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Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Vida da Ferramenta e Quantificação do Desgaste Capítulo 10 Vida da Ferramenta e Quantificação do Desgaste 10.1 – Introdução No Capítulo 8 mostraram-se as formas de desgaste predominantes na ferramenta de corte e os possíveis mecanismos atuantes que podem promover estas formas. Neste capítulo serão abordados tópicos relativos à quantificação do desgaste da ferramenta. Antes, é preciso definir vida da ferramenta (Ferraresi, 1976): “Vida da ferramenta é o tempo em que a mesma trabalha efetivamente, sem perder o corte ou até que se atinja um critério de fim de vida previamente estabelecido” O fim de vida de uma ferramenta de corte será definido pelo grau de desgaste previamente estabelecido. O tamanho deste desgaste irá depender de inúmeros fatores. Entre outros, pode-se citar os seguintes: • Receio de quebra da cunha cortante; • Elevadas temperaturas atingidas na interface cavaco-ferramenta; • As tolerâncias dimensionais estabelecidas no projeto já estão comprometidas; • O acabamento da superfície usinada já não é mais satisfatório; • Aumento nas dimensões das rebarbas; • Aumento da força de usinagem; • Aumento do nível de ruído; Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 168 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Vida da Ferramenta e Quantificação do Desgaste • Aumento do nível de vibrações; • Outros. Como expressar a vida da ferramenta Fixado um critério para fim de vida, como exemplo o estabelecido na Norma ISO 3685, ou em experiências acumuladas anteriormente, a vida da ferramenta pode ser expressada de diversas maneiras: • Número de peças produzidas; • Percurso de avanço (mm); • Percurso efetivo de corte (Km); • Velocidade de corte para determinado tempo de vida (ex. vc60 = 150 m/min); • Volume de material removido; • Outros. 10.2 - Estudo das formas de desgaste Neste tópico serão abordados os aspectos característicos da formas dominantes de desgaste, como flanco, cratera e entalhe. Durante o processo de usinagem, ocorre o contato físico da ferramenta com a peça e o contato do cavaco com a ferramenta, em um determinado meio e condições dinâmicas de corte. Isto conseqüentemente acarretará mudanças na geometria e na forma original da aresta da ferramenta, devido a ocorrência de desgaste progressivo. Na Figura 8.4 mostrou-se as principais áreas de desgaste e identifica três formas de desgastes: flanco, cratera e entalhe. A seguir serão apresentados os principais mecanismos associados a cada uma dessas formas. Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 169 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Vida da Ferramenta e Quantificação do Desgaste 10.2.1 - Desgaste de Cratera Segundo Aspinwail e Chen (1978), este tipo de desgaste geralmente está associado às elevadas temperaturas geradas na interface cavaco ferramenta, ocorrendo devido a combinação dos mecanismos de desgaste denominados difusão e adesão, e ocorrem na superfície de saída da ferramenta durante o deslizamento do cavaco pela mesma. A máxima profundidade de cratera geralmente ocorre próxima ao ponto médio do comprimento de contato entre o cavaco e a superfície de saída, onde, acredita-se, a temperatura atinja seu maior valor. A posição da cratera relativa a aresta de corte varia de acordo com o material usinado, ocorrendo em geral atrás da aresta de corte. A profundidade e a largura da cratera formada na superfície de saida da ferramenta, estão relacionadas à velocidade e ao avanço empregados durante o processo de corte (Ferraresi, 1977). Pode não ocorrer em alguns processos de usinagem, principalmente quando se utiliza ferramentas de metal duro recobertas (a cobertura de Al2 O3 é a mais eficiente contra a craterização), ferramentas cerâmicas e quando o material da peça é frágil (gera cavacos curtos). O crescimento do desgaste de cratera gera a quebra da ferramenta, quando tal desgaste se encontra com o desgaste frontal.(Diniz et al,1999) 10.2.2 - Desgaste de Entalhe Conforme comentado no item 3.10.6 o mecanismo de formação do entalhe não está bem explicado. Portanto consideraremos que sob certas circunstâncias e condições de operação, um grande entalhe é formado na aresta principal de corte (detalhe ‘O’ da Figura 2.20) , na extremidade livre do cavaco, levando ao enfraquecimento da aresta de corte. Entalhes menores também são formados na aresta secundária de corte (detalhe ‘D’ da Figura 3.13), influenciando principalmente o acabamento superficial produzido. 10.2.3 - Desgaste Flanco Em geral, é o principal fator a limitar a vida das ferramentas de corte. Decorre da perda do ângulo de folga da ferramenta, ocasionando um aumento da área de contato entre a superfície de folga e o material da peça, aumentando consequentemente o atrito naquela área.Todo processo de usinagem causa Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 170 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Vida da Ferramenta e Quantificação do Desgaste desgaste de flanco, este tipo de desgaste provoca a deteriorização do acabamento superficial e a perda das características dimensionais da peça. Este desgaste é incentivado pelo aumento da velocidade de corte. Beloni (2001) descreve em sua tese o modelo gráfico que Smith (1989), apresentou para representar a evolução do desgaste de flanco VBBmáx com o tempo de usinagem (curva da Figura 10.1). Nesta curva tem-se destacada a evolução do desgaste por regiões, denominadas de região primária ou inicial, região secundária ou progressiva e região terciária ou catastrófica. Figura 10.1 - Curva representativa da evolução do desgaste de flanco de uma ferramenta (Smith,1989). Smith (1989) apresentou como justificativa para a ocorrência dessas regiões a própria evolução do desgaste durante o corte. A região inicial, no inicio do processo de corte, é caracterizada pela fase de acerto das arestas cortantes ainda novas sobre a peça. Nesta etapa, tem-se um crescimento bem acelerado do desgaste de flanco. Com o decorrer da usinagem, já na região secundária da Figura 10.1, verifica-se uma evolução menos acentuada do desgaste, justificada pela uniformidade que o contato das arestas da ferramenta passam a ter com o material da peça. Mas com o crescimento do tempo de trabalho, a medida que a ferramenta vai se desgastando, a evolução do desgaste VBBmax passa outra vez a crescer rapidamente. Essa nova etapa, denominada região terciária ou catastrófica, e que normalmente se inicia quando a ferramenta atinge valores de desgaste de flanco máximo da ordem de 0.8 mm, caracteriza a necessidade de se proceder a substituição das ferramentas por outras novas Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 171 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Vida da Ferramenta e Quantificação do Desgaste 10.3 - Critérios para medição de desgaste de uma ferramenta A norma ISO 3685 utiliza os parâmetros KT, VBB, VBBmáx e VBN para quantificar o desgaste nas ferramentas de corte (Figura 10.3). O critério recomendado para avaliar ferramentas de aço-rápido , metal duro e cerâmica é: a) Desgaste de flanco médio, VBB= 0.3 mm; b) Desgaste de flanco máximo, VBBmáx = 0.6 mm; c) Profundidade de cratera, KT = 0,06 + 0,3 f, onde f é avanço em mm/rev; d) Falha catastrófica. Mede-se ainda o valor dos desgastes gerados na superfície de folga pelos entalhes (VBN e VBC). Na superfície de saída tem-se os desgastes: profundidade de cratera (Kt), largura da cratera (KB) e distância do centro da cratera à aresta de corte (KM), conforme esquematizado na Figura 10.3. Figura 10.2 – Parâmetros utilizados para medir os desgastes das ferramentas de corte (Trent e Wright,1999). Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 172 10.3.1 - Quantificação da Vida da Ferramenta Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Vida da Ferramenta e Quantificação do Desgaste Umametodologia simplificada para expressar a vida da ferramenta, T, em função da velocidade de corte, vc, mantendo os demais parâmetros (f, ap, geometria, materiais da ferramenta e da peça, processo, máquina e fluido) constantes, consiste, incialmente em levantar pelo menos três curvas de desgaste, para três distintas vc, conforme esquematizado na Figura 10.3. a) Curvas de desgaste b) T x vc. Figura 10.3 – Gráficos auxiliares para expressar a vida da ferramenta em função da velocidade de corte. Obtida a parte “a” da Figura 10.3, deve-se estabelecer o critério de fim de vida da ferramenta e neste caso foi VBBmáx = 0,8 mm, obtendo-se três pontos “m”, “n” e “o”. Cada ponto tem as suas coordenadas relativas ao eixo “x”, correspondentes à vida, T em min e em relação ao eixo “y”, correspondentes à vc em m/min. De posse destes pontos constrói-se o gráfico apresentado na Figura 10.3 “b”. Para linearizar a curva, no próximo passo, aplica-se logaritmo nos dois eixos e obtém-se o gráfico mostrado na Figura 10.4. Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 173 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Vida da Ferramenta e Quantificação do Desgaste Figura 10.4 – Gráfico logT x logvc. A partir deste gráfico, demonstra-se matematicamente que a vida da ferramenta, T, pode ser expressa em função da velocidade de corte, vc, pela Equação Simplificada de Taylor (Equação 10.1). x cvKT −= . (10.1) As Análises da Equação (10.1) e da Figura 10.4, conduzem a observações que K é a vida da ferramenta para vc = 1 m/min e x é corresponde à inclinação da reta. Esta equação é bastante simplificada, pois na sua obtenção diversos parâmetros foram assumidos constantes. Portanto, ela só tem aplicação dentro da faixa de vc avaliada e para vc menores do que o limite inferior ensaiado, não é recomendado a sua utilização, já que ela por regra geral, somente se aplica à região fora da APC (aresta postiça de corte). Uma análise mais realista pode ser realizada para o estabelecimento da relação da vida da ferramenta com os diversos parâmetros que influenciam na usinagem. Isso pode ser estabelecido por meio da Equação Expandida de Taylor, segundo a Equação (10.2). Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 174 Fundamentos da Usinagem dos Materiais - Vida da Ferramenta e Quantificação do Desgaste Sandro Cardoso Santos e Wisley Falco Sales 175 hge BBmáx dc p ba c vibraçãoprocessofluidoVafvKT ....... −−−= (10.2) Nesta equação podem ser incorporados os diversos parâmetros de influência, mas o seu grande inconveniente é o enorme tempo de obtenção. São necessários inúmeros ensaios experimentais, consumindo horas de máquina, mão-de-obra e materiais, o que faz com que os custos associados sejam muito elevados. Em ambientes industriais essa forma expandida praticamente não tem nenhuma aplicação. Mas, a forma simplificada é freqüentemente obtida, principalmente devido aos coeficientes K e x serem utilizados para a determinação das condições econômicas de corte: velocidade de corte de máxima produção (vcmxp) e de mínimo custo (vcmincus), que definem o Intervalo de Máxima Eficiência (IME).
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