorosos para a progressão de regime. 
Na tentativa de erradicar a violência contra a mulher o direito penal tem sido o segment 
jurídico que mais cria mecanismos de coerção com vistas à prevenção e retribuição e 
ressocialização, neste contexto é necessário verificar a efetividade deste âmbito jurídico, com 
todo o aparato do sistema de justiça criminal na eliminação ou diminuição da violência de gênero, 
especificamente do feminicídio.Considerando o lapso temporal em que vigora a Lei 13.104/2015, 
é possível dizer que há condições iniciais de apuração das mudanças no campo social, para tanto o 
referencial teórico utilizado será a Criminologia Crítica enquanto teoria crítica e sociológica do 
sistema de justiça criminal (ciência social), que ocupa-se fundamentalmente, da análise de sua 
complexa fenomenologia e funcionalidades capitalistas e patriarcais (ANDRADE, 2005). 
Embora o gênero seja o fator central do debate, é imprescindível voltar os olhares para 
outras questões como a classe e raça, pois um olhar homogeneizado pode simplesmente 
perpetuar desigualdades que devem ser combatidas. Desta forma a presente pesquisa busca 
verificar se a criação do feminicídio no Código Penal, resultou na efetiva prevenção da prática 
desse crime, partindo-se do sentimento de que as evidências indicam para a negação como 
resposta. 
O objetivo geral deste trabalho é analisar a tipificação do feminicídio por meio da Lei 
13.104/2015 como qualificadora do crime de homicídio cometido contra mulher por razões da 
condição de sexo feminino, na perspectiva de se verificar os resultados práticos e simbólicos 
decorrentes de tal alteração legislativa. 
Para o estudo parte-se de uma revisão bibliográfica da literatura que trata do Feminicídio 
na Brasil, bem como da jurisprudência nacional e do estado de Pernambuco. Além de análise de 
conteúdo (AC) das sentenças proferidas no ano de 2019 e, por fim, será realizada a observação 
não participante das audiências realizadas na cidade do Recife que versem sobre o crime de 
Feminicídio no segundo semestre de 2019 e no primeiro semestre de 2020, além de se comparar o 
estudo a pesquisas nacionais.O método aplicado sobre os dados obtidos, é o exame qualitativo de 
conteúdo das decisões. 
Apesar de ser considerada uma conquista pelos movimentos que lutam pelos direitos das 
mulheres, em conclusão preliminar a criação do feminicídio não tem se mostrado fator inibidor da 
prática do fato, uma vez que em termos quantitativos ainda se tem um número expressivo de 
homicídio de mulheres decorrente da condição de gênero feminino como demonstra o Mapa da 
Violência Contra a Mulher 2018. 
Palavras-chave: Feminicídio. Redução. Pena. Simbolismo. 
 
30 
 
MULHERES NO TRÁFICO: UMA ANÁLISE DO DISCURSO DE VIOLÊNCIA NO CRIME DE 
TRÁFICO DE DROGAS COMETIDOS POR MULHERES NA CIDADE DO RECIFE NO ANO 
DE 2019 
 
Renata de Oliveira Peregrino da Silva 
Graduada em Direito pela UNICAP. Mestranda no PPGD da FADIC. 
Renata Celeste Sales 
Mestre e Doutora em Direito pela UFPE. Professora do PPGD da FADIC e Coordenadora Adjunta da mesma instituição. 
Coordenadora do grupo de estudos Direito, Biopolítica e Subjetividade. 
 
 A taxa da população carcerária feminina é crescente no Brasil, sendo composta, em sua 
maioria, por mulheres negras e de baixa escolaridade. Nesse universo, os dados oficiais do governo 
ou decorrentes de pesquisas da sociedade civil organizada, periodicamente publicados, indicam 
que o tráfico de drogas representa o principal delito no processo de criminalização das mulheres 
no país. A “feminização da pobreza”, que prevalece em toda América Latina, é um tema essencial 
para compreensão dessa realidade, visto que, facilita e viabiliza a entrada de mulheres, 
principalmente, pobres na economia informal, precária e ilegal, da qual o tráfico de drogas se 
insere. Importa destacar, também, a violência de gênero de caráter simbólico sofrido pelas 
mulheres que, muitas vezes, cometem o delito de tráfico de drogas, induzidas pelo próprio 
companheiro. Em consequência, no cárcere, tornam-se vítimas da violência institucional, tendo o 
sofrimento intensificado devido às suas condições particulares de mulher, de mãe e do próprio 
abismo social agravado. A criminalização feminina reitera a posição de vulnerabilidade e 
invisibilidade da mulher perante uma sociedade machista e misógina, acompanhada de um 
sistema penal que determina a clientela prisional, baseando-se em critérios pré-estabelecidos 
cultural e economicamente. A análise sobre as questões de gênero e tráfico de drogas faz-se cada 
vez mais necessária, não apenas para desvendar os fatos

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