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ESTUDO DE CONSUMO SOBRE A BEATLEMANIA

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CENTRO UNIVERSITÁRIO INTERNACIONAL UNINTER
Curso de Comunicação Social – Publicidade, Propaganda e Marketing
ANA PAULA PEREIRA DA SILVA
ESTUDO DE CONSUMO SOBRE A BEATLEMANIA
CURITIBA
2012
ANA PAULA PEREIRA DA SILVA
ESTUDO DE CONSUMO SOBRE A BEATLEMANIA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado 
como requisito parcial para obtenção do grau de 
bacharel em Comunicação Social com Habilitação 
em Publicidade, Propaganda e Marketing ao 
Centro Universitário Internacional UNINTER.
Orientadora: Profª MSc. Máira de Souza Nunes
CURITIBA
2012
AGRADECIMENTOS
 Gostaria de agradecer a todos pelo carinho, paciência e apoio neste ano tão 
difícil, mas que graças aos desafios consegui crescer e encarar a vida. Agradeço à 
minha mãe, que pela ansiedade maior do que a minha para a finalização deste 
projeto, fez com que eu tivesse forças para seguir minha caminhada. Aos meus 
irmãos pelo incentivo, mesmo que muitas vezes tímido, e ao meu pai por sempre me 
lembrar que eu ainda tenho muito para conquistar. Obrigada às minhas irmãs de 
coração Talita, Adriane, Ana Lídia, Tiffany e Deisy por todas as vezes que eu precisei 
estarem comigo de alguma forma. Obrigado ao irmão agregado Juan Diego, e muito 
obrigada mesmo ao meu namorado pela paciência, apoio e carinho nestes últimos 
meses.
 E obrigada aos meus amigos cibernéticos, por não deixarem de me 
acompanhar mesmo quando eu só compartilhava materiais relacionados à minha 
pesquisa nas redes sociais, mesmo aos que preferem Molejo a Beatles. Agradeço 
ao Rodrigo e ao Pablito pelas madrugadas no chat, Carolina Gianello por ouvir meus 
surtos, Raphael Prugner, Fernando, Jeck, Liliana, Amanda Bozza e todos que 
torcem por mim, na timeline ou na mesa de bar. Obrigada ao EdCarlos, da Beatles 
College, por todas as vezes que pedi ajuda ter me socorrido, e aos entrevistados 
Lizzie Bravo, Lucinha Zanetti, Marc Jean Venturini, BeatleLado, Kliff McBurtney e ao 
webmaster do grupo Beatallica Michael Tierney (Thanks a lot, guys!). 
 Agradeço aos meus colegas de turma Lena, Fernando, Flávia, Fernanda, 
Maria, Patrícia, Liliane, Taís, Diego, Matias, Thuany, Tati, Vivian e tantos outros que 
durante os quatro anos que passamos aprendendo, sofrendo, rindo e chorando 
juntos fizeram valer a pena a experiência universitária, pois só agregaram 
positividades à minha vida. Obrigada ao Thiago Bodruk pela oportunidade de 
crescimento e aprendizado conquistada na MarketBox. Agradeço aos mestres que 
me acompanharam durante esta jornada, e pelas oportunidades e aprendizado que 
tive com vocês Gustavo Lopes, Paulo Negri, Jack Holmer, Marcelo Oliveira, Patrick 
Diener, Evary Leal, Jheison Holthausen, Eugênio Vince, Tatá Vaz. Mais do que 
qualquer pessoa a professora que conquistou meu respeito, admiração e carinho, 
muito obrigada pela orientação de vida Máira Nunes.
 
“Living is easy with eyes closed,
Misunderstanding all you see.
It's getting hard to be someone,
But it all works out;
It doesn't matter much to me.”
 Strawberry Fields Forever 
Lennon/McCartney
RESUMO
Este trabalho de conclusão de curso tem como objetivo compreender os efeitos da 
indústria cultural e da cultura de massa aplicados à relevância dos Beatles na 
sociedade dos anos 60, analisando suas relações com os meios de comunicação e 
as tecnologias. Também é feito um estudo sobre as tecnologias atuais e sua 
importância para o contato dos fãs, principalmente para a troca de informações e 
experiências. A beatlemania surgiu a partir do sucesso da banda e tornou-se um 
negócio lucrativo. Mesmo após o fim do grupo em 1970, o fanatismo manteve o 
consumo de produtos relacionados aos Beatles e seus ex-integrantes. Atualmente, 
com as mídias digitais orientando os hábitos de consumo da sociedade, a já 
consolidada marca Beatles adaptou-se às tecnologias para manter o legado da 
banda contemporâneo, e seus fãs aproveitam as possibilidades que a internet trouxe 
para reunir informações, materiais e memórias sobre o grupo que inspirou gerações. 
Palavras-chave: indústria cultural, cultura de massa, beatlemania, comunicação, 
tecnologia.
ABSTRACT
This paper aims to understand the effects of the cultural industry and mass culture 
applied to the Beatles’ relevance in the 60‘s society, examining their relationships 
with the media and technology. The author also made a study of current technologies 
and their importance to the contact of the fans, especially for the exchange of 
information and experiences. The Beatlemania came from the band's success and 
became a profitable business. Even after the group break up in 1970, fanaticism kept 
the consumption of products related to the Beatles and their former members. 
Nowadays, with digital media consumption habits guiding society, the already 
consolidated Beatles brand has adapted to technology to keep the band’s legacy 
contemporary, and their fans enjoy the possibilities that the internet brought to gather 
information, materials and memories about the group that inspired generations.
Keywords: cultural industry, mass culture, beatlemania, communication, technology.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1: INFOGRÁFICO DE VENDAS DOS DISCOS (ARTE: MATIAS 
..............................................................................................................PERUYERA) 15
FIGURA 2: ..................................................MERCHANDISING DA BEATLEMANIA 22
FIGURA 3: ............................................................... GRÁFICO DA CAUDA LONGA 28
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 10
2 OS BEATLES ......................................................................................................... 14
...................................................................................2.1 A FORMAÇÃO DA BANDA 16
3 BEATLEMANIA ...................................................................................................... 21
.....................................................................................3.1 FEBRE DE JUVENTUDE 21
..........................................3.2 O FIM DE UM SONHO E O DESPERTAR DA MÍDIA 24
3.3 O PAPEL DA MÍDIA NA CONSTRUÇÃO DO ÍDOLO BEATLES E CULTURA 
BEATLEMANIA........................................................................................................... 29
4 OS BEATLES NA ERA DIGITAL............................................................................ 35
................................................................................................4.1 A CAUDA LONGA 35
................................4.2 BEATLEMANIA 2.0: QUEM CONSOME BEATLES HOJE? 38
5 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 45
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 47
1 INTRODUÇÃO
 A partir da década de 1950 o consumo de produtos voltados para jovens entre 
13 e 19 anos fez surgir, através da demanda, um termo que passou a ser utilizado 
como conceito para indústria de massa da época: teenager (adolescente). Uma 
década depois, o mercado voltado para os jovens consumidores recebeu um 
incentivo maior quando um quarteto que vivia na cidade de Liverpool começou a 
fazer sucesso. Os Beatles, então, logo se tornaram instrumento da cultura de massa 
a ponto de serem considerados uma das primeiras lovemarks da história, tornando-
os protagonistas de diversos acontecimentos de alta significância para a história da 
comunicação, como a primeira transmissão ao vivo de televisão via satélite e a 
produção de vídeos de divulgação, como precursores do videoclipe. Mesmo após 
mais de 40 anos de anunciado o fim da banda, seu legado foi passado para as 
novas gerações e até hoje possui comunidades engajadas em consumir a história, a 
música e os conceitos apresentados pelo grupo nos anos 1960. As redes sociaiscontribuem para a manutenção do mito, facilitando o encontro de informações entre 
fãs que viveram a beatlemania em seu auge e os jovens que descobrem a cada dia 
novas histórias sobre o grupo e utilizam as ferramentas sociais para disseminar suas 
opiniões e homenagear a banda criando imagens, vídeos e músicas sobre a obra 
dos fabfour.
 Este trabalho pretendeu desenvolver uma análise sobre os efeitos do uso das 
estratégias comunicacionais e das tecnologias aplicadas nos hábitos de consumo 
dos adeptos à Beatlemania, termo usado como referência à tamanha reação do 
público dos Beatles e ao seu sucesso. O problema de pesquisa questionou como foi 
criada e mantida a relação de consumo e tecnologia na Beatlemania, visando 
entender como ocorreu e como se mantém os laços entre a banda, o consumidor e 
as tecnologias. Para a busca de uma solução, as hipóteses apresentadas foram:
- A Beatlemania foi um produto criado pela indústria cultural. 
- O uso das mídias disponíveis na época como cinema, tv, rádio e impressos criou o 
culto dos fãs, e como consequência a Beatlemania.
- O acesso a internet e redes sociais mantém o culto à Beatlemania ativo como 
cultura de nicho.
10
 O principal objetivo desta pesquisa foi estudar a evolução da cultura de 
consumo através da Beatlemania. Especificamente buscou-se pesquisar hábitos de 
consumo e comunicação massivos nos anos 60, investigar a influência dos Beatles 
nos comportamentos da juventude, e analisar o papel da banda como ícones de 
consumo na contracultura e na cibercultura.
 A relevância da pesquisa consiste no estudo sobre a transformação dos 
hábitos de consumo e expressão da sociedade, baseando-se na Beatlemania como 
um dos fenômenos mercadológicos que se mantém e se adapta com o passar do 
tempo. O estudo da cultura de massa é importante para a compreensão dos hábitos 
de consumo da sociedade, sua relação com o efeito que a banda trouxe aos seus 
seguidores e a forma como eles a interpretam atualmente através da internet e a 
cultura de nicho. Analisar a evolução histórica do consumo da metade do século XX 
até então torna-se essencial para a compreensão da sociedade atual e sua 
adaptação aos meios digitais.
 A metodologia foi desenvolvida através de pesquisas qualitativas, a 
observação dos fatos e fatores que contribuíram para a adaptação e manutenção da 
cultura de consumo Beatlemania, analisando as mudanças comportamentais da 
juventude da década de 1960, comparada com as gerações atuais. Como 
instrumentação teórica foi feita uma análise bibliográfica de Lovemarks de Kevin 
Roberts e as biografias Os Beatles de Bob Spitz e The Beatles de Geofrey Stokes.
 A análise foi feita a partir da pesquisa em plataformas virtuais como redes 
sociais, blogs e microblogs. A observação etnográfica do virtual, chamada de 
netnografia, segundo Kozinets (2010) “É netnografia adaptada às complexidades de 
nosso mundo social contemporâneo, mediado pela tecnologia.” O autor ainda 
ressalta o foco da pesquisa baseado no contexto e nas características culturais do 
objeto de pesquisa.
A netnografia observa não apenas as palavras usadas em interações 
sociais, mas também os elementos do fórum, as características do 
comunicador, a linguagem, a história, o significado, o tipo de interação. Ela 
examina fontes, espaçamento, símbolos, textos, imagens, fotos e vídeos. 
(KOZINETS, 2010)
O processo de pesquisa netnográfica foi feito através da coleta de dados em 
websites que registram índices de vendas de discos e paradas de sucesso desde a 
11
década de 1940, como Billboard e Official Charts Company. Também foram retiradas 
informações como questionamentos de registros históricos da vida dos Beatles e 
relatos dos fãs nos grupos de discussão Portal Beatles Brasil e The Beatles College 
através da rede social Facebook e dos blogs oficiais dos grupos. A autonetnografia 
foi um método de pesquisa adotado para analisar a interação entre os usuários nas 
comunidades e blogs estudados, do ponto de vista da autora como parte da 
comunidade, ou seja, usuária ativa nos objetos de estudo. O arquivamento de 
informações coletadas e a organização do material foi através de pastas e 
downloads no computador. 
A autonetnografia é aqui compreendida como uma ferramenta reflexiva que 
possibilita discutir os múltiplos papéis do pesquisador e de suas proximidades, 
subjetividades e sensibilidades na medida em que se constitui como fator de 
interferência nos resultados e no próprio objeto pesquisado. (...) A coleta de dados é 
feita basicamente por meio de download e cópia de arquivos, sites etc, todos 
organizados em pastas distintas por ano/comunidade no PC. Além disso, também 
são arquivadas mensagens e eventuais conversas e entrevistas feitas via Gtalk ou 
MSN. Ainda não utilizei o Skype para entrevistas, embora possa ser uma 
possibilidade interessante. Outra forma de arquivamento é permitida pela utilização 
dos posts dos blogs, todos disponíveis online. Em caso de algum dos informantes 
encerrar seus perfis ou blogs, utiliza-se uma lista com os e-mails pessoais para 
eventuais contatos (AMARAL, 2009).
Também foi utilizado, durante a pesquisa, coleta de entrevistas e depoimentos de 
personalidades que mantêm sua relação com a Beatlemania através da internet, de 
pessoas que conviveram com os Beatles a fãs que escrevem adquirindo outras 
identidades na web, passando pelo integrante de uma banda que relaciona os 
Beatles com um grupo de Heavy Metal adicionando uma conotação cômica em suas 
músicas. Esse material foi coletado em sua maioria por e-mails, conversas por 
mensageiros instantâneos e chamadas de audio e vídeo através do aplicativo 
Skype, entre os dias 14/06/2012 a 11/11/2012.
Os resultados da pesquisa são apresentados em três capítulos. No primeiro capítulo 
desenvolveu-se o contexto da juventude dos anos 1950, período no qual os jovens 
de classe média branca deixaram de seguir os gostos e opiniões dos pais e 
12
passaram a ter identidade própria, fazendo com que a indústria passasse a investir 
neles como um segmento comercial. Com o surgimento do rock and roll, estilo 
musical marcado pela rebeldia, os adolescentes encontraram nas artes uma maneira 
de expressar seus dilemas. Também é contada em detalhes a relação dos 
integrantes dos Beatles com o rock and roll, e como John Lennon e Paul McCartney 
deram início ao grupo que contribuiu para as mudanças estruturais no consumo e 
comportamento da sociedade na década seguinte. 
Após apresentar a banda e o contexto, analisou-se no segundo capítulo a forma 
como eles se tornaram um fenômeno na Europa, o sucesso nos Estados Unidos, 
com a ajuda de Brian Epstein, e um grande investimento da gravadora. Estes fatores 
contribuiu para que alcançassem um patamar que as demais bandas de rock and roll 
da região do rio Mersey não conseguiram. Durante os 10 anos de carreira, 
mantiveram seus hits no topo das paradas de sucesso do mundo todo e criaram 
legiões de fãs por onde chegavam, independe da forma. No Brasil, sua 
popularização deu-se após o primeiro filme A Hard Day’s Night (Os reis do iê-iê-iê) 
estreiar. Uma rápida e objetiva análise sobre como os meios de comunicação 
influenciaram para que o grupo se tornasse em fenômeno é feita neste capítulo, 
concluído com a constatação de que, mesmo após o fim da banda, os fãs mantém 
grupos e fã clubes espalhados pelo mundo com o fim de guardar lembranças e 
trocar informações e artigos da banda.
Voltado para a atualidade e os meios digitais, o último capítulo mostra a relação da 
beatlemania com a internet, apresentando as diferenças comportamentais tanto do 
público, que na web varia de novos fãs aos antigos apreciadores que viveram o 
sonho em 1964, momento no qual a própria marca Beatles e Apple Corps 
modificaram suas abordagens e adaptaram-se às novas plataformas para manter o 
público entretido na magia que envolve os Beatles e sua história.13
2 OS BEATLES
 A década de 1950 nos EUA foi marcada pelo surgimento de um estilo musical 
dançante, que misturava o rhythm and blues da cultura negra e o country 
disseminado entre os brancos de baixa renda que viviam nas áreas rurais do país. 
Logo o rock and roll popularizou-se, revelando para o mundo artistas como Chuck 
Berry, Little Richard, Bill Haley and The Comets, Buddy Holly e Elvis Presley. Aos 
poucos o rock and roll deixou de ser um ritmo de negros e pobres e passou a ser 
comercializado por grandes gravadoras, fazendo com que a juventude branca 
adotasse o estilo. “Quando Rock around the clock, com Bill Halley e seus Cometas, 
estourou através do filme Blackboard jungle (Sementes da violência), em 1955, 
iniciou-se a comercialização da chamada ‘cultura rock’.” Logo o mundo todo 
consumia rock and roll por meio de discos, filmes, roupas e acessórios que imitavam 
os ícones da música e do cinema (BRANDÃO; DUARTE, 2004, p.19).
 O surgimento dessa cultura de juventude inaugurou uma ruptura geracional 
de costumes, pois pela primeira vez os jovens de classe média branca abandonaram 
o modelo cultural de seus pais e passaram a criar e consumir um modelo próprio, 
desenvolvendo um novo estilo de vida. 
(...) Segundo alguns autores, o rock’n’roll funcionou como uma inversão 
psicológica na relação dominador(branco)/dominado(negro) que prevalecia 
na sociedade norte-americana. A cultura promovida pela juventude, a partir 
do rock’n’roll, seria uma forma de os jovens de classe média branca se 
colocarem como oprimidos em relação à sociedade estabelecida por seus 
pais, assumindo, mesmo que inconscientemente, certos valores da cultura 
negra como bandeira (BRANDÃO; DUARTE, 2004, p.20).
 Elvis Presley foi o ícone musical que mais se destacou durante o período, 
chegando a se tornar uma figura polêmica por demonstrar em suas apresentações 
movimentos de quadril considerados inadequados. 
A partir do seu terceiro show na televisão, lá pelos idos de 1957, ele só 
podia ser focalizado da cintura para cima, já que sua maneira rebolativa de 
dançar era considerada obscena e sua influência sobre a juventude poderia 
se tornar desagregadora. Notamos, portanto, a força dos meios de 
comunicação e da censura oficial ou não-oficial, que, ao se tornarem 
elementos de controle e transformação da cultura, ditam os limites de 
rebeldia permitidos pela sociedade, para que essa cultura possa ser 
comercializada sem o perigo de abalar os valores da ordem social 
estabelecida (BRANDÃO; DUARTE, 2004, p. 21).
14
 
 No cinema o ícone foi James Dean, que representou a rebeldia e a resistência 
ao conservadorismo em filmes como "Rebelde sem causa", "Sementes da violência" 
e "Juventude transviada", filme este que o imortalizou, sendo lançado quatro dias 
após sua morte em um acidente de carro em 1955. 
Tudo que era preciso para a produção de um mito e sua permanência fora 
deixado por James Dean: Imagens dos seus filmes, fotos e textos sobre ele. 
Um fenômeno constituído a partir do desejo coletivo da juventude, uma 
confirmação de que algo de significativo ele representou, sendo preciso que 
isso continuasse vivo. Ele deixou algo em que a juventude pudesse 
reconhecer a si própria como a força vital independente, no interior de uma 
sociedade repressora (BRANDÃO; DUARTE, 2004, p.24).
 Segundo Eric Hobsbwam (1995, p.318) essa autonomia dos jovens como 
novo grupo social caracteriza-se pelo fato dos heróis que a simbolizam, em sua 
maioria, terem marcado a história pela sua juventude. Artistas como James Dean, 
Buddy Holly e mais tarde Janis Joplin, Jimi Hendrix e Jim Morrison morreram antes 
dos 30 anos. Com os ídolos da geração deixando os palcos no auge de suas 
carreiras, o sentimento dos jovens caracterizou-se no heroísmo comparado ao do 
romantismo do século XIX, “onde a vida e juventude acabavam juntas”. Nos anos 
1960 o grupo The Who eterniza em sua música My Generation o pensamento que 
concorda com as afirmações de Hobsbawm, dizendo “I hope I die before I get old 
(Talking about my generation)”1.
 A literatura jovem da década de 1950 era avessa aos conceitos de rock and 
roll clean e manipulável que inspirava a massa, autores como Jack Kerouac e Allen 
Ginsberg falavam sobre a realidade que o cinema e a música cobriam com a 
rebeldia mainstream. O movimento chamava-se beat, e contribuiu para a 
contextualização das revoluções que viriam a ocorrer nos anos 1960. 
O ser beat, por extensão, significava fluência, improviso, ausência de 
normas preestabelecidas na vida e na arte. Significava também a busca de 
um envolvimento profundo que traz música, balanço, liberdade e prazer, na 
procura da realidade marginal das minorias raciais e culturais no interior da 
sociedade norte-americana (BRANDÃO; DUARTE, 2004, p.26).
 
 No interior da Inglaterra os jovens buscavam referências sobre o que 
acontecia na América do Norte e consumiam o que chegava à eles; os discos de 
15
1 Em tradução livre: Eu espero morrer antes de envelhecer (Falando sobre minha geração).
vinil e filmes como Juventude Transviada criaram a cultura da juventude. Em 
Liverpool, o consumo da cultura rock misturava-se com o beat e a cultura local, 
representado pelo Skiffle2, formando o estilo popular entre os jovens, que adotaram 
também a atitude rock’n’roll sendo chamados então de Teddy boys, e entre os 
baderneiros mais conhecidos da cidade estava John Lennon, futuro líder dos 
Beatles. 
2.1 A Formação da banda
 A banda formou-se originalmente por John Lennon e alguns amigos como 
um grupo de Skiffle, estilo musical criado a partir de instrumentos improvisados e de 
tons semelhantes ao blues, bastante comum na época, devido a falta de recursos 
para instrumentos sofisticados. O grupo se chamava The Quarrymen em referência 
irônica ao hino da escola onde Lennon estudava. Em 1957, John Lennon, Eric 
Griffiths, Pete Shotton, Bill Smith e Rod Davis se apresentaram durante uma 
quermesse. Paul McCartney foi apresentado ao grupo e no mesmo dia John estava 
convicto de que ele deveria entrar para a banda. Em março de 1958 George 
Harrison juntou-se a eles, mesmo com a implicância de Lennon por ele ser mais 
jovem (George tinha 15 anos enquanto John recém havia completado 18). Ringo 
Starr tornou-se parte da banda apenas em 1962, quando os já consolidados Beatles 
assinaram seu primeiro contrato com a gravadora Parlophone. 
 O grupo evoluiu musicalmente enquanto os jovens cresceram, adotando a 
estética Rock And Roll e mudando o nome e a formação diversas vezes até 
chegarem em The Beatles, com Lennon, McCartney, Harrison e Pete Best. Entre os 
anos 1960 e 1962 excursionaram pela Europa fazendo shows em pubs e em sua 
terra natal passaram a se apresentar no Cavern Club, onde no dia 9 de novembro de 
1961 Brian Epstein, o dono de uma loja de discos e colunista no jornal Mersey Beat, 
os conheceu. Epstein tornou-se empresário da banda e criou padrões de vestuário e 
conduta nos palcos que foram essenciais para o sucesso do grupo, como o uso de 
ternos, botas de bico fino e cabelos longos e limpos. Sabe-se que em seu escritório 
16
2 Skiffle: Estilo musical semelhante ao blues onde são utilizados instrumentos como contrabaixo feito 
de cabo de vassoura e uma tábua de lavar roupas.
havia memorandos destinados à banda instruindo-os a não fumar, rir, comer ou 
beber durante os shows. (STOKES, 1982, p.36) 
O estilo musical da invasão britãnica precisava de um nome, e o escolhido 
foi merseybeat, uma junção de ‘Mersey’ (nome de um rio de Liverpool) e 
‘beat’ (batida em inglês, que dava nome ao próprio estilo). Com o sucesso 
dos Beatles em Liverpool, as bandas de beat começaram a aparecer e o 
local mais famoso para vê-las era o Cavern Club. Enquanto isso, os 
executivos das gravadoras em Londres passaram a procurar bandas no 
estilo merseybeat em outras partes do país (VINIL, 2008, p.54).
 Em julho de 1962, Epstein vai a Londres em busca de contratocom as 
gravadoras e o produtor musical George Martin resolveu gravar com os Beatles pela 
Parlophone, selo pertencente à EMI. Nesta mesma época Ringo Starr é convidado a 
juntar-se ao grupo após a demissão do baterista Pete Best. Entre os meses de 
setembro, novembro e dezembro de 62 e fevereiro de 1963 o primeiro disco de 
estúdio foi gravado em Abbey Road, e em abril foi lançado “Please Please Me”, 
ficando em 1º lugar por 30 semanas entre os mais vendidos no Reino Unido 
 Antes do lançamento do disco, os Beatles já tinham 2 singles3 lançados, 
“Love Me Do” (em outubro de 1962) e “Please Please Me” (janeiro de 1963) que 
ficou 18 semanas nas paradas de sucesso chegando à segunda posição no ranking 
nacional. A partir disso eles começaram a trajetória para o estrelato, com 
apresentações em emissoras de televisão e emplacando nas principais rádios da 
Inglaterra entre as músicas mais pedidas começaram a chamar cada vez mais a 
atenção dos veículos de comunicação, não apenas pela música como pelo estilo e 
atitude construídos com o auxílio de Epstein que os diferenciava das bandas da 
época. 
 Em abril de 1963 o single “From Me To You” atingiu a primeira posição, 
mantendo-se entre os mais vendidos por 18 semanas. A partir daí começou a tomar 
forma o que em um ano seria chamado de Beatlemania, como descreve Bob Spitz 
na biografia da banda sobre uma apresentação no programa Jazz’n’Pop Festival da 
BBC, transmitido ao vivo do Royal Albert Hall:
Os promotores do programa logo tiveram que lidar com a expectativa febril 
que cercava os Beatles, quando uma multidão compacta e ansiosa 
superlotou o teatro. Um murmúrio difuso, pontuado por assovios, tomou 
17
3 Singles: Compactos simples lançados para divulgação de músicas com alto potencial de sucesso, 
“músicas de trabalho”.
conta do ambiente. Aqueles não eram os frequentadores habituais dos 
espetáculos, que se mantinham polidamente sentados ao longo de cada 
apresentação. Eram adolescentes em diversos graus de excitação - na 
maioria garotas - que se comportavam de maneira estranha, como se já se 
conhecessem. ‘Agiam assim porque tinham uma coisa em comum’, diz Tony 
Barrow, que não estava no teatro naquela noite. ‘Eram fãs dos 
Beatles’ (SPITZ, 2007, p.395).
 A partir de 1964, com dois discos lançados e seis singles, os Beatles 
tornaram-se febre no Reino Unido e partiram então para o continente americano. 
Epstein negociou com Ed Sullivan três apresentações em seu programa, após este 
ter presenciado no aeroporto de Londres o frenesi causado pela presença da banda.
 Para trazer os garotos de Liverpool aos Estados Unidos de forma a não 
passarem despercebidos, como acontecia com os artistas britânicos que buscavam 
fama na América, Epstein convenceu a Capitol Records, subsidiária da EMI, a lançar 
o single “I Wanna Hold Your Hand” em 13 de janeiro, e logo tornou-se primeiro lugar 
nas paradas de sucesso, incentivando a gravadora a investir mais no grupo e em 
sua divulgação:
Nas três semanas anteriores à chegada do conjunto aos EUA, ela investiu a 
soma, sem precedentes, de 50000 dólares em sua promoção, Trabalhando 
com Brian, contrataram dezesseis assessores de imprensa para a chegada 
iminente dos Beatles. Num passe de mágica, cartazes com as palavras ‘OS 
BEATLES ESTÃO CHEGANDO’ apareceram em todas as grandes cidades, 
e os disc-jóqueis importantes receberam não apenas o material habitual, 
mas também uma peruca beatle e um disco especial que lhes permitia fazer 
‘entrevistas’ e receber as respostas nas próprias vozes liverpoolenses dos 
rapazes (STOKES, 1982, p.83).
 Após as aparições no Ed Sullivan Show estava consolidada a Beatlemania. A 
legião de fãs conquistados através da divulgação aliada ao carisma dos integrantes 
fez com que os Beatles se tornassem um ícone de adoração, atualmente conhecido 
como lovemark4. Nos anos seguintes, os Beatles se tornaram febre mundial e 
juntamente com o contexto da época mudaram o discurso de suas músicas, que 
passaram a focar cada vez mais a perspectiva de mundo da juventude. Em meio a 
guerras e disputas por valores e posicionamentos políticos, criaram uma realidade 
alternativa para a sociedade baseada na contracultura. 
 Durante os 10 anos de carreira os Beatles tornaram-se ícones da sua geração 
pelo fato de seus estilos, tanto musical quando comportamental, expressarem o 
18
4 Lovemark: Conceito de Kevin Roberts que parte do princípio de que os consumidores criam uma 
relação de amor com as marcas, tornando-as presentes em suas vidas de maneira essencial. 
contexto cultural da época. Os jovens não buscavam mais cumprir os objetivos que 
seus pais cumpriram por necessidade, não mantinham os mesmos pensamentos 
que as gerações anteriores. As lutas pelos direitos humanos estavam acima de 
governos e guerras, os jovens não queriam se posicionar de acordo com os padrões 
da sociedade, queriam transformar e fazer com que o mundo se adaptasse a eles. 
Surgia naquele momento a contracultura, movimento que agregou a contestação e 
os experimentalismos dos jovens da época, no qual as atitudes eram mais 
relevantes do que opiniões e no qual todos teriam direito a voz, independente de 
raça, credo ou gênero.
 Para compreender o contexto da época é preciso recorrer aos fatos históricos. 
A Guerra Fria mantinha sobre pressão as duas potências mundiais, Estados Unidos 
e União Soviética, que mesmo com opiniões totalmente extremas sobre o 
funcionamento da sociedade, mantinham a disputa pelo controle mundial pelas 
mesmas razões, o que fazia os jovens repensarem suas opiniões e buscarem novas 
soluções aos seus questionamentos, como explicam Brandão e Duarte (2004, p.50):
A intenção fundamental dos movimentos de contracultura foi contestar a 
visão de mundo racional e bitolante que prevalecia na sociedade ocidental 
contemporânea. Afinal, capitalistas e comunistas, a partir de um controle 
burocrático, privado ou estatal, demonstravam ter mais coisas em comum 
do que eles próprios podiam acreditar.
 Essa revisão de conceitos foi essencial para as mudanças ocorridas no 
decorrer da década. A busca por maiores significados para a existência envolvia 
pontos da cultura oriental como meditação e espiritualidade misturados ao uso de 
drogas como LSD. O rock foi a trilha sonora do movimento e os Beatles 
expressavam em sua música a psicodelia da época. O disco Sgt. Peppers Lonely 
Hearts Club Band contava com o uso de orquestras, instrumentos indianos e efeitos 
sonoros que eram inovadores, como os sons de animais em “Good morning, good 
morning” e o clima circense criado em “Being for the benefit of Mr. Kite”. As 
composições também fizeram parte da contracultura, a canção “Lucy in the sky with 
diamonds” foi por muitos anos relacionada à droga de efeitos lisérgicos, mas 
nenhum dos integrantes confirma. 
A cultura ocidental foi amplamente questionada em seus valores políticos e 
morais, já que a contracultura estabelecera uma espécie de guerrilha 
cultural dentro do próprio sistema; um movimento espontâneo e insinuante 
19
que, se apossando dos meios de comunicação de massa ou criando uma 
imprensa alternativa, conquistou adeptos por toda a parte e ameaçou 
colocar a utopia no poder, estabelecendo o poder das flores (flower power) 
(BRANDÃO; DUARTE, 2004, p.51).
 Enquanto se desenvolvia o conceito de contracultura, os jovens 
adolescentes haviam sido recém descobertos como público de fácil alcance por ter 
disposição para consumir o que as demais gerações consideravam supérfluo. 
Segundo Hobsbawm (1995, p.318) “O surgimento do adolescente como ator 
consciente de si mesmo era cada vez mais reconhecido, entusiasticamente, pelos 
fabricantes de bens de consumo.” E assim passaram a consumir as músicas, estilos 
e conceitos emitidos pelos artistas da época, o que fez dos Beatles, enquanto banda 
de rock, tornarem-se o que o Elvis havia sido para eles na década passada: um 
exemplo a ser seguido, um ídolo.20
3 BEATLEMANIA
3.1 FEBRE DE JUVENTUDE 
 A participação do grupo no programa do Ed Sullivan evidenciou o sucesso das 
estratégias adotadas por Epstein na propagação da banda pelos Estados Unidos. 
Logo diversos produtos relacionados aos Beatles estavam a venda, os fãs 
consumiam qualquer produto que tivesse a imagem dos fab four estampada. Kevin 
Roberts explica em seu livro "Lovemarks" que “O fato é que as marcas de amor são 
criação e propriedade das pessoas que amam. Onde há um cliente apaixonado, há 
uma marca de amor” (ROBERTS, 2005, p.71). 
 O filme I wanna hold your hand (Febre de juventude) de 1978 mostra, através 
de um enredo baseado na realidade, os efeitos da cultura Beatles nos jovens em 
fevereiro de 1964. A história mostra jovens de Nova Jersey dispostos a chegarem o 
mais próximo possível dos integrantes da banda, envolvendo tentativas de entrada 
no quarto de hotel onde os Beatles estavam e de conseguir ingressos para o Ed 
Sullivan Show. Durante o filme observa-se o impacto da divulgação massiva e o 
excesso de merchandising não licenciado comercializado por todos que encontraram 
na Beatlemania uma oportunidade para lucrar.
 Edgar Morin (2002, p.13-14) diz, quando introduz a definição de cultura de 
massa, que 
(...) A cultura e a vida privada nunca haviam entrado a tal ponto no circuito 
comercial e industrial, nunca os murmúrios do mundo - antigamente 
suspiros de fantasmas, cochichos de fadas, anões e duendes, palavras de 
gênios e de deuses, hoje em dia músicas, palavras, filmes levados através 
de ondas - não haviam sido ao mesmo tempo fabricados industrialmente e 
vendidos comercialmente. Essas novas mercadorias são as mais humanas 
de todas, pois vendem a varejo os ectoplasmas de humanidade, os amores 
e os medos romanceados, os fatos variados do coração e da alma.
 A Beatlemania foi alimentada pelo fanatismo, o amor do público e a vontade 
de consumir qualquer produto que oferecesse a sensação dos fãs estarem mais 
próximos aos ídolos. Kevin Roberts capta parte deste conceito quando define os 
parâmetros de uma empresa para se tornar uma Lovemark, ela precisa estar 
posicionada ao público de forma que a fidelidade esteja acima da razão (2005, p.66).
As Marcas de Confiança são o passo seguinte das marcas; Lovemarks são 
o passo seguinte das Marcas de Confiança... Pense sobre como você 
ganha mais dinheiro. Ganha quando usuários leais, usuários de peso, usam 
21
seu produto o tempo todo. Portanto, ter um caso de Amor duradouro é 
melhor do que ter um relacionamento de confiança (ROBERTS, 2005, p.
69).
 Para manter o relacionamento já conquistado com a Beatlemania e, mais uma 
vez seguindo os passos do primeiro grande ídolo da juventude Elvis Presley, os 
Beatles lançaram seu primeiro filme A Hard Days’ Night (Os Reis do iê-iê-iê) em 
julho de 1964, com números musicais e um enredo que mostrava os jovens do grupo 
fugindo das fãs e se perdendo em Londres, fazendo alusão à primeira aparição 
deles nos Estados Unidos. O longa metragem teve orçamento inicial de duzentas mil 
libras, e destacou-se pelas cenas em ritmo acelerado e pelo humor característico do 
grupo. Foi indicado ao Oscar em duas categorias, ao BAFTA e ao Grammy. 
Desde a estréia em Londres naquele julho [1964], A hard day’s night foi um 
tremendo sucesso comercial - e ainda permanece como um dos filmes mais 
lucrativos da história, em relação ao investimento. Além disso, seu êxito de 
crítica foi ainda mais impressionante, pois forçou uma geração que 
automaticamente desdenhava os Beatles a encará-los seriamente como 
artistas (STOKES, p.128, 1982).
 Os produtores do filme aproveitaram o sucesso que a receita de "humor e 
Beatles" rendeu e criaram um seriado para a televisão com uma banda fictícia 
chamada The Monkees, que obteve sucesso e hits como I’m a Believer e Last Train 
to Clarksville e ficou conhecida como a versão estadunidense dos Beatles. 
 No decorrer da carreira, os Beatles gravaram os filmes Help! (1965), The 
Magical Mistery Tour (1967), a animação Yellow Submarine (1967) e o documentário 
Let It Be, que mostra as últimas sessões da banda em estúdio e só foi lançado após 
o fim do grupo em 1969. 
 De acordo com o site da Billboard, revista semanal que registra desde a 
década de 1940 as vendas de músicas nos Estados Unidos, os Beatles emplacaram 
71 singles entre os 100 mais vendidos de 1964 a 1996, mantendo o recorde mundial 
até outubro de 2010, quando o grupo Glee superou a marca emplacando 75 hits. No 
Reino Unido, a Official Charts Company registrou os Beatles como grupo que mais 
vendeu singles nos últimos 60 anos, com a quantia de 21,9 milhões. 
22
FIGURA 1 
 Após o período de incessantes maratonas de shows entre 1964 e 1966, o 
grupo resolveu que não faria mais apresentações ao vivo e passou a enviar para as 
emissoras de televisão vídeos promocionais do grupo se apresentando, assim não 
precisavam mais se deslocar para divulgar seus discos. Mais tarde esses vídeos 
seriam considerados os primórdios do videoclipe.
Existem segmentos específicos que podem ser retirados inteiramente do filme 
e serem vistos fundamentalmente como vídeoclipes em seu próprio direito. 
Eles tocam a música inteira e há uma série de imagens interessantes, diversão 
e energia que vão junto com eles. A linguagem visual e a maneira em que a 
música é tratada é algo muito familiar para nós que há muito tempo estamos 
23
expostos ao videoclipe5 (AUSTERLITZ, Saul apud KENT, Leo. 
Humansinvent.com, 2012 )
 Quando Lennon disse, numa entrevista em fevereiro de 1966, que sua banda 
era mais popular do que Jesus Cristo, gerou polêmicas e distorções sobre sua 
opinião. Nas regiões mais conservadoras dos Estados Unidos, líderes religiosos 
juntaram-se com a população e queimaram em praça pública discos e produtos 
relacionados ao grupo. No entanto, a partir do momento em que Lennon tomou 
como suas as causas pacifistas e dos direitos humanos, mobilizou a geração paz e 
amor a protestar e sonhar junto com ele com um mundo sem guerras e violência. 
3.2 O FIM DE UM SONHO E O DESPERTAR DA MÍDIA
 Após o anúncio do afastamento dos palcos, a imprensa começou a noticiar o 
fim dos Beatles.
Nenhum grupo pop até então sobrevivera apenas com discos; assim, alguns 
repórteres declararam a morte dos Beatles. Esse era o tom de um longo 
artigo do Sunday Times de Londres em novembro de 1966. “A semana 
passada”, começava a matéria, “tudo indicava que o fenômeno Beatles está 
terminando (...) no sentido de que o melhor de sua música era uma 
expressão de puro prazer, por serem um grupo muito unido de jovens 
divertidos e atraentes. A maturidade, com o desvanecer de seu narcisismo 
coletivo e o desabrochar de interesses particulares, vem determinar o fim 
desses fenômenos” (STOKES, 1982, p.183).
 Um mês e meio após a publicação citada o grupo começou a gravar um dos 
discos que mais vendeu e rendeu polêmicas, o Sargent Peppers Lonely Hearts Club 
Band. O disco gerou expectativa pelo público que estava habituado a ter dois discos 
por ano e grandes turnês, agora mantinha a dúvida sobre o possível fim da banda.
A garotada que crescera gritando pelos Beatles e os adultos seduzidos por 
A hard day’s night se uniram para criar um novo tipo de audiência. Havia um 
exército de fãs esperando, não dançar ou gritar, mas ouvir. Muito loucos, de 
preferência (STOKES, 1982, p.190).
 Este disco trouxe consigo o ideal da contracultura, o psicodelismo, a 
esperança de encontrar melhores pensamentos no mundo oriental, e principalmente 
24
5 Tradução livre para: There are specific segments that can be pulled out entirely from the film and be 
seen as essentially music videos in their own right. They play the entire song and there is a set of 
interesting, fun and energetic visuals that go along with them. The visual language and the way in 
which the song is treated is something very familiar to us who have already been long exposed to the 
music video.musicalidade. Com uma produção que custou US$100.000,00 e durou quatro 
meses, a reação do público ao ver expresso em músicas o contexto do que 
acontecia naquele instante foi de adotar o álbum como hino da geração. Em meio a 
divulgação do disco, no dia 19 de junho de 1967, Paul McCartney admite o uso de 
LSD numa entrevista, o que aumentou os boatos de apologia ao uso de drogas pelo 
fato da música Lucy in the sky with diamonds ter, coincidentemente, as mesmas 
iniciais da sigla da droga. A imprensa conservadora manifestou-se incentivando 
boicotes aos discos dos Beatles, e as rádios foram proibidas de tocar a música With 
a little help from my friends, alegando apologia ao uso de entorpecentes. A capa do 
disco também gerou polêmicas por se tratar de uma colagem de vários artistas e 
personalidades ligadas ao conceito da banda e do álbum, variando entre cultura de 
massa e contracultura.
 Em meio às colagens de imagens de Sgt. Pepper, vale a pena ainda 
destacar um sutil aspecto decorativo. Comenta-se que o jardim da capa teria 
uma fileira de mudas de maconha à frente dos retratados, e que essas mudas 
teriam passado despercebidas pelos executivos da gravadora EMI. Tratando-
se de um período em que o consumo de determinadas drogas ilícitas estava 
em alta e representavam em larga medida o desejo da contracultura de 
“expandir a mente”, não deixa de ser interessante observar uma possível 
brincadeira do grupo inglês. Antes de ser uma provocação contracultural que 
se afinaria com o “espírito da época”, um comentário de George Martin permite 
deduzir que se tratava de mais um chiste provocativo dos Beatles (inclusive 
com a própria contracultura do período), criado por meio de um sofisticado 
trocadilho em latim com o nome do álbum. Diz Martin: “Aquelas plantas [...] 
verdinhas bem em frente ao bumbo e também à direita, lá em baixo na foto, 
provocaram um bocado de controvérsia. As bandidas verdinhas foram 
largamente acusadas de serem cannabis. Na verdade, são uma piada muito 
bem guardada. Seu nome latino original é Peperomia...!” (FENERICK; 
MARQUIONI, p.18, 2008).
 Mesmo com a polêmica formada, o grupo havia sido convidado para participar 
da estréia de um novo satélite da emissora de televisão BBC1, o Early Bird. 
Por meio de um programa ao vivo, a intenção era interligar, pela primeira 
vez na história das comunicações, 31 redes de televisão ao redor do 
mundo. Estimava-se que 300 milhões de pessoas poderiam assistir ao 
mesmo espetáculo (SPITZ, 2007, p.695).
 Por se tratar de uma apresentação ao vivo eles não teriam como apresentar 
nenhuma das músicas do último disco, devido aos efeitos e a complexidade do som, 
e de acordo com os requisitos da produção do programa a música deveria ser 
simples e de fácil entendimento para as pessoas do mundo todo. John Lennon 
apresentou então All you need is love, enquanto Paul McCartney trabalhava em 
Hello, Goodbye. No dia 25 de junho de 1967 foi apresentada para 31 países, direto 
25
dos estúdios Abbey Road, a canção que dizia que tudo é possível fazer desde que 
tenha amor.
A combinação de rock no volume máximo, drogas alucinógenas, liberdade 
sexual e vida em comunidades caracterizava o movimento hippie como uma 
revolução associada não ao rock and roll da década de 1950, mas algo que 
ia além. Veio o chamado “verão do amor” de 1967, e a geração rock dos 
anos 50 deu lugar a contracultura. Por todos os lados se viam cores, das 
roupas transadas ao show de luzes, passando pela arte dos pôsteres. 
Começava, de fato a era da meditação “All You Need is Love”, como a 
música de John Lennon, algo muito distante dos tempos do filme Sementes 
de Violência, com sua música “Rock Around the Clock” e as escolas do 
Bronx (VINIL, 2008, p.61).
 Em meio ao verão de 1968, período em que o consumo excessivo de drogas 
era generalizado e, no estado da Califórnia, o movimento hippie pregava o amor e a 
compreensão, o ativismo que já vinha tomando forma desde as lutas contra a 
segregação racial do início da década se fortalece através dos estudantes.
No West Side de Nova York - e nas cidades universitárias dos EUA - , o 
tema em pauta não era tanto a paz, mas uma guerra que se travava do 
outro lado do mundo. Manifestações pela paz se multiplicaram pelo país, 
numa mistura supreendente de jeans desbotados e ternos de algodão, 
todos atrás da música que os Beatles iam criando. “Eu sou ele como você é 
eu e nós estamos todos juntos.”, assim começava a letra de I am the walrus 
(STOKES, 1982, p.195).
 A maneira como o público interpretava os Beatles modificou-se a partir do 
momento que os jovens deixaram de consumir a música como entretenimento e 
passaram a utilizar como instrumento de voz de uma geração que buscava o fim das 
guerras, dos preconceitos e caminhava em direção à liberdade de expressão. A 
questão ideológica reforçou o culto à personalidade e a relação de proximidade com 
os fãs. Em 1969, as vendas dos discos dispararam devido à polêmica criada em 
torno da suposta morte de Paul McCartney. Um mês após o disco Abbey Road ser 
lançado o locutor Russ Gibb de Detroit anunciou que o compositor havia morrido em 
1966 num acidente de carro, e que teria sido substituído por um sósia. A partir desse 
momento, vários fãs passaram a encontrar mensagens subliminares nos álbuns 
supostamente deixadas pelos integrantes da banda dizendo que Paul estava morto.
Paul está morto. A frase se tornou um refrão tão familiar quanto qualquer 
música do Abbey Road. Os apresentadores de tevê martelaram o assunto, 
da mesma forma que os principais jornais. Paul está morto. E vendeu 
muitos discos, apesar das negativas veementes do próprio falecido. “Estou 
vivo e estou bem, e preocupado sobre os boatos sobre minha morte”, disse 
ele à Associated Press, em pé, cheio de vida, na porta da sua casa, dez 
dias após a divulgação da notícia. “Mas, se eu estivesse morto, seria o 
último a saber.” As vendas dos discos dos Beatles também dispararam, com 
26
“milhões de jovens fãs de olhos e ouvidos atentos aos sinais do suposto 
falecimento de Paul [...] nas capas e nos sulcos dos discos”. Sgt. Peppers’ 
ressurgiu no 124º lugar das paradas americanas, com Magical Mistery Tour 
logo atrás, em 146º. E Abbey Road continuava a superar todos os 
concorrentes do momento em um milhão de cópias vendidas (SPITZ, 
2007,p. 836).
 Os Beatles anunciaram seu fim em 1969, evidenciando os problemas que 
eram especulados desde a morte de Brian Epstein em 1967. O grupo percebeu a 
dependência do empresário para assuntos burocráticos quando teve problemas com 
a administração da banda e suas produções. A Apple Corps Ltd. foi criada numa 
tentativa deles comandarem os negócios, convictos no pensamento da época de 
que não precisariam de homens de negócios impondo regras sobre as produções do 
grupo. Outros fatores que levaram à dissolução da banda foram desavenças entre 
os integrantes, aliadas ao fato de que cada um já buscava por uma identidade 
musical fora do grupo. Em janeiro de 1969 eles subiram no último andar do prédio 
da Apple e fizeram sua última apresentação juntos, e no dia 8 de maio de 1970 foi 
lançado o disco Let it Be, e um documentário sobre as gravações do álbum. Uma 
semana após estes lançamentos, Paul McCartney lança seu primeiro disco solo.
 A construção do mito Beatles começou nos anos 1960 com o sucesso, 
inovação e experimentalismos da banda, muitas vezes pioneira no uso de técnicas 
de produção e efeitos sonoros na produção de seus discos. Mesmo após o fim da 
banda, os fãs mantiveram a lealdade na relação com o grupo e seus integrantes. 
Mais do que nunca, a pergunta “Qual é o seu Beatle favorito?” passou a fazer 
sentido, agora que cada um tinha sua carreira solo era possível conhecer melhor 
sua música e sua posição sobre o que ocorria na sociedade. 
 Nenhum dos integrantes admite, porém é inevitável viver com como ex-Beatle 
sem explorar a antiga carreira. Uma semana após o anúncio do fim da bandaPaul 
McCartney lançou seu primeiro disco solo e mantém sua carreira até hoje, tendo 
passado por bandas com diferentes formações, a mais lembrada é a Wings, com 
quem lançou o hit Live and Let Die, que em setembro de 2012 foi eleita através de 
votação nas rádios da BBC como a melhor canção-tema dos filmes da série 007 de 
todos os tempos. 
 George Harrison teve o material de sua autoria dispensado pelos Beatles, 
durante as gravações, pois foram priorizadas os materiais produzidos por Lennon/
27
McCartney. Lançou seu primeiro disco solo All Things Must Pass em 1970 obtendo 
sucesso com o single My Sweet Lord. Harrison trabalhou também como produtor 
musical e cinematográfico, tendo participado de produções com o grupo Monthy 
Python e a cantora Madonna. George foi o único Beatle a lançar uma autobiografia (I 
Me Mine, 1980). Harrison morreu em 2001 em decorrência de câncer de pulmão. 
 Assim como McCartney, Ringo Starr mantém sua carreira ativa como ex-
Beatle, porém não deixa de incluir músicas da época de FabFour em suas 
apresentações. Da mesma forma que Harrison, o baterista investiu em outras mídias 
e chegou a trabalhar como ator e apresentador. Atualmente é um dos bateristas 
mais ricos do mundo, com uma fortuna de aproximadamente 300 milhões de 
dólares.
 Lennon e Yoko Ono lançaram discos juntos e até hoje a canção Imagine é um 
símbolo do combate à violência. A canção Happy Xmas (War is over), de 1971, 
ganhou uma versão brasileira, escrita por Cláudio Rabello, com a interpretação da 
cantora Simone, e tornou-se um dos temas natalinos mais conhecidos no Brasil e na 
América Latina. 
 Mesmo afastado dos palcos por anos para cuidar da família e preservar sua 
vida pessoal, Lennon não deixou de ser seguido por fãs, e no dia 8 de dezembro de 
1980 Mark Chapman o aguardava em frente ao prédio onde morava e disparou 5 
tiros no ex-beatle, que não conseguiu sobreviver. Chapman alegou ouvir vozes e 
sofrer de distúrbios mentais, e mesmo sendo fã do músico dizia não se conformar 
com as declarações de Lennon sobre religião, uma das acusações de blasfêmia foi 
causada pela entrevista já mencionada neste artigo onde ele afirma que os Beatles 
eram mais conhecidos que Jesus Cristo.
Ao ser anunciada a morte do artista, dezenas de pessoas irromperam em 
pranto e desespero, cantando músicas dos Beatles, como ‘All you need is love’, 
‘Give peace a chance’ ou o clássico ‘Yesterday’. Na manhã seguinte 
sobressaltado, ferido, o mundo descobria que perdera o maior referencial de 
sua juventude. Rádios das grandes capitais, de Nova York à Tóquio, do Rio de 
Janeiro à Cidade do México, passaram a tocar exclusivamente músicas dos 
Beatles. Em Telavive, o comentarista Eli Israeli anunciou a notícia pela rádio do 
Exército: ‘Queria dizer-lhes bom dia, mas realmente não posso’. (...) Em várias 
cidades americanas, houve vigílias e marchas à luz de velas, e em Toronto, 
Canadá, 30 000 pessoas fizeram uma passeata. Até o fim da semana, três 
pessoas haviam se suicidado na América do Norte, em desespero, e o 
presidente Jimmy Carter sintetizava a idéia de milhares ao dizer: “Seu espírito, 
o espírito dos Beatles - ao mesmo tempo irreverente e formal, irônico e 
28
idealista -, transformou-se no espírito de uma geração”. E concluía: “Ele ajudou 
a criar a música e o pensamento de nosso tempo”. (Revista Veja, 17/12/1980) 
 Se até então os Beatles eram conhecidos por seu sucesso, carisma, modismo 
e influência na cultura dos anos 60, a morte violenta do seu líder pacifista e a reação 
do mundo ao acontecido eternizou o grupo como mito. O fato dos integrantes 
manterem a rotina de shows, discos e participações midiáticas contribuiu para a 
manutenção do mito, uma vez que mesmo com o fim do grupo os integrantes não se 
desligaram das atividades, temáticas e estilos que os consagraram enquanto 
Beatles, seja este definido como rock, pop, romântico, psicodélico ou revolucionário.
3. 2 O PAPEL DA MÍDIA NA CONSTRUÇÃO DO ÍDOLO BEATLES E CULTURA 
BEATLEMANIA
 Com o sucesso do grupo, muitos comerciantes encontraram no 
merchandising uma fonte rentável. No auge da Beatlemania, nos Estados Unidos, 
era possível encontrar perucas, selos, canecas, bótons, figurinhas e diversos 
produtos com o nome do grupo. “O jornal inglês "The Observer" informou no dia 9 de 
fevereiro de 1964 que uma companhia americana estava fazendo 35 mil perucas 
dos Beatles por dia” (Folha de S. Paulo, 1982).
 A necessidade dos fãs em adquirir todo tipo de produto relacionado aos 
Beatles criou um status para o grupo, fazendo de seu nome uma marca de amplo 
mercado. De acordo com Umberto Eco, quando o status torna-se objeto de 
consumo, este que até então seria reflexo de um processo de identificação com 
quem o adquire, torna-se produto almejado pelo usuário independente da presença 
de traços de sua personalidade, passando a fornecer uma abertura à integração 
com a sociedade onde os interesses pessoais do indivíduo tornam-se irrelevantes 
perante a massa.
O objeto é a situação social e, ao mesmo tempo, o seu signo: 
conseqüentemente, não constitui apenas um fim concreto perseguível, mas o 
símbolo ritual, a imagem mítica em que se condensam aspiraçôes e desejos. E 
a projeção do que queremos ser. Em outros têrmos: no objeto, visto 
inicialmente como manifestação da própria personalidade, anula-se a 
personalidade (ECO, 2008, p.243).
29
 Com a alta procura pelo nome Beatles nos produtos, a criatividade dos 
comerciantes é até hoje lembrada. 
FIGURA 2 
30
 A mídia foi essencial para o sucesso do grupo e a criação da cultura que o 
cerca até hoje, mesmo 50 anos após seu auge. Revistas como a Rolling Stone, 
Billboard e outras charts6 que registravam os números de vendas de discos e 
traziam notícias e reportagens especiais sobre os artistas mais populares da época 
contribuíram para a disseminação da cultura Beatles. Em Liverpool, o jornal 
Merseybeat foi um dos pioneiros na divulgação das bandas que se formaram na 
região do rio Mersey. Posteriormente, impressos como NY Times, London Sunday 
Times e vários outros no mundo ocuparam suas manchetes com notícias sobre os 
fab four.
 As participações do grupo no programa do Ed Sullivan no começo de 1964 
são até hoje um marco na história da banda, assim como sua chegada aos Estados 
Unidos. Quando eles chegaram na América já eram ídolos de muitas pessoas, como 
previsto pelo empresário Brian Epstein, que teve o cuidado de só marcar shows em 
território americano quando os Beatles tivessem emplacado um hit em primeiro lugar 
nas paradas de sucesso, assim não seriam mais um grupo britânico tentando fazer 
fama no exterior. 
 Mesmo com a televisão popularizada, as rádios foram essenciais para a 
disseminação do rock and roll, sendo referência por tocar sempre os singles mais 
vendidos e muitas vezes competirem para serem as primeiras a tocar os hits do 
momento.
O rádio afeta as pessoas, digamos, como que pessoal-mente, oferecendo um 
mundo de comunicação não expressa entre o escritor-locutor e o ouvinte. Este 
é o aspecto mais imediato do rádio. Uma experiência particular. As 
profundidades subliminares do rádio estão carregadas daqueles ecos 
ressoantes das trombetas tribais e dos tambores antigos. Isto é inerente à 
própria natureza deste meio, com seu poder de transformar a psique e a 
sociedade numa única câmara de eco.(...) O rádio, que antes foi uma forma de 
audiência grupal que enchia as igrejas, reverteu ao uso pessoal e individual — 
com o advento da TV. O adolescente se afasta da TV grupal para o seu rádio 
particular. Esta tendência natural do rádio em ligar intimamente os diferentes 
grupos de uma comunidade manifesta-se claramente no culto dos disk-jockeys 
e no uso que faz do telefone, forma glorificada da velha interceptação de 
notícias na linha-tronco. (MCLUHAN, ano, p.332-344)
 
31
6 Expressão inglesa para gráficos ou paradas de sucesso. 
 Seguindo a moda de Elvis Presleyos Beatles também fizeram filmes, no 
começo da carreira mantinham o enredo de assemelhar as histórias ao cotidiano do 
grupo, e evoluindo conforme as músicas se desenvolveram. 
 No Brasil, a Beatlemania chegou através da Jovem Guarda, movimento de 
grupos e cantores jovens que faziam versões em português das músicas dos 
Beatles e outros artistas de sucesso da época. Mesmo com as canções do grupo 
original tocando nas rádios, grande parte dos fãs só foi conhecer a banda através do 
filme A Hard Days‘ Night (Os Reis do iê-iê-iê), como contam as fãs Lucinha Zanetti e 
Lizzie Bravo em seus relatos da época. 
Os discos não saíam na mesma época, então geralmente ficávamos sabendo 
de alguma música nova, quando alguém da Jovem Guarda cantava a versão. 
Adolescentes que éramos, não ligávamos muito para saber se aquele som era 
diferente ou iria mudar o mundo da música, queríamos mesmo saber como 
eles eram fisicamente, e cada uma de nós arriscava adivinhar nas músicas de 
quem era a voz. Foi a partir dos filmes, primeiro A Hard Day`s Night e depois 
Help!, é que pudemos vê-los cantando. 
 A relação dos brasileiros com o grupo solidificou-se com os filmes A Hard 
Day’s Night e Help! devido ao limitado acesso da maioria da população aos produtos 
importados como discos de vinil e revistas com fotos e notícias do grupo. As 
entrevistas irreverentes e apresentações ocorridas nos Estados Unidos e Europa 
dificilmente chegavam ao país, e foi a partir dos filmes que as características 
diferenciais dos Beatles em relação às outras bandas de rock and roll 
contextualizaram na mente dos espectadores brasileiros, que passaram a 
compreender o que era a beatlemania e as razões do sucesso do grupo no exterior. 
O meu primeiro disco dos Beatles foi meu pai que trouxe, que foi o With the 
Beatles (...) e eu gostei, mas o negócio só explodiu mesmo quando eu vi A 
Hard Day’s Night, Os Reis do Iê-iê-iê. Aí quando eu vi eles se mexendo, 
falando, aí fiquei siderada. (...) Siderada com eles falando, e conheci uma 
penca de garotas que tavam lá no filme e a gente fez amizade na hora, e aí 
passei a ir todo santo dia para ver, várias sessões por dia. A gente se escondia 
nos banheiros para não ter que pagar outro ingresso, e as meninas iam de 
minissaia para a sala de projeção e ficavam cantando os caras para cortarem 
pedaços do filme. (Lizzie Bravo)
 Além do cinema e das versões, outros meios importantes para a 
disseminação da cultura Beatles no país foram o rádio e as revistas. “Nós sabíamos 
das notícias através das revista Cruzeiro, Manchete, Intervalo e Melodias, 
32
principalmente estas.“ disse Lucinha. Segundo o site Beatles Brasil, o radialista mais 
conhecido como entusiasta da beatlemania no país foi Newton Duarte, conhecido 
como Big Boy teve como um de seus maiores feitos ser o primeiro radialista a tocar 
o disco Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band, antes mesmo das rádios inglesas. 
O que a gente tinha que fazer pra ser fã de Beatles era uma loucura, porque 
aqui não tinha quase nada, a gente tinha que percorrer a cidade inteira atrás de 
revista importada, a gente ia para as rádios quando tinha programa deles, o 
Roberto Nunes,o Big Boy tinha um programa de Beatles, a gente ia todo 
mundo de ônibus lá pra cidade. Depois e eu duas amigas tivemos um 
programa quando começou a TV Globo, a gente tinha um programa ao vivo 
sobre Beatles. (...) a gente ia pra lá e tal, mostrava disco, revista. A gente vivia 
de correspondente, todo mundo arranjava correspondente do mundo inteiro, 
que era pra gente poder receber revistas e informações. (Lizzie Bravo)
 Lizzie Bravo tinha 16 anos quando foi para Londres em busca de um encontro 
com os Beatles, durante o tempo que esteve por lá chegou a ser a única brasileira a 
gravar backing vocals com o grupo na música Across the Universe, o registro pode 
ser conferido na coletânea Beatles Anthology. Lizzie tem cerca de 100 fotos inéditas 
do integrantes guardadas em seu acervo pessoal. 
 Desde 1968 era possível encontrar biografias autorizadas contando a história 
do grupo nos mínimos detalhes. Hunter Davies foi o jornalista que acompanhou o 
grupo por meses e colheu depoimentos de amigos e familiares da banda, o 
resultado foi um material vasto.
Pela primeira vez, a história completa dos quatro jovens mais famosos do 
mundo. É o que pretende o jornalista inglês Hunter Davies em “The Beatles: 
The Authorized Biography”, lançado há poucos dias. Davies viajou dezesseis 
meses com os Beatles documentando o mínimo gesto, a menor palavra. 
Depois obteve deles e de suas famílias depoimentos detalhados, de uma 
franqueza por vezes chocante. Os Beatles autorizaram seus amigos a fazerem 
revelações. A novidade desta biografia é contar a infância e adolescencia de 
John, Paul, George e Ringo - O retrato de um mundo familiar em que nada 
fazia prever o sucesso e a riqueza futura (Revista Veja, 1968, p.70).
 Os fã clubes começaram a surgir em 1963, chegando a ter mais de 40 mil fãs 
cadastrados. Durante todos os anos que estiveram juntos os Beatles gravaram 
discos com mensagens natalinas especialmente para os fã clubes, o último disco foi 
gravado em 1969. Após o fim da banda, para manterem vivas as memórias do 
sucesso obtido e as amizades conquistadas com o assunto em comum, os fã clubes 
33
se tornaram a fonte de informações e troca de memorabílias7entre membros. "A 
revista oficial do fã-clube dos Beatles se chamava "Beatles Monthly". O último 
número apareceu em dezembro de 1969, ao preço de dois shillings. Reeditada anos 
depois, agora cada número custa 80 pences" (FOLHA DE SÃO PAULO, 1982).
 No Brasil surgiu, em 1979, o Revolution, um clube ativo até hoje e que utiliza 
as mídias digitais para dividir experiências com os demais fãs da banda. 
O Fã Clube Revolution foi fundado em Outubro de 1979 por Marco Antonio 
Mallagoli e, desde então, vem fazendo, sem interrupções, o trabalho de 
divulgação da música dos Beatles no Brasil e Exterior. Revolutiuon é mais 
antigo Fã Clube Brasileiro em atividade e, o único reconhecido oficialmente 
por Paul McCartney, George Harrison, Ringo Starr e John Lennon. (...) O 
trabalho do Revolution é reconhecido mundialmente e Mallagolo ja esteve 
em Liverpool mais de 100 vezes, sendo que por 3 vezes foi convidado, 
pelo "Cavern Mecca" (ex-fan-club local) a fazer palestras sobre os Beatles. 
Hoje , com mais de 80.000 associados no Brasil inteiro, corresponde-se com 
Fan-Clubs e Fãs de todo o mundo, tem o seu "fanzine" periódico, além da 
revista Revolution, distribuída para todo o país (atualmente em fase de 
reestruturação) e realiza Exposições em Shopping Centers e Centros 
Culturais, com a finalidade de divulgar o trabalho dos Beatles para todo tipo de 
publico (Site Revolution).
 Do fim da banda até hoje, os Beatles passaram de banda para mito, de ídolos 
de uma geração para ícones de movimentos contraculturais, de uma simples banda 
de rock and roll a referência pop. Mesmo antes da internet é possível encontrar 
menções à banda em programas televisivos, filmes e paródias musicais. A relação 
da banda com a cultura de massa ajudou a construir a cultura pop das décadas 
seguintes, consequentemente tais referências tornaram-se lugar comum para 
críticas e menções à indústria fonográfica e a forma como ela operou até o fim dos 
anos 1990, quando os meios digitais conquistaram o mercado e passaram a 
compartilhar músicas em formatos nem sempre pagos.
34
7 Definição de memorabília segundo iDicionário Aulete: Objetos associados a pessoas famosas ou 
eventos importantes, considerados dignos de memória e que se tornam itens de colecionadores.
4 OS BEATLES NA ERA DIGITAL 
 André Lemos fala sobre a cibercultura como “a cultura contemporânea 
marcada pelas tecnologias digitais” (LEMOS, 2003, p.1-3), pelo fato da internet ter 
adicionado à comunicação novas maneiras de interação entre os usuários. 
 Desde que foi liberada para uso doméstico, a internettem mantido esta 
cultura conforme as tecnologias se desenvolvem em torno da interação entre 
usuários e o uso que estes têm feito da rede. De websites a redes sociais 
monitoradas via celular e demais aparelhos móveis, a cibercultura se transforma de 
maneira a expressar os valores suportados pela liberdade que a internet proporciona 
e as experiências dos usuários com novas plataformas.
 A cultura contemporânea apoia-se nas tecnologias digitais como Lemos 
afirma, pelo fato delas se tornarem cada vez mais essenciais ao ser humano e seu 
convívio em sociedade.O conceito de Lemos lembra o que McLuhan afirmou no 
século passado, o meio é a mensagem. 
Numa cultura como a nossa, há muito acostumada a dividir e estilhaçar 
todas as coisas como meio de controlá-las, não deixa, às vezes, de ser um 
tanto chocante lembrar que, para efeitos práticos e operacionais, o meio é a 
mensagem. Isto apenas significa que as conseqüências sociais e pessoais 
de qualquer meio — ou seja, de qualquer uma das extensões de nós 
mesmos — constituem o resultado do novo estalão introduzido em nossas 
vidas por uma nova tecnologia ou extensão de nos mesmos (MCLUHAN, 
ano, p.21).
4.1 A CAUDA LONGA
 Chris Anderson define o conceito de cultura de nicho a partir de estudos sobre 
os gráficos de consumo do mercado fonográfico, que apresentam a popularidade 
dos produtos. No alto da curva de consumo ficam os hits, os produtos exaltados pela 
mídia a ponto de se tornarem líderes de vendas, e no ponto descendente da curva 
ficam os não-hits definidos como todos os outros produtos que, mesmo sem o 
incentivo da cultura de massa, acabam sendo consumidos, formando uma linha 
constante nas estatísticas chamada pelo autor de cauda. A teoria da Cauda Longa 
consiste em mostrar que atualmente, diferente das décadas anteriores, devido ao 
desenvolvimento do comércio eletrônico e das tecnologias existe maior variedade de 
35
produtos para consumir, e o acesso a esses novos produtos tem facilitado a busca 
de alternativas ao mainstream antes da curva. 
FIGURA 3 
Os consumidores estão mergulhando de cabeça nos catálogos, para vasculhar 
a longa lista de títulos disponíveis, muito além do que é oferecido na 
Blockbuster Video e na Tower Records. E quanto mais descobrem, mais 
gostam da novidade. A medida que se afastam dos caminhos conhecidos, 
concluem que suas preferências não são tão convencionais quanto supunham 
(ou foram induzidos a acreditar pelo marketing, pela cultura de hits ou 
simplesmente pela falta de alternativas. Os dados sobre vendas e as 
tendências desses serviços e de outros semelhantes revelam que a economia 
emergente do entretenimento digital será radicalmente diferente da que 
caracterizava o mercado de massa. Se a indústria do entretenimento no século 
XX baseava-se em hits, a do século XXI se concentrará com a mesma 
intensidade em nichos. (ANDERSON, Chris. p.09-10, 2006)
 Anderson aplica sua teoria nas paradas de vendas de músicas em formato 
digital na loja comandada pela Apple, o aplicativo iTunes. Através do gadget são 
comercializadas músicas, vídeos e ebooks, e todos os artistas tem seu espaço. A 
cauda se forma quando o usuário expõe seu gosto musical por completo através do 
36
acesso e compra tanto dos hits como das músicas que não são hits mas que de 
alguma forma agrada e assimila-se ao usuário. 
 Desde seu lançamento em 2010, o catálogo dos Beatles em formato digital 
tem mantido antigos hits do grupo em números constantes de downloads, de forma 
a caracterizar uma cauda longa no histórico de consumo da banda. Além dos discos, 
outras mídias produzidas pelo grupo tem sido relançados ao mercado nos mais 
diversos formatos: DVD’s, Blu-rays, pen drives, e o mais recente vinil. A constante 
exploração do material deixado pelo legado dos Beatles é um fator crucial na cauda 
longa.
 Desde sua criação após a morte de Brian Epstein em 1967, a Apple Corps 
visava organizar a parte burocrática de administração da banda e suas músicas, 
garantindo a eles total autonomia sobre o grupo como negócio. Nos últimos anos de 
existência da banda, todas as suas produções foram vendidas sob este selo. Em 
1976 foi fundada a Apple Computer Inc, que apesar do nome ser o mesmo e o seu 
fundador ser beatlemaníaco, não havia relação alguma com o grupo já dissolvido na 
época.
 Com o fim da banda em 1970 e o fim da sociedade entre os integrantes em 
1975, a Apple Corps seguiu sob controle da EMI e Neil Aspinall, empresário 
responsável pelas turnês do grupo. 
 Pelo fato das marcas levarem o mesmo nome, desde 1978 lutas judiciais tem 
ocorrido, um acordo chegou a ser feito em 1981 quando a Apple Computers se 
comprometeu a não se envolver na indústria musical. Em 2001 a já consolidada 
marca de computadores Apple lançou no mercado o primeiro iPod, aparato 
tecnológico que permitia compartilhamento de músicas adquiridas digitalmente 
através de seu aplicativo iTunes, voltando com as disputas e polêmicas em torno do 
uso do nome Apple. Em 2007 um novo acordo foi feito onde a Apple Inc (novo nome 
para a marca que agora não vende apenas computadores) permanece como dona 
do nome, marcas e imagens relacionadas à Apple, licenciando para a Apple Corps o 
uso de algumas destas. Em 2010 foi anunciada a disponibilidade do acervo 
completo dos Beatles no iTunes, sendo até hoje um dos principais recordes de 
downloads, os números de na primeira semana que o catálogo foi disponibilizado na 
37
web foram de 450mil álbuns e mais de 2 milhões de músicas avulsas vendidas 
segundo o site Technoblog em novembro de 2010. 
4.2 BEATLEMANIA 2.0: QUEM CONSOME BEATLES HOJE?
 O público dos Beatles atualmente se divide entre os fãs que acompanharam a 
trajetória da banda enquanto cresciam e os filhos e netos dos fãs que fizeram parte 
da Beatlemania e buscam manter a memória da banda através de pesquisas e 
fóruns online. 
 Observa-se o fato dos fãs mais antigos que utilizam a internet para buscar 
registros da época que viveram, encontrarem através das pesquisas dos mais 
jovens criando um conflito de gerações. Os públicos de consumo podem ser 
separados entre os fãs mais velhos, os Baby boomers - pessoas mais velhas que 
encontram-se em fase de adaptação com as tecnologias e a cultura da internet, e os 
mais jovens pertencentes à geração Y, que segundo Daniel Portillo Serrano (2010) 
“Ao contrário do que muitos pensam, não se refere exatamente a uma legião de 
adolescentes, mas sim a uma "determinada" geração, nascida entre os anos 1980 e 
2000.” A internet é o veículo mais utilizado e que mais mobiliza essa geração,
A Internet, emails, redes de relacionamento, recursos digitais, fizeram com que 
a geração Y fizesse milhares de amigos ao redor do mundo, sem ao menos 
terem saído da frente de seus computadores. A mobilidade nas comunicações 
é outra característica associada ao consumo da Geração Y (SERRANO, 2010).
 A diferença entre os fãs Y e os Baby Boomers demonstrarem seu apreço pela 
banda cria uma situação de tensão entre os usuários participantes das 
comunidades, como conta EdCarlos 
(...) acho que, por terem vivido em outros tempos, com outras tecnologias e 
com outra velocidade de informação, os fãs mais velhos custam a se dar bem e 
muitas vezes ignoram a paixão dos mais novos. Outro problema é a dificuldade 
que se tem de discutir nos fóruns, porque na linguagem escrita a gente não 
sabe a entonação em que a pessoa fala. Às vezes acontecem brigas sérias por 
pouca coisa. Outro problema é querer diferenciar "velha beatlemania" e "nova 
beatlemania". É muita bobagem isso. Muitos fãs de 14, 15 anos já leram mais 
livros sobre os beatles do que os fãs da época, devido às dificuldades de 
informação. Alguns fãs mais velhos também não se adaptam à tecnologia. 
Parece que se espantam com a evolução dos grupos de relacionamento. Aí 
junta isso a um pouco de "orgulho" por ter sido daquela época e à falta de 
paciência com a nova geração epronto: temos uma panela de pressão.
38
 Apesar das comunidades e fóruns concentrarem as discussões sobre o 
grupo, são os blogs responsáveis por dissipar as notícias e informações, novas e 
antigas sobre os Beatles. Muitos dos tópicos discutidos nos fóruns tem seus 
assuntos provenientes dos blogs. De acordo com Amaral e Recuero (2009) 
O termo “weblog” foi primeiramente usado por Jorn Barger, em 1997, para 
referir-se a um conjunto de sites que “colecionavam” e divulgavam links 
interessantes na web (Blood, 2000), como o seu Robot Wisdom. Daí o 
termo “web” + “log” (arquivo web), que foi usado por Jorn para descrever a 
atividade de “logging the web”.
	

 Os blogs e sites que centralizam as pesquisas e novidades beatlemaníacas 
no Brasil são o blog The Beatles College e o Portal Beatles Brasil. O primeiro é 
colaborativo, ou seja, voluntariamente qualquer pessoa pode escrever, segundo o 
criador do blog Ed Carlos a “proposta é juntar o que há de interessante sobre a 
banda, já publicado na rede, notícias atualizadas, além das colunas de uma equipe 
de amigos especializados em assuntos específicos sobre o quarteto de Liverpool 
(vinis, shows, fotos, datas históricas, material não lançado, etc.)”. O Portal Beatles 
Brasil tem como foco reunir notícias sobre a banda e os integrantes, além de apoiar 
os movimentos de fãs brasileiros que pedem por shows de Paul McCartney em sua 
cidade.
 A identificação do público com a plataforma blog independe da geração 
pertencente, já a participação do usuário no blog consiste em comentar, compartilhar 
em suas redes e até mesmo enviar material próprio para fazer parte do conteúdo. 
Amaral e Recuero (2009, p. 35-36) comentam que
Blogs como meios de comunicação implicam também sua visibilidade 
enquanto meios de práticas jornalísticas, seja através de relatos opinativos, 
seja através de relatos informativos. No conceito estrutural, por outro lado, 
permite apreender-se o blog enquanto formato, abrindo-se para múltiplos 
usos e apropriações.(...)Independentemente de os blogs serem 
interpretados sob um viés estrutural, funcional ou como artefato cultural, 
eles consistem em suportes para a comunicação mediada por computador, 
ou seja, permitem a socialização on-line de acordo com os mais variados 
interesses.
 As informações concentradas nos blogs e sites são divulgadas e discutidas 
em fóruns e redes sociais, que segundo Recuero (2009 p.102-103)
A grande diferença entre sites de redes sociais e outras formas de 
comunicação mediada por computador é o modo como permitem a 
39
visibilidade e a articulação das redes sociais, a manutenção dos laços 
sociais estabelecidos no espaço offline.
 Ou seja, o compartilhamento das informações é consequência da 
comunicação articulada das redes sociais. No Brasil, as redes sociais que 
concentram a Beatlemania são o Twitter e o Facebook, este último a substituir o 
Orkut como principal fórum de discussões sobre o grupo. 
As comunidades são bem mais interessantes por que proporcionam debates 
entre pessoas com a mesma afinidade, facilitando que se faça amigos. No 
Orkut conheci pessoalmente muitas pessoas por causa das comunidades, 
fizemos Orkontros, fomos a Shows, nos reunimos para falar do assunto. Com o 
advento (ou crescimetno) do Facebook, algumas pessoas me sugeriram levar a 
comunidade para o Facebook, e foi o que eu fiz no final do ano passado.(Lúcia 
Zanetti)
 Nos fóruns não só as notícias são comentadas como a interação entre os 
autores dos artigos publicados nos blogs e os leitores torna-se maior, devido a 
facilidade do acesso às informações e conexões entre usuários. 
 A cibercultura trouxe aos usuários novas formas de expressar suas opiniões, 
compartilhar informações, e a partir disso criar novas mídias. A mistura de imagens e 
sons transformam-se em vídeos caseiros, paródias ou versões novas das músicas 
que até meados dos anos 2000 estavam disponíveis apenas em discos ou fitas, 
imagens conhecidas mudam de conotação após rápidas adições de frases, falas, 
balões ou até mesmo alterações complexas com o auxílio de programas específicos. 
André Lemos define esses cruzamentos de culturas e mídias como remix.
Por remix compreendemos as possibilidades de apropriação, desvios e criação 
livre (que começam com a música, com os DJ’s no hip hop e os Sound 
Systems) a partir de outros formatos, modalidades ou tecnologias, 
potencializados pelas características das ferramentas digitais e pela dinâmica 
da sociedade contemporânea. (LEMOS, p.02, 2005)
 No universo Beatles da década de 1960, a cultura de massa contribuiu para 
que o fanatismo envolvesse o consumo não só das músicas como aparência e 
comportamento dos integrantes, como consequência a cultura de nicho trouxe para 
o digital o consumo da música através dos meios oficiais de distribuição como o 
iTunes e demais lojas virtuais. 
40
 A imagem da banda tem sido explorada de forma diferente, em vez de 
compartilhar apenas as imagens e suas histórias muitas têm sido alteradas, 
ganhando novos contextos e finalidades. A página de compartilhamentos do 
Facebook chamada B1toum4nia cria diálogos parodiando os integrantes do grupo, 
adicionando esteriótipos de acordo com suas feições nas fotos, tornando-os memes. 
Recuero (2009) cita as definições de Dawkins (2001) sobre o estudo dos memes “O 
conceito de memes foi cunhado por Richard Dawkins (2001), que discutia a cultura 
como produto da replicação de idéias, que ele chamou memes”.
 O fato de pegar uma obra e unir a outros estilos ou criar novas roupagens em 
cima da existente não é novidade, porém com os meios digitais o alcance do remix 
tornou-se mais amplo.
A novidade não é a recombinação em si mas o seu alcance. A recombinação e 
a re-mixagem têm dominado a cultura ocidental pelo menos desde a segunda 
metade do século XX, mas adquirem aspectos planetários nesse começo de 
século XXI. Em recente artigo para a revista “Wired”, o escritor de ficção-
científica William Gibson mostrou como a prática do “cut and past” configurou 
as vanguardas artísticas do século passado. Mais ainda, a nossa cultura não é 
uma cultura da simples apropriação ou empréstimo, da produção, do produto 
ou da audiência, mas uma cultura da participação, e essa participação se dá 
pelo uso e livre circulação de obras (LEMOS, p.3, 2005).
 O caso mais conhecido de remix envolvendo Beatles nos meios digitais é o 
da banda Beatallica, onde os integrantes criaram versões próprias para as músicas 
dos Beatles com arranjos e referências ao Metallica. O grupo ficou conhecido na 
internet no mesmo ano que os integrantes do Metallica e as grandes gravadoras 
processaram o primeiro software de compartilhamento de músicas no formato de 
mp3, o Napster. Em entrevista concedida por e-mail em 01/11/2012, o baixista Kliff 
McBurtney comenta que as músicas foram divulgadas sem o conhecimento do 
grupo.
O impacto que as músicas tiveram on-line foi um grande choque, uma vez que 
não tínhamos a menor idéia de que atingiram o mundo todo. Elas foram criados 
para uma festa/show aqui em Milwaukee chamado Spoof Fest, e jamais era 
para ir mais longe do que a música incidental no show. Com a popularidade 
41
das canções, tivemos que formar uma banda ao vivo para trazer a música para 
as massas.8

 Na comunidade Beatles College, os usuários gravaram suas versões das 
músicas dos Beatles, recriando álbum a álbum colaborativamente, ou seja, os 
usuários da comunidade produzem e gravam os discos, EdCarlos comenta que a 
iniciativa surgiu em 2009 quando foi sugerido que o disco Abbey Road fosse recriado 
em homenagem aos 40 anos de seu lançamento, como o resultado foi satisfatório a 
comunidade resolveu manter o projeto e gravar os demais discos, o último álbum 
gravado foi o Rubber Soul (entrevista concedida por chat em 29/10/2012).
 Quando questionado sobre as diferenças na produção e compartilhamento de 
músicas em relação à época dos Beatles e do

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