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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/235643380 Terapia Analítico-Comportamental Infantil: Relações entre o brincar e comportamentos da terapeuta e da criança Thesis · October 2006 CITATIONS 11 READS 8,898 1 author: Giovana Del Prette Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo 20 PUBLICATIONS 160 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Giovana Del Prette on 16 May 2014. The user has requested enhancement of the downloaded file. https://www.researchgate.net/publication/235643380_Terapia_Analitico-Comportamental_Infantil_Relacoes_entre_o_brincar_e_comportamentos_da_terapeuta_e_da_crianca?enrichId=rgreq-6ba3a7daff11466b2d7d1f3aef3c21a2-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzIzNTY0MzM4MDtBUzo5NzI1NTM0MDExODAxN0AxNDAwMTk4ODg4MTk4&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/publication/235643380_Terapia_Analitico-Comportamental_Infantil_Relacoes_entre_o_brincar_e_comportamentos_da_terapeuta_e_da_crianca?enrichId=rgreq-6ba3a7daff11466b2d7d1f3aef3c21a2-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzIzNTY0MzM4MDtBUzo5NzI1NTM0MDExODAxN0AxNDAwMTk4ODg4MTk4&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/?enrichId=rgreq-6ba3a7daff11466b2d7d1f3aef3c21a2-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzIzNTY0MzM4MDtBUzo5NzI1NTM0MDExODAxN0AxNDAwMTk4ODg4MTk4&el=1_x_1&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Giovana_Del_Prette?enrichId=rgreq-6ba3a7daff11466b2d7d1f3aef3c21a2-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzIzNTY0MzM4MDtBUzo5NzI1NTM0MDExODAxN0AxNDAwMTk4ODg4MTk4&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Giovana_Del_Prette?enrichId=rgreq-6ba3a7daff11466b2d7d1f3aef3c21a2-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzIzNTY0MzM4MDtBUzo5NzI1NTM0MDExODAxN0AxNDAwMTk4ODg4MTk4&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/Hospital_das_Clinicas_da_Faculdade_de_Medicina_da_Universidade_de_Sao_Paulo?enrichId=rgreq-6ba3a7daff11466b2d7d1f3aef3c21a2-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzIzNTY0MzM4MDtBUzo5NzI1NTM0MDExODAxN0AxNDAwMTk4ODg4MTk4&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Giovana_Del_Prette?enrichId=rgreq-6ba3a7daff11466b2d7d1f3aef3c21a2-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzIzNTY0MzM4MDtBUzo5NzI1NTM0MDExODAxN0AxNDAwMTk4ODg4MTk4&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Giovana_Del_Prette?enrichId=rgreq-6ba3a7daff11466b2d7d1f3aef3c21a2-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzIzNTY0MzM4MDtBUzo5NzI1NTM0MDExODAxN0AxNDAwMTk4ODg4MTk4&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf 1 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INSTITUTO DE PSICOLOGIA DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA CLÍNICA TERAPIA ANALÍTICO-COMPORTAMENTAL INFANTIL: RELAÇÕES ENTRE O BRINCAR E COMPORTAMENTOS DA TERAPEUTA E DA CRIANÇA Giovana Del Prette São Paulo. SP 2006 2 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INSTITUTO DE PSICOLOGIA DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA CLÍNICA TERAPIA ANALÍTICO-COMPORTAMENTAL INFANTIL: RELAÇÕES ENTRE O BRINCAR E COMPORTAMENTOS DA TERAPEUTA E DA CRIANÇA CHILD BEHAVIOR-ANALYTIC THERAPY: RELATIONS BETWEEN PLAYING, TERAPIST AND CHILD BEHAVIOR Giovana Del Prette Dissertação apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo como requisito final para obtenção do grau de Mestre em Psicologia Clínica. Orientadora: Profa. Dra. Sonia Beatriz Meyer São Paulo, SP 2006 3 AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE. Catalogação na publicação Serviço de Biblioteca e Documentação Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo Del Prette, Giovana. Terapia analítico-comportamental infantil: relações entre o brincar e comportamentos da terapeuta e da criança / Giovana Del Prette; orientadora Sonia Beatriz Meyer-- São Paulo, 2006. 248 p. Dissertação (Mestrado – Programa de Pós-Graduação em Psicologia. Área de Concentração: Psicologia Clínica) – Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. 1. Terapia comportamental 2. Psicoterapia da criança 3. Comportamento de brincar 4. Processos psicoterapêuticos 5. Metodologia I. Título. RC489.B4 4 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO INSTITUTO DE PSICOLOGIA DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA CLÍNICA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO: TERAPIA ANALÍTICO-COMPORTAMENTAL INFANTIL: RELAÇÕES ENTRE O BRINCAR E COMPORTAMENTOS DA TERAPEUTA E DA CRIANÇA Candidata: Giovana Del Prette Data da Defesa: ____/_____/_____ Resultado: ____________________ Banca Examinadora: _____________________________________________ Profa. Dra. Sonia Beatriz Meyer (USP), Orientadora. _____________________________________________ Profa. Dra. Emma Otta (USP), Membro. _____________________________________________ Prof. Dr. Roberto Alves Banaco (PUC), Membro. ii APOIO FINANCEIRO: CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO (CNPq) iii Dedico este trabalho a todos os terapeutas que atuam para tornar melhor a vida das crianças. ii AGRADECIMENTOS Ao longo de todo o Mestrado, aprendi muito mais do que eu podia imaginar. Foi um período de transformações na minha vida. Devo isso a pessoas especiais: Agradeço à querida Sonia, por ter acreditado na minha capacidade para enfrentar o desafio do Mestrado e ter “simplesmente” me iniciado na pesquisa em clínica e na terapia analítico- comportamental. Pelas aulas, reuniões, supervisões... pelo carinho e cuidado. Agradeço aos meus pais Almir e Zilda e ao meu irmão Lucas, que sempre estiveram ao meu lado, me dando muita força nos momentos em que eu estava me sentindo triste e sozinha em São Paulo. Sem vocês, este trabalho não teria passado de um sonho. Agradeço aos meus amigos de trabalho, Alessandra Villas Boas, Esther Ireno, Márcio Alleoni Marcos, Maria Amália M. Pereira, Michele Oliveira, Priscila Taccolla e Tatiana Araújo. Agradeço a todos que foram meus professores de Mestrado e de Especialização, pois com certeza contei com um time incrível: Sonia Meyer, Edwiges F. M. Silvares, Martha Hubner, Almir Del Prette, Zilda Del Prette, Cynthia Schuck Paim, Cássia R. C. Thomas, Denis R. Zamignani, Joana S. Vermes, Luiz Guilherme G. C. Guerra, Maly Delitti, Marcelo Benvenuti, Maria Amália P. A. Andery, Maria Luiza Guedes, Maria das Graças Oliveira, Miriam Marinotti, Nicolau K. Pergher, Nilza Micheletto, Regina C. Wielenska, Roberta Kovac, Roberto Alves Banaco, Tereza M. A. P. Sério e Yara Nico. Por fim, agradeço especialmente às crianças atendidas, “Mauro” e “Erik”, e às suas famílias. iii Del Prette, G. (2006). Terapia Analítico-Comportamental Infantil: Relações entre o brincar e comportamentos da terapeuta e da criança. Dissertação de Mestrado, Programa de pós- graduação em Psicologia Clínica, Universidade de São Paulo. RESUMO Na Terapia Analítico-Comportamental Infantil (TACI), o brincar em sessão é referido tanto como um modo de avaliação de repertório, como de ensino de comportamentos alternativos à criança. Os procedimentos utilizados no atendimento a crianças, incluindo o brincar, não estão ainda explicitamente descritos. Os sistemas encontrados na literatura para a categorização de terapia infantil são, muitas vezes, difíceis de operacionalizar ou pouco específicos às situações que envolvem brincadeiras. Este estudo divide-se em dois conjuntos de objetivos. No primeiro, buscou-se a identificação de um sistema de categorias adequado à análisede terapia infantil, sua testagem e adaptação. Em um segundo momento, objetivou-se aplicar este sistema de categorias para descrever as relações entre: (a) as diferentes formas de interações em função do brincar; (b) os comportamentos da terapeuta; (c) a qualidade da relação terapêutica e (d) os comportamentos de queixa e melhora da criança. Participaram da pesquisa uma terapeuta analítico-comportamental e dois clientes com problemas de comportamento predominantemente externalizantes, do sexo masculino, de oito e seis anos. Antes do início da terapia, os pais dos clientes assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e responderam ao Child Behavior Checklist (CBCL) de Achenbach (1991). Com base nas cinco primeiras sessões de um cliente nas três primeiras do outro, filmadas e transcritas, foram criadas seis Categorias do Brincar, denominadas de acordo com o tema das verbalizações e as ações correspondentes: (1) Brincadeira-Lúdico; (2) Fantasia-Lúdico; (3) Cotidiano-Lúdico; (4) Cotidiano Extra-Lúdico; (5) Brincadeira Não-Lúdico e (6) Não-Lúdico. O sistema de categorias de Zamignani (2006, em elaboração) foi escolhido, procedendo-se adaptações e elaboração de subcategorias, tanto para o terapeuta quanto o cliente. Foram encontradas associações entre algumas Categorias do Terapeuta e do Cliente, como por exemplo “Solicitação de Relato” produzindo “Relato” e “Recomendação” produzindo “Concordância” e “Oposição”. As subcategorias permitiram o refinamento dos resultados, destacando procedimentos comportamentais como Modelo, Extinção e Bloqueio de Esquiva, e comportamentos da terapeuta típicos de terapia infantil, como o Direcionamento, o Desafio, a Estruturação de Brincadeiras e a Narrativa de Jogos. Quanto aos clientes, embora tenham iniciado a terapia com queixas semelhantes, seus comportamentos em sessão eram bastante diferentes. Quando ocorriam comportamentos-queixa, a interação se tornava mais difícil. O brincar foi uma estratégia que permitiu: (a) uma boa relação terapêutica; (b) trabalhar diretamente com os comportamentos-queixa; (c) uso de procedimentos comportamentais; (d) instalação de comportamentos de melhora; (e) a coleta de informações relevantes sobre a criança e seu cotidiano. Concluindo, este estudo trouxe contribuições não apenas para a pesquisa em terapia infantil, como também para a metododologia de análise da interação terapêutica. Discutiu-se também que terapeuta ser a própria pesquisadora foi uma condição que levou ao acesso a informações não disponíveis a um observador externo. PALAVRAS-CHAVE: Terapia comportamental; Psicoterapia da criança; Comportamento de brincar; Processos psicoterapêuticos; Metodologia iv Del Prette, G. (2006). Child Behavior-Analytic Therapy: Relations between playing, therapist and child behavior. Master´s Dissertation, Postgraduation Program in Clinical Psychology Universidade de São Paulo, São Paulo, Brazil. ABSTRACT In Child Behavior-Analytic Therapy, playing during sessions is referred to both as a way of repertoire evaluation, as well as teaching alternative behaviors to the child. Procedures used in child therapy, including playing, are not yet explicitly described. The systems found in literature for categorizing child therapy are often difficult to operationalize or are not specific to situations that involve children’s play. This study is divided into two objectives. Firstly, an adequate categorization system for child therapy analysis was sought, tested and adapted. Secondly, this child therapy category system was applied to describe the relationships between: (a) different forms of interaction during playing; (b) therapist’s behavior; (c) the quality of the therapeutic relationship and (d) the complaints and improvements of the child. A behavior-analytical therapist and two male clients with predominantly externalizing behavior problems, eight and six years old, participated in the research. Prior to beginning therapy, client’s parents signed a term of free and informed consent and answered the Achenbach’s Child Behavior Checklist (CBCL). Based on the first five sessions of one and of the first three of the other, once filmed and transcribed, six playing categories were created, named according to the theme of verbalizations and corresponding actions: (1) play/playing; (2) fantasy/playing; (3) day-to-day events/playing; (4) unrelated day-to-day/playing; (5) play/non playing and (6) non-playing. Zamignani´s (2006, in elaboration) category system was chosen, adapted and subcategories were created both for therapist and client. Some association was found in therapist and client categories such as “report request” producing “report” and “recommendation” producing “agreement” and “opposition”. The subcategories led to refinement of results, allowing the observation of behavioral procedures like modeling, extinction and avoidance blocking, and identification of typical child therapist’s behaviors, like directing, challenging, structuring of playing and the game descriptions. As for clients, although they initiated therapy with similar complaints, their behaviors during sessions were markedly different. When problem behaviors occurred, interaction became more difficult. Playing was a strategy that enabled: (a) a good therapeutic relationship; (b) working directly with the behavior-problem; (c) usage of behavioral procedures; (d) acquisition of improved behaviors; (e) expanded data collection relative to child behavior and its determinants. Concluding, this study not only contributed to child therapy research, but also to a method of analysis of therapeutic interaction. The issue of the researcher being the therapist was also discussed, the advantage being the access to information, not available to an external observer. KEY-WORDS: Behavior Therapy; Child Psychotherapy; Childhood Play Behavior; Psychotherapeutic Processes; Methodology. v SUMÁRIO AGRADECIMENTOS II RESUMO III ABSTRACT IV ÍNDICES VI ÍNDICE DE TABELAS VI ÍNDICE DE FIGURAS VII ÍNDICE DE ANEXOS VIII INTRODUÇÃO 1 O PAPEL DO BRINCAR NA TERAPIA ANALÍTICO-COMPORTAMENTAL INFANTIL 2 TERAPIA ANALÍTICO-COMPORTAMENTAL DE ADULTOS VERSUS DE CRIANÇAS 5 PSICOTERAPIA: VARIÁVEIS DE INTERESSE E METODOLOGIAS DE PESQUISA 8 PROBLEMA E OBJETIVOS DE PESQUISA 13 MÉTODO 15 PARTICIPANTES 15 MATERIAL E INSTRUMENTOS 16 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS 19 TRATAMENTO DOS DADOS 21 RESULTADOS E DISCUSSÃO 29 CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS DE ANÁLISE 34 DESCRIÇÃO DAS CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS DO TERAPEUTA 34 DESCRIÇÃO DAS CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS DO CLIENTE 67 COMPORTAMENTOS QUEIXA E COMPORTAMENTOS DE MELHORA 85 DESCRIÇÃO DAS CATEGORIAS DO BRINCAR 86 ANÁLISE DAS SESSÕES TRANSCRITAS DE TERAPIA INFANTIL 91 RESULTADOS REFERENTES ÀS CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS DO TERAPEUTA: 93 RESULTADOS REFERENTES ÀS CATEGORIAS E SUBCATEGORIAS DO CLIENTE: 108 RESULTADOS REFERENTES ÀS CATEGORIAS DO BRINCAR 118 CONSIDERAÇÕES FINAIS 137 REFERÊNCIAS 147 ANEXOS 155 vi ÍNDICES Índice de Tabelas Tabela 1. Relação entre o tema da fala e a ação na formação das categorias do brincar 23 Tabela 2. Modelo de folha de registro utilizada para a classificação das unidades de análise do comportamento do terapeuta e do cliente. 26 Tabela 3. Conjunto de categorias do terapeuta, de zamignani (2006, em elaboração) e subcategorias elaboradas para a terapia analítico-comportamental infantil. 35 Tabela 4. Conjunto de categorias do cliente de zamignani (2006, em elaboração) e subcategorias elaboradas para a terapia analítico-comportamental infantil 68 Tabela 5. Reagrupamento das subcategorias do terapeuta que pertencem a mais de uma categoria, em subcategorias que sugerem procedimentos específicos e que poderiam ser consideradas típicas de terapia infantil. 92 Tabela 6. Valores e porcentagens das unidadesde análise nos atendimentos de mauro e erik. 93 Tabela 7. Porcentagem de comportamentos-queixa, comportamentos de melhora e outros comportamentos de mauro que favorecem e que desfavorecem a qualidade da relação terapêutica. 117 Tabela 8. Percentagem de ocorrência das categorias do terapeuta em cada categoria do brincar, durante os atendimentos de mauro e erik. 122 Tabela 9. Subcategorias do terapeuta em cada categoria do brincar, durante os atendimentos de mauro e erik. 126 Tabela 10. Categorias do cliente mais freqüentes em cada categoria do brincar, durante os atendimentos de mauro e erik. 131 vii Índice de Figuras Figura 1. Ilustração da sala da clínica-escola utilizada para o atendimento de mauro e erik. 19 Figura 2. Percentagem de verbalizações da terapeuta nas cinco sessões de mauro (n=805) e de três sessões de erik (n=486), para cada categoria do terapeuta. 94 Figura 3. Percentagem de verbalizações da terapeuta por categoria, ao longo das sessões de mauro (a) e erik (b). 95 Figura 4. Associação entre comportamentos da terapeuta e comportamentos subseqüentes mais freqüentes dos clientes (“m” para mauro e “e” para erik). 98 Figura 5. Percentagem de subcategorias do terapeuta no atendimento de mauro (a) e erik (b). 100 Figura 6. Subcategorias do terapeuta (baseadas em procedimentos) e sua relação com comportamentos subseqüentes de mauro e erik, favoráveis e desfavoráveis à qualidade da relação. 103 Figura 7. Subcategorias do terapeuta que descrevem comportamentos típicos de terapia infantil e sua relação com respostas subseqüentes de mauro e erik que favorecem ou desfavorecem a qualidade imediata da relação. 105 Figura 8. Percentagem de categorias do cliente nas oito sessões de mauro e três de erik. 108 Figura 9. Percentagem de categorias do cliente ao longo das três sessões do atendimento de erik (a) e cinco sessões do atendimento de mauro (b). 110 Figura 10. Porcentagem das categorias do brincar nos atendimentos de mauro e erik. 119 Figura 11. Porcentagem de episódios verbais em cada categoria do brincar, ao longo das sessões analisadas de mauro (a) e erik (b). 120 Figura 12. Percentagem de verbalizações de mauro e favoráveis à qualidade da relação terapêutica, em cada categoria do brincar. 133 Figura 13. Percentagem de comportamentos-queixa em cada categoria do brincar, nos atendimentos de mauro e erik. 135 viii Índice de Anexos Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – Anexo 1 156 Categorias do Terapeuta – Anexo 2 157 Categorias do Cliente – Anexo 3 180 Questionário de Objetivos Terapêuticos - Mauro– Anexo 4 193 Questionário de Objetivos Terapêuticos – Erik – Anexo 5 196 Child Behavior Checklist – Mauro – Anexo 6 ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. Child Behavior Cheklist – Erik – Anexo 7 ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. Transcrição de Sessões de Mauro – Anexo 8 ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. Transcrição de Sessões de Erik – Anexo 9 ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO. 1 INTRODUÇÃO Diversos problemas psicológicos levam crianças, adolescentes e adultos à busca de tratamento especializado. Recentemente, Fioravanti (2005) citou um levantamento do World Mental Health Survey, coordenado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mostrando que os distúrbios psiquiátricos têm sido cada vez mais freqüentes, mas pouco tratados. Segundo o autor, mesmo nas cidades mais isoladas do mundo os transtornos mentais começam cedo, ainda na infância. [...] Progridem lentamente e, lá pelos 20 anos, podem se expressar na forma de dependência de álcool, de nicotina ou de drogas, ou ainda como uma depressão grave, que desabilita a ponto de superar a vontade de comer ou mesmo de viver (Fioravanti, 2005, p. 38-43). Dada a gravidade desses problemas, torna-se urgente e necessário um investimento crescente de pesquisadores e profissionais para desenvolver intervenções progressivamente mais efetivas, como parte do compromisso técnico e ético com a qualidade de vida. No caso da criança, esse investimento é ainda mais crítico pois pode evitar a repercussão de problemas da infância nas etapas futuras do desenvolvimento. Os problemas comportamentais e emocionais que levam as crianças para a terapia recaem na classe geral dos "Transtornos diagnosticados pela primeira vez na infância e na adolescência" (APA, 1995) e que é composta por diferentes tipos, como por exemplo: Distúrbio de Aprendizagem, de Habilidades Motoras, de Comunicação, de Eliminação etc. (Kazdin & Weiz, 2003). Entretanto, dentro da classe geral referida, é possível classificá-los, ainda, em dois grandes grupos: os internalizantes e os externalizantes (Achenbach & Edelbrock, 1978; Kazdin & Weiz, 2003). São considerados internalizantes aqueles problemas dirigidos para experiências internas, como ansiedade, timidez e depressão. Já os externalizantes são dirigidos para o ambiente, como comportamento opositor, hiperatividade, agressividade e comportamentos anti-sociais (Kazdin & Weiz, 2003). 2 Os problemas externalizantes constituem a maioria das queixas que levam crianças e adolescentes à psicoterapia. Em uma análise dos prontuários de 776 clientes com idade até 16 anos, inscritos em uma clínica-escola, Silvares (1993) observou que 75,3% deles continham queixas de distúrbios de comportamentos explícitos e de mau desempenho escolar. Além disso, a maioria das crianças encaminhada tinha idade entre seis e nove anos e era do sexo masculino, exceto para queixas internalizantes, mais predominantes em meninas. Seja do ponto de vista da prevenção, seja da remediação (tratamento), é fundamental a pesquisa sobre os fatores de eficiência e eficácia da intervenção clínica, o que tem sido considerado como uma das prioridades pela Força Tarefa em Psicoterapia, da APA, conforme documento oficial recentemente publicado (Levant, 2005). Esse documento enfatiza que a avaliação das terapias é de suma importância para o progresso científico da psicologia clínica, permitindo a delimitação das que são eficazes e dos componentes que contribuem para essa efetividade. A Terapia Analítico-Comportamental Infantil (TACI) é um dos possíveis tratamentos no caso de crianças com problemas externalizantes. Ao lado da utilização de procedimentos e técnicas que a assemelham à Terapia Analítico-Comportamental com adultos, a TACI apresenta uma especificidade ainda pouco explorada em termos de suas características e efetividade. Trata-se do uso do brincar na interação profissional-cliente, cuja importância tem sido referida por inúmeros autores (Kazdin, 1988; Guerrelhas, Bueno & Silvares, 2000; Regra, 2000; Torres & Meyer, 2003). Nos tópicos que se seguem são apresentados aspectos da fundamentação conceitual e empírica da temática deste estudo. O papel do brincar na Terapia Analítico-Comportamental Infantil A definição do comportamento de brincar é alvo de muita discordância entre os teóricos que investigam essa temática. No entanto, conforme De Rose e Gil (2003), a maioria das definições enfatiza a espontaneidade e o prazer deste ato. Brincar, por meio de jogos ou brincadeira, estruturados ou não, é a atividade mais comum da criança e é crucial para o seu desenvolvimento, 3 além de ser uma forma de comunicação. Del Prette e Del Prette (2005, p. 100) ressaltam que o jogo é utilizado em todas as tradições culturais, “com objetivos educacionais distintos como socialização, transmissão de valores e desenvolvimento de autonomia”. Segundo Goldstein e Goldstein (1992), a importância dos jogos vem sendo enfatizada por pesquisadores e teóricos como uma maneira pela qual a criança aprende a controlar o ambiente e fortalecer suas habilidades sociais e de raciocínio. O jogo intensifica os contatos da criança com o mundo, fornece a oportunidade de fazer e manter amizades e ajuda a criança a desenvolver uma auto-imagem adequada. O faz-de-conta, em crianças pequenas, a ajuda a desenvolverfundamentos básicos para o seu desenvolvimento social. As ações da criança, em contexto de brincadeira, muitas vezes expressam sentimentos, desejos e valores que ela não consegue, ainda, expressar por meio de relatos verbais, devido às limitações próprias de seu estágio de desenvolvimento em linguagem. Possivelmente por suas diferentes funções e importância, o brincar passou a fazer parte das práticas de Psicoterapia Infantil, inicialmente em abordagens como a Psicanálise, a Psicologia Humanista, a Gestalt-terapia e, também, na abordagem Comportamental. Convém salientar que essa atenção dada ao brincar não se constitui propriamente uma novidade na abordagem comportamental. Já na década de 60, Ferster (1966), em um estudo que se tornou célebre, descreveu e analisou funcionalmente o atendimento de uma menina autista de quatro anos de idade e ressaltou o papel do uso do brinquedo como um facilitador da interação criança-terapeuta. O brincar é um comportamento que, segundo De Rose e Gil (2003, p. 376), “implica em estímulos discriminativos, modelos, instruções e conseqüências, de tal modo que a criança pode, a partir de seu repertório inicial, refinar seus comportamentos e aprender novos”. Skinner (1991) distingue, na brincadeira, o jogo do brincar livre, definindo o jogar como uma atividade que envolve contingências de reforçamento planejadas, isto é, regras pré-estabelecidas. Por outro lado, o brincar livre, por não ter regras estabelecidas na cultura, pode ser considerado menos controlado pelo ambiente social imediato. Conforme Kanfer, Eyberg e Khrahn (1992, p. 50), a brincadeira é “um 4 meio efetivo de construir o rapport e reduzir demandas verbais feitas para a criança e [...] um meio para amostragem do conteúdo das cognições da criança”. Na abordagem comportamental, o brincar tem sido considerado um procedimento favorável ao manejo de comportamentos clinicamente relevantes na terapia com crianças (Conte & Brandão, 1999). Antes de escolher os procedimentos de intervenção para promover a aquisição de comportamentos relevantes, o terapeuta analítico-comportamental realiza uma avaliação para conhecer o repertório inicial de comportamentos da criança. Na situação lúdica, a criança revela e descobre seus sentimentos, pensamentos, intuições e fantasias, possibilitando ao terapeuta obter dados importantes para o conhecimento da história de vida da criança (Windholz & Meyer, 1994). Vê-se, portanto, que o contexto lúdico pode ser utilizado com objetivos de avaliação do repertório da criança, permitindo o acesso indireto a seus pensamentos e sentimentos e o acesso mais direto às suas respostas abertas, em relação com variáveis de controle ambientais. O brincar é, também, um contexto particularmente rico de oportunidades para ensinar comportamentos alternativos à criança, por meio de procedimentos característicos da Análise do Comportamento, como modelagem, modelação, esvanecimento, reforçamento diferencial etc. A inclusão de estratégias lúdicas e de fantasia na avaliação e na intervenção direta com a criança propicia a ampliação das relações, que passam a se dar não apenas entre a criança e o terapeuta, como também entre eles e personagens das brincadeiras, conforme ressaltam Conte e Regra (2002, p. 98): A análise do comportamento da criança, na clínica, dá-se com base em vários recursos, como, por exemplo, a análise da interação que ela estabelece diretamente com o terapeuta (análise da relação), a análise das relações que estabelece entre personagens fictícios, retirados de suas fantasias e sonhos (...), e mesmo seus relatos diretos sobre o que ocorre no dia-a-dia. A situação lúdica também pode ser entendida como promotora de aliança terapêutica efetiva, porque se constitui uma atividade altamente reforçadora para a criança (Guerrelhas, Bueno 5 & Silvares, 2000). O brincar pode contribuir, por essa via, para o engajamento da criança no processo e, portanto, para a efetividade da terapia. No presente trabalho, define-se o brincar em terapia como o conjunto de procedimentos que utilizam atividades lúdicas (jogo ou brinquedo) como mediadoras da interação terapeuta-cliente. Conforme exposto, em suma, os principais objetivos do brincar em terapia seriam: (a) realizar a avaliação diagnóstica da criança; (b) identificar variáveis relevantes no aparecimento e manutenção do problema, isto é, fazer uma análise das contingências envolvidas na queixa identificada; (c) estabelecer procedimentos que fortaleçam certos comportamentos e enfraqueçam outros e (d) promover uma aliança terapêutica efetiva. Terapia Analítico-Comportamental de adultos versus de crianças A Terapia Analítico-Comportamental tem o comportamento como unidade básica a partir da qual o terapeuta analisa as contingências ambientais das quais ele é função. A análise de contingências é o instrumento chave da clínica analítico-comportamental, tanto para a avaliação quanto para o planejamento da intervenção (Neno, 2003), ou seja, “somente uma análise funcional poderá indicar o que está faltando para que a terapia (...) apresente resultados satisfatórios” (Banaco, 1999). O foco no comportamento diz respeito à identificação e descrição do comportamento de interesse, incluindo aspectos como freqüência, duração e intensidade (Meyer, 2003), juntamente com a análise das contingências associadas a esse comportamento. “Contingência” é um conceito chave na análise das interações organismo-ambiente (Todorov, 1985) e implica na busca pela descrição da condição antecedente e da subseqüente ao comportamento de interesse (Meyer, 2003). A partir da análise de contingências, o atendimento clínico visa quatro objetivos principais: a identificação dos comportamentos-alvo e das condições que os mantêm, a seleção da intervenção mais adequada, o monitoramento do progresso ao longo do tratamento e a avaliação da efetividade da intervenção realizada (Follete; Naugle & Linnerooth, 2000). 6 Nos aspectos até aqui referidos, a TACI não se diferencia da Terapia Analítico- comportamental de adultos. Mas a terapia com crianças tem peculiaridades que a diferenciam (Queiroz & Guilhardi, 2002; Silveira, 2002), o que remete tanto aos procedimentos utilizados, como às habilidades específicas que o terapeuta deve apresentar. Como exemplo de habilidade, Silveira (2002) defende que a atuação do terapeuta comportamental infantil requer criatividade e, ao mesmo tempo, diretividade na condução da sessão psicoterápica. Quanto aos procedimentos, Gaines (2003) destaca que, na terapia infantil, os terapeutas utilizam a “auto-revelação” com mais freqüência do que na de adultos. Outros autores discutem o papel do procedimento de “fantasiar” durante atividades lúdicas em terapia infantil (p.e., Penteado, 2001; Regra, 1997) como uma maneira peculiar de avaliação e de intervenção. Também há diferenças importantes entre o atendimento infantil e adulto no procedimento de avaliação diagnóstica. Segundo Silvares (2002), a avaliação diagnóstica implica em uma série de atividades com o objetivo de analisar funcionalmente a queixa e, com base nessa análise, definir as melhores estratégias comportamentais a serem utilizadas para alcançar o bem-estar psicológico do cliente. É pela avaliação diagnóstica que o terapeuta coleta informações acerca da história do cliente, do comportamento que deve ser tratado e das circunstâncias nas quais o cliente vive. Na terapia infantil, a peculiaridade da avaliação diagnóstica começa na própria definição da queixa, pois raramente é apresentada pela criança e isso pode interferir no controle do terapeuta sobre a situação de atendimento, especialmente no início do processo. Na origem da queixa, existem membros da comunidade social da criança que estão incomodados com alguns de seus comportamentos (e não a própria criança, na maioria dos casos) e que então definem: (a) a necessidade deatendimento; (b) o profissional que irá prestar o serviço; (c) o que consideram problema para a criança e seu entorno. A queixa, ao ser elaborada pela perspectiva do adulto (nem sempre compartilhada pela criança), pode dificultar a adesão desta ao processo de atendimento. Isso realça a importância do processo de estabelecimento de uma aliança terapêutica com a criança, que 7 deve incluir, também, o esclarecimento sobre os objetivos e procedimentos, diminuindo seu desconforto e predispondo-a a uma maior adesão ao tratamento. Nesse processo, o terapeuta infantil comumente lida com vários participantes ao mesmo tempo (mãe, pai, irmãos, professores). A importância dada aos cuidadores envolve a compreensão de que a família tem um papel importante na gênese e manutenção da queixa: “queixar-se dos comportamentos do filho é se denunciar: reclamar do produto é reprovar o produtor” (Queiroz & Guilhardi, 2002, p. 250). Em outras palavras, o comportamento queixa da criança, embora inadequado, é funcional no ambiente em que ela se insere (Silvares & Marinho, 1998), isto é, só se mantém porque está sendo, de alguma forma, reforçado. O papel dos pais na definição da queixa é também ressaltado em Del Prette, Silvares & Meyer (2005) que, ao analisarem os processos de avaliação diagnóstica de 20 estudos de caso infantis, constataram que a entrevista com pais foi um dos recursos mais utilizados para a avaliação inicial. A participação dos pais continuou a ser importante em outros procedimentos de avaliação utilizados, como a aplicação de testes e o uso de registros e, sem dúvida, tal participação é muito importante para a análise inicial do problema da criança. Por meio do contato com os pais, o terapeuta pode obter informações adicionais, como, por exemplo, prováveis reforçadores e punidores para a criança, planos e metas dos pais quanto aos filhos etc. Em suma, pode-se afirmar que a TACI compartilha características da terapia analítico- comportamental com adultos, porém, apresenta uma especificidade que pode ter implicações tanto para a pesquisa quanto para a prática profissional. Em termos de pesquisa, implica em avaliar mais detalhadamente essas características diferenciadoras em suas possíveis relações com o processo e com a efetividade do tratamento. Em termos práticos, implica em considerar tais características na formação e capacitação de terapeutas para o atendimento a crianças. 8 Psicoterapia: Variáveis de interesse e Metodologias de pesquisa Conforme Castonguay e Beutler (2006), há duas vertentes possíveis de posicionamentos a respeito da avaliação da efetividade de psicoterapias. Uma delas é a de que todos os tratamentos são essencialmente equivalentes em termos de produção de resultados para o cliente. Essa perspectiva tem sido referida como “paradoxo da equivalência”, também denominado por Luborsky, Singer e Luborsky (1975) como o “veredicto do pássaro Dodô”. O paradoxo refere-se à aparente equivalência da efetividade das diferentes terapias, em contraste com a aparente não-equivalência dos processos das mesmas. A expressão “veredicto do pássaro Dodô” refere-se a um trecho da história de Alice no País das Maravilhas, no qual os animais realizavam uma corrida em torno de um círculo e, ao final, o pássaro Dodô decretava que todos eles ganharam a corrida e seriam premiados. É respaldada por pesquisas (p.e. Lambert & Bergin, 1994, citado por Stiles, 1999) que indicam que fazer terapia é significativamente melhor do que não fazê-la, e que placebos também são melhores do que não-terapia, embora piores do que terapia. Nas razões de não haver diferenças significativas entre as psicoterapias existentes, essa vertente ressalta a importância da aliança terapêutica como a única variável de processo preditora de bons resultados (Garfield, 1995). Outra vertente, referida por Castonguay e Beutler (2006), é a de que alguns tratamentos seriam mais recomendáveis do que outros, para o tratamento de transtornos específicos, a partir de comprovação empírica de pesquisas. De acordo com Neno (2005), essa vertente é fruto de um movimento de validação empírica das psicoterapias que se instalou oficialmente por meio da Força Tarefa da Divisão 12 da APA, em 1993. Além do compromisso com a produção de conhecimento, a investigação da efetividade das terapias vem se apoiando em uma base legal e ética. As terapias psicológicas estão incorporadas aos centros públicos de Saúde Mental, que devem ofertar intervenções cada vez mais eficazes, o que constitui uma exigência ética e vem se configurando, nos últimos anos, também como exigência legal: "pesquisas que estão sendo iniciadas em todo o mundo entrarão diretamente nas situações clínicas e verificarão o que os terapeutas estão fazendo" (Meyer & Vermes, 2001, p.108). 9 No ano de 2005, a Divisão 12 da Associação de Psicologia Americana (APA) e a Sociedade Americana para a Pesquisa em Psicoterapia concluíram um estudo (Levant, 2005) que buscou definir o conceito de prática psicológica baseada em evidência e, com base na atualização de dados sobre evidências de pesquisa aplicáveis à prática psicológica em psicoterapia, apontar direções de pesquisa relacionadas ao papel do terapeuta na tomada de decisões de tratamento e do paciente nesse processo. O conceito de prática psicológica baseada em evidência (Evidence-Based Practice in Psychology, ou EBPP) foi definido como “a integração das melhores pesquisas disponíveis com a experiência clínica no contexto das características, cultura e preferências do cliente” (p. 5). O documento final analisa as principais evidências de pesquisa disponíveis e as direções para pesquisas que deveriam ser priorizadas em financiamentos de pesquisa futuras. Aqui, foram incluídas as pesquisas sobre o peso relativo das características dos clientes, do terapeuta e das variáveis do relacionamento terapeuta-cliente, sobre os resultados da terapia e a importância de determinar e descrever como essas variáveis interagem umas com as outras para afetar diferencialmente os resultados. Resultados de pesquisas sobre tais aspectos poderiam servir como indicadores úteis para a prática clínica, esclarecendo quais intervenções (e também modos de relacionamento) deveriam ser encorajadas ou evitadas. Dentre os problemas que têm sido foco de estudo de efetividade do tratamento pela Força Tarefa, inclui-se a depressão, a ansiedade, os transtornos de personalidade e o abuso de substâncias. Segundo Neno (2005), as pesquisas realizadas pela Força Tarefa sobre o tratamento destes transtornos focalizavam somente a população adulta, deixando uma lacuna no atendimento voltado à criança. Por esse motivo, uma das atualizações da lista de tratamentos empiricamente validados voltou-se para a identificação de tratamentos para a população infantil. Considerando que a pesquisa sobre a efetividade da psicoterapia visa ao conhecimento sobre o que produziu a melhora no cliente, ela não deve focalizar apenas os resultados mas, também, as condições que o geraram, ou seja, o processo terapêutico. A literatura mostra que há diversas metodologias possíveis de análise do processo terapêutico. Na análise de alguma variável 10 específica, pode ser necessário decidir os tipos e a amplitude das unidades de análise (molares ou moleculares) ou recortes das sessões ou grupos de sessões. Pode-se, por exemplo, dividir sessões de psicoterapia em unidades temporais. Howe e Silvern (1981) utilizaram o tempo como unidade de análise, dividindo as sessões em segmentos de doze minutos, na tentativa de elaborar um instrumento para a observação dos comportamentos da criança em ludoterapia. Mais recentemente, Estrada e Russel (1999) dividiram as sessões em segmentos de vinte minutos, ao elaborarem uma escala para a análise do processo em psicoterapia infantil. Conforme Shaffer (1982), não existe, ainda, consenso entre os autoresquanto às unidades de análise, mas algum consenso seria importante para direcionar as pesquisas futuras e possibilitar uma avaliação mais precisa dos resultados e a comparação de dados de diferentes pesquisas. Para estudar os resultados obtidos em cada sessão, Greenberg (1986) utilizou quatro categorias de análise que ele classificou como: (a) “níveis de conteúdo” (definido como “tudo aquilo que acontece durante a sessão”); (b) atos de fala (referindo-se à “linguagem e seu sentido no contexto”); (c) episódios (que seriam porções de comunicação com sentido terapêutico) e (d) inter- relações (“qualidades inespecíficas que o terapeuta deve possuir”). Como se vê, essas categorias estão definidas de forma bastante genérica, o que torna difícil operacionalizá-las, limitando o seu uso em novos estudos. Com relação aos atos de fala e aos demais desempenhos do terapeuta, valorizados por diferentes autores, pode-se identificar uma falta de consenso também quanto às unidades de análise ou categorias de comportamentos. Alguns sistemas de categorias são brevemente descritos a seguir. Na década de 70, uma pesquisadora americana, Clara Hill (1978) propôs um sistema classificação dos comportamentos do terapeuta - Hill‟s Counselor Verbal Response Mode Category System – que incluía as seguintes categorias: (1) aprovação e confiança; (2) questões fechadas; (3) questões abertas; (4) repetição da fala do cliente; (5) reflexão dos sentimentos; (6) confrontação; (7) interpretação; (8) auto-revelação; (9) imediação; (10) informação; (11) orientação direta; (12) outras. 11 Em nosso meio, pode-se destacar a análise de Meyer (2001) que identificou e definiu nove categorias de comportamentos do terapeuta referentes aos objetivos e às táticas para alcançá-los: (1) solicitação de informações: comportamentos que objetivam obter ou esclarecer informações, bem como testar hipóteses; (2) fornecimento de informações: comportamentos que esclarecem aspectos da terapia (contrato, técnicas etc) e aspectos psicológicos ou médicos; (3) empatia, calor humano, compreensão, concordância: comportamentos que objetivam a aproximação e a demonstração de compreensão; (4) sinalização: comportamentos que sinalizam variáveis relevantes da fala do cliente, podendo reformulá-la para enfatizar algum conteúdo; (5) aprovação: comportamentos que indicam aprovação de comportamentos ou relatos do cliente sobre comportamentos; (6) orientação: ordens, conselhos, avisos, fornecimento de modelos; (7) interpretação: inferências sobre padrões de comportamento do cliente e de outras pessoas e sobre relações causais; (8) confrontação: demonstração de contradições do cliente ou de desaprovação frente ao relato ou comportamento deste; (9) silêncio: não-emissão de respostas orais após o término do relato verbal do cliente. Mais recentemente, tem-se o trabalho de Zamignani (2006, em elaboração), que elaborou um sistema de categorização de comportamentos do terapeuta e do cliente, de acordo com uma análise de diversos sistemas pré-existentes na literatura. Os comportamentos do terapeuta foram classificados nas categorias: (1) solicitação de relato; (2) solicitação de relato qualificativo; (3) [fornecimento de] informação; (4) interpretação; (5) estruturação; (6) recomendação; (7) empatia; (9) aprovação; (10) facilitação; (11) discordância; (12) registro insuficiente. (Ver definições de cada uma dessas categorias no Anexo 2) A variedade de sistemas já criados dificulta um consenso a respeito de qual deveria ser utilizado, visto que sempre é possível encontrar vantagens e desvantagens no uso de cada um deles. Entretanto, no sistema de Zamignani (2006, em elaboração), percebe-se algumas vantagens, tais como: (a) uma classificação que contempla comportamentos definidos tanto pela sua função como 12 por sua forma 1 (o que não ocorre no sistema de Hill, 1978); (b) um detalhamento rigoroso dos critérios de inclusão e exclusão, facilitando o seu uso; (c) uma descrição mais objetiva das diversas topografias de comportamento possíveis para cada categoria; (d) a possibilidade de criação de subcategorias para cada categoria, dependendo do foco de análise do pesquisador. Entretanto, como o sistema foi construído com base na terapia de adultos, ele não contempla as especificidades da terapia infantil. Essa dificuldade também ocorre em outros estudos: alguns autores analisam o processo terapêutico do ponto de vista de sua experiência com terapia infantil, mas fazem referência a ações do terapeuta em geral, sem considerar a especificidade da clientela. Dessa forma, embora analisando a terapia infantil, destacam ações e habilidades que seriam também aplicáveis ao atendimento do adulto. É o caso da escala construída por Estrada e Russel (1999), que caracteriza comportamentos do terapeuta durante segmentos de terapia. Categorias como: “respondeu empaticamente à criança”, “ajudou a criança a explorar seus sentimentos” etc., não seriam específicas à TACI, pois podem ocorrer também na relação do terapeuta com adultos. Em terapia infantil, Silveira (2002) propõe uma lista de 19 habilidades do terapeuta, incluindo algumas categorias mais associadas ao brincar (como “propor brincadeira e persuadir a criança a brincar ou deixar que a criança ensine uma brincadeira” e “promover engajamento em atividades de fantasia e compartilhar da fantasia da criança”) e outras independentes da brincadeira (como “formular regras e zelar pelo seu cumprimento”). Algumas categorias são definidas em termos bastante topográficos (ação do terapeuta), como “descrever o que a criança está fazendo”, enquanto outras pretendem ser mais funcionais (efeito provável ou provavelmente pretendido no comportamento da criança), como “reforçar comportamentos de colaboração e participação da criança na entrevista/interação e extinguir comportamentos incompatíveis ou concorrentes com aqueles” enquanto outras parecem difíceis de serem observadas como, “evitar fazer críticas”. 1 Entende-se por definição baseada na topografia aquelas que descrevem a forma do comportamento do terapeuta enquanto que uma definição funcional descreve os efeitos prováveis ou provavelmente pretendidos pelo terapeuta no comportamento do cliente. 13 Problema e objetivos de pesquisa Considerando-se a literatura referida nas sessões precedentes e as propostas e pesquisas sobre o processo de terapia infantil, pode-se entender que: a) A literatura reconhece a especificidade da TACI, mas suas peculiaridades ainda não foram exaustivamente descritas e analisadas; b) Os procedimentos utilizados no tratamento de crianças (por exemplo, o brincar) não estão explicitamente descritos nas formulações iniciais para terapia infantil em geral, nem em sua versão comportamental (Silvares, 2000; Silveira, 2002); c) As pesquisas empíricas de análise do processo (comportamentos e habilidades do terapeuta), baseadas principalmente em sistemas de categorização da Terapia com adultos, não atendem completamente à especificidade da TACI. Sendo assim, algumas questões empíricas e metodológicas decorrentes do raciocínio apresentado podem ser formuladas: Como aplicar uma metodologia de categorização de comportamentos do terapeuta e do cliente, de forma a apreender a especificidade da terapia infantil, aí incluindo-se as particularidades do brincar? Quais os comportamentos que o terapeuta e o cliente apresentam ao longo de um processo de TACI? Qual o papel do brincar e as suas diferentes formas no processo de TACI? Como os comportamentos relevantes do terapeuta e da criança se organizam nas diferentes formas do brincar em terapia? Essas questões norteiam o problema de pesquisa do presente trabalho para dois objetivos, sendo o primeiro metodológico e o segundo empírico, ambos voltados à especificidade do brincar em terapia infantil.Primeiramente, objetivou-se testar e adaptar uma metodologia de análise do processo de terapia, utilizando um sistema de categorização de comportamentos do terapeuta e do cliente e elaborando categorias do brincar. Numa segunda etapa, o objetivo consistiu em aplicar esta 14 metodologia na análise descritiva do processo terapêutico inicial de duas crianças com problemas externalizantes, em sessões de TACI, buscando identificar a relação existente entre as formas de brincar na terapia, os comportamentos do terapeuta, os comportamentos do cliente (inclusive aqueles associados à queixa e à melhora) e a qualidade da interação. 15 MÉTODO Participantes Terapeuta: A terapeuta, que se autodenominava como terapeuta analítico-comportamental, foi a própria pesquisadora que, no início do processo terapêutico em TACI, tinha 22 anos de idade e havia concluído sua graduação em Psicologia há um ano. Durante o período do Mestrado, atendeu crianças na clínica-escola do Instituto de Psicologia da USP, recebendo supervisão semanal em grupo. Cliente 1 – “Mauro” 2 : Ao iniciar a terapia, Mauro era uma criança de oito anos de idade, do sexo masculino, trazido pelo pai com queixas de agressividade, hiperatividade e comportamento opositor, definidas por ele da seguinte maneira: “Ele grita com a irmã e com a gente, desobedece para tudo, parece que quando tem uma regra é aí que ele não faz... Todo dia é uma luta pra ele se levantar de manhã, pra tomar café, pra fazer lição! Por exemplo, se de manhã tiver vitamina de banana, ele vai dizer que não quer. Mas é capaz que se tivesse aquilo que ele quer, ele também iria reclamar. Ele é inteligente, mas vive conversando na escola, a professora tem que ficar chamando a atenção o tempo todo (...)” Mauro vivia com a família, constituída pelo pai, pela mãe e a irmã de cinco anos de idade. Quando iniciou a terapia, cursava a segunda série do Ensino Fundamental no período da manhã, em uma escola particular Adventista do mesmo bairro onde mora. Verificou-se, pela entrevista inicial com o pai, que a família era de classe média e que os pais possuíam nível de escolaridade Superior Completo (ambos eram funcionários públicos). Além de estudar, Mauro freqüentava a Igreja Adventista aos domingos, e tinha um amigo (referido por ele como “melhor amigo”) da igreja, com quem se encontrava esporadicamente nos fins-de-semana. Cliente 2 – “Erik”: Uma criança de seis anos de idade, do sexo masculino, trazido pela mãe por sugestão da escola, com queixa de agressividade, hiperatividade e comportamento-opositor, em casa e na escola. Segundo a mãe, Erik 2 Os nomes dos clientes são fictícios. 16 “está dando problemas na escola porque „do nada‟(sic) ele fica agressivo, grita com os colegas... Outro dia começou a correr atrás dos irmãos com faca para atacá-los. É muito teimoso, as coisas têm que ser do jeito dele. Mas é muito amoroso comigo, é o meu filho preferido, ele sofreu tanto quando nasceu que agora eu tento protegê-lo... Eu tenho muita dificuldade com os meus filhos, porque eu sou sozinha e quando eu trabalho eles ficam sozinhos em casa (...)” Erik vivia com a mãe, um irmão de sete anos e uma irmã de oito, na periferia de São Paulo. Os pais eram separados e ele tinha mais dois irmãos, um com 17 anos que morava com o tio no mesmo bairro, e uma de três anos que morava com os tios-avós na Paraíba. Erik visitava o pai esporadicamente aos fins-de-semana com os irmãos, mas normalmente chorava pedindo para voltar para casa. Quando iniciou a terapia, cursava os últimos meses da pré-escola em uma escola pública de seu bairro, no período da tarde, e sabia escrever o próprio nome e reconhecer algumas letras do alfabeto. A partir da entrevista inicial com a mãe, concluiu-se também que a família era de classe baixa. A mãe, semi-analfabeta, trabalhava de tarde e de noite como faxineira em um supermercado. Durante o trabalho da mãe, as crianças ficavam “trancadas” na casa e eram “cuidadas” pela irmã de oito anos. Material e instrumentos Child Behavior Checklist (CBCL) (Achenbach, 1991). Consiste em uma lista de verificação comportamental para crianças e adolescentes, de seis a 18 anos de idade. Na primeira parte deste inventário, são apresentadas sete questões (abertas e fechadas) sobre freqüência e adequação das atividades sociais e escolares da criança, computadas na seguinte escala: “Não sei”; “Menos que a média”; “Dentro da Média” e “Mais que a Média”. São levantados as atividades esportivas, passatempos e jogos favoritos, participação em clubes e/ou grupos; empregos ou tarefas em casa; amigos íntimos; relacionamento com pais, irmãos, crianças, brincar sozinho e desempenho em disciplinas escolares. 17 Na segunda parte (questões fechadas), encontram-se 113 afirmações que descrevem comportamentos de crianças, para serem avaliados de acordo com a escala: “0=Não é verdadeira”; “1=Algumas vezes verdadeira”; “2=Freqüentemente verdadeira”, com relação ao filho do respondente. O CBCL classifica a criança em clínica (que apresenta problemas de comportamento que necessitam de intervenção clínica), não-clínica ou limítrofe, comparando-a com os dados normativos do instrumento para o sexo e a faixa-etária da mesma e apresentando os dados na forma de gráficos. Os resultados são apresentados em escalas. A Escala de Competência abrange a competência em atividades, social e escolar. A Escala de Síndromes abrange os comportamentos internalizantes de Ansiedade, Depressão e Queixas Somáticas; os comportamentos externalizantes de Comportamento-Opositor e Agressividade, além dos comportamentos classificados como: Problemas Sociais; Problemas de Pensamento e Problemas de Atenção. Em seguida, apresenta os escores totais para Problemas Internalizantes, Problemas Externalizantes e Outros Problemas. Por fim, apresenta os gráficos em função de sintomas descritos pelo DSM: Problemas Afetivos; Problemas de Ansiedade; Problemas Somáticos; Déficit de Atenção e Hiperatividade; Comportamento Opositor-Desafiante e Problemas de Conduta. Questionário de Objetivos Terapêuticos: Este questionário (Anexos 4 e 5), elaborado pela pesquisadora, consiste em seis perguntas a respeito do cliente e da terapia: (1) Quais os comportamentos-queixa do cliente, segundo a análise da terapeuta? Sob que condições ele emite tais comportamentos em sessão? (2) Quais as informações disponíveis a respeito dos controles ambientais (na família, escola e outros) associados aos comportamentos queixa do cliente? (3) Quais os recursos do cliente que podem favorecer o trabalho terapêutico? (4) Do que o cliente gosta de brincar? Do que não gosta? (5) Quais os seus objetivos com este cliente? Que comportamentos seriam considerados de melhora? 18 (6) Quais as informações disponíveis a respeito dos controles ambientais (na família, escola e outros) associados aos comportamentos do cliente que se deseja instalar, citados na questão anterior? Ao responder as seis perguntas, o terapeuta deve preencher também os dados de identificação do cliente (nome, idade e ano escolar), qual é a fonte de suas informações, qual é o período da terapia a que se refere o questionário e se há outras intervenções sendo realizadas além do atendimento à criança (por exemplo, orientação de pais, observação em ambiente natural etc). O objetivo deste questionário é o de fornecer à pesquisa informações adicionais a respeito de características comportamentais do cliente em sessão e no cotidiano, bem como metas do terapeuta durante o atendimento. Essas informações permitiriam ao pesquisador, quando este não é o terapeuta, entrar em contato com possíveis variáveis de controle do comportamento do terapeuta durante as sessões, facilitando a categorização. Equipamentos: Os equipamentos utilizados na coleta de dados consistiram em fitas de vídeo,filmadora e vídeo-cassete - instalados no Laboratório de Terapia Comportamental, na Clínica Psicológica da USP, para a gravação das sessões. Local de coleta Os atendimentos às crianças foram realizados em uma sala da Clínica-Escola do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. A sala pertence ao Laboratório de Terapia Comportamental (LTC-USP) e é equipada com câmera, além de brinquedos, cadeiras e mesas próprias para o atendimento de crianças. A sala tem dimensões de aproximadamente 3m x 3,5m. Em um canto superior, encontra-se a filmadora fixa; em um dos lados há um espelho unidirecional (não-utilizado); no outro lado há uma janela grande e nos outros dois lados há duas prateleiras de brinquedos, um relógio de parede e uma casinha de madeira de dois andares, com móveis de madeira e cerca de 12 bonecos de pano representando uma família (bonecos pai, mãe, avós, bebês, crianças). No centro da sala, encontram- 19 se uma mesa pequena com várias cadeiras pequenas (para crianças) e duas cadeiras com tamanho normal (para adultos). A Figura 1, a seguir, ilustra a disposição da sala: Figura 1. Ilustração da sala da clínica-escola utilizada para o atendimento de Mauro e Erik. Os brinquedos permanentemente disponíveis na sala para qualquer atendimento são: casinha de madeira com bonecos de pano; carrinhos de plástico; massinha de modelar; pega-varetas; dominó; lápis-de-cor; canetinhas; giz de cera; cola; tesoura; rolo de papel pardo. Além destes, outros brinquedos guardados em outra sala do LTCUSP poderiam ser colocados na sala pela terapeuta, ao planejar seus atendimentos. Dentre as opções disponíveis, encontravam-se: jogos diversos (Ex: “Jogo da Vida”; “Lince”; “Damas”; “Ludo”; “Jogo da Memória”; “Jogo dos Sentimentos”), formas de madeira coloridas; livrinhos infantis; gravador com microfone; Mini Pebolim, peças de montar (Lego) etc. Procedimento de coleta de dados Primeiramente, foi solicitada junto à clínica-escola uma lista das crianças em espera por atendimento, cujos pais já haviam sido entrevistados para realização do cadastro. Foram selecionadas aleatoriamente crianças do sexo masculino, entre seis e nove anos de idade, com 1. Filmadora; 2. Porta de entrada; 3. Falso espelho; 4. Janela; 5. Prateleiras de brinquedos; 6. Mesa e cadeiras; 7. Casinha de bonecas. 8. Relógio de parede 1 2 3 4 5 6 7 8 20 queixa externalizante, considerando a maior incidência de procura de atendimento com essas características, conforme aponta a literatura (Silvares, 1993). Já nesta etapa, foram selecionadas as crianças Mauro e Erik, mas a adequação das queixas para a pesquisa só foi confirmada por meio da entrevista inicial e da aplicação do CBCL. Segundo o CBCL, as duas crianças tinham problemas de comportamentos externalizantes. Para Mauro, o instrumento indicou comportamento opositor, agressivo e depressão, resultando em scores clínicos de problemas internalizantes e, sobretudo, exnternalizantes. De acordo com a escala do CBCL orientada pelos critérios do DSM-IV, Mauro obteve scores clínicos para problema opositor-desafiante e para problemas de conduta. No caso de Erik, o instrumento indicou baixa competência social, problemas sociais e comportamentos agressivos, resultando em scores clínicos para problemas internalizantes e extenalizantes. Quanto à escala orientada pelos critérios do DSM-IV, Erik obteve score limítrofe (entre normal e clínico) para problema opositor-desafiante. O próximo passo consistiu, portanto, no contato com os pais das crianças via telefone, marcando uma entrevista inicial. Os cuidadores (pai ou mãe) das crianças que participam deste estudo leram, e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), junto com a terapeuta, na entrevista inicial. No TCLE, foram detalhados os objetivos e procedimentos do estudo, garantido o total sigilo quanto à identidade dos clientes participantes e a ausência de riscos para os mesmos (Anexo 1). Também assinado por esta pesquisadora, o TCLE explicitou que somente a terapeuta e os pesquisadores do grupo do Laboratório de Terapia Comportamental (LTCUSP) teriam acesso às gravações realizadas. Quanto às transcrições, os nomes das crianças foram omitidos, bem como qualquer informação que pudesse identificá-las. O CBCL foi aplicado no início da entrevista. Os demais procedimentos não diferiram daqueles normalmente utilizados no início de terapias: levantamento da queixa e seu histórico, questionamento sobre possíveis antecedentes e conseqüentes associados à queixa, rotina e atividades da criança, contrato de atendimento etc. Nesta entrevista, também foi comunicado aos 21 pais que, caso eles concordassem, as sessões seriam gravadas para fins de pesquisa, quando o TCLE foi lido e, em seguida, por eles assinado. Na semana seguinte, iniciaram-se os atendimentos em terapia analítico-comportamental, que consistiram em sessões semanais individuais com uma hora de duração. Todas as sessões foram gravadas em vídeo e, posteriormente, as cinco primeiras sessões do atendimento de Mauro e as três primeiras sessões do atendimento de Erik foram transcritas, obtendo-se como dados para a pesquisa, portanto, um total de oito sessões transcritas. A escolha das sessões iniciais fundamenta- se em dados da literatura que apontam para a importância da formação do vínculo entre terapeuta e cliente no início do processo, inclusive como preditor de bons resultados da terapia. Apesar de ter- se selecionado somente as gravações em vídeo das primeiras sessões para transcrição e análise, as crianças continuaram a ser atendidas pela terapeuta em TACI. Tratamento dos dados Na presente pesquisa, as categorias e subcategorias elaboradas constituem-se na primeira parte dos resultados. Essa elaboração se deu por meio da própria análise parcial dos dados (sessões transcritas). A segunda parte dos resultados apresenta o uso das categorias criadas na análise de todas as sessões. Sendo assim, o Tratamento de Dados a seguir também se subdivide em duas partes, enfocando: (a) o processo de adaptação de um sistema de categorias para análise de terapia infantil e (b) o processo de utilização desse sistema na análise de sessões. Para identificar as possíveis formas de interação terapeuta-cliente em função da brincadeira, o primeiro passo após a gravação das sessões foi a transcrição das mesmas – as cinco primeiras sessões do primeiro cliente (Mauro) e as três primeiras sessões do segundo cliente (Erik). Paralelamente, foi realizada uma busca, na literatura, de sistemas de categorização específicos à terapia infantil. Os sistemas encontrados, descritos na Introdução deste trabalho, apresentaram algumas limitações, principalmente por serem: 22 a) sistemas não-específicos para a terapia infantil; b) descrições amplas, difíceis de serem operacionalizadas e, portanto, difíceis de serem utilizadas para a classificação das sessões transcritas c) descrições ora topográficas, ora funcionais, ou uma mistura pouco sistemática de ambos; Apesar dessas limitações, optou-se por escolher um dos sistemas encontrados e verificar a eventual necessidade de adaptá-lo. Em função do foco na especificidade da TACI, do presente estudo, a lista de habilidades do terapeuta infantil de Silveira (2002), foi a primeira escolha, com as vantagens de contemplar categorias descritivas e envolver atividades lúdicas. A verificação da possível necessidade de adaptação das categorias de Silveira (2002) foi feita por meio de testagem, isto é, utilização do sistema para a categorização de trechos das sessões transcritas, analisando as dificuldades encontradas ao utilizá-lo. A testagem mostrou a necessidade de adaptação das categorias e produziu dois importantes resultados: (a) a identificação de que algumas categorias envolviam o brincar, enquanto que outras não; (b)a comparação do resultado da adaptação com outro sistema, o de Zamignani (2006, em elaboração). A partir da identificação de que somente algumas categorias envolviam o brincar, os episódios verbais das sessões transcritas foram subdivididos em: (a) lúdicos; (b) não-lúdicos. Em virtude do foco nos procedimentos lúdicos, foi realizada uma análise minuciosa dos episódios classificados como lúdicos, identificando que as falas da terapeuta e dos clientes assumiam diferentes relações com a brincadeira. Assim, emergiram quatro formas de interação em função do brincar, posteriormente denominadas de: Brincadeira-Lúdico; Cotidiano-Lúdico, Cotidiano Extra- Lúdico e Não-Lúdico. Posteriormente, em uma segunda análise, que abrangeiu todas as sessões transcritas, foram definidas seis categorias do brincar: (1) Brincadeira-Lúdico, (2) Fantasia-Lúdico, (3) Cotidiano-Lúdico, (4) Cotidiano Extra-Lúdico, (5) Brincadeira Não-Lúdico e (6) Não-Lúdico. A Tabela 1, a seguir, esquematiza a relação entre a fala e a ação, na definição das seis categorias, que combinavam o conteúdo geral da fala com o caráter lúdico ou não lúdico da interação: 23 Tabela 1. Relação entre o tema da fala e a ação na formação das Categorias do Brincar TEMA DA FALA AÇÃO Brincadeira Lúdico Fantasia Lúdico Cotidiano Lúdico Cotidiano Extra Lúdico Brincadeira Não-Lúdico (Qualquer) Não-Lúdico A viabilidade destas categorias foi testada por meio de sua utilização em uma nova tarefa de classificação dos episódios verbais, que se mostrou pertinente e, por isso, foi adotada neste estudo. A definição precisa e os exemplos de cada uma dessas categorias constitui um dos resultados do estudo e, portanto, serão apresentados adiante. A comparação entre as categorias de comportamentos do terapeuta adaptadas de Silveira (2002) e o sistema de Zamignani (2006, em elaboração) mostrou que a maioria das categorias era funcionalmente equivalente. Por exemplo, a categoria “Aprovação”, de Zamignani (2006, em elaboração) era equivalente a “Reforçar comportamentos adequados da criança”, em Silveira (2002), e assim por diante. Entretanto, concluiu-se que a utilização do sistema de Zamignani (2006, em elaboração) traria maiores benefícios, por ser um sistema mais completo, construído a partir de uma extensa análise da literatura, e com a adoção de critérios funcionais para a formulação das categorias do terapeuta, sem abandonar a importância da descrição da topografia dos comportamentos. Ainda que esse sistema não fosse específico para a terapia infantil, ele poderia ser utilizado para categorizar os comportamentos do terapeuta, já que, paralelamente, as seis formas de interação, em função do brincar, identificadas a partir das categorias de Silveira (2002), seriam utilizadas para analisar o brincar em TACI. A viabilidade do sistema de Zamignani (2006, em elaboração) para o presente trabalho foi também testada verificando-se a sua aplicabilidade na análise de trechos das sessões transcritas. Embora fosse possível o uso desse sistema, a testagem demonstrou serem necessárias algumas adaptações para a terapia infantil. Tal decisão foi baseada na: (a) identificação da ausência de 24 descrições de interações lúdicas nesse sistema e (b) constatação de que havia comportamentos bastante diferenciados da terapeuta sendo classificados em uma mesma categoria, o que parecia um indício de que algumas sutilezas não estariam sendo suficientemente discriminadas pelo sistema. Parte destas questões foi solucionada por meio de reuniões entre a pesquisadora, o autor do sistema e a supervisora de ambos. Nestas reuniões, decidiu-se empreender esforços no sentido de se chegar a um sistema único, em termos das classes mais gerais, explorando-se a possibilidade de adapta-lo à TACI por meio de subcategorias do terapeuta e do cliente e do acréscimo de categorias do brincar. Entendeu-se que esse consenso seria uma alternativa que eliminaria diversos problemas práticos que poderiam decorrer do uso de dois sistemas distintos, um para crianças e outro para adultos. No caso de crianças mais velhas e/ou adolescentes, por exemplo, qual sistema seria escolhido? Assim, foram realizadas as adaptações necessárias ao sistema, eliminando os problemas encontrados anteriormente no uso para categorização de terapia infantil. Esta alternativa baseou-se também na compreensão de que o sistema de Zamignani (2006, em elaboração), conforme o próprio autor, possibilita adaptação às especificidades da terapia sob análise. A elaboração de subcategorias atenderia, pois, à demanda de descrição do processo terapêutico infantil, foco do presente trabalho. Em função da necessidade de relacionar os comportamentos da terapeuta e as formas de interação lúdica com os comportamentos relevantes do cliente, procurou-se definir e classificar tais comportamentos. Na análise das categorias do cliente, com base no sistema proposto por Zamignani (2006, em elaboração), a categoria Oposição foi inicialmente escolhida uma vez que os dois clientes traziam a queixa de comportamentos externalizantes, aí incluído o comportamento-opositor. Em um segundo momento, a categorização de mais episódios verbais e dos resultados do CBCL mostrou que outros comportamentos também eram relevantes para a análise, além do comportamento opositor. Sendo assim, foi examinada também a possibilidade de uso das outras categorias propostas por Zamignani (2006, em elaboração), optando-se pelo uso de todas as suas categorias do cliente. Aqui, novamente, foram criadas subcategorias com base no próprio material transcrito, 25 detalhando especificidades dos comportamentos das crianças atendidas. Adicionalmente, foram selecionados quais desses comportamentos correspondiam à queixa de cada cliente, conforme definida pela terapeuta no Questionário de Objetivos Terapêuticos, e quais correspondiam à melhora de cada um. Em resumo, a primeira parte do tratamento de dados consistiu na definição das categorias do brincar e dos comportamentos do terapeuta e do cliente, o que levou à definição de categorias das formas de interação baseadas na brincadeira; à adaptação do sistema de Zamgnani (2006) a fim de unificar seu uso para os dois tipos de clientela (adulta e infantil) e à elaboração de subcategorias do cliente e do terapeuta. Para efetuar o tratamento dos dados das sessões transcritas foi inicialmente definida a unidade de análise. As sessões foram categorizadas considerando-se como unidade de análise uma seqüência de interação terapeuta-cliente (T-C), contendo uma verbalização do terapeuta e uma do cliente e iniciando-se sempre pelo comportamento do terapeuta. A unidade de análise foi constituída somente por comportamento do terapeuta ou somente do cliente quando: 1. O comportamento do terapeuta ou do cliente incluía uma seqüência de duas ou mais categorias; 2. A interação era iniciada pelo cliente; 3. O comportamento do terapeuta não era seguido pelo do cliente; 4. O comportamento do cliente, mesmo contíguo ao do terapeuta, estava evidentemente sob controle de outros estímulos que não o comportamento do terapeuta. As unidades de análise foram reescritas em um protocolo que previa a sua classificação em termos das categorias e subcategorias antes referidas, conforme o modelo a seguir. 26 Tabela 2. Modelo de Folha de Registro utilizada para a classificação das unidades de análise do comportamento do terapeuta e do cliente. N Unidade de Análise Categorias T Subcategorias T Brincadeiras Categorias C Subcategorias C T: (verbalização do terapeuta, se houver) C: (verbalização do cliente, se houver) (nome e número da categoria do terapeuta) (nome e número da subcategoria do terapeuta) (nome e número da categoria do brincar) (nome e número da categoria do cliente) (nome e número da subcategoria do cliente) : A planilha contemplavasete colunas: a) N ordenação numérica do episódio verbal, para organizar a análise (1, 2, 3, 4...) b) Unidade de análise c) Categorias T classificação da fala do terapeuta de acordo com as categorias do sistema de Zamignani (2006, em elaboração), por exemplo: Facilitação; Solicitação de relato; Confrontação etc. d) Subcategorias T classificação da fala do terapeuta de acordo com as subcategorias elaboradas para o presente estudo. e) Categorias C classificação da fala do cliente de acordo com as categorias do sistema de Zamignani (2006, em elaboração), por exemplo: Solicitação; Relato qualificativo; Concordância, etc. f) Subcategorias C classificação da fala do cliente de acordo com as subcategorias elaboradas no presente estudo. g) Brincadeiras classificação da brincadeira de acordo com as seis formas de interação lúdicas elaboradas no presente estudo. Além desses itens computados em planilha do Word, foram acrescentados outros quando da transposição desses dados para uma planilha do SPSS 13.0. Os itens adicionais incluíram: (a) Tipo de Episódio-Verbal: se este era constituído de fala do terapeuta e do cliente ou somente de um ou de outro; (b) Cliente: “1” para Mauro e “2” para Erik; (c) Sessão: numeração de qual era a sessão analisada (de 1 a 5 para Mauro e de 1 a 3 para Erik); (d) Subcategorias agrupadas do terapeuta: 27 agrupamento das subcategorias do terapeuta que ocorriam em mais de uma categoria; (e) Categorias de Queixa e Melhora: registro da ocorrência de comportamentos ou relatos de comportamentos da criança indicativos de sua queixa ou à sua melhora; (f) Subcategorias de Queixa e Melhora: registro de quais comportamentos estavam sendo classificados como “queixa” e como “melhora”; (g) Qualidade da relação terapêutica: agrupamento daquelas subcategorias do cliente que, pela definição, favoreceriam a qualidade da relação terapêutica e daquelas que não favoreceriam a relação. Com base nas planilhas então produzidas, as estratégias utilizadas para o tratamento de dados consistiram em: (a) análises descritivas da freqüência de ocorrência de cada categoria ou subcategoria; (b) análise da interação de uma categoria ou subcategoria com outra: categorias e subcategorias do terapeuta x categorias e subcategorias do cliente; categorias e subcategorias do terapeuta e do cliente x categorias do brincar; categorias e subcategorias do terapeuta, do cliente e do brincar x qualidade da relação terapêutica e comportamentos de queixa e de melhora do cliente; qualidade da relação terapêutica x comportamentos de queixa e de melhora do cliente. (c) Ilustração gráfica por meio de figuras, comparando-se as diferentes sessões, os diferentes tipos de categorias e subcategorias e os diferentes clientes; (d) Agrupamentos de categorias após a elaboração do sistema: conforme a freqüência relativa com que ocorreram, conforme a potencial contribuição ao processo terapêutico etc. A apresentação dos resultados a seguir foi orientada por uma lista de perguntas a respeito de todos os itens anteriores: 1 – Perguntas sobre as categorias e subcategorias do terapeuta: (a) Quais os comportamentos mais freqüentes da terapeuta? Há mudança ao longo das sessões / entre clientes? (b) Que tipos de comportamentos dos clientes seguem-se aos comportamentos da terapeuta? (c) Qual é a freqüência de subcategorias do terapeuta? 28 (d) Quais comportamentos dos clientes sucedem os comportamentos da terapeuta, de acordo com as subcategorias construídas neste estudo? (e) A distribuição de freqüência de comportamentos da terapeuta está de acordo com os objetivos definidos por ela no Questionário de Objetivos Terapêuticos? 2 – Perguntas sobre categorias e subcategorias do cliente: (a) Quais os comportamentos mais freqüentes do cliente? Há mudança ao longo das sessões? (b) Qual é a freqüência dos comportamentos de queixa e melhora do cliente? Há mudança ao longo das sessões? (c) Há relação entre comportamentos classificados como queixa e melhora e as categorias e subcategorias de comportamentos antecedentes da terapeuta? (d) Há mudança na freqüência de comportamentos do cliente que favorecem e que não favorecem para a qualidade imediata da relação, ao longo das sessões? Há associação entre esses comportamentos e os comportamentos de queixa e melhora? 3 – Perguntas sobre as categorias do brincar: (a) Qual é a freqüência de cada categoria do brincar nas terapias de Mauro e Erik? Há mudanças ao longo das sessões? (b) Como se caracterizam os comportamentos da terapeuta em cada tipo de interação lúdica? (c) O que as subcategorias do terapeuta elaboradas no presente estudo acrescentam à análise anterior? (d) Qual a relação entre as Categorias do Brincar e as Categorias do Cliente propostas por Zamignani (2006, em elaboração)? (e) Qual Categoria do Brincar propicia mais comportamentos que favorecem e que não favorecem a qualidade imediata da relação terapêutica? (f) Qual tipo de interação lúdica propicia maior ocorrência de comportamentos queixa? E de melhora? 29 RESULTADOS E DISCUSSÃO Conforme já referido anteriormente, os produtos do presente estudo constituem dois conjuntos mais amplos: (1) a adaptação do Sistema de Categorias de Zamignani (2006, em elaboração) para a análise das sessões de Terapia Analítico-Comportamental Infantil e (2) os resultados obtidos por meio do uso do sistema adaptado, a oito sessões terapêuticas conduzidas junto a dois clientes. Entende-se que o sistema de análise utilizado neste estudo é uma tecnologia construída e que, portanto, deve ser considerada como Resultado, enquanto que o processo dinâmico que levou a essa elaboração é o seu Método. O uso desta tecnologia para a análise das sessões transcritas consiste em uma segunda etapa dos Resultados, que não apenas caracteriza o processo de terapia infantil, mas também demonstra a aplicabilidade desta tecnologia. A adaptação do Sistema de Categorias Zamignani (2006, em elaboração) para a analise da Terapia Comportamental Infantil resultou em três conjuntos de categorias: (a) as categorias do brincar; (b) as categorias de comportamentos do terapeuta, (c) as categorias de comportamentos do cliente. As categorias do brincar foram parcialmente inspiradas, em sua origem, no estudo de Silveira (2002). As categorias do terapeuta e do cliente foram baseadas no sistema de Zamignani (2006, em elaboração), que as elaborou com vistas à terapia comportamental com clientes adultos. Assim, a adaptação deste sistema ao contexto de terapia infantil implicou em elaboração de subcategorias de modo a atender à especificidade das condições que ocorrem na terapia com crianças. A seguir, estão listadas todas as categorias de comportamentos do terapeuta elaboradas por Zamignani (2006, em elaboração), para a Terapia Analítico-Comportamental com adultos. Além de uma breve definição de cada categoria (para a definição detalhada, ver Anexo 2), estão descritas as adaptações sugeridas neste estudo para a utilização em TACI, com exemplos ilustrativos extraídos da transcrição de oito sessões (cinco referentes ao atendimento de Mauro e três referentes a Erik). 30 A análise das transcrições indicou que, sob uma mesma categoria definida por Zamignani (ainda não adaptada), estavam sendo agrupados comportamentos do terapeuta que solicitavam ou se referiam a diferentes classes de comportamentos do cliente, que se apresentavam sob topografias bastante diferenciadas ou ainda, que permitiam a inferência de um procedimento específico do terapeuta (com base na história prévia de interação terapêutica, nas informações disponíveis sobre o cliente e, principalmente, na análise de antecedentes e conseqüentes imediatos da interação). Entendeu-se que a identificação dessa diversidade, por meio da elaboração de subcategorias, poderia ser essencial para definir e caracterizar a categoria
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