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Controle de Constitucionalidade HISTÓRIA E SISTEMAS DE CONTROLE Plano de Aula Retomada da aula • Marbury vs Madison • Modelo Austríaco • Modelo Francês História dos sistemas Sistemas de controle Exercícios Retomada da aula Conceito do controle de constitucionalidade ◦ Verificação da validade jurídica a partir de um parâmetro objetivo ◦ A lei inconstitucional é inválida (nula) e não opera efeitos no ordenamento jurídico Fundamentos do controle de constitucionalidade ◦ Guarda da Constituição ◦ Supremacia constitucional ◦ Dimensão formal e dimensão material ◦ Estado de Direito ◦ Preservação do princípio da separação dos poderes (ex. art. 102, §2º da CF – possiblidade de efeito backlash?) Retomada da aula (i) Constituição formal e rígida: é impossível realizar controle de constitucionalidade em Constituição flexível, pois ela não está acima das leis ordinárias; (ii) Constituição como fundamento de validade para todo o ordenamento jurídico; (iii) Órgão dotado de legitimidade para realizar o controle: na maioria dos países este órgão é judicial; (iv) Sanção: a declaração de nulidade ou anulabilidade da lei (para declarar a invalidade da lei); História dos Sistemas de Controle Para defender a supremacia constitucional contra as inconstitucionalidades, a própria Constituição estabelece sistema de controle. Os diferentes sistemas foram constituídos ao longo da história, dependem da experiência de diversos países desde do século XVIII. Destacam-se dos principais modelos que repercutiram em vários Estados, vinculando a atuação do Judiciário: •Modelo estadunidense (Marbury versus Madison) à controle difuso •Modelo austríaco (ou europeu) à controle concentrado •Modelo francês à controle político Os sistemas de controle se referem apenas à atuação do Judiciário? Não. Legislativo e Executivo podem exercer o controle a depender da previsão constitucional, naquilo que ficou convencionado como controle político Marbury versus Madison Contexto histórico Disputa pela sucessão presidencial John Adams v. Thomas Jefferson. Eleição de 1800 foi vencida por Jefferson, que busca descentralizar o poder federal nos Estados Unidos. Último ato pelo presidente John Adams foi a nomeação – por meio de lei - de uma série de juízes federais e de paz (midnight judges), que dependiam da confirmação do Secretário de Estado para a posse. ◦ Dentre as nomeações destacava-se William Marbury para o Distrito de Columbia Durante o início do governo de Thomas Jefferson, o novo Secretário de Estado James Madison não confirmou a nomeação dos midnight judges. Marbury versus Madison Descontente com a não nomeação, que descumpria a lei passada por Adams, Marbury interpõe um “mandado de segurança” (writ of mandamus) em face da omissão do Secretário de Estado Madison perante a Suprema Corte. Chief Justice John Marshall, presidia a corte e tinha sido indicado por J. Adams. Marshall se alinhava a agenda federalista que buscava centralizar o poder federal. Simultaneamente, preocupado com o fortalecimento do poder da Corte, Marshall sabia que eventual mandado em face do Secretário do Estado seria desafiado e prejudicaria seu trabalho. Marbury versus Madison Caso judicial (1803) Diante da situação, John Marshall criou o importante precedente do judicial review. Determinou: 1. Ato do presidente pode ser desafiado por meio de um writ of mandamus; 2. A medida judicial do writ of mandamus é adequada para o caso; 3. Todavia, determinou que a Suprema Corte não era competente para decidir este caso, declarando que a lei federal (Judiciary Act, de 1789) que autorizava o ingresso dessa medida era inconstitucional (ofensa a seção 2 do artigo 3º da Constituição dos EUA) A partir desta decisão, o sistema jurídico estadunidense passou a admitir que juízes e tribunais poderiam considerar a validade de legislações para verificar se à luz do caso concreto a Constituição estava sendo protegida. “o Supremo Tribunal terá jurisdição originária em todas as causas concernentes a embaixadores, outros ministros públicos e cônsules, e nos litígios em que for parte um Estado. Em todas as outras causas, o Supremo Tribunal terá jurisdição em grau de recurso” Por qual motivo Marbury versus Madison se tornou exemplo para o desenvolvimento do controle difuso? i) todos os juízes têm o poder e o dever de analisar se a lei contraria ou não a Constituição ii) este controle ocorreu a partir de um caso concreto iii) sendo discutido via da exceção (também chamado de via de defesa), pois o exame decorre de uma resolução de uma questão prejudicial ao pedido (a questão principal nunca será o controle de constitucionalidade) iv) o processo é subjetivo v) teoria nulidade (efeitos ex tunc) Marbury versus Madison PARA REVISAR! https://www.youtube.com/watch?v=hOvsZ yqRfCo https://www.youtube.com/watch?v=hOvsZyqRfCo Modelo austríaco Foi desenvolvido por Hans Kelsen, na Constituição da Áustria de 1920. Esse sistema também é judicial, realizado por juízes. O controle é concentrado, pois não são todos os juízes que possuem legitimidade para constatar o que está de acordo com a Constituição. Esse controle concentrado ocorre apenas no órgão de cúpula, que é um Tribunal ou Corte Constitucional. É um controle abstrato (in abstrato), ou seja, sobre leis em tese, não há caso concreto. O controle é realizado via ação específica (também chamado de via principal). O controle de constitucionalidade é a questão principal. O modo é direto (a discussão é sempre direta no Tribunal Constitucional), por meio de um processo objetivo (sem partes, sem lide e sem contraditório). O efeito da decisão é erga omnes (válido para todos). Teoria da anulabilidade (ex nunc) Modelo austríaco Importância para a implementação dos Tribunais Constitucionais “Se a Constituição conferisse a toda e qualquer pessoa competência para decidir esta questão, dificilmente poderia surgir uma lei que vinculasse os súditos do Direito e os órgãos jurídicos. Devendo evitar-se essa situação, a Constituição apenas pode conferir competência para tal a um determinado órgão jurídico” (Kelsen) Qual é a função do tribunal constitucional? Modelo francês Surgiu com a Constituição da França, de 1958. O sistema não é judicial; é um sistema político de controle. O controle é realizado por meio de um órgão de controle político, chamado de Conselho Constitucional, composto por 9 membros indicados da seguinte forma: 3 pelo Presidente, 3 pela Câmara e 3 pelo Senado e também por todos os ex- Presidentes. Estes membros possuem mandato de 9 anos. Os ex-Presidentes não são obrigados a aceitar participar do Conselho Constitucional. Em regra, é um controle preventivo de constitucionalidade. A análise de sua compatibilidade com a Constituição ocorre antes da lei ou do tratado internacional ingressar no ordenamento. Em regra, este controle é provocado: necessita-se de legitimados para requerer a análise de constitucionalidade da lei (Exceção: leis orgânicas automaticamente analisam sua contrariedade a Constituição). Sistemas de Controle Repressivo Poder Judiciário • Controle Difuso (Marshall) • Controle concentrado (Kelsen) Preventivo Poder Legislativo ou Executivo • Controle Político (Conselho Constitucional Francês) Sistemas Repressivos Modelo Kelsen Modelo Marshall Decisão constitutiva-negativa Decisão declaratória Teoria da anulabilidade (ex nunc) Teoria da nulidade (ex tunc) Vício é auferido no plano da eficácia Vício é auferido no plano da validade Qual tipo de sistema o constituinte brasileiro adotou? A CF/88 adotou o modelo híbrido (misto), a regra é o exercício do controle repressivo realizada pelo Poder Judiciário tanto pelo controle difuso quanto pelo controle concentrado. Todavia, a Constituição também estabeleceu mecanismos de controle preventivo para o Poder Legislativo (CCJ e o Plenário do Parlamento), Poder Executivo( veto jurídico - art. 66, § 1º) e Poder Judiciário (MS impetrado por Parlamentar em duas hipóteses). Atenção! Admite-se de forma excepcional o controle preventivo feito pelo Poder Judiciário em duas circunstâncias (MS 32033/DF): a) Proposta de emenda constitucional que viole cláusula pétrea; b) Proposta de emenda constitucional ou projeto de lei cuja tramitação esteja ocorrendo com violação às regras constitucionais sobre o processo legislativo. Caso Prático Em conclusão, o Plenário, por maioria, denegou mandado de segurança preventivo em que senador alegava ofensa ao devido processo legislativo na tramitação do Projeto de Lei - PL 4.470/2012 (Câmara dos Deputados), convertido, no Senado, no Projeto de Lei da Câmara - PLC 14/2013, que estabelece novas regras para a distribuição de recursos do fundo partidário e de horário de propaganda eleitoral no rádio e na televisão, nas hipóteses de migração partidária — v. Informativos 709 e 710. Preliminarmente, por votação majoritária, conheceu-se do writ, vencidos os Ministros Marco Aurélio e Cármen Lúcia. Estes consideravam que o objetivo da impetração seria controle prévio de constitucionalidade de lei, por suposta ofensa a princípios constitucionais, o que seria inadmissível, consoante jurisprudência da Corte. No que se refere a processo legislativo ordinário, acresciam que os projetos de lei apenas seriam impugnáveis, na via eleita, quando e se verificada inobservância a dispositivos reguladores desse procedimento. Ademais, essa forma de controle também seria admissível na hipótese de emenda constitucional atentatória a cláusula pétrea (CF, art. 60, § 4º). No ponto, a Min. Cármen Lúcia destacava que, se houvesse projeto de lei a contrariar essas cláusulas, o controle judicial em mandado de segurança também seria cabível, embora não fosse o caso. (MS 32033/DF, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, 20.6.2013) Caso Prático No mérito, prevaleceu o voto do Min. Teori Zavascki. Considerou que as eventuais inconstitucionalidades do texto impugnado poderiam ser resolvidas se e quando o projeto se transformasse em lei. Ademais, a discussão sobre a legitimidade do controle constitucional preventivo de proposta legislativa teria consequências transcendentais, com reflexos para além do caso em pauta, pois tocaria o cerne da autonomia dos Poderes. Reputou que o sistema constitucional pátrio não autorizaria o controle de constitucionalidade prévio de atos normativos, e que a jurisprudência da Corte estaria consolidada no sentido de, em regra, deverem ser rechaçadas as demandas judiciais com essa finalidade. Delimitou haver duas exceções a essa regra: a) proposta de emenda à Constituição manifestamente ofensiva a cláusula pétrea; e b) projeto de lei ou de emenda em cuja tramitação se verificasse manifesta afronta a cláusula constitucional que disciplinasse o correspondente processo legislativo. Aduziu que, em ambas as hipóteses, a justificativa para excepcionar a regra estaria claramente definida na jurisprudência do STF. O vício de inconstitucionalidade estaria diretamente relacionado aos aspectos formais e procedimentais da atuação legislativa. Nessas circunstâncias, a impetração de segurança seria admissível porque buscaria corrigir vício efetivamente concretizado, antes e independentemente da final aprovação da norma.(MS 32033/DF, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, 20.6.2013) Caso Prático O controle normativo de constitucionalidade qualifica-se como típico processo de caráter objetivo, vocacionado, exclusivamente, à defesa, em tese, da harmonia do sistema constitucional. A instauração desse processo objetivo tem por função instrumental viabilizar o julgamento da validade abstrata do ato estatal em face da Constituição da República. O exame de relações jurídicas concretas e individuais constitui matéria juridicamente estranha ao domínio do processo de controle concentrado de constitucionalidade. A tutela jurisdicional de situações individuais, uma vez suscitada a controvérsia de índole constitucional, há de ser obtida na via do controle difuso de constitucionalidade, que, supondo a existência de um caso concreto, revela-se acessível a qualquer pessoa que disponha de interesse e legitimidade (CPC, art. 3º). [ADI 2.551 MC-QO, rel. min. Celso de Mello, j. 2-4-2003, P, DJ de 20-4-2006.] Exercícios Vamos testar alguns conceitos apresentados Questão 1 Sobre o caso Marbury v. Madison (1803), assinale a alternativa CORRETA: A. Trata-se de um marco do constitucionalismo ocidental, porque a Suprema Corte dos Estados Unidos proferiu, pela primeira vez, uma decisão que condenou o então Presidente George Washington, com fundamento na Constituição de 1787. B. Trata-se de um marco do constitucionalismo ocidental, porque a Suprema Corte criou o modelo jurisdicional de controle de constitucionalidade difuso e concreto, assim como um Tribunal Constitucional, inspirado no pensamento de Hans Kelsen, para decidir sobre a validade de atos emanados pelos Poderes Executivo e Legislativo. C. Trata-se de um marco do constitucionalismo ocidental, porque a Suprema Corte assentou que a imunidade do Executivo não era um valor absoluto e que, nas circunstâncias, deveria ser ponderada com a necessidade de produção de prova em um processo penal em curso. Determinou, assim, que o Presidente John Adams entregasse ao Judiciário documentos que o incriminavam D. Trata-se de um marco do constitucionalismo ocidental, porque a Suprema Corte, em que pese não ter decidido o mérito, afirmou, em seus dicta, o princípio da supremacia da Constituição, assim como a autoridade do Poder Judiciário para zelar por ela, inclusive invalidando os atos emanados dos Poderes Executivo e Legislativo que a contrariem. Questão 1 Sobre o caso Marbury v. Madison (1803), assinale a alternativa CORRETA: A. Trata-se de um marco do constitucionalismo ocidental, porque a Suprema Corte dos Estados Unidos proferiu, pela primeira vez, uma decisão que condenou o então Presidente George Washington, com fundamento na Constituição de 1787. B. Trata-se de um marco do constitucionalismo ocidental, porque a Suprema Corte criou o modelo jurisdicional de controle de constitucionalidade difuso e concreto, assim como um Tribunal Constitucional, inspirado no pensamento de Hans Kelsen, para decidir sobre a validade de atos emanados pelos Poderes Executivo e Legislativo. C. Trata-se de um marco do constitucionalismo ocidental, porque a Suprema Corte assentou que a imunidade do Executivo não era um valor absoluto e que, nas circunstâncias, deveria ser ponderada com a necessidade de produção de prova em um processo penal em curso. Determinou, assim, que o Presidente John Adams entregasse ao Judiciário documentos que o incriminavam D. Trata-se de um marco do constitucionalismo ocidental, porque a Suprema Corte, em que pese não ter decidido o mérito, afirmou, em seus dicta, o princípio da supremacia da Constituição, assim como a autoridade do Poder Judiciário para zelar por ela, inclusive invalidando os atos emanados dos Poderes Executivo e Legislativo que a contrariem. Questão 2 No amplo debate que surgiu nos primórdios da instituição do controle de constitucionalidade, dois modelos se sobressaíram. O originário dos Estados Unidos da América, por meio da conhecida decisão proferida no julgamento Marbury versus Madison, onde o Chief Justice Marshall estabeleceu os contornos da judicial review; e outro, de matriz austríaca que logrou êxito também na Alemanha, propiciando a criação de tribunais constitucionais, organismos especiais que não figuram na estrutura clássica do Poder Judiciário. Estabelecem-se diferenças quanto à natureza da norma inconstitucional nos dois modelos apresentados. No Brasil, prevalece a tese de que a norma inconstitucional é A. anulável. B. inexistente. C. nula. D. repristinável. E. revogável. Questão 2 No amplo debate que surgiu nos primórdios da instituiçãodo controle de constitucionalidade, dois modelos se sobressaíram. O originário dos Estados Unidos da América, por meio da conhecida decisão proferida no julgamento Marbury versus Madison, onde o Chief Justice Marshall estabeleceu os contornos da judicial review; e outro, de matriz austríaca que logrou êxito também na Alemanha, propiciando a criação de tribunais constitucionais, organismos especiais que não figuram na estrutura clássica do Poder Judiciário. Estabelecem-se diferenças quanto à natureza da norma inconstitucional nos dois modelos apresentados. No Brasil, prevalece a tese de que a norma inconstitucional é A. anulável. B. inexistente. C. nula. D. repristinável. E. revogável. Questão 3 Tendo em vista que, em grande medida, o sistema de controle de constitucionalidade norte-americano serviu de inspiração inicial ao modelo brasileiro, assinale a opção correta. A. Depois do caso Marbury versus Madison, estabeleceu- se que a Suprema Corte norte-americana é o único órgão judicial competente para apreciar a inconstitucionalidade de leis. B. O modelo norte-americano de controle de constitucionalidade é classificado em concreto, incidental e preventivo. C. A Constituição norte-americana prevê expressamente ser competência do Poder Judiciário declarar a inconstitucionalidade de leis. D. Para o relator do caso norte-americano conhecido como Marbury versus Madison, lei incompatível com a Constituição deve ser considerada nula. Questão 3 Tendo em vista que, em grande medida, o sistema de controle de constitucionalidade norte-americano serviu de inspiração inicial ao modelo brasileiro, assinale a opção correta. A. Depois do caso Marbury versus Madison, estabeleceu- se que a Suprema Corte norte-americana é o único órgão judicial competente para apreciar a inconstitucionalidade de leis. B. O modelo norte-americano de controle de constitucionalidade é classificado em concreto, incidental e preventivo. C. A Constituição norte-americana prevê expressamente ser competência do Poder Judiciário declarar a inconstitucionalidade de leis. D. Para o relator do caso norte-americano conhecido como Marbury versus Madison, lei incompatível com a Constituição deve ser considerada nula. Bons estudos!
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