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Ed ua rd o M on te ir o Bi ge lli Q uí m ic a A m bi en ta l Eduardo Monteiro Bigelli Química Ambiental Curitiba 2015 Eduardo Monteiro Bigelli Química Ambiental Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Cassiana Souza CRB9/1501 B592q Bigelli, Eduardo Monteiro Química ambiental / Eduardo Monteiro Bigelli. – Curitiba: Fael, 2015. 224 p.: il. ISBN 978-85-60531-20-2 1. Química ambiental I. Título CDD 658.3 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. FAEL Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz Revisão Juliana Horning Projeto Gráfico Sandro Niemicz Imagem da Capa Shutterstock.com/Khakimullin Aleksandr Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim Apresentação O que está por trás deste processo? Quais são os elementos que estão influenciando as reações observadas? Como aumentar minha eficiência na remoção deste poluente? Estas e outras pergun- tas costumam permear o dia a dia e os pensamentos de qualquer indivíduo atuante na área de gestão ambiental. Cada vez mais requi- sitado, este profissional é desafiado a tomar importantes decisões em espaços cada vez mais curtos de tempo. Definir tecnologias, gerenciar riscos, cumprir a legislação e proteger o meio ambiente são alguns exemplos das atividades em que a Química Ambiental se torna ferramenta indispensável. – 4 – Química Ambiental Segundo Mozeto (1994), a química ambiental estuda os processos quími- cos que ocorrem na natureza, sejam eles naturais ou ainda causados pelo homem e que comprometem a saúde humana e a saúde do planeta como um todo. Assim, dentro desta definição, a Química Ambiental não é a ciência da monito- ração ambiental, mas da elucidação dos mecanismos que definem e controlam a concentração das espécies químicas candidatas a serem monitoradas. E é nesse contexto que se insere este livro. Estudaremos a química de nosso cotidiano. No capítulo 2, abordaremos a composição da atmosfera, o ciclo de alguns elementos e o comportamento dos principais poluentes atmosféricos. Já no capítulo 3, serão abordados temas relacionados à poluição das águas, identificação dos poluentes nos corpos hídricos e conceitos como toxi- cidade, persistência e acumulação. No quartocapítulo, serão apresentadas as tecnologias e conceitos de tratamento de efluente mais utilizados atualmente. No capítulo 5 e 6, serão abordados temas relacionados com o comporta- mento de poluentes em ambientes subterrâneos, gerenciamento de áreas conta- minadas e os efeitos da disposição irregular de resíduos sólidos no solo. Os capítulos seguintes tratam da composição e comportamento de diversos compostos químicos, como: pesticidas, dioxinas, furanos, PCBs, HPAs e estrógenos, descrevendo suas estruturas moleculares, aplicações práti- cas e alguns dos seus efeitos sobre a saúde humana e dos animais. Sumário 1 Química da atmosfera e a manutenção da vida | 7 2 Poluição em ambientes aquáticos | 37 3 Introdução Tratamento de efluentes | 57 4 Química ambiental e o gerenciamento de áreas contaminadas | 75 5 Impacto Ambiental Causado por Resíduos Sólidos dispostos no solo | 107 6 Compostos Orgânicos Tóxicos | 145 7 Pesticidas | 159 8 Dioxinas, furanos e PCBs | 187 9 HPAs; Estrogenos Ambientais; e outras substânciaS tóxicas | 203 Referências | 219 1 Química da atmosfera e a manutenção da vida O fato da superfície da lua ser coberta por crateras provo- cadas pelo impacto de meteoritos é amplamente conhecido por todos, hoje. Como se sabe, o nosso planeta recebeu tantos meteo- ritos entrantes, como a lua, porém, a presença da atmosfera deter- minou o destino de muitos deles. Pequenos meteoritos queimam na atmosfera antes mesmo de chegar à Terra. Na lua, por outro lado, não existe esta camada. Sendo assim, sua superfície perma- nece há bilhões de anos inalterada, susceptíveis a frequentes choques de meteoros. – 8 – Química Ambiental 1.1 A composição da Atmosfera Figura 1.1 – Atmosfera. C ré di to : S hu tt er st oc k. co m /m el is Fonte: NOAA - National Oceanic and Atmospheric Administration - EUA. Os primeiros gregos consideravam o ar como uma das quatro substâncias elementares. Junto com a terra, o fogo e a água, o ar era visto como um com- ponente fundamental do universo. No início de 1800, no entanto, cientistas reconheceram que a atmosfera era, na verdade, composta por vários gases qui- micamente distintos. No ar atmosférico, foram detectados como sendo seus principais componentes: nitrogênio, oxigênio e uma pequena quantidade de algo incombustível, mais tarde descoberto como argônio. O desenvolvimento de equipamentos de detecção, na década de 1920, permitiu aos cientistas encontrarem gases que existiam em concentrações pequenas na atmosfera, como o ozônio e dióxido de carbono. As concentra- ções destes gases variam muito de lugar para lugar. Em suma, os gases atmosfé- ricos são frequentemente divididos nos principais componentes, constantes e os componentes altamente variáveis. Abaixo, a composição do ar seco e limpo: Tabela 1.1– Composição do ar seco. Gás Porcentagem Partes por Milhão Nitrogênio 78,08 780.000,00 Oxigênio 20,95 209.460,00 Argônio 0,93 9.340,00 Dióxido de carbono 0,035 350 – 9 – Química da atmosfera e a manutenção da vida Gás Porcentagem Partes por Milhão Neônio 0,0018 18 Hélio 0,00052 5,2 Metano 0,00014 1,4 Kriptônio 0,0001 1 Óxido nitroso 0,00005 0,5 Hidrogênio 0,00005 0,5 Ozônio 0,000007 0,07 Xenônio 0,000009 0,09 Fonte: GRIMM, 2015: Meteorologia Básica. Notas de Aula. http://fisica.ufpr.br/grimm/. Embora o nitrogênio e o oxigênio sejam essenciais para a vida humana no planeta, eles exercem pouco efeito sobre as condições meteorológicas e proces- sos atmosféricos. Por outro lado, os elementos móveis, que compõem menos de 1 por cento da atmosfera, interferem significativamente no clima de curto e longo prazo. Um exemplo é a umidade relativa do ar, identificada como a varia- ção da quantidade de vapor de água na atmosfera. O vapor de água, assim como o CO2, CH4, N2O e SO2 possuem uma propriedade importante: absorvem calor emitido pela Terra e, assim, aquecem a atmosfera, criando o que chama- mos de “efeito estufa”. Sem esses chamados gases de efeito estufa, a superfície da Terra seria cerca de 30 graus Celsius mais fria – muito frio para a existência da vida como a conhecemos. Embora o efeito estufa às vezes seja retratado como um fator negativo, os efeitos produzidos por esses gases, como o CO2, por exemplo, são suficientes para sustentar a vida. O aquecimento global, por sua vez, é um processo separado que pode ser causado, dentre outros motivos, por aumento da quantidade de gases de efeito estufa na atmosfera. Além de gases, a atmosfera também contém partículas como poeira, cinzas vulcânicas, chuva e neve. Estas são, evidentemente, muito variáveis e são geral- mente menos persistentes do que as concentrações de gases, mas que, por vezes, pode permanecer na atmosfera por períodos relativamente longos de tempo. Os dois instrumentos mais importantes para fazer medições na atmos- fera da Terra foram desenvolvidos centenas de anos atrás: Galileo é creditado com a invenção do termômetro em 1593 e Evangelista Torricelli inventou o barômetro, em 1643. Com esses dois instrumentos, temperatura e pressão puderam ser monitoradas em qualquer momento e em qualquer lugar. Ini- – 10 – Química Ambiental cialmente, a temperatura e pressão da Terra eram monitoradas somente em nível do solo. Com o avanço dos métodos de análises, conseguiu-se explorar esses mesmos parâmetros em altitudes elevadas, alavancandogrande pro- gresso nos estudos climáticos e ambientais. Um exemplo foi o início da utilização de balões não tripulados para realizar medições em altitudes sem passageiros, com transmissão de rádio e sem amarras. 1.2 Temperatura na atmosfera Através da análise de dados coletados por radios- sonda e aeronaves (e mais tarde por foguetes), os cientistas perceberam que a atmosfera não é uniforme. O entendimento inicial era que, com a elevação na altitude, a temperatura ten- desse a sempre decrescer. Todavia, no início do século XX, radiossondas descobri- ram uma camada a cerca de 18 km., da superfície ter- restre, onde a temperatura mudava repentinamente e iniciava um processo de reversão, aumentando com a altitude. A descoberta desta reversão levou à divi- são da atmosfera em cama- das, com base nas suas pro- priedades térmicas. 110 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Estratopausa Temperatura (ºC) Al tit ud e (K m .) Tropopausa -100 -90 -80 -70 -60 -50 -40 -30 -20 -10 0 10 20 30 O Z Ô N I O Mesosfera Termosfera Mesopausa Troposfera Estratosfera Fonte: GRIMM, 2015: Meteorologia Básica. Notas de Aula. http://fisica.ufpr.br/grimm/. Figura 1.2 – Variação da temperatura com a altitude na atmosfera da Terra. – 11 – Química da atmosfera e a manutenção da vida 1.3 Troposfera A camada inferior da atmosfera, chamada troposfera, é o lugar onde todas as condições meteorológicas ocorrem, onde as nuvens são formadas e a precipitação cai, o vento sopra, a umidade varia de lugar para lugar. É o local onde a atmosfera interage com a superfície terrestre. Dentro da troposfera, a temperatura diminui cerca de 6,5° C por quilômetro. Com 8856 m. de altura, o topo do Monte Everest equivale a menos da metade da troposfera. Assumindo uma temperatura do nível do mar de 25°C, isso significa que a temperatura no cume do Everest varie em torno de -31°C. No limite superior da troposfera, a temperatura do ar atinge cerca de -100°C e, em seguida, começa a aumentar com a altitude. Esta camada de aumento da temperatura é chamada estratosfera. A causa da inversão de temperatura é uma camada concentrada de ozônio. A capacidade do ozônio para absorver a radiação ultravioleta recebida (UV) do sol foi reconhecida em 1881, mas a existência da camada de ozônio, a uma altitude de 20 a 50., km. foi somente postulada na década de 1920. Ao absorver os raios UV, a camada de ozônio tanto aquece o ar em torno dele quanto nos protege na superfície da radiação prejudicial de curto comprimento de onda, que pode causar câncer de pele. É importante salientar a diferença entre a presença do ozônio em camada concentrada na estratosfera e o ozônio presente em quantidades vestigiais na troposfera. O ozônio estratosférico é produzido quando a energia do sol rompe as moléculas do gás O2 em átomos S; estes átomos de O então ligam-se com outras moléculas de O2 para formar O3, o zônio. Este processo foi descrito pela primeira vez em 1930, por Sydney Chapman, um geofísico que sintetizou muitos dos fatos conhecidos sobre a camada de ozônio. Todavia, o ozônio troposférico é um poluente produzido quando as emissões da queima de combustíveis fósseis interagem com a luz solar. Acima da estratosfera, a temperatura começa a cair novamente. Agora estamos falando da camada da atmosfera chamada mesosfera, como pode ser visto na figura anterior. Esta diminuição de temperatura resulta da rápida diminuição da densidade do ar a esta altitude. Finalmente, nos limites externos da atmosfera da Terra, a intensa radia- ção não filtrada do sol faz com que moléculas como O2 e N2 se separem em – 12 – Química Ambiental íons. A liberação de energia a partir destas reações faz a temperatura subir novamente na chamada termosfera, a camada mais externa. A termosfera estende-se a cerca de 500 km. acima da superfície da Terra, ainda algumas centenas de km. abaixo da altitude da maioria dos satélites em órbita. 1.3.1 A pressão na atmosfera Pressão atmosférica pode ser entendida como o peso da coluna de ar sobrejacente. Ao contrário de temperatura, a pressão diminui exponencial- mente com a altitude. Traços da atmosfera podem ser detectados a cerca de 500 km. acima da superfície da Terra, mas 80 por cento da massa da atmos- fera está contida dentro dos 18 km. mais próximos à superfície. A pressão atmosférica é geralmente medida em milibares (mb). Esta unidade de medi- ção é equivalente a 1 grama por centímetro quadrado (1g/cm2). Figura 1.3 – Pressão e diminuição da densidade rapidamente com a altitude. 36 32 28 24 20 16 12 8 4 0 Al tit ud e (K m .) 200 400 600 800 1000 Fonte: GRIMM, 2015: Meteorologia Básica. Notas de Aula. http://fisica.ufpr.br/grimm/. – 13 – Química da atmosfera e a manutenção da vida Outras unidades são usadas ocasionalmente, como bares, atmosferas ou milímetros de mercúrio. A correspondência entre estas unidades são mostrados na tabela abaixo. Tabela 1.2 – Correspondência de unidades de medida atmosféricas. Bares Milibares Atmosferas Milímetros de mercúrio 1.013 bar 1013 mb 1 atm 760 mm Hg Ao nível do mar, a pressão varia de cerca de 960 para 1.050 mb, com uma média de 1,013 mb. No topo do Monte Everest, a pressão pode chega a 300 mb. Como a pressão de gás está relacionada com a densidade, esta baixa pressão significa que existem cerca de um terço da quantidade de gases comparado ao nível, sendo este o motivo da respiração se tornar cada vez mais difícil em grandes altitudes – devido à baixa concentração de oxigênio no ar. 1.3.2 O ciclo do carbono O carbono é o quarto elemento mais abundante no universo e é absolu- tamente essencial para a manutenção da vida na Terra. Na verdade, carbono constitui a própria definição de vida, tal como a sua presença ou ausência ajuda a definir se uma molécula é considerada orgânica ou inorgânica. Cada organismo na Terra necessita de carbono para a estrutura, para a obtenção de energia ou, como é o caso dos seres humanos, para ambos. Descontando a água, você é aproximadamente metade carbono. Além disso, o carbono é encontrado em diversas outras formas, como o dióxido de gás carbônico (CO2) e em sólidos, como o calcário (CaCO3), madeira, plástico, diamantes e grafite, por exemplo. O movimento de carbono, em suas diversas formas, é descrito pelo ciclo do carbono, ilustrado na Figura 1.4. Este ciclo consiste em vários reser- vatórios de armazenamento de carbono sendo que os principais reservató- rios de carbono incluem a atmosfera, os oceanos, vegetação, rochas e solo. – 14 – Química Ambiental Figura 1.4 – Ciclo do Carbono. C ré di to : S hu tt er st oc k. co m /M r. H ig h Sk y Fonte: LAURENCE, (2005). O ciclo global do carbono, um dos principais ciclos bioquímicos, pode ser dividido em componentes geológicos e biológicos. O ciclo do carbono geo- lógico opera em uma escala de tempo de milhões de anos, enquanto o ciclo do carbono biológico opera em uma escala de tempo de dias a milhares de anos. 1.3.2.1 O ciclo do carbono geológico O componente geológico do ciclo do carbono é o lugar onde ele inte- rage com o ciclo das rochas nos processos de intemperismo e dissolução, precipitação de minerais e erupções vulcânicas. Na atmosfera, forma-se o ácido carbônico através da reação do dióxido de carbono atmosférico (CO2) e água. Esta água fracamente ácida atinge a superfície em forma de chuva, que reage com minerais na superfície da terra, dissolvendo lenta- mente nos seus íons, por meio do processo de modificação química. Essas reações acontecem nas superfícies de córregos e rios e consequentemente no oceano, onde eles precipitam minerais como calcita (CaCO3). Atravésda contínua deposição e sepultamento, esse sedimento forma a rocha cha- mada calcário. – 15 – Química da atmosfera e a manutenção da vida Esse ciclo continua com a expansão dos fundos oceânicos empurrando o fundo do mar sob margens continentais no processo de subducção. Sendo empurrado mais profundamente na Terra por forças tectônicas, o carbono aquecido, eventualmente, derrete e pode subir de volta para a superfície, onde é lançado como CO2 e devolvido para a atmosfera. Este retorno à atmosfera pode também ocorrer violentamente através de erupções vulcânicas ou de forma mais gradual em infiltrações, aberturas e águas termais, ricas em CO2. Este levanta- mento tectônico também pode expor uma camada de calcário, anteriormente enterrada. Um exemplo ocorre no Himalaia, onde alguns dos picos mais altos do mundo são formados de material que uma vez formou o fundo do oceano. Intemperismo, subducção e vulcanismo controlam as concentrações de dióxido de carbono atmosférico em períodos de tempo de centenas de milhões de anos. Figura 1.5 – Processo de subducção no processo do ciclo do carbono. F on te : S hu tt er st oc k. co m /D es ig nu a Fonte: INFOGEO. 1.3.2.2 O ciclo do carbono biológico Por intermédio dos processos de fotossíntese e respiração, a biologia desempenha um papel importante no movimento de carbono entre terra, mar e a atmosfera. Praticamente toda a vida multicelular na Terra depende da produção de açúcares a partir da luz solar e dióxido de carbono (fotossíntese) e degradação metabólica (respiração) desses açúcares para produzir a energia necessária para o movimento, crescimento e reprodução. As plantas absorvem dióxido de carbono (CO2) da atmosfera durante a fotossíntese e liberam CO2 para a atmosfera durante a respiração, através das seguintes reações químicas: – 16 – Química Ambiental Respiração: C6H12O6 + 6 O2 6 CO2 + 6 H2O + energia Fotossíntese: 6 CO2 + 6 H2O luz clorofina C6H12O6 + 6 O2 Na atmosfera, as principais fontes de carbono resultam da fotossíntese e respiração. Durante o dia, na estação de crescimento, folhas absorvem a luz solar e tomam o dióxido de carbono da atmosfera. Ao mesmo tempo, plantas, animais e microrganismos do solo consomem o carbono da matéria orgânica e devolvem o dióxido de carbono para a atmosfera. A fotossíntese é encer- rada à noite, quando o sol não pode fornecer a energia motriz para a reação, embora a respiração continue. Este tipo de desequilíbrio entre esses dois pro- cessos ocasiona mudanças sazonais nas concentrações de CO2 na atmosfera. Durante o inverno, no Hemisfério Norte, a fotossíntese cessa quando muitas plantas perdem as folhas, mas a respiração continua. Esta condição leva a um aumento das concentrações atmosféricas de CO2 durante o inverno do referido Hemisfério. Com o início da primavera, no entanto, a fotossíntese é retomada e as concentrações atmosféricas de CO2 são reduzidas. Figura 1.6 – Processo de subducção no processo do ciclo do carbono. C ré di to : S hu tt er st oc k. co m /M ile na M oi ol a Fonte: INFOGEO. – 17 – Química da atmosfera e a manutenção da vida Nos oceanos, o fitoplâncton (plantas marinhas microscópicas que for- mam a base da cadeia alimentar marinha) usam carbono para fazer conchas de carbonato de cálcio (CaCO3). As conchas se depositam no fundo do oceano e, quando morrem, juntam-se aos sedimentos. As conchas de fitoplâncton compactadas ao longo do tempo são eventualmente transformadas em rocha calcária. Além disso, sob certas condições geológicas, a matéria orgânica ori- gina depósitos de combustíveis que contém carbono, sendo estes compostos por matéria orgânica, transformados em combustível fóssil não-cálcico. Tanto o combustível de formação não calcária quanto o de formação fóssil são pro- cessos controlados biologicamente e representam reservatórios de longo prazo para o CO2 atmosférico. Figura 1.7 – Biomassa formada por fitoplânctons encontradas no Alasca. N as a Fonte: NASA. 1.3.2.3 Influência humana no ciclo do carbono Recentemente, os cientistas têm estudado medidas de curto e longo prazo para os níveis de CO2 na atmosfera. Institutos de Oceanografia espa- lhados pelo mundo têm revelado que as atividades humanas estão alterando significativamente o ciclo natural do carbono. Desde o início da Revolução Industrial, há cerca de 150 anos, as atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis e desmatamento acelerado, têm contribuído para um aumento a longo prazo do CO2 atmosférico. A queima de petróleo e carvão – 18 – Química Ambiental libera carbono na atmosfera muito mais rapidamente do que ele é removido e este desequilíbrio faz com que as concentrações atmosféricas de dióxido de carbono aumentem. Além disso, o desmatamento das florestas reduz a capa- cidade de remoção de CO2 do ar. Desta forma, temos atualmente as maiores concentrações de dióxido de carbono na atmosfera dos últimos séculos. Os cientistas acreditam que o aumento do CO2 já está causando mudanças importantes no clima global. Muitos atribuem o aumento de 0,6ºC, observado na temperatura média do planeta ao longo do século pas- sado, principalmente, aos aumentos na concentração do CO2 atmosférico. Sem mudanças substantivas nos padrões globais de consumo de combustíveis fósseis e do desmatamento, as tendências de aquecimento global tendem a continuar. A estimativa mais otimista sugere que a temperatura média global aumentará entre 1,4 e 5,8ºC durante o próximo século, como resultado de aumentos de CO2 atmosférico e outros gases de efeito estufa. Este aumento da temperatura global poderia causar elevação significativa no nível do mar (0,09-0,88 m), colocando em risco regiões costeiras em todo globo, sendo um fator responsável por graves inundações. Compreender e mitigar os impactos negativos do aumento do CO2 atmosférico se tornaram dois dos maiores desafios centrais que os cientis- tas ambientais políticos enfrentam atualmente. A fim de resolver este pro- blema, a comunidade científica formou o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), um consórcio internacional interdisciplinar composto por milhares de especialistas em clima, que colaboram para pro- duzir relatórios de consenso sobre a ciência da mudança climática. Muitas nações concordaram com condições especificadas no Protocolo de Kyoto, um tratado multilateral destinado a prevenir os impactos negativos associados às mudanças climáticas induzidas pelo homem. 1.3.3 Ciclo do Nitrogênio O nitrogênio (N) é um componente essencial do DNA, RNA e pro- teínas, os blocos de construção da vida. Todos os organismos necessitam de nitrogênio para viver e crescer. Embora a maior parte do ar que respiramos seja N2, a maior parte do nitrogênio atmosférico não está disponível para uso dos organismos. Isto porque a forte ligação tripla entre os átomos de N – 19 – Química da atmosfera e a manutenção da vida em moléculas N2 o torna relativamente inerte ou não reativo, sendo que os organismos precisam de nitrogênio reativo para de incorporá-lo nas células. Para os animais serem capazes de utilizar o nitrogênio, o gás N2 necessita, primeiramente, ser convertido em formas quimicamente disponíveis, tais como amônio (NH4 +), nitrato (NO3) ou nitrogênio orgânico (por exem- plo, ureia – (NH2)2CO) . O nitrogênio biologicamente disponível é, muitas vezes, escasso em ecossistemas naturais, limitando o crescimento das plantas. O nitrogênio é um elemento extremamente versátil, que existe tanto na forma inorgânica quanto orgânica, em diferentes estados de oxidação. O movi- mento do nitrogênio entre a atmosfera, biosfera e a geosfera é chamado ciclo de azoto (Figura 1), um dos principais ciclos bioquímicos. Similar ao ciclo docarbono, o ciclo do nitrogênio é composto por vários reservatórios de nitrogênio e processos por meio dos quais esses reservatórios realizam trocas desse elemento. Figura 1.8 – O ciclo do nitrogênio. Fonte: EMBRAPA. www.agencia.cnptia.embrapa.br. 1.3.3.1 Processos no ciclo de nitrogênio Cinco processos principais integram o ciclo do nitrogênio ocorrido na biosfera, atmosfera e geosfera, sendo eles: fixação de nitrogênio, absorção de nitrogênio por meio do crescimento de organismos, mineralização do nitro- gênio através de decadência e nitrificação e desnitrificação. Microorganismos, – 20 – Química Ambiental especialmente as bactérias, desempenham um papel extremamente importante em todas as principais transformações do nitrogênio. Uma vez que estes proces- sos são controlados por microrganismos, estas transformações tendem a ocorrer mais rapidamente do que os processos geológicos lentos e puramente físicos no ciclo do carbono. Visto isso, o ciclo do nitrogênio é diretamente afetado por fatores ambientais, que, por sua vez, influenciam a atividade microbiana, tais como temperatura, umidade e disponibilidade de nutrientes 1.3.3.2 Fixação de nitrogênio N2 N NH4 + A fixação do nitrogênio é o processo em que o N2 é convertido em amônio ou NH4 +. Esta é a única forma que os organismos podem obter nitrogênio da atmosfera; os poucos organismos capazes de realizar esta tarefa são chamados organismos fixadores de nitrogênio. Certas bactérias, incluindo as do gênero Rhizobium, são capazes de fixar nitrogênio (ou convertê-lo em amônio) através de processos metabólicos, analogamente à forma como os mamíferos convertem oxigênio para CO2, quando respiram. Bactérias fixa- doras de nitrogênio formam relações simbióticas com plantas hospedeiras. Esta simbiose é bem conhecida por ocorrer na família de plantas legumino- sas (feijões e ervilhas por exemplo). Nessa relação, as bactérias fixadoras de nitrogênio habitam nódulos radiculares de leguminosas e recebem hidratos de carbono de um ambiente favorável de sua planta hospedeira. Figura 1.9 – Nódulos radiculares de leguminosas. Fonte: EMBRAPA. – 21 – Química da atmosfera e a manutenção da vida O amônio (NH4 +), produzido por bactérias fixadoras de nitrogênio, é geralmente absorvido rapidamente por uma planta hospedeira, a própria bactéria, ou outro organismo do solo, e incorporada em proteínas e outros compostos de nitrogênio orgânico, como o DNA. Quando os organismos de topo da cadeia se alimentam desses organismos estão consumindo o nitrogê- nio, que foi fixado inicialmente por bactérias fixadoras. Em ambientes aquáticos, algas verde-azuladas (bactéria chamada cia- nobactéria) funcionam como um importante fixador de nitrogênio de vi- da livre. Além de bactérias fixadoras de nitrogênio, eventos naturais de alta ener- gia, como raios, incêndios florestais e fluxos de lava ainda quente, podem causar a fixação de pequenas, mas significativas, quantidades de nitrogênio. A alta energia destes fenômenos naturais podem quebrar as ligações triplas de moléculas de N2, tornando assim os átomos individuais de N disponíveis para a transformação química. Hoje, os seres humanos, por intermédio de atividades como a queima de combustíveis fósseis, o uso de fertilizantes nitrogenados sintéticos e cul- tivo de legumes, duplicaram a fixação de nitrogênio na biosfera. Como consequência deste aumento, temos cada vez mais ambientes aquáticos eutrofizados, resultado do carreamento do excesso de nutrientes no solo para os corpos hídricos. 1.3.3.3 Mineralização do nitrogênio N Orgânico NH4 + Depois do nitrogênio ser incorporado na matéria orgânica, é muitas vezes convertido novamente em nitrogênio inorgânico por um processo cha- mado mineralização. Quando os organismos morrem, decompositores (tais como bactérias e fungos) consomem a matéria orgânica e chumbo no pro- cesso de decomposição. Durante este processo, uma quantidade significa- tiva do nitrogênio contido no interior do organismo morto é convertido em amônio. Uma vez sob a forma de amônio, o nitrogênio está disponível para utilização pelas plantas ou para transformação em nitrato (NO3) através do chamado processo de nitrificação. – 22 – Química Ambiental Nitrificação NH4 + NO2 – NO3 - Parte do amônio produzido pela decomposição é convertido em nitrato (NO3) por um processo denominado nitrificação. A nitrificação requer a pre- sença de oxigênio, assim, pode acontecer apenas em ambientes ricos em O2, como águas correntes e as camadas superficiais de solos e sedimentos. De acordo com Bueno (2011), a nitrificação é a oxidação biológica da amônia, tendo como produto final o nitrato. A reação requer mediação de bactérias específicas e se realiza em dois passos sequenciais. No primeiro passo, a amônia é oxidada para nitrito (nitritação) através da ação bioquímica das bactérias, como as do gênero Nitrossomas. No seguinte passo, a oxidação de nitrito para nitrato (nitratação) é mediada por bactérias do gênero, Nitro- bacter. Ambos os gêneros Nitrossomas e Nitrobacter, somente desenvolvem ati- vidade bioquímica na presença de oxigênio dissolvido (OD). Em temperaturas baixas (<20ºC), a nitratação é muito mais rápida que a nitritação, de modo que se pode considerar que a nitratação é ime- diata e a acumulação de nitrito sempre será muito pequena em sistemas sob condições estacionárias. Em contraste, as temperaturas elevadas (>25ºC), a nitritação é mais rápida que a nitratação e, por esta razão, pode haver acu- mulação de nitrito quando se cria condições adequadas (VAN HANDELL & MARAIS, 1999). Figura 1.10 – Variação do número de oxidação de nitrogênio nos processos de nitrificação e desnitrificação. Fonte: VAN HANDELL e MARAIS, (1999). – 23 – Química da atmosfera e a manutenção da vida Desnitrificação Através da desnitrificação, formas oxidadas de nitrogênio, tais como nitrato (NO3) e nitrito (NO2 - ) são convertidos para N2 e, em menor grau, em gás óxido nitroso NO2. A desnitrificação é um processo anaeróbio, conduzido por bac- térias desnitrificantes, que convertem nitrato de N2 com a seguinte sequência: NO3 – NO2 – N2O N2 O óxido nítrico e óxido nitroso são gases que produzem impactos ambientais. O óxido nítrico (NO) contribui para a poluição atmosférica e o óxido nitroso (N2O) é um importante gás de efeito estufa, contribuindo para a mudança climática global. Uma vez convertido para N2, é improvável ser reconvertido para uma forma biologicamente disponível, porque é um gás e é rapidamente perdido para a atmosfera. A desnitrificação é a única transformação de nitrogênio que o remove de ecossistemas e equilibra a quantidade de nitrogênio fixado pelos organismos fixadores, acima descritos. 1.3.3.4 Interferência humana no ciclo de N e suas consequências ambientais Logo no início do século 20, cientistas descobriram como sintetizar o ciclo do nitrogênio, por meio da fixação química em altas temperaturas e pressões, criando fertilizantes que poderiam ser adicionados diretamente ao solo. Esta tecnologia se espalhou rapidamente ao longo do referido século, e, junto com o advento de novas variedades de culturas, intensificou-se uso de fertilizantes nitrogenados sintéticos, a fim de alavancar a produtividade agrícola. Este aumento na produtividade ajudou a alimentar uma popula- ção mundial em rápido crescimento, entretanto, o aumento desta fixação de nitrogênio teve algumas consequências negativas também. Embora as conse- quências não são, talvez, tão explícitas como um aumento nas temperaturas globais ou o buraco na camada de ozônio, elas são tão graves e potencial- mente prejudiciais para os seres humanos e outros organismos. Nem todos os fertilizantes nitrogenados aplicados em campos agríco- las permanecem nas culturas. Quantidades consideráveissão carreados pelas chuvas ou água de irrigação, alcançando e podendo acumular-se em águas – 24 – Química Ambiental superficiais ou subterrâneas. Em águas subterrâneas utilizadas para fins potá- veis, o excesso de nitrogênio pode ocasionar doenças em adultos e crianças. A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos estabeleceu um padrão para o nitrogênio na água potável, de 10 mg por litro de nitrato-N. Infeliz- mente, muitos sistemas (em particular, nas zonas agrícolas) já ultrapassam este nível. Em comparação, os níveis de nitrato nas águas que não foram alte- radas pela atividade humana são raramente superior a 1 mg/L. Em águas de superfície, o aumento na concentração de nitrogênio pode levar a excesso de nutrientes, particularmente em águas costeiras que recebem contribuição de rios poluídos. Este aumento exagerado na quantidade de nutrientes, também chamado de eutrofização, tem sido responsabilizado pelo aumento da morta- lidade de peixes em áreas costeiras e também pelo aumento da frequência de florações de algas nocivas, assim como mudanças consideráveis em popula- ções de organismos nos ecossistemas costeiros. O nitrogênio reativo (como NO3 – e NH4 +), presente nas águas de super- fície e solos, também pode entrar na atmosfera, como o óxido nítrico (NO), que é um componente da poluição atmosférica, e também como o óxido nitroso, um gás com efeito estufa (N2O). Eventualmente, esse nitrogênio atmosférico pode alcançar ambientes terrestres, causando mudanças a longo prazo. Por exemplo, óxidos de nitrogênio compreendem uma parcela signifi- cativa da acidez nas chuvas. O aumento na deposição de nitrogênio atmosfé- rico também tem sido responsabilizado por mudanças mais sutis em espécies dominantes, em alguns ecossistemas florestais e de pastagens. Muitas espécies vegetais são controladas pela concentração de nitrogênio no solo. Com esse acréscimo proveniente das chuvas, algumas espécies têm encontrado condi- ções ideais em ambientes atípicos, alterando, assim, toda a cadeia alimentar e causando desequilíbrio no ecossistema. Atualmente, muitas pesquisas são dedicadas à compreensão dos efeitos do enriquecimento de nitrogênio no ar, águas subterrâneas e águas superfi- ciais. Os cientistas também estão explorando práticas agrícolas alternativas, que visam à alta produtividade com a diminuição dos impactos negativos causados pelo uso de fertilizantes. Esses estudos não apenas ajudam a identi- ficar quanto os seres humanos alteraram o mundo natural, como aumentam a nossa compreensão dos processos envolvidos no ciclo do nitrogênio como um todo. – 25 – Química da atmosfera e a manutenção da vida 1.3.4 Ciclo do Oxigênio Este ciclo move o oxigênio através das três principais regiões da Terra: a atmosfera, a biosfera e a litosfera. A atmosfera é a região de gases que se encontra acima da superfície da Terra e é um dos maiores reservatórios de oxigênio livre. A maior reserva de oxigênio se encontra na litosfera. A maior parte desse oxigênio não está na forma livre, mas faz parte de compostos químicos, tais como silicatos e óxidos. O ciclo do oxigênio demonstra como este é liberado e fixado em cada uma das principais regiões terrestres. Na biosfera, os principais processos relacionados são respiração e fotos- síntese. A respiração consome oxigênio para ser utilizado nos processos metabólicos de animais e seres humanos exalando o dióxido de carbono. Já a fotossíntese é o inverso deste processo, e ocorre na sua maioria por plantas e plânctons. As duas formas de produção do oxigênio são a fotossíntese e a fotólise. Na fotossíntese, o oxigênio é produzido por plantas clorofiladas e algas, as quais, na presença de luz, transformam água e dióxido de carbono (CO2) em compostos orgânicos e oxigênio. Outra forma de produção é a fotólise, no qual a água presente na atmosfera é decomposta pela radiação ultravioleta, formando gás hidrogênio e oxigênio. Abaixo as equações da fotossíntese e fotólise respectivamente: 6H2 O+6CO2 6O2+C6 H12 O6 (fotossíntese) H2O+energia→4H+O2 (fotólise) Luz + Clorofila No processo de fotólise, quando a luz solar de alta energia rompe as moléculas que contêm oxigênio, é produzido o oxigênio livre. Quando este oxigênio livre recombina com moléculas de O2 existentes, forma-se o O3 ou ozônio. Este ciclo é importante, pois ajuda a proteger a Terra da maioria da radiação ultravioleta prejudicial, transformando-a em calor inofensivo, antes de atingir a superfície da Terra. – 26 – Química Ambiental 1.4 Os principais poluentes do ar e seus efeitos sobre a saúde A compreensão total sobre poluentes atmosféricos está em constante evolução, no entanto, temos aprendido o suficiente para desenvolver siste- mas de controle de emissões capazes de limitar seus efeitos nocivos. Alguns dos principais poluentes que contribuem para a poluição do ar também são responsáveis por mudança climáticas globais. Visto isso, os projetos para redução destas emissões têm papel fundamental para a saúde humana e traz benefícios significativos para a população. Este capítulo descreve os tipos mais importantes de poluentes que afe- tam a qualidade do ar e do ambiente. Também resume algumas opções técni- cas amplamente utilizadas para o controle da poluição atmosférica. 1.4.1 Ozônio O ozônio (O3) é um poluente secundário, formado por uma série com- plexa de reações químicas de poluentes primários ou de precursores (por exemplo, óxidos de nitrogênio e compostos orgânicos voláteis), na presença de oxigênio atmosférico e da luz solar. Os principais efeitos na saúde são associados a danos causados às células das vias respiratórias, ocasionando, entre outros problemas, inchaço e diminuição da capacidade para comba- ter infecções, como também, para remover partículas estranhas, de modo a aumentar a incidência de infecções respiratórias, tosse, catarro, atrofia da mucosa nasal, irritação ocular, diminuição da capacidade respiratória e asma. Outros estudos indicam que a exposição ao ozônio pode causar inflamação pulmonar, depressão do sistema imunológico contra infecções pulmonares, além de efeitos sistémicos em órgãos distantes do pulmão, como o fígado, por exemplo. Dentre os efeitos observados em seres humanos saudáveis expostos a concentrações de ozônio, estão a diminuição da capacidade respiratória, broncoespasmo moderado e sintomas subjetivos de tosse e dor ao respirar. 1.4.2 Material Particulado Partículas em suspensão compreendem um largo espectro de substân- cias sólidas ou líquidas, orgânicos ou inorgânicos, dispersas no ar, a partir – 27 – Química da atmosfera e a manutenção da vida de fontes naturais e artificiais. Os elementos presentes nas partículas variam de acordo com fontes locais, mas, em geral, os componentes principais são hidrocarbonetos, materiais solúveis em água (tais como sulfato de amônio), materiais insolúveis contendo pequenas quantidades de ferro, chumbo, man- ganês e outros elementos e materiais biológicos (pólen, esporos de plantas, bactérias e vírus). Segundo a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, CETESB, o material particulado pode ser classificado como: 1.4.2.1 Partículas Totais em Suspensão (PTS) Podem ser definidas de maneira simplificada como aquelas cujo diâme- tro aerodinâmico é menor que 50 µm. Uma parte destas partículas é inalável e pode causar problemas à saúde; outra parte pode afetar desfavoravelmente a qualidade de vida da população, interferindo nas condições estéticas do ambiente e prejudicando as atividades normais da comunidade. 1.4.2.2 Partículas Inaláveis (MP10) Podem ser definidas de maneira simplificada, como aquelas cujo diâmetro aerodinâmico é menor que 10 µm. Dependendo da distribuição de tamanho na faixa de 0 a 10 µm, podem ficar retidas na parte superior do sistemarespiratório ou penetrar mais profundamente, alcançando os alvéolos pulmonares. 1.4.2.3 Partículas Inaláveis Finas (MP2,5) Podem ser definidas de maneira simplificada como aquelas cujo diâme- tro aerodinâmico é menor que 2,5 µm. Devido ao seu tamanho diminuto, penetram profundamente no sistema respiratório, podendo atingir os alvéo- los pulmonares. 1.4.2.4 Fumaça (FMC) Está associada ao material particulado suspenso na atmosfera, prove- niente dos processos de combustão. O método de determinação da fumaça é baseado na medida de refletância da luz que incide na poeira (coletada em um filtro), o que confere a este parâmetro a característica de estar diretamente relacionado ao teor de fuligem na atmosfera. – 28 – Química Ambiental 1.4.3 O monóxido de carbono (CO) É um gás incolor, inodoro e insípido, ligeiramente menos denso do que o ar. A sua origem está na combustão incompleta de combustíveis fósseis e biomassa. Uma vez que a afinidade da hemoglobina para o CO é 250 vezes maior do que para o oxigênio, o monóxido de carbono combina-se com a hemoglobina nas células vermelhas do sangue formando a carboxihemoglo- bina (COHb), que diminui a capacidade do sangue de transportar oxigênio, além de interferir na sua liberação para os tecidos, resultando em hipoxia da função celular e alterações nos neurônios, células do coração e outros mús- culos. A exposição crônica ao CO induz o aparecimento de fenômenos de aclimatação, como o aumento do número de células vermelhas do sangue, aumento do volume sanguíneo e também do tamanho do coração. 1.4.4 O dióxido de enxofre (SO2) É um gás incolor que, em concentrações elevadas, pode ser detectado pelo seu gosto e o seu odor irritante e cáustico. Ele dissolve-se facilmente em água, formando ácido sulfuroso (H2SO3) e ácido sulfúrico (H2SO4)). O SO2 também pode formar trióxido de enxofre (SO3), um vapor altamente reativo, que facil- mente combina com o vapor de água para formar um fino aerossol de ácido sulfúrico. Em concentrações elevadas pode causar broncoespasmo. 1.4.5 Óxido de Nitrogênio (NO) e Dióxido de Nitrogênio (NO2) São compostos formados durante processos de combustão. Em centros urbanos, os veículos geralmente são os principais responsáveis pela emissão dos óxidos de nitrogênio. O NO, sob a ação de luz solar, transforma-se em NO2 e tem papel importante na formação de oxidantes fotoquímicos, como o ozônio. Dependendo das concentrações, o NO2 pode causar prejuízos à saúde. 1.4.6 Compostos orgânicos voláteis (COV) Estes compostos são motivo de preocupação tanto por seu papel como precursor de ozônio e outros oxidantes como pela elevada toxicidade de alguns deles. Devido à sua variedade, os seus efeitos não são completamente conhe- cidos, contudo, para alguns deles, tais como o benzeno, foi reconhecido o seu – 29 – Química da atmosfera e a manutenção da vida potencial carcinogênico. Quando indivíduos são expostos por longos períodos a altas concentrações de benzeno, podem apresentar caso de edema e hemor- ragia bronco-alveolar. Também foram identificados efeitos cardiovasculares, como batidas ou taquicardia ventricular. Os efeitos gastrointestinais dependem da dose ingerida, mas podem resultar em uma gastrite tóxica ou efeito ainda pior. Das consequências para a saúde causadas por compostos orgânicos volá- teis, os efeitos no sangue são os mais amplamente documentados, uma vez que os componentes celulares deste tecido são muito suscetíveis a essas substâncias. 1.4.7 Clorofluorcarbono (CFC) Clorofluorcarbono (CFC) é um composto orgânico produzido como um derivado volátil de metano e etano. Uma subclasse comum são os hidro- clorofluorocarbonetos (HCFC), que contêm hidrogênio. Freon, por exem- plo, é a marca da DuPont para CFCs, HCFCs e compostos relacionados. Outros nomes comerciais são Algofrene, Arcton, Asahiflon, Daiflon, Eskimo, FCC, Flon, Flugene, Fridohna, Frigen, Frigedohn, Genetron, Isceon, Iso- tron, Kaiser, Kaltron, Khladon, Ledon, Racon, e Ucon . O representante mais comum é o diclorodifluorometano (R-12 ou Freon-12). Os Clorofluorcarbonos (CFCs) formam uma família de compostos quí- micos desenvolvidos anteriormente à década de 1930 como alternativa mais segura e não-tóxica ou inflamável para substâncias perigosas como a amônia, utilizada para fins de refrigeração e latas de spray propulsores. Seu uso cresceu enormemente ao longo dos anos. Um dos elementos que compõe os CFCs é o cloro. Muito pouco cloro existe naturalmente na atmosfera. No entanto, os CFCs são uma excelente forma de introduzir cloro na camada de ozônio. A radiação ultravioleta, a esta altitude, quebra as moléculas de CFCs, libe- rando o cloro. Sob as condições, apropriadas, este cloro tem potencial para destruir grandes quantidades de ozônio. Fato foi detectado especialmente sobre a Antártida. Como consequência, os níveis de radiação ultravioleta têm aumentado significativamente nos últimos anos. 1.4.7.1 Desenvolvimento de alternativas para CFCs Segundo o protocolo de Montreal, o clorofluorcarbono (CFC) é a prin- cipal substância destruidora da Camada de Ozônio. Foi amplamente utili- – 30 – Química Ambiental zado entre as décadas de 80 e 90 na indústria de produtos e serviços, como a de refrigeração. O consumo do gás foi banido em 2010. Existem diferentes derivados do composto (CFC-11, o CFC-12, o CFC-113 e CFC-114), todos com funções específicas. O CFC-11, por exemplo, era usado na manufatura de espuma, em aerossóis e em bombinhas para asma. Já o CFC-12 serviu como esterilizantes e fluidos refrigerantes para geladeiras e ar condicionado. O hidroclorofluorcarbono (HCFC) foi desenvolvido como alternativa de mercado para substituir o uso dos CFCs. Com composição mais branda, apresenta menor potencial de destruição da Camada de Ozônio e, por isso, seu uso foi ampliado. Ele é usado como fluido para extintores de incên- dio, na fabricação de embalagens térmicas, em limpeza de circuitos, entre outros. Apesar de ser menos nocivo à Camada de Ozônio, pesquisas recentes demonstraram que a substância contribui para o aquecimento global. Assim, a eliminação do uso do HCFC deve ocorrer até 2040. 1.4.8 Ozônio troposférico e seus precursores O ozônio na troposfera, particularmente perto da superfície, é preju- dicial para os seres humanos e todos os ecossistemas da Terra. Esse ozônio é produzido pela oxidação fotoquímica do monóxido de carbono (CO) e de compostos orgânicos voláteis (COV), na presença de óxidos de nitrogê- nio (NO + NO2 NOx). O monóxido de carbono é um precursor de ozônio e um marcador de longa duração de combustão. Por outro lado, o ozônio reage com o vapor de água e a luz solar para formar OH (o radical hidroxila), que é conhecido como a molécula “detergente”, pois reage com os poluentes do ar e controla a capacidade da atmosfera para se purificar. 1.4.8.1 Propriedades e estrutura do ozônio O ozônio é um gás azulado, colorido, que tem um ponto de ebulição em -112º C. À pressão atmosférica, o ozônio pode dissolver-se parcialmente em água. À pressão e temperatura padrão, a solubilidade de ozônio é treze vezes maior do que a do oxigênio. Seu potencial de oxidação, em torno de 2,07 volts, demonstra que o ozônio é um oxidante forte, sendo um dos mais fortes oxidantes disponíveis para o tratamento da água. – 31 – Química da atmosfera e a manutenção da vida Misturas concentradas de oxigênio que contêm mais do que 20% de ozônio podem tornar-se explosivas. O ozônio é bastante instável em solução aquosa; a sua meia-vida na água é de cerca de 20 minutos. No ar, o ozônio possui uma meia-vida de 12 horas. A estrutura de ozônio é a seguinte: Figura 1.11 – Estrutura do Ozônio. . . . .. . . . . . . . δ+ δ- . . . .. . . . . . . . . . δ+ δ- O ozônio troposférico é um gás altamenteirritante, formado um pouco acima da superfície da Terra. Ele é chamado de poluente “secundário” por- que é produzido quando dois poluentes primários reagem à luz solar e ao ar estagnado. Estes dois poluentes primários são óxidos de nitrogênio (NOx) e compostos orgânicos voláteis (COV). Os NOx e COV são provenientes de fontes naturais, bem como as ati- vidades humanas. Cerca de 95 por cento de NOx da atividade humana vêm da queima de carvão, gasolina e óleo em veículos automóveis, residências, indústrias e usinas de energia. COV de atividade humana são resultado, prin- cipalmente, da queima de combustíveis, da produção de petróleo e gás e da evaporação de combustíveis líquidos e solventes. O ozônio é conhecido por ter efeitos significativos sobre a saúde humana. A exposição ao ozônio tem sido associada à mortalidade prematura e aos sinto- mas de asma. Além dos efeitos sobre a saúde humana, o ozônio pode impactar significativamente na vegetação e diminuir a produtividade de algumas culturas. Ele também pode danificar materiais sintéticos, causar rachaduras em borracha, acelerar o desbotamento de corantes e deterioração de algumas tintas e revesti- mentos, danificar algodão, acetato, nylon, poliéster e outros produtos têxteis. 1.5 Chuva Ácida “Chuva ácida” se tornou um termo familiar na década de 1980, quando as emissões atmosféricas das indústrias de veículos a motor foram acusadas – 32 – Química Ambiental de causar degradação ambiental. Evidências científicas relacionam a chuva ácida à diminuição da população de peixes e animais selvagens em lagos e rios degradados, além dos riscos para a saúde humana. 1.5.1 O que é chuva ácida? Identificada pela primeira vez em 1872, na Suécia, a chuva ácida é a pre- cipitação na forma de chuva, neve, granizo, orvalho ou nevoeiro, que trans- porta compostos de enxofre e nitrogênio a partir da alta atmosfera para o solo. O dióxido de enxofre (SO2) e óxidos de nitrogênio (NO, NO2) reagem com a água, o oxigénio, o dióxido de carbono e a luz solar na atmosfera, for- mando os ácidos sulfúrico e nítrico, que atingem o solo, alterando a química no ambiente. A acidez de uma solução é determinada na escala de ph de 0 a 14. Um nível de ph de 0 a 7 é considerado ácido, sendo 7 neutro. Nível acima de 7 é considerado alcalino. À medida que o número de ph diminui, aumenta a acidez. Água destilada, por exemplo, tem um ph 7, de modo que é neutra. Em comparação, amoníaco doméstico é um alcalino alcançando ph em torno de 11,5. O leite é ligeiramente ácido, com um ph 6,5, e refrigerantes, que contêm ácido fosfórico, têm ph em torno de 3,0. Embora a escala de ph possa parecer simples, a determinação do ph da chuva “normal” é muito mais complexa. Quando a água destilada é exposta ao ar, uma interação com o dióxido de carbono aumenta a acidez através da formação de ácido carbónico, H2CO3, e o nível de ph decresce. Muitos cien- tistas concordam que o ph normal de chuva é um pouco ácido, em torno de 5, 6, devido a interações químicas ocorridas no ar. Todavia, os níveis de ph da chuva podem variar significativamente ao longo de distâncias curtas e em um curto espaço de tempo, inclusive durante a mesma chuva. Estações, clima e uma série de outros fatores também podem influenciar a acidez da água de chuva. Chuva e neve não são os únicos processos que carreiam enxofre e ácidos de nitrogênio da atmosfera para o solo. Estes compostos também estão presentes em gases e partículas secas, que são mais difíceis de medir. Como deposição úmida, a ocorrência de “deposição seca” de ácidos varia – 33 – Química da atmosfera e a manutenção da vida em diferentes zonas, dependendo da distância da fonte de emissão e das condições climáticas. 1.5.2 O que causa a chuva ácida? A chuva ácida tem sua origem atrelada a causas naturais, assim como também às atividades humanas. Os óxidos de nitrogênio, são formados por intermédio do extremo aquecimento do ar, quando uma tempestade produz relâmpagos, assim como gases sulfurosos são lançados a partir da erupção de vulcões e decomposição de vegetações. No entanto, a aten- ção do público tem sido focada nas fontes artificiais de chuva ácida, que incluem a queima de combustíveis, que contêm compostos de enxofre e nitrogênio. Normalmente, as maiores emissões de óxido de nitrogênio são encontra- das em regiões de grandes áreas urbanas, com densidade populacional elevada e alto tráfego de veículos. A chuva ácida não está limitada à região onde estão localizadas as fon- tes. Os ventos predominantes podem transportar os compostos químicos na atmosfera por centenas ou mesmo milhares de km. antes de serem deposi- tados no solo, independentemente das fronteiras do estado e do país. Por exemplo, os compostos da indústria na China podem, potencialmente, ser depositados no meio-oeste dos Estados Unidos. Por esta razão, a chuva ácida é considerada um problema global. 1.5.3 Quais são os seus efeitos? A chuva ácida tem sido associada a efeitos nocivos no meio ambiente e na saúde humana. Florestas, lagos e córregos A chuva ácida pode causar danos generalizados em árvores, especial- mente em vegetação de altas. A acidez pode danificar as folhas e também esgotar nutrientes nos solos florestais, de modo que essas se tornam mais vulneráveis a doenças e estresse ambiental. Quando lagos e riachos se tornam mais ácidos do que o normal, existe uma mudança significativa na variabilidade de espécies de peixes e organis- – 34 – Química Ambiental mos aquáticos. A quantidade de peixe diminui devido à alta taxa de mortali- dade, com taxa de crescimento e reprodução decrescente. Os ambientes aquáticos se tornam habitat apenas para as espécies tole- rantes para condições muito ácidas. Um lago saudável tem um ph de 6,5 ou superior. Apenas algumas espé- cies de peixes podem sobreviver a um ph inferior a 5. Em um ph de 4, o lago é considerado morto. A diminuição das populações de peixes é, muitas vezes, o primeiro sinal de um problema da acidificação. No entanto, nem todos os lagos são igualmente vulneráveis à chuva ácida. Em algumas áreas, o ph médio de um lago de água doce é um alcalino 8-9 porque os solos e rochas no fundo do lago contêm altos níveis de cálcio e magnésio, que neutralizam a acidez da chuva. Plantas e culturas A chuva ácida pode, potencialmente, reduzir a produção agrícola, alte- rando as propriedades químicas do solo, diminuindo a taxa de processos microbiológicos e reduzindo os nutrientes consideravelmente. As raízes dos vegetais podem ser danificadas em decorrência de atraso no crescimento. Efeitos Humanos A água ácida transportada através de tubulações metálicas pode causar contaminação. A maioria dos fornecedores de água pública remove esses produtos quí- micos perigosos na estação de tratamento. Porém, este tipo de contaminação pode ser um problema para os moradores não atendidos por abastecimento público de água potável. Além das chuvas, a névoa ácida inalada pode ser mais perigosa para a saúde do que as precipitações. Estes ácidos atmosféricos podem causar problemas respiratórios em seres humanos, tais como irritação na gar- ganta, nariz e olhos, dores de cabeça e asma. A névoa ácida é particular- mente perigosa para os idosos e para portadores de doenças respirató- rias crônicas. – 35 – Química da atmosfera e a manutenção da vida Materiais sintéticos Embora a luz solar, calor, frio e vento contribuam para a deteriora- ção de estruturas e objetos feitos pelo homem, a deposição ácida acelera esse processo. A chuva ácida danifica estruturas metálicas e veículos, assim como estruturas de pedra calcária, lápides, estátuas e monumentos. Esses se deterioram mais rapidamente quando o ph das precipitações se torna mais ácido. 2 Poluição em ambientes aquáticos Apesarde morarmos em um planeta que é composto em sua maior parte por água – aproximadamente 75% da superfície terres- tre – podemos dizer que, atualmente, vivemos uma crescente crise global em relação à água, tanto em quantidade (escassez) quanto à qualidade. – 38 – Química Ambiental 2.1 Introdução Conforme apresentado na Tabela 1, a água encontra-se nos oceanos com cerca de 97,4% do volume total, restando apenas 2,6% de água doce. Desta pequena parcela, 2,6%, grande parte está indisponível ou com acesso limi- tado, pois encontram-se congeladas (geleiras) ou são águas subterrâneas, onde o acesso não é imediato. Tabela 2.1 – Reservatórios de água na Terra. Tipo de disponibilidade Volume (km.3) Porcentagem Oceanos 1.348.000.000 97,39% Calotas polares, gelo do mar e geleiras 27.820.000 2,01% Águas subterrâneas, umidade do solo 8.062.000 0,58% Lagos e rios 225.000 0,02% Atmosfera (evaporação) 13.000 0,00% Total 1.348.120.000 100% Total de Água doce 36.020.000 2,60% Fonte: METZGER (2010a). A água como parte de ciclos naturais é nossa base de vida, devido às interferências dos homens nesses ciclos, a quantidade aproveitável de água potável está diminuindo drasticamente. As canalizações de rios, drenagem de pântanos, a impermeabilização das paisagens, o desmatamento de florestas acaba por acelerar a drenagem de água doce ao mar. Outros problemas encontrados em relação à quantidade de água são o cres- cente consumo per capita, o aumento da população mundial, o uso inadequado ou exagerado de águas subterrâneas e superficiais (por exemplo, os sistemas de distribuição de água com perdas excessivas) e o derretimento de geleiras, calotas polares e gelo marinho, onde está cerca de 77% da reserva de água doce do pla- neta. Aliado ao fato da diminuição da água doce disponível, existe o agravante da crescente poluição dos corpos hídricos, ocasionada pelas atividades humanas. Como consequência da crise, temos cerca de 1,1 bilhão de pessoas sem acesso à água potável. Para o ano de 2050, há previsão de que este número chegue entre 2 e 7 bilhões. Além disso, temos aproximadamente 2,4 bilhões – 39 – Poluição em ambientes aquáticos de indivíduos vivendo sem saneamento básico e, atualmente, morrem cerca de 2,2 milhões por doenças causadas por água potável contaminada (MET- ZGER, 2010a). 2.2 Química da água A molécula da água é formada por dois atómos de hidrogênio e um de oxigênio. Possui características únicas (anomalias) relacionadas com a estru- tura polar da sua molécula, já que a ligação O-H é polarizada, ou seja, os elé- trons da ligação são distribuídos assimetricamente. Isso permite a formação das ligações chamadas pontes de hidrogênio, que são responsáveis por muitas destas anomalias da água, como: o alto ponto de ebulição (100ºC), a alta viscosidade, a alta tensão superficial e a hidratação de íons. Podemos encon- trar outras anomalias importantes, relacionadas com água, como a sua alta capacidade térmica e a sua densidade no estado sólido, menor que no estado líquido, o que permite que o gelo boie, enquanto que em outras situações o sólido é mais denso que o líquido e afunda. Exemplo: a cera sólida afunda em cera líquida. Na Tabela 2.2, apresentamos algumas características da água, relacionando sua importância para o meio ambiente. Figura 2.1 – Representação da ligação ponte de hidrogênio da água. H – O: ∙ ∙ ∙ H – O: ∙ ∙ ∙ H – O: | | | H H H . . . . . . Tabela 2.2 – Características da água e sua relevância para o meio ambiente. Característica Observações Relevância para o meio ambiente Densidade Maior densidade a 4ºC, acima do ponto de fusão; Dificulta o congelamento. Ex: lagos ini- ciam o seu congelamento na superfície e no fundo ainda se mantém 4ºC, o que permite a vida aquática mesmo com a superfície congelada. Aumento do volume na solidificação. Ponto de fusão e ebulição Extremamente alto Permite a existência de água líquida na superfície da terra. – 40 – Química Ambiental Característica Observações Relevância para o meio ambiente Capacidade tér- mica Maior capacidade térmica de todos os líquidos Mantém o equilíbrio em choques tér- micos; Armazenamento de grandes quantidades de calor com pequenas diferenças de temperaturas (oceanos e lagos funcionam como reservatórios de calor). [75,366 J/(K mol) a 20ºC] Condu t iv idade térmica Baixa em comparação a metais como o Cobre: 3,93 J/(cm s K); Água: 0,0059 J/(cm s K) Dificulta o congelamento total dos cor- pos hídricos, ou seja, dificulta o conge- lamento até o fundo. Entalpia de eva- poração Maior entalpia de evaporação de todos os líquidos Efeito refrigerador da transpiração das plantas, animais e seres humanos (com poucas perdas de água). Tensão superficial Maior tensão superficial de todos os líquidos (exceto Mercúrio) Facilita a formação de gotas em nuvens (chuva). Momento dipolo e constante de die- letricidade Momento dipolo alto (1,85 D); Constante de dieletricidade muito alta (ԑ = 80,08 a 20ºC) Solvente excelente para um grande número de compostos polares e sais (íons); Transporte de substâncias dis- solvidas no ciclo hidrológico e em orga- nismos; Transporte até os pontos mais altos de árvores; Permite que a água não siga a força gravitacional e fique retida no solo, disponível para plantas fazerem absorção. Absorção de luz Alta em grandes faixas do Infravermelho (IV); transparente em 180 a 780 nm, baixa na faixa visível Importante para a regulagem de ativida- des biológicas (fotossíntese) e da tem- peratura atmosférica (aquecimento de águas superficiais). – 41 – Poluição em ambientes aquáticos Figura 2.2 – Formação das pontes de hidrogênio na água congelada. 2.3 Poluição das Águas A poluição da água pode ser definida como a alteração das características estéticas, fisiológicas ou ecológicas da água, por quaisquer ações ou inter- ferências naturais ou humanas. Podemos dividir a poluição em: geogênica, biogênica e antropogênica. A poluição geogênica possui origem mineral, enquanto a poluição biogênica é originada em produtos de degradação natu- ral, como degradação de folhagens. Por fim, a poluição antropogênica, que é resultante das atividades humanas. A poluição também pode ser classificada quanto aos tipos de fontes de introdução dos poluentes no corpo de água em: atmosférica, pontuais e difusas. A poluição atmosférica é o tipo de poluição que se dispersa mais facilmente por se tratar, na maioria das vezes, de gases, sendo introduzida na interface da água com o ar e pelas chuvas. Já a poluição pontual refere- se à introdução ou despejo de poluentes, que ocorre em um determinado ponto específico do corpo de água. As estações de tratamento de esgoto e as indústrias são exemplos típicos da causa desse tipo de fonte de poluição. Na poluição difusa, não é possível localizar um ponto específico de introdução ou despejo de poluentes no corpo de água, o que acaba dificultando o controle. Temos, como exemplo de poluição difusa, o escoamento de águas de chuva em campos agrícolas, assim como o lançamento das drenagens pluviais urbanas. – 42 – Química Ambiental Figura 2.3 – Despejo pontual de efluentes. C ré di to :: Sh ut te rs to ck .c om /R ed do gs Com isso, a água contém substâncias inorgânicas como sais e gases, subs- tâncias orgânicas de origem natural ou antropogênicas e microrganismos. Os principais ingredientes são encontrados na água em concentrações acima de 10 mg/l. Impurezas em maiores concentrações são aquelas encontradas acima de 0,1 mg/l e impurezas em traços em concentrações inferiores a 0,1 mg/l. Lembrando que não existe água absolutamente pura no meio ambiente, pois as águas subterrâneas, possuemcontato com o solo, as águas superficiais têm contato com a superfície terrestre e as águas de chuva estão em contato com o ar. Portanto, a água sempre possui substâncias dissolvidas em sua composi- ção; isto é ocasionado principalmente pela sua alta capacidade de solvente de substâncias polares e de sais (íons). A poluição da água, ou os efeitos dos poluentes introduzidos em um ambiente aquático, dependem da natureza do poluente, do caminho que este percorre no meio e para este meio aquático é utilizado. Alguns destes poluen- tes podem apresentar características críticas, como: toxicidade para humanos ou ecotoxicidade, persistência e acumulação. Usualmente, chamamos estes poluentes de composto químico ambiental, que são substâncias presentes no meio ambiente por ação humana em quantidades ou concentrações suficien- tes para poder prejudicar o ser humano e seu ambiente vivo e material. Estas – 43 – Poluição em ambientes aquáticos substâncias podem ser divididas em substâncias inorgânicas, como os metais pesados, e substâncias orgânicas, como pesticidas e inibidores de chama. Quando uma substância apresenta uma ou mais características críticas torna- se uma substância muito preocupante. 2.3.1 Toxicidade e Ecotoxicidade A toxicidade consiste na capacidade de uma substância química produzir um efeito nocivo quando interage com um organismo vivo. A toxicidade de uma substância depende da dose ou concentração de exposição e do sistema biológico exposto. Já a ecotoxicidade é a capacidade da substância química produzir efeitos nocivos à população/sociedade e para o ecossistema. Sendo que a homotoxicologia estuda a toxicidade em humanos e a ecotoxicologia estuda toda a natureza viva. A toxicidade pode ser dividida em toxicidade aguda ou crônica. A toxi- cidade aguda é avaliada pela exposição única ou após um período curto de tempo e, normalmente, são avaliados efeitos de letalidade, enquanto que a toxicidade crônica é avaliada por uma exposição de período de tempo prolongado, podendo ser dias, semanas, meses ou anos, dependendo do organismo a ser analisado. São avaliados efeitos como comprometimento de crescimento, de desenvolvimento, de reprodução e de comportamento. Uma substância pode ter os dois efeitos, agudo ou crônico, porém, a con- centração para ocasionar os dois efeitos são bem diferentes, visto que a concentração necessária para ocorrer um efeito agudo é muito maior que a concentração para o efeito crônico. Os principais parâmetros que influenciam na toxicidade/ecotoxicidade de substâncias químicas são o caminho da exposição, a sua biodisponibili- dade, as características físico-químicas, a concentração no meio, a duração da exposição e a frequência da exposição. 2.3.2 Persistência Persistência é o termo que caracteriza a resistência de substâncias con- tra a degradação química e biológica, ou seja, compostos persistentes pos- suem uma baixa reatividade química. Pela baixa reatividade química (per- – 44 – Química Ambiental sistência), o composto evita que ocorra a sua eliminação ou mineralização (degradação a gás carbônico e água). Inicialmente, o termo foi introdu- zido para caracterizar a estabilidade de pesticidas clorados sob condições ambientais, porém, hoje, é utilizado para todas as substâncias orgânicas de forma geral. Muitos compostos são desenvolvidos para que tenham uma persistência desejada, para que mantenham estabilidade enquanto dure a sua aplicação, como remédios e agrotóxicos. No entanto, estes podem ter uma persistência indesejada, pois mantêm a sua estabilidade além do tempo da aplicação, como o clorofluorcarbono (CFC). Através da estrutura das substâncias químicas orgânicas, podem ser deduzidas certas regras para a sua persistência (reatividade química), como compostos com ligações não saturadas (ligações duplas ou triplas), que são mais reativos que compostos com ligações saturadas (ligações simples), assim como os alcanos são mais reativos que os compostos aromáticos. Os compostos aromáticos com poucas substituições acabam por ter uma reati- vidade maior que aromáticos com muitas substituições. A substituição alquila, por fim, possui uma reatividade química maior que a substituição halógena. Então, podemos prever que um composto aro- mático com muitas substituições halógenas e com poucas ligações não satu- radas possui grande chance de ser persistente. 2.3.3 Acumulação A acumulação é o fenômeno de enriquecimento, ou aumento da con- centração, de substâncias químicas em certas áreas do meio ambiente e em organismos acima da concentração encontrada no meio. A acumulação pode ser dividida em geoacumulação, que é o enriqueci- mento abiótico (ex.: aumento da concentração de substâncias químicas em sedi- mentos) e a bioacumulação, que é o enriquecimento em organismos. A bioacu- mulação pode ocorrer em microrganismos ou em organismos superiores. Nos microrganismos, a acumulação das substâncias químicas, usual- mente, ocorre nas membranas das células e, em organismos superiores, a acumulação pode ocorrer em tecidos como camadas gordurosas, em órgãos com intenso metabolismo, como o fígado e o baço, ou nos ossos. – 45 – Poluição em ambientes aquáticos Figura 2.4 – Representação dos efeitos de Bioacumulação e Biomagnificação de poluentes. 2.3.3.1 Biomagnificação Dentro do fenômeno de acumulação existe a magnificação, que é defi- nida como o enriquecimento de substância química na cadeia alimentar. Já a biomagnificação é o enriquecimento pela alimentação, ou seja, ocorre um aumento da concentração de poluentes com o aumento do nível trófico da cadeia alimentar. Por exemplo, numa cadeia alimentar, a concentração encontrada do poluente em algas (produtores) é menor que a concentração deste mesmo poluente em microcrustáceos (consumidores de 1ª ordem) que, por consequência, é menor que a concentração do poluente em peixes peque- nos (consumidores de 2ª ordem), assim como a concentração encontrada em peixes predadores (consumidores de 3ª ordem) é maior que as encontradas nos peixes pequenos. 2.3.3.2 Fator de Bioconcentração (BCF) Outro conceito importante é o fator de bioconcentração (BCF), que mede o grau de enriquecimento de uma substância química em organismos aquáticos. Trata-se de uma relação entre concentração de uma substância no organismo e a concentração da água. Esta relação visa determinar o potencial – 46 – Química Ambiental que um composto tem de se acumular em um organismo (bioacumulação). O potencial de bioacumulação depende da substância química e é verificado em organismos de teste (geralmente peixes ou algas) sob condições normati- zadas. Na tabela abaixo, apresentamos valores do Fator de Bioconcentração do mercúrio (Hg) em organismos aquáticos. Como exemplo, na Tabela 2.3, temos o fator de bioconcentração do mercúrio para invertebrados de água doce de 100.000. Isto significa que a concentração do mercúrio a ser encon- trada nestes organismos é 100.000 vezes maior que a concentração de mér- curio presente na água. Tabela 2.3 – Valores do Fator de Bioconcentração (BCF) do mercúrio em organismos aquáticos. Organismo Fator BCF Invertebrados de água marinha 100.000 Invertebrados de água doce 100.000 Peixes de água doce 63.000 Peixes de água marinha 10.000 Plantas marinhas 1.000 Plantas de água doce 1.000 Fonte: METZGER (2010b). Na tabela seguinte, apresentamos um exemplo de acumulação de uma substância química, em que temos a concentração média encontrada de bife- nilas policloradas (PCB) em vários compartimentos ambientais do mar do norte na Europa. Tabela 2.4 – Concentração média encontrada de Bifenilas Policloradas (PCB) em vários compartimentos ambientais do Mar do Norte. Compartimento ambiental Concentração média de PCB (mg/kg) Água marinha 0,000002 Sedimento 0,01Invertebrados 7,8 Fitoplâncton 8,4 – 47 – Poluição em ambientes aquáticos Compartimento ambiental Concentração média de PCB (mg/kg) Zooplâncton 10,3 Peixes 19 Aves marinhas 110 Mamíferos marinhos 160 Fonte: METZGER (2010b). Com os valores apresentados na Tabela 2.4, podemos determinar o fator BCF de PCB para mamíferos marinhos através da relação da concen- tração encontrada do poluente nos mamíferos com a concentração da água marinha. Assim, temos como valor do fator BCF, neste caso, 80.000.000 (160/0,000002). Já para os invertebrados marinhos, por exemplo, o fator BCF do PCB é de 3.900.000 (7,8/0,000002). 2.3.4 Conversão e degradação de substâncias químicas A conversão e a degradação de substâncias químicas no meio ambiente pode ocorrer por meio de dois processos: a degradação abiótica e a biótica. A degradação abiótica ocorre através de processos químicos e pode ser considerada como caminho mais importante para a eliminação de compostos químicos ambientais no meio ambiente. É possível que ocorra em qualquer meio (solo, ar e água) e depende da reatividade dos reagentes. Os principais mecanismos da degradação abiótica são a hidró- lise (em meio aquático); as reações de oxidação e redução; e as reações fotoquímicas - portanto, a degradação abiótica é facilitada pela presença de oxigênio, da água e da luz solar. A degradação biótica ocorre por processos biológicos e nada mais é que a modificação química de substâncias por organismos ou por suas enzimas. 2.4 Principais poluentes e parâmetros analíticos Neste item serão abordados os principais parâmetros analíticos e os poluentes que possuem grandes importâncias quanto à avaliação da quali- dade dos meios aquáticos. – 48 – Química Ambiental 2.4.1 Oxigênio dissolvido (OD) O oxigênio dissolvido (OD) é um parâmetro muito importante para avaliar a qualidade de águas, pois indica a capacidade de um corpo de água natural em manter a vida aquática. O OD é o teor de gás oxigênio (O2) dis- solvido na água. Os processos que fornecem oxigênio ao meio aquático são a recepção do gás O2 da atmosfera e a produção biógena de O2 pela fotos- síntese. Já os processos que consomem o oxigênio da água são, por exemplo, a respiração (assimilação de O2) dos organismos vivos presentes no meio, a degradação aeróbia de substâncias orgânicas (efluentes) e a nitrificação e outros processos de oxidação (como a oxidação de Fe2+ para Fe3+). A solubilidade do oxigênio em água depende da temperatura e da altura sobre o nível do mar (pressão atmosférica). Quanto menor a temperatura e maior a pressão atmosférica, maior é capacidade da água dissolver o oxigê- nio. Portanto, efluentes de processos industriais de resfriamento, que pos- suem altas temperaturas, podem acarretar numa diminuição da concentração de saturação de oxigênio nos corpos de água, caso elevem a temperatura do corpo de água. Águas superficiais, principalmente quando em movimento, muitas vezes, dissolvem oxigênio do ar até a saturação; por isso, o teor de oxigênio destas águas deveriam estar perto da saturação. Já o oxigênio dissolvido em águas paradas depende da profundidade (normalmente o fundo dos lagos são livres de oxigênio), da hora do dia e da época do ano. Importante salientar que o teor de oxigênio não deve ficar inferior a 5 mg/l em corpos de água naturais, isto porque, por exemplo, peixes são danificados com concentrações inferiores a 4 mg/l. Outro fator que limita a concentração de oxigênio na água são as con- centrações de sais dissolvidos, uma vez que águas com sais dissolvidos pos- suem uma concentração menor de oxigênio do que a água pura na mesma temperatura e pressão parcial de oxigênio. 2.4.2 Substâncias orgânicas na água As substâncias orgânicas na água podem ser naturais ou antropogênicas. As substâncias naturais são produtos do metabolismo dos organismos presen- tes no ecossistema, substâncias de todas as etapas intermediárias de minerali- – 49 – Poluição em ambientes aquáticos zação de matéria orgânica morta (“autopoluição”) e substâncias de conversão e degradação permanente (substâncias húmicas em dissolução coloidal). Já as substâncias antropogênicas são substâncias para o tratamento de culturas (fertilizantes) e agrotóxicos, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAP), hidrocarbonetos alifáticos halogenados voláteis, fenóis, hidrocarbo- netos e óleos, tensoativos e substâncias formadores de complexos. Inclui-se também os compostos conhecidos como micropoluentes emergentes, dentre eles os PPCPs (Pharmaceuticas and Personal Care Products), que são os fárma- cos e produtos de cuidado pessoal, e os EDCs (Endocrine Disruptors Com- pounds), que são substâncias que possuem a capacidade de causar problemas endocrinológicos, como hormônios e outros. A degradação biótica de substâncias orgânicas pode ocorrer em con- dições aeróbias (oxidante) por organismos aeróbios ou em condições anae- róbias (redutoras), por organismos anaeróbios ou facultativos. Nas condi- ções aeróbias, os produtos da degradação são gás carbônico (CO2), Nitrato (NO3-) e Sulfato (SO42-), enquanto que nas condições anaeróbias são gera- dos Metano (CH4), Amônia (NH3) e Ácido Sulfídrico (H2S). Como os produtos da degradação anaeróbia são potencialmente tóxicos e a neces- sidade de oxigênio dissolvido no meio aquático é essencial para a manu- tenção do equilíbrio do ecossistema, deveria ocorrer, preferencialmente, a degradação aeróbia no processo de autopurificação de águas. Para esse pro- cesso ocorrer sem problemas, é necessário que seja mantido a quantidade de oxigênio dissolvido do meio; por este motivo, a carga de matéria orgânica presente no meio não deve ser muito grande para que não ocorra um con- sumo de oxigênio maior que a taxa de reposição de oxigênio no meio. Caso isto ocorra, ocasionará um déficit de oxigênio no meio e acarretará na morte dos organismos dependentes de oxigênio. O lançamento de esgotos domésticos em corpos de água pode causar um impacto muito grande no ecossistema, principalmente quando o lan- çamento possuir uma carga de matéria orgânica superior à capacidade de autodepuração do corpo receptor. Este impacto ocorre principalmente pelo consumo de oxigênio dissolvido na água, no processo de autopurificação, e não pela presença de substâncias tóxicas nos esgotos. Por esse motivo, os órgãos de recursos hídricos instituíram o instrumento de outorga de lançamento de efluentes, na qual se estabelece ao poluidor a quantidade – 50 – Química Ambiental de carga de matéria orgânica que pode ser lançada por um empreendi- mento em seu efluente, com o objetivo de garantir que não seja prejudi- cado o meio ambiente e os demais usos que podem ser realizados no corpo de água. A medição de substâncias orgânicas na água podem ser realizadas através de parâmetros somatórios, como Carbono Orgânico Total (COT), parâme- tros que avaliam o total de substâncias orgânicas oxidáveis tanto biologica- mente, por meio da DBO, quanto quimicamente, através da DQO, além de determinações da concentração individual de cada composto. Geralmente, são utilizados os parâmetros de DBO e DQO para ava- liar a quantidade de carga orgânica presente na água, frente à determinação do Carbono Orgânico Total, por questões práticas e de custo. Já as deter- minações individuais de compostos orgânicos, é muito mais complexa e por isso são realizadas análises em substâncias específicas predefinidas. As substâncias orgânicas que fazem parte deste espectro de determinação e regulação (legislação ambiental) individual são aquelas que apresentam características críticas, como a toxicidade e/ou a ecotoxicidade, a persis- tência e a bioacumulação. 2.4.3 Sabões e detergentes no meio ambiente Um sabão é um sal de ácido graxo. Esta molécula é constituída por uma cadeia longa de hidrocarbonetos
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