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MID_Midia_Sociedade Livro

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Curitiba
2015
Mídia e 
Sociedade
Maria Jacqueline Nogueira Lima
MID_Midia_Sociedade.indb 1 16/06/2015 16:44:50
Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Cassiana Souza CRB9/1501
Direitos desta edição reservados à Fael.
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.
Editora faEl
Gerente Editorial Denise Gassenferth
Projeto Gráfico Sandro Niemicz
Design Instrucional Francine Canto
revisão Claudia Helena Carvalho Wigert
diagramação Mariana Buôgo Ferro
revisão de diagramação Katia Cristina Santos Mendes
Capa
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Sumário
 Carta ao Aluno | 5
1 Estado, sociedade civil e esfera pública | 7
2 Comunicação, cidadania e movimentos sociais | 19
3 Espaço público, poder local e midiatização 
das demandas sociais | 35
4 Teorias de comunicação | 49
5 Educação, comunicação midiática e opinião pública | 65
6 Comunicação e mudança cultural no século XXI | 79
7 Globalização e ou mundialização cultural| 93
8 Cultura, sociedade em redes e construção de identidades | 107
9 Mercado, sociedade civil e acesso à informação e 
meios educacionais em esfera globalizada | 123
10 Comunicação e controle social: alienação 
e cultura globais | 135
 Conclusão | 149
 Referências | 151
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Carta ao aluno
Caro(a) aluno(a) da Fael,
As tendências de transformação da sociedade no século XXI 
mostram o protagonismo da informação ou o advento da era do 
informacionalismo, entendido como o modo de desenvolvimento 
que privilegia o uso da tecnologia no processamento da informação. 
A internet e outros meios aparecem nesse contexto como meio de 
comunicação privilegiado e essencial no contexto desse novo pro-
cesso de desenvolvimento da sociedade em termos globais.
Nesse contexto, a importância de entender como se relacio-
nam mídia e sociedade e as suas diversas interlocuções são alguns 
dos desafi os a serem enfrentados.
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Mídia e Sociedade
Com base na necessidade de conhecermos mais de perto conceitos como 
estado, sociedade e mercado e esfera pública e suas relações com a mídia e o 
contexto em que a Era do Informacionalismo se apresenta, é que este livro 
foi desenvolvido. Nosso objetivo é propiciar a você o desenvolvimento das 
seguintes competências:
 2 compreender e aplicar ao seu trabalho profissional conceitos como 
Estado, sociedade civil e esfera pública;
 2 lidar com facilidade com os conceitos de comunicação social e sua 
estreita relação com os conceitos de sociedade e Estado, e os movi-
mentos sociais no limiar do século XXI;
 2 trabalhar a gestão a partir da utilização de conceitos de espaço 
público e poder local e processo de midiatização de deman- 
das sociais;
 2 compreender o processo de globalização na construção das identi-
dades sociais, novos hábitos e valores no contexto da pós-moderni-
dade e suas implicações;
 2 dominar o conceito de sociedade em redes e suas implicações para 
a vida cotidiana, assim como para a compreensão dos conceitos de 
mercado e estado.
Desejamos a você que aprecie o conteúdo e que tire dele o melhor pro-
veito possível para sua formação profissional.
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Estado, sociedade 
civil e esfera pública
neste capítulo você aprenderá conceitos fundamentais da 
disciplina de Mídia e Sociedade. A principal tarefa será compreen-
der e utilizar os conceitos de Estado, sociedade civil e esfera pública 
no âmbito de sociedades em mudança no século XXI, infl uenciados 
pelo papel da informação no mundo contemporâneo.
O Estado em questão é o Estado Moderno cujo início data da 
Idade Média (1453-1789). Os principais acontecimentos que indi-
cam o surgimento desse conceito de Estado são, conforme entendi-
mento corrente entre estudiosos, a Revolução Inglesa de 1688/1689, 
a Revolução Americana de 1776 e a Revolução Francesa de 1789.
Os três elementos têm em comum o fato de propiciar mudan-
ças signifi cativas no tipo de dominação presente no mundo civili-
zado de então, o que fomentou a formatação do estado organizado 
sob a forma como o conhecemos na atualidade, ainda que este esteja 
se modifi cando em função do relevante papel da informação no 
contexto contemporâneo.
1
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Mídia e Sociedade
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Objetivos de aprendizagem:
 2 definir os conceitos de Estado, sociedade civil e esfera pública;
 2 explicar a relação existente entre as três esferas; 
 2 identificar como esses conceitos tendem a ser modificados em fun-
ção do advento da Era do informacionalismo no século XXI;
 2 entender como esses conceitos e sua relação com a informação no 
mundo contemporâneo podem fazer diferença na atuação do pro-
fissional de gestão.
1.1 Conceitos fundamentais
O Estado moderno tem como conceito básico o entendimento de que 
seria uma associação compulsória que organiza a dominação. Entre suas 
características está o monopólio do uso legítimo da força física como meio 
para proceder ao domínio dentro de determinado território. Sua “evolução” 
se deu em função da combinação dos meios materiais de organização nas 
mãos de seus líderes, e a expropriação de todos os funcionários autônomos 
dos estamentos, que antes controlavam tais meios por direito.
Estamento: são grupos de status ou comunidades. Ou, ainda, pode 
estar associada a qualquer qualidade compartilhada por um grupo 
de indivíduos, de acordo com Max Weber na obra “A política como 
vocação” (1982). Weber afirma que um dos exemplos de estamento, 
se comparado à classe, seriam os escravos, pela simples razão de 
que seriam “Aqueles cujo destino não é determinado pela oportu-
nidade de usar, em proveito próprio, bens e serviços no mercado.”
 
Quanto ao conceito de sociedade civil compreende as formas organi-
zativas sob as quais os estados são implementados. A partir desta concepção 
pode-se compreender a noção de sociedade civil como os grupos organizados 
dentro de determinado território, compreendido como um Estado. Esses gru-
pos compreendem as famílias, primeira forma de organização social, as orga-
nizações e na atualidade outras tantas formas de organização dos indivíduos 
em determinados grupos.
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Estado, sociedade civil e esfera pública
De acordo com Jean Cohen e Andrew Arato, em “Civil Society and 
Social Theory” (1990), a sociedade civil apresenta-se como o lugar onde se 
tem (ou é possível ter) instituições capazes de reproduzir tradições, solidarie-
dades e identidades coletivas. Ou seja, todas as formas de organização social 
desde a família até outros grupos sociais, como os grupos multiprofissionais.
Figura 1: O grupo social – relação de interdependência existente entre os indivíduos.
Fonte: www.institutopascal.org.br .
 Você sabia
Os grupos profissionais da área médica com profissionais como médicos, 
psicólogos e assistentes sociais na promoção da saúde constituem-se em 
uma forma de organização de um grupo presente dentro da sociedade 
civil, entre outros grupos existentes no contexto contemporâneo.
Quanto ao conceito de esfera pública, pode ser entendido como a ideia de 
que existiria no âmbito da sociedade civil uma tendência a que a cooperação ou 
o planejamento de algumas das ações do estado estaria pautado pelo consenti-
mento dessa sociedade civil. Este consentimento somente seria passível de exis-
tência “plena” no contexto político democrático visto que a sociedade civil teria 
“supostamente” melhores condições de levar a público suas aspirações e interesses.
Esfera pública compreende uma participação dos cidadãos emalgumas 
das decisões do estado. Nesse sentido, temos como exemplo de uma partici-
pação público-política ativa a ideia das audiências públicas, já uma realidade 
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Mídia e Sociedade
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em alguns Estados brasileiros, e do orçamento participativo em prefeituras 
de alguns municípios do país. Tais exemplos demonstram uma participação 
cidadã na esfera pública. Ou seja, a esfera pública constitui-se no espaço em 
que os atores sociais debatem em nome do interesse público.
 Importante
Na Grécia antiga, mais especificamente em Atenas, berço da democra-
cia, a participação política era uma realidade, visto que todos os cida-
dãos tinham de opinar sobre os destinos daquela cidade-estado. Em 
um âmbito geográfico reduzido como o era a Grécia antiga, era possível 
a participação, na esfera público-política de todos os seus cidadãos.
1.2 Estado, sociedade civil e 
esfera pública no século XXI
Como o Estado, a sociedade civil e sua atuação na esfera pública se apre-
sentam no século XXI? 
As audiências públicas organizadas por algumas instâncias do Poder 
Legislativo como assembleias legislativas (nos Estados e no Distrito Federal) 
se constituem em bons exemplos de como o Estado e a sociedade civil no 
Brasil têm atuado na promoção da participação público-política.
A discussão na esfera pública do contexto de desigualdade de oportunida-
des entre brancos e negros existente na sociedade brasileira há séculos provocou 
mudanças na legislação que regula o acesso a concursos públicos no país. Esse 
é outro exemplo de como a sociedade civil pode atuar na esfera pública para 
auxiliar o estado a uma melhor gestão tendo como fim o bem comum.
Nesse sentido, a legislação foi modificada, em contexto democrático, diante 
do qual a informação e o acesso a ela se mostram cada vez mais ampliada, ainda que 
persistam profundas diferenças e desigualdade social no país. A internet serve para 
nos mostrar como a informação consegue chegar aos mais remotos lugares do país 
e como a sociedade civil organizada começa a atuar de modo a atender demandas 
distintas para ampliação de direitos e diminuição da desigualdade de oportunidades 
observável na sociedade brasileira, ainda profundamente hierarquizada.
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Estado, sociedade civil e esfera pública
Dados recentes referentes aos anos de 2002 e 2012, conforme a tabela 
a seguir, sobre a desigualdade de cor/raça e renda no país, mostram um con-
tundente retrato dessa realidade ainda vigente.
Figura 2: Distribuição Percentual da população ocupada de 16 anos ou mais, segundocor/
raça e faixa de rendimentos do trabalho principal nos anos de 2002 e 2012.
Cor/Raça Faixa de Rendimentos
Total
2002 2012
Total
Até 1 SM 55,1 35,6
Mais de 1 a 3 SM 33,7 46,9
Mais de 3 a 5 SM 5,0 10,4
Mais de 5 a 8 SM 3,2 3,0
Mais de 8 SM 2,9 4,1
Total 100,0 100,0
Branca
Até 1 SM 45,0 25,8
Mais de 1 a 3 SM 38,8 49,3
Mais de 3 a 5 SM 6,9 13,8
Mais de 5 a 8 SM 4,7 4,3
Mais de 8 SM 4,6 6,7
Total 100,0 100,0
Negra
Até 1 SM 67,5 44,5
Mais de 1 a 3 SM 27,5 44,6
Mais de 3 a 5 SM 2,7 7,3
Mais de 5 a 8 SM 1,4 1,7
Mais de 8 SM 0,9 1,8
Total 100,0 100,0
Elaboração: IPEA/DISOC (com recorte/anos realizado pelo autor)
* a população negra é composta por pretos e pardos
**rendimento do trabalho principal deflacionado com base 
no INPC, período de referência set./2012
Fonte: IBGE/PNAD.
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Mídia e Sociedade
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A tabela demonstra o quanto a desigualdade de cor/raça ainda produz 
grande desigualdade de renda no país.
Qual o papel da informação nesse contexto? A resposta seria contribuir 
para produzir, no âmbito da sociedade em redes do século XXI, um novo 
estado e uma nova sociedade ou induzir os atores sociais a atuar publicamente 
para dirimir desigualdades.
1.3 A era do informacionalismo 
modifica o estado, a sociedade civil e a 
participação na esfera público-política
Como a Era do Informacionalismo pode modificar o papel do Estado, 
a sociedade civil e por consequência a esfera pública?
A Era do informacionalismo, ou era da informação, refere-se 
ao contexto em que a revolução tecnológica e das comunica-
ções exerce ampliada influência sobre a conduta de indiví-
duos e organizações na atualidade. Isso ocorre com maior 
rapidez desde a década de 1980 do século XX. Na atualidade, 
tudo e todos são fortemente influenciados pela tecnologia da 
informação e da comunicação. Eventos políticos como pro-
testos recentes no mundo árabe só puderam acontecer devido 
ao papel das redes sociais nesse contexto, por exemplo.
 
A Era do informacionalismo impõe mudanças qualitativas no papel 
que tem o Estado a partir da forma como a sociedade civil organizada age 
na esfera pública. Ou seja, a atuação da sociedade civil organizada na esfera 
pública se reflete diretamente no modo como o Estado apreende suas neces-
sidades e modifica a legislação para atendê-las.
Nesse contexto a concepção segundo a qual o Direito deve atender aos 
interesses da contemporaneidade mostra-se ainda mais pertinente e necessária 
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Estado, sociedade civil e esfera pública
em muitos casos, em caráter de urgência, para atender a demandas presentes 
no mundo contemporâneo.
A necessidade de a legislação se adequar à realidade social não é novi-
dade no âmbito do Estado de Direito. Afinal, estado e sociedade civil vêm se 
modificando ao longo dos últimos séculos de maneira muito rápida. Somente 
ao final do século XX e início do século XXI estas modificações tendem a se 
intensificar de maneira nunca vista.
Esta é uma realidade tão presente no mundo contemporâneo que um 
dos exemplos mais marcantes tem sido o da união estável entre pessoas do 
mesmo sexo com os mesmos efeitos jurídicos de um casamento. Tal tema, 
destaque na mídia internacional já há alguns anos, tem produzido, em função 
da militância de grupos de homossexuais que lutam por direitos iguais aos 
dos heterossexuais, legislação favorável na maior parte dos países democrá-
ticos, ainda que com certo atraso, como em muitas outras modificações de 
ordem legal, dos costumes na sociedade. Nesse caso, o Direito também ainda 
não é capaz de acompanhar a contento as modificações nos costumes e a 
ascensão desse tipo de demanda à esfera público-política.
 Importante
A comunicação é um dos meios através dos quais a sociedade 
e o Estado mais se modificam ao longo da história da humani-
dade. No contexto do século XXI, esse processo ocorre de 
modo diferenciado devido a um fator recente e em certo sen-
tido determinante: o tempo relativo do acesso à informação via 
novas tecnologias como a internet. 
No contexto da era do acesso à informação de modo extremamente 
rápido, ainda não é fácil para o Estado apreender, acatar e resguardar 
direitos em função das modificações existentes na sociedade civil, em 
particular nas relações sociais no âmbito da família que reverberam para 
outras áreas das relações sociais. E mesmo um estado em que estas modi-
ficações aconteçam em um tempo razoável ainda não consegue acompa-
nhar tais modificações.
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Mídia e Sociedade
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1.4 Estado, sociedade civil e esfera 
pública e atuação profissional
Segundo Bresser Pereira, em “Nação, Estado e Estado-nação” (2008), a 
instituição fundamental das sociedades civilizadas, antigas ou modernas é o 
estado. Para ele, o Estado seria o sistema constitucional-legal e a organização 
que o garante, na medida em que o estado é a principal instituição de qual-
quer sociedade nacional. Possuindo grande abrangência, ele compartilha as 
duas formas que as instituições assumem: a de sistema valorativo e normativoe a de sistema social organizado formalmente.
As definições de Bresser Pereira servem como ilustração para demonstrar 
o quanto o estado evoluiu, para o bem ou para o mal, desde o advento da 
primeira forma de organização social: a família.
Conforme Manuel Castells, em “A Era da Informação: economia, 
sociedade e cultura” (1999), ao longo da história, as culturas foram gera-
das por pessoas que compartilham espaço e tempo – sob condições deter-
minadas pelas relações de produção, poder e experiência e modificadas 
por seus projetos – e lutam umas contra as outras para impor valores e 
objetivos à sociedade.
Se a Revolução Capitalista assumiu na história dos homens papel pre-
ponderante na formulação do Estado, além, é claro, das outras importan-
tes revoluções que a precedem, o que dizer da atualidade? Qual “revolução” 
acontece e como ela afeta os indivíduos e Estados? 
Conforme Bresser Pereira (2008:2), a Revolução Capitalista foi res-
ponsável por diversas modificações na natureza das relações entre socie-
dade e estado ao longo dos séculos. No entanto, isso se modificou. Pouco 
a pouco surge um novo tipo de revolução. E isso ocorre desde que a glo-
balização econômica começou a produzir nova ordem mundial, pautada 
por demandas e objetivos distintos do que se observara até a década de 
1960, por exemplo.
 Importante
A globalização é um fenômeno social que ocorre em escala 
global. Esse processo consiste em uma integração em caráter 
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Estado, sociedade civil e esfera pública
econômico, social, cultural e político entre diferentes paí-
ses. A globalização é originada de modificações ocorridas nas 
comunicações via novas tecnologias da informação, fazendo 
com que as distâncias sejam encurtadas, passem a ser “virtuais”.
Saiba mais acessando: www.brasilescola.com/geografia/glo-
balizacao.htm.
A tecnologia da informação disponível principalmente a partir da década 
de 1980 produziu uma acelerada ascensão do conhecimento que gera perple-
xidade e admiração e rejeição de uma nova forma, interativa, correlacional 
e virtual que ao mesmo tempo em que expande, circunscreve as relações a 
meios restritos. Ou seja, quem não tem acesso às redes sociais como Face-
book, Twitter, Linkedin e Instagram, por exemplo, não está inserido de forma 
plena nessa nova Era ou novo mundo em gestação no limiar do novo milênio. 
A era da informação produz inclusão e exclusão digital.
 Importante
Conforme Castells (1999, 411 e seguintes): a tecnologia da informa-
ção tornou-se ferramenta indispensável para a implantação efetiva dos 
processos de reestruturação socioeconômica. De especial importân-
cia, foi seu papel ao possibilitar a formação de redes como modo 
dinâmico e autoexpansível (que pode ser aumentado, expandido de 
maneira autônoma), de organização da atividade humana.
Nesse contexto, o papel do profissional de gestão seria então o de pro-
mover a melhor interação entre os anseios da sociedade civil e o estado tendo 
em vista que é profissional essencial tanto no planejamento quanto na execu-
ção de políticas públicas.
Portanto, a esse profissional cabe manusear com absoluta competência 
os conceitos supracitados para produzir material que atenda minimamente às 
necessidades impostas pela nova sociedade civil no século XXI. Por exemplo: 
produzir subsídios para elaboração de política pública eficiente para melhoria 
do saneamento básico e por consequência da saúde no país, para melhoria 
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Mídia e Sociedade
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dos indicadores na educação básica e na segurança pública, entre outros, com 
base em informação relevante e circunstanciada através de estudos e levanta-
mentos de fontes confiáveis sobre a sociedade e a economia brasileiras.
Além disso, a tecnologia da informação promove uma grande modi-
ficação na relação entre estado e sociedade na forma como os serviços são 
prestados pelo primeiro ao segundo. Na atualidade, o acesso a diversos tipos 
de cadastro como o Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) é acessado 
via internet, depois de cumpridos certos requisitos legais. E é o gestor público 
o profissional a conduzir estas modificações (atendimento do setor público) 
de modo a acatar aos anseios da sociedade civil que em contexto de acesso 
rápido à informação deseja e exige celeridade nos processos públicos dos 
quais necessita.
 Saiba mais
No que concerne ao uso da tecnologia da informação para promoção 
da melhoria de serviços públicos estatais, seria importante e relevante uma 
pesquisa acadêmica de artigos sobre o assunto, direcionando-o à área de 
interesse de cada aluno. Uma ferramenta importante para isso é o Google 
Acadêmico, um buscador específico para pesquisa de artigos, livros e 
outros materiais acadêmicos e científicos nas suas fontes originais. Acesse 
pelo endereço http://scholar.google.com.br/ .
Desse modo, a relação entre o saber, o conhecimento acadêmico e a 
atuação profissional implica em conhecer e dominar conceitos e técnicas ade-
quadas ao planejamento de políticas públicas abrangentes conforme a neces-
sidade do público almejado.
Os conceitos de Estado, sociedade civil e esfera pública, no con-
texto da Era do Informacionalismo sofreram algumas mudanças que 
se fizeram presentes desde o início da década de 1980 que implicaram 
adaptações a um novo modelo de economia e política baseada nos prin-
cípios desse informacionalismo. 
Quando os mercados se tornaram globais, a política teve de se adaptar, 
assim como a sociedade, a uma nova forma de operacionalizar o poder e a 
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Estado, sociedade civil e esfera pública
dominação inclusive. Os pressupostos criados por essa nova era em que tudo 
passou a ser mais fácil com o advento da internet e outros meios midiáticos 
que incrementaram as relações entre economia, estado e mercado e sociedade, 
modificaram o modo de produção e aceleraram ainda mais o processo de 
acumulação capitalista, fazendo com que a antiga dicotomia entre capita-
lismo e comunismo se dissolvesse em favor de uma economia ou um mercado 
pujante que se autorregula de maneira nunca vista e interfere nos localismo 
de governos e modifica os padrões dos Estados-nação rapidamente em pro-
cesso de adaptação. 
Nesse contexto, os profissionais que necessariamente estão envolvidos 
nos meios de produção se preparam e se adaptam também a essa nova reali-
dade globalizada, em que a esfera público-política também se modifica.
 Saiba mais
Um dos principais autores da atualidade a estudar o tema da nova 
sociedade e do novo estado que se descortina nesse século XXI, 
Castells produz textos em que desenvolve amplo estudo através de 
sua percepção e experiência acadêmica de pesquisador.
Para saber mais, leia CASTELLS, Manuel. A Era da Informação: 
economia, sociedade e cultura. São Paulo: Paz e terra, 1999. v. 2.
Resumindo
Neste capítulo você conheceu os conceitos de Estado, sociedade civil e 
esfera pública. Além destes, relacionamos outros tantos com o objetivo de 
esclarecer melhor o percurso ou avanços do estado e sociedade civil no con-
texto histórico desde o advento do estado moderno até a Era do informa-
cionalismo, em que as formas vigentes e consolidadas de ação, as relações 
sociais e a atuação da sociedade civil na esfera público-política se modifi-
cam aceleradamente. A Era do Informacionalismo produz tanto processos de 
reestruturação econômica quanto publiciza ou torna conhecidas e consolida 
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novas relações sociais e familiares como os diversos tipos de relações afetivas 
reconhecidas pela legislação de vários países na atualidade.
Nesse contexto, o profissional de gestão deve estar amparado pelo conheci-mento adequado para que possa auxiliar a produção de políticas públicas abran-
gentes o suficiente para atender aos diversos públicos na esfera público-política 
do século XXI.
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Comunicação, cidadania 
e movimentos sociais 
Neste capítulo iniciaremos a discussão sobre alguns dos 
conceitos mais importantes da disciplina de Mídia e Sociedade. 
Nossa tarefa será compreender e utilizar os conceitos de comunica-
ção, cidadania e a relação existente entre a primeira e os movimen-
tos sociais no contexto do século XXI.
A comunicação social é o instrumento através do qual as ins-
tituições do Estado e da sociedade civil exercem sua atuação sendo 
o principal meio através do qual praticam seu poder ou sua domi-
nação, seja de forma simbólica ou real. A comunicação, desde o 
advento da internet, tem sua relação com a sociedade civil tornada 
mais democratizada e democratizante porque é instrumento ou 
meio para difundir novas práticas e identidades sociais.
2
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Mídia e Sociedade
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Objetivos de aprendizagem:
 2 aprender os conceitos de comunicação social e sua imbricação com 
os movimentos sociais no limiar do século XXI;
 2 comunicação como espaço de afirmação da cidadania;
 2 a construção da cidadania pela relação mídia e movimentos sociais;
 2 a relação mídia e movimentos sociais;
 2 formação para a cidadania;
 2 formas de comunicação alternativa, popular e comunitária;
 2 a articulação dos movimentos sociais em torno de uma comunica-
ção democratizada e democratizante;
 2 a luta pela democratização dos meios de comunicação.
2.1 Conceitos fundamentais
A comunicação social é o estudo das causas, funcionamento e conse-
quências da relação entre a sociedade e os meios de comunicação de massa: 
rádio, revista, jornal, televisão, teatro, cinema, propaganda, internet e redes 
sociais. É a união dos processos de informar, persuadir e entreter as pessoas. 
Encontra-se presente em praticamente todos os aspectos do mundo contem-
porâneo, evoluindo aceleradamente, registra e divulga a história e influencia a 
rotina diária, as relações pessoais e de trabalho. Fonte: Instituto de Tecnologia 
ORT (2014). 
As instituições do Estado com os três poderes que caracterizam a demo-
cracia brasileira: Executivo, Legislativo e Judiciário, cada qual em sua circuns-
crição exerce um poder real e legal dentro do Estado brasileiro. Montesquieu, 
compreendido como um dos principais formuladores do Estado de Direito 
na modernidade, na obra intitulada “O Espírito das Leis”, no Livro XI, Capí-
tulo VI, discorre sobre esses poderes embora utilize terminologia diferente 
para o poder judiciário: Há, em cada Estado, três espécies de poderes: o Poder 
Legislativo, o Poder Executivo das coisas que dependem do direito das gentes 
(referência ao povo de um país), e o Executivo das que dependem do direito 
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Comunicação, cidadania e movimentos sociais 
civil. Chama-se a este último o poder de julgar e, o primeiro, simplesmente o 
Poder Executivo do Estado.
A comunicação é o principal meio de difusão através do qual se realiza 
a dominação exercida pelas três instâncias legítimas do estado. Portanto, a 
comunicação perpassa de maneira imprescindível a todas as instituições que 
fazem parte da vida em sociedade. A maneira como ela acontece na atuali-
dade, fomentada pelo advento das novas tecnologias da informação, é que é 
determinante das condutas de todos sejam indivíduos, sejam organizações da 
sociedade civil ou do estado.
A comunicação em sua forma midiática, por exemplo, cuja televisão 
é sua face mais facilmente identificável, tem como um exemplo no Brasil a 
Rede Globo de Televisão. Sua relação com o estado e a sociedade civil no país 
se constrói e consolida a partir dos governos do regime autoritário de 1964 e 
ainda hoje se mantém.
 Importante
A Rede Globo de Televisão teve suas transmissões iniciadas no canal 
4 do Rio de Janeiro em 26/04/1965. Em seguida, outros canais em 
São Paulo e Belo Horizonte foram iniciados, assim como em Brasília 
em 1971. Em rede nacional, suas transmissões começaram em 1969 
com a exibição do Jornal Nacional. Alvo de acusações e tema de 
polêmico documentário intitulado “Muito Além do Cidadão Kane”, 
em alusão ao personagem criado por Orson Welles para retratar um 
magnata das comunicações nos EUA, a Rede Globo de Televisão é 
retratada no documentário (produzido pela BBC inglesa) como par-
ceira do regime militar de 1964, daí sua ascensão desde o período, 
sua suspeita ligação com o antigo grupo americano Time Life, assim 
como é acusada de tentar manipular eleições em 1982 no Rio de 
Janeiro e de manipular o debate entre os candidatos à presidência 
da República em 1989, favorecendo o então candidato Fernando 
Collor de Melo.
Para saber mais sobre a Globo, acesse: http://www.microfone.
jor.br/hist_globo.htm .
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Mídia e Sociedade
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O documentário “Muito Além do Cidadão Kane”, proibido no Brasil 
até a atualidade, está disponível na internet.
O exemplo demonstra o quanto a comunicação e suas várias mídias exer-
cem ou ajudam a consolidar o poder e a dominação no contexto de estado e 
sociedade civil.
No entanto, dadas as condições diante das quais a comunicação global 
se expande, não somente os meios de dominação “oficial” se beneficiam desta 
revolução que é ajudada pela tecnologia da informação. Com isso, a cidada-
nia inclusive se beneficia porque a comunicação ajuda aos movimentos sociais 
a consolidar os direitos de todos.
Cidadania significa que o indivíduo que vive em sociedade é detentor 
dos direitos sociais, direitos políticos e direitos civis. Ou seja, todo cidadão 
tem assegurados, no contexto de estado e sociedade, seus direitos básicos 
nas três esferas. A Constituição da República Federativa do Brasil em seu 
Título II, nos artigos 5o ao 17o trata dos Direitos e Garantias Fundamen-
tais, entre os quais se inserem os direitos assegurados ao cidadão. Conforme 
Dallari (1998, p. 14):
“A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possi-
bilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem 
não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada 
de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social”. 
Na atualidade no país ainda é possível encontrar indivíduos desprovidos da 
cidadania. Um dos exemplos disso são brasileiros cujo nascimento não foi 
devidamente registrado como manda a lei.
 Saiba mais
O tema dos direitos humanos é uma importante referência 
para aqueles que atuam na gestão pública e lidam diretamente 
com a questão dos direitos. O professor Dallari, um dos mais 
renomados juristas do país, contribui com sabedoria e base 
teórica extensa para o debate sobre os direitos humanos no 
país e no mundo. Sua obra é referência obrigatória e esclare-
cedora a todos que lidam com a questão. DALLARI, Dalmo 
MID_Midia_Sociedade.indb 22 16/06/2015 16:45:14
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Comunicação, cidadania e movimentos sociais 
de Abreu. Direitos Humanos e Cidadania. São Paulo: 
Moderna, 1998. 
Nesse sentido, a educação, é um direito social conforme explicitado na 
concepção de cidadania exposta anteriormente. Com relação aos movimen-
tos sociais, eles são considerados produto da ação de grupos organizados na 
sociedade civil com o intuito de obter do estado algo que considerem ser um 
direito daquele grupo e ou da sociedade em geral.
 Você sabia
A Constituição da República Federativa do Brasil prevê em 
seu artigo 205 que a educação é direito de todos e dever do 
Estado e da família, devendo ser promovida e incentivada com 
a colaboração da sociedade, visando o plenodesenvolvimento 
da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qua-
lificação para o trabalho (Constituição da República Federativa 
do Brasil de 1988).
O Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) é um movi-
mento social que busca a redistribuição da terra considerada improdutiva, 
conforme o conceito descrito na legislação nacional, para aqueles que não 
possuem nenhuma parte de terra para a produção. Do mesmo modo em 
âmbito urbano, o Movimento dos Sem Teto busca condições mais dignas de 
moradia a uma parcela daqueles abaixo da linha da miséria. 
O objetivo inicial do MST é reassentar aqueles interessados em pro-
duzir alimentos para seu sustento. São prioritariamente trabalhadores rurais 
que sem a propriedade da terra se viram sem condições de trabalho, devido, 
entre outros motivos alegados, ao avanço da mecanização nas grandes pro-
priedades rurais do país como as da região Centro Oeste, grandes centros 
produtores de soja, por exemplo. Devido a esse fato principalmente, o 
modo de produção escolhido pelo MST não por acaso foi o da agricultura 
familiar. Atualmente, o MST tem vários assentamentos em plena produção, 
com o resultado dessa produção sendo comercializado pelo Brasil através do 
Programa de Agricultura Familiar idealizado pelo Governo Federal.
MID_Midia_Sociedade.indb 23 16/06/2015 16:45:14
Mídia e Sociedade
– 24 –
Figura 1: Membros do MST marcham por direito a terra.
Fonte: http://midiaindependente.org/pt/red/2008/04/417660.shtml . 
O MST, assim como outros movimentos sociais, após a década de 1980 
teve importante impulso para seu nascimento e sua consolidação pela luta por 
direitos dos chamados “desassistidos sociais”, porque foram instrumentaliza-
dos pela maior facilidade de acesso à informação. Ou seja, a comunicação, via 
diversas mídias sociais, popular e democratizada, fez enorme diferença para 
que esses movimentos passassem a existir.
Nesse sentido, pode-se compreender que os movimentos sociais somente 
funcionam e tendem a ganhar força a partir do momento em que os indiví-
duos se organizam e se comunicam uns com os outros para tanto.
 Importante
No Brasil a sociedade civil organizada em movimentos sociais ressurgiu 
com certa força no país após a ditadura militar de 1964, com destaque 
para a década de 1980 que viu surgirem novos movimentos sociais com 
o intuito de atenderem as demandas dos estratos mais carentes da popu-
lação como o MST, o movimento dos sem casa, entre tantos outros.
O ressurgimento ou a descoberta da sociedade civil se processou antes 
mesmo da transição democrática, conforme Francisco Weffort em artigo 
intitulado “Por que Democracia?” In: Democratizando o Brasil. STEPAN, 
MID_Midia_Sociedade.indb 24 16/06/2015 16:45:14
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Comunicação, cidadania e movimentos sociais 
Alfred (org.) (1988). Segundo ele, as relações interpessoais antes esgarçadas, 
desconectadas assistem ao momento em que as demandas por justiça e direi-
tos humanos, oriundos da classe média mais atingida pela, se tornaram mais 
intensas. A partir dessa motivação, pode-se entender a tentativa de expansão 
dessa demanda para as classes populares conforme Maria do Carmo Cam-
pello e Souza em artigo intitulado “A Nova República brasileira: sob a espada 
de Dâmocles”. In: Democratizando o Brasil. STEPAN, Alfred (org.) (1988).
Esse momento histórico se explica, de acordo com Leonardo Avritzer em 
artigo intitulado “Modelos de Sociedade Civil: Uma Análise da Especificidade 
do Caso Brasileiro”. In: MITRE, A. F. (org.) Ensaios de Teoria e Filosofia Polí-
tica em Homenagem ao Professor Carlos Eduardo Baesse de Souza (1999, p. 
162), como uma importante mudança no padrão de ação coletiva que começa 
a se processar na América Latina a partir dos anos 1970. Nesse período, surgi-
ram os grupos de direitos humanos e novas “organizações temáticas” como os 
grupos ecológicos, fortemente influenciados por uma sociedade civil global em 
formação, e as associações constituídas em torno da questão de gênero.
A grande mudança nos movimentos sociais a partir de 1980 consiste no 
novo meio de atuação dos atores sociais envolvidos. Esses novos movimentos 
sociais têm, principalmente a partir do movimento sindical e de associações 
locais, uma ressignificação de sua atuação no período citado, produzindo 
pouco a pouco uma nova cultura política no país assim como observado em 
outros países da América Latina, passando a se constituir um espaço público 
plural, onde as heterogeneidades sociais são marcadamente distintas origi-
nando formas diferenciadas de ação coletiva.
Ressignificação: renovar ou atribuir novo significado 
a algo. Fonte: http://houaiss.uol.com.br/ .
 
Essa mudança no padrão dos movimentos sociais é impactada por uma 
comunicação mais democratizada e popular.
Os movimentos que pregavam a luta por direitos humanos objetivando 
a eliminação da tortura e do desaparecimento de presos políticos do regime 
MID_Midia_Sociedade.indb 25 16/06/2015 16:45:14
Mídia e Sociedade
– 26 –
militar passam a atuar no sentido de dirimir desigualdades socioeconômicas 
da maioria. Poderia se alegar que essa mudança estrutural seria uma estratégia 
de sobrevivência desses movimentos no período de transição. Mas o que se 
percebe é que há uma tentativa por parte desses movimentos, de reverter o 
quadro de hierarquização presente nessa sociedade, atuando no sentido de 
liberalização do espaço público a uma parcela mais significativa da população.
Como esses fatos ocorrem? Qual o fator de ligação entre os movimentos 
sociais e a comunicação como fator de afirmação da cidadania?
A comunicação seria, nesse contexto, a chamada “pedra fundamen-
tal” dos movimentos sociais, visto que estes somente podem acontecer se 
a comunicação existir entre os grupos sociais e/ou os indivíduos. A comu-
nicação exerce papel preponderante na disseminação, através da tecnolo-
gia da informação, das reivindicações das várias categorias sociais no Brasil 
e no mundo, por seus direitos de cidadania. Direitos esses cada vez mais 
heterogêneos em função da diversidade de culturas e por consequência as 
várias identidades sociais que têm se formado. As identidades que ligam 
um indivíduo a outro não deixaram de existir. A internet só fez isso crescer 
exponencialmente.
A comunicação então funcionaria como espaço de afirmação da cidadania 
na medida em que é usada não somente por estados ou governos e o mercado, 
para disseminar seu conteúdo organizativo, sob a forma de poder e dominação.
A mídia se constitui, historicamente, como um dos “motores” de cons-
trução da história. Ou seja, como uma espécie de poder simbólico, que atua 
ao lado ou a serviço do poder político e do poder econômico. 
Um exemplo contundente dessa estreita relação entre mídia e poder 
político pode ser vista no Brasil ainda hoje, visto que uma empresa de 
comunicação como a Rede Globo de Televisão aparece e se consolida, 
entre outros canais de televisão e mídia, como formadora de opinião 
pública desde a década de 1960 até a atualidade. Para perceber isso, basta 
comparar a forma como é produzido o noticiário nesta e em outras redes 
de televisão no país.
O que o poder político e o poder econômico não puderam conter foi a 
rede mundial de computadores, a internet, conforme descrito a seguir, aberta 
MID_Midia_Sociedade.indb 26 16/06/2015 16:45:14
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Comunicação, cidadania e movimentos sociais 
para todo tipo de uso, que potencializou a capacidade de organização da 
sociedade civil. Essa organização pode aparecer tanto em grupos terroristas 
como em organizações ou grupos de proteção ao meio ambiente, como o 
Green Peace.
Na esteira de exemplos como o Green Peace, existem incontáveis grupos 
se organizando pelo país e pelo mundo em busca da garantia de direitos de 
cidadania. No entanto, como se observa no Brasil,por exemplo, existe grande 
diferença entre a lei e a forma como é aplicada, quando é aplicada. O que a 
comunicação, via tecnologia da informação promove, é o encontro entre os 
portadores dos direitos violados ou não garantidos pelos governos, a partir da 
concepção de uma sociedade em redes, interconectando pessoas ou institui-
ções como os governos e as empresas.
 Importante
A internet originou-se de um esquema ousado, imaginado na década de 
1960 pelos guerreiros tecnológicos da agência de Projetos de Pesquisa 
Avançada do Departamento de Defesa dos Estados Unidos (Darpa – 
sigla em inglês), para impedir a tomada ou destruição do sistema norte-
-americano de comunicação pelos soviéticos, em caso de guerra nuclear 
(época da chamada Guerra Fria entre os antigos aliados da Segunda 
Guerra Mundial – liderados pelos americanos – e os Soviéticos). A 
rede foi arquitetada de modo a não poder ser controlada de nenhum cen-
tro, sendo composta de milhares de redes de computadores autônomos 
com inúmeras maneiras de conexão, contornando barreiras eletrônicas. 
Fonte: Castells (1998, p. 21).
2.2 Comunicação como espaço 
de afirmação da cidadania
A comunicação como ferramenta utilizada pelos diversos públicos a par-
tir das tecnologias da informação disponíveis na atualidade, propicia que a 
sociedade civil organizada consiga efetivamente se manifestar e reivindicar 
seus direitos de cidadania em conformidade com os novos tempos.
MID_Midia_Sociedade.indb 27 16/06/2015 16:45:14
Mídia e Sociedade
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2.2.1 Construção da cidadania através da relação 
entre a mídia e os movimentos sociais
No contexto da sociedade civil organizada em esfera mundial, observa-se 
como exemplo um caso ocorrido na China. Em 1989, estudantes organizaram 
o protesto que posteriormente ficou conhecido como o massacre da Praça da 
Paz Celestial (via redes sociais). A comunicação nesse sentido se fez presente 
tanto na disseminação do protesto entre estudantes e outros cidadãos chineses 
como na disseminação das imagens deste em âmbito internacional, fazendo 
com que as violações de direitos na China de regime comunista ficasse mais 
visível ao mundo ocidental. A grande mídia como a televisão foi uma das res-
ponsáveis pela publicização de acontecimento tão importante e tão trágico.
Publicização: ação ou efeito de tornar público.
Fonte: Dicionário online de Português. 
Disponível em: <http://www.dicio.com.br/> .
 
Os chineses pleiteavam, entre outras coisas, mais liberdade de expressão. 
No entanto, como se verificou, muitos foram mortos no protesto organizado de 
forma pacífica. Ainda que evidências de massacre na Praça da Paz Celestial não 
sejam reconhecidas, em outros locais de Pequim pessoas foram assassinadas pelo 
regime comunista naquele 4 de junho. Esse fato poderia passar desapercebido 
não fossem duas importantes consequências: a luta pela cidadania, um direito 
de todos os seres humanos, principalmente desde a Declaração dos Direitos do 
Homem e do Cidadão, de 1789. Além disso, mostra como os movimentos sociais, 
baseados em identidades diversas como a de estudantes em luta por seus direitos, 
ganham força e consistência com a interferência da comunicação via mídias sociais. 
 Saiba mais
A mídia internacional tem versões para o acontecido em Pequim 
em 1989. Para saber mais, acesse: http://operamundi.uol.com.
br/conteudo/noticias/35541/conheca+8+fatos+sobre+o+m
assacre+da+praca+da+paz+celestial.shtml .
MID_Midia_Sociedade.indb 28 16/06/2015 16:45:14
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Comunicação, cidadania e movimentos sociais 
A comunicação é aliada da cidadania e dos movimentos sociais na medida 
em que cumpre seu papel de agregadora (via redes sociais para promover o encon-
tro real de manifestantes) e esclarecedora da opinião pública (pela disseminação 
ou publicação das manifestações daqueles que reivindicam seus direitos).
Outro exemplo dessa estreita vinculação entre a comunicação, os movimen-
tos sociais e a promoção da cidadania pôde ser observado recentemente na Tuni-
sia, cujo estopim dos protestos chamados de Revolução de Jasmim foi o fato de 
um jovem que vendia frutas para sustentar a sua família se recusar a pagar propina 
à polícia e ter seus produtos confiscados. Como forma de protesto, ateou fogo ao 
próprio corpo, fato que deu origem aos protestos contra o ditatorial e corrupto 
governo de Zine el Abidini Ben Ali, em função dos protestos que duraram de 
dezembro de 2010 a janeiro de 2011, quando o governo de Ben Ali caiu.
 Você sabia
Revolução de Jasmim ou os primeiros protestos da chamada Prima-
vera Árabe (onda de protestos e revoluções que ocorrem em parte 
do Oriente Médio e norte do continente africano com a população 
indo às ruas protestar contra governos ditatoriais e por melhores con-
dições de vida), que se iniciaram em dezembro de 2010 na Tunísia.
Para saber mais, acesse: <www.brasilescola.com/geografia/prima-
vera-Arabe.htm >.
Figura 2: Manifestantes protestam contra governo de Hosni Mubarak no centro da 
cidade do Cairo (04/04/2011). 
Fonte:<http://veja.abril.com.br/noticia/mundo/o-oriente-medio-nao-vive-sua-terceira-
onda-democratizante >.
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Mídia e Sociedade
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2.2.1.1 Qual a importância da comunicação diante disto?
A comunicação é ferramenta fundamental na consolidação e no sucesso 
de movimentos sociais, visto que através dela, via tecnologias da informa-
ção disponíveis, o mundo produz um reordenamento que tenta privilegiar a 
observação dos direitos de cidadania.
A comunicação popular tem sua origem nos movimentos sociais da 
década de 1970 e 1980 no Brasil e na América Latina. É um processo de 
comunicação que emerge da ação dos grupos populares com caráter mobili-
zador coletivo, conforme Peruzzo, em “Revisitando os conceitos de Comuni-
cação Alternativa, Popular e Comunitária”. In: XXIX Congresso Brasileiro de 
Ciências da Comunicação – UNB (2006). A comunicação popular é também 
denominada participativa ou comunitária, visto que seu sentido político é de 
que trata de uma forma de expressão de segmentos excluídos da população, 
mas em processo de mobilização visando atingir seus interesses e suprir neces-
sidades de sobrevivência e de participação política (PERUZZO, 2006, p. 2).
2.2.1.2 Movimentos sociais e comunicação 
democratizada e democratizante
Com o surgimento da internet, a comunicação passa a ser domínio não só 
das instâncias de poder e dominação, mas é democratizada no sentido de que 
seu acesso é facilitado a todos em todos os cantos do mundo. Desde os índios 
da Amazônia até os membros dos grupos palestinos Hamas ou Fatah (notavel-
mente antes das eleições de 2006 na Palestina1), todos têm acesso à comunica-
ção global via novas tecnologias da informação. A forma como a comunicação 
é usada é que diferencia esses grupos. Se os movimentos sociais propiciam escla-
recimento e um padrão organizativo para reivindicar direitos, os grupos terro-
ristas do mesmo modo se organizam, utilizando a comunicação para divulgar 
1 As eleições de 2006 na Palestina levaram ao pode no recém criado “estado” palestino os 
grupos rivais Hamas e Fatah. Em 2006 o líder da Autoridade Nacional Palestina era membro 
da Fatah, enquanto o primeiro ministro fazia parte do grupo radical Hamas, na atualidade 
ainda considerado um grupo terrorista pelos EUA e pela Europa. São esses os dois grupos 
principais que dominam o poder no estado palestino, ainda que não se tenha constituído efe-
tivamente em um estado como conhecemos devido principalmente às rivalidades e desacordos 
entre os membros dos dois grupos. Saiba mais acessando: http://g1.globo.com/mundo/noti-
cia/2014/09/fatah-e-hamas-acertam-acordo-para-governo-de-unidade-na-faixa-de-gaza.html .
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Comunicação, cidadania e movimentos sociaisseus intentos. Nesse sentido, as identidades coletivas, como se observa, são dis-
tintas: algumas construídas a partir de uma concepção universalista de direitos 
humanos, outras a partir de fundamentalismos de ordem religiosa.
 Saiba mais
O fundamentalismo islâmico se baseia em argumento religioso para con-
denar o Ocidente com base nos ensinamentos, interpretados, da bíblia 
dos povos árabes, o alcorão. Nessa concepção equivocada, os ociden-
tais seriam os ditos “infiéis”, com base no princípio religioso da existência 
de um deus (Alá). Portanto, não seriam os ocidentais os “escolhidos” de 
Deus, pelo contrário, seriam os infiéis, os responsáveis pelas mazelas pelas 
quais passam os povos do Oriente Médio e proximidades.
2.2.2 O que os movimentos sociais trazem de 
significativa mudança à comunicação?
A comunicação vem se tornando mais democrática por atingir um maior 
e mais heterogêneo público em todos os cantos do mundo, e desse modo sofre 
um processo de democratização por ter facilitado o acesso a ela. Ocorre uma 
via de mão dupla, em que os movimentos sociais a tornam mais democrática 
e ao mesmo tempo democratizante, na medida em que é corresponsável pela 
divulgação ou publicização dos movimentos sociais nas redes sociais.
Deve-se levar em conta outro fator: os detentores dos meios de produção 
ou o poder econômico e os governos ainda não atendem aos anseios dessa 
imensa massa de grupos que surgem na sociedade civil, tanto nacional quanto 
global. Não atendem no sentido de que ainda não existem políticas públicas 
eficazes e suficientes para atender aos anseios dos trabalhadores sem terra que 
lutam pela reforma agrária em um país de dimensões continentais em que a 
propriedade da terra, assim como outras fontes de riquezas, encontra-se con-
centrada nas mãos de poucos. 
Esse não seria um problema se a produção de todos os alimentos neces-
sários ao consumo humano tivesse sua origem nas grandes propriedades 
rurais. Na verdade, o pequeno produtor é um dos grandes responsáveis pela 
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Mídia e Sociedade
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produção de alimentos no Brasil. Assim também acontece em âmbito global: 
não há interesse dos vários governos em atender aos apelos do Green Peace 
por maior controle na emissão de gases poluentes na atmosfera, degradando 
mais o clima no planeta, porque minimizam o problema que no futuro pode 
se tornar irreversível. Ou seja, empurrar um problema para o futuro como 
se ele não existisse na atualidade devido aos interesses mais imediatos do 
grande capital.
A China, país que avança economicamente em contexto global, tam-
bém é o principal emissor de gases na atmosfera e não demonstra a menor 
preocupação com o futuro do planeta. O argumento é o mesmo: interesses 
divergentes em jogo. Por isso não existem políticas públicas direcionadas para 
esse fim. Os movimentos sociais, no entanto, continuam atuando.
 Importante
A comunicação deixa de ser um privilégio dos detentores do poder 
político e econômico e passa a ser domínio público na medida em 
que, hoje em dia, construir sites pessoais ou de organizações e páginas 
em redes sociais com os mais diversos fins é um dos meios utilizados 
para reafirmar as identidades coletivas, portanto dos grupos sociais orga-
nizados. A comunicação então passa a ser utilizada para vários fins 
fortalecendo a sociedade civil organizada (movimentos sociais).
No contexto mundial e local, em que os interesses econômicos e políti-
cos se sobrepõem aos interesses mais gerais de bem-estar da humanidade no 
que tange a direitos como a um meio ambiente saudável e preservado para o 
futuro e na garantia de alimentos produzidos de forma sustentável sem agre-
dir esse ambiente se observam dois movimentos distintos e contraditórios: de 
um lado o poder econômico e político que não deseja modificar um estado de 
coisas que ainda os favorece apesar dos problemas como a poluição e o efeito 
estufa. Por outro lado, os pequenos grupos que defendem o meio ambiente e 
outros grupos como de trabalhadores que não detém a propriedade da terra 
em que trabalham e, no entanto, alimentam boa parte da população de países 
como o Brasil, porque a agroindústria atende a fins específicos como a produ-
ção de soja e não a uma gama necessária e diversa de alimentos. 
MID_Midia_Sociedade.indb 32 16/06/2015 16:45:14
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Comunicação, cidadania e movimentos sociais 
Nesse âmbito, os grupos com poder econômico e político ou os grupos 
minoritários preocupados com a sobrevivência do planeta se utilizam da 
comunicação e seus meios midiáticos para defenderem seus pontos de vista 
e suas premissas.
Resumindo
Neste capítulo você estudou os conceitos de comunicação social, movi-
mentos sociais e cidadania, com ênfase para o contexto do limiar do século 
XXI. Conheceu a relação próxima entre a comunicação, via novas tecnolo-
gias da informação e os movimentos sociais. Destaque para a construção da 
cidadania através do apoio da comunicação via mídias sociais, em forma de 
divulgação e outras, aos movimentos sociais. Assim, o sentido da comunica-
ção como democratizada e democratizante que passou a ser uma ferramenta 
de domínio público, não mais somente dos detentores do poder político e 
econômico. Em contexto global de degradação ambiental e climática e de 
aumento do contingente de miseráveis, isso faz enorme diferença.
Dessa maneira, entendemos como ocorre uma relação tão intensa 
entre a mídia e os movimentos sociais e como esta relação contribui de 
maneira muito consistente para ajudar a promover a formação para a 
cidadania. Não somente os movimentos sociais “do bem” se beneficiam da 
relação estreita com a mídia, mas que o fato de existir a internet propicia 
aos mais diversos grupos sociais o acesso e a divulgação de seus objetivos, 
encontros e ações como grupos terroristas que ampliam seu âmbito de 
influência em todo o mundo.
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Espaço público, poder 
local e midiatização 
das demandas sociais 
Neste capítulo você aprenderá sobre a noção do que é espaço 
público, como o espaço público e o poder local se relacionam e 
como as demandas sociais, via processos de midiatização em espaços 
públicos, chegam ao poder local. Nosso primeiro objetivo é defi nir 
e problematizar os conceitos citados: poder local, espaço público e 
demandas sociais e entender como sofrem processo de midiatização 
e por que isso acontece na atualidade.
Poder local e espaço público estão intrinsecamente ligados por 
uma questão lógica: o pode local tem no espaço público seu local 
de atuação por excelência, visto que é onde se tratam dos assuntos 
públicos de interesse de todos.
3
MID_Midia_Sociedade.indb 35 16/06/2015 16:45:18
Mídia e Sociedade
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Objetivos de aprendizagem:
 2 entender e relacionar os conceitos de espaço público e poder local, e 
suas implicações no processo de midiatização de demandas sociais;
 2 poder local e transformação do espaço público via midiatização de 
demandas sociais.
3.1 Histórico e conceitos
O conceito de poder local remete ao conteúdo mais geral do que é o 
poder, a partir da maneira como o Estado e a sociedade se relacionam e como 
este mecanismo é utilizado para a organização da vida social. Em outras pala-
vras, o poder esteve sempre historicamente relacionado ao papel do Estado na 
vida de todos os cidadãos vinculados a esse estado.
O poder local refere-se a instâncias de poder dentro do Estado brasileiro. 
Por exemplo, remete ao papel das prefeituras municipais, instâncias de poder 
localmente organizadas. O poder local que emerge no Brasil desde a promulga-
ção da Constituição Federal de 1988, tem a necessidade de manutenção de um 
diálogo intenso e frequente com a sociedade civil organizadaou os movimentos 
sociais que defendem interesses dos diferentes grupos existentes nesse contexto.
Já o espaço público compreende a construção ou ampliação da esfera de 
atuação dos atores sociais (movimentos sociais organizados) no que concerne 
à busca por seus direitos. Os movimentos que organizaram os protestos no 
Brasil nos anos de 2013 e 2014 também podem ser inseridos na categoria de 
movimentos sociais, embora nem tão organizados do ponto de vista institu-
cional se comparados aos demais citados aqui. Como se percebe, o espaço 
público é de todos os cidadãos e tem seu ponto forte nas praças públicas e 
outros locais de livre manifestação como assembleias populares, reuniões de 
orçamento participativo nos municípios, assim como através da internet ou 
redes sociais como em algumas iniciativas do Orçamento Participativo na 
cidade de Belo Horizonte – MG em que os cidadãos são instigados a votar 
por algum tipo de melhoria em sua região via internet. Isso quando o objetivo 
que é explanar desejos por direitos de cidadania. Também na manifestação 
do coletivo para uma nova qualidade de cidadania, que institui o cidadão 
como criador de direitos para abrir novos espaços de participação sociopolí-
tica (JACOBI, 2003).
MID_Midia_Sociedade.indb 36 16/06/2015 16:45:18
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Espaço público, poder local e midiatização das demandas sociais 
3.2 Poder local e transformação do espaço 
público: midiatização de demandas e 
organização de políticas públicas
O poder local tem se mostrado particularmente aberto a experiências 
inovadoras de gestão pública com a atuação conjunta com atores sociais, 
como em municípios onde ocorre o Orçamento Participativo. O OP, como 
ficou conhecido, é um modelo de gestão praticado em municípios como Belo 
Horizonte, capital do Estado de Minas Gerais, que destina parte do orça-
mento anual de algumas obras públicas para que a sociedade civil organizada 
decida seu destino após um consenso democrático. Ou seja, parte da desti-
nação do orçamento público é decidida em reuniões públicas – assembleias 
regionais. Após estas instâncias decisórias entre poder local e sociedade civil 
organizada, o orçamento municipal é organizado para o ano seguinte com as 
destinações decididas nas assembleias regionais.
Parte desse processo só é possível devido a um processo histórico de 
ascensão de demandas sociais via midiatização ao centro da esfera pública ou 
do debate público. Os atores sociais envolvidos se empenham em levar ao 
debate e à ação do Poder Público, os problemas que detectam e que estariam 
sendo impedimento ao pleno exercício de algum direito de cidadania.
Nesse sentido, o conceito de participação se amplia na medida em que 
novos atores sociais entram em cena. Conforme Carole Pateman, em obra 
intitulada “Participação e teoria democrática” (1992), isso começa a se deli-
near nos últimos anos da década de 1960, quando a palavra “participação” 
tornou-se parte do vocabulário político popular. O início foi com a onda de 
reivindicações, em especial por parte dos estudantes, pela abertura de novas 
áreas de participação – nesse caso na esfera de educação de nível superior –, e 
também por parte de vários grupos que queriam, na prática, a implementação 
dos direitos que eram seus na teoria.
No Brasil, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, novas 
demandas por direitos como a saúde para todos, se tornaram comuns no 
final dos anos de 1980 e início da década de 1990. Estas demandas foram 
direcionadas em sua maior parte às instâncias de poder locais por questões 
de ordem constitucional mesmo. A legislação, no que se refere à assistência 
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Mídia e Sociedade
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social e saúde, determina que esses serviços em grande parte sejam presta-
dos pelos municípios tendo contrapartida da União em recursos financeiros. 
Desse modo, essas demandas e a interlocução com os atores sociais é feita 
com o poder local: as prefeituras e suas respectivas secretarias municipais de 
saúde e assistência social.
 Saiba mais
O Sistema Único de Assistência Social (Suas) foi implementado aos 
poucos após a promulgação da Constituição Federal de 1988. Prevê 
assistência aos idosos, às crianças de zero a seis anos e aos deficientes 
físicos, entre outros públicos atendidos pelo sistema. O Suas é prestado 
em âmbito municipal com os recursos sendo repassados pelo Ministério 
do Desenvolvimento Social e Combate à Fome aos municípios, Distrito 
Federal e aos estados.
Para saber mais, acesse:
<www.mds.gov.br/assistenciasocial/suas>.
<http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/cidadao/entenda-o-sus>. 
No âmbito de Brasil e da América Latina, o espaço público vem sendo 
transformado e reapropriado pelos seus legítimos “donos” desde o processo 
de redemocratização no início da década de 1980. O modelo de gestão com-
partilhada em vigor na área da saúde, da assistência social e do meio ambiente 
são alguns dos frutos dessa abertura e ressignificação do espaço público no 
país, o que demonstra o fortalecimento do espaço público e a abertura da 
gestão pública à participação da sociedade civil na elaboração de suas políticas 
públicas, conforme Jacobi (2003).
Nesse contexto, a legislação com relação a meio ambiente e meio 
rural se modificou desde o final dos anos 1980 e início dos anos 1990.
Especificamente com relação ao meio rural, os anos 1990 revelam um 
novo papel do Estado Brasileiro na agenda do desenvolvimento desta área. 
Em virtude do longo período de crises que caracterizou a década de 1980, 
tornou-se imperativo o processo de avaliação e transformação das políticas 
públicas relacionadas ao meio, buscando principalmente recuperar os princi-
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Espaço público, poder local e midiatização das demandas sociais 
pais instrumentos de desenvolvimento rural. Como resultado, tem sido ten-
dência a mudança do núcleo das atividades para a esfera local, onde concre-
tamente ocorrem as relações sociais de produção.
Até então, as propostas de desenvolvimento rural apresentavam um 
amplo enfoque de estratégia agrícola, que previa ocupação e colonização de 
novas terras, aberturas de fronteiras agrícolas, introdução de novos produtos 
para o mercado, projetos de irrigação, incentivo à agropecuária, à agroindús-
tria, políticas agrícolas com base em produtos etc. Este conceito de desen-
volvimento rural partia da suposição – que predominou no país durante 
muitas décadas – de que a tecnologia, aliada ao capital, é que promove 
o desenvolvimento. 
Atualmente, principalmente pela preocupação da população com o risco 
do consumo de produtos agrícolas com alta concentração de agrotóxicos, 
assim como de proteção ao meio ambiente, ocorre uma crescente conscienti-
zação dos riscos desses produtos à saúde humana e a exigência de qualidade 
dos alimentos. Nesse âmbito destaca-se a importância da preservação e manu-
tenção das reservas e áreas naturais, estando esta última ligada à questão da 
biodiversidade e do equilíbrio global.
No início dos anos1990, o paradigma da participação e da parceria pas-
sou a ser incorporado e sugerido às políticas públicas dos países em desenvol-
vimento, e como alternativa de solução para os problemas sociais.
Muitas estratégias governamentais passam a incluir formas de controle 
social e de participação dos atores sociais no processo de definição das ativida-
des produtivas, tanto no meio urbano como rural. Algumas iniciativas foram 
propostas, voltadas para o pequeno produtor, o pequeno e médio empreen-
dedor, com base em metodologias participativas de gestão social, que têm 
como enfoque principal o próprio lugar do produtor/empreendedor. Ban-
cos regionais, organizações internacionais e não governamentais passaram a 
desenvolver e aprimorar ações neste sentido por todo o Brasil.As mudanças na sociedade têm gerado movimentos simultâneos e 
interdependentes de reestruturação das bases de regulação econô-
mica, política e social. Na confluência desses movimentos percebe-se 
que o conceito de desenvolvimento vem se redefinindo. Inicialmente 
encarado como sinônimo de crescimento econômico, nos últimos 30 
anos, o termo vem assumindo novo significado com adjetivos que 
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Mídia e Sociedade
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buscam qualificá-lo, atribuindo-lhe novas dimensões. A noção de 
sustentabilidade, a ênfase no local, o fortalecimento da participação 
cidadã e a busca de valores éticos onde se inscrevam os processos de 
desenvolvimento têm influenciado não só as teorias sobre o tema, mas 
principalmente a sua prática. Esse processo é acompanhado da cres-
cente atuação das redes locais como agentes promotoras de desenvol-
vimento... [alguns autores] chegam a apontar as relações sociais e os 
elos de reciprocidade gerados por elas como a própria substância do 
espaço local. Sendo assim, tais relações tornam-se determinantes para 
que a dinâmica do desenvolvimento ocorra ou não em uma região. 
(ANDION, 2003, p. 1.034).
A midiatização de demandas sociais é uma importante ferramenta para 
alavancar processos de desenvolvimento local. Esses processos implicam em 
esforços articulados de atores estatais e da sociedade civil, dispostos a levar 
adiante projetos que surjam da negociação de interesses, muitas vezes, diver-
gentes e conflitantes. Assim a lógica do desenvolvimento, seja ele local, regio-
nal, nacional ou global necessita do surgimento e fortalecimento de lideran-
ças inscritas em seus territórios e com capacidade de iniciativa e propostas 
de caráter social, econômico e ambiental que capitalizem as potencialidades 
existentes nesses espaços.
Outros exemplos notáveis de demandas sociais e suas relações com o 
Poder Público para consecução de políticas públicas podem ser apontados 
como iniciativas eficazes de ação da sociedade civil organizada que assume 
o espaço público e dialoga com o Poder Público, além de participar ativa-
mente do planejamento para atender aos anseios de cidadãos efetivamente. 
O Projeto Manuelzão é um exemplo de frutos da parceria entre sociedade 
civil e Poder Público em esfera local e estadual. É um projeto que tem entre 
seus objetivos a ampliação do saneamento básico na Região metropolitana de 
Belo Horizonte. O que conseguiu: em 2013 houve ampliação da ordem de 
quase 100% de cobertura de esgotamento sanitário e outros benefícios para 
a população atendida.
O Projeto Manuelzão, cujo nome foi uma referência ao vaqueiro, per-
sonagem real do clássico livro “Grande Sertão Veredas”, de João Guimarães 
Rosa (escritor e médico de formação, diplomado pela UFMG), foi um dos 
grandes responsáveis pela ampliação da cobertura de esgotamento sanitá-
rio realizada pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais – Copasa na 
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Espaço público, poder local e midiatização das demandas sociais 
região metropolitana da capital mineira nos anos 2000. No período com-
preendido entre 2007 e 2013, a cobertura subiu de pouco mais de 1% para 
83% de esgoto sanitário tratado na região. 
É importante relatar esse tipo de ação efetiva na consecução da política 
de saneamento ambiental para demonstrar como o processo de demandas 
sociais, via mídias diversas e a interlocução entre os atores sociais, gera 
benefícios à população em geral de vários municípios da região. Desse modo, 
o exemplo reforça a importância de a sociedade civil organizada funcio-
nar como importante meio através do qual o Poder Público pode atuar de 
maneira mais eficiente. 
O Projeto Manuelzão, como parceria fundada no compromisso de 
professores e comunidades da região envolvida, promoveu o encontro entre 
a sociedade civil organizada, suas demandas e o Poder Público, a Companhia 
de Saneamento do estado.
 Saiba mais
Conheça a história do projeto Manuelzão e suas atividades acessando o 
site: <www.manuelzao.ufmg.br>. 
No contexto em que a gestão compartilhada entre o Poder Público e os 
atores sociais, é uma realidade cada vez mais presente, existe um profissional 
que, além do planejador, do administrador, é o meio de ligação entre tais 
demandas e o Poder Público: o gestor de políticas públicas. 
Como o próprio nome indica, esse profissional está por trás, como 
planejador, como aquele que implementa a política pública suscitada por 
uma comunidade seja ela local, regional ou nacional.
Ao gestor público cabe o planejamento e a execução da política pública, 
além de fazer antes o desenho da política, junto aos demais atores. Um dos 
exemplos que podemos citar refere-se ao papel desse agente público na arti-
culação com os conselhos municipais. Além disso, é importante salientar em 
que consistem os conselhos.
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Mídia e Sociedade
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3.2.1 Conselhos
Os conselhos municipais são instrumentos criados para propiciar uma 
melhor e mais ampliada participação política democrática aos membros da 
sociedade civil.
Suas funções, conforme definido em lei, podem ser de simples conselhos 
consultivos a conselhos deliberativos ou ambos.
Os conselheiros em geral têm como papel a participação na gestão do 
programa ou a fiscalização da implementação de políticas decididas em outras 
instâncias, fazendo o acompanhamento da aplicação dos recursos públicos 
assim como os rumos do desenho da política pública. O principal parâmetro 
é uma capacidade estendida de impor a melhor estratégia de formulação de 
políticas setoriais, observada, sempre que possível, a transversalidade das polí-
ticas públicas. Ou seja, a atenção geral à saúde, por exemplo, não pode deixar 
de atender vários tipos de públicos como a mulher, a criança e o adolescente, 
o idoso e as etnias.
Os conselhos gestores são conselhos mais específicos, vinculados a 
conselhos municipais, como os de saúde, cuja constituição foi elaborada 
conforme legislação federal em vigor, para propiciar a gestão compartilhada 
de recursos e ações públicas setoriais (agente público e sociedade civil, via 
prestadores de serviços, em muitos casos). Podem os conselhos de saúde 
demandar, controlar ou regular todas as políticas públicas direcionadas ao 
setor e possuem forte capacidade decisória sobre o que fazer, onde e quando. 
O conselheiro de saúde tem um papel importante porque pode decidir a 
formulação e a implementação de uma política setorial. A Constituição 
Federal de 1988 em seu artigo 198, III assegura a participação popular, 
inclusive sob a forma dos conselhos municipais e estaduais, na organização 
do Sistema Único de Saúde. Essa participação popular inclusive é referen-
dada em documento produzido em 2010 pelo Tribunal de Contas da União 
(TCU), para orientação aos conselheiros de saúde no país (saiba mais aces-
sando o documento na íntegra em: <http://portal2.tcu.gov.br/portal/pls/
portal/docs/2057626.PDF>).
Já os conselhos deliberativos têm poder de decisão sobre os temas de sua 
competência, conforme a legislação pertinente. Os conselhos consultivos são 
órgãos de consulta, sendo que suas decisões podem ou não ser acatadas pelo 
poder público local (Executivo).
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Espaço público, poder local e midiatização das demandas sociais 
 Importante
O Poder Executivo municipal é representado pelo prefeito e pelo 
vice-prefeito, escolhidos em eleição direta de quatro em quatro anos 
pelos eleitores do município. No âmbito municipal, também há o Poder 
Legislativo, cujos representantes são os vereadores. A Câmara munici-
pal tem como principais atribuições a função de produzir legislação, fis-
calizar as contas do município, zelando pelo cumprimento da lei, além 
da sua funçãodeliberativa que organiza seu funcionamento interno com 
a elaboração do regimento da câmara e dar posse ao prefeito e ao seu 
vice. No caso do Poder Judiciário, este existe em todos os municípios, 
mas não faz parte da esfera dos poderes municipais. Somente existe em 
âmbito estadual e municipal. No entanto, há um órgão, o Tribunal de 
Contas, que pode ser considerado o Poder Judiciário do município. 
Seu trabalho é fiscalizar a aplicação dos recursos públicos pela prefeitura 
e câmara municipal quando for o caso.
Em todos os casos, os conselhos podem ser entendidos como instru-
mentos efetivos de participação popular na gestão pública e têm papel impor-
tante na formulação de políticas públicas com forte capacidade decisória no 
contexto nacional, estadual ou municipal. São os casos dos conselhos de 
educação, saúde e assistência social que, de acordo com diretrizes federais, 
comandam de certa forma a política pública local dada sua capacidade de 
interferência direta em todas as etapas da política pública: planejamento/ for-
mulação, implementação e resultados esperados ou não.
A experiência dos conselhos e outros instrumentos de participação 
popular efetiva em processos políticos, como a formulação e implemen-
tação de políticas públicas locais, é perceptível mais nitidamente nas que 
dizem respeito à vida social cotidiana dos indivíduos como as políticas 
sociais, por exemplo. Nesse sentido, os atores sociais passaram a exercer 
de maneira mais intensa, desde a promulgação da Constituição Federal de 
1988, conforme literatura pertinente com autores de destaque como Maria 
Victoria de Mesquita Benevides e Evelina Dagnino, entre outros, o que 
chamamos de cidadania ativa.
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Mídia e Sociedade
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Portanto, a ampliação da participação popular na esfera pública, incluindo 
o processo decisório de políticas, vinha acontecendo a passos largos desde 
a década de 1980, notadamente após o fim da ditadura militar em 1985. 
Nesse sentido, o aumento da participação no âmbito do processo 
decisório sobre políticas públicas atende a uma dupla finalidade: a descen-
tralização administrativa e municipalização de procedimentos e os inte-
resses políticos localizados. Esse é o quadro diante do qual surgem, já na 
constituição de 1988, os conselhos de políticas setoriais com forte apelo ao 
compartilhamento das decisões dos gestores públicos em todos os níveis 
(federal, municipal e estadual) ao mesmo tempo em que a sociedade civil, 
através desses mecanismos, pratica um controle social mais efetivo sobre o 
que é feito e como é feito em termos de políticas públicas.
 Assim é gerado o real interesse da sociedade civil em expansão de direi-
tos e inserção desses mesmos direitos em planejamento de políticas públi-
cas com direcionamento orientado pelas suas próprias demandas, não mais 
somente conforme o gestor/administrador ou a lei, mas conforme as espe-
cificidades locais e regionais. Isso significa dizer que o controle social e a 
gestão em alguns conselhos direciona, conforme a lei, os recursos públicos 
de acordo com o cotidiano e a necessidade de cada município/região. Em 
alguma medida, este é um importante instrumento a serviço das comunida-
des locais (a barganha, a discussão com o Poder Público local para determinar 
a melhor estratégia a implementar ações locais na saúde, na educação e na 
assistência social, por exemplo).
No contexto atual, existe um ator que exerce um papel fundamental em 
todo o processo de implementação dos conselhos e seu funcionamento, fun-
damental para a articulação entre o Poder Público e a sociedade civil: o gestor 
público, o administrador. Este profissional é imprescindível no processo de 
expansão da participação popular nas decisões de políticas públicas setoriais. 
Além disso, uma importante variável entra também em cena: a mídia como 
coadjuvante determinante em muitos casos da definição ou desenho de uma 
política pública devido ao processo contínuo, de mão dupla, de midiatização 
de certas demandas sociais como a da área da saúde.
Midiatizar uma demanda social implica convocar os atingidos, para o 
espaço público e o Poder Público, para a discussão dos problemas que afetam 
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Espaço público, poder local e midiatização das demandas sociais 
esse meio social de modo a planejar ações/políticas que possam minimizar ou 
acabar com tais problemas. Com esse intuito, várias instituições da sociedade 
civil têm se tornado parceiras do Poder Público no sentido de fornecer maiores 
e melhores subsídios à consecução de políticas públicas eficientes e abrangentes.
O Instituto Sou da Paz é um exemplo de sociedade civil organizada com 
forte apelo midiático para atingir seus objetivos. A instituição trabalha com a 
questão dos impactados pela violência e tem entre suas áreas de atuação Adoles-
cência e Juventude; Promoção da Cultura de Paz; Controle de Armas; Gestão 
Local da Segurança Pública, Polícia e Justiça Criminal. Com foco de atuação 
através de inserções midiáticas via propaganda em redes sociais, o objetivo é 
angariar fundos para promoção de políticas entre jovens em situação de vul-
nerabilidade social, através do programa Juventude, Gênero e Espaço Público.
 Importante
O Instituto Sou da Paz é uma organização não governamental que tra-
balha há mais de 15 anos para ajudar na redução da violência no Brasil. 
Tem como missão contribuir para a efetivação de políticas públicas de 
segurança e prevenção da violência, sempre pautadas pelo respeito à 
democracia, pelos valores da justiça social e dos direitos humanos.
Saiba mais acessando: <www.soudapaz.org/o-que-fazemos>.
No âmbito de grandes centros urbanos como tem se desenhado no 
Brasil desde a década de 1960, as políticas públicas têm sido direcionadas, 
quando se trata do contexto social, para a atenção de demandas levantadas 
pela sociedade civil organizada. A atuação da sociedade civil utilizando os 
recursos da midiatização de conflitos e problemas impõe um modelo de 
gestão compartilhada em que as soluções devem ser buscadas em conjunto 
para uma política pública eficiente e eficaz. No caso da saúde pública como 
se vê todos os dias nos jornais, no rádio, na televisão e em outras mídias, 
principalmente as redes sociais na atualidade, a situação não é das melhores 
em todo o país. No entanto, ações e demandas dos profissionais melhoraram 
o sistema que existia antes do SUS considerando melhores coberturas de 
doenças e o acesso universalizado a todos os cidadãos brasileiros. 
MID_Midia_Sociedade.indb 45 16/06/2015 16:45:18
Mídia e Sociedade
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Portanto, a formulação de políticas públicas na área social em particu-
lar tem levado em conta, obrigatoriamente, o que a sociedade civil almeja e 
necessita e a capacidade do Poder Público em atendê-la. O que a sociedade 
civil organizada e empoderada necessita e demanda do Poder Público tem 
sido objeto da atenção desse último até como estratégia para manutenção de 
um diálogo profícuo com a sociedade civil.
Empoderada: investida de mais poder em função 
de novos conhecimentos adquiridos. Fonte: Dicioná-
rio Online de Português: <www.dicio.com.br/>.
 
3.3 Mídia e demandas sociais: 
qual o papel da mídia
Em um contexto em que a midiatização foi tão falada, é importante 
esclarecer como o conceito foi cunhado e como se modifica em função das 
modificações em curso na “sociedade em redes”, parafraseando Manuel Cas-
tells, em obra intitulada “A Era da Informação: economia, sociedade e cul-
tura” (1998).
A mídia outrora entendida como uma instituição ou campo social, hoje 
tem seu conteúdo “misturado” a outros. Conforme Stig Hjarvard, Midiati-
zação: teorizando a mídia como agente de mudança social e cultural (2012), 
a sociedade contemporânea está permeada pela mídia de

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