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Sócrates no banco dos réus

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jusbrasil.com.br
13 de Agosto de 2020
Sócrates no banco dos réus
(ou as várias versões de Sócrates)
O passado jurídico sempre traz à baila a reflexão sobre as relações
entre direito, história e filosofia. As narrativas sobre o julgamento de
Sócrates são menores do que realmente teria acontecido e, muitas
vezes, o narrador sofreu influências não somente do meio social em
que viveu, mas, sobretudo, do relativismo epistemológico.
Pois o leitor, com os olhos de hoje, ousa fazer a leitura do mundo
antigo e não está livre de sua época, conforme já advertiu Adam Schaff.
A filosofia da história permite questionamentos e persegue o passado,
enquanto a ação se perdeu no tempo. E o historiador, envolto em seu
estilo próprio, transita por entre diversas interpretações, seguindo a
narrativa os caminhos da imaginação.
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Entender o outro, a alteridade e a objetividade dos fatos são desafios
até hoje enfrentados. Percebemos que o tempo presente inventa o
passado justificando-se. E na miragem helênica identificamos
contradições no julgamento de Sócrates (que antes de ser condenado
pelos homens de seu tempo, fora condenado pela sua própria crença
em sua consciência).
Ao enfocar a biografia de Sócrates, mergulhamos em contradições.
Como homem, Sócrates fora reverenciado como um não conformista
que se rebelara contra a sociedade aberta, sendo admirador de
sociedades fechadas. Como ateniense, [1] desprezava a democracia e
elogiava Esparta.
Sócrates era filho do escultor Sofroniscos e da parteira Fenereta. Era
cidadão diligente, combateu na guerra, tendo salvado a vida de
Alcibíades. Casou-se com Xantipa, [2] a quem se apontava uma
reputação de rabugenta e mal-humorada e, por conta das intempéries
da esposa, passava muitas horas na rua. Proseava, perguntava e
desconcertava.
O método dialético[3] de Sócrates era a maiêutica ou “parto de ideias”,
em que o interlocutor descobre a verdade parindo o conhecimento.
Uma das características pessoais era o fato de ser irreverente, tendo
suscitado ódios e invejas que culminaram na acusação de impiedade.
A morte de Sócrates, por ter sido condenado a ingerir cicuta, [4] é um
traço definidor na história da filosofia, provocando inúmeras reações
eloquentes.
Sócrates vivia descalço e sem camisa, destituído de bens e de categoria
social, retratando um professor inconformado, cujo principal problema
resumia-se em delimitar o próprio objeto ensinado.
A própria didática da maiêutica[5] nos remete não somente ao
autoconhecimento, mas, sobretudo, à construção da aprendizagem
instigada por perguntas e respostas sucessivas.
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Del Vecchio aduziu: “Discutia Sócrates de modo peculiar,
multiplicando as perguntas e a elas dando respostas de maravilhosa e
contundente simplicidade. Ao contrário dos sofistas, que tudo
afirmavam saber, declarava ele nada saber. Molestava-os com a sua
ironia, e confundia-os, interrogando-os (ironia-pergunta, interrogação)
sobre questões aparentemente simples, mas no fundo, muito difíceis.
Desse modo, constrangia-os, indiretamente, a darem-lhe razão” (Del
Vecchio, Giorgio, in: Lições de Filosofia do Direito).
Sócrates fora acusado[6] por Meleto, Aniton e Lícon de não reconhecer
os deuses da cidade, introduzir novas divindades e de corromper a
juventude. Ação intentada contra Sócrates era um graphai, asebeias,
ação de impiedade.
Qualquer manifestação de dúvida ou indiferença a respeito da religião
da cidade era considerada atentado à unidade da comunidade, sendo
passível de ação pública.
Incumbiu-se Sócrates da própria defesa[7] e finda esta, Anito e Lícon
se apresentaram para ajudar Meleto, cujos argumentos foram
refutados por Sócrates. O quorum do tribunal que julgou Sócrates
contava com 501 juízes, sendo que 280 votaram pela condenação,
enquanto somente 221 votaram pela absolvição.
Mas existem pelo menos três versões de Sócrates, se é que existiu um
Sócrates histórico. A versão de Aristófanes, a de Xenofonte e a de
Platão.
Para Aristófanes, Sócrates era uma pessoa cômica, um pensador
distante da realidade. Sendo amante da vida que enfrentou com
temperança, Sócrates pagou com a vida o preço de sua fama. E, pela
eternidade, prosseguiu à glória, embora maculada por Aristófanes que
bem o retratou, em sua peça As nuvens.
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O comediante também criticou os sofistas, tomando Sócrates por um
deles. E suscitou uma questão ainda recorrente: tem o orador o dever
dizer a verdade?
Aristófanes[8] zombou de Sócrates quando narrou: “Quando Sócrates
observava a lua para estudar seu curso e evoluções, no momento em
que ele olhava para o céu, de boca aberta, do alto do teto uma lagartixa
noturna, dessas pintadas, defecou em sua boca” (in: Aristófanes, As
nuvens).
Em outra narrativa, Sócrates é visto pendurado numa cesta,
observando os ares e contemplando o Sol. E justificara estar pendurado
pela necessidade de elevar seu espírito e elevar seu pensamento sutil
com o ar igualmente sutil.
“Se eu tivesse ficado na Terra para observar de baixo as regiões
superiores, jamais teria descoberto coisa alguma, pois a Terra atrai,
inevitavelmente, para si mesma a seiva do pensamento. É exatamente
isso que acontece com o agrião” (Aristófanes, As nuvens).
Tais diálogos denunciam Sócrates como pedante e alienado, e ainda
narra sobre um incêndio na casa do filósofo (ocasião em que
resmungara: “Ai, infeliz de mim. Ou morrer miseravelmente assado!”).
Metaforicamente, o fogo na residência socrática sugere a miséria da
filosofia que deve ser queimada. O pensamento socrático incomoda e
provoca. Aristófanes conclui, portanto, que o pensador era perigoso
para a cidade.
A versão de Sócrates criada por Xenofonte o concebeu de forma mais
simpática, tendo defendido seu mestre que sempre viveu à luz pública,
relatou que de manhã saía a passeio e aos ginásios (...) mostrava-se na
ágora à hora em que regurgitava de gente e passava o resto do dia nos
locais de maior concorrência, o mais das vezes falava, podendo ouvi-lo
quem quisesse. “Viram-no algum ‘ver-fazer’ ou dizer algo contrário à
moral, ou à religião” (in:Xenofonte, Memoráveis).
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Xenofonte não poupou em defender Sócrates revelando-se estar
admirado que os atenienses tivessem acreditado nas acusações contra
seu mestre, justamente por não ter praticado nenhum ato pecaminoso
e por ter adotado discurso e ser reputado como o mais pio dos
humanos.
A inocência de Sócrates é verdadeiramente o axioma[9] de Xenofonte.
Axiomar um sistema é mostrar que suas inferências podem ser
derivadas a partir de um pequeno, mas bem definido conjunto de
sentenças. Na engenharia, os axiomas são aceitos sem provas formais e
suas escolhas são negociadas a partir do ponto de vista utilitário e do
ponto de vista econômico.
Passagem interessante narrada por Sócrates: “Quando seus amigos iam
cear em sua casa e uns levavam pouco, outros muito, Sócrates mandava
o criado pôr em comum num prato menor ou reparti-lo fraternalmente
entre os convivas. Os que levavam mais teriam vergonha de não servir-
se do que era posto em comum e em comum pôr também o próprio
prato, sendo assim, constrangidos a fazê-lo”.
Segundo Xenofonte, o filósofo Sócrates[10] [MR1] era compreendido
por todos, o que configura antinomia com a descrição feita por
Aristófanes, para quem era incompreendido e afetado. As referências
de Xenofonte invocam o sábio calmo, conduzindo seus interlocutores à
compreensão da existência humana, calibrada pelo belo, justo e útil.
Sócrates procurava incutir nos discípulos as ideias sábias concernentes
aos deuses. Xenofonte se esforçou muito pela defesa de Sócrates
mostrando-o como temente aos deuses, patriota e amigo da juventude.
Os textos de Xenofonte vislumbram a realização da justiça nos atos e
palavras do filósofo e mestre que fora injustiçado pelas opiniões e pelos
olhares de ciúme, cobiça e emulação. Em verdade, o que foi letal à vida
de Sócrates não fora a ingestão de veneno, mas sim a inveja.[11]
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A maiêutica socrática funcionava a partirde dois momentos essenciais:
um primeiro em que Sócrates levava os seus interlocutores a pôr em
causa as suas concepções e teorias sobre um assunto; e um segundo
momento em que conduzia os interlocutores a uma perspectiva sobre o
tema.
Daí ser a maiêutica um autêntico parto de ideias. Sócrates procurou
dar maior ênfase àquilo que não se sabe a transmitir o que julgava
saber privilegiado a instigação permanente.
Nos diálogos de Platão há o relato de que Sócrates tinha recebido ao
exército em várias batalhas e, Estrabão contou que, após uma derrota
ateniense em que Sócrates e Xenofonte haviam perdido seus cavalos.
[MR2]
Sócrates encontrou Xenofonte caído no chão e carregou-o por vários
estágios até que a batalha final. (Estrabão, Geografia, Livro IX,
Capítulos 2 e 7).
Os paradoxos socráticos são posições éticas defendidas que vão contra
(para) a opinião (doxia) comum. Os principais paradoxos são: 1. A
virtude é conhecimento; 2. Ninguém faz o mal voluntariamente; 3. As
virtudes se constituem em uma unidade; 4. É preferível sofrer uma
injustiça a cometê-la. (Górgias) ou jamais se deve responder a injustiça
pela injustiça, nem fazer mal a outrem, nem mesmo àquele que nos fez
mal (Críton).
A respeito do segundo paradoxo acima citado, Sócrates confirmava por
atribuir o mal à ignorância, pois a sabedoria e a virtude são
inseparáveis.
Sócrates fora notório cumpridor das leis, tendo sido o primeiro dos
positivistas. No entanto, observou Xenofonte[12] [MR3] que o filósofo
deixou de acatar as ordens dos 30 tiranos, como eram conhecidos os
governantes de Atenas.
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No juízo de Sócrates, o pai da maiêutica, tais ordens eram
declaradamente ilegais. Continha um íntimo juízo de controle de
legalidade. Eram ordens avessas às leis. Assim, quando lhe proibiram o
palestrar com os jovens e o encarregaram juntamente com outros
cidadãos de conduzir um homem que intentavam assassinar, somente
ele se recusou obedecer, porque tais ordens eram ilegais.
Insistiu Xenofonte a apontar que Sócrates induziu à prática do bem.
Tinha sempre presente no espírito os caminhos que conduzem à
virtude e não se cansava de lembrá-los aos que frequentavam suas
aulas peripatéticas.
Ao final, Xenofonte convoca os leitores a compararem a grandeza do
mestre em face de outros homens. Também, tal qual Platão, redigiu
apologia de Sócrates. Xenofonte captou realisticamente a adversidade
de ânimos.
Os últimos dias de Sócrates foram narrados por Platão em quatro
diálogos: Apologia, Fédon, [13] Críton e Eutífero. A apologia de
Sócrates o reputou caluniado. A defesa fora apresentada em estrita
obediência à lei.
Sócrates demonstrou plena consciência de sua missão confirmada pelo
oráculo de Delfos como o mais sábio dos homens. Ele admitia que sua
sabedoria residisse na consciência de que nada sabia. As inimizades
acirradas e malignas geraram as principais calúnias que bem nutriram
a ação de impiedade.
Sócrates, segundo Platão (o pai da academia), apontou o seu destemor
para com a morte que o aguardava: “Com efeito, temer a morte é o
mesmo que supor-se sábio quem não o é, porque é supor que sabe o
que não sabe. Ninguém sabe o que é morte, nem se, por ventura, será
para o homem o maior dos bens; todos a temem como se soubessem
ser ela o maior dos males. A ignorância mais condenável não é essa de
supor saber o que não sabe”.
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Xenofonte e Platão astutamente comprovaram que os atenienses
seriam os maiores perdedores da condenação de Sócrates. Atenas se
envenenou exibindo-se como intolerante, despótica e hábil na censura
para a qual a tradição ocidental insiste em fazer ouvidos moucos.
A historiografia do pensamento jurídico efetivou apressada apreensão
do legado ático, escondendo deficiências estruturais e ampliando os
modelos de otimização conjuntural. A construção da democracia
ateniense é mais mítica do que fática e Sócrates, já envenenado, em
seus derradeiros momentos, preconizou que os derrotados com sua
condenação.[MR4]
Sócrates também apelou em sua defesa para o legado deixado, posto
que julgava-se vítima da incorreta aplicação das leis. Ao se defender,
Sócrates apontou que o juiz não jurou favorecer quem bem lhe
parecesse, porém deveria julgar segundo as leis.
A defesa de Sócrates transcende como intransigente apologia da
legalidade, cuja concepção tripartida seria preconizada vinte séculos
depois na obra de Montesquieu. Em sua defesa, Sócrates sugeriu multa
que o beneficiaria. Porém, a dura sentença condenatória se concretizou
e ganhou a posteridade.
Platão narra as derradeiras mensagens do mestre: “Bem, é chegada a
gira de partirmos, eu para a morte, vós para a vida. Quem segue melhor
rumo, se eu, se vós, é segredo para todos, menos para a divindade”.
No diálogo intitulado Fédon, [14] Platão narrou o sofrimento e a agonia
dos amigos de Sócrates ao presenciarem a ingestão de cicuta (“As
lágrimas me jorraram em ondas”). Lembrou Sócrates que devia
Asclépio um galo.[MR5]
Por fim, o mestre deixou sua derradeira lição: “A morte libera-nos das
dores e permite-nos o repouso eterno”, assim persistiu em seu legado.
[15] A questão socrática não se esgota em sua historicidade. Ainda não
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se pacificou a questão de fundo do discurso de Homero: se a Guerra de
Troia acontecera realmente.
Segundo o poeta Homero, a guerra foi causada pelo rapto da princesa
Helena de Troia (esposa do lendário rei Menelau), por Páris (filho de
Príamo). Isso ocorreu quando o príncipe troiano foi a Esparta, em
missão diplomática, e acabou apaixonando-se por Helena. Páris havia
recebido de Afrodite a recompensa de ter a mulher mais bonita do
mundo, que era Helena. O rapto deixou Menelau enfurecido, fazendo
com que este organizasse um poderoso exército. O general Agamenon
foi designado para comandar o ataque aos troianos. Através do mar
Egeu, mais de mil navios foram enviados para Troia.
O épico Ilíada, escrito por Homero, descreve uma das mais famosas
guerras da Antiguidade. Além de o relato militar, o conflito chama a
atenção pelas motivações deste, as atitudes tomadas por seus mais
importantes personagens e a sua incrível reviravolta. Por conta de sua
rica e detalhada narrativa, muitos historiadores duvidam de sua
veracidade. Toda essa dúvida seria capaz de desmoronar a paixão de
Páris, o rapto de Helena, o feito dos heróis participantes e a engenhosa
construção do cavalo que determinou o fim do combate.
O arqueólogo Heinrich Schilemann, estudando vários textos de
Homero para definir a possível localização de Troia, realizou
escavações no monte Hissarlik, próximo ao famoso Estreito do
Dardanelos e terminou por descobrir uma série de vasos, jarros e
apetrechos em ouro e prata. Observando esse material, Schilemann
conclui que os artefatos faziam parte do Tesouro de Príamo, antigo rei
troiano e pai de Páris, o que reforçou significativamente a sustentação
da existência de Troia. As novas pesquisas revelaram a existência de
nove Troias, sendo que as cinco primeiras construídas no início da
Idade de Bronze.
Atualmente, vários estudiosos acreditam que Troia funcionava como
entreposto comercial que realizava a interligação entre as cidades
gregas encontradas nos mares Negro e Egeu. Obviamente, estes
deduziram que a dependência dos gregos em relação aos troianos era
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motivo para a ocorrência de pequenas divergências que desgastavam as
relações política e comercial entre tais povos. Com isso, os gregos
talvez realizassem essa invasão quando os troianos estivessem
fragilizados por alguma contenda ou desastre natural que poderia ter
instigado o desenvolvimento da guerra.[MR6]
Verdade que a leitura do modelo conceitual e o fundamento da
ideologia podem propiciar errônea apreensão dos fatos, podendo ser
manipulados por inferências presentes.
Isidor Stone, um polêmico jornalista norte-americano, afirmara que
Sócrates fora inimigo da democracia e pregava uma sociedade fechada,
sob o molde espartano, e que a democracia ateniense o censurou e
produziu uma caçaàs bruxas.
Sócrates, de Xenofonte, propõe reis dentro dos limites das leis;
enquanto Sócrates, de Platão, não admitia nenhuma limitação ao rei-
filósofo. Isidor Stone insiste na admiração de Sócrates por Esparta, na
fixação da andreia (coragem) como virtude (areté). E o jornalista
observa que os acusadores de Sócrates e sua condenação comprovam
que em Atenas não havia liberdade de expressão em uma época áurea
da democracia.
Platão também comenta que Sócrates ainda conversara com a mulher,
Xantipa, e com o filho antes do fim. Seu fim sugere sucessão de
imagens e, ao proclamar defesa, a apologia pro vita sua consubstancia
reputação para a eternidade.
Críton, um de seus discípulos, sugeriu fuga organizada, porém esta fora
recusada por Sócrates. Patriota, Sócrates nunca deixara a cidade e
protestou por cumprir as leis sem discuti-las, preconizando um
positivismo e fetichismo legal dos séculos vindouros.
Um fato, porém, é inegável: Sócrates fizera muitos inimigos e o
contexto do fim da Guerra do Peloponeso, o império ateniense, estava
em ruínas, ensejando facções e problemas internos.
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A crise dos velhos princípios gregos exigia um bode expiatório.[16]
Embora dedicado ao Estado, à vida da polys, as suspeitas caíam sobre
Sócrates, que representava a nova era espiritual, apesar da acusação de
ateísmo, de corrupção da juventude.
Sócrates sacudiria a cidade da letargia e sua maiêutica retirada da
polys do sono dogmático, precisando o relativismo das crenças e das
verdades. [MR7] À luz do literal normativismo, os acusadores tinham
razão e com a morte de Sócrates, amigos e seguidores se dissiparam.
Platão percorreu Grécia, Egito, Itália retornando a Atenas 40 anos
depois para inaugurar sua academia.
As lágrimas, os suspiros e a tristeza dos amigos e alunos de Sócrates
compunham a trilha sonora da democracia ateniense, que era doente,
decadente e perversa.
A morte de Sócrates configurou que a democracia ateniense não
admitia críticas e, portanto, não era propriamente uma democracia.
Essa questão nos remete à tortuosa dúvida: podemos tolerar quem
prega a destruição dos intolerantes? Matar um intolerante significa
eliminar a intolerância?[17]
A versão de Sócrates oferecida por Platão não era democrata, tendo
sido alvo eliminado pela democracia ateniense, portanto, o Sócrates
histórico era malvisto e temido pelos poderosos, e com sua execução se
confirmou que não tolerava a liberdade de expressão.
Como Sócrates, verificamos um tom pedagógico na obra de Platão, que
é uma paideia que se revela em ser breve síntese que nos comunica a
justiça, uma verdadeira descoberta do domínio da Ética. Dessa forma,
em franca oposição à tese sofista de Trasímaco, que defendeu a Justiça
como poder do mais forte, Platão não busca o eficaz, o útil, o
convincente, mas apenas o verdadeiro.
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O Direito e a Justiça, conforme Platão aprendeu com Sócrates,
efetivamente estão a serviço do homem e do bem comum. Possui
sentido transcendente, valor perene que nossa alma deseja e que, por
ter vindo do céu, jamais poderá ser esquecido.
De qualquer maneira, a morte de Sócrates por envenenamento perfaz
um traço recorrente na tradição ocidental confirmando que o
pensamento crítico irrita, agride, gera desconfianças e, portanto,
precisa ser extirpado e anulado. Dessa forma, Sócrates se revela mártir
e sua morte não representa o fim de qualquer simpatia ao legado ático.
Confirmou que a democracia possui limitações e restrições sérias,
assim como seu julgamento permite a desconfiança das desejáveis
relações entre direito, [18] história e verdade.
Embora, em geral, Sócrates se opusesse aos sofistas, num ponto ele era
coincidente com Górgias o Protágoras, desde que estes entendessem
que a filosofia deveria se ocupar especialmente do homem. Toda
filosofia socrática fora plenamente caracterizada pela certeza de que o
homem é capaz de atingir a verdade. E tal verdade não é de natureza
física, mas de ordem metafísica, assim como a ideia do bem, as virtudes
e os valores em geral.
De acordo com a filosofia socrática, apesar das divergências sobre a
moral, a política e os costumes, existem verdades universais à
disposição daqueles que sincera e humildemente se dispuserem a
descobri-las.
A humildade é o básico pressuposto para o acesso à verdade e o método
correspondeu ao diálogo vivo. Sócrates respondia que o homem é a sua
alma (sede da atividade racional, ética e do conhecimento) e, para
acessá-la, usava o método da introspecção estimulada, composto de
três momentos: a ironia ou fase destrutiva (pars destruens).[MR8]
Sócrates assumia o ataque induzindo o interlocutor à contradição. A
humildade em reconhecer a própria ignorância era considerada como
indispensável para rumar em direção da verdade. E afirmava
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veemente: “só sei que nada sei”.
O segundo momento era a maiêutica (do grego maieúo, ou seja,
partejar), pois uma vez removidos os obstáculos pela ironia, o
interlocutor era auxiliado a descobrir as verdades que jaziam em sua
alma.
O diálogo socrático[19] não ensinava verdades prontas, mas ensinava
trazer a lume as concepções latentes no espírito humano, que são
inatas. Daí ser o defensor do direito natural e da universalidade de
certas verdades.
Enfim, revelava a maiêutica ser a arte de partejar os espíritos através
dos diálogos induzidos pelo mestre ao discípulo. O derradeiro
momento é o conceito emanado na alma do sujeito pela verdade.
Conhecer é recordar. Daí afirmar: “conhece-te a ti mesmo” (e recorda-
te das verdades que possuis).
Entendia a alma como princípio da racionalidade e fonte da
moralidade, e propunha a desvendar as relações com o corpo e a
natureza (que, na opinião, era eminentemente espiritual, daí sua
imortalidade).
Afinal, é o pensamento socrático que mais marcou o nascimento da
filosofia clássica tão bem desenvolvida por Platão e Aristóteles. O
julgamento e morte de Sócrates marcaram seus discípulos, amigos e
seguidores que proferiram relatos, testemunhos sobre o episódio, em
que o filósofo confronta o Estado.
A motivação das acusações a Sócrates foi marcadamente política, pois
as críticas socráticas apontavam para o desvirtuamento da democracia
ateniense. É verdade que a interpretação do legado de Sócrates até hoje
encontra dificuldades, pois em vida, nada escreveu[20] (bem como
Jesus Cristo) e valorizava, sobretudo, o debate e o ensinamento oral.
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Por outro lado, o registro de Platão, [21] seu principal discípulo, nos
permitiu extenso conhecimento das teses socráticas, embora isso nos
forneça a própria visão platônica dos ensinamentos de Sócrates. As
outras duas fontes sobre a biografia de Sócrates são: Xenofonte (que
não fora propriamente discípulo), mas um companheiro de Sócrates
(quem o salvara da guerra).[MR9]
Aristófanes, no entanto, traçou um perfil de Sócrates bem distinto do
de Platão[22] e Xenofonte. O mestre fora satirizado e encarado como
amoral, interesseiro e andrajoso. Aristófanes o enfocou apenas como o
intelectual constantemente ridicularizado em suas comédias.
A crítica de Sócrates aos sofistas consiste em manobra que o
ensinamento dos sofistas limita-se a mera técnica ou habilidade
argumentativa que visa apenas convencer o que o oponente diz, não
levando ao verdadeiro conhecimento.
A consequência disso era que, devido à forte influência dos sofistas nas
decisões da Assembleia que eram baseadas nas mais hábeis retóricas e
dirigiam apenas à verdade consensual resultante da persuasão.[MR10]
Enfim, quem valorizou a descoberta do homem pelo homem feita pelos
sofistas, orientando-a para os valores universais, seguindo a real via de
pensamento grego, foi Sócrates.
Quanto à política, fora valoroso soldado e rígido magistrado. Sócrates
foi o fundador da ciência geral mediante a doutrina do conceito, sendo,
em particular também, o fundador da moral que afirmava que a
eticidade significava racionalidade.
Convém frisar que Sócrates, apesar de sua enorme grandeza
intelectual, não elaborouum sistema filosófico acabado, apenas
descobriu o método que fundou uma grande escola.
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Na narrativa de Sócrates restou registrado o que seria o seu último
discurso, in verbis: “Não foi por falta de discursos que fui condenado,
mas por falta de audácia e porque não quis que ouvísseis o que para vós
teria sido agradável”.
(...)[MR11] Sustentou, no entanto, uma certeza: “mais difícil que evitar
a morte é evitar o mal, porque este corre mais depressa do que a
morte”. Quando a esta, apenas pode ser uma destas duas coisas[MR12]
Ou[MR13] aquele que morre é reduzido ao nada e não tem mais
qualquer consciência, ou então, conforme ao que se diz: “a morte é uma
mudança, uma transmigração da alma do lugar onde nos encontramos
para outro lugar”.
A vida de um grande homem, principalmente quando pertenceu a uma
época remota conforme. E, Taylor advertiu que jamais pode ser o mero
registro de fatos indiscutíveis e a verdadeira tarefa do biógrafo consiste
em interpretá-los, deve ir além dos eventos e mergulhar nos caracteres
que estes revelam, utilizando-se a imaginação construtiva.[MR14]
Duas figuras históricas passaram por bárbaros julgamentos e cruéis
condenações: foram Jesus e Sócrates. O primeiro padeceu sob Pôncio
Pilatos, enquanto Sócrates padeceu sob a democracia ateniense, no ano
de Laques (399 a. C.). Ambos nada escreveram e suas atividades e
pensamentos vieram através de seus discípulos e seguidores que
podem ter retratado seus mestres pela óptica da admiração e do afeto.
Fato que existem discrepâncias nos relatos. Ora o relato apareça
caricaturado nas peças teatrais de Aristófanes, ora é visto como
admiração e idolatraria por Platão, que rebate o retrato pintado por
Aristófanes, um mero poeta cômico.
Fato é que Sócrates noticiado por textos antigos nos aparece com rosto
diversamente refletido por diferentes espelhos, o que nos intriga até
hoje questionar: Onde estará a verdadeira face de Sócrates?
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O mestre Sócrates viveu em Atenas na época de Péricles. Época que
não foi marcada pelo desenvolvimento da prosa literária. Fora marcada
pela criação de grandes obras teatrais, particularmente, tragédias.
Platão o tornaria a principal figura de seus Diálogos, enquanto
Xenofonte o exaltava em suas Memoráveis. Ésquines, nas diversas
obras que se perderam, cogitou do mestre de quem fora amigo
constante. Mas todos o descreveram com mais de 45 anos de idade e
preocupado em despertar o homem para o conhecimento de si mesmo.
Sócrates reagiu contra o relativismo sofístico e tudo indica que fora
alicerçado em pressupostos religiosos órfico-pitagóricos, [23] que
apenas concebem a sucessão de impressões sensíveis e fugazes, e
intransmissíveis ou a criação de sinais convencionais que constituiriam
a linguagem. Se as palavras tecem um terreno instável e uma opinião
relativa e insegura, isso significa que, segundo ele, não estariam
acompanhadas da consciência de seu significado.
Na verdade, Sócrates criou nova concepção de alma (psique) que
passou a predominar na tradição ocidental. A importância de Sócrates
para o Direito reside, principalmente, na sua justificação racional do
nomos (lei) diferenciando-se dos sofistas quanto ao método.
A verdade socrática não se impõe externamente. Ela brota de dentro,
através do diálogo e de sua fé na virtude extremada que compôs o
intelectualismo ético, rigoroso (o que definiu a moral como o
conhecimento do bem).
No que tange à filosofia política e à filosofia jurídica, Sócrates supera o
relativismo e individualismo dos sofistas. E se opunha à ideia de que o
direito e a justiça sejam a expressão dos mais fortes. Acrescentou ainda
que era melhor sofrer uma injustiça do que a cometer. Mas se esta for
cometida, deverá expiá-la aceitando a sanção.
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A ética socrática visava ao aperfeiçoamento do homem, sendo a missão
da filosofia exatamente encontrar a perfeição na vida e na morte. E
defendeu a cidade e suas leis como necessárias por atenderem às
exigências da natureza humana.
Por essa razão, Sócrates placidamente submeteu-se à condenação e à
morte por envenenamento, ainda que tenha reconhecido a injustiça da
qual fora vítima.
Para Flamarion Tavares Leite não se trata de concepção positivista que
separa direito e justiça, e ainda a distingue, mas o fato de a noção de
justiça, bem como as demais virtudes, incorporarem a sabedoria.
De fato, a justiça para Sócrates consiste no conhecimento e, portanto,
na observância das verdadeiras leis que regem as relações entre os
homens, seja pelas leis da cidade, como das leis não escritas (fundadas
na vontade reta da divindade e que se refletem na consciência).
Para a filosofia do direito, a contribuição socrática é a convicção de que
a obediência às leis tem fundamento do homem e não é algo arbitrário.
Assim, Sócrates concebeu a verdade e o bem como institutos idênticos
e universais, abrindo caminho para a teoria dos conceitos[24] e para a
metafísica, [25] cuja grande síntese é fartamente encontrada na obra
de Platão.
Assim como o julgamento de Sócrates, que o colocou no banco dos
réus, quem, verdadeiramente, recebeu a fatal condenação foi a
democracia ateniense. Da mesma forma, no escandaloso julgamento do
“Mensalão”, a democracia brasileira foi julgada e condenada. Mas a
seriedade do Judiciário não só condenou, com respeito ao devido
processo legal, como também expôs os culpados à devida execração
pública.
Referências
/
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Trad. Alfredo Bosi,
Maurice Cunio, Antonieta Scartabello, Carla Comi, Rodolfo Itari, Silvia
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[1] A Atenas contemporânea de Sócrates representava um importante
centro de debates, sendo visitada por todos os grandes pensadores da
época. Um desses grupos de pensadores itinerantes eram os sofistas
/
(que negavam a realidade do mundo exterior e tentavam arrancar a
semelhança exterior dos casos, fora de sua conexão com os
acontecimentos).
[2] Com quem teve três filhos. Podemos afirmar que Sócrates não teve,
certamente, uma mulher ideal na quérula Xantipa. Mas, igualmente,
ela não tece um marido ideal no filósofo, sempre tão ocupado com
outros cuidados que não os domésticos. Xantipa ou Xântipe era a
mulher de Sócrates e, possivelmente, mãe dos três filhos: Lamprocles,
Sophroniscus e Menexenus. Seu nome significa cavalo loiro em grego.
O pai de Xântipe foi batizado com o nome de Lamprocles. Visto que era
até mais bem estabelecido na aristocracia de Atenas do que o pai de
Sócrates, o nome teria sido preferido na escolha para seu filho
primogênito. Sócrates teve duas esposas. A primeira foi Xântipe ou
Xantipa e a segunda foi Myrto.
[3] A dialética de Sócrates está ligada à descoberta da essência do
homem como alma (psyché) e tendo o modo consciente a despojar a
alma da ilusão do saber. Como sistema de ensino, usava o diálogo em
sintonia com a razão para conduzir o interlocutor ao encontro de sua
alma, fundamentalmente de natureza ética e educativa.[4] Cicuta também é chamada, em Portugal, de abioto. É um gênero de
plantas apiáceas (compreende quatro tipos muito venenosos) nativas
das regiões temperadas do Hemisfério Norte. Sua alta toxicidade se
deve pela presença da substância cicutoxina. Além do seu uso para a
ponta de flechas, ficou conhecida como veneno de Sócrates, pois fora
condenado ao um processo de autoenvenenamento por ter sido
acusado de ateísmo e de corromper a juventude ateniense.
[5] Maiêutica é dar à luz intelectual. É um parto intelectual, da procura
da verdade no interior do ser humano. Sócrates conduzia esse parto em
dois momentos. Primeiro, a duvidar de seu próprio conhecimento a
respeito de certo assunto; no segundo, Sócrates levava a conceber, de si
mesmo, uma nova ideia, uma nova opinião sobre o assunto em
questão. Por meio de questões simples, inseridas dentro de certo
contexto, a maiêutica dá à luz ideias complexas. Portanto, a maiêutica
/
baseia-se na ideia de que o conhecimento é latente na mente de todo
ser humano, podendo ser encontrado pelas respostas a perguntas
propostas de forma perspicaz. A autorreflexão expressou-se no nosce te
ipsum – conhece-te a ti mesmo. Coloca o homem na procura das
verdades universais que são o caminho para a prática do bem e da
virtude. Seu nome fora inspirado na profissão da mãe de Sócrates, que
era parteira. E o mestre esclareceu tal origem no famoso diálogo
Teeteto. Vige certa divergência historiográfica sobre a utilização de tal
método por Sócrates. Historiadores afirmam que a denominação e a
associação de tal método decorrem da narração, não sendo mesmo fiel
à vida de Sócrates narrada por Platão. Portanto, deveria chamar-se de
instrumentação argumentativa de Sócrates.
[6] A acusação disse: "Sócrates comete crime, investigando
indiscretamente as coisas terrenas e as celestes, e tornando mais forte a
razão mais débil, e ensinando aos outros". Mas nada disso tem
fundamento, pois não instruo e nem ganho dinheiro com isso. Talvez
pudessem dizer de mim: "Enfim, Sócrates, o que é que você faz? De
onde nasceram essas calúnias? Se suas ocupações não fossem tão
diferentes das dos outros, não teria ganhado tal fama e não teriam
nascido acusações".
[7] Sócrates respondeu: - Acontece que Xenofonte, uma vez indo a
Delfos, ousou interrogar o oráculo e perguntou-lhe se havia alguém
mais sábio do que eu. Ora, a pitonisa respondeu que não havia
ninguém mais sábio. Ao ouvir isso, pensei: "O que queria dizer o deus e
qual é o sentido das suas palavras?”
Sei bem que não sou sábio, nem muito nem pouco. “E fiquei por muito
tempo sem saber o verdadeiro sentido de suas palavras”. Então, resolvi
investigar a significação do seguinte modo: Fui a um daqueles
detentores da sabedoria, com a intenção de refutar, por meio deles, o
oráculo e, com tais provas, opor-lhe a minha resposta:" Este é mais
sábio do que eu, enquanto você disse que sou eu o mais sábio ".
Examinando esse homem – não importa o nome, mas era um dos
políticos – e falando com ele, parecia ser um verdadeiro sábio para
muitos e, principalmente, para si mesmo. Procurei demonstrar-lhe que
/
ele parecia sábio sem o ser. Daí veio o ódio dele e de muitos dos
presentes aqui contra mim. Então, pus-me a considerar comigo
mesmo, que eu sou mais sábio do que esse homem, pois que, nenhum
de nós sabe nada de belo e de bom, mas aquele homem acredita saber
alguma coisa sem sabê-la, enquanto eu, como não sei nada, também
estou certo de não saber.
[8] Aristófanes foi um dramaturgo grego e ainda é considerado o maior
representante da Comédia Antiga. Sua biografia é pouco conhecida.
Sua obra permite deduzir que teve requintada formação. Viveu o
esplendor do século de Péricles. Foi testemunha do início do fim de
Atenas. Vivenciou o início da Guerra de Peloponeso, que arruinou
Hélade. Viu o papel nocivo dos demagogos na destruição econômica,
militar e cultural de sua Cidade-Estado. Teve dois filhos, que também
seguiram a carreira do pai. Escreveu 40 peças, das quais apenas 11 são
conhecidas. Era conservador, e hostil às inovações sociais e políticas e
aos deuses e homens responsáveis por estas. Seu alvo eram as
personalidades influentes: políticos, poetas, filósofos e cientistas
fossem velhos ou jovens, ricos ou pobres. Aristófanes não poupou em
suas críticas nenhuma figura ilustre, nenhuma instituição, nem mesmo
os deuses. Atacou, às vezes injuriosamente, as inovações artísticas,
morais, políticas e sociais da Atenas de seu tempo, muito diferente da
de Péricles. Preocupou-se, acima de tudo, em defender a paz e advertir
a população, sobretudo a rural, dos abusos urbanos. Em Lisístrata ou
A greve do sexo (411 a. C.), as mulheres fazem greve de sexo para forçar
atenienses e espartanos a estabelecerem a paz. Em As vespas (422 a.
C.), discute a importância da verdade e seus benefícios, revelando sua
preocupação com a ética. Na peça As nuvens (423 a. C.), compara
Sócrates aos sofistas, mestres da retórica, e acusa o filósofo grego de
exercer uma influência nefasta sobre a sociedade. Na comédia Os
acarnianos ou Acarnenses, representada no ano 425 a. C., ele
ridiculariza os partidários da guerra com Esparta. Suas outras obras
são Os cavaleiros (424 a. C.), A paz (421 a. C.), As aves (414 a. C.), As
tesmoforiantes ou As mulheres que celebram as Tesmofórias (411 a.
C.), As rãs (405 a. C.), As mulheres na assembleia ou Assembleia de
mulheres (392 a. C.) e Pluto ou Um deus chamado dinheiro (388 a. C.).
http://educacao.uol.com.br/biografias/pericles.jhtm
/
[9] Na lógica tradicional, axioma ou postulado é sentença ou
proposição que não é provocada ou demonstrada e é considerada como
óbvia ou como um consenso inicial necessário para a construção ou
aceitação de uma teoria. É aceito como verdade e serve de ponto inicial
para dedução e inferências de outras verdades. Em matemática,
axioma é hipótese inicial da qual outros enunciados são logicamente
derivados. Não é uma verdade autoevidente, mas apenas expressão
lógica formal em uma dedução visando obter, mais facilmente,
resultados.
[10] Filósofo ateniense (469 a. C. – 399 a. C.) do período clássico da
Grécia Antiga. Reconhecido como um dos fundadores da filosofia
ocidental, sendo até hoje figura enigmática e conhecida,
principalmente, pelas narrativas de Platão e Xenofonte, e pelas peças
teatrais de Aristófanes. Alguns defendem que os diálogos de Platão
seriam relatos mais abrangentes do filósofo e têm perdurado até os
dias de hoje. O método socrático, ou seja, maiêutica é usado até hoje
pela pedagogia, sendo utilizado para obter respostas não específicas,
mas compreensão clara e fundamental do tema discutido.
[11] Sócrates não aceitava pagamento, por isso tampouco aceitou
cargos públicos. Assim, opôs-se aos sofistas. O conhecimento é possível
e seu objeto primordial é a própria alma. Sócrates se inspirou no
adágio do oráculo de Delfos:" conhece-te a ti mesmo ", frase escrita no
templo de Apolo.
[12] Xenofonte foi soldado, mercenário e discípulo de Sócrates. Era
conhecido pelos seus escritos sobre a história do seu próprio tempo e
pelos seus discursos de Sócrates. A maioria dos estudiosos situa seu
nascimento em 430 a. C. Ou um pouco depois. Era originário de família
rica e influente em Atenas. Participou dos embates finais da Guerra do
Peloponeso incorporado nas fileiras da aristocrática cavalaria
ateniense. Sua dissertação histórica foi Anábase, em que analisou o
caráter de um líder pelo viés de um historiador. Tal tipo de análise
tornou-se célebre até hoje como a “Teoria dos Grandes Homens”. Onde
descrevera o caráter de Ciro, o Moço, dizendo que de todos os persas
que viveram depois de Ciro, o Grande, este era o que mais se parecia
/
com um rei e o maior merecedor de um império. Xenofonte fora,
posteriormente, exilado de Atenas, provavelmente pelo fato de ter
lutado sob o comando do rei espartano Agesilau contra Atenas em
Coroneia (ou por ter participado com Ciro). Seu filho, Grilo, comandoua cavalaria de Atenas. Diógenes Laércio disse que Xenofonte ficou
conhecido como" musa da Ática "pela doçura de sua dicção.
[13] O julgamento de Sócrates foi relatado por seu discípulo, Platão, no
livro Fédon, e apesar de ter sido realizado há mais de 2400 anos,
aborda essencialmente os fatos que o rodeiam, temas e
questionamentos que até hoje procuramos compreender. O ponto de
partida para tentar compreender tal julgamento está na defesa das
acusações que foi feita pelo próprio Sócrates, uma vez que não havia
pessoa melhor para demonstrar a veracidade dos fatos, se não àquele
que os praticou/vivenciou. Daí perceber a grandiosidade que esse
julgamento tem, não somente para a história da filosofia, como
também para a história da humanidade. O saber, a missão e a morte.
[14] Fédon ou Fedão é obra filosófica de Platão que, através de
diálogos, relata os últimos ensinamentos de Sócrates, antes de tomar a
cicuta a que fora condenado pelo Estado.
Na obra, Equécrates, ao encontrar Fédon, pergunta a este quais foram
as últimas palavras do mestre Sócrates e solicita que sejam relatadas
com a maior exatidão possível. Assim, fala sobre morte, ideia, destino
da alma, entre outros assuntos. É um diálogo que não pertence à fase
socrática de Platão, divisão usada por alguns filósofos. Assim, estaria
apenas usando a imagem do mestre para divulgar seu próprio projeto
filosófico.
Platão recebera influência forte da religião órfica, que acreditava na
alma e na reencarnação. É seu primeiro postulado acerca da alma. A
situação dramática é o encontro de Fédon de Élis, discípulo de
Sócrates, com o pitagórico Equécrates. Assim, narra não somente o
diálogo, mas a cena e as ações dos protagonistas. Ocorre na prisão
onde Sócrates estava detido aguardando sua execução, em 399 a. C.
/
Fédon é o mais popular dos diálogos de Platão, o mais lido, citado e
comentado, e aquele cujo tema sofreu menos eclipses na inquietude,
nos anelos e na estimativa das gerações.
[15] O admirável comportamento de Sócrates perante a morte foi
expressão de plácida naturalidade e trouxe a mais bela lição moral que
tem sido ouvida, quase sem interrupção, no decurso dos séculos. A
mais impressionante atitude moral perante a morte foi, de fato, a
lucidez com que o mestre discorreu até o último alento de vida, sem
sofismas, nem subterfúgios.
[16] O bode expiatório era um animal apartado do rebanho e deixado
sozinho na natureza selvagem como parte das cerimônias hebraicas do
Yom Kippur, o Dia da Expiação, na época do Templo de Jerusalém. Tal
rito é descrito na Bíblia, no livro do Levítico. Na Torá, dois bodes eram
levados, juntamente com um touro, ao lugar de sacrífico, como parte
dos Korbanot do Templo de Jerusalém. No templo, os sacerdotes
sorteavam um dos bodes. Um era queimado em holocausto no altar de
sacrífico com o touro. O segundo tornava-se o bode expiatório, pois o
sacerdote punha suas mãos sobre a cabeça do animal e confessava os
pecados do povo de Israel. Posteriormente, o bode era deixado ao
relento na natureza selvagem, levando consigo os pecados de toda a
gente, para ser reclamado pelo anjo caído Azazel. Na doutrina cristã, o
bode expiatório no Levítico é interpretado como uma prefiguração
simbólica do autossacrifício de Jesus, que chama a si os pecados da
humanidade, tendo sido expulso da cidade por ordem dos sacerdotes.
Tipologicamente então, o bode expiatório é a representação da figura
do Messias, que fora enviado ao deserto para ser tentado pelo diabo.
Noutra visão de tom muito popular, o cristianismo compreende que os
dois bodes são símbolos de Cristo e Satanás, vez que a expiação
propriamente dita se realiza com a morte do primeiro bode e como não
existe expiação sem derramamento de sangue, não há expiação pela
morte do segundo bode, que é apenas levado ao deserto e morre à
míngua. Este representa Satanás (ou Azazel, seu braço direito, um
demônio do deserto) que é enviado ao abismo de mil anos, onde
refletirá sobre a obra maléfica que realizou contra os seres humanos.
/
[17] Falácia é argumento logicamente inconsistente, sem fundamento,
inválido ou falho na tentativa de provar eficazmente o que se alega. Os
argumentos que se destinam à persuasão podem parecer convincentes
para grande parte do público, apesar de conterem falácias, mas não
deixam de ser falsos por causa disso. Como exemplo de falácia, temos o
argumentum ad misericordiam consiste em ganhar a simpatia do
adversário apresentando-se como uma pessoa digna de pena.
[18] Platão, em sua obra As Leis, apresenta maior respeito pelos
direitos do indivíduo, desde que este não seja escravo: servus et res
sunt idem (não há diferença entre escravo e uma coisa). A família e a
propriedade são preservadas, enquanto em A República o Estado está
acima destas. Mesmo assim, se necessário for, a família e a propriedade
poderiam ser desfeitas ou destituídas. Por essa razão, em As Leis,
Platão aconselhou a divisão dos indivíduos por classes e vigilância
sobre as famílias. Em verdade, Platão fora crítico implacável, tanto da
monarquia quanto da democracia, e propôs o modelo de Esparta, em
que ao lado de dois reis existiam o Senado e os Éforos, magistrados
supremos nas cidades dóricas da Grécia Antiga.
[19] A dialética é a arte do diálogo, a arte de debater. Também é uma
maneira de filosofar o conceito. E seu conceito fora debatido por
diversos filósofos, como Sócrates, Platão, Aristóteles, Hegel, Marx,
entre outros. É o poder de argumentação, porém, a palavra pode ser
utilizada em sentido pejorativo, com uso exagerado de sutilezas.
[20] Sócrates não deixou nada escrito, e as notícias de seus
ensinamentos e pensamentos devem-se a Platão e a Xenofonte, que
possuíam feições intelectuais diferentes. Xenofonte foi autor de
Anábase, em seus Ditos Memoráveis, e deu preferência aos aspectos
prático e moral da doutrina, sendo um homem mais de ação.
[21] Platão foi grande filósofo para pintar o mais nítido retrato de
Sócrates e cabe-lhe a glória de ter sido grande historiador do
pensamento socrático, mas nem sempre é fácil discernir o fundo de
Sócrates das especulações acrescentadas por Platão.
/
[22] Platão publicou 36 diálogos, 13 cartas e uma coleção de definições.
A única construção racional de Sócrates é a gnosiologia que se
encontrava num método da ciência dialógica.
[23] Orfismo deriva de Orfeu, filho de Apolo com a musa Calíope e,
segundo alguns, foi o fundador do orfismo. Orfeu era poeta e músico, e
a sua religião representava uma catarse musical capaz de hipnotizar
multidões.
Entre as lendas relativas a Orfeu, a mais célebre refere-se à sua união
com a ninfa Eurídice. Quando esta morreu, o músico desceu aos
infernos para buscá-la e, emocionando as divindades infernais com o
seu canto, obteve consentimento de trazê-la de volta. Tinha,
entretanto, que respeitar uma condição: não poderia olhá-la antes de
atingirem a luz. Mas Orfeu, no retorno do mundo infernal, não mais
podendo resistir, voltou-se para olhar sua amada e então,
imediatamente, uma força arrebatou Eurídice, condenando-o a viver
sozinho na Terra. O pitagoricismo foi a religião do filósofo e
matemático Pitágoras. A base do pitagoricismo, sendo os números, era
mais ou menos semelhante ao que vamos mostrar na sua essência
filosófica: constituía a unidade perfeita e era a origem de tudo ou a
grande Mônada (Deus). Era a fecundidade, a perpetuação do homem.
[24] Sócrates mostrou no conceito o verdadeiro objeto da ciência e
Platão aprofundou a teoria, e procurou determinar a relação, o conceito
e a realidade, criando o problema crucial de sua filosofia.
[25] O sistema metafísico de Platão centraliza-se e culmina no mundo
divino das ideias, e estas se contrapõem à matéria obscura e incriada. O
divino platônico é representado pelo mundo das ideias e,
especialmente, pela ideia do bem que está no vértice. A existência desse
mundo ideal seria provada pela necessidade de estabelecer uma base
ontológica, um objeto adequadoao conhecimento conceitual.
/
[MR1]A meu ver, a qualificação de Sócrates deve ser apresentada logo
no início, na primeira aparição de seu nome. Ver com autor do artigo.
[MR2]Atenção: período confuso. Verificar com autor.
[MR3]A meu ver, assim como Sócrates, a qualificação de Xenofonte
deve ser apresentada logo no início, na primeira aparição de seu nome.
Ver com autor do artigo.
[MR4]Verificar com autor do artigo. Período confuso e sem finalização
de ideia.
[MR5]Verificar com autor do artigo. Período confuso e sem finalização
de ideia.
[MR6]Verificar com autor do artigo. Período confuso e sem finalização
de ideia.
[MR7]Verificar com autor do artigo. Período confuso e sem finalização
de ideia.
[MR8]Atenção: faltam ainda dois momentos. Ver com autor do artigo.
[MR9]Atenção: período confuso e incompleto. Falta mais uma fonte.
Verificar com o autor.
[MR10]Atenção: período confuso e incompleto. Verificar com o autor.
[MR11]Atenção: verificar o que significam as reticências entre
parênteses.
[MR12]Atenção: período confuso, sem finalização de ideia. V com
autor.
[MR13](!?) O patrágrafo se inicia com" Ou "?
/
[MR14]Atenção: Período confuso. Não há coerência, nem coesão nas
ideias. Verificar o sentido com o autor. Há ainda alguns erros
ortográficos, gramaticias.
Disponível em: https://giseleleite2.jusbrasil.com.br/artigos/220059867/socrates-no-banco-dos-
reus

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