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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E INOVAÇÃO COORDENAÇÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA PIBIC RELATÓRIO FINAL OS DESAFIOS DE UMA UTI NEONATAL: O TRABALHO DO CUIDADO E AS RELAÇÕES COLABORATIVAS Darli de Fátima Sampaio CURITIBA 23/07/2020 NAYRELLI SANTA ROSA PADILHA DARLI DE FÁTIMA SAMPAIO ENGENHARIA BIOMÉDICA – ESCOLA POLITÉCNICA PUCPR TECNOLOGIA E HUMANIZAÇÃO DO CUIDADO EM UMA UTI NEONATAL Relatório Final apresentado ao Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica, Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós- Graduação e Inovação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, sob orientação da Profª. Drª. Darli de Fátima Sampaio. LISTA DE TABELAS Tabela 1: Tabela de internamentos 2018. ................................................................. 20 Tabela 2: Tabela de internamentos 2019 .................................................................. 20 Tabela 3: Taxa de óbitos nacionais neonatal 2000-2015...........................................21 Tabela 4: Tabela de óbitos 2018................................................................................22 Tabela 5: Tabela de óbitos 2019................................................................................22 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1 2. OBJETIVOS ....................................................................................................... 42 2.1 Objetivos específicos....................................................................................... 42 3. REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................. 42 4. MATERIAIS E MÉTODO .................................................................................. 107 6. DISCUSSÃO .................................................................................................... 129 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 163 8. REFERÊNCIAS .............................................................................................. 1724 8 RESUMO Introdução: O presente trabalho parte do interesse investigativo que tem por base duas áreas de conhecimento: Filosofia e Engenharia Biomédica, com incidência no campo educacional, buscando entender algumas relações possíveis que possam ser estabelecidas entre a tecnologia, gênero e cuidado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal de um hospital particular de Curitiba, no Estado do Paraná. Objetivos: Contribuir para fomentar o debate sobre temas que envolvem a vida humana frente às novas tecnologias utilizadas na área da saúde, que vem transformando as relações socioculturais de nosso tempo. Discutir filosoficamente temas emergentes na área da saúde diante de grandes descobertas científicas. E destacar as principais representações de gênero na área da saúde. Materiais e Método: Buscou-se a partir do referencial teórico propiciar uma visão ampliada sobre gênero, cuidado e tecnologia, por meio de pesquisa bibliográfica na área, a exemplo de Tamanini (2018), Hirata e Guimarães (2012) que discorrem sobre o conceito do cuidado. Scott (1995) sobre gênero, Portal Fundação Osvaldo Cruz - FioCruz (2019) fonte de dados sobre a saúde. A metodologia incorporou a técnica da observação, prevista na pesquisa participante. Segundo Haguette (2002) e Marconi e Lakatos (1982), trata-se de uma técnica onde o pesquisador incorpora ao está incorporado em um grupo pesquisado. Registros de internamentos realizados pelas profissionais de saúde, em sua maioria mulheres foram analisados, bem como as rotinas de cuidados profissionais. Resultados: Evidenciou-se a importância do uso indispensável das tecnologias para o diagnóstico, monitoramento, terapias, reabilitação e prevenção de patologias, assegurando aumento das chances de vida. O conhecimento científico, habilidade técnica e o cuidado profissional exercido por mulheres. Considerações Finais: Os avanços tecnológicos promovem um suporte fundamental diante da fragilidade e finitude humana. Atuam eficazmente e podem suprir ou atender as necessidades humanas fundamentais, favorecendo a qualidade de vida. Palavras-chave: Tecnologia, saúde, gênero, cuidado. 1. INTRODUÇÃO O presente trabalho parte do interesse investigativo que busca contemplar duas categorias centrais nas conjunturas educacionais contemporâneas, a saber: gênero e cuidado, fundamentais e ambos com incidência no campo da saúde que se configura enquanto uma importante área para reflexão, especialmente sobre a necessidade de aprofundamento e desenvolvimento de propostas sobre a organização social, cultural, e as relações entre vida e finitude, que nos coloca diante da inegável fragilidade humana. E tem como objetivo principal fomentar o debate sobre temas da atualidade que envolve questões que dizem respeito à vida humana frente às novas tecnologias na área da saúde, que vem transformando profundamente as relações socioculturais de nosso tempo. Para tanto, se faz necessário discutir filosoficamente as novas tecnologias na área da saúde e quais as perspectivas diante das descobertas científicas. Boa parte da pesquisa na área de assistência ao prematuro e de equipamentos intensivistas tem por base os estudos do Dr. Guilherme Sant´Ann (2012), pediatra especialista em neonatologia. A estrutura tecnológica está sendo baseada em pesquisas já realizadas na área da engenharia biomédica e monografias. Outra referência importante centra-se nas reflexões teóricas sobre o trabalho realizado por mulheres na área da saúde e de cuidados medicais e de sua marginalização. O trabalho do cuidado especialmente junto a uma UTI neonatal é extremamente exigente e delicado, considerando a fragilidade do paciente. E no Brasil as análises sobre o trabalho do cuidado pode ser considerados recentes e menos frequentes, segundo referências bibliográficas acessadas (CABANES, 2009; GEORGES, 2008). No que diz respeito a esta área de estudo em particular, alguns autores como os citados, defendem que as políticas públicas “do cuidado” constituem uma das dimensões que contribuem para a definição do “público” e do “privado”, mas também refletem a mudança das “normas societais” em termos de práticas nesses espaços. Para Hirata e Guimarães (2012), que discorrem sobre o conceito do cuidado enquanto solicitude, atenção ao outro, portanto para as autoras pressupõe “cuidar do outro, preocupar-se, estar atento às suas necessidades, todos esses diferentes significados, relacionados tanto à atitude quanto à ação” (HIRATA, GUIMARÃES, 2012, p.1). O trabalho do cuidado vem se complexificando e se tornando cada vez mais exigente por conta das “vulnerabilidades e as necessidades, bem como a demanda de trabalho físico, emocional e de saber fazer estão com ele imbricadas e se tornam mais complexas” (TAMANINI et al. (Org.) 2018, p. 7). O tema do cuidado evidencia uma rede não só de muita produção teórica, mas também de exigência a respeito das necessidades frente aos desafios de estabelecer parâmetros, que segundo Tamanini possam ser flexíveis e abarcadores dos múltiplos contextos com exigências do trabalho do cuidado. O campo da saúde é extremamente complexo e desafiador, onde a utilização de novas tecnologias tem se demonstrado eficientes e de utilização crescente, mas que convivem de outro lado com certa precariedade de recursos e atendimentos especialmente em setores públicos. Santos (2012) defende que os Programas de Saúde (PSF) do governo federal (setor de saúde) e Programas de Saúde nos estados e municípios,podem apresentar tensões e ambiguidades relativas à gestão da questão social e do lugar das mulheres, como mostra o Programa Ação Família (PAF) do município de São Paulo (Setor da Assistência). Os avanços tecnológicos promoveram maior suporte aos doentes, assim como o desenvolvimento de novos medicamentos e de conhecimentos específicos à humanização. No estudo realizado, constata-se que profissionais na área da saúde tem produzido em termos de pesquisa e ou iniciativas para adaptar o ambiente das UTI Neonatais em lugares mais humanizados para o cuidado dos frágeis pacientes e no atendimento a seus familiares, exemplo disso, são novos módulos de pós graduação especializados em humanização e cuidado que estão sendo implementados em Universidades. No que diz respeito ao cuidado algumas medidas tomadas muitas vezes são simples como, por exemplo, um relógio na parede para melhorar a orientação dos acompanhantes, chamar a família pelo nome e não pelo número do leito, diminuição dos ruídos e até explicar e descrever os equipamentos médicos hospitalares com a finalidade de diminuir o receio dos membros da família de interagir com o paciente. O encontro envolvendo a equipe de assistência médica e ser cuidado deve funcionar como uma forma de construir uma prática do cuidar que seja capaz de conciliar a melhor tecnologia disponível com promoção de acolhimento, vínculo e responsabilização. No caso de óbito, o amparo à família é ofertado por meio de uma psicóloga e da equipe médica do hospital. O preparo do corpo e a entrega dos documentos e pertences são de responsabilidade e cuidados da equipe de enfermagem, em geral, mulheres como no caso da UTI estudada. E no caso da atenção ao recém-nascido há várias iniciativas. O Método Canguru é um modelo de assistência perinatal voltado para a melhoria da qualidade do cuidado, desenvolvido em três etapas conforme Portaria GM/MS nº 1.683, de 12 de julho de 2007 que: parte dos princípios da atenção humanizada; reduz o tempo de separação entre mãe e recém-nascido e favorece o vínculo; permite um controle térmico adequado; contribui para a redução do risco de infecção hospitalar; reduz o estresse e a dor do recém-nascido; aumenta as taxas de aleitamento materno; melhora a qualidade do desenvolvimento neurocomportamental e psico-afetivo do recém-nascido; propicia um melhor relacionamento da família com a equipe de saúde; possibilita maior competência e confiança dos pais no cuidado do seu filho inclusive após a alta hospitalar; reduz o número de reinternações; e contribui para a otimização dos leitos de Unidades de Terapia Intensiva e de Cuidados Intermediários Neonatais. (BRASIL, 2017). A sobrevivência destes bebês impõe um desafio quase que intransponível: a missão de devolver às famílias e à sociedade uma criança capaz de desenvolver de maneira plena o seu potencial afetivo, cognitivo e produtivo. A imprecisão sobre até onde os esforços dos neonatologistas podem e devem se concentrar para manter a vida desses pequenos pacientes é um dos terrenos escorregadios mais difíceis para se tomarem as decisões corretas. Do ponto de vista ético, cada serviço deve ter o seu limite de viabilidade (cada serviço tem que conhecer a sua capacidade de manter um RN naquelas condições com Comissão Permanente de Protocolos de Atenção à Saúde da SES-DF - CPPAS Página 2 qualidade de vida). Eticamente é muito mais importante dar uma vida digna do que simplesmente salvar a vida. Portanto, é importante que se estabeleça limite para cada serviço de acordo com a literatura internacional a idade gestacional e o peso de nascimento abaixo dos quais os bebês são muito imaturos e a oferta de tratamento intensivo não é razoável parece ser < 23 semanas e < 500g, respectivamente (praticamente nenhuma chance para a sobrevivência intacta; sem alterações nos últimos 10-15 anos). (BRASIL, 2018.) São vários os desafios postos no tocante a temática escolhida para o estudo, especialmente no que diz respeito às tecnologias e questões de gênero e cuidado em vista da possibilidade de se viver mais e melhor e com uma qualidade cada vez melhor, como defende Gadelha (2019). E é neste sentido que o tema tem profunda relevância especialmente em nossa sociedade contemporânea que no momento enfrenta uma profunda pandemia produzida pelo COVID-19 tornando irrefutável a necessidade de políticas tecnológicas e de cuidado, exercido em sua maioria por mulheres, mas muitas vezes pouco visibilizado ou valorado (HIRATA, GUIMARÃES, 2012). E nessa perspectiva há importantes análises que possam produzir novas portas para a produção científica aprofundando o debate teórico sobre a relação tecnologia e cuidado e os possíveis e marcantes dualismos. 2. OBJETIVOS Contribuir para fomentar o debate sobre temas da atualidade que envolve a vida humana frente às novas tecnologias utilizadas na área da saúde, que vem transformando as relações socioculturais de nosso tempo. 2.1 Objetivos específicos Discutir filosoficamente temas emergentes na área da saúde diante de grandes descobertas científicas. E destacar as principais representações de gênero na área da saúde. 3. REVISÃO DE LITERATURA Com base no interesse investigativo que abrange duas categorias centrais nas conjunturas educacionais contemporâneas, a saber: gênero e cuidado, ambas com incidência no campo da saúde que se configura enquanto uma importante área para reflexão, especialmente sobre a necessidade de aprofundamento e desenvolvimento de propostas sobre a organização social, cultural, e as relações entre vida e finitude, que nos coloca diante da inegável fragilidade humana. A etimologia da palavra “investigação” vem do verbo latino Vestígio, que significa “seguir as pisadas”, segundo, reflexão de Gamboa (2012, p. 27), referência pela pensar o caminho metodológico/epistemológico. Investigar, portanto, é buscar algo a partir de vestígios, que podem aparecer de diferentes formas, sujeitas a um trabalho de reelaboração e reinterpretação de um conjunto de fenômenos que todos nós experenciamos. (Berger. 2009). A introdução do trabalho de cuidado (care work) fundamental para a existência humana e que segundo Hirata e Guimarães (2012) é uma atividade profissional em plena expansão na economia de serviços em escala internacional. Tradicionalmente o trabalho do cuidado, tem sido confiado, delegado às mulheres, mesmo nas atividades profissionais, como na área da saúde, campo vital e uma das grandes prioridades da população, portanto, relaciona-se diretamente com as questões de gênero, pois, o trabalho do cuidado na área de saúde, tem grande participação de mulheres, ou seja, o cuidado ainda continua sendo função de mulher. É, portanto, histórico e moral, com papéis sexuais definido com maior rigor normativo e explicativo. (HIRATA, 2009). Na UTI do hospital analisado e segundo os dados disponibilizados durante os dois anos de investigação científica para a elaboração do presente trabalho, registra-se na UTI neonatal o trabalho de 09 enfermeiras e 46 técnicas de enfermagem distribuídas em quatro plantões. A cada plantão soma-se o auxílio de uma profissional do setor de higienização, totalizando 04 funcionárias. Conta também com 03 fisioterapeutas, 01 psicóloga e 02 no setor administrativo que atuam no período matutino. No corpo clínico dos neonatologistas, com plantões de 6h e 12h alternados em rodízio, efetuado por 16 médicas e 01 único médico. Esses dados representam que do total de colaboradores que atuam na UTI neonatal são 81 funcionárias do sexo feminino e 01 funcionário do sexo masculino. Ou seja, evidenciam que 98,7% dos funcionários que trabalham diretamente com o cuidado e o auxílio do cuidado ao prematuro são mulheres. Está é uma dimensão importante do trabalho do cuidado, pois embora diga respeito a toda a sociedade, tem sido efetuado principalmentepelas mulheres, dentro de uma lógica que tem se mantido historicamente que é a de uma divisão sexual do trabalho, tanto no interior da família, quanto nas instituições de hospitalares e demais centros de atendimentos na área da saúde, que contam com profissionais que tem auxiliado as pessoas, contribuído muito para um cuidado especializado, especialmente no atendimento aos bebês. São cuidados que conjuga avanços tecnológicos e a intervenção de profissionais que atuam nos mais variados graus de complexidade. Mas há de se considerar que há uma diferença de padrão e de status entre o trabalho de cuidado. Há o cuidado remunerado, o cuidado profissional e o trabalho do cuidado doméstico não remunerado desempenhado, executado especialmente por mulheres. A área da saúde é um campo que se constitui em um universo considerado “feminizado”, e permanece oculta uma desigualdade de papéis e vantagens, que mantém as mulheres em uma condição de desfavorescimento, em uma dimensão fundamental para a sobrevivência humana: o cuidado. Pesquisadoras da área de gênero como Hirata (2009) têm insistido na importância do trabalho do cuidado, enquanto solicitude, atenção ao outro, enquanto uma atitude e disposição moral, desempenhado pelas mulheres, mas que começa a ganhar cada vez mais um status profissional. No destaque sobre gênero definido enquanto um método de análise, contextual, relacional e histórico pela grande referência na área, a pesquisadora Joan Scott (1990), portanto, segundo a autora, com o conceito que gênero pode-se falar das relações entre mulheres e mulheres, mulheres e homens, homens e homens, entre outras possibilidades de relações de gênero, fora do campo heteronormativo. E quanto ao tema cuidado em cena (TAMANINI et al. 2018), como é o caso do campo da saúde a autora defende que diante dele, os desafios teóricos e práticos do trabalho do cuidado e fundamental para a existência humana. E conhecer por meio da realização de uma pesquisa documental temas que contemplem a dinâmica profissional dos (as) profissionais da área da saúde, com especial atenção ao trabalho do cuidado (care work), “as emoções do care” as emoções do cuidado que é um serviço-cuidado que estabelece uma interação entre cuidador (a), o (a) beneficiário (a) do cuidado e os familiares destes (as), ou seja, a percepção de profissionais da área no cuidado com bebes em tratamento intensivo, bem como dos pais e mães desses bebes em situação de risco, frente a evidente fragilidade humana. Busca-se compreender como se estabelece a interação nesses momentos de grande tensão os elementos que diz respeito ao econômico, à cultura, e especialmente a religiosidade ou religião, que desempenha um papel importante em momentos de grande dificuldade, facilitando ou interferindo em processos de recuperado e de aceitação de uma determinada circunstância contingente. A UTI - Unidade de Terapia Intensiva - Neonatal se configura como um ambiente tecnológico onde os avanços e a intervenção profissional, nos mais diferenciados graus de complexidade, voltam-se principalmente para a recuperação do bebê. Frequentemente, o foco principal de atenção que deveria ser o bebê e sua família, com todas as suas potencialidades, é desviado para a maquinaria ao seu redor e sua condição ou doença. Nesse ambiente de urgência e imediatismo, tão dominado pela especialização, muitas vezes a equipe está voltada para dominar e manipular as tecnologias. Assim, o desafio premente é perceber a tecnologia de ponta em sua verdadeira dimensão no processo de cuidado, isto é, de meio que nos pode auxiliar na atenção à saúde e ao bem-estar da criança, o sujeito primeiro de dedicação e cuidado, conforme discussão apresentada por Da Silva et al. ( 2008). Nesse ambiente, torna-se necessário estabelecer alguns paralelos entre as concepções de saúde e de doença, e suas influências em nosso modelo de agir e pensar nos espaços da assistência, caracterizados pelos sujeitos do cuidado neonatal. A dicotomia presente entre esses termos não é advinda unicamente do contato com o conhecimento formal e científico, mas também do sistema pessoal e familiar de valores, da cultura e sociedade, da própria história de vida, bem como das trocas e experiências adquiridas nas relações diárias que os indivíduos estabelecem com os demais e com o mundo (DA SILVA et.al 2008). Além da tecnologia em seu sentido estrito, relacionado com desenvolvimento científico apurado em áreas como a da engenharia no ambiente da UTI Neonatal, de acordo com Da Silva (2008), desenvolve-se também a chamada “tecnologia relacional”, que propõe o acolhimento da unidade família-bebê, valorizando as vivências e necessidades primordiais de afetividade e compreensão. O Brasil possui vários fatores que atrasam o desenvolvimento do cuidado ao recém-nascido prematuro e crianças com baixo peso ao nascer, o índice de mortalidade nesses serviços ainda são altos e estão relacionados a um acompanhamento gestacional deficiente que muitas vezes ocorre devido a má condições sociais, econômicas e infecções. Comparado às últimas décadas pode se dizer que a melhora gradual nos índices com a redução da mortalidade infantil está relacionada com a utilização em larga escala do corticoide para a gestante em trabalho de parto prematuro, ao uso de surfactante e aos modernos métodos de ventilação mecânica que melhoraram muito a sobrevida dos RN. Verificou, no estado de São Paulo, que o aumento no número de visitas no pré-natal esteve relacionado diretamente com a redução de RN com retardo do crescimento intrauterino, prematuridade, nascimento de RN de baixo peso e mortes neonatais. (KILSZTAJN et al. 2003). O Ministério da Saúde define a tecnologia em saúde como “conjunto de equipamentos, de medicamentos, de insumos e de procedimentos utilizados na prestação de serviços de saúde, bem como das técnicas de infraestrutura desses serviços e de sua organização”, (BRASIL, 2010). Em cada UTI Neonatal faz o levantamento dos dados da necessidade de cada equipamento baseando-se em consultas de manuais e em diálogos com profissionais relacionados aos estabelecimentos de saúde, e para a seleção dos equipamentos é considerado o nível de utilização e a importância para o setor. Entre esses equipamentos os mais comuns são: incubadora; monitor; ventilador pulmonar; aspirador cirúrgico; fototerapia e bomba de infusão. Essa tecnologia é aplicada para prevenção, diagnóstico e tratamento de enfermidades, e também para a reabilitação das consequências causadas pelas doenças. Sendo assim, reside em um meio de atender as necessidades de saúde, beneficiando os aspectos clínicos, operacionais e financeiros. Nos últimos anos, o desenvolvimento de tecnologia voltada para a área da saúde teve um grande e importante avanço para a sociedade. Essa evolução tornou- se necessária, tanto para a melhoria nos cuidados com os pacientes, quanto para o crescimento na qualidade dos serviços de saúde. Segundo afirmação do Dr. Guilherme Sant’Anna na sua palestra sobre prematuridade extrema para o Instituto Fiocruz1, são considerados prematuros extremos RNs menores de 28 semanas e com menos de 1250g. A taxa de mortalidade nessa faixa tem diminuído desde o ano de 2005. O sucesso desse cuidado se dá devido uma equipe multidisciplinar que dão espaço a médicos, enfermeiros, técnicas de enfermagem, fisioterapeutas, psicólogos e assistentes sociais. Além do aperfeiçoamento dos equipamentos hospitalares e investimentos em prematuros extremos de 23-24 semanas. O neonatologista acredita que investindo em prematuros extremos o cuidado com os prematuros pré-termos melhora. Esses dados são refletidos na taxa de sobrevida que mostram estatisticamente uma melhora de 75% no período de 2005 a 2014. Em investigações de acidentes com EMHs (equipamentos médicos hospitalares), especialmenteaqueles que lidam com administração de medicamentos ou com terapia ventilatória, encontram-se casos em que os equipamentos estão funcionando inadequadamente. E isso pode acarretar em erros durante o funcionamento do aparelho, podendo comprometer a segurança do mesmo ou do paciente (ANVISA, 2004a). A precisão da calibração dos aparelhos hospitalares é importante, pois, quanto menor a idade gestacional desses RNs maior são as complicações enfrentadas para a adaptação do organismo fora do ventre materno. Entre os principais equipamentos utilizados na UTI neonatal estão os ventiladores mecânicos, pois, é a sua exatidão na pressão positiva contínua e oscilatória que facilita o tratamento de distress, um desconforto respiratório, em recém-nascidos. O seu uso envolve uma monitorização contínua e um protocolo. Para aumentar a eficiência desses dispositivos contamos com a ajuda das fisioterapeutas para a instalação do aparelho no recém-nascido, esse cuidado requer uma atenção especial para o tamanho e fixação da pronga e a desobstrução das vias aéreas. 1 Link palestra Dr. Guilherme Sant’Anna. Acesso em: https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-recem- nascido/jornada-cientifica-da-area-de-atencao-ao-recem-nascido-iff-fiocruz-garantindo-boas-praticas-no- cuidado-neonatal/ . https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-recem-nascido/jornada-cientifica-da-area-de-atencao-ao-recem-nascido-iff-fiocruz-garantindo-boas-praticas-no-cuidado-neonatal/ https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-recem-nascido/jornada-cientifica-da-area-de-atencao-ao-recem-nascido-iff-fiocruz-garantindo-boas-praticas-no-cuidado-neonatal/ https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/atencao-recem-nascido/jornada-cientifica-da-area-de-atencao-ao-recem-nascido-iff-fiocruz-garantindo-boas-praticas-no-cuidado-neonatal/ Uma das opções, o CPAP (Continuous Positive Airway Pressure - Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas), é uma ventilação nasal não invasiva utilizada desde a década de 60 e que quando utilizado corretamente e com eficiência, evita com que 70% dos RN pré-termos sejam intubados. A intubação é considerada uma ventilação mecânica invasiva e segundo a rede brasileira de pesquisas neonatais, em 2017 a taxa de recém- nascidos com menos de 1500g que utilizavam VMI era de 66.7%. A utilização prioritária do CPAP nasal desde a sala de parto tem evitado a intubação desnecessária e as complicações advindas desta prática. As complicações das vias aéreas secundárias à intubação endotraqueal são frequentes, embora tenham diminuído significativamente nos últimos anos. Muitas ocorrem com sintomas leves e de curta duração. Entretanto, em muitos casos as lesões são graves e permanentes, envolvendo as estruturas da laringe e da traqueia, e exigem correção cirúrgica. BRASIL, 2015. Existem muitas modalidades de CPAP’s e entre elas o BIPAP que possui duas pressões e é utilizado para pacientes com traqueostomia e o BUBBLE, muito utilizado em prematuros, que funciona a partir de uma coluna de água com bolhas. O borbulhamento do ar na coluna de água gera uma oscilação da pressão que está sendo administrada na tentativa de assegurar níveis de pressão mais estáveis. 4. MATERIAIS E MÉTODO Destaca-se que o projeto foi inicial foi alterado por conta da ausência do termo de aprovação da Comissão de ética, o que exigiu uma alteração metodológica, pois, optou-se por fazer a pesquisa a partir de uma revisão bibliográfica sobre os temas propostos: tecnologia, gênero e cuidado. Considerando que a estudante do Curso de Engenharia Biomédica, exerce atividade profissional no hospital onde seria realizada a pesquisa, na metodologia incorporou-se a técnica da observação, prevista na pesquisa participante. Segundo Haguette (2002) e Marconi e Lakatos (1982), trata-se de uma técnica onde o pesquisador ou pesquisadora se incorpora ao grupo pesquisado, podendo vez ou outra, segundo os autores referenciados, participar até de algumas atividades da rotina do grupo como forma do pesquisador vivenciar a dinâmica do grupo observado. A pesquisa participante centrou-se na observação dos registros realizados pelas profissionais de saúde em sua maioria, mulheres em uma UTI Neonatal de um hospital particular, de Curitiba. Tal condição facilitou o acesso aos registros de internamentos e a rotina de cuidados das profissionais. O acompanhamento dos registros de internações nas UTI Neonatal se deu em um período de dois anos, ou seja, ao longo de 2018 e 2019. Buscou-se conhecer possíveis evoluções e avanços no cuidado e humanização da tecnologia para com os prematuros, e no combate á mortalidade. As pesquisas na área demonstraram que é imprescindível um conhecimento científico e uma habilidade técnica para o controle das funções vitais desses recém- nascidos de risco, as associações dessas práticas pretendem garantir uma maior probabilidade de sobrevivência a esses RNs graves. Por isso é importante o acompanhamento da atualização tecnológica e terapêutica na área hospitalar. Grande parte da pesquisa na área de assistência ao prematuro e de equipamentos intensivistas está baseada nos estudos do Dr. Guilherme Sant´Ann, pediatra especialista em neonatologia. A estrutura tecnológica está sendo baseada em pesquisas já realizadas na área da engenharia biomédica e monografias. Nos registros que foram disponibilizados para a estudante, e cujas tabelas podem ser apreciadas no presente estudo. A pesquisa buscou a partir do referencial teórico propiciar uma visão ampliada sobre gênero, cuidado e tecnologia em uma UTI Neonatal, para tanto inicialmente realizou-se uma pesquisa bibliográfica sobre a literatura na área, contemplando revistas científicas, artigos acadêmicos, informações disponibilizadas em portais científicos, que pudessem fornecer aspectos teóricos e práticos que contribuíssem na análise. Dentre os materiais pesquisados, destacamos: Tamanini (2018) e Hirata e Guimarães (2012) que discorrem sobre o conceito do cuidado. Scott (1995) que discorre sobre a perspectiva analítica de gênero, que é conceituado enquanto método de análise, relacional, contextual e histórico, Coelho (2004), Barros (1993), ANVISA. (2004 a.), Scott (1990), Portal da Fundação Osvaldo Cruz - FioCruz (2019) entre outras fontes de dados, com a pretensão de ampliar a compreensão do campo tecnologia e saúde. A metodologia incorporou a técnica da observação, prevista na pesquisa participante. Segundo Haguette (2002) e Marconi e Lakatos (1982), trata-se de uma técnica onde o pesquisador ou pesquisadora se incorpora ao grupo pesquisado, podendo vez ou outra, segundo os autores referenciados, participar até de algumas atividades da rotina do grupo como forma do pesquisador vivenciar a dinâmica do grupo observado. 5. DISCUSSÃO Ao longo de dois anos foi acompanhada a quantidade de internamentos em um hospital particular de Curitiba e o percentual desses internamentos que entravam na UTI neonatal. A partir desses dados sobre os bebês internados foram criadas categorias para melhor expressar a qualidade do cuidado neonatal. No estudo realizado, analisou-se 332 registros de internações realizadas no ano de 2018. Foram 159 bebês do sexo feminino e 173 do sexo masculino, apresentados na tabela 1. No balanço de um ano registrou-se que das 332 internações, 255 receberam alta e voltaram para suas respectivas moradias. E 65 bebês foram transferidos para outras unidades de tratamento. Registrou-se 14 óbitos, ou seja, 4.2% do total de internamentos na UTI neonatal, o que demonstra um alto nível de recuperação. Os dados analisados estão disponibilizados na Tabela 1. Tabela 1: Tabela de internamentos 2018. Fonte: A autora (2019) Na definição de estratégias de controle da mortalidade infantil, o conhecimento da contribuiçãorelativa do grupo de recém-nascidos por faixas de peso revela-se de fundamental importância, conforme tabela 2. Tabela 2: Tabela de internamentos 2019. Fonte: A autora (2019) A incidência de recém-nascidos de muito baixo peso (RNPTE, menores de 1.500 g) está relacionada às condições ante natais da saúde materna e da qualidade da atenção recebida durante a assistência pré-natal. Por outro lado, sua mortalidade específica resulta fundamentalmente dos cuidados neonatais imediatos na sala de parto e em unidades de terapia intensiva (UTI) (Pediatrics. 1998;102:893-9). No ano de 2019 os dados analisados revelaram que dos 302 internamentos da UTI neonatal, 136 eram bebês do sexo feminino, 167 do sexo masculino e 1 classificado como indefinido devido à malformações e síndromes genéticas, posteriormente definido como sexo masculino devido exame de cariótipo. Do total de 302 internações, 228 foram altas hospitalares, 63 foram transferências para outros hospitais para continuação do cuidado e 13 foram óbitos. A taxa de óbitos permaneceu constante nos anos em que foram analisados os internamentos, o valor de 4,2% nos dois anos foi inferior à média nacional e a média do estado do Paraná referente aos anos de 2000 e 2015 (Tabela 3). Tabela 3: Taxa de mortalidade neonatal. Fonte: Ministério da Saúde (2015). Nos dados registra-se que a prematuridade extrema e o baixo peso foram responsáveis por 85,7% dos óbitos de 2018 e 92,3% dos óbitos ocorridos em 2019, referentes aos 634 internamentos analisados nos dois anos. A taxa de permanência média dos RNs que foram a óbitos na UTI neonatal no ano de 2018 é de 8,64% (Tabela 4), já no ano de 2019 é de 6,61% dias de vida (Tabela 5). Tabela 4: Tabela de óbitos 2018. Fonte: A autora (2019) Tabela 5: óbitos 2019. Fonte: A autora (2019) Com base nos dados analisados, fica ressaltada a importância de equipamentos médicos hospitalares cada vez mais especializados e precisos para a manutenção da vida e do cuidado neonatal. A tecnologia aliada à saúde é o campo de atuação da engenharia biomédica e ganha cada vez mais espaço nos hospitais brasileiros pela necessidade de aperfeiçoamento da humanização do cuidado em ambientes altamente tecnológicos como uma UTI. No mundo, a engenharia biomédica é vista como necessária para a manutenção da vida e cada vez mais seus profissionais são requisitados para os ambientes hospitalares. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os avanços tecnológicos promoveram maior suporte diante da condição de fragilidade e finitude humana. Atua eficazmente junto aos doentes em geral, especialmente com relação aos recém-nascidos em uma UTI, assim como o desenvolvimento de novos medicamentos e de conhecimentos específicos à humanização. Profissionais na área da saúde muito têm produzido em termos de pesquisa para adaptar o ambiente das UTI Neonatais em lugares mais humanizados para o cuidado dos frágeis pacientes e no atendimento a seus familiares. Algumas medidas tomadas muitas vezes são simples como, por exemplo, um relógio na parede para melhorar a orientação dos acompanhantes, chamar a família pelo nome e não pelo número do leito, diminuição dos ruídos e até explicar e descrever os equipamentos médicos hospitalares com a finalidade de diminuir o receio dos membros da família de interagir com o paciente. O encontro envolvendo a equipe de assistência médica e recém-nascido deve funcionar como uma forma de construir uma prática do cuidar que seja capaz de conciliar a melhor tecnologia disponível com promoção de acolhimento, vínculo e responsabilização. No caso de óbito, o amparo à família é ofertado por meio de uma psicóloga e da equipe médica do hospital. O preparo do corpo e a entrega dos documentos e pertences são de responsabilidade da equipe de enfermagem. E neste momento o cuidado, que possa transmitir compreensão e solidariedade em um estado de dor profunda, faz toda a diferença em um atendimento verdadeiramente humanizado. A área de saúde registrou historicamente forte presença feminina. O gênero da saúde, ainda permanece feminino. E nesta área a exigência é o permanente exercício do cuidado. Mulheres em geral são especialistas no trabalho do cuidado, especialmente das suas crianças e de outras crianças quando o trabalho do cuidado é profissional, no sentido de vínculo empregatício. E são elas que manuseiam com primor e cuidado os vários aparelhos tecnológicos, evidenciando que mulheres e tecnologia não é uma combinação indissociável. O importante nesta conjugação colaborativa entre o humano e o tecnológico e que pode ser cada vez mais estreita e azeitada entre a tecnologia, gênero é cuidado em uma perspectiva de crescente humanização. Nas palavras de Gadelha (2019), é preciso estar consciente que “tecnologia e inovação estão ai para servir as pessoas e não se servir das pessoas”. REFERÊNCIAS BERGER, Guy. A investigação em educação: modelos sócio epistemológicos e inserção institucional. Educação, Sociedade e Cultura, nº 28, 2009, 175-192. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. 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