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SUMÁRIO 1. Introdução ..................................................................... 3 2. Abordagem do paciente ......................................... 5 3. Anamnese do paciente idoso ............................... 8 4. Exame físico do paciente idoso – Ectoscopia, sinais vitais e pele .................................13 5. Exame físico do paciente idoso – Cabeça e pescoço .........................................................................15 6. Exame físico do paciente idoso – Tórax .........21 7. Exame físico do paciente idoso – Abdome, exame proctológico e urológico...............................26 8. Exame físico do paciente idoso – Membros superiores, coluna e membros inferiores .............31 9. Exame físico do paciente idoso - Exame neurológico ......................................................................34 Referências Bibliográficas ........................................42 3PROPEDÊUTICA DO IDOSO 1. INTRODUÇÃO A avaliação dos adultos mais velhos tem várias características únicas em comparação com o formato habitual da história e exame físico. Ela exige técnicas de entrevista aprimoradas, especial ênfase em determinados te- mas e foco na avaliação funcional. Frequentemente encontramos em idosos manifestações atípicas de doenças comuns: no infarto agudo do miocárdio, por exemplo, o pacien- te pode se apresentar com fraqueza, dispneia, síncope e vômitos e não ter dor torácica. Tal fato pode tornar difícil o reconhecimento destas condições. Torna-se, por esta razão, de suma importância conhecer como o orga- nismo idoso pode influenciar nas ma- nifestações clínicas, bem como quais são as manifestações mais comuns das condições mais frequentes nos idosos. Não menos importante é o conhecimento das particularidades terapêuticas nos idosos. O cuidado com o paciente idoso é in- fluenciado por diversas condições; a multimorbidade, ou seja, a coexis- tência de múltiplas condições crôni- cas ou agudas em uma pessoa, im- plica na potencialização de agravos à saúde; é também um grande fator de risco para a polifarmácia, isto é, a utilização concomitante de mais de três medicamentos de uso diário. A polifarmácia leva a um grande ris- co de efeitos colaterais e interações medicamentosas indesejáveis. Aten- ção a estes fenômenos e um bom conhecimento de aspectos funda- mentais da farmacologia do idoso (farmacocinética e farmacodinâmica) são muito importantes. Algumas das condições comuns em idosos são: • Demência: síndrome caracteriza- da por disfunções permanentes em vários domínios da função cog- nitiva, como memória, habilidade visuo-espacial, linguagem e cog- nição. A incidência e a prevalência de síndromes demenciais apre- sentam correlação positiva com a idade; as mais comuns são a do- ença de Alzheimer e as demências vasculares. • Delirium: comumente chamado de estado confusional agudo, é particularmente comum em ido- sos; trata-se de uma síndrome orgânica aguda com redução no nível de consciência e na percep- ção de estímulos ambientais, com variáveis déficits cognitivos. Seu reconhecimento se constitui geral- mente em um desafio para o médi- co, uma vez que sua apresentação clínica é muito variável. Como en- volve sofrimento para o paciente e sua família, além de ocultar causas potencialmente graves, o reconhe- cimento do delirium e a interven- ção apropriada são fundamentais. 4PROPEDÊUTICA DO IDOSO • Depressão: doença extremamente incapacitante, independentemen- te de faixa etária. Seu reconheci- mento pode ser difícil em idosos dadas as apresentações clínicas particulares da depressão nestas pessoas. Sua prevalência em pa- cientes idosos varia de acordo com os critérios de estudo, mas tem sido reconhecido que algum grau de depressão é comum em idosos provenientes da comunidade, pre- valência esta que varia de acordo com o local de pesquisa, chegando a uma prevalência de 40% em ido- sos internados. • Instabilidade e quedas: em ido- sos, podem constituir marcadores de perda de função ou saúde ruim, necessitando frequentemente de avaliação cuidadosa. Além disso, as quedas em si podem levar a consequências físicas e psicológi- cas importantes. Diversas estra- tégias têm sido descritas e avalia- das para sua prevenção, tornando importante a atenção do médico e dos demais profissionais para esta importante síndrome geriátrica. • Incontinência urinária: perda in- voluntária de urina, levando a um problema higiênico e social ao qual os idosos são especialmente vul- neráveis. Suas consequências de- vem ser consideradas dos pontos de vista clínico e psicossocial, dado o impacto no relacionamento social e sexual e nas atividades externas ao lar, constituindo, inclusive, fator de risco para depressão. SAIBA MAIS! Os idosos são vítimas em número significativo de síndromes semelhantes, independente- mente de doenças específicas, denominadas gigantes da geriatria. Descritas inicialmente por Isaacs, as grandes síndromes geriátricas não incluíam a incapacidade comunicativa e a in- suficiência familiar. A sua inclusão deve ser contemplada, pois são síndromes frequentes e que atuam diretamente na saúde do idoso, totalizando os 7 “Is” da Geriatria: Incapacidade cognitiva, instabilidade postural, imobilidade, incontinência esfincteriana, incapacidade comu- nicativa, iatrogenia, insuficiência familiar . SE LIGA! O exame clínico é o único método que pos- sibilita uma avaliação global do paciente idoso. Sua estrutura geral e as técnicas básicas são as mesmas usadas para qualquer paciente, mas é necessário le- var em conta as modificações anatômicas e funcionais que acompanham o processo de envelhecimento a fim de se realizar um exame clínico adequado e interpretar corretamente os dados obtidos. 5PROPEDÊUTICA DO IDOSO 2. ABORDAGEM DO PACIENTE Ao entrevistar adultos mais velhos, é preciso modificar a abordagem usual para fazer a anamnese. Como em to- dos os pacientes, o profissional deve transmitir respeito, paciência e cons- cientização cultural. É importante chamar o paciente pelo nome. Em primeiro lugar, é importante adap- tar o ambiente do consultório, hos- pital ou casa de repouso para deixar o paciente à vontade. É importante lembrar as alterações fisiológicas na regulação da temperatura e garantir que o local não esteja frio demais nem quente demais. Uma boa iluminação ajuda a compensar as alterações nas proteínas dos cristalinos e possibilita que o adulto mais velho veja mais cla- ramente os gestos e as expressões faciais do profissional de saúde. É im- portante olhar o paciente de frente e com os olhos na mesma altura. Mais de 50% dos adultos mais velhos têm déficits auditivos, especialmente para os tons de frequência mais ele- vada, portanto, escolha uma sala si- lenciosa sem distrações ou ruído. O profissional deve falar baixo e pausa- damente e verificar se o paciente está usando seus óculos, próteses auditi- vas e próteses dentárias para promo- ver a boa comunicação. No atendimento de um idoso (seja no consultório, no hospital, no pronto- -socorro, no asilo ou no domicílio), é MAPA MENTAL: PROPEDÊUTICA DO IDOSO Propedêutica do idoso Manifestações atípicas de doenças Particularidades terapêuticas Multimorbidade Polifarmácia Condições comuns Demência Delirium Depressão Instabilidade e quedas Incontinência urinária 6PROPEDÊUTICA DO IDOSO frequente a presença de um ou mais acompanhantes, e o médico deve estar preparado para ouvi-los, levar em conta as suas informações, e, se for o caso, discutir com eles o prog- nóstico e as decisões diagnósticas ou terapêuticas, porém sem alijar o idoso dessa relação, por mais frágil e inca- pacitado que ele seja. A presença de muitos acompanhantes certamente diminuirá o tempo de que o médico dispõe para conversar com o paciente, mas, nos casos de pacien- tes com deficiência cognitiva ou sen- sorial, eles podem ser fontes valiosas de informações e estímulo à adesão ao plano terapêutico. Entretanto,em alguns casos, o acompanhante pode querer tomar o lugar do paciente du- rante a entrevista, respondendo por ele todas as perguntas. Cabe ao mé- dico, então, intervir para garantir os direitos do paciente no que se refere ao relato de seus padecimentos e sua privacidade e autonomia. Não raro ocorrem divergências entre os acompanhantes durante a consul- ta, podendo o médico ter de contor- ná-las e buscar o consenso. Por fim, convém ressaltar que a presença de qualquer acompanhante deve ser au- torizada pelo paciente quando for ca- paz de tomar essa decisão ou por seu responsável legal quando não for. SE LIGA! Nas consultas podemos ter familiares, cuidadores e outros tipos de acompanhantes. Os cuidadores são as pessoas que assistem o idoso em suas atividades da vida diária e podem ser especialmente contratados para essa fi- nalidade, sendo então chamados de cui- dadores formais. A anamnese de adultos mais velhos demanda sagacidade do profissional de saúde: eles podem subnotificar, de modo consciente ou inconsciente, seus sinais e sintomas; o quadro das doenças agudas pode ser diferente dos pacien- tes mais jovens; sinais e sintomas co- muns podem mascarar uma síndrome geriátrica ou os pacientes podem apre- sentar comprometimento cognitivo. Algumas particularidades estão pre- sentes no idoso: • Subnotificação: os pacientes mais velhos tendem a dar avaliações mais positivas para sua saúde ge- ral do que os adultos mais jovens, mesmo quando afetados por do- ença e incapacidade. Alguns re- lutam em relatar seus sintomas. Alguns sentem medo ou emba- raço, enquanto outros tendem a evitar despesas com exames ou o desconforto associado ao diag- nóstico e ao tratamento. Outros menosprezam seus sinais e sin- tomas, atribuindo-os ao envelhe- cimento ou simplesmente esque- cendo-os. Para minimizar o atraso no diagnóstico e no tratamento, é 7PROPEDÊUTICA DO IDOSO importante fazer perguntas diretas, usar ferramentas de rastreamento geriátrico bem-validadas e consul- tar com os familiares e cuidadores. • Apresentações atípicas das do- enças: as doenças agudas se ma- nifestam de modo diferente nos idosos. É menos provável que adultos mais velhos com proces- sos infecciosos apresentem febre. Pacientes idosos com infarto agu- do do miocárdio têm menos pro- babilidade de relatar dor no peito; sintomas atípicos ou nenhuma dor no peito, falta de ar, palpitações, síncope e confu- são são mais co- muns. Pacientes idosos com hi- pertireoidismo e hipotireoidismo têm menos sinais e sintomas. • Síndromes ge- riátricas: o tra- tamento de um número crescente de condições in- ter-relacionadas demanda o reco- nhecimento dos grupos de sinais e sintomas das diferentes síndro- mes geriátricas. Uma síndrome geriátrica é “uma condição multifatorial que envolve a interação de estressores em situ- ações específicas que podem ser identificados e fatores de risco re- lacionados com a idade subjacen- tes, resultando em danos em múl- tiplos sistemas de órgãos”. Essas síndromes são fortemente ligadas a declínio funcional. Os exemplos incluem tontura, bem como com- prometimento funcional, fragili- dade, delirium, depressão, com- prometimento cognitivo, quedas e incontinência urinária. Fatores de risco compartilhados Aumento da idade Comprometimento cognitivo Comprometimento funcional Comprometimento da mobilidade FRAGILIDADE Síndromes geriátricas Incontinência Quedas Úlceras de decúbito Delirium Declínio funcional Desfechos ruins Dependência Incapacidade Institucionalização Morte Figura 1. Síndromes geriátricas. Fonte: Bates, propedêutica médica, 12 ed, 2018 8PROPEDÊUTICA DO IDOSO SAIBA MAIS! Como tornar efetiva a comunicação com os adultos mais velhos? • O ambiente deve ser bem iluminado e moderadamente aquecido com um mínimo de ruído de fundo, cadeiras com apoio para os braços e acesso seguro à mesa de exame; • Fique de frente para o paciente e fale de modo pausado e baixo; verifique se o paciente está usando óculos, próteses auditivas e próteses dentárias, se ele precisar; • Ajuste o ritmo e o conteúdo da entrevista ao vigor do paciente; pense em fracionar a ava- liação inicial em duas consultas; • Dê tempo ao paciente para responder perguntas abertas e fazer reminiscências; inclua os familiares e os cuidadores quando for indicado, sobretudo se o paciente apresentar comprometimento cognitivo; • Faça uso de ferramentas de rastreamento, do prontuário do paciente e dos relatos dos outros profissionais de saúde; • Avalie cuidadosamente as manifestações clínicas, sobretudo fadiga, perda de apetite, tontura, perda ponderal e dor, à procura de indícios de distúrbios subjacentes e síndromes geriátricas. Dê instruções escritas em letras de forma grandes para facilitar a leitura; • Sempre dê ao paciente uma receita atualizada que inclua o nome do medicamento, a do- sagem, as instruções de uso e o motivo da prescrição do fármaco. MAPA MENTAL: ABORDAGEM DO PACIENTE Adaptar ambiente Adaptar temperatura Boa iluminação Ambiente silencioso Olhar paciente de frente e na mesma altura Falar baixo e pausadamente verificando se o paciente está entendendo Presença de acompanhante Ouvir acompanhante e incluir na discussão Não alijar idoso da relação Garantir ao idoso privacidade e autonomia Particularidades Subnotificação Apresentações atípicas das doenças Síndromes geriátricas Comprometimento cognitivo 3. ANAMNESE DO PACIENTE IDOSO A anamnese é, e sempre será, a base para se cuidar de um paciente. No caso dos idosos, não é diferente. SE LIGA! O principal fator que faz o pa- ciente seguir as recomendações – fazer exercícios físicos, modificar hábitos ali- mentares – e as prescrições é a boa re- lação médico-paciente. Quando se con- segue despertar confiança no paciente, inicia-se o que se chama de aliança te- rapêutica, indispensável para prestar o cuidado adequado aos pacientes idosos. As particularidades mais comuns da anamnese do paciente idoso são: 9PROPEDÊUTICA DO IDOSO • O paciente informa pouco sobre sua doença, seja porque a aceita como inevitável, seja por consi- derar seus sintomas uma conse- quência natural do processo de envelhecimento; • O paciente fica intimidado pela pressa manifestada pelo médico; • O paciente esconde os sintomas ou nega a doença por não querer fazer exames ou ser internado, ou até por receio de ter gastos; • O processo de envelhecimento pode alterar as manifestações clíni- cas de muitas doenças, por exem- plo: diminuição do limiar da dor nos casos de infarto do miocárdio, ab- dome agudo e fratura óssea; • Em indivíduos muito idosos ou frágeis, várias doenças podem manifestar-se de maneira atípica, inclusive em condições agudas que demandem atendimento de urgência. Os tipos mais comuns de apresentações atípicas são o delirium (confusão mental aguda), as quedas e a perda funcional. As doenças que mais se manifes- tam de maneira atípica são as in- fecções (pneumonias, infecções urinárias), os efeitos adversos de medicamentos (principalmente psicotrópicos) e as doenças car- diovasculares (insuficiência cardía- ca, infarto agudo do miocárdio); • Múltiplas doenças – o que é fre- quente em idosos – interagem entre si, tornando mais complexa a elaboração da história clínica, mascarando sintomas e dificultan- do o raciocínio diagnóstico. Ter co- nhecimento das doenças preexis- tentes facilita a compreensão das manifestações clínicas, que podem ser atípicas quando ocorrem com- plicações ou novas afecções; • Nunca deixar de tomar conheci- mento dos medicamentos em uso pelo paciente, inclusive os usados por conta própria (automedicação é muito comum em idosos). Tan- to podem interferir nas manifes- tações clínicas como ser respon- sáveis principais pelos sintomas relatados pelo paciente. Faça um inventário rigoroso e, se possível, verifique pessoalmente as emba- lagens dos medicamentos, ano- tando as doses e os horários em que são usados. O inventário me- dicamentoso tambémé chamado de “teste da sacola de remédios”. 10PROPEDÊUTICA DO IDOSO Figura 2. Teste da sacola de remédios. Fonte: Bates, propedêutica médica, 12 ed, 2018 A anamnese deve ser realizada pes- quisando todos os sistemas orgânicos como no adulto jovem. Enfatizam-se, porém, os seguintes aspectos: • Deficiência de memória imediata, recente e remota; • Deficiência auditiva; • Deficiência visual; • Transtornos do comportamento, como agressividade, irritabilida- de, desinibição, atitude sexual ou social inapropriada, deambulação compulsiva, apatia, isolamento; • Alterações da marcha e necessi- dade de uso de dispositivos auxi- liares como bengala e andador; • Alterações da mobilidade, flexibi- lidade e força muscular em mem- bros e tronco; • Tontura, vertigem e síncope; • Episódios de quedas, avaliando o número e as situações facilitado- ras ou desencadeadoras; • Traumatismos; • Alterações do nível de consciência; • Afecções da cavidade oral, estado de conservação dos dentes, alte- rações de gengivas e mucosas, presença e adaptação de próteses, ferimentos, tumores, úlceras, dor e dificuldade ao mastigar; • Distúrbios alimentares; • Necessidade de dietas especiais; • Perda ou ganho de peso; • Modificações no padrão do sono: sonolência diurna; insônia ini- cial, intermediária ou final; agita- ção noturna; terror noturno; pe- rambulação noturna; apneia do sono; pernas irrequietas; sono não restaurador; Solicitar no agendamento da consulta que o paciente ou o acompanhante traga uma sacola com todos os medicamentos em uso pelo paciente Mostrar cada medicamento e perguntar a posologia, há quanto tempo usa e para que foi indicado Perguntar sobre outros medicamentos utilizados recentemente (último mês) e sobre a suspensão ou mudança de dosagem de algum medicamento Perguntar sobre o uso de medicação injetável, tópica ou aerossóis, de remédios naturais, fitoterápicos, vitaminas e sobre a automedicação Insistir sobre o uso de: analgésicos, anti- inflamatórios, sedativos e hipnóticos, antivertiginosos, antigripais e antialérgicos Perguntar sobre a relação entre a introdução, aumento ou redução de dose e suspensão de algum medicamento com: • Declínio funcional • Confusão mental • Quedas • Incontinência 11PROPEDÊUTICA DO IDOSO • Fadiga crônica; • Disfunções sexuais; • Incontinência urinária; • Incontinência fecal; • Sintomas depressivos; • Sintomas de ansiedade; • Úlceras de pressão (escaras). HORA DA REVISÃO! A avaliação funcional do idoso avalia os seguintes parâmetros: • Força muscular; • Função cognitiva; • Condições emocionais; • Disponibilidade e adequação de su- porte familiar e social; • Condições ambientais; • Capacidade para executar as ativi- dades da vida diária; • Capacidade para executar as ativi- dades instrumentais da vida diária. Os objetivos da avaliação funcional são: • Melhorar a precisão diagnóstica; • Determinar o grau e a extensão da incapacidade (motora, mental e cognitiva); • Servir de guia para a escolha de me- didas que visam restaurar e preservar a saúde (farmacoterapia, fisioterapia, terapia ocupacional, psicoterapia); • Identificar fatores que predispõem à iatrogenia e estabelecer medidas para sua prevenção; • Estabelecer critérios para a indicação de internação e institucionalização. É importante ressaltar que não se pode separar a avaliação funcional do idoso de uma cuidadosa avaliação clínica. Tudo começa pela anamnese, sendo que mui- tas vezes um cuidador ou familiar deve ser solicitado a fornecer informações ou completar as do paciente. 12PROPEDÊUTICA DO IDOSO MAPA MENTAL: ANAMNESE DO PACIENTE IDOSO ANAMNESE Pesquisar todos os sistemas orgânicos como no jovem Enfatizar Deficiência de memória, auditiva ou visual Alterações da mobilidade, flexibilidade e força muscular Alterações do nível de consciência Modificações no padrão do sono Incontinência urinária e fecal Transtornos do comportamento Tontura, vertigem e síncope Afecções da cavidade oral Fadiga crônica Sintomas depressivos ou de ansiedade Alterações da marcha e necessidade de dispositivos auxiliares Episódios de queda e traumatismos Distúrbios alimentares e necessidade de dietas especiais Disfunções sexuais Úlceras de pressão Perda ou ganho de peso 13PROPEDÊUTICA DO IDOSO 4. EXAME FÍSICO DO PACIENTE IDOSO – ECTOSCOPIA, SINAIS VITAIS E PELE Ectoscopia Como o paciente entra na sala, como ele caminha até a cadeira? Como ele andou até a mesa de exame? Existem alterações da postura ou movimentos involuntários? Observe a higiene e o vestuário do paciente. Avalie o esta- do de saúde aparente, o grau de vi- talidade, o humor e o afeto. Durante a conversa com o paciente, decida se é necessário rastreamento de altera- ções cognitivas. NA PRÁTICA! Desnutrição, desempe- nho do motor alentecido, perda de mas- sa muscular ou fraqueza sugerem fragi- lidade. Cifose ou marcha anormal podem prejudicar o equilíbrio e aumentar o risco de quedas. Afeto empobrecido ou apá- tico ocorre na depressão, na doença de Parkinson, e na doença de Alzheimer. Sinais vitais Afira a pressão arterial segundo as técnicas recomendadas, verificando se a pressão arterial sistólica (PAS) está aumentada e se há alargamento da pressão diferencial, definida como a PAS menos a pressão arterial dias- tólica (PAD). Com o envelhecimento, a PAS e a resistência vascular periférica aumentam, enquanto a PAD diminui. Avalie se o paciente apresenta hi- potensão ortostática, definida como queda da PAS ≥ 20 mmHg ou PAD ≥ 10 mmHg nos 3 minutos seguintes à adoção da posição ortostática. Afira a pressão arterial e a frequência cardía- ca em duas posições: decúbito dorsal depois de o paciente repousar por até 10 min e 3 min após levantar. SE LIGA! A hipotensão ortostática ocor- re em 20% dos adultos mais velhos e em até 50% dos residentes frágeis de asilos, especialmente quando eles le- vantam do leito pela manhã. Os sinais e sintomas incluem sensação de des- maio, fraqueza muscular, instabilidade, borramento visual e, em 20 a 30% dos pacientes, síncope. As causas incluem medicamentos, transtornos autônomos, diabetes melito, repouso prolongado no leito, depleção de volume, amiloidose e distúrbios cardiovasculares. Afira a frequência cardíaca, a frequ- ência respiratória e a temperatura corporal. A frequência cardíaca api- cal muitas vezes possibilita melhor detecção de arritmias em pacientes mais velhos do que o pulso radial. Use termômetros acurados para tem- peraturas mais baixas. A hipotermia é mais comum em pacientes mais ve- lhos. Verifique a saturação de oxigê- nio por meio de oxímetro de pulso. O peso corporal e a altura são espe- cialmente importantes nos idosos e são dados necessários para o cálculo do índice de massa corporal (IMC). O peso também é uma medida clínica 14PROPEDÊUTICA DO IDOSO para os pacientes com insuficiência cardíaca e doença renal crônica. O peso corporal deve ser verificado em cada consulta, de preferência sem calçados. SE LIGA! O baixo peso é um indica- dor crucial de desnutrição, ocorrendo na depressão, no alcoolismo, no com- prometimento cognitivo, nos processos malignos, na falência orgânica crônica (cardíaca, renal, pulmonar), no uso de medicamentos, no isolamento social, no edentulismo e na pobreza. Aumento di- ário rápido do peso corporal ocorre na sobrecarga hídrica. Pele Observe alterações fisiológicas do envelhecimento, tais como adelgaça- mento, perda de tecido elástico e do turgor e enrugamento. A pele pode estar ressecada, descamativa, espes- sada e, com frequência, pruriginosa (asteatose), com um padrão reticu- lado de fissuras rasas que criam um mosaico de pequenos polígonos, es- pecialmente nos membros inferiores. Devem-se procurar alterações he- terogêneas da coloração da pele. É importante examinar as faces exten- soras das mãos e dos antebraços à procura de lesões despigmentadas brancas (pseudocicatrizes) e de má- culas ou manchas violáceasintensas (púrpura actínica), que desaparecem após algumas semanas. Figura 3. Púrpura actínica no antebraço. Fonte: Bates, propedêutica médica, 12 ed, 2018 Verifique se há alterações secundá- rias à exposição ao sol; áreas da pele com aspecto ressecado, espessadas, amareladas e profundamente sulca- das; podem existir lêntigos actínicos ou “manchas senis”, e queratoses ac- tínicas, pápulas achatadas superfi- ciais coberta por escamas secas. Inspecione à procura de lesões benig- nas do envelhecimento, a saber: co- medões abertos nas regiões malares ou em torno dos olhos; hemangiomas ou angiomas rubi, que frequentemen- te surgem no adulto jovem; e quera- toses seborreicas, lesões amareladas elevadas que são oleosas à palpação e aveludadas ou verrucosas. NA PRÁTICA! Diferencie essas lesões de um carcinoma basocelular, um nó- dulo translúcido que se espalha e forma um centro deprimido com borda elevada firme, e de um carcinoma espinocelular, uma lesão de consistência firme aver- melhada que surge frequentemente em uma área exposta ao sol. Uma lesão es- cura, assimétrica e elevada com bordas irregulares pode ser um melanoma. 15PROPEDÊUTICA DO IDOSO Procure vesículas dolorosas na dis- tribuição de dermátomos. Lesões ve- siculares que se distribuem segundo dermátomos levantam a suspeita de herpes-zóster consequente a reati- vação do vírus varicela-zóster latente nos gânglios da raiz dorsal. No caso de pacientes mais velhos e acamados, especialmente aqueles emaciados ou com comprometimento neurológico, inspecione a pele à pro- cura de lesões ou ulceração no sacro e na área perianal, na região lombar, nos tornozelos e nos cotovelos, onde as úl- ceras de pressão comumente ocorrem. MAPA MENTAL: ECTOSCOPIA, SINAIS VITAIS E PELE Ectoscopia Sinais vitais Pele Estado de saúde aparente Grau de vitalidade Humor e afeto Alterações cognitivas ↑ PAS e ↓ PAD Pesquisar hipotensão ortostática Aferir FC, FR e temperatura Medir peso e altura Pesquisar alterações heterogêneas da coloração da pele Pesquisar alterações secundárias à exposição ao sol Pesquisar lesões benignas do envelhecimento e diferenciar de câncer de pele Pesquisar lesões e ulcerações em sacro, região perianal, lombar, tornozelos e cotovelos 5. EXAME FÍSICO DO PACIENTE IDOSO – CABEÇA E PESCOÇO Cabeça Os distúrbios da face podem envol- ver a face como um todo ou apenas parte dela. Se uma anormalidade não é visível, olhe cuidadosamente para toda a face. O exame cuidadoso dos olhos faz parte do exame físico do paciente idoso e consiste na avaliação da acui- dade visual, dos campos visuais, dos movimentos oculares e das estrutu- ras externas e internas do olho. À inspeção, deve-se atentar para o exame das pálpebras, da conjuntiva, da esclerótica, da córnea, das pupilas e da íris. 16PROPEDÊUTICA DO IDOSO Pálpebras: • Ptose palpebral: pode ser uni ou bilateral. As causas mais frequen- tes nessa faixa etária são a ptose senil e a secundária à paralisia do terceiro par craniano. • Xantelasma: pode ser indicativo de hiperlipidemia, embora a maior parte dos pacientes com esse pro- blema não apresente o xantelasma; • Ectrópio: eversão palpebral; • Entrópio: inversão palpebral. Conjuntiva: • Icterícia: é mais bem visualizada nas escleróticas e no palato. Nos indivíduos negros, a esclerótica pode ter cor ligeiramente amarelada, não apresentando significado patológico; • Anemia: o achado físico mais ca- racterístico de anemia é a palidez cutaneomucosa. Embora a palidez seja demonstrável em todas as áre- as expostas do corpo, a conjuntiva, as palmas das mãos, a mucosa oral e os leitos ungueais são, em geral, as áreas mais representativas. Córnea: • Arco senil: consiste em um anel esbranquiçado no perímetro da córnea, sendo um achado comum no envelhecimento normal, sem significado patológico Figura 4. Arco senil. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Arco_senil 17PROPEDÊUTICA DO IDOSO • Pupilas: a pupila do idoso é carac- teristicamente menor, sendo fre- quentemente observadas peque- nas diferenças de tamanho entre as duas. O tempo de relaxamento e acomodação aumenta progressi- vamente com o passar dos anos; todavia, a reação pupilar à luz é preservada nos idosos. • Síndrome de Horner: na paralisia do simpático cervical, ocorre mio- se no lado afetado, podendo asso- ciar-se a ptose e enoftalmia. Íris: • Prolapso da íris: secundário à com- plicação de cirurgia de catarata, ainda pode ser ocasionalmente encontrado em idosos. • Movimentação ocular: aproxima- damente um terço dos idosos apre- senta anormalidades do desvio conjugado do olhar para cima, na ausência de doença neurológica. • Fundo de olho: o papiledema é inco- mum em lesões expansivas intrace- rebrais no idoso. Sua detecção nesta faixa etária normalmente é prejudi- cada pela coexistência de catarata e dilatação inadequada das pupi- las. Logo, sua ausência não exclui o diagnóstico de lesão intracraniana. O exame cuidadoso da cavidade oral, que constitui parte obrigatória do exame do paciente idoso, é um método simples e eficaz para detectar tanto en- fermidades benignas quanto malignas. Ao examinar a cavidade oral, deve- -se iniciar pelos lábios, pedindo que o paciente retire as próteses dentá- rias. Avalia-se, então, a mucosa da cavidade oral, a gengiva, os dentes, a língua, o vestíbulo e os palatos mole e duro. É preciso observar a colora- ção da mucosa, sua pigmentação, a presença de ulcerações, de gengivite ou de outras lesões da gengiva, bem como o estado dos dentes. A cianose generalizada ou universal, observada nos lábios, ocorre princi- palmente nas doenças pulmonares e cardíacas. É aconselhável procurar sempre por evidências sugestivas de malignidade, como úlceras que não cicatrizam, eritroplasia e lesões que sangram facilmente. NA PRÁTICA! O carcinoma de células escamosas é a neoplasia mais frequen- te da cavidade oral e se localiza, prefe- rencialmente, na superfície lateral e dor- sal da língua, no assoalho da boca e no palato. Figura 5. Carcinoma de células escamosas na cavidade oral. Fonte: https://www.msdmanuals. com/ 18PROPEDÊUTICA DO IDOSO As lesões benignas mais comumen- te encontradas são: • Úlceras bucais traumáticas secun- dárias a dentaduras, dentes fratu- rados e/ou restaurações. • Aftas (cada vez menos prevalen- tes após os 50 anos de idade). • Veias varicosas na parte ventral da língua (sem significado patológico). • Estomatite induzida por dentadu- ras (alterações inflamatórias locali- zadas sob as dentaduras). • Estomatite angular. • Cáries dentárias e/ou doença pe- riodontal nos que mantiveram os dentes naturais. As placas brancas encontradas nas gengivas e na mucosa jugal podem ser secundárias ao líquen plano, à leu- coplasia e/ou à candidíase. Se pude- rem ser removidas por uma espátula, sugere candidíase; caso contrário, o paciente deve ser encaminhado a um especialista, já que pode se tratar de lesões pré-malignas. Na língua deve-se procurar por glos- site e atrofia da mucosa, que podem sugerir deficiência vitamínica e ane- mia. O exame da língua é importan- te na detecção de várias doenças neurológicas. HORA DA REVISÃO! Os nervos cranianos IX (glossofaríngeo), X (vago) e XII (hipoglosso) são avaliados na cavidade oral. Os nervos cranianos IX e X são testados em conjunto, obser- vando-se o movimento do palato e o re- flexo do vômito quando a espátula toca o terço posterior da língua, o palato mole e/ou a parede posterior da faringe. O IX par craniano também é responsável pela sensação gustativa no terço posterior da língua, enquanto a sensação gustativa dos 2 terços anteriores é feita pelo nervo facial (VII par craniano). Na lesão do IX par craniano, a úvula mo- ve-se em direção ao lado não afetado. O nervo hipoglosso é responsável pela motricidade da língua e é testado ava- liando a sua movimentação. A lesão do XII par é demonstrada pelo desvio da língua em direção ao lado lesado quan- doo paciente a coloca para fora. Uma fraqueza menos óbvia pode ser identi- ficada colocando a ponta dos dedos do examinador em ambas as bochechas do paciente enquanto ele pressiona firme- mente a sua língua contra a parte inter- na da bochecha alternadamente. O exame da faringe é limitado à inspeção. Pesquisam-se infecções amigdalianas (menos frequentes em idosos) e tumorações. A avaliação da deglutição pode ser feita das seguintes formas: • Avaliação da fase oral: deve-se notar problemas na mastigação, início retardado ou precoce do re- flexo de deglutição e dificuldade de vedação dos lábios para líqui- dos ou outros alimentos. 19PROPEDÊUTICA DO IDOSO • Avaliação da fase faríngea: deve- -se observar sinais clínicos como deglutição incompleta (retorno do bolo alimentar para a cavidade oral), referência a alimento reti- do na garganta, deglutições múl- tiplas (manobra utilizada para se retirar alimentos retidos na parede faríngea e na valécula), regurgita- ção, alterações da qualidade vocal e tosse antes ou durante o ato de engolir (indicativo de penetração laríngea). • Reflexo da deglutição: deve-se ob- servar se há presença ou ausên- cia do reflexo da deglutição, tosse antes ou durante a deglutição (in- dicativo de penetração laríngea), movimentação não sincrônica ou ausência de elevação da laringe • Movimentação faríngea: deve-se observar sinais clínicos como de- glutição incompleta (após várias tentativas de deglutição, há um retorno do bolo alimentar para a cavidade oral), tosse após a deglu- tição, referência a alimento retido na garganta, deglutições múltiplas (manobra utilizada pelo paciente para retirar alimentos retidos na parede faríngea e na valécula). • Mecanismo laríngeo: deve-se ob- servar se há elevação da laringe, alteração da qualidade vocal após a deglutição, presença ou ausência de alteração na ausculta cervical. • Ausculta cervical: com o estetos- cópio colocado na laringe, procu- ra-se detectar os sons da degluti- ção na fase faríngea. Dificuldades técnicas relativas a esse procedi- mento são encontradas em pa- cientes dependentes de ventilação e traqueostomizados. • Teste com água: deve-se observar a deglutição após a administração de 9 mℓ de água (se, até 1 min de- pois, houver tosse, engasgos ou alteração da qualidade da voz). É um exame simples e sensível para rastreamento de portadores de disfagia com risco aumentado de aspiração. No nariz, deve-se procurar por sime- tria, escoriações e/ou inflamação dos vestíbulos nasais ou evidências de obstrução nasal, tais como pólipos nasais. O septo nasal pode ser ava- liado com o otoscópio, assim como a cavidade nasal. Nos ouvidos, sempre se deve ini- ciar o exame pelo pavilhão auricular. As lesões como o carcinoma baso e espinocelular e aquelas provocadas pelo herpes-zóster em geral são ób- vias. Em seguida, deve-se utilizar o otoscópio. O conduto auditivo exter- no é retificado tracionando-se o pa- vilhão auditivo para cima, para fora e para trás, buscando sinais infla- matórios, secreção, cerume ou cor- pos estranhos. É preciso examinar a 20PROPEDÊUTICA DO IDOSO membrana timpânica, que pode estar perfurada, apresentar coloração fos- ca ou adquirir tons avermelhados e/ ou amarelados, o que sugere a pre- sença de patologias. Entre os testes de acuidade auditiva, o do sussurro pode ser realizado à cabeceira do leito e consiste em pro- nunciar palavras a uma distância de 60 cm de cada ouvido. Outros testes, como o de Rinne e Weber, têm um papel limitado nesta faixa etária, pois sua confiabilidade depende da cogni- ção e da cooperação dos pacientes. Pescoço Procura-se por cicatrizes, assimetria ou massas. Observa-se também o movimento e a posição da traqueia. Deve-se inspecionar as veias cervi- cais que drenam para o tórax. O pulso venoso pode ser visível. NA PRÁTICA! A dilatação das veias cer- vicais pode estar associada a aumento do volume do pescoço e da face. A con- gestão da face pode se tornar mais apa- rente com a elevação dos braços acima da cabeça. Esses sinais são sugestivos de obstrução de veia cava superior, cuja causa principal é a sua compressão por tumores do mediastino superior. À ausculta do pescoço, deve-se pro- curar identificar sopros carotíde- os bilateralmente e sopros sobre a glândula tireoide, caso um bócio es- teja presente. Deve-se posicionar-se por detrás do paciente e palpar a tireoide. Caso seja detectado um bócio, é preciso verifi- car se o aumento é difuso ou nodular e se há dor à palpação. Deve-se palpar também a traqueia, o pulso carotídeo, toda a região cervi- cal e a fossa supraclavicular. Quais- quer linfonodos encontrados devem ser avaliados quanto a mobilidade, consistência e dor à palpação. Os linfonodos dolorosos são sugestivos de inflamação, enquanto linfonodos de consistência firme e aderidos aos tecidos adjacentes são compatíveis com neoplasia maligna. A limitação dos movimentos do pes- coço secundária à osteoartrose cervi- cal é um achado frequente nessa fai- xa etária. 21PROPEDÊUTICA DO IDOSO 6. EXAME FÍSICO DO PACIENTE IDOSO – TÓRAX À inspeção do tórax, alguns achados podem estar presentes: • Tórax globoso ou em tonel: o au- mento do diâmetro anteropos- terior do tórax é observado em portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) avan- çada, por vezes com protrusão dos espaços intercostais e das fossas supraclaviculares. • Cifose: os pacientes idosos geral- mente apresentam alterações da coluna. NA PRÁTICA! A cifose na mulher é co- mumente secundária a doenças dege- nerativas da coluna, sobretudo a oste- oporose com fraturas. Em indivíduos do sexo masculino, em geral, a osteoporo- se é decorrente de causas secundárias, como hipogonadismo, uso de corticoi- des, mieloma múltiplo, metástases ós- seas ou alcoolismo. Figura 6. Cifose. Fonte: https://drauziovarella. uol.com.br/doencas-e-sintomas/cifose/ MAPA MENTAL: EXAME FÍSICO DO PACIENTE IDOSO – CABEÇA E PESCOÇO CABEÇA • Face • Olhos • Cavidade oral • Língua • Faringe • Deglutição • Nariz • Ouvidos • Inspeção: cicatrizes, assimetria, massas, traqueia, veias • Ausculta: sopros carotídeos ou sobre a tireoide • Palpação: tireoide, traqueia, pulso carotídeo, linfonodos PESCOÇO 22PROPEDÊUTICA DO IDOSO • Abaulamentos unilaterais ou lo- calizados: podem ser encontrados em derrames pleurais volumosos, hiperdistensão compensadora (enfisema vicariante) e tumores. • Retrações: são geralmente encon- tradas em enfermidades crônicas, como fibroses pulmonares, atelec- tasias, processos pleurais do tipo paquipleuris e ausência congênita ou cirúrgica de um pulmão. • Tiragem: em geral constitui uma manifestação da obstrução de vias respiratórias, sendo comum nos portadores de DPOC, especial- mente na insuficiência respiratória. Pode ocorrer também em obstru- ções altas. Às vezes é acompa- nhada de ruído característico, que é a cornagem. • Circulação colateral tipo cava: ocorre em tumores do mediasti- no com compressão da veia cava superior, podendo levar a edema, congestão da face e turgência ve- nosa, constituindo a síndrome da veia cava superior. • Telangiectasias aracniformes (ara- nhas vasculares): aparecem na metade superior do tronco, espe- cialmente no tórax, na face e nos membros superiores. Sugerem a presença de insuficiência hepáti- ca com certo grau de hipertensão porta, embora possam também ser observadas em indivíduos normais. • Ginecomastia: pode ocorrer no en- velhecimento normal, sendo des- provida de significado patológico. No entanto, causas clássicas como tumores, hepatopatia e uso de certos medicamentos devem ser descartadas. No exame físico do sistema respira- tório devem ser avaliados: • Frequência respiratória: no idoso, tem particular significado semio- lógico quando superior a 24 incur- sões respiratórias por minuto. A taquipneia pode preceder o diag- nóstico clínico de infecção respira- tória em até 3 a 4 dias. • Padrão respiratório: ◊ Respiração do tipoBiot: é fre- quente nos pacientes com de- pressão respiratória induzida por fármacos, na hipertensão intracraniana e na lesão cere- bral geralmente a nível medu- lar. Apresenta padrão irregu- lar e com longos períodos de apneia. ◊ Respiração do tipo Cheyne- -Stokes: padrão irregular, com períodos intermitentes de au- mento e redução da frequ- ência e da profundidade das incursões respiratórias, alter- nados com períodos de ap- neia. Ocorre em pacientes com depressão respiratória 23PROPEDÊUTICA DO IDOSO induzida por medicamentos, na insuficiência cardíaca con- gestiva e nas lesões cerebrais. ◊ Respiração do tipo Kussmaul: respiração rápida e profunda, geralmente secundária a aci- dose metabólica. • Expansão torácica: é frequente- mente limitada no idoso e nem sem- pre oferece muitas informações. • Percussão torácica: as alterações da percussão mantêm o significa- do nessa faixa etária. • Ausculta respiratória: a auscul- ta respiratória torna-se mais difí- cil porque nem sempre os idosos conseguem realizar inspirações profundas. As crepitações nas ba- ses pulmonares desprovidas de significado clínico são frequentes, particularmente quando desapa- recem após a tosse. A ausculta pode também identificar ruídos resultantes de pneumopatias pré- vias, o que dificulta a sua interpre- tação em quadros agudos. SE LIGA! Nos casos de pneumonia, os sinais identificados à ausculta, como crepitações, podem não ter correspon- dência imediata com a imagem radio- lógica, uma vez que as alterações na radiografia de tórax podem demorar até 72 h para se tornarem evidentes. O exame físico do sistema cardio- vascular inclui: • Pressão arterial: a aferição da pres- são arterial (PA) no idoso deve ser feita com os mesmos cuidados des- tinados para os mais jovens. Mui- tas vezes são necessárias diversas avaliações, pois a variabilidade da PA aumenta com a idade. Classi- camente são recomendadas três medidas com valores anormais, em consultas diferentes, antes que o paciente seja rotulado como hiper- tenso. Recomenda-se mensurar a PA em ambos os braços. Caso haja variação de uma medida para ou- tra, deve-se considerar o maior va- lor encontrado, visto que o menor resulta de fenômenos ateroscleróti- cos que mascaram a PA real. ◊ Pseudo-hipertensão: é um ar- tefato decorrente do endureci- mento das paredes das artérias periféricas e resulta em falsa estimação da PA à esfigmo- manometria. Esse diagnóstico é sugerido em indivíduos com níveis pressóricos elevados e ausência de lesão em órgãos- -alvo. Eles geralmente são ido- sos e apresentam artérias dos braços calcificadas, que podem ser identificadas à palpação e/ ou ao exame radiológico. ◊ Sinal de Osler: consiste na detecção de artérias palpá- veis quando o esfigmoma- nômetro estiver insuflado a nível superior ao da PAS. 24PROPEDÊUTICA DO IDOSO Auxilia na identificação da pseudo- hipertensão. ◊ Hipertensão do jaleco-bran- co: consiste na elevação da PA no consultório do médico, contrastando com verificações domiciliares normais. É fre- quentemente verificada nos idosos. ◊ Hipotensão ortostática (HO): a PAS pode ser subestima- da na presença de HO caso a sua mensuração seja feita so- mente na posição assentada. Aconselha-se para todos os pacientes idosos hipertensos a aferição da PA em decúbito e em ortostatismo. HORA DA REVISÃO! Perante a suspeita de HO, o primeiro passo é procurar detectar a presença de queda postural da PA. Antes da medida da PA em ortostatismo, o paciente deve repousar em decúbito dorsal idealmen- te por 30 min, medindo-se a PA a cada 10 min. Considera-se como PA supina a terceira medida, no 30º minuto. Em seguida, o paciente é colocado de pé, e a medida da PA em ortostatismo deve prosseguir até, pelo menos, 4 min quan- do necessário. Uma queda de 20 mmHg na PAS, com ou sem sintomas, é sufi- ciente para o diagnóstico de hipotensão ortostática (HO) em idosos. O próximo passo é a classificação da HO do ponto de vista fisiopatológico de acor- do com a frequência cardíaca (FC). A hi- potensão ortostática pode ser classifica- da em três categorias distintas, de acordo com a variação da FC observada quando o paciente assume a posição ortostática. • HO simpaticotônica: ocorre uma res- posta cardíaca compensatória apro- priada (aumento da FC em até apro- ximadamente 20 bpm). Em geral, este tipo de HO encontra-se associa- da a descondicionamento físico, uso de medicamentos ou hipovolemia. • HO por disfunção autonômica: não há aumento da FC com a queda pos- tural da PA, ou, se ocorre, em geral não é superior a 10 bpm. • HO por distúrbio vagal: há diminui- ção da FC associada à queda postu- ral da PA. • Pulso arterial: A FC é rotineiramen- te avaliada pelo pulso radial. Deve- -se contar o pulso por um período de 60 segundos, método preciso para a maioria dos ritmos regulares. Porém, se o paciente apresenta um pulso irregular como o encontrado na fibrilação atrial, arritmia muito frequente em idosos, existe um dé- ficit de pulso. Nesses casos, apenas a ausculta cardíaca fornecerá uma avaliação mais exata. • Refluxo hepatojugular: um teste útil na avaliação da pressão veno- sa jugular elevada é o reflexo he- patojugular ou teste da compres- são abdominal. • Ictus cordis ou choque da ponta: embora importante na avaliação de pacientes jovens, o ictus cor- dis foi palpado em apenas 35% dos idosos hospitalizados. Com o avançar dos anos, torna-se cada 25PROPEDÊUTICA DO IDOSO vez mais difícil a sua palpação, particularmente em pessoas aci- ma de 80 anos. Mesmo quan- do palpado, a sua sensibilidade e especificidade são baixas como índice de cardiomegalia, se com- paradas à radiografia do tórax e ao ecocardiograma. Os distúrbios musculoesqueléticos frequentes no idoso, como a cifoescoliose e o enfisema pulmonar, afetam a sua localização. Desse modo, na idade avançada, o ictus cordis não cons- titui um marcador clínico confiável na avaliação da área cardíaca. SE LIGA! Os mesmos fatores anterior- mente referidos dificultam a palpação de bulhas e frêmitos em idosos. • Ausculta cardíaca: no paciente idoso, a ausculta cardíaca obedece aos mesmos princípios utilizados para o paciente jovem. Entretanto, algumas alterações devem ser co- mentadas. Na ausculta dos ruídos cardíacos, são habituais os acha- dos de hipofonese das bulhas e de sopros cardíacos que podem estar relacionados com processos dege- nerativos sem repercussão clínica. ◊ Sopros cardíacos: são muito frequentes na idade avança- da. A prevalência de sopros sistólicos na população ido- sa é de aproximadamente 60%. A causa mais comum de sopro nesta faixa etária é a doença valvar calcificada, sen- do as valvas aórticas e mitral as mais comumente afetadas. As mesmas manobras utili- zadas para os pacientes mais jovens também se aplicam aos mais idosos. Entretanto, a localização do sopro é de me- nor significado, exemplificado pelo conhecimento de que a maioria dos sopros sistólicos apicais de idosos resultam de lesões da valva aórtica e não da valva mitral. • Edema sacral: pode ser a única manifestação de insuficiência car- díaca congestiva em pacientes idosos que estão restritos ao leito, embora seja um sinal frequente- mente negligenciado. Figura 7. Pesquisa de edema sacral. Fonte: http://pass- my.ravedev.co.uk/abdomen/auscultation-3/ 26PROPEDÊUTICA DO IDOSO 7. EXAME FÍSICO DO PACIENTE IDOSO – ABDOME, EXAME PROCTOLÓGICO E UROLÓGICO O exame físico do abdome em idosos não apresenta grandes diferenças em relação ao jovem. Inspeção Deve-se observar forma do abdome, cicatrizes, hérnias, movimentação com a respiração, evidências de per- da de peso, escoriações, veias dilata- das e peristaltismo visível. Se houver aumento acentuado do fígado e do baço, às vezes, pode ser visível. Alguns achados podem estar presentes: • Cicatrizes abdominais: são indica- tivas de cirurgias anteriores. Po- dem auxiliar no esclarecimento de achados clínicos quando há sus- peitade obstrução intestinal por aderências, hérnias de parede ab- dominal, eventrações e cólicas ab- dominais. Podem ainda ser foco de drenagens de processos infeccio- sos e inflamatórios intestinais. • Circulação venosa subcutânea: sugere a existência de um obs- táculo ao retorno venoso nos sis- temas porta e cava. No sistema porta, os vasos se apresentam no andar superior do abdome, o que ocorre na cirrose hepática, na com- pressão extrínseca por tumores e na trombose de veia porta, poden- do assumir um padrão conhecido por cabeça de medusa, quando MAPA MENTAL: EXAME FÍSICO DO PACIENTE IDOSO – TÓRAX Tórax Sistema respiratório Sistema cardiovascular • Achados comuns: - Tórax globoso ou em tonel - Cifose - Abaulamentos - Retrações - Tiragem - Circulação colateral - Telangiectasias aracniformes - Ginecomastia • Avaliar: - Frequência respiratória - Padrão respiratório • Expansão torácica: limitada • Percussão torácica • Ausculta respiratória: mais difícil • Avaliar: - Pressão arterial - Pulso arterial - Refluxo hepatojugular - Ictus cordis: não é confiável - Edema sacral • Ausculta cardíaca: hipofonese de bulhas e sopros são comuns 27PROPEDÊUTICA DO IDOSO eles se dirigem de maneira radial e para fora da cicatriz umbilical. No sistema cava inferior, as dilatações venosas aparecem, sobretudo, na parte inferior do abdome, decor- rendo de tromboses venosas, as- cites volumosas e compressões extrínsecas por tumores variados. Ausculta Na maioria das pessoas, são ausculta- dos ruídos decorrentes do peristaltis- mo intestinal, como sons intermiten- tes de volumes variados, à passagem constante de líquidos e gases pelas haustrações intestinais. Todavia, o aumento, a diminuição e a abolição do peristaltismo, na maioria das ve- zes, têm correspondência clínica. AUMENTO DO PERISTALTISMO REDUÇÃO OU ABOLIÇÃO DO PERISTALTISMO Fase inicial das obstruções intestinais mecânicas Peritonite Hemorragias digestivas altas e baixas Peritonismo (cólicas renais, colecistites, cólicas biliares, abs- cessos abdominais e pélvicos encapsulados, diverticulites) Gastrenterites Reações extraperitoneais com irritação do centro frênico (infartos miocárdicos diafragmáticos, pneumonias, embolias pulmonares) Aerofagias Doenças consumptivas Intoxicações alimentares Síndrome de imobilidade aguda ou crônica Ingestão de produtos irritativos (laxantes, bebidas alcoólicas, fermentados etc.) Doenças neurodegenerativas Hipertonia vagal (colopatias neurogênicas, cólon irritável, doença diverticular de sig- moide, hipercloridria, usuários de simpatico- líticos e vagomiméticos) Medicamentos (antianêmicos, antiparkinsonianos, analgésicos opioides, antirreumáticos, antidepressivos tricíclicos, benzo- diazepínicos, antiespasmódicos, diuréticos, anti-hipertensivos) Distúrbios hidroeletrolíticos e acidobásicos Pós-operatório de grandes cirurgias Tabela 1. Ausculta do abdome. Fonte: Tratado de geriatria e gerontologia, 4 ed, 2018 Podem ainda ser detectados, na aus- culta abdominal, sopros arteriais ou venosos, atritos da superfície do fíga- do e do baço com o gradil costal du- rante a respiração e a transmissão de ruídos respiratórios e cardíacos, sen- do interessante a ótima audibilidade dos movimentos respiratórios na pre- sença de gases livres dentro da cavi- dade abdominal. Percussão A percussão abdominal é um comple- mento da palpação e serve, sobretu- do, para pesquisar consistências orgâ- nicas e tumorais de sólidos, líquidos e gases, determinando-lhes os limites. Com isso, a percussão consegue dis- tinguir a sonoridade timpânica dos gases resultantes da perfuração de 28PROPEDÊUTICA DO IDOSO víscera oca, obstrução intestinal, obs- trução funcional, aerofagia, a sonori- dade muda da macicez e a macicez móvel dos líquidos (ascite, coleperitô- nio). A importância da percussão não repousa apenas no aparecimento da macicez, da macicez móvel e do timpa- nismo. Ela é importante, ainda, quando a macicez ou o timpanismo normais desaparecem (desaparecimento da macicez hepática). A percussão exi- ge mudanças de posição do paciente na mesa de exame, seja para afastar vísceras que atrapalham a percussão, seja para escoar líquidos abdominais livres. A percussão pode, pela respos- ta contrátil e dolorosa abdominal, re- fletir alguma irritação peritoneal. HORA DA REVISÃO! Ascite As ascites de pequeno volume (inferior a 2L) são de difícil detecção pelo exa- me clínico. Quando muito volumosas ou tensas, acarretam grande desconforto no idoso, com dificuldade respiratória. Alguns achados no exame físico são importantes: • Macicez móvel: nos pacientes em que há suspeita de ascite, o teste mais sensível ao exame físico é o da macicez móvel. Com o paciente em decúbito dorsal, delimitam-se as áreas de timpanismo e macicez (es- pera-se que o nível de macicez situe- -se nos flancos, e o timpanismo, na região periumbilical). Pede-se, então, que o paciente fique em decúbito la- teral; na presença de ascite, a maci- cez se deslocará para a posição mais baixa (a área timpânica ao redor do umbigo deverá se tornar maciça). • Sinal do piparote: outro teste para a detecção de ascite é a pesquisa de onda líquida, que é menos sensível e pode ter resultado falso-positivo em pacientes obesos. O surgimento insidioso de líquido na cavidade pe- ritoneal de pacientes idosos sugere, em princípio, comprometimento ne- oplásico. Pode dever-se também à presença de cirrose hepática, muitas vezes despercebida até então. • Sinal de Jobert: consiste no desapa- recimento da macicez hepática de- vido a gases livres na cavidade ab- dominal (perfuração de víscera oca, pós-operatório de laparotomias e laparoscopias). • Timpanismo pneumático: consiste em uma sonoridade exagerada en- contrada em casos de subobstrução (vólvulo fisiológico de Bruusgaard) e obstrução intestinal “em alça fecha- da” por vólvulo de sigmoide, conhe- cido como sinal de Kiwul, que corres- ponde ao sinal de hipertransparência radiológica da “alça de Wahl”. Palpação Na palpação abdominal, deve-se ob- servar uma maior probabilidade de se encontrarem massas pulsáteis devi- do a aneurisma da aorta e massa cor- respondente a fezes. A palpação deve ser feita de acordo com os movimentos respiratórios: as vísceras sólidas são mais bem apal- padas durante a inspiração profunda, aproveitando-se o movimento indu- zido de deslizamento dessas vísce- ras, por rebaixamento do diafragma (fígado, baço); as vísceras ocas e as 29PROPEDÊUTICA DO IDOSO massas intra-abdominais são mais bem apalpadas durante o movimen- to expiratório, pelo deslizamento das falanges distais em movimentos de vaivém, após atingir o plano profundo de resistência muscular posterior. Inicia-se a palpação longe do local em que o paciente possa referir dor. Mas- sas dolorosas são prováveis de serem inflamatórias. Exame proctológico e urológico O exame abdominal de rotina, sobre- tudo no idoso, deve ser concluído com o exame digital do reto. O correto posicionamento do pa- ciente propicia conforto e torna pos- sível a avaliação completa da região anal e perianal. As posições possí- veis são decúbito dorsal, decúbito lateral esquerdo (posição de Sims) e genupeitoral. Inicialmente, deve-se proceder à ins- peção crítica e criteriosa da região anal e perianal. A pele anal é inspeciona- da à procura de sinais de inflamação, fissuras, nódulos, fístulas, cicatrizes, lesões tumorais, hemorroidas ou se- creções, dentre as quais destacam-se as fezes, o sangue, o muco e o pus. A presença de fezes na região anal pode indicar, desde má higiene por parte do paciente até algum grau de incontinência ou semi-incontinência anal por causas variadas. A existên- cia de sangue pode significar lesões anais externas ao esfíncter (trombo- ses hemorroidárias) ou lesões acima dos esfíncteres em pacientes com hi- potonia ou atonia anal. NA PRÁTICA! Lesões eczematoides da região perianal em pacientes de idade mais avançada podem levar à suspeitade afecções neoplásicas, como doen- ça de Paget ou doença de Bowen, que representam um carcinoma intraepite- lial e requerem avaliação e tratamentos específicos. Pede-se ao paciente que faça força para evacuar observando-se a exte- riorização de tumorações, hemorroi- das e fissuras. Quaisquer áreas anor- mais devem ser palpadas. O toque retal tem três utilidades bá- sicas: identificação de estruturas e órgãos normais, averiguação de es- truturas e órgãos anormais e identi- ficação de dados anormais indiretos. São dignos de nota os seguintes achados: tônus anal, lesões do reves- timento mucoso do canal anal, lesões vegetantes no canal anal, estenoses anais, lesões perianais, lesões do re- vestimento mucoso do reto, tumores retais, estenoses retais, fecaloma re- tal, corpos estranhos retais, dilatação da ampola retal, tumores extrarretais, aumento do espaço retrorretal pré- -sacro, anormalidades no fundo de saco peritoneal e anormalidades no septo retovaginal. 30PROPEDÊUTICA DO IDOSO NA PRÁTICA! O toque retal pode de- tectar um fecaloma (tumor de fezes), que pode ser sentido ao simples contato com a ponta do dedo ou estar escondido por cima da valva de Houston, mascarando o diagnóstico. Tais ocorrências podem acontecer no megacólon chagásico, nas constipações intestinais por dolicocólon e por inércia colônica, nas constipações dos idosos sedentários e pacientes com vícios de dieta. Na paciente idosa, procure avaliar sempre a existência de retocele que possa justificar a queixa de dificulda- de para evacuar ou mesmo uma in- continência, principalmente nas pa- cientes multíparas. O toque retal pode não detectar qual- quer patologia, o que não significa ter sido normal, em decorrência de verifi- cação dos denominados dados anor- mais indiretos. Os principais dados indiretos coletados pelo toque retal são um sintoma (dor) e um sinal (se- creção no dedo de luva). No paciente do sexo masculino, de- ve-se fazer uma avaliação cuidadosa da próstata, uma vez que esse órgão é sede de várias patologias em ido- sos. Normalmente, a próstata é lisa e firme, com a consistência fibroelásti- ca. Deve-se tentar identificar o sulco mediano e os lobos laterais. A presen- ça de nódulos, assimetria, massas ou dor à palpação é sempre patológica. Na hipertrofia prostática benigna, a glândula encontra-se aumentada de volume de maneira simétrica e tem consistência um pouco amolecida. Pode ocorrer uma atrofia fisiológica dos testículos com o avançar dos anos. No entanto, causas clássicas de atro- fia testicular devem ser descartadas. MAPA MENTAL: EXAME FÍSICO DO PACIENTE IDOSO – ABDOME, EXAME PROCTOLÓGICO E UROLÓGICO Abdome Inspeção: observar forma, cicatrizes, hérnias, movimentação, evidências de perda de peso, escoriações, veias dilatadas, peristaltismo visível e organomegalia Exame proctológico e urológico Ausculta: pesquisar aumento, diminuição ou abolição do peristaltismo, sopros, atritos e transmissão de ruídos respiratórios e cardíacos Percussão: pesquisar consistências orgânicas e tumorais e seus limites Palpação: pesquisar massas e palpar órgãos Posicionar paciente: decúbito dorsal, lateral esquerdo ou genupeitoral Inspeção: inspecionar pele, presença de fezes e de sangue Toque retal: identificar estruturas normais, averiguar estruturas anormais e identificar dados anormais indiretos (dor, secreção em dedo de luva) 31PROPEDÊUTICA DO IDOSO 8. EXAME FÍSICO DO PACIENTE IDOSO – MEMBROS SUPERIORES, COLUNA E MEMBROS INFERIORES Membros superiores Deve-se examinar ambas as mãos, sempre de maneira comparativa, além de avaliar sistematicamente a pele, as unhas, as articulações e os músculos. Inspecionam-se as partes palmar e dorsal. Palpam-se as mãos. No exame das articulações, deve-se valorizar a presença de edema, calor, assimetria ou rubor. Checa-se a movimentação passiva e ativa. Testa-se a força. É importante a avaliação funcional da mão: peça ao paciente que segure uma caneta ou levante uma xícara. O exame do ombro inclui um cuida- doso exame neurológico, dos mem- bros superiores e da coluna cervical. Deve iniciar com inspeção dos mús- culos infra e supraespinhosos e do deltoide em busca de sinais de atro- fia. A movimentação ativa e passiva, incluindo elevação anterior e rotação interna e externa, deve ser medida e comparada com a do lado oposto. NA PRÁTICA! Lesão do manguito rota- dor (síndrome do impacto): quando ocor- re tendinite do manguito rotador, pode haver ruptura de um ou mais tendões. A etiologia é traumática ou degenerativa. O paciente apresenta dificuldade para executar os movimentos com as mãos acima dos ombros (ex: pentear cabelos), enquanto os movimentos realizados com as mãos abaixo da linha dos om- bros podem estar isentos de limitação ou mesmo de dor. Pode haver ou não perda de força muscular. Coluna Na avaliação da lombalgia em idosos, é importante realizar um exame físico ge- ral que inclua o exame dos vasos (espe- cialmente pulsos pediosos), do abdome, da região inguinal, do quadril e do reto. Flexão da coluna lombar: desencadeia ou aumenta a dor provocada por uma lesão discal. A irradiação da dor para um ou ambos os membros inferiores sugere protrusão discal. No entanto, as hérnias discais ocorrem com menor fre- quência em pessoas acima de 60 anos. Extensão da coluna lombar: desen- cadeia ou piora a dor provocada pelo estreitamento artrósico do canal me- dular e pelo acometimento das arti- culações zigoapofisárias. Manobra de Valsalva: deve-se pedir ao paciente que tussa ou assopre a mão sem deixar escapar o ar. Se hou- ver acentuada exacerbação da dor ou irradiação da dor completa (até o pé), indica provável compressão radicular. Diferentes testes podem ser reali- zados para avaliação da coluna e de queixas relacionadas. Membros inferiores O exame dos membros inferiores, como o dos membros superiores, 32PROPEDÊUTICA DO IDOSO também deve ser realizado de manei- ra comparativa. Pele e subcutâneo As principais doenças dermatológi- cas que afetam os membros inferio- res em idosos são: • Eczema asteatótico: afeta princi- palmente os membros inferiores, embora possa acometer também os superiores e o dorso. Essa con- dição resulta do ressecamento ex- cessivo da pele. Figura 8. Eczema asteatótico. Fonte: https://drhoogstra. com.ar/pt/wiki/eczema-asteatotico/ • Psoríase: pode acometer a superfí- cie extensora dos joelhos. • Úlceras: as características essen- ciais de uma úlcera quanto a locali- zação, tamanho, forma, superfície, base, bordas e condições dos teci- dos que a circundam devem sem- pre ser observadas. Deve-se pro- curar por evidência de uma causa subjacente, como doença arterial, neuropatia periférica e/ou hiper- tensão venosa crônica. A presen- ça de mais de um fator etiológico é possível particularmente em pa- cientes idosos. • Edema: o primeiro passo no diag- nóstico da etiologia do edema é definir se ele é uni ou bilateral. Em idosos, a causa mais frequente de edema de membros inferiores é a imobilidade, agravada pela preca- riedade na drenagem venosa. É comum, nessa faixa etária, que o edema de membros inferiores seja atribuído incorretamente à insufici- ência cardíaca. ÚLCERAS LOCALIZAÇÃO CARACTERÍSTICAS Venosas Terço médio das pernas, frequentemente acima e abaixo do maléolo medial Raramente nos pés Edema e hiperpigmentação comuns (dermatite ocre) Arteriais Face lateral dos pés, calcanhar, dedos e leito ungueal Membro frio, pálido e/ou cianótico Pulsos periféricos diminuídos ou ausentes Neuropáticas Pontos de pressão, como as cabeças do metatarso Em geral, ocorre hiperqueratinização da pele subjacente De pressão Saliências ósseas Portadoras de imobilidade Facilitadas por fricção, umidade e pressão sobre o local Tabela 2. Diagnóstico diferencial das úlceras de membros inferiores. Fonte: Tratado de geriatria e gerontologia, 4 ed, 2018 33PROPEDÊUTICA DO IDOSO • Dedo em martelo: deformidade em hiperextensãodas interfalangea- nas distais. • Calosidades: espessamento loca- lizado da pele, secundário à pres- são local, muito comum em idosos. • Podagra: edema, calor, dor e rubor da articulação metatarsofalangea- na do hálux na gota aguda. • Alterações ungueais: ◊ Onicogrifose: espessamento e deformidade acentuada da unha do hálux, indicativo de negligência física e social. ◊ Onicomicose: pode causar desconforto e dor ao caminhar, além de comprometer a mobili- dade e causar constrangimento. Exame dos pés Deve-se observar os pés como um todo, notando se há deformidades ou problemas articulares. O exame dos calçados provê valiosa informação sobre a dinâmica dos pés, revelan- do os pontos de pressão anormal. É preciso observar a coloração da pele (também a pele entre os dedos) e a presença de calos e/ou úlceras. Algumas alterações podem estar presentes: • Pé cavo: arco longitudinal anor- malmente alto. Ocasiona cansaço fácil e desconforto na face medial dos pés. • Pé plano: arco longitudinal mais achatado que o normal. Pode ser congênito ou adquirido. Em geral, não ocasiona sintomas, embora al- guns pacientes relatem dor, rigidez e alterações degenerativas na ida- de avançada. • Pé da artrite reumatoide: acomete mais frequentemente as articula- ções metatarsofalangeanas. Po- de-se encontrar também subluxa- ção da cabeça dos metatarsos e deformidade em valgo dos dedos. • Halux valgus ( joanete): deformida- de em geral bilateral e frequente- mente assintomática. É comum a sua associação com subluxação do segundo artelho. A parte medial da cabeça do metatarso é local comum de fricção e pressão com o calçado. 34PROPEDÊUTICA DO IDOSO MAPA MENTAL: EXAME FÍSICO DO PACIENTE IDOSO – MEMBROS SUPERIORES, COLUNA E MEMBROS INFERIORES • Examinar mãos • Examinar ombros • Realizar testes para avaliação da coluna e de queixas relacionadas • Examinar pele e subcutâneo • Examinar pés Membros superiores Coluna Membros inferiores 9. EXAME FÍSICO DO PACIENTE IDOSO - EXAME NEUROLÓGICO O exame do sistema nervoso é parte fundamental da avaliação clínica do idoso. A seguir, será descrito o que se considera ser uma avaliação neuroló- gica básica, a ser realizada pelo médi- co generalista, realçando as peculiari- dades encontradas nessa faixa etária. Exame da motricidade O exame da motricidade compreende a avaliação do trofismo muscular, do tô- nus e da força; a pesquisa por fascicu- lações e distúrbios do movimento (hiper ou hipocinesia); e exame da marcha, do equilíbrio e da independência funcional. SE LIGA! O idoso tende a apresentar um declínio da motricidade com o avan- çar dos anos, com perda da força e da velocidade dos movimentos, em geral, de maneira simétrica. As anormalidades motoras assimétricas são quase sempre patológicas. Tônus muscular É definido como a resistência do mús- culo a movimentos passivos, sendo classificado como normal, aumentado ou diminuído. • Hipertonia: pode apresentar-se como espasticidade, rigidez ou paratonia. • Espasticidade: denota acometi- mento do neurônio motor superior, sobretudo de flexores nos mem- bros superiores e extensores nos membros inferiores. Ao exame, causa a sensação de abertura de uma “lâmina de canivete”. • Rigidez: ao exame, tem-se a sen- sação de movimento de “roda den- tada”, cujo protótipo é o parkinso- nismo, que pode ser primário ou secundário. Tanto a flexão quanto a extensão estão acometidas. A mo- vimentação do punho e do cotove- lo, com o paciente assentado, e do quadril e do joelho, com o paciente 35PROPEDÊUTICA DO IDOSO deitado, possibilita a melhor avalia- ção da rigidez apendicular. • Paratonia (gegenhalten): é um achado frequente nos portadores de demência avançada e sugere disfunção dos lobos frontais bila- teralmente. Ao exame, verifica-se aumento da resistência de maneira progressiva e irregular a qualquer movimento que se faça. A hiper- tonia, nesse caso, é proporcional à força empregada e aumenta quan- do se pede ao paciente que relaxe. Exame da força muscular A força muscular deve ser testada comparando o lado esquerdo com o direito, os membros superiores com os inferiores e os grupos proximais com os distais. A graduação da força pode ser feita de maneira numérica. GRAU DESCRIÇÃO 5 Força normal 4 Vence com dificuldade a resistência 3 Move contra a gravidade, mas não contra a resistência 2 Não se move contra a gravidade 1 Contração muscular, sem movimento articular 0 Ausência de contração Tabela 3. Graduação da força. Fonte: Tratado de geria- tria e gerontologia, 4 ed, 2018 Movimentos anormais Os distúrbios de movimento podem, grosso modo, ser divididos em bradi- cinéticos (alentecimento do início e da execução dos movimentos) ou hiper- cinéticos. Praticamente todos os dis- túrbios de movimento podem ocorrer após infartos cerebrais em regiões como núcleos da base e tálamo, in- cluindo hemicoreia, hemidistonia, tre- mor e hemiparkinsonismo. MOVIMENTO HIPERCINÉTICO DESCRIÇÃO CAUSAS Coreia Movimentos involuntários, rápidos, não sustentados, abruptos e aleatórios Doença de Huntington Infartos de núcleos da base Mioclonia Contrações musculares curtas, abruptas, como um choque Doença de Alzheimer (fases mais avançadas) Demência por corpos de Lewy Doença de Creutzfeldt-Jakob Distonia Movimentos dolorosos de torção, repetiti- vos e sustentados, com duração variável Uso de antipsicóticos metoclopramida, levo- dopa e anticonvulsivantes Degeneração corticobasal Hipoparatireoidismo Doença cerebrovascular Discinesia tardia Movimentos estereotipados de língua, lábios ou mandíbula (mastigação, beijo, protrusão da língua, entre outros) Uso de antipsicóticos ou levodopa Edentulismo Acatisia Compulsão para levantar e caminhar Doença de Parkinson Efeito colateral de antipsicóticos Tabela 4. Distúrbios de movimento mais representativos nos idosos. Fonte: Tratado de geriatria e gerontologia, 4 ed, 2018 36PROPEDÊUTICA DO IDOSO funcional: o tempo abaixo de 20 se- gundos é considerado normal e aci- ma de 30 segundos é indicativo de risco aumentado para quedas e de- pendência funcional. • Tempo de suporte unipodal: mede a capacidade do indivíduo para se manter de pé com um único mem- bro inferior apoiado. Para os idosos, o tempo considerado normal é de 5 segundos, com os olhos aber- tos. Os indivíduos que não conse- guem se sustentar por esse tempo têm risco aumentado de quedas e dependência funcional. Entretanto, com o passar dos anos, é espera- da uma redução do tempo em que a pessoa se sustenta com um único membro inferior, chegando a pra- ticamente zero naqueles acima de 85 anos. Pode-se complementar o exame solicitando ao paciente que caminhe sobre os calcanhares, com as pontas dos pés ou com um pé na frente do outro (marcha tandem). Exame da marcha e do equilíbrio Deve-se observar o paciente ido- so ao caminhar. Esta é uma parte fundamental do exame neurológi- co, uma vez que o exame da marcha pode revelar problemas da visão, da sensibilidade, da motricidade, ves- tibulares, cerebelares, cognitivos e musculoesqueléticos. Alguns testes simples podem ser re- alizados para avaliação da marcha: • Pede-se que o indivíduo se levan- te de uma cadeira sem braços, ca- minhe por 3 metros, dê meia-volta, retorne e se sente novamente na cadeira. Avalia-se capacidade para se levantar, equilíbrio, postura, base da marcha (larga ou curta), ignição da marcha (se há hesitação ou con- gelamento), velocidade, tamanho do passo, continuidade, simetria, balanço do tronco e dos membros, movimentos involuntários e habili- dade para retornar. A cronometra- gem do teste é particularmente útil como preditora de independência 37PROPEDÊUTICA DO IDOSO TIPO DE MARCHA PRINCIPAIS CAUSAS Andar cauteloso Base alargada, passos curtos, velocidade lenta Retorno em bloco Perda do balanço dos membros superiores Sensação de desequilíbrio Causas mais frequentes: envelhecimento, várias doenças neurológicas, artropatias, vestibulopa-tias, medo de cair Marcha hemiparética Circundação do membro inferior, que se encontra espástico, com joelho estendido e pé caído (“marcha ceifante”) Membro superior, em geral, abduzido, com flexão do cotovelo, do punho e das mãos Causas mais frequentes: infartos cerebrais, trauma e lesões expansivas intracranianas Marcha das mielopatias cervicais Membros inferiores espásticos, estendidos bilateralmente, com ataxia Tendência à circundação bilateral, com adução das coxas e cruzamento dos membros (“marcha em tesoura”) Flexão plantar dos pés, que se arrasta da sua porção anterior Causas mais frequentes: espondilose cervical, neoplasias, degeneração subaguda combinada da medula e doença do neurônio motor Ataxia cerebelar Base larga, passos pequenos, irregulares, instáveis (“marcha do ébrio”) Cambaleante, com guinadas e sem direção reta Marcha tandem bastante comprometida ou impossível Causas mais frequentes: alcoolismo crônico, atrofia de múltiplos sistemas, paralisia supranucle- ar progressiva e infartos cerebelares Marcha festinante Passos curtos, lentos, flexão do tronco para a frente, ausência de movimentação dos braços Festinação (início lento do movimento, com aceleração rápida dos pés) Tremor de repouso evidente Causas mais frequentes: doença de Parkinson, doença cerebrovascular (múltiplos infartos) e hidrocefalia de pressão normal Marcha do lobo frontal Base larga e passos curtos, com pés grudados no chão (“marcha magnética”) Equilíbrio, início da marcha e locomoção comprometidos Interrupções bruscas Causas mais frequentes: doença de Alzheimer, demência vascular, demência frontotemporal, doença de Binswanger e hidrocefalia de pressão normal Marcha anserina Movimentos laterais do tronco, que se afasta do pé que se levanta Rotação exagerada da pelve a cada passo Dificuldade para levantar-se de cadeiras ou subir escadas Causas mais frequentes: perda da força muscular da cintura coxofemoral (polimialgia reumática, polimiosite, osteomalacia, hipo ou hipertireoidismo, neuropatias proximais) Marcha senso- rial atáxica Movimentos bruscos Olhos fixos no chão Passos de distância e altura variáveis Pés batem no chão ou são arrastados Piora da marcha com olhos fechados Causas mais frequentes: neuropatias periféricas e lesões dos cornos posteriores da medula Marcha vestibular Base larga, tropeços e desequilíbrio ao caminhar Piora do desequilíbrio com os olhos fechados Desvio da marcha para o lado da lesão Causas mais frequentes: labirintopatias, ototoxicidade por medicamentos e tumores do ângulo pontocerebelar Tabela 5. Tipos patológicos de marcha na idade avançada e suas principais causas. Fonte: Tratado de geriatria e gerontologia, 4 ed, 2018 38PROPEDÊUTICA DO IDOSO Estabilidade postural Pode ser avaliada com o teste de Nu- dge. Com o indivíduo de pé, olhos abertos e pés juntos, realiza-se uma força leve e constante na região do esterno. A interpretação do teste va- ria de acordo com o número de pas- sos dados para trás na tentativa de compensar o desequilíbrio. Menos de dois passos são esperados no teste normal. Acima de quatro passos ou se ocorrer necessidade de auxílio para que o paciente não caia, sugere-se grande propensão a quedas. A queda em bloco, sem qualquer esforço para se equilibrar, denota grave distúrbio do equilíbrio, como na paralisia supra- nuclear progressiva. Avaliação da sensibilidade Os testes de sensibilidade no idoso são limitados particularmente pela cooperação e função cognitiva do paciente. Em geral, recomendam-se testes simples para a percepção tátil- -dolorosa. Os sensos de posição e vi- bração são de pouco significado nes- ta faixa etária, particularmente nos membros inferiores. Avaliação da propriocepção Um teste simples da propriocepção é quando se pede ao paciente que per- maneça em ortostatismo, com os pés juntos e de olhos fechados. Quando há perda do equilíbrio e tendência à queda, o sinal de Romberg está pre- sente, sugerindo neuropatia periférica ou mielopatia com comprometimen- to do corno posterior. Nas doenças cerebelares, o distúrbio do equilíbrio ocorre tanto com os olhos fechados quanto abertos. No entanto, no pa- ciente idoso, a execução desse teste geralmente apresenta dificuldades. O teste que consiste em movimentar o hálux para cima e para baixo, estan- do o paciente com os olhos fechados, deve ser interpretado como no jovem. Reflexos tendinosos Alguns aspectos são característicos: • Hiper-reflexia: sugere lesões do trato piramidal, especialmente se acompanhada de outros sinais piramidais como espasticidade e clônus. • Reflexo aquileu: o reflexo tendino- so aquileu comumente encontra- -se abolido na ausência de doen- ça, particularmente em mulheres. • Reflexo patelar: pode ser obscure- cido na presença de osteoartrose dos joelhos. • Reflexos abdominais: com frequ- ência se apresentam hipoativos ou mesmo ausentes em decorrência de alterações tróficas da muscula- tura abdominal. • Resposta extensora plantar (sinal de Babinski): é sempre patológica 39PROPEDÊUTICA DO IDOSO no idoso, significando interrupção do trato corticoespinal, em qual- quer parte do seu trajeto do córtex motor contralateral à medula espi- nal lombossacra. Quando anormal, observa-se a extensão do hálux, podendo haver flexão do joelho e do quadril. Este exame pode ser prejudicado em paciente portador de hálux valgo. • Reflexos primitivos: são normal- mente encontrados na infância, mas o reaparecimento na idade avançada é geralmente indicati- vo de doença cerebral difusa ir- reversível, como nos processos demenciais. Avaliação da linguagem A afasia é a perda total da produção (afasia motora ou expressiva) e/ou da compreensão (afasia perceptiva, sen- sorial ou receptiva) da linguagem fa- lada ou escrita. É causada por lesões cerebrais no hemisfério dominante. As afasias são classificadas em três grupos: • Afasia sensorial, nominal ou de Wernicke: é uma afasia essencial- mente de compreensão. Resulta da incapacidade de entender os símbolos verbais, sejam falados ou escritos. Como não compreende, o paciente responde às perguntas de maneira inapropriada. A capa- cidade de repetir fica prejudicada, assim como a leitura e a escrita. A lesão está localizada nos hemisfé- rios parietal e temporal. • Afasia motora pura: a rigor, é uma anartria, isto é, um déficit mera- mente motor. Na anartria, há total incapacidade para articular as pa- lavras, e o paciente não pode se expressar por palavra falada. Pode entender o que alguém lhe fala, pode ler e escrever; porém, perde o controle da musculatura da fona- ção. Quando mais branda, é cha- mada de disartria. • Afasia mista ou de Broca: todas as modalidades de linguagem são afetadas. O paciente não é capaz de articular ou compreender as palavras, não podendo ler ou es- crever. Resulta de lesões do tronco do cerebral, cerebelo ou do siste- ma extrapiramidal. 40PROPEDÊUTICA DO IDOSO MAPA MENTAL: EXAME FÍSICO DO PACIENTE IDOSO – EXAME NEUROLÓGICO Tônus e força muscular Movimentos anormais Exame da marcha, do equilíbrio e estabilidade postural Avaliação da sensibilidade Reflexos tendinosos Avaliação da linguagem ! ! ! ! ! ! 41PROPEDÊUTICA DO IDOSO MAPA MENTAL: GERAL PR O PE D ÊU TI CA D O ID O SO Aspectos Abordagem do paciente Anamnese Exame físico Manifestações atípicas de doenças Particularidades terapêuticas Multimorbidade Polifarmácia Condições comuns Adaptar ambiente Presença da acompanhantes Pesquisar todos os sistemas orgânicos Ênfase em determinados aspectos Ectoscopia Sinais vitais Pele Cabeça Pescoço Tórax Abdome Exame proctológico e urológico Demência Delirium Depressão Instabilidade e quedas Incontinência urinária Estado de saúde aparente Grau de vitalidade Humor e afeto Alterações cognitivas ↑ PAS e ↓ PAD Pesquisar hipotensão ortostática Aferir FC, FR e temperatura Medir peso e altura Pesquisar alterações da coloração Pesquisar alterações secundárias
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