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PSICOLOGIA SOCIAL Eliane Dalla Coletta Revisão técnica: Caroline Bastos Capaverde Graduada em Psicologia Especialista em Psicoterapia Psicanalítica Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin – CRB 10/2147 P974 Psicologia social [recurso eletrônico] / Daiane Duarte Lopes... [et al.] ; [revisão técnica: Caroline Bastos Capaverde]. – Porto Alegre : SAGAH, 2018. ISBN 978-85-9502-524-0 1. Psicologia social. I. Lopes, Daiane Duarte. CDU 316.6 Psicologia Social_BOOK.indb 2 15/08/2018 15:32:36 A psicologia social dos grupos: coesão grupal, liderança e status Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Relacionar liderança e coesão grupal. Reconhecer diferentes tipos de liderança sob a lente da psicologia social dos grupos. Identificar diferentes status para membros de um grupo social. Introdução Neste capítulo, você vai estudar a formação dos grupos analisando o papel da liderança. Como você sabe, quem ocupa uma posição de destaque dentro dos grupos influencia os demais membros e converge os esforços de todos na direção dos objetivos que devem ser compartilhados. Para você compreender a formação dos grupos, vai conhecer os conceitos de identidade pessoal e social. Afinal, as pessoas necessitam de uma identi- dade pessoal e de uma identidade social para partilharem alguma relação de ordem emocional antes de se sentirem participantes de um grupo. E você sabe o que leva à formação de um grupo coeso? Diz-se que um grupo é coeso quando os seus membros desejam fazer parte dele e quando as interações se desenvolvem e fluem de forma positiva. Assim, os membros se sentem aceitos e valorizados, o “eu” é substituído pelo “nós” e o clima é de otimismo, cooperação e confiança. Para tanto, é necessário que haja uma liderança formal ou informal. Por isso, você vai conhecer aqui os diversos tipos de liderança e os resultados de suas ações. Além disso, vai ver como os diferentes status refletem a superioridade e a inferioridade, bem como as posições sociais ocupadas em função do poder socioeconômico. C07_Psicologia_social_grupos.indd 1 30/07/2018 09:39:33 Liderança e coesão grupal A liderança é um dos temas mais pesquisados pela comunidade científi ca, especialmente nas ciências sociais. Por isso, é difícil enumerar os diversos conceitos de liderança existentes. A grande heterogeneidade dos estudos, as diferentes ópticas e as inúmeras concepções e orientações teóricas retratam a importância desse constructo. Genericamente, o conceito que tem quase unanimidade é aquele que defi ne a liderança como a infl uência que uma pessoa ou organização exerce sobre outra pessoa quanto ao que é preciso fazer e a como fazer. Além disso, esse conceito considera que um líder deve auxiliar os esforços dos membros do grupo em direção aos objetivos compartilhados. Para Fagundes (2007, p. 20): Liderança é a capacidade de vivenciar e propiciar influências recíprocas entre as pessoas; é a capacidade de influenciar pessoas lideradas e se deixar influenciar por estas [...] a liderança se faz notar onde se estabelece uma relação de interdependência entre os que fazem parte dela [...] não é apenas uma qualidade que a priori certas pessoas têm e que pode ser mensurada. Isso significa que a liderança acontece no ambiente em que as relações entre as pessoas acontecem. Ela surge quando as pessoas necessitam alcançar determinado objetivo e isso requer um trabalho conjunto, em equipe. Em situações assim, um líder informal sempre tende a aparecer. Ele organiza as ações, dá sugestões e aponta alguns caminhos. No caso das organizações, o líder é escolhido pela administração. Nos conceitos de interação e influência, está implícita a atuação das pessoas em grupo, o que leva a outro tema muito estudado pela psicologia social: os grupos. O modo como eles são formados, por sua vez, remete à noção de iden- tidade social. Para começar a destrinchar tudo isso, você deve compreender a identidade pessoal. A identidade é a maneira como a pessoa se percebe, que a faz se sentir original e diferente com relação aos outros. Por meio da sua identidade, uma pessoa se vê como semelhante a alguns e distinta de outros. Essa construção da identidade se dá em relação aos outros, numa interação que faz com que o indivíduo se sinta respeitado dentro de alguns grupos sociais com os quais se identifica por semelhança. Na formação de sua identidade, o indivíduo se afirma e se diferencia, e isso requer um processo de constante correlação e confronto consigo mesmo e com os outros. A psicologia social dos grupos: coesão grupal, liderança e status2 C07_Psicologia_social_grupos.indd 2 30/07/2018 09:39:33 Segundo Torres e Neiva (2011, p. 253), “[...] a acepção da identidade remete aos termos de igualdade e da alteridade, das semelhanças e das diferenças, do se reconhecer e ser reconhecido pelo outro [...]”. Isso significa, também, que o outro é imprescindível no autorreconhecimento e na internalização de padrões, comportamentos, valores e idealizações (sob um viés positivo ou negativo). Nessa interação com outras pessoas, na identificação com grupos, se dá o processo das relações interpessoais, em que o indivíduo assume um papel na relação intergrupal que gera sua identidade social. Tal papel o auxilia a originar e estabelecer seu lugar na ordem social, ou seja, na sociedade. “Nesse aspecto, nenhum grupo vive só, mas em meio a outros, e é nas relações ou nas comparações entre grupos que os aspectos positivos da identidade social e o engajamento na ação social ganham sentido [...]” (TORRES; NEIVA, 2011, p. 258). As pessoas necessitam, então, de uma identidade pessoal e de uma iden- tidade social. Também devem partilhar alguma relação de ordem emocional antes de se sentirem participantes de um grupo. Para Feldman (2015, p. 541): Os grupos consistem em duas ou mais pessoas que interagem entre si, perce- bem-se como parte de um grupo e são interdependentes, ou seja, os eventos que afetam um membro do grupo afetam os demais, e o comportamento dos membros tem consequências significativas para o sucesso do grupo em alcançar seus objetivos. Esses grupos desenvolvem-se e adotam normas, isto é, expectativas referentes ao comportamento apropriado para o grupo. [...] Assim, as pessoas adaptam-se para corresponder às expectativas do grupo. O fenômeno da identificação com o grupo conduz o indivíduo a agir con- forme as normas grupais. Segundo Simões (2016, p. 9), “A influência ou identificação é contingente ao fato de a identidade social estar saliente ou cognitivamente ativada. [...] a pertença ao grupo só afeta atitudes e compor- tamentos na medida em que os indivíduos estão cientes dessa pertença [...]”. As crenças são outro elemento importante na identidade social. A mobilidade social é uma crença de que os elementos dos grupos possuem o livre-arbítrio de se movimentarem entre grupos na busca de ampliar, melhorar ou manter o seu status social. O sentido de pertença é que define a coesão do grupo, fenômeno muito estudado e definido de várias formas. Fundamentalmente, você deve ter em mente que os membros de um grupo coeso desenvolvem um sentimento de atração mútua, e essa atratividade favorece a solidariedade do grupo (SIMÕES, 2016). 3A psicologia social dos grupos: coesão grupal, liderança e status C07_Psicologia_social_grupos.indd 3 30/07/2018 09:39:33 Com exceção das organizações, em que os líderes são escolhidos pela direção, nos grupos sociais a liderança é reconhecida e se destaca pela experiência, pela formação e pela expertise necessária para a obtenção dos resultados que o grupo almeja. Para que os membros sintam desejo de participar dele, é necessário que o grupo seja atrativo. Isso é possível se os membros possuírem condições de satisfazer as suas necessidades individuais de afeição, segurança, afiliação e reconhecimento (CASTELLANI, 2012). O grupo coeso aumenta a produtividade, favoreceo trabalho conjunto e desenvolve um espírito de equipe de confiança e determinação. Porém, Myers (2014) apresenta um sintoma que chama de “pensamento de grupo”, que são ações desenvolvidas pelo grupo coeso que dificultam ou prejudicam a tomada de decisão. O pensamento de grupo pode incluir: ilusão de invulnerabilidade (otimismo excessivo); crença inquestionável na moral do grupo (questões éticas e morais são ignoradas); racionalização (as decisões são justificadas coletivamente, sem considerar opiniões contrárias); visão estereotipada dos adversários (inimigos são considerados inferiores demais para serem levados em conta em negociações); pressão por conformidade (todos devem adotar as regras); ilusão de unanimidade (gerada pela autocensura e pela pressão para seguir as regras do grupo). Esses sintomas podem inibir a expressão de opiniões divergentes daquelas já estabelecidas no grupo. Além disso, podem reduzir as alternativas para a resolução de problemas, bem como levar a decisões parciais e deficientes. Para compreender melhor, veja a Figura 1. Figura 1. Análise teórica do pensamento de grupo. Fonte: Myers (2014, p. 236). A psicologia social dos grupos: coesão grupal, liderança e status4 C07_Psicologia_social_grupos.indd 4 30/07/2018 09:39:33 Tipos de liderança Os primeiros esforços para entender o fenômeno da liderança com bases cien- tífi cas datam de 1943, ano em que foi realizado um estudo por colaboradores de Kurt Lewin (famoso psicólogo que focou seus estudos nos grupos, nas dinâmicas de mudança organizacional e na liderança, sendo um precursor da psicologia social). Lippit e White, em 1943, colaboradores de Lewin, realizaram um experimento que tinha como objetivo investigar o processo de decisão na liderança. As conclusões obtidas continuam como referência quando se expõe o tema das dinâmicas relacionais surgidas nos grupos e o fenômeno social da liderança. O experimento de 1943 objetivou investigar o impacto de estilos de liderança diferentes no desenvolvimento de um grupo. Os estilos de li- derança pesquisados foram: autoritário, democrático e laissez-faire. Essa tipologia ainda hoje é referenciada para expor os tipos de liderança, apesar de terem surgido novos estudos, especialmente na década de 1960. Entre esses estudos posteriores, destacam-se as teorias contingenciais com o tipo de liderança situacional. Além disso, na atualidade há outros dois tipos muito difundidos, que são a liderança transformacional e o líder servidor. A seguir, você vai analisar cada estilo de liderança para entender seu impacto nos grupos sociais. Liderança autoritária A liderança autoritária é caracterizada pela atuação mais centralizada e diretiva do líder. A fi xação dos objetivos é realizada pelo líder sem a participação do grupo. Além disso, o líder defi ne também as tarefas e como devem ser feitas. Esse tipo de liderança gera dependência e submissão do grupo. Às vezes, provoca raiva e descontentamento em função de o líder não considerar as opiniões da equipe por considerá-las de pouca confi ança. O foco é nas tare- fas: são valorizadas as competências, os conhecimentos e os resultados, sem considerar as pessoas. A cobrança do líder é intensa e excessiva, pois tudo necessita ser feito como ele quer e no tempo que ele determinou. Nesse cená- rio, os membros devem se manter em ação e organizados. O comportamento do grupo é geralmente apático, frio e passivo. Esse é um tipo de liderança que deve ser utilizada quando existe pouca margem para falhas e os prazos são reduzidos, como também quando os membros do grupo possuem pouca experiência, necessitando serem mais conduzidos e treinados. 5A psicologia social dos grupos: coesão grupal, liderança e status C07_Psicologia_social_grupos.indd 5 30/07/2018 09:39:33 Liderança democrática O líder incentiva e motiva a participação de todos os membros do grupo, considerando as qualidades e competências. Quando a liderança possui esse estilo, proporciona a coesão do grupo, pois encoraja a livre discussão, predominando o sentido do “nós”. O líder acredita que a união grupal é fundamental para o alcance dos resultados, reconhecendo que o grupo possui condições de tomar decisões com autonomia e responsabilidade. Esse tipo de liderança propicia um ambiente saudável, o desenvolvimento dos membros do grupo e a formação de relacionamentos baseados na confi ança. Porém, em termos de tempo dedicado ao trabalho, o rendimento é mais lento, mas constante, estável e duradouro. Além disso, não é necessária a presença do líder para que as tarefas sejam desempenhadas com prontidão, pois todos estão engajados com os objetivos. O líder democrático reconhece a diferenças e as respeita, com poucos confl itos e tensão. Liderança laissez-faire (liberal) Nesse tipo de liderança, o líder provê orientação insufi ciente para a realização das tarefas, deixando o grupo livre para decidir e defi nir o papel de cada um e para determinar o que cada membro deve fazer. Esse tipo de liderança tende a gerar baixa motivação dos liderados, por fi carem sem uma direção, sem saber o que o líder espera. O papel do líder é atuar somente quando é demandado pelo grupo. Assim, esse estilo é considerado o menos efi caz. Afi nal, apesar de ter confi ança na capacidade da equipe e dar autonomia a ela, o líder pode deixá-la sem direção, podendo ocorrer erros que prejudiquem os resultados. Esse tipo de liderança é apropriado e efi caz com grupos altamente qualifi cados, motivados e capazes de realizar as atividades sozinhos, pois, sendo os membros especialistas, possuem o conhecimento e as habilidades para o trabalho independente. Dessa forma, com pequenas informações, são capazes de executar as suas funções. A psicologia social dos grupos: coesão grupal, liderança e status6 C07_Psicologia_social_grupos.indd 6 30/07/2018 09:39:33 Liderança situacional A liderança situacional, desenvolvida por Paul Hersey e Kenneth Blanchard em 1968, considera que não há um único estilo/tipo de liderança indicado. O líder situacional focaliza a sua atenção sobre a tarefa (dá orientação e diretriz) e o relacionamento (dá apoio) de acordo com a maturidade dos liderados para desempenhar as atividades. Essa é considerada uma das abordagens mais efi cazes para gerenciar e motivar as pessoas. A teoria da liderança situacional identifi ca quatro estilos e tipos de liderança: delegação, apoio, coaching e direção. O estilo direção é mais indicado quando os liderados possuem baixa ma- turidade, necessitando de orientação/direcionamento para a execução das tarefas, a definição de papéis e a eliminação da insegurança sobre a atividade que deve ser realizada. O estilo coaching é adequado para pessoas que têm de média à baixa maturidade, pois necessitam de direção na tarefa e apoio. Nesse sentido, se considera que as pessoas desejam assumir mais responsabilidades, mas ainda não possuem competência suficiente. A abordagem é diretiva, com orientação e apoio para manter o interesse e a motivação. O estilo apoio é indicado para liderar pessoas de alta maturidade a fim de aumentar a sua motivação, concedendo a elas a participação na tomada de decisão. O estilo delegação é indicado para pessoas com alta maturidade e com- petência, não necessitando de muita direção nem de muito apoio. Os liderados assumem a responsabilidade pela execução das tarefas. Para orquestrar todos esses estilos, o líder deve ter capacidade de diagnosticar o estilo necessário para cada situação e para cada liderado. Segundo Blanchard (2011, p. 74, grifo nosso), “[...] o modelo perdurou como uma das mais eficazes abordagens para gerenciar e motivar as pessoas, pois abre os canais de comunicação e pode ser resumido na frase tratamentos diferentes para pessoas diferentes [...]”. Veja a Figura 2. 7A psicologia social dos grupos: coesão grupal, liderança e status C07_Psicologia_social_grupos.indd 7 30/07/2018 09:39:34 Figura 2. Modelo de liderança situacional.Fonte: Blanchard (2011, p. 75). Liderança transformacional Essa é uma liderança considerada neocarismática, teoria desenvolvida por James Downton em 1973 e expandida por James Burns, em 1978, e Bass, em 1985. Segundo Pessoa (2018, p. 3), “[...] os líderes transformacionais incentivam os seguidores a internalizar os objetivos grupais e a aderir à organização, bem como oferecem uma visão ou estratégia estimulante, inspirando os indivíduos a alcançar níveis elevados de desempenho [...]”. Nesse estilo, o líder focaliza na autenticidade, na cooperação e na comunicação aberta, provendo apoio e A psicologia social dos grupos: coesão grupal, liderança e status8 C07_Psicologia_social_grupos.indd 8 30/07/2018 09:39:34 orientação, incentivando, inspirando e motivando para a inovação, bem como oportunizando mudanças. Os membros do grupo atuam com mais autonomia. A ideia é proporcionar a criatividade, visualizando o futuro e encontrando novas soluções para velhos problemas. Liderança servidora A ideia do líder servidor surgiu na década de 1960 com Robert K. Greenleaf. Para ele, o líder deve partir da disposição de ajudar as pessoas, fazendo per- guntas que indicam o que ele pode fazer para ser útil. O líder deve perguntar: como posso ajudar? O que você gostaria que eu fi zesse? Que recursos eu poderia alocar para facilitar o seu trabalho? Esses líderes são vistos pelos liderados como pessoas confi áveis, que aceitam e estão abertas a novas ideias, além de fl exíveis, inteligentes, criativas, positivas; pessoas que têm senso de humor e sabem sorrir (BOYETT; BOYETT, 1999). Em 2006, James C. Hunter lançou o seu livro Como se tornar um líder servidor. Para Hunter (2006, p. 18), a liderança é a “[...] habilidade de infl uenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente visando atingir objetivos comuns, inspirando confi ança por meio da força do caráter [...]”. Para ele, liderança é sinônimo de infl uência, é uma habilidade, é caráter em ação, e servir exige alguns sacrifícios, como abrir mão de “[...] nosso desejo de ser admirados, nosso péssimo hábito de evitar confl itos, nossa determinação de ter todas as respostas e de aparecer bem na foto [...]” (HUNTER, 2006, p. 44). Hunter (2006) elencou oito princípios da qualidade da liderança: paciência, bondade, humildade, respeito, generosidade, perdão, honestidade e compromisso. Segundo Fagundes (2007, p. 33), “[...] o exercício da liderança nesta perspectiva disponibiliza o líder a vivenciar e propiciar infl uências recíprocas entre as pessoas, não só exercendo infl uências, mas também se deixando infl uenciar [...]”. Os tipos de liderança que você acabou de ver são os mais significativos para a abordagem de grupos em psicologia social. Contudo, existem outros mais específicos para as organizações empresariais, aos quais a psicologia social também oferece a sua contribuição. Para alguns autores, a liderança pode ser vista de uma perspectiva interdisciplinar e de forma integrada, não se limitando à adoção de uma única teoria como verdade absoluta. Adicio- nalmente, Fagundes explica que: [...] o que se espera de um líder contemporâneo é que ele exerça um papel de facilitador no sentido de utilizar o potencial dos liderados para o alcance dos objetivos. Nessa perspectiva, o líder é um coach, um facilitador que age 9A psicologia social dos grupos: coesão grupal, liderança e status C07_Psicologia_social_grupos.indd 9 30/07/2018 09:39:34 reunindo as capacidades das pessoas, dos grupos ou das instituições com os quais se relaciona, exercendo influência no desenvolvimento de padrões éticos e comportamentais (FAGUNDES, 2007, p. 34). Como você viu, as lideranças podem ser percebidas e vivenciadas de diferentes maneiras, dependendo do grupo e da ambiência social. Além da perspectiva de análise a partir do líder e de seus seguidores, é comum se atribuírem diferentes status para membros de um grupo social, como você vai ver na próxima seção. Diferentes status para membros de um grupo social Neste contexto, o status deve ser compreendido e estudado para que você tenha uma visão dos diversos sentidos e conceitos que lhe são atribuídos e da sua função social nos estudos dos grupos e da sociedade. Buscando esse entendimento, você deve conhecer dois conceitos em que o status adquire uma conotação referente à estima ou ao desprezo, ao respeito ou ao descrédito atribuído às pessoas ou aos grupos, no sentido de distinguir a superioridade da inferioridade. Primeiro, o status assume o signifi cado de prestígio/notoriedade em função de avaliações positivas e negativas realizadas pelas pessoas em relação a outras, expressando um sentimento simbólico das diferenças de classe social. Numa segunda vertente de entendimento, o status relaciona-se com a posição na estrutura social em função do poder socioeconômico, que é independente de avaliações pessoais (OLLIVIER, 2009). Esses conceitos de status relacionados a avaliações de superioridade e inferioridade e a posições sociais estão ligados à sociologia clássica de Weber e Durkheim. Para Weber, uma forma de os grupos sociais validarem seus direitos legais ou habituais é por meio de reclamações por estima social. Já para Durkheim, a base de toda a estratificação social se deve a avaliações coletivas a respeito do valor social das posições. Nas décadas de 1940 a 1960, a perspectiva dominante nos estudos de estratificação e coesão social foi a de Durkheim. Nesse sentido, o status é compreendido como uma hierarquia de posições baseada em padrões valorati- vos compartilhados considerados na época fundamentais para a estabilidade e a integração. Tais padrões valorativos estruturariam uma classificação moral que possui um poder que ultrapassa os interesses individuais. Essas: A psicologia social dos grupos: coesão grupal, liderança e status10 C07_Psicologia_social_grupos.indd 10 30/07/2018 09:39:34 [...] classificações morais estabelecem os limites para os interesses e apetites individuais ao legitimar a alocação desigual das recompensas e o posicio- namento dos indivíduos no interior da hierarquia de posições. Quando estas avaliações não existem ou por crises sociais estão enfraquecidas, as paixões não encontram obstáculos e a sociedade entra em estado de anarquia [...] (OLLIVIER, 2009, p. 47). Esse conceito das hierarquias de status é vital, segundo Durkheim, para a integração social. Assim, o autor concluiu que as desigualdades sociais são essenciais e legítimas. Na década de 1960, a partir dos estudos de Sorokin (1964) sobre a estrati- ficação social representada por uma visão bidimensional e da compreensão da obra de Weber numa perspectiva multidimensional, formou-se a base teórica para o entendimento do status como uma hierarquia de posições embasada em recursos socioeconômicos. Assim, diversos critérios do status ocupacional foram constituídos para localizar posições na estrutura social. A partir da década de 1980, vários estudos dos sociólogos passaram a enfatizar que o status é alcançado pelo indivíduo pela posse de qualidades e atributos que são excessivamente respeitados em determinados momentos e em determinados lugares. Porém, isso não significa que o status seja refletido pela competência individual e pelo esforço nas tarefas de um grupo. Essa hierarquia de atributos, qualidades e desempenhos em que o status se baseia não é alcançada de forma natural, e sim produzida socialmente, além de ser vulnerável aos grupos sociais poderosos. Conforme Ollivier (2009, p. 64): Nas sociedades contemporâneas, indivíduos formalmente iguais permanecem diferenciados e estratificados de acordo com diversos critérios, incluindo classe econômica, origem étnica e gênero. Classes e grupos cujos membros ocupam postos-chave nas instituições sociais que validam as hierarquias de status, como escolas, governos e mídia, estão em posição de fazer com que as qualidades e os atributos de seus próprios grupos sejam percebidos como medidasuniversais de superioridade. Também é possível compreender que o status é atribuído ou alcançado. O status atribuído é conferido às pessoas pela sociedade desde o seu nas- cimento, incluindo aspectos como idade, raça e gênero. Esse tipo de status é levado em consideração para os estudos de conflito, tendo em vista que ele confere privilégio ou indica a presença e a participação em um grupo. Devido à dificuldade de mudança de status, a busca é por diminuir as res- trições associadas a ele, bem como pelo estudo de preconceito, estereótipo e 11A psicologia social dos grupos: coesão grupal, liderança e status C07_Psicologia_social_grupos.indd 11 30/07/2018 09:39:34 discriminação. Já os status alcançados surgem em decorrência do talento e de competências que as pessoas vão adquirindo ao longo da vida, especial- mente no desenvolvimento das carreiras profissionais, ou seja, por meio de seus esforços individuais. Por isso, cada pessoa possui vários status (tanto atribuídos como alcançados). O status que estiver predominando sobre os outros, o que é mais importante e prestigiado, é chamado de status mestre e é ele que define a posição de uma pessoa na sociedade. No entanto, há a questão de o status alcançado ser fortemente influenciado pelo status atribuído. Segundo Schaefer (2014, p. 106): Em todo o mundo, pessoas portadoras de deficiência percebem que o seu status de “deficiente” tem um peso excessivo, ofuscando sua habilidade real que lhes permite ter um bom desempenho em um emprego importante. A sociedade em geral dá tanta importância à raça e ao gênero que muitas vezes eles acabam dominando nossas vidas [...] como exemplo, Malcolm X descobriu que sua posição de homem negro (status atribuído) era um obstáculo ao seu sonho de se tornar advogado (status alcançado). Como você viu, o status origina-se nas avaliações coletivas de superio- ridade e inferioridade, bem como em crenças individuais que sugestionam as relações sociais de muitas formas. As desigualdades e as discriminações não possibilitam oportunidades iguais às pessoas e aos grupos em função do preconceito ou de outras razões abusivas. As discriminações aos grupos minoritários impedem que pessoas, mesmo qualificadas, desenvolvam seus potenciais. Esse tipo de discriminação se multiplica na sociedade de maneira geral como discriminação institucionalizada, que impede a existência de oportunidades e direitos iguais a indivíduos e grupos. Assim, os diferentes status dos membros de um grupo social refletem a superioridade e a inferioridade, as diferenças de classes sociais e as posições sociais referentes ao poder socioeconômico, que levam a uma estratificação social e são vulneráveis aos grupos sociais poderosos. Ou seja, o status alcançado é fortemente influenciado pelo status atribuído. A psicologia social dos grupos: coesão grupal, liderança e status12 C07_Psicologia_social_grupos.indd 12 30/07/2018 09:39:34 1. Os atletas de um time de futebol profissional manifestaram a seguinte opinião sobre o grupo: “O bom ambiente faz com que você tenha prazer em trabalhar. Se você tem um ambiente onde tem prazer de estar de manhã e à tarde, se tem prazer de vir encontrar os companheiros de trabalho, isso com certeza é passado dentro do campo. Até em certos momentos difíceis da partida, você também acaba lembrando que o ambiente é bom. Mas o ambiente só fica melhor quando você ganha. Então está em jogo o prazer de você estar trabalhando num lugar onde há pessoas que são queridas e pessoas que, com certeza, queira ou não queira, indiretamente fazem parte de sua família”. Que conclusão você pode ter a respeito desse time? a) Há uma liderança laissez-faire. b) Há coesão de grupo. c) É um time de alto desempenho. d) É um time idealista. e) Há uma liderança democrática. 2. Analise a seguinte situação: pedestres de uma cidade foram mais compreensíveis quando abordados por um pesquisador bem vestido do que quando abordados por um que estava mal vestido. A que fenômeno você atribuiria tal comportamento? a) Coesão de grupo. b) Preconceito. c) Identidade pessoal. d) Status atribuído. e) Status alcançado. 3. Quando se diz que uma pessoa é “brasileira, mulher, católica e médica”, a que se faz referência? a) À sua posição social. b) À sua posição religiosa. c) À sua identidade. d) À sua profissão. e) Ao seu status. 4. Em determinado momento, cidadãos de uma cidade com população muito significativa tornaram-se saqueadores de lojas após uma manifestação contra uma lei que feria os direitos do cidadão. Como você analisaria esse tipo de comportamento? a) Falta de moralidade. b) Os moradores mostram o poder de um grupo. c) Os moradores são ladrões se aproveitando do momento. d) Faltou liderança carismática. e) É uma manifestação de superioridade. 5. Em uma entrevista, um treinador de futebol disse: “[...] vou liderar de forma diferente, dependendo da minha leitura em relação ao grupo e ao que vive o grupo naquele determinado momento. Isso na minha cabeça não tem também uma forma de liderar. Eu acho que tenho que ter várias ferramentas pra poder agir e de forma rápida [...]” (CASTELLANI, 2012, p. 436). Que tipo de liderança é possível atribuir a esse treinador? a) Situacional. b) Autocrática. c) Democrática. d) Laissez-faire. e) Transformacional. 13A psicologia social dos grupos: coesão grupal, liderança e status C07_Psicologia_social_grupos.indd 13 30/07/2018 09:39:34 BLANCHARD, K. Liderança de alto nível: como criar e liderar organizações de alto desempenho. Porto Alegre: Bookman, 2011. BOYETT, J.; BOYETT, J. O guia dos gurus: os melhores conceitos e práticas de negócios. Rio de Janeiro: Campus, 1999. CASTELLANI, R. M. A liderança e coesão grupal no futebol profissional: o pesquisador fora do jogo. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 26, n. 3, p. 431- 445, 2012. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/rbefe/article/view/45913>. Acesso em: 05 jul. 2018. FAGUNDES, P. M. 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