Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 1 Serviço Social, Direito e Cidadania Profa. Adriana Accioly Gomes Massa Aula 2 CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 2 CONVERSA INICIAL Olá, caro aluno! Iniciemos nossa segunda aula da disciplina de Serviço Social, Direito e Cidadania! A proposta dessa aula é compreender a Assistência Social como direito fundamental previsto constitucionalmente e suas regulamentações legais, que contribuem para sua operacionalização. Ademais, temos como propósito compreender a importância da Assistência Social dentro de uma dimensão de direitos e não mais como ação voluntária de caridade ou benevolência com os mais vulneráveis. Ou seja, vamos entender a responsabilidade do Estado para com a Assistência Social! Bons estudos! A professora Adriana irá explicar melhor como esta aula será organizada na videoaula disponível no material on-line. CONTEXTUALIZANDO Muito se fala sobre o programa Bolsa Família. A pergunta que fica é: Será que o programa Bolsa Família é um programa contemplado no direito à Assistência Social ou é uma prática assistencialista? Primeiramente, vamos conhecer o programa: http://mdspravoce.mds.gov.br/bolsa-familia/ Leia também esta matéria sobre o tema: http://mdspravoce.mds.gov.br/bolsa-familia/ CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 3 http://www.cartacapital.com.br/sociedade/bolsa-familia-nao- desestimulou-procura-por-emprego-diz-estudo Após ter feito todas essas leituras e ter conhecido um pouco melhor o programa Bolsa Família, assista às considerações da professora Adriana na videoaula disponível no material on-line. Problematização Você acabou de conhecer a Maria, personagem fictícia de nosso estudo de caso. Agora, assista à videoaula na videoaula disponível no material on-line, por meio da qual proporemos uma reflexão sobre a situação de Maria. PESQUISE Direito à Assistência Social – dimensão histórica A assistência, em sua essência, esteve presente desde os mais remotos tempos da história da humanidade, não se limitando à dimensão religiosa, judaico-cristã nem como forma de minimizar as mazelas resultantes do capitalismo. O ato de ajudar aos pobres, doentes, viajantes, incapazes etc., ou seja, o ato ajudar àqueles que necessitam, como prática de solidariedade social, esteve presente em diversas culturas e sociedades. E como resultado dessas práticas assistenciais, vários grupos e comunidades filantrópicas foram se formando. http://www.cartacapital.com.br/sociedade/bolsa-familia-nao-desestimulou-procura-por-emprego-diz-estudo http://www.cartacapital.com.br/sociedade/bolsa-familia-nao-desestimulou-procura-por-emprego-diz-estudo CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 4 A própria idade média foi palco da construção de várias instituições de caridade, muitas delas sob forte influência religiosa. Entretanto, na modernidade, a assistência passa a ser direcionada àqueles que sofrem as mazelas da expansão do capital e da pauperização da força do trabalho. Nesse aspecto, o Estado passa a se apropriar da assistência, a partir de duas perspectivas “uma que se insinua como privilegiada para enfrentar politicamente a questão social; outra, para dar conta de condições agudizadas de pauperização da força de trabalho” (SPOSATI et al., 2014, p. 60). Porém, até os anos 1930 do século XX, o Estado brasileiro não concebe a pobreza como expressão da questão social, mas como desvio de conduta humana, que era tratado pelos aparelhos repressivos do Estado. Ademais, quando não mascarada a pobreza, era entregue à rede de organismos de solidariedade social da sociedade civil, especialmente instituições religiosas. Essa rede de solidariedade social atuava dentro da ótica da benevolência e caridade, especialmente junto aos pobres e doentes. Foi somente nos anos de 1930 a 1964 que se inicia no Brasil um processo de inclusão de direitos civis, sociais e políticos. Ineditamente, a Constituição de 1934 (promulgada durante o governo de Getúlio Vargas) traz em seu bojo diretrizes sociais, dentre elas o direito de voto às mulheres e direitos trabalhistas. O governo de Getúlio Vargas, apesar de tentar organizar as relações entre capital e trabalho, prevendo alguns direitos sociais (especialmente direitos trabalhistas) ainda se trata de uma proposta de Estado assistencialista, com uma proposta de proteção social conservadora e meritocrata. Os benefícios sociais previstos, como saúde e previdência, ficavam atrelados ao vínculo empregatício, restringindo a poucos o acesso a esses direitos sociais e deixando os desempregados e sem vínculo empregatício relegados aos cuidados das instituições filantrópicas, das ações particulares de caridade. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 5 Em 1938, Getúlio Vargas instituiu o Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS), vinculado ao Ministério de Educação e Saúde, por meio do Decreto-Lei nº 525/38, cujo objetivo fica esclarecido em seu artigo 1º: Art. 1º O serviço social tem por objetivo a utilização das obras mantidas quer pelos poderes públicos quer pelas entidades privadas para o fim de diminuir ou suprimir as deficiências ou sofrimentos causados pela pobreza ou pela miséria ou oriundas de qualquer outra forma do desajustamento social e de reconduzir tanto o indivíduo como a família, na medida do possível, a um nível satisfatório de existência no meio em que habitam. O Conselho Nacional do Serviço Social não chegou a ser um mecanismo atuante e não conseguiu superar as práticas clientelistas e de manipulação de verbas e subvenções. Sua vigência durou pouco tempo – até 1942, quando foi criada a Legião Brasileira de Assistência (LBA), pelo Decreto-Lei nº 4.830/42, com o propósito de “[...] prestar, em todas as formas úteis, serviços de Assistência Social, diretamente ou em colaboração com instituições especializadas; fica reconhecida como órgão de cooperação com o Estado no tocante e tais serviços, e de consulta no que concerne ao funcionamento de associações congêneres” (Decreto-Lei nº 4.830, Art. 1º). A Legião Brasileira de Assistência passava, então, a integrar as organizações assistenciais do país, em uma espécie de “simbiose” das iniciativas pública e privada, cuja lógica ainda era a da caridade e das práticas clientelistas e assistencialistas. A ideia de Vargas, com a criação da Legião Brasileira de Assistência (LBA), era ganhar credibilidade com as classes economicamente vulneráveis, pois a LBA tinha um caráter assistencialista e visava atender, primeiramente, aos familiares dos pracinhas que foram para guerra, para, posteriormente, atender à população pobre. A LBA representou o braço assistencialista do governo, que centrou na figura da primeira-dama Darcy Vargas a coordenação da instituição. Esse traço clientelista e vinculado a benemerência apresentou-se CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 6 persistente por muitos anos na política assistencial brasileira (COUTO, 2008, p. 103). Até a Constituição de 1988 a Assistência Social não era constitucionalmente prevista como direito social. A previsão da Assistência Social como direito social previsto na Constituição Federal foi resultante de um processo de lutas que foi se consolidando e tomou forma a partir do período de redemocratização no Brasil, que ocorreu após o término do regime militar. Os debates precederam a instalação da Assembleia Nacional Constituinte para redação de um novo texto constitucional mais próximo ao contexto político econômico e social, a partir de um processo democrático de construção de direitos. Assim, é a partir da Constituição em 1988 que a Assistência Social passa a ser considerada um direito social,que também é um direito fundamental, visando atender às demandas postas pela “questão social”, tão negligenciada historicamente. A Assistência Social passa a ser concebida constitucionalmente como parte da Seguridade Social, composta pela tríade Assistência Social, Saúde e Previdência Social. É a primeira vez na história do Brasil que a Assistência Social passa a ter um status de direito social, que implicará em um vasto campo de políticas sociais. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 7 Como o conceito de Assistência Social evoluiu durante esse período, não é mesmo? Por isso, vamos retomar essa evolução histórica na videoaula disponível no material on-line para você fixar melhor o conteúdo! Assistência Social como direito social A Constituição Federal, ao prever os direitos fundamentais, os distinguiu em cinco categorias. São elas: 1. Direitos e garantias individuais e coletivos (Art. 5º); 2. Direitos sociais, dentre os quais a Assistência Social (arts. 6º a 11); 3. Direitos relativos a nacionalidade (Art. 12 e 13); 4. Direitos políticos (arts. 14 a 16); 5. Direitos relativos à organização e participação em partidos políticos (Art. 17). Dentre os direitos fundamentais previstos no artigo 6º de nossa Constituição, estão os direitos sociais, dentre eles, o direito à Assistência Social, especificamente quando se refere à assistência aos desamparados, conforme se pode observar: Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. A Constituição Federal prevê o direito à Assistência Social a partir da tríade da Seguridade Social, conforme o Art. 194. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 8 Art. 194. A Seguridade Social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à Saúde, à Previdência e à Assistência Social. Os objetivos da Seguridade Social estão previstos no mesmo Art. 194, no parágrafo único: Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a Seguridade Social, com base nos seguintes objetivos: I - Universalidade da cobertura e do atendimento; II - Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; III - Seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; IV - Irredutibilidade do valor dos benefícios; V - Equidade na forma de participação no custeio; VI - Diversidade da base de financiamento; VII - Caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. A Seguridade Social, prevista na Constituição de 1988, como sistema de proteção social brasileiro, traz em seu bojo duas dimensões: uma contributiva (necessidade da contrapartida dos rendimentos do trabalho assalariado para sua garantia) e, outra, não contributiva (sem necessidade da contrapartida, disponível para todos os cidadãos que dela necessitem). Por exemplo, a Assistência Social, bem como a Saúde, são direitos sem a necessidade de prévia contribuição, sendo direitos universais, disponíveis a todos os cidadãos que deles necessitar. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 9 A Assistência Social, prevista no artigo 6º da Constituição Federal de 1988 como direito social, é prevista também em seus artigos 203 e 204, esclarecendo-a como parte da Seguridade Social. Art. 203. A Assistência Social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à Seguridade Social, e tem por objetivos: I - A proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II - O amparo às crianças e adolescentes carentes; III - A promoção da integração ao mercado de trabalho; IV - A habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V - A garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei. Art. 204. As ações governamentais na área da Assistência Social serão realizadas com recursos do orçamento da Seguridade Social, previstos no art. 195, além de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes: I - Descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades beneficentes e de Assistência Social; II - Participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis. Parágrafo único. É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular a programa de apoio à inclusão e promoção social até cinco décimos por cento CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 10 de sua receita tributária líquida, vedada a aplicação desses recursos no pagamento de: I - Despesas com pessoal e encargos sociais; II - Serviço da dívida; III - Qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos investimentos ou ações apoiadas. Como direito social, a Assistência Social é considerada um direito fundamental de segunda geração, que diz respeito aos direitos sociais, culturais e econômicos compreendidos a partir da lógica de direitos coletivos e de coletividade. Os direitos sociais foram introduzidos na Constituição de 1988, considerada a “Constituição Cidadã”, a partir das ideias que germinaram no século XX das distintas formas do Estado Social, cujo nascimento surge a partir do princípio da igualdade. Assim, os diretos sociais têm por proposito “equalizar” situações de desigualdades socioeconômicas, buscando fortalecer o Estado Democrático de Direito e seu compromisso com a garantia da dignidade humana, a partir da consolidação dos princípios levantados remotamente na Revolução Francesa (mas que influenciaram a Construção do Estado Moderno e sua Constituição), que são: liberdade, igualdade e fraternidade. Assim, a Assistência Social, enquanto direito social constitucionalmente previsto, tem por propósito reduzir as desigualdades sociais, revertendo o processo de exclusão social e proporcionando ao cidadão oportunidades de emancipação que sem a Assistência Social não seriam facilmente alcançadas. A Assistência Social é um direito do cidadão e um dever do Estado, conforme você poderá observar na fala da professora Adriana, que está disponível no material on-line. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 11 Lei Orgânica de Assistência Social A Assistência Social, prevista constitucionalmente como direito social, passa a ser regulamentada pela Lei nº 8.742 em 7 de dezembro de 1993 (também denominada Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS), que dispõe sobre a organização da Assistência Social no Brasil. A LOAS passa a definir a Assistência Social em seu artigo 1º: A Assistência Social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas. A LOAS reforça a característica da Assistência Social como direito de todo cidadão e dever do Estado, de natureza não contributiva, ou seja, é concedido ao cidadão independentemente de contribuição social prévia. Segundo o artigo 203 da ConstituiçãoFederal, a LOAS estabelece em seu artigo 2º os objetivos da Assistência Social: I - A proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II - O amparo às crianças e adolescentes carentes; III - A promoção da integração ao mercado de trabalho; IV - A habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 12 V - A garantia de 1 (um) salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família. Parágrafo único. A Assistência Social realiza-se de forma integrada às políticas setoriais, visando ao enfrentamento da pobreza, à garantia dos mínimos sociais, ao provimento de condições para atender contingências sociais e à universalização dos direitos sociais. A Lei Orgânica da Assistência Social também estabelece os princípios pelos quais a Assistência Social deve ser conduzida. São eles: a) Supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade economia; b) Universalização dos direitos sociais; c) Respeito à dignidade do cidadão à sua autonomia e ao seu direito a benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade. d) Igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem quaisquer discriminações; e) Ampla divulgação dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais. Quanto à forma de organização da Assistência Social, a LOAS estabelece algumas diretrizes em seu artigo 5º: Art. 5º. A organização da Assistência Social tem como base as seguintes diretrizes: I - Descentralização político-administrativa para os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, e comando único das ações em cada esfera de governo; CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 13 II - Participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis; III - Primazia da responsabilidade do Estado na condução da política de Assistência Social em cada esfera de governo. A operacionalização da Assistência Social, prevista no artigo 6º da LOAS, se dará de forma descentralizada e participativa e, ainda, será constituída por entidades e organizações de Assistência Social previamente inscritas no Conselho de Assistência Social respectivo, no sentido de articular meios, esforços e recursos para atingir os objetivos da Assistência Social. Quanto a sua organização, a LOAS estabelece que a Assistência Social passa a se organizar como forma de proteção social, da seguinte forma: Proteção social básica, de natureza preventiva, e que diz respeito ao conjunto de serviços, programas, projetos e benefícios da Assistência Social que visa a prevenir situações de vulnerabilidade e risco social por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições e do fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. Proteção social especial, atinente ao conjunto de serviços, programas e projetos que tem por objetivo contribuir para a reconstrução de vínculos familiares e comunitários, a defesa de direito, o fortalecimento das potencialidades e aquisições e a proteção de famílias e indivíduos para o enfrentamento das situações de violação de direitos. Para a oferta dos serviços de proteção social, a LOAS estabelece que tanto a proteção social básica como a especial serão ofertadas pela rede socioassistencial de forma integrada, pelos entes públicos e/ou pelas entidades e organizações de Assistência Social vinculadas ao Sistema Único de Assistência Social (SUAS), respeitadas as especificidades de cada ação. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 14 Ademais, a LOAS prevê que as proteções sociais, básica e especial, serão ofertadas precipuamente no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e no Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), respectivamente, e pelas entidades sem fins lucrativos de Assistência Social. Vamos à videoaula? Acesse o material on-line. Política Nacional de Assistência Social As políticas sociais no Brasil, fortalecidas após a Constituição de 1988, se originam a partir de um processo democrático, especialmente no que concerne a relação capital-trabalho, cuja finalidade é servir de mecanismo regulador das relações sociais. O propósito de trabalhar o tema da política de Assistência Social não é esgotá-lo, mas, apenas compreendê-lo como mecanismo de efetivação do direito à Assistência Social. Portanto, para compreendermos a política da Assistência Social, devemos compreender o contexto histórico, social e econômico. As políticas sociais, na maioria das vezes, acabam se concretizando a partir das lutas e movimentos sociais, como forma de manifestação e atuação da sociedade civil na busca de impulsionar ações do Estado. As políticas sociais podem ser consideradas, de um lado, um mecanismo estatal de redução das tensões resultantes das relações sociais, mas, por outro lado, são resultantes de espaços de expressão de interesses contraditórios das classes sociais. Desse modo, a Assistência Social como política pública pode ser vista como fruto de um mecanismo político das CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 15 relações das forças sociais, como forma de exercício da cidadania em prol da efetivação dos direitos sociais previstos constitucionalmente. Se, de um lado, a Assistência Social tem a ótica do Estado, de outro, é um espaço de luta e acesso a serviços, espaço essencial para o fortalecimento do exercício da cidadania e efetivação dos direitos. A Política Nacional de Assistência Social (PNAS) foi aprovada pelo Conselho Nacional de Assistência Social pela Resolução nº 145 de 15 de outubro de 2002, com o propósito de implantar um Sistema Único de Assistência Social, ou seja, de efetivamente operacionalizar o direito à Assistência Social. A Assistência Social na forma de política pública é um forte mecanismo de responsabilizar o Estado a cumprir com sua obrigação, mas também serve como forma de fortalecer a efetivação da Assistência Social enquanto direito social, contribuindo para o exercido da cidadania e para o enfrentamento da desigualdade social. A importância da Assistência Social configurada como política pública consiste na criação de mecanismos para implementação efetiva de um direito que é fundamental – direito à Assistência Social. Apesar de a Assistência Social ser prevista constitucionalmente e ser integrante de um complexo sistema de instrumentos jurídicos, no Brasil ainda predominou o assistencialismo como seu sinônimo, ou pior: o assistencialismo com uma “roupagem” de Assistência Social, gerando sérias consequências, dentre elas, o enfraquecimento da responsabilização do Estado. Assim, a Assistência Social, enquanto política pública de proteção social, tem um enorme desafio, de implementação de uma nova lógica que venha favorecer a construção um novo olhar para a Assistência Social, não mais como benemerência, mas como direito. Nesse sentido, a proteção social deixa de ser “favor” para se apresentar a partir da esfera do direito, estabelecendo a sua importância enquanto política pública. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 16 Depreende-se do estudo da Política Nacional de Assistência Social uma reafirmação da LOAS, o que é relevante na consagração do direito à Assistência Social e na busca da uniformização dos atendimentos, bem como no reconhecimento dos direitos a todos os segmentos sociais, especialmente na forma de proteção social.Esse modelo de proteção social é pautado na justiça social e na garantia do exercício dos direitos humanos, visando a retirada das famílias vulneráveis da situação de pobreza, possibilitando o acesso a bens e serviços, até então negados. Importante destacar que a Assistência Social é uma política que integra outras políticas sociais, o que lhe dá um caráter intersetorial. Ademais, tem sua centralidade na família, na participação da população e da primazia da responsabilidade do Estado na sua condução. A Política de Assistência Social tem como características a intersetorialidade, a descentralização e a territorialização. Vamos conhecer melhor essas três características? Assista à videoaula disponível no material on-line! Mecanismos de operacionalização do direito à Assistência Social O desenvolvimento de mecanismos para a operacionalização da Assistência Social, ou seja, para sua efetiva implementação torna-se fundamental, especialmente, depois de superada sua definição enquanto caridade ou benevolência para sua compreensão enquanto direito fundamental, cujo papel primordial está centrado no enfrentamento das desigualdades sociais, buscando atender às demandas sociais com vistas à garantia dos direitos sociais e segurança de sobrevivência. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 17 Criada a base principiológica da Assistência Social por meio da Política Nacional de Assistência Social, que trata das diretrizes, objetivos e ações da Assistência Social, foi necessária a criação de uma base organizacional, para tratar da gestão da política de Assistência Social. Assim, como forma de materializar a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), que regulamenta o direito à Assistência Social previsto na Constituição Federal, foi criado o Sistema Único de Assistência Social, o SUAS, que se trata de um sistema público que organiza, de forma descentralizada, os serviços socioassistenciais. Os serviços socioassistenciais se organizam por meio da vigilância social, proteção social e defesa social e institucional. A vigilância social se organiza no sentido de fornecer informações, análises e indicadores referentes aos eventos e riscos relacionados diretamente a área de Assistência Social. É feita de forma territorializada, respeitando as diferenças e características socioterritoriais previstas nas diretrizes da PNAS. Assim, a vigilância social direciona seus trabalhos visando conhecer melhor, por meio de informações e análises dos riscos sociais, situações de vulnerabilidade cujos efeitos culminam na necessidade de Assistência Social. A proteção social, por sua vez, garante que todo cidadão tenha direito a um rendimento, a acolhida e a convivência familiar e comunitária. Com relação à segurança de rendimento, não se trata apenas de uma compensação pecuniária em valor de salário inadequado para a garantia da sobrevivência da cidadania – essa garantia deve ser independente das limitações para o trabalho ou mesmo em razão do desemprego. Já a defesa social e institucional tem por finalidade garantir aos usuários da Assistência Social o conhecimento de seus direitos socioassistenciais e os meios de defesa para garanti-los. Assim, essa referência visa primar por um atendimento digno, respeitoso, não coercitivo e CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 18 com um tempo de espera para o acesso aos serviços socioassistenciais coerente com a necessidade apresentada pelo usuário. A informação deve ser acessível não só ao cidadão que tem acesso, mas também àqueles com barreias culturais, de leitura e outras limitações. A materialização da Assistência Social pelo SUAS se organiza por meio de eixos, que são considerados sua base de organização. Clique em cada tópico para conhecê-los: Matricialidade sociofamiliar A Política de Assistência Social tem suas ações voltadas para a família de forma individual, isso porque considera o contexto familiar um espaço privilegiado e insubstituível de proteção e socialização. Atende, dessa forma, a Constituição Federal, que assevera em seu Art. 226 que “a família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado”. E, ainda, no § 8º do mesmo artigo, prevê que “o Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações”. Descentralização Político-Administrativa e Territorialização A política de Assistência Social tem sua organização estendida para cada nível da Federação – União, Estados, Distrito Federal e Municípios na condição de um comando único. Juntamente com a ideia de descentralização político-administrativa, a Assistência Social vai se operacionalizar em forma de rede com base no território, ou seja, na territorialização, visando a conhecer melhor a dinâmica demográfica e socioterritorial, identificando, de forma mais efetiva, os problemas, as potencialidades e as possíveis soluções, a fim de construir ações locais de forma intersetorializada, partindo de uma concepção de território como extensão do conjunto de relações, condições e acessos. CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 19 Novas Bases para a Relação entre o Estado e a Sociedade Civil A participação da sociedade civil na Assistência Social tem o sentido de construir uma rede articulada e integrada que, ao invés de substituir o Estado, atue de forma conjunta, porém, com o Estado coordenando esse processo de articulação e integração das mais diversas organizações presentes na sociedade civil, no sentido de assumir a responsabilidade pela implementação da Assistência Social, a partir de uma perspectiva de direito social e não mais de filantropia. Financiamento O financiamento da Assistência Social está contemplado na Constituição Federal, mais precisamente em seu Art. 195, que trata do financiamento da Seguridade Social conjuntamente com outras políticas. Seu orçamento deverá ser elaborado de forma integrada com a saúde e a previdência social. Com o Decreto nº 1.605, de 25 de agosto de 1995, ocorre a regulamentação do Fundo Nacional da Assistência Social – FNAS, que tem por objetivo proporcionar recursos para financiar o benefício de prestação continuada e apoiar serviços, programas e projetos de Assistência Social. Controle Social O controle social é um instrumento de efetivação da participação popular na gestão político-administrativa e financeira e no processo técnico- operativo, considerando seu caráter democrático e descentralizado. A operacionalização dessa participação se dá em espaços privilegiados como os conselhos e conferências. O Art. 18 da Lei Orgânica de Assistência CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 20 Social prevê essa forma de controle social quando trata da atuação do Conselho Nacional de Assistência Social. A Política de Recursos Humanos A equipe que atua na Assistência Social deve ser diversificada e interdisciplinar, e que consiga atuar de forma integrada, intersetorial. A Informação, o Monitoramento e a Avaliação Esse eixo concentra os esforços para atender às diretrizes da Política Nacional de Assistência Social, no sentido de promover estratégias de Monitoramento e Avaliação, visando aferir e aperfeiçoar os projetos já existentes na área, aprimorar o conhecimento sobre os componentes que perfazem a política e sua execução, além de contribuir com o planejamento futuro, tendo como plano de fundo sua contribuição aos escopos institucionais. O Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário disponibilizou uma cartilha para que você e os demais cidadãos possam compreender melhor o funcionamento do SUAS de uma maneira lúdica! http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Rev ista/PolNacAS_revistaquadrinho.pdfFinalizemos o estudo desse assunto com a videoaula disponível no material on-line! TROCANDO IDEIAS http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Revista/PolNacAS_revistaquadrinho.pdf http://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Revista/PolNacAS_revistaquadrinho.pdf CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 21 Assista a esse breve documentário, chamado “Ilha das Flores”. https://youtu.be/e7sD6mdXUyg Com base nos conceitos trabalhados nessa aula, compartilhe, no fórum de discussões, as ideias que lhe ocorreram ao assistir o documentário, especialmente acerca da importância da Assistência Social enquanto direito em uma sociedade de promove a desigualdade social em suas mais diversas expressões, dentre ela a pobreza. Aproveite e escreva como você vê o programa Bolsa Família: dentro do conceito de assistencialismo ou como um programa que se insere em uma política social que busca garantir o direito fundamental a Assistência Social? NA PRÁTICA Lembra da Maria? Então, refletiu a respeito da situação dela e do questionamento que propusemos? Vamos conferir se suas considerações condizem com os comentários que a professora Adriana faz na videoaula disponível no material on-line. SÍNTESE Nossa segunda aula está chegando ao fim. Com ela, pudemos compreender melhor a perspectiva da Assistência Social como direito fundamental. https://youtu.be/e7sD6mdXUyg CCDD – Centro de Criação e Desenvolvimento Dialógico 22 Verificamos que, no rol dos direitos sociais, considerados normas programáticas de nossa Constituição Federal, foi necessária a criação de uma Lei que regulamentasse a Assistência Social, de modo que foi criada a Lei Orgânica de Assistência Social. Todavia, para sua implementação, foi necessária a criação de diretrizes e mecanismos operacionais que só foram possíveis com a consolidação da Política Nacional de Assistência Social. Em síntese, foi possível observar que, diferentemente da perspectiva assistencial, no sentido de benevolência voluntária, a assistência social enquanto direito fundamental, dever do Estado, tem uma dimensão muito mais complexa para sua efetiva operacionalização, pois trata-se de política permanente, que contribui para mobilidade social. Vamos recapitular o que aprendemos nesta aula? Acompanhe a professora Adriana na videoaula disponível no material on-line. Referências BERAS, C. Democracia, cidadania e sociedade civil. Curitiba: Intersaberes, 2013. COUTO, B. R. C. O direito social e a Assistência Social na sociedade brasileira: uma equação possível? 3. Ed. São Paulo: Cortez, 2008. SPOSATI, A. O. et al. Assistência na trajetória das políticas sociais brasileiras: uma questão em análise. 12. Ed. São Paulo: Cortez, 2014.
Compartilhar