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O Museu Histórico Natural de Londres: as transformações do processo curatorial e a inteligibilidade das exposições

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O Museu Histórico Natural de Londres: as transformações do processo
curatorial e a inteligibilidade das exposições
Preprint · June 2020
DOI: 10.13140/RG.2.2.24256.56321
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Leonardo Giovane Moreira Gonçalves
University of São Paulo
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Universidade de São Paulo 
Programa de Pós-graduação Interunidades em Museologia 
 
Disciplina: IMU50140- História dos Processos Museológicos, Coleções e Acervos 
Discente: Leonardo Giovane Moreira Gonçalves 
 
O Museu Histórico Natural de Londres: as transformações do processo curatorial e 
a inteligibilidade das exposições 
 
O colecionismo esteve presente de diversas formas durante a história da humanidade, se 
durante a Idade Média os tesouros eclesiásticos evocavam poder e riqueza, no Renascimento as 
coleções vão evidenciar o prestígio cultural de seus visitantes e detentores. Whitalker (1996, 
p.75) evidencia que a curiosidade era uma das virtudes necessárias para um cavalheiro no século 
XVII, além disso, motivados pela curiosidade, esses aristocratas ao retornarem de seus grand 
tours traziam raridades naturais que encontravam nas mais diversas localidades, para formar as 
coleções de seus gabinetes. 
No século XVIII a curiosidade desempenhou papel fundamental para apreciação da 
natureza, desse modo, espécimes exóticos, belos, memorialísticos, exógenos a Inglaterra, foram 
trazidos para admiração e catalogação inicial. Diferentemente do século XVII, os colecionadores 
no século XVIII também estavam preocupados em tecer análises sobre seu acervo de maravilhas, 
seja pela escrita ou conversação. Nessa conjuntura, pequenos movimentos de comparação entre 
os espécimes começam a surgir, Whitalker (1996, p.81) disserta que “in addition to detailed 
description and comparison, curious wonder also essentially involved the attempt to understand 
its object”. 
Os relatórios sobre as maravilhas coletadas produziram uma nova forma de história natural. 
Dado que na época os espécimes representavam para os cristãos as obras do criador, “natural 
histories were written within this culture of wondering curiosity. They described curiosities, 
treating novelties, rarities, and wonders, and ignoring the common and ordinary” (Ibidem, p.82). 
Os catálogos produzidos sobre as coleções eram uma mescla de informações, Ashworth Jr. 
(1996, p.28) aponta que no Renascentismo a publicação Historia Animalium de Conrad Gesner, 
uma das mais célebres, estava embasada em uma revisão bibliográfica, “emblems and proverbs, 
naturalistic images, and contemporary observations”. 
A lógica de exibição e sistematização dos objetos nos gabinetes de curiosidade e nos 
catálogos, se diferenciava da qual conhecemos na atualidade. A lógica de sistematização foi 
adotada somente no século XVIII, a qual não se encaixava nas concepções do século XVII, uma 
vez que a disposição e a coleção dos espécimes embasava-se em reter diferentes variedades, e 
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compara-las; diferentemente da lógica do século XVIII que o colecionismo busca um número 
maior de espécimes de uma mesma espécie (WHITALKER, 1996). 
Ashworth Jr. (1996, p.36) aponta que ainda no século XVII a visão emblemática da 
natureza iria colapsar, dando espaço para estudos descritivos e anatômicos. As coleções que antes 
expunham as maravilhas do mundo, agora espelhavam outra lógica e um outro pensamento, o de 
associação e similitude. 
Os colecionadores buscavam coletar as criações divinas, gerar paraísos controlados e expor 
aos seus pares as riquezas do mundo em um único lugar. Contudo, dado a nova lógica 
colecionista e os custos de manutenção, muitos colecionadores abriram galerias particulares para 
seus acervos, e/ou doaram e venderam para o Estado. No século XVIII, a coleção de mais de 
71.000 itens, de Sir Hans Sloane, que vivenciou os dois momentos históricos do colecionismo, 
viria se tornar uma das mais importantes para a atualidade (NATIONAL HISTORY MUSEUM, 
2020). 
O médico da realeza, botânico e colecionador, Hans Sloane, foi membro do Royal College 
of Physicians e realizou inúmeras viagens as Índias Ocidentais, nas quais trouxe a Inglaterra suas 
descobertas. Por meio de outras viagens e tratados internacionais, a coleção de Sloane cresceu 
até que as salas de sua casa fossem preenchidas com milhares de plantas, animais, pedras 
preciosas, moedas e antiguidades. Quando morreu aos 93 anos, em 1753, o colecionador desejava 
que suas coleções se tornassem disponíveis para a nação, por conta disso, seu testamento dizia 
que sua coleção deveria permanecer unida, principalmente na cidade de Londres. Dessa forma, 
o Parlamento comprou a coleção deSloane, e seis anos após seu falecimento o British Museum 
de Bloomsburry foi fundado (PAVID, 2020). 
O Museu Britânico (British Museum) foi fundado em 1753, por meio de um Ato do 
Parlamento Britânico, e abriu suas portas em 1759. No início o acesso ao museu era restrito há 
alguns tipos de públicos que poderiam visitar o museu com visitas guiadas em horários pré-
estabelecidos, este cenário só é alterado em 1830. A coleção de Sloane que fundou o museu teve 
rápida expansão no decorrer do tempo, chegando a alcançar oito milhões de objetos que 
abordavam cerca de dois milhões de anos de história humana (BRITISH MUSEUM, 2020). 
Richard Owen, teólogo natural conservacionista, que havia se tornado superintendente da 
sessão de História Natural do Museu Britânico em 1856, propunha a fragmentação do Museu 
Britânico entre antiguidades e história natural, em outras palavras entre “god-made and man-
made objects”. Em 1958, cientistas enviaram uma carta ao Parlamento reclamando do espaço 
inadequado para os espécimes de história natural no Museu Britânico. Segundo os cientistas, 
muitos espécimes não estavam sendo expostos, mal conservados e as coleções estavam 
superlotadas, deste modo, as coleções deveriam ser retiradas do museu (YANNI, 1996, p.276). 
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Edward Gray, curador da Zoologia do Museu Britânico, em um relatório publicado em 
1864, mencionava que as condições de visitação ao acervo era insatisfatória, pois não permitia a 
apreciação do público geral, tampouco permitia pesquisas. Gray (1864) afirma que ao tentar 
conciliar os interesses de diferentes partes, o Museu Britânico falhava ao expor seus espécimes 
de maneira caótica, desorganizada e sem se preocupar com a conservação adequada. 
Os conflitos sobre as noções de evolução de Lamarck e Darwin, impactavam ferozmente 
a concepção e os debates sobre o novo museu de história natural. Owen projetava o novo espaço 
diferentemente de outros cientistas, segundo o mesmo, o museu deveria ser “an encyclopedic 
museum of the entire imperial collection”. Thomas Huxley, evolucionista, galgando-se nos 
processos de associação e similitude de Darwin, preferia “a small didactic museum for the public 
and a private research center for scientists” (YANNI, 1996, p.276). 
Para Owen o novo museu deveria ter acesso igualitário para cientistas e o público geral, 
sendo este espaço o templo da natureza, seguindo ainda as concepções dos gabinetes de 
curiosidade, no qual os acervos são expostos para se apreciar as maravilhas do Criador. Já 
Huxley, entendia o museu como um espaço de produção de conhecimento e educação, destinado 
a públicos específicos (Ibidem, p. 278). 
Segundo Yanni (1996, p.278), em 1862 Owen publica o panfleto On the Extent and Aims 
of a National Museum of Natural History, o material clamava ao Parlamento fundos para a 
construção do novo museu. O principal argumento de Owen, era que seria “foolish to spend 
money to collect specimens when there was no place to display them”. A visão de Owen, ao 
contrário de Huxley e Darwin, propunha que todo acervo fosse exibido no novo edifício para 
mostrar o poder do Império Britânico quanto ao conhecimento natural. 
No século XIX o Império Britânico descobriu novas espécies de animais e plantas exóticas, 
e em função disso, Owen desejava que a arquitetura do museu fosse uma catedral para a natureza. 
O plano de Owen era monumental, previa o alojamento de criaturas muito grandes, ornamentos 
inspirados na história natural e que as espécies extintas e vivas fossem mantidas separadamente. 
Em 1864, Francis Fowke venceu o concurso para projetar o Museu Histórico Natural (NHM), 
contudo, faleceu inesperadamente, deixando o projeto para Alfred Waterhouse (NATIONAL 
HISTORY MUSEUM, 2020). 
 Mesmo após a aprovação dos recursos para constituição do museu, as discussões sobre o 
novo espaço não cessaram. Huxley defendia que somente parte da coleção deveria ser exposta e 
o restante deveria permanecer guardada para fins de estudos, tal concepção divergia de Owen. 
Além disso, Huxley em uma reunião em 1869, projetava que cientistas e visitantes deveriam 
ocupar diferentes espaços na exposição, fazendo uso de salas específicas para estudo, de tal modo 
que o público geral não prejudicasse as pesquisas (YANNI, 1996). 
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O NHM foi aberto ao público em 1881, tendo forte apreciação da mídia e do público por 
conta da sua arquitetura majestosa e pela precisão dos animais construídos em terracota por 
Waterhouse. Os ornamentos do Museu, bem como sua disposição, seguiam a lógica de Owen de 
dividir os animais extintos dos existentes, e além disso, segundo Yanni (1996, p.296), o edifício 
tinha suas limitações quanto aos interesses de cientistas e estudantes, uma vez que “science 
moves on, the buldings remains fixed”. 
William H. Flower (1893b), sucessor de Owen na direção do Museu de História Natural, 
disserta que se a construção do edifício tivesse atrasado alguns anos, os resultados poderiam ter 
sido mais satisfatórios. Segundo Flower o Museu foi construído em um período transitório sobre 
a ideia de museu, e assim, em sua concepção o modelo ideal seria a divisão do museu em áreas 
de visitantes, cientistas e de uso misto. Além disso, em seu plano Flower disserta sobre a 
necessidade de haver reservas técnicas próximas as salas de exibição, bem como área de estudo, 
área administrativa, biblioteca e auditório. A visão do diretor estava além da função custodial e 
expositiva do museu, repensando sua função educacional e produção de conhecimento. 
Flower, em uma reunião da Museums Association, evidenciou os principais problemas das 
exposições nos MHNs e sugeriu transformações nos processos curatoriais. Para o diretor, em 
muitos museus e galerias públicas havia a exposição desnecessária de espécimes, desconectados, 
que se justapunham e dificultavam o estudo e contemplação. Flower (1893a, p.234) argumenta 
que no modelo ideal (o New Museum Idea) deveria haver “correct classification, good labelling, 
isolation of each object from its neighbors, the provision of a sustainable background, and above 
all of a position in each it can be readily and distinctly seen”. 
De certo modo, o edifício não estava preparado para as transformações do tempo. No início 
o museu tinha visitação intercalada entre pesquisadores e visitantes ordinários, embora a 
transferência total do acervo para o novo prédio durou oito anos (PAVID, 2020). Neste contexto, 
apesar de Edward Gray ter publicado seu relatório sobre a sessão de Zoologia do Museu 
Britânico em 1864, suas concepções sobre o New Museum Idea se tornaria realidade décadas 
depois. 
Gray (1864, p.76) apontava que no modelo antigo os MHNs estavam centrados na 
produção científica e não se debruçavam no potencial educativo do acervo, até porque o diretor 
quem era o responsável por quase todo o processo curatorial. Segundo o Gray, os museus 
devotavam a missão de expor tudo aquilo que possuíam, mas ao fazer isso estes estavam 
“overwhelming the general visitor with a mass of unintelligible objects, and at the same time 
rendering their attentive study by the man of science more difficult and onerous than if they had 
been brought into a smaller space and in a more available condition”. 
5 
 
A inteligibilidade das exposições era uma das preocupações de Gray, assim como passou 
a ser de Flower. Gray afirmava que para o visitante geral a exposição de numerosas espécies de 
ratos, esquilos ou pardais, sem nenhuma contextualização, levará o visitante a concluir que estes 
não passam de animais. Destarte, “the visitor needs to be as well informed with relation to the 
system on which it is based as the curator himself; and consequently the general visitor perceives 
little else than a chaos of specimens [...]” (Ibidem). Ademais, Gray aponta que a organização das 
coleções, sua classificação e disponibilização de recursos comunicacionais, tornaria a visita ao 
museu mais atrativa,uma vez que para o público que nunca teve contato com o mundo da ciência 
a exposição de apresentava obscura. 
Steven A. Griggs, que trabalhou no Museu de História Natural (NHM) entre os anos de 
1970 e 1980, afirma que entre tantas problemáticas existente no campo museal, a principal é que 
ainda há “people who believe objects speak for themselves and that their role, in developing 
exhibitions, is simply display objects and allow the objects to “speak to” visitors” (GRIGGS, 
1990, p.78). Tendo em mente essa premissa, Roger Miles (2007, p.129), que comandou o 
departamento de exibição e educação do NHM entre 1975 a 1994, disserta que em 1972 o então 
diretor Frank Claringbull, decidiu desenvolver um novo modelo de exposição para o museu. O 
diretor argumentava que as galerias antigas eram “old-fashioned in terms of their subject-matter, 
display techniques and labels- the later incomprehensible to most visitors”. 
Em decorrência do novo modelo expositivo, Griggs (1990) afirma que desde 1976 o NMH 
vem desenvolvendo pesquisas de recepção de público. As pesquisas da época (1976-1982) 
apontavam que cerca de 80% dos visitantes do museu não possuíam educação formal em 
biologia, e além disso, muito dos visitantes desconheciam ou possuíam falsas concepções a 
respeito da história natural. 
Durante a pesquisa, Griggs também constatou que as novas exibições do museu, como por 
exemplo a exposição sobre a Biologia Humana inaugurada em 1977, geravam mais interesse nos 
visitantes. Os visitantes abordavam que as galerias mais novas dispunham de mais informação e 
layout claro, que promovia maior compreensão de conteúdo. Em outro estudo em 1983, Griggs 
comparou a percepção dos visitantes entre duas galerias tradicionais (Minerals and Meteorites, 
1981, e a Whale Hall, 1937) e duas novas galerias (Human Biology, 1977, e Man’s Place in 
Evolution, 1979), dentre os resultados os visitantes apontaram que as galerias novas são 
preferidas, pois as galerias antigas são “less intellectually stimulating, less easy to understand, 
and less exciting” (GRIGGS, 1990, p.83). 
 Segundo Griggs, as galerias antigas não tiveram modificação do seu formato expositivo 
nos últimos anos, preservando seu conteúdo e apresentação original; assim, mesmo sendo uma 
das preocupações de Owen em etiquetar os espécimes, ainda havia certa carência de informações 
6 
 
sobre o exposto. Em contra partida, as novas exibições evidenciavam uma mudança no processo 
curatorial ao considerar o público geral como visitante do museu. Dessa forma, visitantes 
também dissertavam que as exposições antigas não dispunham de um design atrativo, haviam 
muitos espécimes para serem vistos e não considerava o público geral, em contrapartida, as novas 
exposições eram fáceis de serem compreendidas por todas as idades, aguçavam o interesse e 
eram provocativas (Ibidem, p.84). 
 Miles aponta que para organizar a exibição inicial da galeria British Natural History 
(1983), foi considerado o que o público visitante desejaria do novo espaço. O autor disserta que 
o público pesquisador também queria algo além de placas que informavam o nome dos 
espécimes, assim “this led to an exhibition that, among other things, was arranged by habitat 
rather than by classification, and covered the widest possible range of families rather than the 
greatest number of specimens” (MILES, 2007, p.132). 
Um dos argumentos contra o modelo tradicional expositivo, object-and-label, é que “in 
the context of the public understanding of science, is that ‘the failure to convey relevant concepts 
will prevent [the visitor] from achieving anything more than an illusion of understanding” 
(MILES; TOUT, 1992, p.27). Contudo, há recursos comunicacionais tradicionais que se 
mostraram eficientes no passado, a exemplo do Index Museum criado por Owen. O Index 
Museum, ainda existente no NHM, auxilia na inteligibilidade do espaço, bem como fornece 
autonomia aos diferentes tipos de visitantes, uma vez que o público geral “look at the Index 
Museum and then browse the supposed rest of God's while scientific visitors and amateur 
creations, naturalists would to the of their go directly gallery personal interest” (YANNI, 1996, 
p.289). 
Em decorrência da crise no campo museológico no século XX, na qual o MHNs perdem 
sua posição social na produção de conhecimento em detrimento do surgimento de novas 
disciplinas, como a biologia, e novos métodos de pesquisa, o NHM teve parte de seu orçamento 
cortado por meio das reformas de Margaret Thatcher, em 1980. Assim, segundo Miles (2007, 
p.133) o museu teve que introduzir cobrança de ingressos e pela primeira vez na história admitir 
patrocínio, fato esse que causaria “exhibitions to rise again in priority, but marketing rather than 
education as the driving force”. 
Na atualidade a visita ao NHM é gratuita e além das áreas expositivas, segundo o site do 
museu, após a abertura do Darwin Centre em 2009, “visitors can watch our scientists work in 
open-plan laboratories, where they study everything from the cocoa that Sloane brought back 
from Jamaica in the seventeenth century to malaria-carrying mosquitoes collected in 2008” 
(NATIONAL HISTORY MUSEUM, 2020). Desse modo, o museu ao longo de sua história 
7 
 
tornou-se a Catedral da Natureza, idealizada por Owen, o Centro de Pesquisa, pensado por 
Huxley, e um dos espaços mais visitados pelo público geral e cientistas. 
Por fim, entendendo as transformações que o NHM e a história natural sofreram ao longo 
do curso da história, torna-se possível evidenciar que mesmos com dificuldades e ainda com 
desafios, os museus puderam congregar diferentes tipos de públicos em um mesmo ambiente. 
Contudo, os desafios passados só foram vencidos quando os museus se voltaram aos seus 
públicos e buscaram entender seus anseios, comportamentos e necessidades. Miles e Tout (1992) 
apontam que o NHM só conseguiu a inteligibilidade de suas exposições quando interrogou seus 
“públicos” e observou que as pessoas aprendem de diferentes formas, e que caberia ao museu o 
uso de diversificados recursos expositivos a fim de atrair, reter, ensinar, satisfazer e fidelizar seus 
visitantes. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
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Univ. Press, 1996. 
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https://www.britishmuseum.org/about-us/british-museum-story/history. Acesso em: 11 mai. 
2020. 
FLOWER, Willian H. Museums Association I. Nature, n.1236, v.48, 1893a. 
FLOWER, Willian H. Museums Association II. Nature, n.1237, v.48, 1893b. 
GRAY, Edward J. Address to the Zoological and Botanical Section of the British Association. 
Report of the British Association for Advancement of Science, 1864. 
GRIGGS, Steven A. Perceptions of Traditional and New Style exhibitions at the Natural 
History Museum, London. ILVS Review, v.1, n.2, 1990. 
MILES, Roger. Natural History Museum in transition: reflections on visitor studies in practice. 
Visitor Studies, v.10, n.2, 2007. 
MILES, Roger; TOUT, Alan. Exhibitions and the public understanding of science. In: 
DURANT, John (ed.). Museums and the public understanding of science. Londres: Science 
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Disponível em: https://www.nhm.ac.uk/about-us/history-and-architecture.html. Acesso em: 11 
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Disponivel em: https://www.nhm.ac.uk/discover/hans-sloane-physician-collector-botanist.html. 
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