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MATERIAL DIDÁTICO PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DE ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010 0800 283 8380 www.ucamprominas.com.br Impressão e Editoração 2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3 UNIDADE 1 – A FUNÇÃO E O ALCANCE DE UMA ESCOLA CIDADÃ NA COMUNIDADE ............................................................................................................ 8 1.1 Identificando a estrutura organizacional e administrativa ............................... 8 UNIDADE 2 – UM BREVE HISTÓRICO SOBRE A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL .................................................................................................................................. 13 UNIDADE 3 – FUNDAMENTOS DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL ..................... 20 UNIDADE 4 – AS CARACTERÍSTICAS DO ORIENTADOR EDUCACIONAL ........ 26 4.1 As práticas do orientador educacional ......................................................... 30 4.2 O orientador e o planejamento ..................................................................... 39 4.3 Passos para o planejamento do orientador .................................................. 40 4.4 O orientador educacional: agente de mudanças .......................................... 41 4.5 Profissionais abertos para a educação do futuro ......................................... 43 4.6 O orientador e as novas tecnologias ............................................................ 45 UNIDADE 5 – SALA DE AULA E ESPAÇO ESCOLAR: A INTERFERÊNCIA NAS AVALIAÇÕES INSTITUCIONAIS E SISTÊMICAS ................................................... 48 5.1 Avaliações institucionais ou sistêmicas ........................................................ 48 5.2 Caracterizando os tipos de avaliações e aplicadores .................................. 49 UNIDADE 6 – A FUNÇÃO DA ESCOLA E A FAMÍLIA ............................................ 59 UNIDADE 7 – ATUAÇÃO, HABILIDADES E COMPETÊNCIAS DO ORIENTADOR EDUCACIONAL ........................................................................................................ 62 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 66 3 INTRODUÇÃO Em um primeiro momento, devemos entender ou interpretar claramente o que vem a ser o papel da orientação a nível escolar. Assim sendo, poderíamos dizer que temos de imediato, um desafio, que seria o entendimento claro do que vem a ser a “Prática de Formação” ou “Prática de Orientação Docente”, ou simplesmente, “Prática Pedagógica” e, em que perspectiva nós podemos utilizar a nível docente. Grosso modo, quando pensamos em “Prática” pressupomos uma ação, um fazer. Porém, não é um fazer qualquer, ou melhor, qualquer fazer, que configura uma “prática de formação” ou “prática de orientação pedagógica”. O fazer a que visamos se fundamenta e movimenta segundo bases teóricas sólidas, vivas, dinâmicas e refletidas, pensadas, abraçadas por identificação, como parte de nós mesmos. Compreenda que uma teoria adotada é fruto de uma escolha por considerar que o que ela propõe responde às necessidades, aos anseios, ao contexto em que nos inserimos e no qual queremos atuar positivamente. Figura 1: Interpretando a prática de orientação no âmbito educacional. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. O que queremos dizer com a expressão “uma teoria adotada”? Ora, estamos afirmando que todo profissional necessita ter métodos, didática, técnicas, ou seja, conhecer sobre as diversas teorias educacionais, para que dê conta de estabelecer norte na sua conduta organizativa da sala de aula. 4 E é exatamente isso que o contexto envolvendo a prática pedagógica de orientação educacional deverá estabelecer e orientá-lo. Mas, antes de iniciarmos as diretivas gerais para a disciplina saiba que: Figura 2: Interpretando a prática de orientação no âmbito educacional. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. Figura 3: Interpretando a prática de orientação no âmbito educacional. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. Sabe o que irá prepará-lo para a ação docente? É preciso saber, com sensibilidade, segurança, dialogar com os vários saberes para, servindo-se destes, fazerem instrumentos para ação-transformação da realidade. Saiba, afinal que ações como estas são de fundamental importância no desenvolvimento de competências de um professor. E, são essas competências que iremos desenvolver por aqui. 5 Vamos simplificar? Imagine um especialista em um campo da ciência; o fato de conhecer profundamente o universo teórico de sua especialidade não garante que ele venha a ser um bom transmissor, disseminador, professor daquilo que tão bem conhece. Mas o problema não fica aí, mesmo que ele seja um mestre- orientador competente, ainda permanece uma pergunta: será ele capaz de articular o corpo teórico com as questões do cotidiano, da vida, que borbulham dentro de nós e à nossa volta? Ele deve estar “antenado” com as vicissitudes de seu momento histórico, consciente de seu posicionamento frente a elas e com uma proposta, um ideal inspirador, guiando sua ação transformadora e emancipadora de alcance humano-social. Só assim poderá fazer do conhecimento um efetivo instrumento de construção de um ser humano e, consequentemente, de uma sociedade mais solidária, mais justa, mais sensível. Paulo Freire no livro “Professora sim, tia não, cartas a quem ousa ensinar”1, realiza considerações importantes sobre o ato de ensinar e declara, [...] a tarefa do ensinante, que é também aprendiz, sendo prazerosa é igualmente exigente. Exigente de seriedade, de preparo científico, de preparo físico, emocional, afetivo. É uma tarefa que requer de quem com ela se compromete um gosto especial de querer bem não só aos outros, mas ao próprio processo que ela implica. É impossível ensinar sem essa coragem de querer bem, sem a valentia dos que insistem mil vezes antes de uma desistência. É impossível ensinar sem a capacidade forjada, inventada, bem cuidada de amar (FREIRE, 1997, p. 8). Você compreende com clareza, que a essência do ensinar para Paulo Freire consiste em um diálogo, constante, consigo? E, que a persistência, o querer bem, que ele comenta, tem relação com as ações por você estabelecida, quando da sua prática profissional? E, como aprendizes, que por sinal é bem afirmado por Freire, você deverá estar sempre atento às tendências educacionais, não se esquecendo de que não deverá perder de vista a constância da investigação, do saber sempre mais, de buscar novas formas para dar conta dos processos metodológicos e didáticos, necessários à condução de uma sala de aula. Para corroborar com essa ideia, Demo2 complementa as indicações de Freire, quando afirma que: 1 FREIRE, Paulo. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo: Olho d’água, 1997. 2 DEMO, Pedro, Educar pela pesquisa. 6 ed. Campinas SP: Autores associados, 2003. 6 Educar pela pesquisa tem como condição essencial primeira que o profissional da educação seja pesquisador, ou seja, maneje a pesquisa como princípios científicos e educativos e a tenha como atitude cotidiana. Não é o caso fazer dele um pesquisador ‘profissional’, sobretudo na educação básica, já que não a cultiva em si, mas como instrumento principal do processo educativo. Não se busca um ‘profissional da pesquisa’, mas um profissional da educação pela pesquisa. Decorre, pois, a necessidade de mudar a definição do professor como perito em aula, já que a aula que apenas ensina a copiar é absoluta imperícia(DEMO, 2003, p. 2). O que revela Demo com essa afirmação é que o professor da atualidade necessita compreender, que em sua ação docente, é necessário promover o processo de pesquisa no aluno, deixando de ser objeto de ensino, para tornar-se parceiro de trabalho. Tanto Freire como Demo concordam que o professor profissional, o educador de tempos atuais, precisa assumir a relação de sujeitos participativos, tomando-se o questionamento reconstrutivo como desafio comum. Você na sua prática docente deverá, portanto, assumir uma postura de mediador de conhecimentos. Mas, é importante, compreender que um mediador de processos de conhecimento tem uma prática totalmente contrária a uma condução de sala de aula que resulta apenas em uma prática que intencione a distribuição de receitas prontas, mas sim uma orientação educativa recheada de estratégias que facilitem a capacidade de educar pela pesquisa. Agora, para assumir uma postura como essa, é necessário compreender que devemos revestir-nos de outra consciência que por muitos anos perduraram e que ainda permanece nos meios educacionais, na qual se acredita que o problema principal da educação gira em torno no aluno. Esse tipo de crença deve ser repensado, uma vez, que o Problema principal da educação não está no aluno, mas na recuperação da competência do professor, vítima de todas as mazelas do sistema, desde a precariedade da formação original, a dificuldade de capacitação permanente adequada, até a desvalorização profissional extrema, em particular na educação básica. Qualquer proposta qualitativa na escola encontra na qualidade do professor a relação mais sensível (DEMO, 2003, p. 3). Agora, com vistas a todas essas reflexões, que Freire e Demo nos permitem, precisamos deixar claro como vamos organizar a estrutura da prática pedagógica de orientação educacional. Lembramos que a prática pedagógica de orientação permeará vários tópicos, então o seus saberes docentes serão construídos aos poucos. Saiba que, usamos por aqui, uma linearidade de graus de conhecimento, ou 7 melhor, de passos que avançaremos ao longo do curso com o propósito de formá- lo(a) para o enfrentamento da sala de aula. É nossa intenção que você conheça as fundamentações básicas dos processos educativos. Bem, pelo mencionado anteriormente, a prática pedagógica de orientação educacional é o espaço em que você colocará todos os saberes assimilados nos demais componentes curriculares e os tecerá, conjuntamente, dentro das óticas que este nosso próprio componente vai apresentar, em produções pessoais escritas de observação, reflexão, análise, crítica e transformação perante a realidade humano- social-educacional em que historicamente nos inserimos. Figura 4: Abordando um pouco mais a prática de orientação no âmbito educacional. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. Neste sentido, o objetivo geral do nosso módulo é apresentar os principais conceitos e métodos da prática pedagógica voltada para o cunho de orientação educacional, desde a contextualização da escola cidadã até os mecanismos de avaliação. Pois bem, as palavras acima são nossa justificativa para o módulo em estudo. Como isso será realizado? 8 UNIDADE 1 – A FUNÇÃO E O ALCANCE DE UMA ESCOLA CIDADÃ NA COMUNIDADE Nesta unidade vamos examinar com atenção as questões que envolvem a relação escola e comunidade. Entendemos que quanto mais fortalecidos forem os vínculos da instituição escolar com a comunidade, mais facilmente os objetivos da escola serão alcançados, maiores possibilidades haverá de resolver os problemas existentes e mais próximos estaremos da construção de relações democráticas e da formalização da gestão escolar baseada em princípios democráticos. Conhecemos várias situações de escolas onde, por exemplo, a violência e o vandalismo eram correntes. Uma das formas de resolução deste sério problema foi o estabelecimento de uma relação e um vínculo mais estreito com a comunidade local, responsabilizando e comprometendo todos com o trabalho escolar (maior participação dos pais nas atividades cotidianas da escola, definição conjunta dos objetivos e ações escolares, abertura da escola – inclusive nos finais de semana – para projetos culturais, ocupação dos espaços da escola para trabalhos comunitários, serviços, esportes, formas colegiadas de gestão escolar, entre outros). Figura 5: A relação escola e comunidade. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. Conhecendo suas possibilidades e suas limitações, uma gestão pode muita coisa se quiser realmente construir uma escola que promova a formação cultural e científica de seus alunos e ainda desenvolva neles potencialidades cognitivas e operativas. 1.1 Identificando a estrutura organizacional e administrativa Para a presente discussão, será necessário compreendermos um pouco da nossa história e entendermos as bases do nosso sistema escolar que tem seus 9 pressupostos na era industrial. É preciso entender que todos somos produtos de nossa época e assim agimos de formas que a recriam. É difícil, para nós em uma sociedade “avançada”, imaginar o quanto a era industrial afetou nossa forma de ver o mundo. Figura 6: Descrevendo a relação escola e comunidade. Fonte: Elaborado pelo próprio autor. A estrutura organizacional e administrativa da escola que temos hoje tem origem no modelo dos construtores de fábricas. O resultado é um sistema escolar da era industrial feito à imagem da linha de montagem. Como qualquer linha de montagem, o sistema foi organizado em estágios chamados de séries, em que segregaram as crianças por idades. Nas séries cada um deveria subir para outro estágio juntos. Cada estágio deveria ter um supervisor, com classes de 20 a 40 alunos e com dias específicos para fazer testes. O supervisor tinha um esquema rígido (currículos padronizados) que deveria seguir a risca para manter a linha andando. Saiba Mais! Você tem visto algo similar nas escolas que observa? Sua resposta, com certeza, será a constatação de que é exatamente assim que funcionam todas as escolas. Esta ainda é a escola que temos hoje. Você imagina que este modelo remonta a primeira metade do século XVII? Peter Senge, em seu livro “Escolas que aprendem” diz que: Embora poucos de nós, atualmente, entendamos o quanto os conceitos da linha de montagem estão arraigados na escola moderna, os escritores do século XIX falavam admirados das escolas como análogas a máquinas e 10 fábricas. O resultado desse pensamento da era da máquina foi um modelo de escola separado da vida cotidiana, governado de forma autoritária, orientado, acima de tudo, para produzir um produto padronizado – mão de obra necessária para o local de trabalho da era industrial, que crescia rapidamente – dependente da manutenção do controle. Já é sabido que nossa legislação, na medida em que legitima os espaços de participação e decisão coletiva, em muito avançou em relação a este modelo de fábrica. Governar de forma autoritária, pelo menos na lei não é incentivado. A ideia é a construção de ações com base na participação de seus atores. Construir ações coletivas na escola depende fundamentalmente da capacidade de todos em compartilhar, discutir, ouvir, socializar, colaborar, opinar, reagir, mudar. Apesar de uma legislação que favorece um modelo educacional democrático e participativo, Senge (2002) diz que o nosso sistema de ensino é “aprisionado”, pois não é fácil conseguirmos nos libertar deste modelo, afinal todos fomos à escola juntos! Somos assim produtos da escola da idade industrial. Para todos nós, foi a primeira e a mais informativa introdução ao mundo mecânico dos professores no controle e estudantes dependentes da aprovação dos professores. Aprendemos como evitar respostas erradas e levantar a mão quando soubéssemos a resposta certa, hábitos que,mais adiante moldariam a dança organizacional contínua de evitar a culpa e buscar crédito por sucessos. Aprendemos como ficar quietos quando nos sentíssemos perdidos, razão pela qual ninguém questiona o chefe na reunião oficial, mesmo quando diz coisas que não fazem sentido. Ao referir-se à estrutura administrativa da escola, um dos estudiosos brasileiros da questão, Vitor Paro (1997), questiona o modelo de direção de nossas escolas públicas. Diz o autor: Na estrutura formal de nossa escola pública está quase totalmente ausente a previsão de relações humanas horizontais, de solidariedade e cooperação entre as pessoas, observando-se, em vez disso, a ocorrência de uma ordenação em que prevalecem relações hierárquicas de mando e submissão. O mais alto posto dessa hierarquia é ocupado pelo diretor, verdadeiro chefe da unidade escolar e responsável último por tudo o que acontece aí dentro. Esta condição lhe dá uma imensa autoridade diante das demais pessoas que interagem no interior da escola, mas quase nenhum poder de fato, já que a autoridade que ele exerce é concedida pelo Estado, a quem deve prestar conta das atividades pelas quais é responsável. Assim, independentemente de sua vontade, o diretor acaba assumindo o papel de preposto do Estado diante da instituição escolar e de seus usuários. Premido pelos inúmeros e graves problemas originários das inadequadas condições em que o ensino escolar tem de desenvolver, e instado a prestar conta de tudo ao Estado, diante do qual acaba se colocando como culpado primeiro por qualquer irregularidade que aí se verifique, o diretor escolar 11 desenvolve a tendência de concentrar em suas mãos todas as medidas e decisões, apresentando um comportamento autoritário que já vai se firmando no imaginário dos que convivem na escola como característica inerente ao cargo que exerce. Vítor Paro, constata exatamente o que já havíamos comentado antes. Nossas escolas ainda estão organizadas no modelo hierarquizado de gestão. Você deve estar se perguntando: Mas, e a gestão democrática tão propalada? E o projeto político-pedagógico como instrumento norteador de práticas pedagógicas concebidas no exercício da cidadania? Você deve ter visto na Prática de Formação, que a realidade do P.P.P. na escola ainda se apresenta apenas como documento de cunho burocrático. Qualquer esforço de mudança necessariamente deverá passar pelo reconhecimento dos pressupostos em que o sistema escolar se baseia. Reconhecer o quanto a escola da era industrial está em nós pode ser algo assustador, mas também pode criar possibilidades. No decorrer dos últimos anos, houve uma revolução em nossa visão científica, uma revolução sistêmica que está gradualmente penetrando nas ciências cognitivas e nas ciências sociais. Como leva muito tempo para que uma mudança penetre na sociedade, nossas instituições ainda estão organizadas no pensamento mecanicista. Como diz Morin (2004), a imensa máquina da educação é rígida, inflexível, fechada, burocratizada. Muitos professores estão instalados em seus hábitos e autonomias disciplinares e não querem sair deles. Existe uma resistência grande, inclusive entre os “espíritos refinados”, pois para estes o desafio é invisível. A cada tentativa de reforma, por mínima que seja, a resistência aumenta. Para as mentes fechadas, a possibilidade de um conhecimento para além de uma especialização parece-lhes insensata, mas é curioso observar como que o especialista mais limitado tem ideias gerais, das quais não tem dúvida, sobre a vida, o mundo, Deus, a sociedade, os homens, as mulheres. Esses especialistas vivem de ideias gerais e globais, mas arbitrárias, nunca criticadas, nunca refletidas. “O reino de especialistas é o reino das mais ocas ideias gerais, sendo que a mais oca de todas é a de que não há necessidade de ideia geral”. O bloqueio levantado pela necessidade de reformar as mentes para reformar as instituições é acrescido de um bloqueio mais amplo, que diz respeito à relação entre a sociedade e a escola. Daí, fazemos a seguinte indagação: a sociedade produz a escola, que produz a sociedade. Diante disso, como reformar a escola sem 12 reformar a sociedade, mas como reformar a sociedade sem reformar a escola? Podemos concluir que existe um circuito entre a escola e a sociedade, pois uma produz a outra. É preciso saber começar, e o começo só pode ser de maneira periférica e marginal. Como sempre, a iniciativa só pode partir de uma minoria, a princípio incompreendida, até perseguida. Depois a ideia é disseminada e, quando se difunde, torna-se uma força atuante. Leia Mais! MORIN, Edgar. A Cabeça bem – feita – repensar a reforma – reformar o pensamento. 10ª ed. Bertran. 2004. A questão da organização administrativa e pedagógica da escola está diretamente vinculada às relações que se estabelecem no seu interior entre: professores e direção, professores e coordenação, professores e professores, professores e alunos, comunidade e direção, entre outras. Hoje falamos muito em gestão democrática da escola que, como sabemos, supõe descentralização, relações horizontais, participação, respeito ao pluralismo de ideias, decisões colegiadas. A gestão democrática é incompatível com práticas autoritárias. Nem o diretor da escola, nem ninguém da comunidade escolar, podem sentir-se “dono” ou “chefe” supremo da escola. As ações da escola devem ser o resultado de decisões coletivas e participativas. Essa é uma cultura que precisamos construir conjuntamente. Nas últimas décadas tentamos construir uma cidadania mais plena e uma sociedade de participação efetiva de todos. As propostas e ações de gestão democrática da escola representam um esforço no sentido de romper com essa lógica hierarquizada e vertical que assombra a sociedade brasileira desde os primórdios de sua história. Reflita? Pense sobre as seguintes indagações? a) E você, o que pensa disso? Quais suas experiências profissionais? Em que tipo de escolas você já trabalhou ou estudou? Que aspectos da organização escolar considera que facilitam ou dificultam o trabalho do professor? b) Como é a gestão administrativa e pedagógica da escola? Quais serviços existem e como funcionam (direção, secretária, apoio pedagógico, pessoal, setores, órgãos, conselhos, colegiados, entre outros)? c) Que espaços de participação a escola tem?. 13 UNIDADE 2 – UM BREVE HISTÓRICO SOBRE A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Desde 1942, as leis brasileiras fazem obrigatória a orientação educacional nas escolas. Na maior parte dos casos, os orientadores educacionais são consultores para a Direção e interlocutores entre os pais, o aluno e a escola. Disciplinam o estudante, reúnem-se e discutem problemas didáticos e disciplinares com os professores e com os pais do aluno, aplicam e interpretam testes padronizados, promovem eventos que estimulam o relacionamento interpessoal, e aconselham o encaminhamento a psicólogos e psiquiatras dos casos de desvios mais complexos. De acordo com as pesquisas de Aguiar & Scheibe (1999), o curso de pedagogia foi criado no Brasil devido à grande preocupação com a preparação de professores dirigidos à escola secundária. Sendo assim, surgiu junto com as licenciaturas, instituídas ao ser organizada a antiga Faculdade Nacional de Filosofia, da Universidade do Brasil, pelo Decreto-lei nº 1190, de 1939. Aguiar & Scheibe (1999) salientam que essa faculdade visava a formação de bacharéis e licenciados para atuar em várias áreas do conhecimento, entre elas, a área pedagógica. De acordo com as propostas estabelecidas, como bacharel, o pedagogo poderia ocupar cargo de técnico de educação, do Ministério de Educação, campo profissional muito vago e, posteriormente, após concluído o curso de didática, conferia a este profissional as suas funções. Para Aguiar & Scheibe (1999), como licenciado, o principalcampo de trabalho do pedagogo era o curso normal, um campo não exclusivo dos pedagogos, uma vez que, pela Lei Orgânica do Ensino Normal, para lecionar nesse curso era suficiente o diploma de ensino superior. Apesar de alguns retoques feitos na sua estrutura em 1962, esse quadro do curso de pedagogia perdurou até 1969, quando este foi reorganizado, sendo então abolida a distinção entre bacharelado e licenciatura e criadas as “habilitações”, cumprindo o que acabava de determinar a lei nº 5540/68. A concepção presente no modelo anterior permaneceu na nova estrutura, assumindo apenas uma feição diversa: o curso foi dividido em dois blocos distintos e autônomos, desta feita, colocando de um lado as disciplinas dos chamados fundamentos da educação e, de outro, as disciplinas das habilitações específicas. 14 Deste modo, o curso de Pedagogia passou então a ser predominantemente formador dos denominados “especialistas” em educação, ou seja, o supervisor escolar, o orientador educacional, o administrador escolar, e o inspetor escolar. Makarenko (1986), afirma que a pedagogia é a pedra angular do trabalho educativo, levando a pessoa a repensar e a questionar sobre que “tipo de homem” se pretende formar, colocando o sujeito diante da importância do dado antropológico para quem se propõe a fazer pedagogia. O Parecer CFE nº 252/69, incorporado à Resolução CFE nº 2/69, que fixou os mínimos de conteúdo e duração a serem observados na organização do curso de Pedagogia, até hoje em vigor, baseou-se na concepção de que as diferentes habilitações deveriam ter uma base comum de estudos, constituída por matérias consideradas básicas à formação de qualquer profissional na área, e uma parte diversificada para atender às habilitações específicas. A base comum foi composta pelas seguintes disciplinas: Sociologia Geral, Sociologia da Educação, Psicologia da Educação, História da Educação, Filosofia da Educação e Didática. A parte diversificada, para cada uma das habilitações, ficou estabelecida, para a habilitação, o ensino das disciplinas e atividades práticas dos cursos normais, as seguintes matérias: Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1º grau, Metodologia do ensino de 1º grau, Prática de Ensino na Escola de 1º grau (estágio); para a habilitação em “Orientação educacional”, as matérias: Estrutura e Funcionamento do 1º grau, Estrutura e Funcionamento do ensino de 2º grau, Princípios e Métodos de Orientação Educacional, Orientação Vocacional e Medidas Educacionais. Para a habilitação em Administração Escolar, as matérias: Estrutura e Funcionamento do ensino de 1º grau, Estrutura e Funcionamento do ensino de 2º grau, Princípios e Métodos de Administração Escolar e Estatística aplicada à Educação. Para a habilitação em Supervisão Escolar, as matérias: Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1º grau, Estrutura e Funcionamento do Ensino de 2º grau, Princípios e Métodos de Supervisão Escolar e Currículos e Programas. Para a habilitação em Inspeção Escolar, as matérias selecionadas foram as seguintes: Estrutura e Funcionamento do ensino de 1º grau, Estrutura e Funcionamento do Ensino de 2º grau, Princípios e Métodos de Inspeção Escolar e Legislação do Ensino. 15 A legislação anteriormente referida fixou que o título único a ser conferido pelo curso de Pedagogia passava a ser o de licenciado, por entender que todos os diplomados poderiam ser, em princípio, professores. No atual cenário, pós-LDB, demarcam-se com nitidez os novos campos de disputa, reacendendo-se as lutas em torno do novo locus e da configuração dos cursos de formação dos profissionais da educação (AGUIAR & SCHEIBE, 1999). A introdução na LDB dos Institutos Superiores de Educação (ISE) abriu espaço para que as propostas que não tiveram condições históricas de se impor no debate nacional ressurgissem travestidas em forma de lei. Com isso, foram dadas as condições para uma nova formatação dos cursos de licenciatura e de Pedagogia, com sérias implicações para a formação qualificada de professores e demais profissionais da educação. No caso do curso de Pedagogia, rompe-se, na prática, com a visão orgânica da formação docente que vinha sendo construída no país nas últimas décadas. Acentua-se, por imposição legislativa, a dicotomia entre a formação para atuar na educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental e a destinada às séries finais desse nível de ensino e do ensino médio. Impõe-se tal paradoxo no interior do locus de formação dos profissionais da educação, além de se atribuir aos institutos a prerrogativa da formação dos professores no setor privado. Com isso, aplaina-se o caminho para o esvaziamento do curso de Pedagogia e para o sucesso das propostas que visam dele retirar a base da docência, transformando-o na prática em um bacharelado. O debate sobre a formação do educador no curso de Pedagogia expressa hoje o conflito de posições teórico-metodológicas, epistemológicas. Na tentativa de mediar o processo, a Comissão de Especialistas de Ensino de Pedagogia, com base na análise de propostas de formação do profissional de educação, oriundas de mais de 500 instituições de ensino superior do país e nas contribuições das diversas entidades do campo educacional (Anped, Anfope, Anpae, Fórum dos Diretores de Faculdades de Educação), apresentou uma proposta de diretrizes curriculares a ser encaminhada ao Conselho Nacional de Educação. Essa comissão assumiu a tese de que o curso de Pedagogia destina-se à formação de um profissional habilitado a atuar no ensino, na organização e na gestão de sistemas, unidades e projetos educacionais e na produção e difusão do 16 conhecimento, em diversas áreas da educação, tendo a docência como base obrigatória de sua formação e identidade profissional. Sendo assim, o Pedagogo poderá atuar na docência na educação infantil, nas séries iniciais do ensino fundamental e nas disciplinas de formação pedagógica do nível médio. E ainda na organização de sistemas, unidades, projetos e experiências educacionais escolares e não escolares; na produção e difusão do conhecimento científico e tecnológico do campo educacional; nas áreas emergentes do campo educacional. Com essa formulação, contemplam-se os campos de atuação do pedagogo, que tendo como fulcro a formação docente, será chamado a exercer papel importante em outras funções do campo educacional. Entende-se que tal perspectiva rompe com a tradição tecnicista de separar o saber e o fazer, a teoria e a prática. E aí cabe um papel importante às instituições de ensino superior que poderão ofertar uma formação que respeite a sua vocação, o seu interesse, a demanda local e sua função social. Essas concepções estão na base da organização da estrutura curricular proposta que abrange duas partes intrinsecamente relacionadas: os conteúdos básicos e a parte diversificada ou de aprofundamento. A primeira parte engloba “um núcleo de conteúdos básicos, articuladores da relação teoria e prática, considerados obrigatórios pelas IES para a organização de sua estrutura curricular e relativa” (LUCK, 2001). Ao contexto histórico e sociocultural, compreendendo os fundamentos filosóficos, históricos, políticos, econômicos, sociológicos, psicológicos e antropológicos necessários para a reflexão crítica nos diversos setores da educação na sociedade contemporânea; ao contexto da educação básica, compreendendo: o estudo dos conteúdos curriculares da educação básica escolar; os conhecimentos didáticos; as teorias pedagógicas em articulação com as metodologias; tecnologias de informação e comunicação e suas linguagens específicas aplicadas ao ensino; o estudo dos processos de organização do trabalho pedagógico, gestão e coordenação educacional; o estudo das relações entre educação e trabalho, entre outras demandadas pela sociedade; 17 ao contexto doexercício profissional em âmbitos escolares e não escolares, articulando saber acadêmico, pesquisa e prática educativa. A outra parte diz respeito aos tópicos de estudo de aprofundamento e diversificação da formação. A Comissão de Especialistas entendeu ser necessária a diversificação na formação do pedagogo para atender às diferentes demandas sociais e para articular a formação aos aspectos inovadores que se apresentam no mundo contemporâneo. Tal diversificação pode ocorrer através do aprofundamento de conteúdos da formação básica e pelo oferecimento de conteúdos voltados às áreas de atuação profissional priorizadas pelo projeto pedagógico da IES. É importante também destacar que, respeitando-se o princípio de flexibilização curricular, as diferentes modalidades podem ser concomitantes, complexificando-se e verticalizando-se de acordo com o desenvolvimento do curso no campo da educação. A prática pedagógica, por sua vez, é configurada como um trabalho coletivo da instituição e do projeto pedagógico, o que implica que todos os professores responsáveis pela formação do pedagogo deverão participar, em diferentes níveis, da formação teórico-prática de seu aluno (TEDESCO, 2001). Nesse sentido, a relação teoria e prática será considerada como eixo articulador da produção do conhecimento na dinâmica do currículo. A prática pedagógica se expressa mediante três modalidades. A primeira modalidade, percebida como instrumento de integração do aluno com a realidade social, econômica e do trabalho de sua área/curso, possibilita a interlocução com os referenciais teóricos do currículo (LUCK, 2001). Pretende-se que seja iniciada nos primeiros anos do curso e acompanhada pela coordenação docente da instituição de ensino superior. Essa modalidade de estágio deve permitir a participação do aluno em projetos integrados, favorecendo a aproximação entre as ações propostas pelas disciplinas/áreas/atividades. O curso de Pedagogia, no percurso de sua existência, talvez pela própria amplitude da área que o denomina, foi se amoldando aos interesses hegemônicos dos projetos educativos vigentes. A opção histórica que faz sentido configurar neste momento é aquela que resulta de um trabalho de mediação que não apenas contemple uma discussão conceitual, mas também a complexidade histórica do curso, e o seu papel no encaminhamento das questões educacionais. É a mediação da discussão nacional, 18 daqueles que estão envolvidos com a prática, que pode dar a direção mais correta para o momento histórico (LUCK, 2001). A Orientação Escolar vem da ação exercida à ação repensada, pois de acordo com Medina (2004), a trajetória da Orientação Escolar passa por 5 momentos: 1. Ação voltada para o ensino primário – no primeiro momento de sua história, a Orientação Escolar ocupava-se unicamente do ensino primário. 2. Ação Supervisora – referências da primeira fase da Revolução Industrial, o segundo momento emerge com o crescimento da população, indicando a necessidade de mais professores. A escola passa a ser uma instituição complexa e hierarquizada, assemelhando-se pouco a pouco, às empresas. 3. Ação como forma de treinamento e orientação – neste momento, a Orientação é influenciada pelas teorias administrativas e organizacionais que assinalam uma etapa importante da sua história no Brasil. 4. Ação de questionamentos das últimas décadas – este momento coincide com o final da década de 70 e início da década de 80. A sociedade brasileira começa a ser questionada e, como consequência, a escola é influenciada pelos trabalhos de alguns autores nacionais e estrangeiros que assinalam um novo movimento a respeito da escola e seu papel na sociedade. Começam a surgir indagações muito profundas a respeito do papel da escola como um todo e da ação do especialista. 5. Ação repensada da escola – momento final da década de 80 e início dos anos 90. Autores enfatizam a escola como local de trabalho, onde o sucesso do aluno não depende exclusivamente do conhecimento de conteúdos, métodos e técnicas. A escola passa a ser o local onde todos aprendem e ensinam, cada um ocupando o seu lugar e onde o Orientador tem uma contribuição específica e importante a dar no processo de “Ensinar e Aprender”. Esse momento aponta para um orientador pesquisador dentro da escola e da comunidade, compreendendo o movimento que envolve as relações entre professor, aluno, de forma simultânea. Desse modo, o Orientador Educacional continuou em busca constante de uma nova formação, de uma nova consciência crítica reflexiva com o intuito de 19 direcionar a sua ação, às vezes recuando, às vezes avançando, de acordo com a realidade, com o momento e com a situação (LUCK, 2001). A necessidade da Orientação Escolar deve-se ao desenvolvimento e ao dinamismo do mundo moderno, de tal forma que este dinamismo e grandes avanços trouxeram a necessidade de uma urgente reformulação na Educação. Desse modo, fez surgir a necessidade de uma orientação mais adequada ao corpo docente, à escola e à comunidade. Surgiu, portanto, o Orientador Educacional, que se trata de um profissional especialista em educação, ente responsável por tornar a prática educativa flexiva, receptiva às inovações e às transformações no plano social, científico e tecnológico (MEDINA, 2004). Muitas são as tarefas do Orientador Escolar, como a de coordenação, acompanhamento e orientação da aprendizagem vivenciada, contribui para o bom nível de ensino. A participação da Orientação Educacional como especialista em educação pode ser encarada como uma conquista ao longo dos anos, como diálogo e como forma de trabalho dialeticamente do cotidiano, planejando, acompanhando, avaliando e aperfeiçoando as atividades educativas (LUCK, 2001). Constantemente, o trabalho do Orientador Educacional se apoia em fundamentos e teorias filosóficas e diretrizes educacionais, contribuindo com o valor científico e como agente integrado no relacionamento professor-aluno, na formação de valores éticos através de uma ação cooperativa para que a educação atinja seus objetivos, envolvendo a todos que participam do processo educacional. Considerando as disposições sobre a educação prevista na Constituição Federal, na Constituição Estadual e na Lei nº 9394/96 que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, dando condições de orientação e formação do Orientador Educacional, cabe a ele a responsabilidade de formar cidadãos críticos, por isso, este profissional deve ser incentivado, motivado e ser reconhecido (LUCK, 2001). 20 UNIDADE 3 – FUNDAMENTOS DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL Normalmente, a orientação educacional é feita em sala de aula. Há também o atendimento individualizado a alunos, pais e professores. Além disso, a equipe de orientação e especialista, de modo geral, coordena Conselhos de Classe e as reuniões de pais, de representantes de turmas entre outros. De acordo com os dados do Inep, tem-se: a Orientação deve ser sistematizada, e dirigida ao educando, visando a assistir ao aluno no seu desenvolvimento integral, no desenvolvimento de sua personalidade e em seu ajustamento pessoal e social (cf. PARECER de Newton Sucupira nº 632/69. In: Ministério da Educação - A orientação educacional no ensino de 1º grau. Brasília, jul. 1973). Ainda, pode-se dizer que A Orientação por especialistas dirigida aos educandos: crianças, jovens e adultos, individualmente ou em grupo, estão incumbidos de ajudá-los a escolher e cursar com proveito programas de ensino que melhor correspondam às suas aptidões e interesses, tendo em conta os resultados que obtiveram anteriormente e seus planos de emprego ou carreira futura. Habilitação do curso de Pedagogia (DUARTE, 1986. 175 p.). Segundo dados da UNESCO, a Orientação Educacional inclui conselhos dados pelos professores e pessoas especializadas, que tinham por finalidaderetificar o mau comportamento dos alunos. O Serviço de Orientação Educacional está organizado em uma equipe constituída por Orientadores(as) Educacionais e Auxiliares de Orientação Educacional. O cotidiano pedagógico do orientador é tecido por múltiplas relações que se constroem no espaço escolar e através do contato escola-mundo. Os movimentos que ocorrem na educação propõem desafios urgentes quanto à ressignificação de conceitos, valores, olhares e vivências, para permitir o diálogo com o outro, aluno, família. Diante dessa perspectiva, o orientador educacional deve e pode contribuir para formação de um cidadão capaz de refletir e se posicionar em relação aos temas de seu tempo. É o papel que o orientador profissional desempenhar nas escolas e não apenas mais trabalhar com alunos considerados os problemas da instituição. A orientação da escola é trabalhar com todos os alunos de tal forma que estes não sejam considerados alunos-problema. 21 O novo perfil da orientação é oferecer ao aluno uma formação integral, mais completa, mais digna, e mais cidadã para que ele se torne um cidadão crítico, reflexivo e consciente da sua vida, de seus atos e da sua realidade. A orientação hoje não se restringe na formação de pessoas que simplesmente seguem e imitam os outros, neste sentido, a orientação dos dias de hoje tem o foco na pessoa humana como ser único, criativo, com capacidades e limitações, com sonhos e frustrações, com domínio deste conhecimento do comportamento humano, o orientador é capaz de direcionar a sua atuação para caminhos mais seguros, firmes e felizes. A Orientação Educacional tem como intuito o desenvolvimento de um trabalho de acompanhamento e assessoria aos alunos, às famílias, aos professores, tendo como objetivo nesta práxis a reflexão, o diálogo, a troca de informações, a escuta e o cuidado, além de abordar os temas transversais. Como referencial no ato de acompanhamento aos alunos, a Orientação Educacional trabalha com a perspectiva do desafio e da possibilidade de olhar para a instituição escolar com esperança e entusiasmo, resgatando a essência do conceito “cuidado” que representa mais que um ato e sim uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização e de desenvolvimento afetivo com o outro. Mas para que esta atividade seja satisfatória, é necessário que o especialista tenha pleno conhecimento do projeto político da escola para poder, então, avaliar o desenvolvimento de todos os processos ocorridos neste cenário, só então o especialista tem condições de avaliar, diagnosticar e, sobretudo, atuar de forma dinâmica e crítica, para a CBO (2002), é fundamental que o especialista da educação conheça para avaliar. Para tanto, é necessário: AVALIAR O DESENVOLVIMENTO DO PROJETO PEDAGÓGICO 1 Construir sistema de avaliação. 2 Construir instrumentos de avaliação. 3 Valorizar experiências pedagógicas significativas. 4 Detectar eventuais problemas educacionais. 5 Propor soluções para problemas educacionais detectados. 6 Assegurar-se da consonância da concepção de avaliação com os princípios do projeto pedagógico. 7 Possibilitar a avaliação da escola pela comunidade. 8 Avaliar o desempenho das classes. 9 Avaliar o processo de ensino e de aprendizagem. 22 10 Verificar o cumprimento das metas. 11 Avaliar a instituição escolar. 12 Autoavaliar-se. 13 Avaliar o desempenho profissional dos educadores. 14 Avaliar a implementação de projetos educacionais. 15 Avaliar os planos diretores. 16 Participar das avaliações externas. 17 Avaliar os processos de maturação cognoscitiva, psicomotora, linguística e grafoperceptiva da criança. 18 Propor ações que favoreçam a maturação da criança. Quadro 1 – Avaliação e desenvolvimento do especialista. Fonte: CBO - Classificação Brasileira de Ocupações. Segundo a CBO (2002), faz parte do trabalho do especialista da educação participar da avaliação e desenvolvimento do projeto político-pedagógico, dos processos didáticos metodológicos, através dos quais poderá oferecer conhecimentos sobre métodos a ser aplicados para determinada classe ou para ajudar o professor na implantação de uma nova sistemática de ensino, oferecendo dessa forma um suporte instrumental aos professores que, consequentemente, poderá melhorar a sua prática docente. A orientação não está preocupada se o educando está ou não com distúrbio de aprendizagem, se está ou não com desvios de conduta, entre outros comportamentos atípicos, pois este não é o papel norteador da prática do orientador educacional. O papel deste especialista é o da conscientização, de clarificação, de fazer os alunos repensarem sobre as questões de seu cotidiano, fazer com que eles avaliem as suas próprias atitudes e condutas, pensarem sobre a produção do seu conhecimento e do reconhecimento da sua realidade a fim de mudá-la, recriá-la, modificá-la, enfim, a missão é instigar e motivar os alunos a irem em busca e lutar pela melhoria constante de suas próprias vidas e do contexto onde vivem. Além disso, o especialista pode promover: A FORMAÇÃO CONTÍNUA DOS EDUCADORES: PROFESSORES E FUNCIONÁRIOS 1 Formar-se continuamente. 2 Atualizar-se continuamente. 3 Estudar continuamente. 4 Pesquisar os avanços do conhecimento científico, artístico, filosófico e tecnológico. 23 5 Pesquisar práticas educativas. 6 Aprofundar a reflexão sobre as teorias da aprendizagem. 7 Aprofundar a reflexão sobre currículos e metodologias de ensino. 8 Aprofundar a reflexão sobre o desenvolvimento de crianças e jovens. 9 Selecionar referencial teórico. 10 Selecionar bibliografia. 11 Organizar grupos de estudos. 12 Promover trocas de experiências. 13 Orientar atividades interdisciplinares. 14 Realizar cursos, oficinas e orientação técnica na escola e interescolas. 15 Participar de cursos, seminários e congressos. 16 Participar de diferentes fóruns: acadêmicos, políticos e culturais. 17 Registrar a produção do conhecimento sobre a prática pedagógica. Quadro 2 – Responsabilidades sobre a formação continuada. Fonte: CBO - Classificação Brasileira de Ocupações. Quando o especialista se preocupa com a formação continuada, automaticamente ele está preocupado com a sua atuação. Dessa forma, ele terá mais condições de alcançar um trabalho com sucesso, pois terá mais possibilidades de conhecer vários aspectos que abrangem a relação da aprendizagem com os alunos e terá mais chances de provocar nos alunos a socialização e autoconfiança; uma orientação de estudos; a apropriação dos conteúdos escolares; o desenvolvimento do raciocínio; e, possibilitar o trabalho com alunos de diferentes níveis no desempenho acadêmico numa mesma classe (TEDESCO, 2001). Vale ressaltar que é importante contextualizar historicamente a escola, assim, o orientador deve estar preparado para ser um parceiro da instituição ao ajudar a pensar as questões sobre a formação do sujeito. O orientador deve, ainda, ser um parceiro do professor. Este trabalho deve ser desenvolvido como parte integrante do fazer da Orientação Educacional. O trabalho de assessoria é uma etapa de todo um processo que se deve fazer ao longo da vida escolar do aluno, desde quando entra na escola até a sua saída. Dessa forma, é possível que o orientador consiga realizar o seu trabalho com eficiência, caracterizando o perfil dos alunos, pois muitos são os questionamentos levantados por eles, trazendo à tona uma reflexão sobre como as crianças e os jovens se situam frente ao mundo e sua forma de se inserirem nele. A angústia, a dúvida, a certeza, a impaciência, o desejo de que a solução chegue como um passe de mágica são sentimentos expressos por palavras e atitudes desses alunos. 24 Em face desses aspectos levantados, o orientador educacional deve levantar necessidades educacionais e sociais para que o desenvolvimento da orientação dentro das instituiçõeseducacionais seja satisfatório, faz-se imprescindível e exige um planejamento e traçar objetivos educacionais, buscar uma atualização constante, um olhar mais aprofundado para as informações sobre o mundo e sobre as exigências atuais. Neste sentido, é importante que o orientador mantenha contato com as famílias, pois é fundamental que haja a participação delas através de debate, de promoção de palestras, de reflexão e de sensibilização para relacionar os aspectos com os sentimentos desses alunos que buscam uma orientação do especialista, que por sua vez deve articular uma ação conjunta da escola com as instituições de proteção à criança e ao adolescente em todos os sentidos. Deve-se também: COORDENAR A (RE) CONSTRUÇÃO DO PROJETO PEDAGÓGICO 1 Levantar necessidades educacionais e sociais. 2 Caracterizar o perfil dos alunos. 3 Fornecer subsídios para reflexão das mudanças sociais, políticas, tecnológicas e culturais. 4 Contextualizar historicamente a escola. 5 Levantar recursos materiais, humanos e financeiros. 6 Identificar os princípios norteadores da escola. 7 Explicitar os princípios norteadores do projeto pedagógico. 8 Estabelecer sintonia entre a política educacional do país e o projeto pedagógico da escola. 9 Fornecer subsídios teóricos. 10 Traçar objetivos educacionais. 11 Traçar metas educacionais. 12 Planejar ações de operacionalização. 13 Articular a ação da escola com outras instituições. 14 Articular a ação conjunta da escola com as instituições de proteção à criança e ao adolescente. 15 Assessorar as escolas no planejamento e no atendimento à demanda por vagas. 16 Administrar a demanda por vagas. 17 Participar da elaboração e reelaboração de regimentos escolares. 18 Buscar assessoria para viabilizar o projeto pedagógico. 25 19 Assessorar as escolas. 20 Estabelecer sintonia entre a modalidade de aprendizagem e a modalidade de ensino. 21 Promover o estabelecimento de relações que favoreçam a significação do docente, do discente, da instituição escolar e da família. Quadro 3 – Tarefas de coordenação e orientação. Fonte: CBO - Classificação Brasileira de Ocupações. Dentro da perspectiva do planejamento da Orientação Educacional, deve-se desenvolver um trabalho para promover o estabelecimento de relações que favoreçam a significação do docente, do discente, da instituição escolar e da família e que não se restringe unicamente ao da Orientação, mas que também estabeleça uma sintonia entre a modalidade de aprendizagem e a modalidade de ensino num processo de interação e de democracia. 26 UNIDADE 4 – AS CARACTERÍSTICAS DO ORIENTADOR EDUCACIONAL Muitas são as características que devem ter o orientador no momento atual da educação. Espera-se que este profissional coloque-se à frente da realidade vigente nas escolas, bem como suas mudanças, conflitos, novos conceitos, concepções e, acima de tudo, a questão dos desafios e dos projetos (MEDINA, 2004). Neste sentido, é possível prever que em muitos casos, o profissional de orientação fique confuso e não compreende se o seu fazer pedagógico ainda está nos moldes de uma educação que é tradicional, se é possível manter ou mudar, inovar, mudar de paradigmas, entre outros. O orientador educacional tem que observar as escolas considerando suas dificuldades, buscando uma integração das atividades dos demais setores da escola, pois isso trata-se de uma de suas atuações. O orientador deve desempenhar um trabalho democraticamente, demonstrar autoridade sem autoritarismo, deve fazer o seu trabalho a partir da observação constante, prestar atenção no que ouve e no que pensa a respeito da sua ação na escola e como isso repercute na comunidade escolar. Dessa maneira, na ação orientadora, o orientador não é mais aquele sujeito que possui um superpoder de assessorar, acompanhar, controlar e avaliar todo o trabalho que os professores realizam nas escolas, mas é aquele que constrói com os professores o seu trabalho diário (MEDINA, 2004). Essa construção se faz a partir do trabalho coletivo, do planejamento em equipe e a partir das realidades existentes nas escolas. A problemática educacional vivida por todos no atual momento, assume uma importância fundamental, constituindo não apenas o ponto de partida, mas o constante referencial para a reflexão e a ação deste profissional. Neste sentido, essa realidade vem lançando enormes desafios ao orientador escolar, aos quais ele deve estar capacitado a responder se pretende que seu trabalho seja socialmente útil e não reprodutivista, significativo e não destituído de sentido para o momento histórico presente (MEDINA, 2004). Para acontecer essa qualidade de trabalho, há necessidade de os orientadores adquirirem constantemente saberes e conhecimentos concernentes às 27 várias formas de construir metodologias que facilitem o ato de ensinar e de aprender, ou melhor, ele deve estar em constante formação. Assim, as práticas pedagógicas do ensino e da aprendizagem são construídas a partir do confronto das forças que interagem na escola e não construídas a priori. O confronto dessas forças expressa realidades diversas, muitas vezes contrárias, como sendo o “ponto desencadeador” do processo de ensinar e aprender, pois a partir desse ponto desencadeador a socialização entre o ensinar e o aprender. A qualidade dessa socialização deve ser acompanhada, refletida e estudada pelo orientador e discutida com o professor, pois ele assume uma importância fundamental, neste contexto, a figura deste profissional, do qual se espera o desempenho de um papel significativo em termos de agente de mudanças planejadas (GATTI, 1974). Neste contexto, evidenciam-se a necessidade de um profissional bastante maduro – não em termos de idade cronológica, é claro, mas sim em termos de uma visão mais ampliada e profunda sobre os problemas educacionais, que implica, obrigatoriamente, vivência, tanto a nível de docência como a nível de pesquisa, coordenação e administração. São necessários profissionais altamente comprometidos com a causa educacional, que além de conhecimentos sobre orientação, estejam abertos para as mudanças, a descoberta. Os orientadores educacionais são indivíduos, longe de se apresentarem prontos e acabados, mas devem ter uma atitude de busca permanente com o intuito de estar sempre em busca do melhor para si e para a comunidade escolar onde atua (MEDINA, 2004). Ele faz parte da organização, qualquer que seja a posição ou o papel que nela tenha a desempenhar. Quer como assessor, integrando o estado-maior da organização, ou como um elemento de linha, responsável por um departamento ou setor da entidade, ele integra o corpo diretivo ou administrativo do sistema ou unidade escolar. Suas atribuições, responsabilidades e autoridades podem variar de intensidade, porém, são constantes em qualquer estrutura organizacional. Daí a necessidade de um assessoramento ao professor e uma orientação de seu trabalho (MEDINA, 2004). 28 Tanto as escolas como os sistemas escolares passaram a contar com esse novo especialista – o orientador educacional –, o qual, através de um trabalho em equipe, procura harmonizar a atividade docente e discente, integrando-a num todo harmônico e conduzindo-a com vistas a alcançar as metas estabelecidas pelos governantes para o sistema, e, pelas direções, em cada estabelecimento escolar. O crescimento do número de pessoas envolvidas e a penetração consequente da orientação no processo educacional e na estrutura das organizações de ensino trouxeram alguns problemas quanto à posição e o papel que deve caber aos orientadores nas estruturas organizacionais, pois esta figura era inexpressiva em nosso sistema educacional até então. Ao analisar o papel do orientador e suas características, é natural que se parte da premissa que uma pessoa chega a algum resultado,ou consegue algo, através de seu esforço pessoal, porém, quando um professor é escolhido ou indicado para assumir a função de orientador num sistema ou numa escola, embora ele continue a trabalhar no mesmo sistema ou na mesma escola, ele passará a viver num outro mundo, numa nova situação, passará a ver a organização por outro ângulo, com novas responsabilidades, novos problemas e, em muitos aspectos, com menos liberdade e tempo. Ele passa a ser responsável não só por seu trabalho, mas também pelos trabalhos dos outros (MEDINA, 2004). Por certo, ele terá que examinar suas atitudes fundamentais em relação ao trabalho e às pessoas, assim como ao ambiente no qual irá desempenhar suas funções. Deverá deixar de pensar em termos de “vou fazer este trabalho com minha própria habilidade e energia”, para chegar à conclusão de que “só conseguirei fazer este serviço de maneira correta, organizando o trabalho de meus orientandos”. A responsabilidade do orientador consiste em: tornar claro a todos os propósitos da tarefa a desempenhar; providenciar os recursos materiais necessários; estimular os esforços de todos; controlar e orientar atividades; tornar o serviço o mais eficiente possível. 29 O Orientador tem que estudar suas próprias maneiras de organizar suas ações e lidar com os conflitos da escola. Para isso, certamente, ele deverá conhecer a si próprio e à organização na qual exerce as suas funções. Ele terá responsabilidades com superiores e orientandos; construirá equipes e fará parte de equipes; não poderá agir como indivíduo, mas como parte, como membro de uma organização. Por sua posição-chave na organização, o orientador terá de assumir uma posição de liderança em relação a seus orientandos, fator básico para o estabelecimento de relações humanas positivas. No seu trabalho, ele deve ser um intérprete da política administrativa do sistema ou da escola, pois via de regra, é através dele que os diretores e/ou professores tomam conhecimentos gerais da política de trabalho a ser seguida. As tarefas educacionais, face ao dinamismo do mundo de hoje, fazem com que, cada vez mais, seja maior a necessidade do orientador. Em razão do trabalho a realizar e da responsabilidade inerente à função, é indispensável uma formação adequada ao exercício da função orientadora. A preparação em cursos especiais de formação ou habilitação e uma sólida experiência em docência são requisitos importantíssimos para o bom desempenho da ação do orientador, pois qualquer que seja o papel que desempenha no sistema ou na escola, deve conhecer suas atribuições, que é outro fator importantíssimo no desempenho das ações deste especialista da área educacional. Fazem parte integrante do papel do orientador educacional: enfatizar na ação orientadora a compreensão da educação e da escola no processo da reconstrução democrática da sociedade brasileira; coordenar o processo curricular e a permanente reconstrução do currículo numa dimensão interdisciplinar, priorizando a relação de transmissão e a de produção de conhecimentos; contribuir para a orientação das melhores escolhas, a nível escolar, quanto a procedimentos a serem adotados em relação aos fenômenos pedagógicos: aprovação, reprovação, evasão escolar, materiais didáticos, horário escolar entre outros; coordenar estudos, propondo discussão e atualização; 30 participar de decisões e ações político-pedagógicas a nível da escola e do sistema de ensino; participar do processo político-pedagógico da comunidade escolar, avaliando- o e buscando alternativas de ação; dinamizar o currículo da escola num processo interdisciplinar de ajustamento do trabalho escolar às exigências do mundo atual; propor de forma sistemática o fazer pedagógico de acordo com as características e necessidade da comunidade escolar; criar espaços de reflexão / discussão e atualização sobre: objetivos da educação, fundamentação teórica, tendências pedagógicas e legislação vigente, bem como sua aplicabilidade; promover ações que objetivem a articulação dos educadores com as famílias e a comunidade, criando processos de integração com as escolas. 4.1 As práticas do orientador educacional A orientação educacional pode ser considerada uma atividade imprescindível na instituição, sendo reconhecida como um dos meios de intervenção pedagógica eficaz e que pode facilitar muito a prática docente e colaborar com o ensino e aprendizagem dos alunos. Uma educação de qualidade nas escolas pode se tornar possível à medida que, direção, orientador, professores, alunos, funcionários, pais de alunos, ou seja, toda a comunidade escolar, reconheça o verdadeiro sentido e valor do conhecimento e do saber para a vida do cidadão como um todo. O orientador é um dos colaboradores que influencia nas questões pedagógicas, interfere nas questões relativas às diferenças socioeconômicas, culturais, afetivas, cognitivas entre todos os atores envolvidos no cenário educacional. Além disso tudo, o orientador tem muitas funções dentro de seu espaço como o planejamento, a organização e controle do ensino em escolas de ensino fundamental e ensino médio. Atua no gerenciamento das instalações e dos recursos humanos, materiais e financeiros, na orientação de professores, aperfeiçoamento do ensino e elaboração do currículo e do calendário escolar. 31 A orientação tem um importante papel nas esferas da política, pedagógica e de liderança na instituição escolar. Sendo assim, é necessário ressaltar a sua importância sem desconsiderar toda a equipe da escola. O orientador escolar deve ser um profissional reflexivo, inovador, ousado, criativo e, sobretudo, um profissional de educação comprometido com o seu grupo de trabalho. Faz-se necessário enfatizar que o orientador é aquele que ouve quando o grupo fala, usa argumentos teóricos para garantir a continuidade da proposta e a sabedoria de entender, ouvir opiniões e trabalhar em equipe. Se cada orientador conseguisse desenvolver e entender como a sua atuação pode melhorar a vida de todos dentro da instituição, de forma direta e indireta, talvez muitos dos problemas que a escola enfrenta não estariam tão exacerbados. Para exemplificar, pode-se citar quais são alguns dos elementos que dificultam uma educação de qualidade: o fracasso escolar, a evasão de alunos, a falta de diálogos entre os profissionais, entre outros tantos desafios. Diante disso, o desafio da organização da escola que é colocado pela LDB, torna-se necessário um novo papel para o orientador educacional, no qual se priorize a tarefa pedagógica sobre a burocrática, o espírito criativo sobre o legalista e a prática democrática sobre a autoritária. É preciso discutir os aspectos complementares como a explicitação de aspectos da nova LDB relacionados ao papel, estrutura, organização curricular e funcionamento da escola, para apontar as aberturas e implicações para o novo papel da orientação educacional da nova escola pública e particular. Um outro elemento é a falta de adequação de certos papéis históricos da orientação educacional para tornar realidade as novas possibilidades pedagógicas e curriculares viabilizadas pelo atual arcabouço legal da educação brasileira; e terceiro, o novo papel da orientação educacional na tarefa de exploração do pleno potencial de criatividade e de aprimoramento da educação nacional. E no que se diz respeito à orientação, pode-se dizer que muitos destes profissionais não estão atuando em sua verdadeira função de orientador pedagógico, pois muitos deles não têm tempo para exercer aquilo que aprenderam e vivenciara em sua formação profissional. Faz-se necessário que a sociedade educacional entenda e perceba a importância da atuação do orientador pedagógico dentro da instituição, como um 32 dos colaboradores que podem fazer muita diferençana qualidade do ensino, no suporte ao professor e principalmente no ensino e aprendizagem dos alunos. Uma orientação escolar reflexiva assume uma responsabilidade na coordenação de todos os processos na escola, na sala dos professores, nas discussões do dia-a-dia e percepção da prática com maturidade, sensibilidade e muita firmeza para saber aonde se quer chegar. É preciso pensar e agir, ter momentos de estudo, pois a orientação também é um fator importante, e deve estar aberto aos livros, refletir sempre sobre suas ações, rever seus referenciais e avançar em seu trabalho individual para a construção coletiva, do burocrático para o participativo e do julgamento para a valorização. De acordo com Luck (2001), a orientação escolar precisa ser entendida como um processo de orientação profissional, sobretudo de assistência às pessoas inseridas no contexto escolar, como professores, alunos e outros funcionários competentes em educação. Segundo Luck (2001), a intervenção do orientador pode acontecer quando for necessária, e onde for necessária, pois esta tem como intuito buscar o aperfeiçoamento da situação total ensino e da aprendizagem. Diante dessas dificuldades e de outras que possam surgir dentro do espaço escolar, a solução ou o auxílio devem vir do orientador escolar. A busca de novas técnicas ou métodos que auxiliem a aprendizagem do aluno é algo constante na ação do orientador, dessa forma, o uso da sua criatividade é algo que vem auxiliar essa ação. Portanto, professor e orientador devem caminhar juntos com o intuito de conhecer todas as possibilidades oferecidas pela tecnologia que os auxiliem a desenvolver um ensino e uma aprendizagem em que a criatividade e a interação sejam as principais características. A falta de entendimento por parte de muitos profissionais da educação compromete uma adequada atuação deste profissional frente ao mundo numa nova ordem mundial, uma vez que se vive cada vez mais cercados por recursos tecnológicos, avanços na matriz educativa e tantas outras vantagens que a escola tem que olhar e dar ênfase. Não se pode deixar de falar da questão do desvio da função do profissional em orientação que tem despertado muita preocupação em todo contexto como na política pública educacional, na sociedade, nos professores e especialmente nas 33 instituições escolares nas quais há muitos problemas por falta de orientadores formados. É fundamental que o orientador atue dentro da sua área, olhando as crianças e os adolescentes, para que estes tenham uma formação voltada para a cidadania e com a consciência do seu papel na sociedade. Assim, é preciso compreender a dimensão da orientação numa gestão emancipadora; analisar quais os fatores que o orientador pode contribuir com a aprendizagem dos alunos; conhecer as necessidades educativas e alternativas pedagógicas e refletir sobre a prática docente diante a intervenção do orientador. Para o educador, a escolha da concepção sustentadora e dos instrumentos de seu trabalho não é uma escolha neutra. É uma escolha de si mesmo, enquanto educador, enquanto cidadão, enquanto homem. De fato, optar por uma das diversas correntes e tendências em que se divide o pensamento pedagógico é escolher uma concepção de homem, uma concepção de mundo e uma concepção do conhecimento e, por meio dessas escolhas, compreender a opção por uma teoria do processo ensino-aprendizagem e do processo educativo em sua amplitude. Isso implica, no quadro da conflitividade natural da vida democrática ou da luta pela democracia, que o educador não poderá jamais alimentar a pretensão de pairar acima dos embates sociais e da luta política, no sentido mais amplo e elevado do termo. Ao trabalhar com crianças e jovens em situação de dificuldade pessoal e social, cumpre a quem educa fazê-lo numa perspectiva solidária – não apenas pessoal, mas também e fundamentalmente social – com o educando. Essa solidariedade social é simplesmente impensável separada do seu desdobramento político e, por conseguinte, da sua dimensão histórica. De fato, como é possível verificar em contextos os mais diversos, no Terceiro Mundo, a dívida social das elites dominantes para com as camadas mais oprimidas do povo é, acima de tudo, uma dívida histórica. A fome e o analfabetismo, entre todos, se mesclam num “bicho de quatrocentos anos” que, cevado pelas elites, vem pelos séculos afora devorando as entranhas e minando a dignidade do povo. Essa solidariedade se concretiza e se expressa no momento em que o educador aceita não apenas o indivíduo, a pessoa que tem diante de si, mas também a sua circunstância. 34 É por isso que trabalho de Orientação Educacional consiste fundamentalmente, portanto, em orientar e acompanhar o aluno em seu processo de desenvolvimento frente às grandes mudanças ainda encontradas nessa faixa etária, em questões biológicas, psíquicas e sociais, com a finalidade de levá-lo a um maior conhecimento de si próprio para que possa ajustar-se harmoniosamente ao seu meio social, familiar, escolar e assim preparar-se para o exercício consciente de sua cidadania. A orientação deve estar atenta ao desenvolvimento do aluno, visando o fortalecimento da sua autoestima e da sua autonomia tanto da criança quanto do pré-adolescente e do adolescente. Deve atuar como elo entre o aluno, a família e a Escola. Acredita-se que acolher o aluno, pai ou professor em suas necessidades ou dificuldades num clima de respeito e privacidade é essencial para uma eficaz intervenção educativa do orientador. O atendimento deve efetivar-se através de ações preventivas, no pronto atendimento, e em acompanhamentos sistematizados do aluno. Os atendimentos podem ser de ordem pessoal, acadêmica ou disciplinar, realizados individualmente ou em grupo, quando isso se fizer necessário. A Orientação Educacional é entendida como um processo dinâmico, contínuo e sistemático, estando integrada em todo o currículo escolar sempre encarando o aluno como um ser global que deve desenvolver-se harmoniosa e equilibradamente em todos os aspectos: intelectual, físico, social, moral, estético, político, educacional e vocacional. Integrada com a Orientação Pedagógica e Docentes, a Orientação Educacional deverá ser um processo cooperativo devendo: mobilizar a escola, a família e a criança para a investigação coletiva da realidade na qual todos estão inseridos; cooperar com o professor, estando sempre em contato com ele, auxiliando-o na tarefa de compreender o comportamento das classes e dos alunos em particular; manter os professores informados quanto às atitudes dos alunos, principalmente quando esta atitude tiver sido solicitada pelo professor; esclarecer a família quanto às finalidades e funcionamento da Orientação Educacional; 35 atrair os pais para a escola a fim de que nela participem como força viva e ativa; desenvolver trabalhos de integração – pais, escola, professores e filhos; pressupor que a educação não é maturação espontânea, mas intervenção direta ou indireta que possibilita a conquista da disciplina intelectual e moral; trabalhar preventivamente em relação a situações e dificuldades, promovendo condições que favoreçam o desenvolvimento do educando; organizar dados referentes aos alunos – procurar captar a confiança e cooperação dos educandos, ouvindo-os com paciência e atenção; ser firme quando necessário, sem intimidação, criando um clima de cooperação na escola; desenvolver atividades de hábitos de estudo e organização; tratar de assuntos atuais e de interesse dos alunos fazendo integração junto às diversas disciplinas. É preciso também que o orientador realize: treinamento de professores em observação e registro do comportamento do aluno; orientação e pesquisa sobre as causas do desajustamento e aproveitamento deficiente do aluno; assessorar os professores no planejamento de experiências diversificadas que permitam ao aluno descobrir através da autoavaliação e da execução de atividades, suas dificuldades e facilidades; descobrir o seu modo e ritmo de trabalho; descobrir sua forma de relacionar-se com os colegas e profissionais da escola; fazer escolhas; treinar a autoavaliação; recursos teóricos para interpretar os dados obtidos nas observações; desenvolvimento de acordo com a faixa etária; pesquisa sobre as causas de desajustamento e aproveitamento deficiente do aluno. Deve-se também oferecer subsídios aos professores quanto: 36 à coleta e registro de dados de alunos através de observações, questionários, entrevistas, reuniões de alunos, reuniões com pais; a desenvolver um trabalho de prevenção; ao estudo sobre o rendimento dos alunos e tarefas educativas conjuntas que levem ao alcance dos objetivos comuns; a sugerir a direção da realização de estudos por profissionais especializados a pais, alunos e professores; à avaliação dos resultados do processo ensino-aprendizagem, adequando-os aos objetivos educacionais, assessorando e decidindo junto com o professor e Conselho de Classe os casos de aprovação e reprovação do aluno; a assessorar o professor no acompanhamento e compreensão de sua turma; a integrar-se às diversas disciplinas visando o desenvolvimento de um trabalho comum e a formulação das habilidades didático-pedagógicas a serem desenvolvidas com os alunos; a garantir a continuidade do trabalho; a avaliar e encaminhar as relações entre os alunos e a escola; a assessorar o professor na classificação de problemas relacionados com os alunos, colegas, entre outros; a desenvolver uma ação integrada com a coordenação pedagógica e os professores visando a melhoria do rendimento escolar, por meio da aquisição de bons hábitos de estudo e divulgação do perfil das classes; à organização de arquivos e fichas cumulativas; a planejar estratégias comuns entre os professores, coordenação e orientação; à análise junto a coordenação dos planejamentos das diversas disciplinas; à realização de atendimentos individuais e/ou grupo nas reuniões de curso para receber ou fornecer informações necessárias dos alunos; à realização de atendimentos individuais na orientação educacional para fornecer ou receber informações necessárias dos alunos; à análise e avaliação dos resultados quantitativos e qualitativos dos alunos, das classes junto à coordenação para posterior encaminhamentos; à participação nas reuniões de curso; à participação nas reuniões; 37 à participação na preparação e realização dos Conselhos de classe; à participação nos eventos da escola; à organização e participação junto à coordenação das atividades extracurriculares. Junto às famílias dos alunos, o trabalho de orientação deve: oferecer entrevista com os pais para troca de dados e informações acerca do aluno; propiciar aos pais o conhecimento de características do processo de desenvolvimento psicológico da criança, bem como de suas necessidades e condicionamentos sociais; refletir com os pais o desempenho dos seus filhos na escola e fornecer as observações sobre a integração social do aluno na escola, verificando variáveis externas que estejam interferindo no comportamento do aluno, para estudar diretrizes comuns a serem adotadas; a orientação familiar se fará através de reuniões individuais com os pais, em pequenos grupos e nas reuniões bimestrais programadas constantes do Calendário Escolar; oferecer às famílias subsídios que as orientem e as façam compreender os princípios subjacentes à tarefa de educar os filhos, para maior autorrealização dos mesmos; garantir o nível de informações a respeito da vida escolar dos alunos; interpretar e encaminhar dúvidas, questionamentos; entrevistas solicitadas pelas famílias; entrevistas solicitadas pela escola; palestras; reuniões. A orientação educacional junto aos alunos deve: viabilizar atendimentos individuais, sempre que for necessário para análise e reflexão dos problemas encontrados em situações de classe, recreios, desempenho escolar, pontualidade, cuidado com material de uso comum, relacionamento com os colegas de classes e outros alunos da escola, respeito aos professores e funcionários; 38 promover atendimentos grupais sempre que for necessário para reflexão de problemas ocorridos em situações de grupo; sempre esclarecer quanto a regras no que diz respeito ao cumprimento das normas da escola; deve instrumentalizar o aluno para a organização eficiente do trabalho escolar, tornando a aprendizagem mais eficaz; tentar identificar e assistir alunos que apresentam dificuldades de ajustamento à escola, problemas de rendimento escolar e/ou outras dificuldades escolares; acompanhar a vida escolar do aluno; assistir o aluno na análise de seu desempenho escolar e no desenvolvimento de atitudes responsáveis em relação ao estudo; promover diversas atividades que levem o aluno a analisar, discutir, vivenciar e desenvolver atitudes fundamentados na filosofia cristã de valores; desenvolver atividades que levem o aluno a desenvolver a compreensão dos direitos e deveres da pessoa humana, do cidadão, do Estado, da família e dos demais grupos que compõem a comunidade e a cultura em que vive o aluno; procurar despertar no aluno o respeito pelas diferenças individuais, o sentimento de responsabilidade e confiança nos meios pacíficos para o encaminhamento e solução dos problemas humanos; promover diversificadas atividades que levem o aluno a desenvolver a compreensão dos valores, das implicações e das responsabilidades em relação à dimensão afetiva e sexual do indivíduo de acordo com a filosofia da escola e os valores da família; identificar na escola, eventos esportivos, culturais e de lazer que possam ser utilizados pelos alunos; desenvolver atitudes de valorização do trabalho como meio de realização pessoal e fator de desenvolvimento social; levar o aluno a identificar suas potencialidades, características básicas de personalidade e limitações preparando-o para futuras escolhas; preparar o aluno para a escolha de representantes de classe e/ou comissões; 39 preparar e acompanhar os representantes de classe para o exercício de suas funções; promover atividades que desenvolvam aspectos relativos a dificuldades e /ou necessidades inerentes à faixa etária; desenvolver o relacionamento interpessoal e hábitos de trabalho em grupo; realização de sessões de orientação com cada série, previamente agendadas em calendário, que vão ao encontro dos objetivos propostos e às necessidades e interesses da faixa etária a ser trabalhada; realização de reuniões com representantes de classe e/ou comissões; participação dos eventos da escola como atividades extraclasse, jogos, festa junina, encontros, viagens entre outros; realização de atendimentos individuais e/ou pequenos grupos. 4.2 O orientador e o planejamento Faz-se necessário que o orientador escolar entenda e consiga planejar, pois, entende-se que o planejamento não diz respeito a decisões futuras, mas às implicações futuras de decisões presentes. Qualquer atividade humana realizada sem qualquer tipo de preparo é uma atividade aleatória que conduz, em geral, o indivíduo e as organizações a destinos não esperados, altamente emocionantes e, via de regra, a situações piores que aquelas anteriormente existentes. A qualidade é fruto de um esforço direcionado de um indivíduo ou grupo para fazer algo acontecer conforme o que foi anteriormente desejado e estabelecido, portanto, a qualidade somente poderá ser alcançada através de um trabalho planejado. Portanto,
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