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Compressores Centrífugos: Fundamentos de Operação 4445M-04 – Sistemas de Compressão Industrial Prof. Allan Valcareggi Morcelli • O emprego do princípio da conservação da quantidade de movimento, através da Teoria de Euler, permite-nos concluir, mediante algumas simplificações, que o “head” ou trabalho por unidade de massa cedido pelo compressor ao gás depende em primeira aproximação da vazão, rotação e características geométricas da máquina. Dados Fundamentais sobre a Performance dos Compressores Centrífugos 𝐻 = 𝑈2 2 − 𝑈2 ሶ𝑉2 𝐴2 𝑐𝑜𝑡𝑔 𝛽2 • Se admitirmos invariáveis os fatores rotação e características geométricas, chegamos a um comportamento do tipo descrito pela figura, onde o “head” varia de forma monotonicamente decrescente e linear com a vazão. • Esse padrão de comportamento é compatível com o que se observa na prática. Dados Fundamentais sobre a Performance dos Compressores Centrífugos • Uma outra característica importante do desempenho do compressor diz respeito à potência consumida durante a operação. • Sabemos que a potência é correspondente ao produto da vazão mássica pelo “head”. • Essas duas grandezas possuem comportamento antagônico seja qual for o tipo de compressor considerado, isto é, se uma aumenta a outra diminui. Dados Fundamentais sobre a Performance dos Compressores Centrífugos • Nos compressores centrífugos costuma prevalecer a tendência indicada na figura, com a potência variando no mesmo sentido que a vazão. • Essas conclusões de natureza qualitativa são de grande valia para a compreensão de vários aspectos relacionados ao funcionamento dos compressores centrífugos. Dados Fundamentais sobre a Performance dos Compressores Centrífugos Curvas Características e Ponto de Operação • Denominamos curva característica a representação gráfica do desempenho de compressores centrífugos. • O princípio construtivo dessas curvas é baseado na existência de uma correspondência entre head e vazão volumétrica aspirada, para cada rotação da máquina. • De acordo com o que foi visto antes, trata-se na verdade de uma aproximação, uma vez que é a vazão volumétrica descarregada pelo impelidor que está associada ao head. Curvas Características e Ponto de Operação • Admitindo, no entanto, que esse princípio seja exato, é suficiente identificar o head associado às condições do serviço pretendido para determinar, através das curvas características, a vazão de operação. • O procedimento inverso, isto é, partindo da vazão pretendida para chegar ao head como consequência, é útil algumas vezes, porém menos natural. Curvas Características e Ponto de Operação Por ora é interessante identificar quais são as características do sistema ou do serviço pretendido: - Pressão de sucção - Temperatura de sucção - Pressão de descarga - Natureza do gás • Essas são as variáveis independentes de nossa maior conveniência. Em função delas deve ser estabelecido o “head” e, em decorrência, a vazão de operação. Head e Rendimento Termodinâmico • Há um elemento complicador em relação ao estabelecimento do ponto de operação de um compressor centrífugo através de curvas do tipo head x vazão. • Ocorre que não há uma correspondência unívoca entre as características do sistema e a energia efetivamente fornecida ao gás durante o processo de compressão. • Isso se deve aos diferentes graus de não-idealidade sob os quais o processo pode ser conduzido, uma vez que as trocas térmicas, capazes de produzir efeito semelhante, podem ser consideradas praticamente inexistentes nos compressores dessa espécie. Head e Rendimento Termodinâmico • Vimos como é possível estarem diferentes processos associados às mesmas características do sistema e consequentemente aos mesmos estados termodinâmico inicial e nível de pressão final do gás, conforme sugere a figura. • Cada um deles se caracteriza por um diferente grau de não-idealidade e leva a um determinado nível de energia final do gás (que, em se tratando de processos adiabáticos, pode ser associado à entalpia). Head e Rendimento Termodinâmico • Foi também mostrado como estabelecer o head termodinâmico ideal (Hth) associado a todos esses processos. • Basta imaginar um processo ideal qualquer consumado entre o estado inicial e nível de pressão final considerados para então calcular, ao longo de tal processo: 𝐻𝑡ℎ = න𝑣 𝑑𝑝 Head e Rendimento Termodinâmico • Ao mesmo tempo, podemos relacionar o grau de não-idealidade referente a cada um dos processos reais com o respectivo rendimento termodinâmico (ηth), dado por: 𝜂𝑡ℎ = 𝐻𝑡ℎ 𝐻 sendo H o head real efetivamente cedido pelo compressor ao gás. Head e Rendimento Termodinâmico • Para que possamos proceder à integração da expressão que calcula o head termodinâmico, é preciso formular uma hipótese acerca de relação entre o volume específico (v) e a pressão (p) ao longo do processo ideal. • Sendo o processo real adiabático, pode parecer óbvia a escolha da equação teórica adiabática para um gás perfeito: 𝒑𝒗𝒌 = 𝒄𝒐𝒏𝒔𝒕𝒂𝒏𝒕𝒆 Nesse caso, resulta o que se denomina head ideal adiabático (Hk), que vale: 𝐻𝑘 = 𝑘 𝑘 − 1 𝑅𝑇1 𝑝2 𝑝1 𝑘−1 𝑘 − 1 Head e Rendimento Termodinâmico Na verdade, é mais utilizada uma forma de expressão do head termodinâmico que se baseia na expressão politrópica: 𝒑𝒗𝒏 = 𝒄𝒐𝒏𝒔𝒕𝒂𝒏𝒕𝒆 sendo o expoente n escolhido de forma que a curva assim constituída passe pelos estados inicial e final do processo real. Como o processo real, apesar de adiabático, envolve não-idealidades, o valor de n será superior ao de k. Fica assim instituído o head ideal politrópico (Hp): 𝐻𝑝 = 𝑛 𝑛 − 1 𝑅𝑇1 𝑝2 𝑝1 𝑛−1 𝑛 − 1 Head e Rendimento Termodinâmico • Ao lidar com sistemas em que a hipótese de gás perfeito se mostre muito afastada da realidade, é costume multiplicar as equações anteriormente apresentadas por um fator de compressibilidade médio Zm, calculado através da média aritmética entre os valores correspondentes à sucção e à descarga, ou mesmo pelo fator de compressibilidade Z1, medido na sucção. • Há procedimentos mais exatos, porém mais complexos que podem ser adotados. • Lembramos, no entanto, que o head termodinâmico é algo puramente convencional, de modo que esses recursos, embora possam trazer algumas vantagens, não são imprescindíveis. Head e Rendimento Termodinâmico • Deve ficar clara a conveniência de expressar as curvas características do compressor em termos do head termodinâmico e rendimento termodinâmico. • Referimo-nos ao fato de poder relacionar o head termodinâmico com as características do sistema e determinar assim o ponto de operação. Head e Rendimento Termodinâmico • As curvas de head e rendimento termodinâmico, sejam calculados em base adiabática ou politrópica, tem o aspecto mostrado na figura. • Se vê também, para o efeito de referência, em linha tracejada, o head real. • Nas abscissas aparece a vazão volumétrica aspirada ( ሶ𝑽𝟏 ), que é a forma mais conveniente de representação da vazão, conforme visto anteriormente. Head e Rendimento Termodinâmico • A curva head termodinâmico mostra um comportamento decrescente com a vazão, à exceção de um trecho situado na sua porção mais à esquerda, propositalmente não mostrado. • A curva de rendimento termodinâmico passa por um máximo que é muito próximo da condição de ângulo de incidência mais favorável do fluxo nas pás do impelidor. Head e Rendimento Termodinâmico • Sendo o compressor centrífugo operado, na grande maioria dos casos, com rotação variável, é interessante incluir essa possibilidade na representação das curvas de head e rendimento termodinâmico. • Utiliza-se então o modelo de representação indicado na figura, com linhas de igual rendimento unindo pontos pertencentes às curvas correspondentes às diversas rotações. Determinação Experimental das Curvas Características • O teste de performance ou estabelecimento formal das curvas de head e rendimento termodinâmico exige a realização de uma série de medidas relativas ao sistemade compressão, além de uma instalação que proporcione algum recurso para variar arbitrariamente o ponto de operação do compressor. Determinação Experimental das Curvas Características • Uma configuração típica com esse propósito é mostrada na figura, sendo constituída pelos seguintes elementos: - Medidores de vazão, pressão e temperatura instalados na linha de sucção do compressor. - Medidores de pressão e temperatura instalados na linha de descarga do compressor. - Medidor de rotação do compressor. - Acionador dotado de mecanismo de ajuste de rotação. - Válvula de controle capaz de simular a variação de carga (variação de vazão) por parte do sistema. É ainda necessário o conhecimento da composição do gás, o que pode ser feito por análise cromatográfica. Determinação Experimental das Curvas Características • O procedimento básico é constituído pelos seguintes passos: a) Atuação simultânea no acionador e na válvula, no sentido de selecionar determinados valores de rotação e de vazão. Coleta experimental de dados de operação. Determinação Experimental das Curvas Características b) Cálculo do head termodinâmico na base escolhida, adiabática ou politrópica. Em se tratando de um gás perfeito temos: 𝐻𝑘 = 𝑘 𝑘−1 𝑅𝑇1 𝑝2 𝑝1 𝑘−1 𝑘 − 1 ou 𝐻𝑝 = 𝑛 𝑛−1 𝑅𝑇1 𝑝2 𝑝1 𝑛−1 𝑛 − 1 onde, para o cálculo do expoente n podemos empregar: 𝑛 − 1 𝑛 = ln 𝑇2 𝑇1 ln 𝑝2 𝑝1 Determinação Experimental das Curvas Características c) Cálculo do head real, que para um gás perfeito é dado por: 𝐻 = 𝑅 𝑘 𝑘 − 1 (𝑇2 − 𝑇1) d) Cálculo do rendimento termodinâmico: 𝜂𝑡ℎ = 𝐻𝑡ℎ 𝐻 Determinação Experimental das Curvas Características: Exemplo de Aula 1 Na condição de teste de uma determinada instalação, foram obtidas as seguintes leituras: p1 = 200 kPa T1 = 57 °C P2 = 823 kPa T2 = 230 °C Uma análise cromatográfica cuja amostragem foi recolhida durante o teste nos permite estabelecer os seguintes valores para a massa molar do gás e respectivo expoente adiabático: MM = 27,44 k = 1,30 Determine o head politrópico e o rendimento politrópico relativos a essa condição de operação. Determinação do Ponto de Operação • Essa é uma atividade que se baseia na utilização das curvas características, constituindo-se no procedimento inverso ao levantamento experimental das curvas características. • Devemos agora partir de curvas já conhecidas e nelas identificar um ponto que corresponda a uma dada circunstância operacional, estabelecendo em resumo as características de desempenho do compressor, que são a vazão, a potência e a temperatura de descarga. Determinação do Ponto de Operação • A sequência de cálculos a ser adotada depende da base em que sejam fornecidas as curvas características. • Tendo sido empregada a base adiabática, o cálculo é direto e envolve os seguintes passos, em se tratando da compressão de um gás perfeito: Determinação do Ponto de Operação: Base adiabática a) Cálculo do head adiabático, a partir das características do sistema: 𝐻𝑘 = 𝑘 𝑘 − 1 𝑅𝑇1 𝑝2 𝑝1 𝑘−1 𝑘 − 1 Determinação do Ponto de Operação: Base adiabática b) Entrada do valor de Head adiabático calculado na curva correspondente à rotação de trabalho (N) Determinação da vazão e do rendimento adiabático, como indica a figura. k k Determinação do Ponto de Operação: Base adiabática c) Cálculo da potência do compressor e da temperatura de descarga a partir das relações: ሶ𝑊𝐶 = ሶ𝑚 𝐻𝑘 𝜂𝑘 𝜂𝑚𝑒𝑐 e 𝑇2 = 𝑇2𝑆− 𝑇1 𝜂𝑘 + 𝑇1 onde 𝑇2𝑆 = 𝑇1 𝑝2 𝑝1 𝑘−1 𝑘 Determinação do Ponto de Operação: Base politrópica Se, no entanto, as curvas tiverem sido fornecidas em base politrópica, o procedimento, embora análogo, é iterativo, face ao não- conhecimento preliminar do expoente n. a) Formulação de uma estimativa inicial para o rendimento politrópico. SUGESTÃO: Adotando o valor máximo previsto pela curva, será obtida convergência satisfatória em duas ou três tentativas. Determinação do Ponto de Operação: Base politrópica b) Cálculo do expoente n pela expressão 𝑛 − 1 𝑛 = 𝑘 − 1 𝑘 𝜂𝑝 c) Cálculo do head politrópico 𝐻𝑝 = 𝑛 𝑛 − 1 𝑅𝑇1 𝑝2 𝑝1 𝑛−1 𝑛 − 1 Determinação do Ponto de Operação: Base adiabática d) Entrada na curva correspondente à rotação de trabalho (N), identificando a vazão e o rendimento politrópico. Caso o valor inicialmente arbitrado para o rendimento seja significativamente diferente do que acaba de ser encontrado, adotar esse último como nova tentativa e repetir o procedimento desde o início. k k Determinação do Ponto de Operação: Base politrópica e) Tendo sido alcançada convergência dentro do limite de erro pretendido, resta o cálculo da potência e da temperatura de descarga: ሶ𝑊𝐶 = ሶ𝑚 𝐻𝑝 𝜂𝑝 𝜂𝑚𝑒𝑐 e 𝑇2 = 𝑇1 𝑝2 𝑝1 𝑛−1 𝑛 Determinação do Ponto de Operação: Exemplo de Aula 2 As curvas representadas na figura representam o desempenho de um compressor centrífugo a ser instalado num sistema que deverá operar nas seguintes condições: p1= 200 kPa T1 = 57 °C p2= 750 kPa MM = 27,44 k = 1,30 Estime vazão, potência e temperatura de descarga (considere 𝜼𝒎𝒆𝒄 = 0,98 para fins de cálculo de potência). Limites Operacionais • Restrições impostas ao funcionamento dos compressores centrífugos sob determinadas circunstâncias acabam por delimitar uma área útil de operação sobre o conjunto de curvas características, tal como indica a figura. • A envoltória dessa área é formada pelos limites superior e inferior, respectivamente correspondentes à máxima e mínima rotações permissíveis em operação contínua, e mais os limites à esquerda e à direita, definidos pela ocorrência de fenômenos conhecidos respectivamente como “surge” e “stonewall”. Limites Operacionais: Limites de rotação • A máxima rotação em regime contínuo de operação é definida em função do nível de esforços a que é submetido o conjunto rotativo. • A rotação mínima deve se situar acima da primeira velocidade crítica de vibração. • De acordo com o standard 617 do API, que regulamenta a construção de compressores centrífugos para indústria do petróleo, esses limites devem corresponder respectivamente a 105 % da maior rotação e 85 % da menor rotação requeridas pelas condições especificadas para a máquina. Limites Operacionais: Limite de “surge” • O surge é um fenômeno caracterizado pela instabilidade do ponto de operação e ocorre quando a vazão que o sistema se mostra capaz de absorver é inferior a um certo valor mínimo. • Manifesta-se através de oscilações de vazão e pressões do sistema em geral acompanhadas de forte ruído e intensa vibração do compressor, podendo levar rapidamente a uma falha mecânica. Limites Operacionais: Limite de “surge” • Em vista disso, torna-se absolutamente necessária a instalação de um dispositivo de controle automático que proteja o compressor impedindo que esse limite seja atingido. Veremos logo adiante como isso é possível. https://youtu.be/OT8Y0DeQ_cw https://youtu.be/OT8Y0DeQ_cw Limites Operacionais: Limite de “surge” • Uma explicação simplificada para o surge pode ser obtida associando-o ao ponto de máximo da curva head termodinâmico x vazão, que teria um ramo virtual, representado em linha tracejada na figura. • Dizemos virtual porque esse trecho é constituído por condições instáveis de funcionamento. Limites Operacionais: Limite de “surge” • Consideremos, por exemplo, o sistema indicado na figura, no qual um compressor centrífugo é sucedido por um reservatório e uma válvula de controle. • Um pequeno fechamento dessa válvula proporciona imediata queda na vazão que passa através dela imprime uma tendência de elevação na pressão do reservatório, aumentando o head termodinâmico relativo ao sistema. • Admitindo que o compressor opere no ramo estável de sua curva, ocorrerá um deslocamento do ponto de operação para a esquerda, buscando o novo ponto de equilíbrio. Limites Operacionais: Limite de “surge” • Prosseguindo no fechamento da válvula, haverá um momentoem que a pressão de descarga e, consequentemente, o head termodinâmico relativo ao sistema atingirá um valor superior ao máximo que o compressor é capaz de desenvolver, e que vem a corresponder ao limite de surge. Limites Operacionais: Limite de “surge” • Incapaz de descarregar o gás sob essas condições, o compressor admitirá um pequeno refluxo suficiente para fazer cair a pressão no meio de descarga, retomando a seguir o funcionamento normal. • O abaixamento da pressão de descarga fará com que o compressor, de início, opere com vazão muito elevada. Não tendo sido desfeita a manobra que levou à instabilidade, isto é, mantida a posição da válvula, o sistema não será capaz de absorver toda a vazão, e o compressor caminhará de novo em direção ao surge, dando continuidade ao funcionamento cíclico que caracteriza o fenômeno. Limites Operacionais: Limite de “surge” • Através de raciocínio semelhante, pode-se concluir que, se fosse possível colocar o compressor numa condição inicial à esquerda do limite de surge, qualquer tipo de atuação na válvula, por mais leve que fosse, levaria à instabilidade. • Existe um limite de surge para cada rotação de operação, em geral entre 30 % e 60 % da vazão de projeto. O lugar geométrico desses pontos sobre um gráfico head x vazão é denominado linha limite de surge e seu aspecto mais comum é mostrado na figura. Limites Operacionais: Limite de Stonewall • Compressores centrífugos industriais são projetados para funcionar com regime de escoamento subsônico. • Se a vazão de operação é elevada, no entanto, é possível que a velocidade de escoamento do gás atinja o valor sônico em algum ponto no interior do compressor, usualmente na entrada das pás do impelidor, caracterizando o que se denomina limite de Stonewall. Limites Operacionais: Limite de Stonewall • O resultado prático desse fato é a impossibilidade de aumentar a vazão a partir desse ponto, além de uma acentuada queda na eficiência do processo de compressão, como indicado na figura. • O limite de Stonewall não representa nenhuma ameaça à integridade do compressor, mas pode se constituir em um grave inconveniente caso venha a ocorrer dentro da faixa de vazão necessária à operação do sistema. Limites Operacionais: Limite de Stonewall • Serviços com gases dotados de alto peso molecular ou em baixas temperaturas merecem especial atenção quanto a esse aspecto, pois a velocidade sônica nessas condições é baixa, sendo alcançada em vazões mais reduzidas. • Ao contrário, quando se trabalha com gases leves e aspirados a temperaturas normais, o limite de Stonewall pode estar muito à direita, correspondendo a vazões totalmente fora das perspectivas de utilização do compressor e por isso nem mesmo sendo incluído na representação das curvas características. Fundamentos do Controle de Capacidade • O controle de capacidade é empregado, como vimos, para manter constante o valor de uma variável de processo mediante atuação no compressor. A variável controlada é quase sempre escolhida entre a pressão de sucção, a pressão de descarga e a vazão mássica e os métodos de atuação mais empregados são, pela ordem de importância: - Variação de rotação; - Estrangulamento na sucção; - Mudança no ângulo das pás guias. A seguir, será feita uma análise rápida de tais métodos. Fundamentos do Controle de Capacidade: Variação de Rotação • É o método mais utilizado, sendo adequado a todos os acionadores usualmente empregados em instalações industriais. • Comparativamente com outros tipos de compressores, os centrífugos mostram grande sensibilidade da vazão às variações de rotação (devido à pouca inclinação das curvas head-vazão em relação à horizontal) e isso é favorável até certo ponto porque permite que os acionadores operem em condições de elevada eficiência e numa faixa a salvo de quaisquer velocidades críticas de vibração. Fundamentos do Controle de Capacidade: Variação de Rotação • O objetivo de manter constante o valor de uma variável de processo exige do controle de capacidade uma atitude que pode sempre ser traduzida por um aumento ou diminuição de rotação, habilitando ao uso desse método. Variação de Rotação: Exemplo de Aula 3 O compressor centrífugo cujas curvas características são mostradas na figura opera num sistema sob as seguintes condições: p1 = 200 kPa T1 = 57 °C p2 = 1071 kPa O gás é uma mistura de hidrocarbonetos para a qual MM = 27,44 k = 1,3 A rotação de trabalho utilizada para efetuar o controle de pressão de sucção se encontra no momento a 5000 rpm. Sabendo que uma manobra no processo levará a pressão de descarga a 892 kPa sem que nenhuma outra perturbação ocorra, antecipe o comportamento da rotação. Fundamentos do Controle de Capacidade: Estrangulamento na sucção • Esse é o método mais empregado quando o acionador do compressor apresenta qualquer dificuldade com relação à variação de rotação. • Nesse método, o controle se realiza através da atuação em uma válvula instalada na tubulação de sucção do compressor, como mostra o esquema da figura. Fundamentos do Controle de Capacidade: Estrangulamento na sucção • O objetivo da válvula é estabelecer uma perda de carga no escoamento, gerando artificialmente uma diferença entre a pressão de sucção do sistema (p1) e a pressão em que o fluido é efetivamente captado pelo compressor (p1’). • Assim, à medida em que a válvula vai sendo fechada, reduz-se a pressão de sucção efetiva, aumentando o head termodinâmico imposto ao compressor e forçando a queda de sua vazão. O contrário ocorre quando há abertura da válvula. Fundamentos do Controle de Capacidade: Estrangulamento na sucção • É interessante ainda destacar a analogia entre o estrangulamento na sucção e a variação de rotação: O fechamento da válvula de estrangulamento produz um efeito semelhante à redução de rotação, enquanto a sua abertura é análoga ao aumento da rotação. • As principais inconveniências do método de estrangulamento na sucção residem nos aumentos do trabalho de compressão por unidade de massa e da temperatura de descarga do gás, em virtude do aumento provocado na relação de compressão efetiva do compressor. Variação de Rotação: Exemplo de Aula 4 Admita que o compressor mencionado no Exemplo de Aula 3 seja controlado por estrangulamento na sucção, com sua rotação sendo mantida constante a 5000 rpm. Calcule o Δp que terá sido imposto ao escoamento quando for executada no processo a manobra pretendida. p1 = 200 kPa T1 = 57 °C p2 = 1071 kPa p2 = 892 kPa MM = 27,44 k = 1,3 Variação de Rotação: Exemplo de Aula 4 Fundamentos do Controle de Capacidade: Mudança do ângulo das pás guias • Alguns compressores centrífugos possuem, na entrada do primeiro estágio, um dispositivo de pás fixas com ângulo de orientação variável no sentido de produzir uma pré-rotação do escoamento e obter assim variação de capacidade. • Para explicar esse procedimento, precisamos nos reportar à equação que mostra a relação entre a transferência de energia em um impelidor centrífugo e as características do escoamento através dele: 𝑯 = 𝑼𝟐𝒄𝒖𝟐 −𝑼𝟏𝒄𝒖𝟏 Fundamentos do Controle de Capacidade: Mudança do ângulo das pás guias • A pré-rotação faz com que a velocidade de entrada do gás no impelidor não seja simplesmente radial, e nesse caso a projeção Cu1 existirá de fato. • Conforme a pré-rotação seja positiva ou negativo, isto é, no mesmo sentido da rotação ou em sentido contrário, haverá respectivamente diminuição ou aumento da energia transferida ao gás, resultando no comportamento ilustrado pela figura. Fundamentos do Controle de Capacidade: Mudança do ângulo das pás guias • A pré-rotação negativa é em geral muito limitada porque aumenta as velocidades de escoamento através do impelidor, que nas condições de projeto já se encontram bastante próximas dos limites aceitáveis. • A pré-rotação positiva, mesmo podendo ser plenamente exercida sem grandes inconvenientes, acaba por produzir pequeno efeito na capacidade dos compressores de múltiplos estágios,por atuar unicamente sobre o primeiro. • Esse é um método muito pouco usado, especialmente por exigir um equipamento oneroso e complicado para o posicionamento das pás. Fundamentos para Análise de Sistemas de Compressão • Vimos anteriormente que as curvas características possibilitam a previsão do comportamento de um compressor centrífugo em função da pressão e da temperatura de sucção, pressão de descarga e composição do gás. • Evidentemente, esses quatro elementos devem ser avaliados nos flanges de sucção e descarga do compressor ou, pelo menos, em distâncias muito próximas desses pontos, de modo que as variações sejam desprezíveis. Isso é necessário para haver compatibilidade com as condições para as quais as curvas foram estabelecidas. Fundamentos para Análise de Sistemas de Compressão • Ocorre que muitas vezes somos obrigados a analisar um sistema de compressão partindo de dados relativos ao funcionamento de equipamentos situados a uma certa distância do compressor. • Esses equipamentos são em geral aqueles mais significativos em relação ao processo ou os que são dotados de qualquer espécie de controle, o que nos permite estimar mais concretamente seus parâmetros de operação. Pressões, temperaturas e composições associadas a esses equipamentos serão diferentes dos valores observados nos flanges de sucção e descarga do compressor. Fundamentos para Análise de Sistemas de Compressão • Isso se deve aos efeitos de perda de carga, trocas térmicas ou até mesmo a ocorrência de processos físicos de transformação nos circuitos de sucção e descarga. • E o que explica a dificuldade no tratamento de situações desse tipo é o fato desses efeitos serem influenciados pela vazão circulante no sistema, a qual vem a ser um dos parâmetros de desempenho do compressor, que pretende-se determinar. Isso sugere um procedimento iterativo de cálculo como o que é resumido a seguir. Fundamentos para Análise de Sistemas de Compressão • Consideraremos o esquema da figura como referência, admitindo que sejam conhecidas a pressão, temperatura e composição no ponto 1’, que define o início do circuito de sucção e a pressão do ponto 2’, situado no extremo final adotado para o circuito de descarga. Fundamentos para Análise de Sistemas de Compressão a) Arbitra-se um valor para a vazão mássica circulante através do sistema, ሶ𝒎. b) Estima-se os valores de p1, T1 e da composição do gás medidos no flange de sucção do compressor a partir do conhecimento das características do circuito de sucção. c) Entrando nas curvas do compressor, determina-se a pressão p2 e a temperatura T2, medidas no flange de descarga. Fundamentos para Análise de Sistemas de Compressão d) A partir do conhecimento das características do circuito de descarga, calcula-se a pressão final p2’. e) Caso p2’ calculada seja diferente do valor p2’ conhecido, altera-se o valor inicial de ሶ𝒎 (em sentido contrário à variação pretendida para p2’) e repete-se o procedimento indicado, até obter convergência. Exemplo de Aula 5: Análise de Sistemas de Compressão O compressor centrífugo cuja curva característica fornecida (“curva 1”) é utilizado para efetuar o transporte de um gás entre a unidade produtora e uma unidade consumidora, ligados por uma tubulação de 3254 m de comprimento equivalente, 0,5 m de diâmetro e 0,014 de coeficiente de atrito. O gás é produzido a 200 kPa e 57 °C, possui peso molecular equivalente a 27,44 e expoente adiabático 1,30. Após a compressão, o gás é resfriado a 40 °C antes de entrar na tubulação. A pressão de recebimento na unidade consumidora é ajustada a 500 kPa. O compressor se situa na unidade produtora e gira a 4500 rpm (rotação da curva). Determinar a vazão transportada. Exemplo de Aula 5: Análise de Sistemas de Compressão • Sugestão: Considerar a hipótese de gás perfeito e adotar a seguinte fórmula para o cálculo da perda de carga na tubulação: ሶ𝑚 = 534,3 𝐷5 𝑀𝑀 (𝑝2 2 − 𝑝3 2) 𝑓 𝐿 𝑇 onde: ሶ𝑚 = vazão mássica em kg/min D = diâmetro da tubulação em m MM = massa molar do gás f = coeficiente de atrito L = comprimento da tubulação em m T = temperatura na entrada da tubulação em K p2 = pressão na entrada da tubulação em kPa p3 = pressão na saída da tubulação em kPa Exemplo de Aula 5: Análise de Sistemas de Compressão • O procedimento que acabamos de ilustrar equivale ao tradicional processo gráfico de determinação do ponto de operação. É possível também (e muitas vezes necessário) construir uma curva head-vazão associada ao sistema de compressão. • Para isso basta tomar valores arbitrários da vazão e calcular, pra cada um deles, o head referente às condições previstas nos flanges de sucção do compressor. • O ponto de operação será encontrado na intersecção da curva do sistema com a curva do compressor na rotação mais adequada ao processo (maior eficiência termodinâmica).
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