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LITERATURA LITERATURA O poema MÓDULO I Aula IV grupo: novaescolaBrasil NovaescolaBrasil - © 2000-2015. Todos os direitos reservados. 2 Lit er at ur a Aula 4 – O poema O poema Introdução A composiçao poética é de natureza essencialmente solitária, onde o poeta tenta exterio- rizar os seus sentimentos mais íntimos eternizando em preto e branco os seus pensamentos sobre diversos setores da vida cotidiana. Na poesia as palavras são cuidadosamente estudadas, escolhidas e arrumadas de uma for- ma, de maneira a soarem bem ao ouvido humano, de maneira a carregarem no seu bojo uma certa mensagem, de maneira a despertarem no leitor espectativas contidas e libertarem von- tades veladas e desejos contidos que, por vias normais, nao tiveram oportunidade de serem vinculados. Conteúdo O poema é um gênero textual que ao longo dos séculos vem assumindo novas estruturas e modelos estéticos. Inicialmente, pode-se afirmar que ele não é constituído apenas de ideias e sentimentos, mas também abrange o emprego do verso e seus recursos musicais – como a sonoridade, o ritmo das palavras, a rima, as figuras de linguagem, dentre outros. Ainda assim, é impossível definir com precisão todos os elementos obrigatórios a um poe- ma, sobretudo porque cada período literário o concebe de maneira específica, cada qual defi- nindo os contornos estéticos que mais se adequam à sua estrutura. Neste sentido, cada período literário pressupõe sua própria concepção sobre o poema. Du- rante o Renascimento, por exemplo, os poemas assumiram como forma principal o soneto, um tipo de composição poética de 14 versos, divididos em 2 quartetos (estrofes de 4 versos) e 2 tercetos (estrofes de 3 versos). Já no Romantismo, os versos eram compostos de rimas menos clássicas, contendo temas que variavam entre o amor idealizado, a pátria, a melancolia. Tam- bém no modernismo, uma nova configuração para os poemas era estabelecida: os versos per- deram a obrigatoriedade das rimas, pressupondo uma ruptura formal drástica com os modelos de outrora. Devemos notar que há na poesia, textos tidos como mais elaborados e textos menos ela- borados. Leia os poemas A carne é fraca, da dupla Jorge e Mateus, e Santa chuva, de Marcelo Camelo, as duas obras, que são letras de músicas, tratam de um amor que não deu certo e do fim de relacionamentos. Observe a diferença quanto ao cuidado na elaboração e quanto à ma- neira com que os sentimentos são tratados. 3 MÓDULO I – Literatura A carne é fraca Jorge e Mateus Toda noite saio com os amigos, Saio pra balada, tento te encontrar Coração então viaja longe, E num segundo volto e começo a pensar Coração logo acelera Quando penso em você Toda noite eu bebo todas E não consigo te esquecer! A carne é fraca, o coração é vagabundo, Mesmo assim eu ainda bebo, E não te esqueço, e não te esqueço. Toda noite saio com os amigos, Saio pra balada, tento te encontrar Coração então viaja longe, E no segundo copo começo a pensar Coração logo acelera Quando penso em você Toda noite eu bebo todas E não consigo te esquecer! A carne é fraca, o coração é vagabundo Mesmo assim eu ainda bebo. E não te esqueço, e não te esqueço Santa chuva Marcelo Camelo Vai chover de novo, deu na tv que o povo já se cansou de tanto o céu desabar, E pede a um santo daqui que reza a ajuda de Deus, mas nada pode fazer se a chuva quer é trazer você pra mim, Vem cá que tá me dando uma vontade de chorar, Não faz assim, não vá pra lá, meu coração vai se entregar à tempestade Quem é você pra me chamar aqui se nada aconteceu? Me diz, foi só amor ou medo de ficar sozinho outra vez? Cadê aquela outra mulher? Você me parecia tão bem, A chuva já passou por aqui, eu mesma que cuidei de secar, 4 Lit er at ur a Aula 4 – O poema Quem foi que te ensinou a rezar? Que santo vai brigar por você? Que povo aprova o que você fez? Devolve aquela minha tv que eu vou de vez, Não há porque chorar por um amor que já morreu, Deixa pra lá, eu vou, adeus. Meu coração já se cansou de falsidade Mesmo depois de perceber cada “tipo” de poema – menos e mais trabalhados –, é necessá- rio compreender os principais elementos e recursos literários a partir dos quais as várias épocas reconhecem a forma poema. Verso e estrofe • Verso é cada linha de um poema, ou seja, uma sucessão de sílabas que formam uma uni- dade rítmica e melódica. • Estrofe é um agrupamento de versos que dão forma a um poema. Observe o que é verso e o que é estrofe neste soneto da poetiza brasileira Hilda Hilst: Roteiro do silêncio Aflição de ser eu e não ser outra. VERSO Aflição de não ser, amor, aquela Que muitas filhas te deu, casou donzela E à noite se prepara e se adivinha Objeto de amor, atenta e bela. Aflição de não ser a grande ilha Que te retém e não te desespera. (A noite como fera se avizinha.) Aflição de ser água em meio à terra VERSO E ter a face conturbada e móvel. E a um só tempo múltipla e imóvel Não saber se se ausenta ou se te espera. Aflição de te amar, se te comove. E sendo água, amor, querer ser terra. Tanto os versos como as estrofes recebem denominações específicas, que variam conforme a quantidade. Para medir a quantidade de sílabas poéticas em um verso é utilizada a metrificação ou es- cansão, e conforme o número de sílabas poéticas o verso é denominado de: monossílabo, uma } ESTROFE } ESTROFE 5 MÓDULO I – Literatura sílaba poética; dissílabo, duas sílabas; trissílabo, três sílabas; tetrassílabo, quatro sílabas; pentas- sílabo (ou redondilha menor), cinco sílabas; hexassílabo, seis sílabas; heptassílabo (ou redon- dilha maior), sete sílabas; octossílabo, oito sílabas; eneassílabo, nova sílabas; decassílabo, dez sílabas; hendecassílabo, onze sílabas; dodecassílabo (ou alexandrino), doze sílabas, e bárbaros, com mais de doze sílabas poéticas. Por sua vez, para medir a quantidade de versos em uma estrofe é utilizada a estrofação. De acordo com o número de versos, uma estrofe pode ser: monóstica, estrofe de um verso; dísitica, de dois versos; terceto, de três versos; quadra (quarteto), quatro versos; quintilha; cinco versos; sextilha, seis versos; seotilha, sete versos; oitava, oito versos; nona, nova versos; décima, dez versos numa estrofe. Ritmo Considerado por muitos como sendo a mística da palavra, o ritmo é uma alteração unifor- me de sílabas tônicas e não tônicas em cada verso de uma composição poética. O ritmo de um poema ainda tem muito a ver com a metrificação e a correspondência sonora provocada pela rima. Todo esse conjunto de elementos determina o ritmo da obra. No verso livre, por sua vez, a sonoridade rítmica obedece a um padrão próprio, não sendo governado por regras externas derivadas da alteração uniforme de sílabas tônicas ou de metri- ficação e rima, a essa modalidade dá-se o nome de arritmia. Resumindo, o ritmo de um poema é dado pela alternância de sílabas acentuadas e não acentuadas, ou seja, sílabas que apresentam maior ou menor intensidade quando pronuncia- das. Observe o ritmo dos versos seguintes, extraídos de uma composição de Chico Buarque: Você era a mais bonita Das cabrochas dessa ala Você era a favorita Onde eu era mestre-sala Hoje a gente nem se fala Mas a festa continu/a Suas noites são de gala Nosso samba ainda é na ru/a (...). Rima A rima é a semelhança sonora entre fonemas de diferentes palavras. Geralmente se localiza no final da palavra a partir de sua última sílaba tônica. A rima pode ser classificada quanto à posição no verso, à posição na estrofe e quanto ao seu valor. Vejamos, então, cada uma das classificações: A rima quanto à posição no verso: • Externa: quando a rima aparece ao final do verso. É o tipo mais comum de rima. 6 Lit er at ur a Aula 4 – O poema Sonhar mais um sonho impossível Lutar quando é fácil ceder Vencer o inimigo invencível Negar quando a regra é vender (Sonho Impossível – Chico Buarque) • Interna: quando a semelhança fonética aparece no interior do verso. Lembranças, que lembraismeu bem passado Para que sinta mais o mal presente Deixai-me se quereis viver contente Não me deixeis morrer neste estado (Lembranças, que lembrais meu bem passado – Luís Vaz de Camões) A rima quanto à posição na estrofe: • Cruzada ou alternada: o primeiro verso rima com o terceiro e o segundo com o quarto (ABAB). Minha desgraça não é ser poeta, A Nem na terra de amor não ter um eco, B E meu anjo de Deus, o meu planeta A Tratar-me como trata-se um boneco… B (Minha Desgraça, Álvares de Azevedo) • Interpolada ou intercalada: o primeiro verso rima com o quarto e o segundo com o ter- ceiro (ABBA). Eu, filho do carbono e do amoníaco, A Monstro de escuridão e rutilância, B Sofro, desde a epigênese da infância, B A influência má dos signos do zodíaco. A (Psicologia de um Vencido, Augusto dos Anjos) Observe que os versos 1 e 4 possuem rimas iguais (co), e o 2 e 3 também (cia). Por isso são classificadas como rimas interpoladas. • Emparelhada: o primeiro verso rima com o segundo e o terceiro com o quarto (AABB). Aos que me dão lugar no bonde A E que conheço não sei de onde, A Aos que me dizem terno adeus B Sem que lhes saiba os nomes seus B (...) (Obrigado, Carlos Drumond de Andrade) • Versos brancos ou soltos: são os que não têm rima. 7 MÓDULO I – Literatura A rosa com cirrose A anti-rosa atômica Sem cor sem perfume Sem rosa sem nada (Rosa de Hiroshima, Vinícius de Moraes) Quanto ao valor: • Pobres: Quando a rima acontece entre palavras da mesma classe gramatical. Existe (verbo) Teimoso (adjetivo) Aviste (verbo) Amoroso (adjetivo) • Ricas: Quando a rima acontece entre palavras de classes gramaticais diferentes. Espero (verbo) Vida (substantivo) Sincero (adjetivo) Querida (adjetivo) Métrica Métrica é a medida dos versos, ou seja, o número de sílabas poéticas que cada verso apre- senta. Para determiná-la, basta dividirmos o verso em sílabas. Mas ao fazermos esta escansão, não consideramos a divisão silábica gramatical e sim uma outra baseada na oralidade, consi- derando, portanto, a pronúncia e não a grafia das palavras. Assim, contam-se as sílabas até a última sílaba tônica do verso, por sobressair-se sonoramente em relação à(s) posterior(es) e quando a palavra termina em vogal e a seguinte à ela se inicia com uma vogal, juntamos as vogais em uma só sílaba poética. Observe os exemplos: Divisão silábica gramatical: O / me / lhor / de / tu / do / é / em / bar / car / mos / num / po / e / ma Divisão silábica poética: O / me / lhor / de / tu / do é / em / bar / car / mos / num / poe / ma 8 Lit er at ur a Aula 4 – O poema Glossário • Conceber: Criar, inventar: conceber um projeto. Representar pelo pensamento: não con- cebo como você se pode enganar. Representar, imaginar, entender, figurar. • Adequar: Acomodar, proporcionar, igualar (uma coisa a outra). • Pressupor: Supor previamente; conjeturar. • Configuração: Forma exterior; aspecto, figura, aparência: configuração de um terreno. Psicanálise Conjunto de fenômenos psíquicos que se apresentam como irredutíveis. • Informática: Grupo de máquinas, dispositivos e programas que constituem um sistema de processamento de dados conexos entre si e programados de forma que operem como tal sistema. • Ruptura: Ato ou efeito de romper; rompimento, interrupção. Quebra, fratura. Quebra de relações sociais; violação de contrato: ruptura diplomática. • Drástica: Enérgico, severo, rigoroso, radical. • Outrora: Antigamente. Resumindo... O poema é um gênero textual que, ao longo dos séculos, vem assumindo novas estru- turas e modelos estéticos. Principais elementos e recursos literários da forma poema: Verso é cada linha de um poema. Estrofe é um agrupamento de versos. Ritmo de um poema é dado pela alternância de sílabas acentuadas e não acentuadas. Rima é a semelhança sonora entre fonemas de diferentes palavras. Vejamos as classi- ficações: A rima quanto à posição no verso: externa e interna. A rima quanto à posição na estrofe: alternada, interpolada, emparelhada e há, ainda, os versos brancos. Quanto à sonoridade podem ser: perfeitas, imperfeitas. Quanto ao valor as rimas podem ser: pobres, ricas. Métrica: é a medida dos versos, ou seja, o número de sílabas poéticas que cada verso apresenta. 9 MÓDULO I – Literatura Exercícios resolvidos Muitos críticos taxam alguns poemas como fracos, pobres, de menos importância. Isso se deve ao fato dessas obras serem compostas com maior utilização: a) De rimas pobres. b) De pleonasmos viciosos. c) De uma linguagem coloquial, muitas das vezes com termos chulos e superficialida- de no trato dos sentimentos. d) De textos que representam a realidade. e) De uma linguagem padrão, muitas das vezes com termos mortos e superficialidade no trato dos sentimentos. O gênero lírico, na maioria das vezes, é expresso pela: a) Poesia. b) Jornal. c) Cinema. d) Show. e) Novela. Sociedade dos poetas mortos (1989) Em 1959, na Welton Academy, uma tradicional escola preparatória, um ex-aluno se torna o novo professor de literatura. Porém, ele propõe métodos de ensino que incen- tivam seus alunos a pensarem por si mesmos e apresenta aos alunos a Sociedade dos Poetas Mortos. Isto acaba criando um conflito entre os diretores que ainda pregam o método antigo e conservador. Aula de poesia, disponível em: <http://www.slideshare.net/aldeanams/aula- -poesia>. Referências bibliográficas CARA, Salete de Almeida. A poesia lírica. São Paulo: Ática, 1985. COELHO, Nelly Novais. Literatura e linguagem. São Paulo: Quíron, 1986. PAIXÃO, Fernando. O que é poesia. São Paulo: Brasiliense, 1982. 2 1 Vi e gostei
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