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CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM PROCESSOS GERENCIAIS 
E GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CADERNO ESTUDOS DISCIPLINARES - ED 
 
ATUALIDADES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2020 
SUMÁRIO 
 
AS FACES DA INTOLERÂNCIA .......................................................................................................... 4 
Impulsionados pelas redes sociais, episódios de intolerância se multiplicam no Brasil e no mundo, 
revelando uma sociedade cada vez mais discriminatória e menos propensa ao diálogo. ................... 4 
A intolerância contra os negros é uma herança cultural e social que persiste, principalmente nos 
países que adotaram a escravidão, como os Estados Unidos e o Brasil ............................................. 9 
No Brasil, religiões de matriz africana constituem o principal alvo do ódio, enquanto no mundo 
grupos fundamentalistas buscam impor sua visão de fé, eliminando quem pensa diferente ............. 13 
A chegada de imigrante, sobretudo de nações pobres, gera tensão nos EUA, na Europa e até no 
Brasil .................................................................................................................................................. 16 
Além de serem vítimas de violência, minorias sexuais, sobretudo transgêneros, vivem situação de 
exclusão social; no mundo, sete nações impõe a pena de morte para a prática homossexual ......... 18 
Dossiê – Intolerância: os limites da liberdade de expressão .............................................................. 22 
Internacional : A disputa por Jerusalém ............................................................................................. 25 
Internacional – De olho na história: Israel, 70 anos ........................................................................... 32 
Internacional – África: novos líderes, velhos problemas ........................................................................................ 33 
Internacional – China: uma potência ainda mais forte ....................................................................... 39 
Internacional – Estados Unidos: o raio x da potência......................................................................... 45 
Brasil – De olho na história: 30 anos da Constituição Cidadã ............................................................ 48 
Elaborada durante a redemocratização do país, a Constituição de 1988 foi essencial para o 
fortalecimento do Estado democrático e para a garantia de direitos sociais no Brasil. ............... 48 
Brasil – Educação: escola e religião, uma combinação polêmica ...................................................... 50 
Decisão do STF que autoriza o ensino confessional nas salas de aula públicas reacende o 
debate sobre o caráter do Estado laico no Brasil ........................................................................ 50 
Economia – Matriz de energia: rumo à transição energética ............................................................. 54 
O aumento de investimentos na geração de energias limpas, como a solar e a eólica, começa a 
remodelar a matriz mundial. Mas ainda já desafios para superar a dependência do petróleo .... 54 
Questões Sociais – Migrações: caminhos forçados ........................................................................... 61 
Fuga em massa da minoria étnica rohingya de Mianmar é exemplo dramático da situação dos 
refugiados no mundo contemporâneo ......................................................................................... 61 
Questões Sociais – Urbanização: saneamento sem o básico ............................................................ 69 
A maioria das cidades brasileiras não é atendida por serviços de coleta e tratamento de esgoto e 
de lixo. Situação representa risco à saúde pública e ao meio ambiente ..................................... 69 
Questões Sociais – Cultura: a arte na mira da censura ..................................................................... 74 
Ataques a manifestações artísticas ganham fôlego com a onda conservadora que avança no 
Brasil e no mundo e colocam em foco questões como o papel da arte na sociedade atual ........ 74 
Ciências e Meio ambiente – Internet: rede de intrigas ....................................................................... 78 
A disseminação de notícias falsas na internet pode colocar em risco a lisura das eleições gerais 
deste ano, o que deixa em alerta as autoridades e as empresas que controlam as principais 
mídias sociais .............................................................................................................................. 78 
Ciências e Meio ambiente – Aquecimento Global: ventos da mudança ............................................. 83 
Ciência e Meio ambiente – Desmatamento: novas ameaças à Floresta Amazônica ......................... 87 
Decisões do governo federal para atender à bancada ruralista reduzem o grau de proteção de 
extensas áreas na Amazônia e geram protestos da sociedade civil e da comunidade 
internacional ................................................................................................................................ 87 
Destrinchando – Rússia 2018: mais que um jogo .............................................................................. 91 
Tentando retomar o poder geopolítico, a Rússia sedia a Copa de 2018, evento que reúne 32 
países com diferentes perfis político, social e econômico. .......................................................... 91 
O que é pandemia? Definição, histórico e gravidade ......................................................................... 96 
Entenda o que o termo significa e relembre a última pandemia de gripe no mundo, antes do covid-
19 .................................................................................................................................................... 96 
Pandemia do coronavírus: o que significa contenção, mitigação e supressão? ................................ 98 
Entenda esses termos, usados para frear o avanço da covid-19 ................................................... 98 
 
 
 
AS FACES DA INTOLERÂNCIA 
Impulsionados pelas redes sociais, episódios de intolerância se multiplicam no Brasil e no 
mundo, revelando uma sociedade cada vez mais discriminatória e menos propensa ao 
diálogo. 
“Tem que ir para a cadeira elétrica e exterminar toda a família por causa do gene ruim. Bandido bom 
é bandido morto.” 
“Só conseguiu emprego no JN Por causa das cotas preta imunda” 
“Esses nordestinos pardos, bugres, índios acham que tem moral, cambada de feios. Não é atoa 
que não gosto desse tipo de raça” 
“ (…) Desejo do fundo do coração que sejam tomados pela desnutrição, que seus bebês nasçam 
acéfolos, que suas crianças tenham doenças que os médicos cubanos não consigam tratar, que o 
ebola chegue no Brasil pelo Nordeste e que mate a todos!” 
 
Os quatro posts acima, com conteúdo infamado de ódio e rancor, são exemplos reais de mensagens 
extraídas das redes sociais. Eles conservam seu texto e grafas originais, conforme foram publicados 
e, posteriormente, reproduzidos no Dossiê Intolerâncias Visíveis e Invisíveis no Mundo Digital, 
elaborado pela agência de comunicação nova/sb. Esse tipo de comentário, propagado com 
frequência pela internet, representa uma das facetas das manifestações de intolerância que têm 
crescido no Brasil e no mundo nos últimos anos. O agravante dessa situação é que os casos de 
intolerância não estão restritos à esfera virtual. Nos Estados Unidos (EUA), no episódio ocorrido em 
Charlottesville, na Virgínia, em agosto de 2017, mulheres e homens marcharam fazendo saudações 
nazistas e gritando palavras de ordem contra negros, imigrantes, homossexuais e judeus. Os 
https://abrilguiadoestudante.files.wordpress.com/2018/06/box-intolerancia.png
confrontos deixaram uma pessoa morta e 19 feridos. Em São Paulo, em novembro de 2017, a 
presença da filósofa norte-americana Judith Butler, referência nos estudos da questão de gênero, 
mobilizou manifestantes progressistas (favoráveis à intelectual) e conservadores (contrários), que se 
enfrentaram com xingamentos mútuos. A esses acontecimentos juntam-se muitos outros que 
apontam para o recrudescimento das manifestações de intolerância, que assume formas diversas, 
como a discriminação contra negros, homossexuais, minorias étnicas, religiosas e, simplesmente, 
contra aqueles que pensam de um modo diferente. 
O que é intolerância 
A palavra “intolerância” vem do latim intolerantia, que significa impaciência, incapacidade de 
suportar, falta de condescendência e de compreensão. Também compreende o sentido de inflexível, 
rígido e que não admite opinião ou posição divergente. No sentido oposto, “tolerância” foi definida 
pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como “o 
respeito, a aceitação e o apreço da riqueza e da diversidade das culturas de nosso mundo, de 
nossos modos de expressão e de nossas maneiras de exprimir nossa qualidade de seres humanos”. 
A origem do conceito de tolerância, como conhecemos hoje, está na Carta sobre a Tolerância, do 
filósofo inglês John Locke (1632-1704), publicada em 1689. Um dos principais precursores do 
liberalismo, Locke defendeu os direitos dos indivíduos e a liberdade religiosa, no contexto de defesa 
do fim do absolutismo: “ninguém, portanto, não importa o ofício eclesiástico que o dignifca, baseado 
na religião, pode destituir outro homem que não pertence à sua igreja ou à fé, de sua vida, liberdade 
ou de qualquer porção de seus bens terrenos”. No século XVIII, os autores iluministas – que afirmam 
o predomínio da razão sobre a fé, representando a visão de mundo da burguesia – também se 
dedicaram ao tema. Para eles, as ações intolerantes contrariavam os chamados direitos naturais dos 
homens, como o direito à vida, à liberdade e à propriedade. O pensamento iluminista influenciou a 
elaboração da Declaração Universal dos Direitos do Homem, proclamada pela Assembleia Geral da 
Organização das Nações Unidas (ONU), em 1948. 
 
Infográfico 27A – Pesquisa sobre a percepção da intolerância no mundo (clique para ver maior) 
(Guia do Estudante/Divulgação) 
Raízes do ódio 
Embora tenha ganhado maior visibilidade e repercussão nos últimos tempos por causa da internet, a 
intolerância sempre acompanhou a história da humanidade. Já na Antiguidade Clássica, os romanos 
subjugavam os outros povos por meio da imposição de sua cultura e civilização, consideradas 
superiores. Na Idade Média, os tribunais do Santo Ofício da Igreja Católica, ou Inquisição, 
capturavam, julgavam e puniam aqueles que defendiam doutrinas ou práticas contrárias às da Igreja. 
No Brasil, temos a perseguição aos índios, a escravidão dos negros africanos, durante mais de três 
séculos (XVI a XIX), e a tortura de opositores do regime militar (1964-1985). 
Mas foi nos regimes totalitários, no qual o Estado domina todos os aspectos da vida social, que a 
intolerância encontrou um de seus campos mais férteis para se propagar. Arrasados financeiramente 
após a I Guerra Mundial (1914-1918), países como Itália e Alemanha passaram a ser comandados 
por uma liderança opressora, que prometia recuperar a economia. 
Outro exemplo foi o que ocorreu na antiga União Soviética, quando Stalin assume o poder e 
implanta um novo regime, a partir de 1928, conhecido mais tarde como stalinismo. Em nome do 
socialismo, ele passa a controlar o Estado com poderes ditatoriais, persegue inimigos políticos, 
https://abrilguiadoestudante.files.wordpress.com/2018/06/gw-info-1-1.png
restringe liberdades individuais e promove a coletivização das terras. Durante seu governo, milhões 
de pessoas são presas, executadas ou enviadas a campos de trabalho forçado. 
A palavra “fascismo”, hoje utilizada para designar uma pessoa ou governo autoritário e repressor, 
surgiu em 1919, quando o italiano Benito Mussolini fundou o Partido Fascista, de caráter 
ultranacionalista. Em 1922, ele foi nomeado primeiro-ministro e assumiu o cargo com plenos 
poderes, passando a ser chamado de duce (incontestável, em italiano). Nos anos seguintes, o 
Partido Fascista passou a ser o único permitido, e adversários políticos foram perseguidos e mortos. 
Outros regimes totalitários – principalmente o nazismo na Alemanha, e em menor escala o 
franquismo na Espanha e o salazarismo em Portugal – acabaram sendo identificados com o 
fascismo, por compartilharem suas principais características: o cerceamento das liberdades 
individuais, a centralização do poder na mão de um único partido ou grupo, o nacionalismo, o 
militarismo e o expansionismo. A fim de garantir a obediência ao governo, foram empregadas a 
violência física, as prisões arbitrárias, a censura e o exílio. Na Alemanha nazista de Hitler, essas 
manifestações deram origem ao mais brutal episódio de ódio da História: o Holocausto, massacre 
que vitimou mais de 6 milhões de judeus durante a II Guerra Mundial (1939-1945). 
 
Infográfico 27A – Manifestação de ódio nas redes sociais (Clique para ver maior) (Guia do 
Estudante/Divulgação) 
 
O que gera a intolerância 
Um interessante entendimento das razões da intolerância é o da antropóloga francesa Françoise 
Héritier (19332017). Segundo ela, a intolerância está associada à dificuldade de reconhecer a 
expressão da condição humana no que nos é absolutamente diverso. Ser intolerante seria “restringir 
a definição de humano aos membros do grupo; os outros, sendo não humanos, podem ser tratados 
como tais”. Está aí uma das chaves para a compreensão das causas do aumento da intolerância nos 
últimos tempos. A ela se juntam outras: 
 Isolamento e cultura do medo 
As desigualdades sociais e culturais reforçam o isolamento dos indivíduos em grupos que não 
reconhecem no outro um semelhante, mas sim uma ameaça. Esse sentimento costuma ser 
materializado contra aqueles excluídos historicamente, como negros e índios. O temor do 
desconhecido torna-se mais real e ameaçador com a inclusão social e econômica desses grupos, 
como ocorreu no Brasil a partir de meados dos anos 2000. Nos países desenvolvidos, a chegada de 
refugiados da África e do Oriente Médio gera um sentimento de deslocamento social e econômico e 
de perda de laços identitários, que também leva a considerar o estrangeiro como inimigo. 
 Individualismo e imediatismo 
A substituição da ideia de coletividade e de solidariedade pelo individualismo, em que falta a 
experiência do lugar comum e do convívio social, leva o indivíduo a não considerar mais o outro e 
pensar apenas na satisfação imediata de seus desejos e interesses pessoais. Esse imediatismo 
https://abrilguiadoestudante.files.wordpress.com/2018/06/ge-info-2.png
também tomou o lugar da reflexão: a falta de interesse em ouvir argumentos contrários às ideias 
preconcebidas favorece a proliferação de atos e comentários intolerantes. 
 Crise política e econômica 
A falta de perspectivas de ascensão social abre espaço para a adesão a discursos extremistas e 
xenófobos, como os dos partidos de extrema direita. A crise fomenta o ódio e a discriminação a 
determinados grupos, identificados como os culpados pela crise. Ao mesmo tempo surge um terreno 
fértil para “salvadores da pátria”, candidatos, grupos e partidos com discurso autoritário – segundo 
eles, a única maneira de colocar ordem no caos. 
 
Manifestantes favoráveis e contrários ao impeachment de Dilma Roussef discutem em 2015 (clique 
para ampliar). Foto: Sergio Moraes 
O papel das redes sociais 
Se episódios de intolerância no Brasil e no mundo sempre ocorreram, é certo que a internet e, 
sobretudo, as mídias sociais impulsionaram a visibilidade, o alcance e a repercussão desses fatos. 
Com a internet, as discussões e as opiniões ganharam exposição pública e alcançaram um novo 
patamar. Um post intolerante, por exemplo, pode ser replicado para milhares de pessoas, em 
diferentes lugares do mundo, de forma ultraveloz e em tempo real. O anonimatoou a sensação de 
impunidade, propiciada pela mediação tecnológica e pelo distanciamento físico, leva pessoas que 
normalmente teriam certo pudor em expor pensamentos preconceituosos a manifestar suas opiniões 
livremente, sem qualquer limite ético. A forte polarização política e a necessidade de se impor uma 
determinada visão de mundo favoreceram o surgimento de outros fenômenos na rede. Um deles são 
as chamadas bolhas virtuais. Por meio de seu histórico de navegação, as redes sociais fazem 
chegar a cada usuário conteúdos e opiniões que mais lhe agradam ou interessam, deixando de 
mostrar ideias divergentes. Pesquisas mostram que, quanto mais a pessoa está inserida nesse 
ambiente restrito, mais predisposta está em compartilhar conteúdos que confirmem suas crenças, 
sem se preocupar com a veracidade das informações – daí a disseminação das fake news (ou 
notícias falsas), que, por sua vez, retroalimentam o ciclo da intolerância. 
A intolerância política 
Se vivemos em uma sociedade cada vez mais intolerante, é natural que o discurso de ódio também 
contamine o debate político. No processo de polarização política, o crescimento da extrema direita 
tende a levar ao crescimento da extrema esquerda – e vice-versa. E esses dois extremos, que 
parecem tão distantes, acabam por se aproximar, unidos pelo fio da intolerância. Segundo o cientista 
político francês Jean-Pierre Faye, a distância entre a extrema esquerda e a extrema direita é menor 
do que entre elas e o centro do espectro político. Um exemplo dessa percepção ocorreu no Brexit, o 
referendo de 2016 que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia. Partidários das 
extremas esquerda e direita do país votaram em favor do Brexit e mantiveram o discurso unificado 
na crítica à globalização e no fortalecimento da soberania dos britânicos diante dos europeus. 
No Brasil, o processo de impeachment da presidente Dilma Roussef (PT), em agosto de 2016, expôs 
a forte polarização ideológica que já vinha tomando conta do país. De um lado estavam os que viram 
o afastamento da presidente como um “golpe”, com o objetivo de deter o que avaliam como as 
conquistas sociais dos governos petistas, e que hoje criticam o governo de Michel Temer (MDB), 
pelos retrocessos nas questões sociais e ambientais, entre outras. De outro, os favoráveis ao 
https://abrilguiadoestudante.files.wordpress.com/2018/06/intolerancia.png
impeachment, que responsabilizam o Partido dos Trabalhadores (PT) pela corrupção generalizada 
que levou o país a sua maior crise econômica e política das últimas décadas. 
Como resultado, uma sucessão de ataques violentos e manifestações de ira – brigas entre familiares 
por divergência política, exclusão de amigos nas redes sociais e políticos vaiados em lugares 
públicos. A polarização ideológica que vem pautando a política nacional agora ameaça contaminar o 
debate que antecede as eleições de 2018, quando serão eleitos o presidente da República, 
governadores, senadores e deputados. 
Com o crescimento dos extremos, sobra pouco espaço para a negociação e o consenso. A 
impossibilidade do diálogo coloca em risco o próprio sistema político e a democracia, que 
pressupõem a convivência de ideias diferentes e a aceitação do outro. No limite, a intolerância 
representa a perda do que nos caracteriza como humanos e civilizados – a racionalidade, a empatia, 
a capacidade de se comunicar e resolver conflitos – e o retorno à barbárie. 
 
 
A intolerância contra os negros é uma herança cultural e social que persiste, principalmente 
nos países que adotaram a escravidão, como os Estados Unidos e o Brasil 
A pacata cidade de Charlottesville, no estado norte- americano da Virgínia, foi palco, em agosto de 
2017, de um dos mais graves conflitos raciais dos Estados Unidos (EUA) nos últimos anos. Foi um 
“desfile covarde de ódio e intolerância”, conforme definiu o prefeito da cidade. Na ocasião, um grupo 
de supremacistas brancos marchou pela cidade carregando tochas, vestindo capacetes, escudos e 
cassetetes e dizendo palavras de ordem nazistas. Eles protestavam contra a retirada de uma 
estátua do general Robert E. Lee, comandante dos confederados – estados do sul dos EUA que, 
entre outras bandeiras, defendiam a manutenção da escravidão durante a Guerra Civil Americana 
(1861-1865). Quando grupos antirracismo e de defesa dos direitos humanos se manifestaram em 
repúdio à ação, os confrontos tiveram início. Um motorista ligado à marcha racista atropelou 
diversas pessoas, deixando uma mulher do grupo antirracismo morta e dezenas de pessoas feridas. 
Os defensores da ideologia da supremacia branca, identificados com a extrema direita do espectro 
político, afirmam que as pessoas brancas são superiores a outras etnias e consideram a diversidade 
racial uma ameaça. Entre os grupos supremacistas que participaram da marcha em Charlottesville 
estão os neonazistas e a Ku Klux Klan (organização fundada em 1866 e conhecida por seus crimes 
de ódio contra os negros). Em meio a essa latente tensão racial, o presidente norte-americano, 
Donald Trump, conseguiu acirrar ainda mais os ânimos em sua primeira declaração após o 
incidente. Ele condenou a violência de forma geral e “os vários lados” do conflito, nivelando racistas 
e antirracistas. Ao evitar citar nominalmente os supremacistas brancos e as organizações 
extremistas envolvidas no incidente, Trump procurava preservar uma parcela importante do 
eleitorado que o ajudou a vencer a disputa presidencial de 2016. 
Após forte repúdio da opinião pública, Trump voltou a se manifestar dias depois, desta vez afrmando 
que o “racismo não tem lugar na América” e referindo-se à Ku Klux Klan, aos neo- nazistas e aos 
supremacistas brancos como “repugnantes a tudo que prezamos como americanos”. Mas o estrago 
já estava feito, esgarçando o já frágil tecido social norte-americano. 
A ideia da superioridade racial 
O racismo pode ser definido, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), como a convicção 
de que existe uma relação entre as características físicas hereditárias, como a cor da pele, e 
determinados traços de caráter e inteligência. O racismo subentende ou afirma que existem raças 
puras, que são superiores às demais e que tal superioridade autoriza uma hegemonia social e 
política. Ao longo da história, a crença na existência de raças superiores e inferiores foi usada para 
justificar a escravidão, o domínio e até o extermínio de determinados povos por outros. Foi isso que 
ocorreu na Alemanha nazista, entre 1933 e 1945, quando cerca de 6 milhões de judeus (e também 
ciganos, pessoas deficientes e homossexuais) foram perseguidos e exterminados, por serem 
considerados uma “raça deformada” que ameaçava a “pureza da raça ariana”. 
Outro exemplo foi o apartheid, o regime institucionalizado de segregação racial que vigorou na África 
do Sul entre 1948 e 1994, que na legislação do país proibia os negros de conviverem com os 
brancos e de desfrutarem dos mesmos direitos. Ainda na África, outro caso extremo de violência 
étnica aconteceu em Ruanda, em 1994. Os intensos conflitos entre hutus e tutsis resultaram no 
genocídio de cerca de 1 milhão de pessoas, a maioria da etnia tutsi. 
 
Racismo no Brasil 
Ainda que essas práticas tenham ficado para trás e ocorrido um avanço na sociedade em geral 
sobre o entendimento do racismo e as formas de combatê-lo, a discriminação pela cor da pele é 
uma herança cultural e social que persiste, sobretudo, nos países colonizados por europeus e que 
adotaram a escravidão de africanos como sistema de produção. Os primeiros escravos chegaram ao 
Brasil no século XVI – estima-se que, entre 1550 e 1850, tenham vindo cerca de 4 milhões de 
negros trazidos do continente africano. A escravidão só foi abolida em 1888, com a assinatura da Lei 
Áurea pela princesa Isabel, após uma longa luta abolicionista e intensa pressão sofrida de países 
como a Inglaterra, que, com a Revolução Industrial, buscavam ampliar seus mercados consumidores 
para vender os produtos industrializados.O Brasil também foi a última nação do continente 
americano a abolir a prática. Mas os negros libertos não tiveram uma reparação da história pela 
escravidão: sem renda ou moradia, não receberam educação formal e eram vistos e tratados como 
uma raça inferior e incapaz. Excluídos do mercado de trabalho e da vida social, milhares passaram a 
viver à margem da sociedade e permanecem até hoje em situação de desvantagem socioeconômica 
em relação aos brancos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografa e Estatística (IBGE), os negros 
são os mais afetados pelo desemprego e pela violência, os que têm os mais baixos salários e 
escolaridade e representam a maior parte da população carcerária. A relação entre cor da pele e 
condição socioeconômica também cria um ciclo vicioso perverso: devido ao preconceito, o negro 
tem menos oportunidades de estudo e, consequentemente, de ascensão no mercado de trabalho. 
Preconceito e exclusão 
https://abrilguiadoestudante.files.wordpress.com/2018/06/gw-info-3.png
 
Além da exclusão social, os negros são os que mais sofrem discriminação no Brasil, embora os 
índios também sejam vítimas de preconceito. Na esfera virtual, as discriminações se repetem. 
Ganharam grande repercussão os episódios que envolveram celebridades, como as manifestações 
de ódio em redes sociais e sites de artistas como Taís Araújo, Preta Gil e Negra Li. A legislação 
brasileira difere racismo (manifestação de preconceito contra toda a raça) de injúria racial (dirigida a 
uma pessoa ou grupo específico). O crime de injúria racial está previsto no Código Penal com pena 
de até três anos de prisão. Já o racismo é um crime inafiançável (que não prevê o pagamento de 
fiança) e também imprescritível (que não perde a validade) desde 1989. Mais de 20 anos depois, em 
2010, foi sancionado o Estatuto da Igualdade Racial, um marco jurídico de combate à desigualdade 
e à discriminação por raça no país. 
Mito da democracia racial 
O racismo no Brasil tem características bem próprias. Como no país não ocorreu uma situação de 
segregação institucionalizada, assim como na África do Sul e nos EUA (nos estados sulistas, por 
volta de 1870 a 1950), difundiu-se aqui o “mito da democracia racial”. A expressão refere-se à ideia 
de que o preconceito e a discriminação devido à cor da pele não existem e que haveria uma 
valorização da nossa “mestiçagem” que neutralizaria a intolerância racial. Esse pensamento ainda 
hoje constitui um entrave para que a sociedade reconheça a existência do racismo no país. Dessa 
forma, é comum o preconceito contra a população negra se manifestar de modo velado, muitas 
vezes na forma de piadas e brincadeiras, mostrando um jeito muito peculiar e naturalizado de 
racismo. 
Um exemplo foi o vazamento de um vídeo do jornalista William Waack, da Rede Globo, em 
novembro de 2017. Sem saber que estava sendo filmado, ele xinga um carro que estava buzinando 
na rua e diz que “é coisa de preto”. Acusado de racismo, Waack teve seu contrato rescindido e, 
posteriormente, desculpou-se em um artigo em que afirmou que “aquilo foi uma piada sem a menor 
intenção racista, dita em tom de brincadeira, num momento particular”. No Brasil, atualmente, 
permanece uma situação em que as pessoas já admitem haver a discriminação, mas negam o 
próprio preconceito. Foi o que comprovou uma pesquisa realizada em 2017 pela Editora Abril em 
parceria com a empresa MindMiner, publicada na revista Veja: 98% dos entrevistados reconheceram 
que há racismo no país, porém apenas 1% deles, pelas respostas dadas, foi classificado como 
https://abrilguiadoestudante.files.wordpress.com/2018/06/dossie-preconceito.png
“muito preconceituoso”. Por outro lado, 72% dos negros afirmaram já ter sofrido algum tipo de 
discriminação. O levantamento mostrou um paradoxo: um país com muito racismo, mas, 
supostamente, com poucos racistas. 
 
 
https://abrilguiadoestudante.files.wordpress.com/2018/06/ge-info-4.png
No Brasil, religiões de matriz africana constituem o principal alvo do ódio, enquanto no 
mundo grupos fundamentalistas buscam impor sua visão de fé, eliminando quem pensa 
diferente 
Em setembro de 2017, na Baixada Fluminense (RJ), uma mãe de santo, sob ameaça de morte, foi 
obrigada a destruir estátuas e objetos de sua religião. A cena chocante, infelizmente, não é uma 
exceção. Nos últimos anos, terreiros foram depredados e incendiados e praticantes, hostilizados e 
agredidos. Até mesmo na TV aberta não é incomum presenciar rituais de exorcismo e ouvir o termo 
“demoníaco” para entidades cultuadas pelo candomblé e pela umbanda. Apesar de a Constituição 
Federal garantir o direito à liberdade de credo e de manifestação religiosa no Brasil, os casos de 
intolerância crescem no país e têm nos seguidores das crenças de matriz africana seus principais 
alvos. Desde 2011, ano em que o serviço Disque 100, da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, 
passou a receber 
denúncias específcas de discriminação religiosa, o número de ocorrências passou de 15 a 759, 
chegando à marca de uma denúncia a cada 15 horas em 2016. 
Racismo e catolicismo 
Não é por acaso que as religiões afro- brasileiras são as que mais sofrem intolerância religiosa no 
Brasil. Esse fenômeno tem ligação direta com outro tipo de preconceito – o racismo – e deve ser 
entendido no contexto mais amplo do nosso passado colonial e escravocrata. Não se trata apenas 
da discriminação contra uma religião específica, mas também contra um segmento da sociedade 
brasileira – os negros. Na raiz do preconceito contra as religiões de origem africana também está o 
poder e a influência que a Igreja Católica exerceu em toda a sociedade brasileira, desde a época da 
colonização. Trazido pelos portugueses, o catolicismo foi imposto como religião oficial. As religiões 
de matrizes africanas, que representavam uma forma de preservação da cultura dos 
negros africanos e um meio de resistência dos escravos à violência física e simbólica a que eram 
submetidos, passaram a ser reprimidas, inclusive com força policial. A Constituição de 1824 chegou 
a permitir, com restrições, o culto de outras religiões, mas foi só após a Proclamação da República 
(1889) que ocorreu a separação oficial entre Igreja e Estado. Ainda assim, as práticas religiosas 
africanas continuaram sendo duramente reprimidas pela polícia até a década de 1960. O racismo 
também está presente no preconceito contra a religião evangélica (denominação para as religiões 
protestantes), que tem grande penetração nos setores mais pobres e entre a população negra. Os 
evangélicos aparecem em segundo lugar entre os que mais sofrem denúncias de discriminação. 
Legislação e ações de combate 
A Constituição Federal de 1988 reforçou que o Estado brasileiro é laico, ou seja, que ele não possui 
uma religião oficial. Além da Constituição, o Código Penal também trata do assunto. Ele dispõe 
sobre os crimes contra o sentimento religioso, como impedir ou perturbar cerimônia ou prática de 
culto, zombar de alguém por motivo de crença religiosa e desrespeitar ato ou objeto religioso. Já a 
Lei 9.459, de 1997, estabelece que a prática de discriminação ou preconceito contra religiões é 
crime inafiançável (não prevê o pagamento de fiança para que o acusado possa responder em 
liberdade) e imprescritível (que não tem um prazo para prescrever, ou seja, o réu poderá responder 
por ele durante toda a vida). A pena prevista é multa de um a três anos de reclusão. Essas leis, no 
entanto, não têm sido suficientes para coibir os casos de intolerância religiosa no país e punir os 
criminosos. Ainda persiste a subnotificação e muitos casos não chegam ao conhecimento do poder 
público. Além disso, não há um órgão responsável por contabilizar os dados oficialmente. Quando as 
denúncias chegam às delegacias, muitas vezes o caso não é investigado por não ser considerado 
importante. Quando é investigado, não é difícil se tornar inconclusivo. A principal dificuldade está em 
tipificar esse tipo de crime. Como a motivação religiosa é subjetiva, muitosacabam sendo 
considerados crimes comuns, como roubos e furtos, praticados em ambientes religiosos. 
Intolerância institucionalizada 
Ainda que a intolerância religiosa seja uma triste realidade no Brasil, outros países apresentam 
situação ainda mais grave – quando as violações não são reconhecidas pelas autoridades e pelo 
Estado e as vítimas têm pouca ou nenhuma possibilidade de recorrer à Justiça. Dos 198 países do 
mundo, 79 apresentam níveis alto ou muito alto de restrições religiosas, segundo relatório divulgado 
em 2017 pelo Pew Research Center, instituto de pesquisa norte-americano. Nessas nações estão 
mais de 75% da população mundial. Em muitos casos, as restrições à liberdade religiosa partem do 
próprio governo. Ocorrem quando a intolerância está institucionalizada, ou seja, o Estado adota leis 
baseadas em princípios religiosos, com políticas, ações e, muitas vezes, com o emprego da força, 
contra determinado grupo ou comunidades que professam uma religião diferente da oficial. Esses 
grupos podem não ter acesso ou ter acesso dificultado a empregos, cargos públicos e serviços, além 
de sofrerem detenções e terem seus cultos e rituais de conversões proibidos. Exemplos dessa 
realidade ocorre em Mianmar, país de maioria budista no Sudeste Asiático, onde o Estado não 
reconhece e persegue a minoria islâmica rohingya. Como resultado, cerca de 700 mil rohingyas 
fugiram para Bangladesh e outros 6,7 mil morreram assassinados, em 2017, muitos deles vítimas de 
atos violentos, como decapitações, carbonizações e violência sexual. A Organização das Nações 
Unidas (ONU) afirmou haver indícios de “limpeza étnica”. 
 
Na China, as organizações religiosas precisam ser aprovadas pelo Estado e os membros do Partido 
Comunista devem seguir compulsoriamente o ateísmo. Já a Índia é governada por uma agremiação 
hinduísta, o Partido Bharatiya Janata (BJP), que tem histórico de intolerância em relação aos cultos 
muçulmanos no país. Entre as nações islâmicas, as maiores restrições ocorrem em governos que 
adotam a sharia, um sistema de lei e código de conduta para os seguidores do islamismo, que diz 
respeito a vários aspectos da vida dos muçulmanos. É o caso do wahabismo na Arábia Saudita a da 
teocracia xiita no Irã. 
Perseguições e ações extremistas 
A intolerância religiosa apresenta sua face mais violenta a partir da atuação de organizações e 
grupos religiosos extremistas. Suas ações incluem violência contra minorias religiosas, expropriação 
de bens, destruição do patrimônio religioso e cultural, assassinatos e atos terroristas. O principal 
exemplo é o grupo extremista Estado Islâmico (EI), que tem protagonizado alguns dos mais brutais 
episódios de intolerância religiosa atualmente. 
O EI é considerado o mais poderoso grupo fundamentalista islâmico da história. Os grupos 
fundamentalistas procuram reconduzir sua religião ao caminho “puro e verdadeiro” e defendem que 
interpretações literais dos textos sagrados devem ser a única orientação para os diversos aspectos 
da vida e do cotidiano. Por isso, entre os seus alvos estão os seguidores moderados ou não 
ortodoxos de sua própria crença. 
O crescimento do EI foi impulsionado pela situação de caos no Iraque, arrasado pelos conflitos 
internos entre os muçulmanos xiitas, sunitas e os curdos após a ocupação norte-americana (2003-
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2011), e pela guerra civil na Síria. Em 2014, o grupo anunciou a criação de um califado na região e 
instaurou um governo próprio, com ministérios, cortes islâmicas e aparatos de segurança. Dessa 
forma, o EI faz uso da violência e do fanatismo religioso para colocar em prática sua estratégia de 
poder e de desafio às instituições e à ordem ocidental. Um traço marcante desses grupos 
extremistas são as ações sistemáticas para aniquilar ou afastar aqueles que não concordam com a 
sua interpretação fundamentalista da religião. Para isso, o grupo se utiliza de ataques suicidas, 
detenções, escravizações e assassinatos em massa, incluindo formas extremas de execução e 
torturas das vítimas. Outra característica é a propaganda global, com o uso de redes sociais para 
exibir os atos de crueldade extrema, intimidar opositores, recrutar seguidores e conquistar redes de 
apoio internacionais. 
A partir do final de 2016, o EI perdeu grande parte dos territórios conquistados e passou a usar 
como estratégia a realização de atentados em regiões distantes de seu centro de atuação, e onde 
podem ganhar mais visibilidade, como a Europa. Em 2017, o grupo assumiu a autoria dos três 
atentados ocorridos no Reino Unido – entre eles o que matou 22 pessoas no show da cantora pop 
norte- americana Ariana Grande – e o atropelamento no centro de Barcelona, na Espanha, quando 
morreram 16 pessoas e mais de cem ficaram feridas. 
Além do EI, outros grupos fundamentalistas destacam-se no cenário internacional. Aliado do EI, 
o Boko Haram atua na Nigéria, onde quer implementar a sharia. A Al-Qaeda, do saudita Osama bin 
Laden, é apontada como responsável pelo atentado de 11 de setembro de 2001 nos Estados 
Unidos, um dos mais graves da história, que causou a morte de cerca de 3 mil pessoas. Afiliado à 
Al-Qaeda, o Al-Shabab, tem forte presença na Somália, Quênia, Etiópia e Djibuti, e uma de suas 
mais cruéis ações ocorreu em Mogadício, capital da Somália, em outubro de 2017, quando dois 
caminhões-bomba deixaram mais de 350 vítimas. 
 
Refugiados e islamofobia 
O extremismo religioso foi um fator determinante para a explosão do número de refugiados no 
mundo, sobretudo a partir de 2015, quando mais de 1 milhão de deslocados chegaram à Europa, 
dando origem à mais grave crise de refugiados desde a II Guerra Mundial. Embora aspectos 
econômicos tenham papel relevante, é significativo que mais da metade dos refugiados venha de 
países que estão no centro de conflitos onde o extremismo religioso é vigoroso, como Síria (onde 
atua o EI), Afeganistão (Talibã) e Somália (Al-Shabab). 
Os muçulmanos que deixam seus lares para trás, fugindo das atrocidades do EI, acabam sendo 
vítimas de preconceito e intolerância nos países aonde chegam, devido a uma visão deturpada que 
associa o islamismo ao terrorismo. O islamismo é a segunda maior religião do mundo em número 
de seguidores, possui diversas linhas e tendências, e a imensa maioria do seu 1,8 bilhão de adeptos 
condena o fundamentalismo e prega a tolerância. Na Europa, muitas vezes, eles são alvo de 
discursos de ódio, ações violentas e ataques a locais de culto e mesquitas. São situações nas quais 
a intolerância religiosa se sobrepõe à xenofobia, que é a aversão aos estrangeiros e o tema do 
próximo bloco deste dossiê. 
 
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A chegada de imigrante, sobretudo de nações pobres, gera tensão nos EUA, na Europa e até 
no Brasil 
“Por que temos todas essas pessoas de países de merda (shithole countries) vindo para cá?”, teria 
dito o presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, durante uma reunião com congressistas 
na Casa Branca, em janeiro de 2018. Ele se referia a El Salvador, Haiti e nações africanas, 
indicando sua preferência por receber imigrantes de países desenvolvidos, como a Noruega. A frase 
foi divulgada pelos meios de comunicação americanos a partir do relato de pessoas que 
participaram do encontro. A Casa Branca não desmentiu a declaração, mas o presidente negou ter 
usado o termo. 
O porta-voz da Organização das Nações Unidas (ONU) para Direitos Humanos, Rupert Colville, 
considerou os comentários vergonhosos e afirmou que não são apenas um deslize de Trump, mas 
parte de sua postura xenófoba. 
A xenofobia é a aversão a pessoas estranhas a seu meio, no geral estrangeiras, com língua, 
costumes ou religiões diferentes. Baseia-se no sentimento de superioridade de uma cultura sobre 
outra e em estereótipos e preconceitos. Sua mais antiga manifestação pode ser encontrada na 
Grécia antiga, onde apenas as pessoas nascidas nas cidades-estado gregaseram consideradas 
cidadãos e possuíam direitos. Entre o fm da Antiguidade e o início da Idade Média, eram tido como 
bárbaros (incivilizados) os povos que não habitavam o Império Romano. 
Políticas anti-imigração e nacionalismo 
Desde sua campanha eleitoral, Trump já apresentava uma plataforma explicitamente anti-imigratória, 
em nome da segurança e dos empregos dos americanos, e a defesa do nacionalismo – sentimento 
que valoriza a unidade da nação e sua identidade cultural, na língua, nos costumes, nas tradições e 
na religião. Faz parte desse contexto seu principal slogan de campanha, reafirmado em seu discurso 
ao assumir a Presidência dos EUA: “A América para os americanos em primeiro lugar”. A primeira 
medida adotada por Trump nesse sentido foi a assinatura do decreto anti-imigração, aprovado pela 
Suprema Corte dos EUA no final de 2017, que veta a entrada nos EUA de cidadãos de seis países 
de maioria muçulmana: Síria, Líbia, Iêmen, Irã, Somália e Chade, consideradas nações com 
“inclinações terroristas” pelo governo norte-americano. Quem chega aos EUA vindos desses países 
só pode permanecer se comprovar relações formais e documentadas com uma pessoa ou entidade 
no país – ter um familiar ou ser contratado por uma empresa norte- americana, por exemplo. Além 
disso, permanece em trâmite no Congresso norte-americano a proposta de alongar e reforçar o 
muro de cerca de mil quilômetros na fronteira com o México, numa tentativa de frear o fluxo de 
imigrantes ilegais. A construção do muro foi uma das principais promessas de campanha de Trump, 
que se referiu aos mexicanos como “traficantes e estupradores”. 
 
Crise econômica na Europa 
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Mas não é só nos EUA que a xenofobia e o nacionalismo foram encampados pelo governo e se 
fortaleceram. Na Europa, o ódio aos imigrantes ganhou mais intensidade devido à estagnação 
econômica, à onda migratória e ao medo do terrorismo. 
Passados dez anos da crise econômica de 2008, o comércio e os investimentos internacionais 
apresentam modesta recuperação, e muitos países ainda estão com o mercado de trabalho 
estrangulado. No final de 2017, a Grécia, um dos mais afetados, ainda tinha uma taxa de 
desemprego em torno dos 20%, a maior da União Europeia (UE). Na Espanha, essa taxa chegou a 
17% dos trabalhadores, e na Itália, a 11%. Além do desemprego, os déficits nas contas públicas 
levaram governos a adotar medidas de austeridade, aumentando a idade para aposentadoria e 
reduzindo benefícios sociais. Nessa situação de aperto, os estrangeiros são cada vez menos bem-
vindos. 
Frustradas, as sociedades começam a questionar os projetos de integração como a UE e voltam a 
olhar para si mesmas como nações individualizadas, com interesses próprios a defender. O Brexit, a 
saída do Reino Unido da UE, foi a maior expressão política desse pensamento. 
Em compasso com o crescimento do nacionalismo, em diversos países europeus, como França, 
Holanda, Áustria e Alemanha, a extrema direita e partidos conservadores vêm obtendo expressivos 
resultados nas urnas. Esse desempenho está relacionado à defesa que esses partidos fazem de 
políticas isolacionistas, protecionistas e contrárias à imigração. Rotular o estrangeiro como inimigo 
passou a ser uma estratégia cada vez mais usada para justificar os problemas internos e obter 
ganhos políticos. 
Outra consequência da necessidade de frear a entrada de imigrantes foi o fechamento das fronteiras 
e a construção de barreiras. A exemplo do muro que separa EUA e México, vários países europeus 
ergueram muros ou cercas entre 2014 e 2016, como a Áustria na fronteira com a Eslovênia, e a 
Eslovênia na divisa com a Croácia. A Bulgária também começou a ampliar o muro na fronteira com a 
Turquia (veja a proliferação dos muros no gráfico acima). 
Nesse sentido, também foi bastante sintomática a postura da Hungria. O primeiro-ministro 
conservador Viktor Orbán também decidiu construir uma cerca na fronteira com a Sérvia e aprovou 
um conjunto de leis anti-imigratórias, que permite a deportação de imigrantes ilegais e a detenção de 
quem tentar entrar no país ilegalmente. Ao justificar a decisão, o seu governo anunciou que as 
ações visam a “defender a cultura da Hungria e da Europa”, em referência à chegada de refugiados, 
em sua maioria muçulmanos, a países cristãos – é a xenofobia explicitamente se convertendo em 
política de Estado. 
 
Além de serem vítimas de violência, minorias sexuais, sobretudo transgêneros, vivem 
situação de exclusão social; no mundo, sete nações impõe a pena de morte para a prática 
homossexual 
Um vídeo mostrando um corpo ensanguentado e jogado no chão, recebendo pauladas, chutes e 
xingamentos de pelo menos quatro homens se propagou na internet em 2017 e ganhou repercussão 
internacional. A vítima dessa cena chocante era a travesti cearense Dandara dos Santos, de 42 
anos, uma das 277 LGBTs (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais) assassinadas no país, apenas 
nos nove primeiros meses do ano. 
Segundo o Grupo Gay da Bahia (GGB), ONG responsável por realizar esse levantamento, o número 
de mortes ligadas à homofobia e à transfobia já passou de uma por dia, a maior média desde que o 
grupo começou a fazer esse levantamento, há quase 40 anos. Tais indicadores conferem ao Brasil o 
lamentável título de líder mundial de homicídios de LGBTs. 
A homofobia pode ser definida como o medo, a aversão ou o ódio irracional aos homossexuais. 
A transfobia refere- se à intolerância de gênero relacionada aos transexuais, transgêneros e 
travestis. Além do Brasil, em diversos outros países as perseguições e as ameaças de violência 
também impedem que LGBTs possam exercer livremente a sua cidadania ou viver em segurança. 
Algumas nações, inclusive, fazem do preconceito explícito uma política de Estado. Em pleno século 
XXI, a prática homossexual é considerada crime em mais de 70 países. Em sete deles – Sudão, Irã, 
Iraque, Iêmen, Arábia Saudita, Nigéria (em 12 estados) e Somália (em algumas regiões no sul) – a 
punição para quem se relaciona com alguém do mesmo sexo é a morte. 
Ódio e exclusão social 
No Brasil, um traço comum desses crimes de intolerância é o grau de violência das agressões, que 
costumam ser múltiplas e concentradas no rosto e nos órgãos genitais das vítimas, indicando não se 
tratar de assassinatos comuns mas de crimes de ódio. Elas teriam, assim, a função de passar um 
“recado” para a sociedade: o de que esse tipo de comportamento é condenável e, portanto, deve ser 
punido e eliminado, e que as pessoas que assim se comportam podem vir a ter um destino 
semelhante. 
Esses assassinatos bárbaros, no entanto, representam apenas a parte mais visível da discriminação 
e da falta de garantias básicas a que são expostos os homossexuais, principalmente os 
transgêneros. Por demonstrarem de modo mais claro a sua homossexualidade, as travestis e os 
transexuais são os que sofrem os maiores preconceitos e violência. E acabam vivenciando um ciclo 
vicioso da exclusão: são expulsas de casa e, posteriormente, da escola, onde costumam sofrer 
bullying e violência, muitas vezes praticados até com a conivência de professores e familiares. 
Segundo pesquisa realizada em 2016 pela Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, 
Travestis, Transexuais e Intersexos (ABGLT), mais da metade dos estudantes LGBT já foi assediada 
sexualmente na escola. A rejeição segue no mercado de trabalho, até que algumas pessoas veem 
como única e última alternativa a prostituição, tornando-se mais uma vez vulneráveis a todas as 
questões que isso envolve, desde viver na rua, até ser vítima de novos assédios, violência e de 
ameaças de morte. 
Como resultado da exclusão e da discriminação, são altas as taxas de depressão e suicídio entre 
LGBTs. Assim como os assassinatos, o suicídio configura uma das principais causas de morte de 
travestis e transexuais no Brasil. Estudos internacionais apontam que o índice de suicídio é de 
quatro a cinco vezes mais frequenteentre os LGBTs. Assim, enquanto a expectativa de vida da 
população brasileira em geral é de 75 anos, a média de vida de uma travesti no país não passa de 
35 anos. 
 
 “Cura gay” 
Uma das maiores discriminações sofridas pela população LGBT está relacionada com a chamada 
“cura gay”, que sugere que a homossexualidade é uma doença e, por isso, passível de ser tratada. 
Foi somente em 1991 que a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou o termo 
“homossexualidade” da Classificação 
Internacional de Doenças, reconhecendo que uma variação natural da sexualidade humana não 
pode ser considerada patologia. No Brasil, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) proibiu, em 
1999, o uso de terapias de reversão sexual. A transexualidade, todavia, ainda se encontra na lista de 
transtornos mentais da OMS. 
Mas, nos últimos anos, houve diversas tentativas para suprimir a resolução do CFP e autorizar 
essas práticas, principalmente por meio de projetos enviados à Câmara dos Deputados. Em 
dezembro de 2017, numa polêmica sentença, o juiz Waldemar Cláudio de Carvalho, da 14ª Vara do 
Distrito Federal, autorizou psicólogos a atenderem gays e lésbicas que buscam mudança na 
orientação sexual. 
Segundo o juiz, o objetivo seria não privar os psicólogos de oferecer o serviço àqueles que, 
voluntariamente, venham em busca de orientação acerca de sua sexualidade, sem qualquer forma 
de censura. Associações de LGBTs manifestaram-se contrárias à decisão. O CFP também 
considerou a sentença equivocada e declarou que iria recorrer. Para o Conselho, o entendimento da 
homossexualidade como algo que possa ser revertido reforça o estigma, a exclusão e até a 
violência, uma vez que a considera um problema que deve ser eliminado. 
Bancada Evangélica 
O crescimento da homofobia no Brasil associa-se com a ordenação patriarcal da sociedade – a 
organização da família em torno da figura do homem –, o machismo e o conservadorismo. Para isso 
também contribui o fortalecimento de grupos religiosos mais radicais, tanto católicos como 
evangélicos. A homossexualidade constituiria uma ameaça aos valores morais desses grupos, como 
a família, entendida por eles exclusivamente como a união entre um homem e uma mulher. 
Essa expansão se expressa, entre outras formas, pelo crescimento da chamada bancada evangélica 
no Congresso Nacional. O número de integrantes que a compõem quadruplicou de 1994 para 2017, 
passando de 21 para 80 dos 513 deputados federais. Assim como outras frentes parlamentares, ela 
atua de forma coordenada para tratar de assuntos de seu interesse e vota de maneira coesa. Além 
disso, possui poder de articulação e capacidade de pautar temas da agenda política, como o projeto 
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conhecido como Estatuto da Família, que tramita na Câmara dos Deputados e defne família apenas 
como sendo a união entre homem e mulher, inviabilizando a adoção de crianças por casais do 
mesmo sexo. 
Gênero e currículo 
Outro exemplo da pressão da bancada evangélica foi a exclusão das menções ao combate à 
discriminação de gênero na nova versão da Base Nacional Comum Curricular, documento que vem 
sendo elaborado desde 2015 e indica o que as escolas públicas e privadas devem ensinar a cada 
ano, em toda a Educação Básica. 
Gênero é um conceito formulado nos anos 1970 com grande influência do movimento feminista. 
Distingue a dimensão biológica (sexo feminino e masculino) da dimensão social, baseando-se na 
ideia de que ser homem ou ser mulher é resultado do contexto social e da cultura. Já a 
expressão identidade de gênero diz respeito ao gênero (masculino, feminino ou neutro) com o qual 
uma pessoa se identifica, que pode ou não concordar com o seu sexo biológico. Em suma, pode-se 
dizer que o sexo está para a natureza assim como o gênero está para a cultura. 
Grupos religiosos e conservadores dizem temer a implantação do que chamam de “ideologia de 
gênero” nas escolas brasileiras. Eles criticam essa diferenciação entre sexo e gênero e defendem 
que o debate sobre essas questões teria o propósito de confundir as crianças e os jovens e 
incentivar a homossexualidade, causando a “destruição das famílias”. 
As críticas a esse tipo de visão apontam que, esse discurso, além de preconceituoso e intolerante, 
teria o objetivo de deslegitimar o debate, que é essencial para o respeito às minorias, à liberdade de 
expressão e à própria democracia, ao promover a igualdade entre os gêneros. O ambiente escolar 
seria, então, o local ideal para se falar disso, pois é o espaço por excelência do convívio com as 
diferenças e do exercício do respeito e da cidadania. 
O Ministério da Educação optou por retirar as menções ao respeito “à identidade de gênero” e 
“orientação sexual” da versão final da Base Nacional Comum Curricular, aprovada em dezembro de 
2017 pelo Conselho Nacional de Educação. A atitude foi criticada por educadores, que consideraram 
um retrocesso em relação ao compromisso que a escola deveria ter com o combate aos 
preconceitos e a valorização das diferenças. 
 
Direitos LGBT 
Atualmente, dos 195 países do mundo, 85 adotam medidas protetivas a favor da população LGBT, 
como garantir seus direitos na Constituição e contar com legislações contra crimes de ódio e 
incitação à violência. Avanços maiores nesse sentido, como a legalização da união civil entre 
pessoas do mesmo sexo e a possibilidade de adoção de uma criança por casais homossexuais, 
ainda estão restritos a 47 países. A primeira nação a legalizar o casamento homoafetivo foi a 
Holanda, no ano 2000. No Brasil, ele foi reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 
2011. Dois anos depois, uma resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) obrigou todos os 
cartórios do país a realizar casamento entre casais do mesmo sexo. 
Outra importante conquista da comunidade LGBT brasileira diz respeito à possibilidade de fazer 
cirurgia para mudança de sexo pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em março de 2018, o STF 
autorizou transexuais e transgêneros a mudar o nome no registro civil. Até então, essas pessoas 
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podiam adotar o nome social (nome que escolheram) em outros tipos de identificação, como 
crachás, matrículas escolares, na inscrição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e no 
Cadastro de Pessoa Física (CPF). Embora ainda haja um longo caminho a ser percorrido, são 
avanços que conferem a esse grupo maior inserção social e igualdade de direitos em meio a uma 
sociedade cada vez mais intolerante. 
 
 
Dossiê – Intolerância: os limites da liberdade de expressão 
 
(Richard Ashen) 
Quando o discurso de ódio extrapola o direito de se manifestar livremente 
Em meio ao efervescente Carnaval de São Paulo em 2018, um fato destoou da animação. Por 
iniciativa do movimento Direita São Paulo, o bloco Porão do Dops pretendia desfilar nas ruas da 
cidade para “celebrar” o legado da ditadura militar. Um dos cartazes de divulgação do bloco exaltava 
a figura do coronel Carlos Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI-Codi e torturador durante o regime 
militar. 
O Ministério Público (MP) entrou com uma liminar tentando impedir o desfile do bloco, alegando 
apologia à tortura. A juíza Daniela Conceição negou o pedido, sob a justificativa de que a proibição 
fere a liberdade de expressão. O MP recorreu e, às vésperas do desfile, veio a decisão do 
desembargador José Rubens Queiroz Gomes, para quem a manifestação do bloco configura, de 
fato, crime de apologia à tortura. 
Em tempos de intolerância, a proibição do bloco é mais um episódio a instigar o debate sobre os 
limites da liberdade de expressão. Sem pretender fornecer uma resposta absoluta a essa longa 
discussão, recorremos a alguns fundamentos filosóficos que abordam a ideia da tolerância e os 
limites da liberdade individual. 
A liberdade de expressão 
A liberdade de expressão é o direito de qualquer um manifestar suas ideias livremente, sem 
interferência do governo ou da sociedade. Por isso,trata-se de um dos pilares das democracias e 
peça fundamental para o exercício da cidadania e da fiscalização do poder público. 
Uma reflexão seminal sobre a liberdade de expressão está na obra Sobre a Liberdade, publicada em 
1859 pelo filósofo utilitarista John Stuart Mill. Ferrenho defensor da liberdade individual, Mill 
argumenta que ao redor de cada indivíduo há uma área em que nem a sociedade nem o Estado 
estão autorizados a agir. É o que ele chama de self regarding area: “sobre si mesmo, seu corpo e 
sua mente, o indivíduo é soberano”. Mill elenca três argumentos em defesa da liberdade de 
expressão. 
Argumento da falibilidade: quando o homem torna-se consciente de si como um ser limitado e 
pequeno (ou seja, humano), passível de ser iludido, ele compreende que muitas de suas opiniões 
podem estar equivocadas. Por isso, a única posição coerente com o bom senso é a tolerância; filha 
da incerteza e da dúvida, a tolerância seria parte da condição humana. 
Argumento da parcela de verdade: mesmo que uma opinião contrária a nossa seja falsa, às vezes 
ela pode ser parcialmente verdadeira ou mostrar algumas fissuras de nossa argumentação. 
Argumento do dogma: toda opinião não contestada, não discutida, torna-se um dogma, um 
preconceito, mesmo que seja verdadeira. Quando uma opinião verdadeira é contestada, ela é 
obrigada a justificar-se e, por isso, torna-se mais forte, mais racional e mais vigorosa. A liberdade de 
expressão, assim, é fundamental para entendermos o porquê de acreditarmos numa determinada 
opinião e nos livrarmos do fanatismo. 
Restrições ao discurso de ódio 
Para Mill, há um único motivo que pode levar a sociedade a interferir nessa liberdade: evitar o dano 
a outrem (harm to others). Esse dano a terceiros pode ser o dano privado, isto é, a outros indivíduos, 
ou o dano público, contra as instituições e o interesse público. O chamado “princípio do dano” é a 
única possibilidade de restrição à liberdade: “a liberdade do indivíduo deve ser, assim, limitada; ele 
não deve se tornar nocivo a outras pessoas”. 
Ao trazer o pensamento de Mill para o atual contexto de intolerância, podemos afirmar que o autor 
se alinha com a tese de que a liberdade de expressão não pode se sobrepor à garantia da dignidade 
humana. Em termos gerais isso significa que o direito à livre manifestação não deve servir de salvo-
conduto para que alguém possa incitar a violência ou expressar-se de forma preconceituosa, 
principalmente contra grupos historicamente vulneráveis – negros, homossexuais, mulheres, 
imigrantes, minorias religiosas. 
A Constituição brasileira de 1988 garante a liberdade de expressão e proíbe a censura prévia, é fato. 
Mas há condições estabelecidas pelos Códigos Civil e Penal que determinam certos limites. A 
manifestação de ideias preconceituosas pode ser enquadrada como injúria, calúnia e difamação. 
Atualmente, grande parte das decisões judiciais segue alinhada ao pensamento de Mill. Um discurso 
de ódio, notadamente os que se configuram como ofensa ou humilhação a grupos identitários, 
costuma ser penalizado. 
Mesmo com alguns parâmetros judiciais, estabelecer uma linha vermelha sobre o que pode ou não 
ser expressado é uma tarefa complexa. Essa sobreposição de valores tão caros à democracia – a 
livre manifestação do pensamento e a defesa da dignidade humana – nos coloca em um exercício 
permanente para o desenvolvimento da sociedade. A liberdade de expressão, lembra-nos o cientista 
político Felix Oppenheim, é uma liberdade social, uma vez que envolve mais de um ser humano. 
Consequentemente, os limites da liberdade de expressão são construídos socialmente, pela 
manifestação de grupos identitários, por cidadãos que manifestam ideias que desafiam os direitos 
humanos e por decisões judiciais que vão criando bases para uma jurisprudência sobre o tema. É a 
partir desse choque de valores que iremos construir a sociedade que queremos para o futuro. 
RESUMO 
CONCEITO E CAUSAS 
Intolerância é a não aceitação das diferenças e a incapacidade de reconhecer uma opinião 
divergente. Manifestações de ódio têm crescido no Brasil e no mundo devido a fatores como a crise 
política e econômica e o fortalecimento do individualismo e da cultura do medo. A internet e as redes 
sociais também têm papel central na visibilidade e na repercussão dos episódios de intolerância. 
RACISMO 
A discriminação com base em características físicas, como a cor da pele, tem origem na escravidão 
e ainda hoje persiste nos países que adotaram esse sistema, como os EUA e o Brasil. Devido ao 
preconceito racial, os negros são os mais afetados pela violência, os que têm os mais baixos 
salários e escolaridade e representam a maior parte da população carcerária do país. 
RELIGIÃO 
Os seguidores das crenças de matriz africana, como umbanda e candomblé, são os principais alvos 
da intolerância religiosa no Brasil, fenômeno que tem relação direta com o racismo. Em algumas 
nações, a situação é ainda mais grave, quando as restrições à liberdade de religião partem do 
próprio governo (como em Mianmar, Índia e Arábia Saudita) ou de grupos religiosos extremistas, 
como o Estado Islâmico. 
XENOFOBIA 
A estagnação econômica, a crise dos refugiados e o temor do terrorismo acentuaram a aversão e o 
medo de pessoas de culturas diferentes (em geral, estrangeiros), em diversas regiões do mundo. 
Isso levou os EUA e alguns países da Europa a adotar um discurso nacionalista e conservador, e 
políticas anti-imigração, como a construção de muros para barrar a entrada de imigrantes. No Brasil, 
o aumento do número de refugiados é acompanhado pelo crescimento da xenofobia. 
GÊNERO 
Pelo menos uma pessoa LGBT é assassinada por dia no Brasil – o país é campeão mundial de 
homicídios de transgêneros. Essas pessoas também estão expostas ao preconceito e exclusão 
social. No mundo, a prática homossexual é considerada crime em mais de 70 países – em sete 
deles, como o Sudão e o Irã, é punida com pena de morte. 
 
 
 
 
 
Internacional : A disputa por Jerusalém 
 
(Salih Zeki Fazlioglu) 
Decisão dos Estados Unidos de reconhecer a cidade como capital de Israel dificulta ainda 
mais o entendimento entre israelenses e palestinos e aumenta a instabilidade no Oriente 
Médio 
Com a característica controvérsia que vem pautando suas ações em política externa, o presidente 
dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump, reconheceu a cidade de Jerusalém como capital de 
Israel. Durante o anúncio feito em dezembro de 2017, ele também ordenou que a embaixada norte-
americana em Israel seja transferida de Telaviv para Jerusalém. A decisão foi duramente criticada 
pela comunidade internacional e abalou ainda mais a já turbulenta relação entre israelenses e 
palestinos. Desde 1947, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou a partilha da 
Palestina, árabes e judeus não conseguem se entender em relação à divisão do território. O fato é 
que, passados 70 anos de guerras, levantes e negociações frustradas, os judeus conquistaram sua 
nação com a criação de Israel, em 1948, enquanto o povo palestino ainda reivindica o seu próprio lar 
nacional. 
Diante desse contexto, o fato de os EUA aceitarem Jerusalém como capital de Israel carrega um 
forte simbolismo que mexe com os sentimentos nacionalistas de israelenses e palestinos. Israel 
considera Jerusalém a sua capital “eterna e indivisível”. Esse status, contudo, não é reconhecido 
pela Organização das Nações Unidas (ONU). Para acirrar a polêmica, a parte oriental de Jerusalém 
é reivindicada pelos palestinos como capital de seu futuro 
Estado. Revoltados com a decisão de Trump, milhares de palestinos saíram às ruas de Jerusalém 
para protestar e entraram em confronto com as forças de segurança israelenses, colocando a região 
à beira de um conflito armado. 
As motivações de Trump 
Formalmente, o governo Trump justificou sua decisão como o reparo de uma injustiça contra Israel, 
que é a única nação sem ter sua capital reconhecida internacionalmente. Alguns analistas ainda 
entendem que a decisãodo presidente possa ter o objetivo de romper com o impasse das 
negociações entre israelenses e palestinos. 
Mas suas reais motivações para alterar o equilíbrio em uma das mais complexas disputas 
geopolíticas em curso no planeta estão relacionadas à própria política interna norte-americana. 
Durante a campanha eleitoral, Trump obteve o apoio financeiro de grupos que atuam na defesa dos 
interesses de Israel na política norte-americana – o chamado “lobby pró-Israel”. Portanto, o 
reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel é visto como uma contrapartida às doações 
feitas pelo lobby israelense à campanha de Trump. 
A medida também atende a outra expressiva parcela do eleitorado de Trump, formada por cristãos 
conservadores. O interesse desse grupo em ver Jerusalém reconhecida como capital israelense 
atende a questões religiosas. Isso porque muitas denominações evangélicas acreditam que o 
retorno dos judeus a Jerusalém seria a concretização de uma profecia bíblica relacionada à volta de 
Jesus Cristo, à luta do bem contra o mal e ao fim do mundo. 
Comunidade internacional 
A percepção da comunidade internacional é que a decisão de Trump sabotou as negociações de 
paz. A ONU propõe que Jerusalém tenha um status especial, sem pertencer a nenhum país. Ainda 
que não haja consenso sobre essa questão, na visão do secretário-geral da ONU, o português 
António Guterres, qualquer decisão sobre Jerusalém não pode ser tomada de forma unilateral e 
deve ser acertada no âmbito das negociações de paz entre israelenses e palestinos. 
Além disso, ao tomar partido de Israel, os EUA passam a ser vistos como um ator parcial nas 
negociações, o que os impedem de assumir o protagonismo na mediação do conflito, como vinham 
exercendo nas últimas décadas. 
O isolamento dos EUA ficou evidente durante o debate sobre esse tema na ONU. Dias após o 
anúncio de Trump, o Egito entrou com uma resolução para revogar a decisão no Conselho de 
Segurança – principal órgão decisório da ONU, integrado por 10 membros rotativos e as cinco 
potências (EUA, China, Rússia, França e Reino Unido). A resolução teve o voto favorável de todos 
os membros, com exceção dos EUA, que tiveram que usar seu poder de veto para barrar a ação. Na 
Assembleia Geral da ONU, a rejeição contra o reconhecimento de Jerusalém pelos norte-
americanos teve o apoio de 128 países – apenas nove votaram contra, além de 35 abstenções. 
Apesar de a resolução ter apenas um caráter simbólico, o episódio explicita a rejeição internacional 
aos EUA e a Israel nessa questão. 
A simpatia da comunidade internacional diante da causa palestina vem se consolidando nos últimos 
anos. Com o impasse nas negociações, a Autoridade Nacional Palestina (ANP), organização 
responsável pelo governo palestino, passou a apostar numa ofensiva diplomática unilateral pelo 
reconhecimento internacional. Em 2012, a Assembleia Geral da ONU aprovou a resolução que eleva 
o status da Palestina para o de “Estado observador não membro”. Isso não signifca propriamente a 
aceitação de uma “nação” palestina, mas a decisão eleva a sua estatura na diplomacia internacional. 
Esse aval da ONU e a resolução que condena o reconhecimento de Jerusalém alavancaram ainda 
mais a campanha palestina pela criação de dois Estados, que ganha força no cenário global. 
 
Histórico de Jerusalém 
A disputa por Jerusalém envolve uma das questões mais complexas das relações internacionais. 
Tanto judeus como árabes reivindicam precedência histórica sobre o território e possuem suas 
próprias narrativas de perseguição e de pertencimento a Jerusalém. Os primeiros vestígios de 
ocupação da cidade datam de 5 mil anos atrás, quando povos cananeus se fixaram na região. 
Segundo relatos bíblicos, os judeus conquistaram Jerusalém por volta de 970 a.C., quando Davi 
fundou o reino de Israel, embora não haja evidências arqueológicas sobre essa ocupação. 
Nos séculos seguintes, a região foi invadida por assírios, babilônios, persas, macedônios e romanos. 
Foi no Império Romano que Jerusalém e seu entorno receberam o nome de Palestina, no século I 
d.C. Com o surgimento do islamismo e a expansão árabe, os muçulmanos conquistaram Jerusalém 
em 638, onde exerceram seu domínio até 1099, ano em que os católicos tomaram a cidade com a 
chegada das Cruzadas. Menos de um século depois, os muçulmanos reconquistaram a cidade, que 
passou ao domínio do Império Otomano a partir de 1517. 
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No século XIX, surgiu o Movimento Sionista, cujo objetivo era criar um “lar nacional” para o povo 
judeu na Palestina. Gradativamente, a região passou a receber imigrantes judeus, principalmente da 
Europa Central e Oriental, que fugiam do antissemitismo. Com a dissolução do Império Otomano 
após o fim da I Guerra Mundial, em 1918, a Palestina passou a ser administrada pelo Reino Unido, 
por meio do Mandato Britânico. Nessa época, apesar de majoritariamente árabe, a Palestina já 
contava com uma expressiva população judia. 
 
Expansão de Israel 
O apoio internacional à criação de um Estado judaico aumentou depois da II Guerra Mundial com a 
revelação do genocídio de cerca de 6 milhões de judeus nos campos de extermínio nazista, o 
Holocausto. Em 1947, a ONU aprovou a partilha da Palestina em dois Estados: um para os judeus, 
com 53% do território, outro para os árabes, com 47%. Dessa forma, em 14 de maio de 1948, foi 
criado o Estado de Israel. 
A partilha não foi aceita pelos países árabes, que atacaram Israel para tentar impedir a sua 
fundação. Mesmo com um Exército mais numeroso, Egito, Síria, Transjordânia (atual Jordânia), 
Iraque e Líbano foram derrotados por Israel em poucos meses. Com a vitória, o novo Estado 
ampliou seus domínios em relação às fronteiras originais aprovadas pela ONU, ocupando 75% da 
Palestina. 
Ao fim da guerra, além da expansão de Israel, o Egito havia ocupado a Faixa de Gaza, e a 
Transjordânia anexara Jerusalém Oriental e a Cisjordânia (o nome do país passou a ser Jordânia). 
Com isso, os palestinos ficaram sem território, e mais de 700 mil foram expulsos, tornando-se 
refugiados na Cisjordânia, na Faixa de Gaza e nos países árabes vizinhos, ou migrando para longe. 
A resistência palestina ao domínio de Israel se organizou com a fundação da Organização para a 
Libertação da Palestina (OLP), em 1964. Em 1967, diante das ameaças da aliança militar entre 
Egito, Síria e Jordânia, o Estado de Israel atacou os três países na Guerra dos Seis Dias, obtendo 
uma vitória fulminante. Passou então a controlar a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, a Faixa de 
Gaza e a Península do Sinai (que seria devolvida ao Egito em 1982), além das Colinas de Golã, 
território da Síria ocupado até hoje (veja mais no mapa abaixo). Em 1973, Israel voltaria a derrotar 
Egito e Síria na Guerra do Yom Kippur. 
Negociações de paz 
Nos anos 1990, surgiu uma nova esperança para a resolução do conflito entre israelenses e 
palestinos. A assinatura dos Acordos de Oslo (1993-1995), a partir de mediação dos EUA, 
determinou como objetivo final o estabelecimento de dois Estados na região: um judeu (Israel) e um 
palestino, que seria formado por duas extensões de terras descontínuas – a Faixa de Gaza e a 
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Cisjordânia. Essa configuração, defendida pela comunidade internacional, corresponde às fronteiras 
estabelecidas antes da Guerra dos Seis Dias, em 1967. 
Os acordos garantiram aos palestinos relativa autonomia na maioria da Faixa de Gaza e em parte da 
Cisjordânia. A administração fcaria a cargo da recém- criada Autoridade Nacional Palestina (ANP), 
encarregada também de dar os passos rumo à organização do futuro Estado. Pela primeira vez, a 
direção palestina aceitava a existência de Israel, e passava a defender a constituição de um Estado 
seu em um território que abrange a menor parte da Palestina. 
Nos últimos 20 anos, essa perspectiva geral dos “dois Estados” é a que tem guiado as negociaçõesde paz. Desde a assinatura dos Acordos de Oslo houve alguns avanços e muitos retrocessos. Veja 
os obstáculos mais difíceis de serem superados: 
STATUS DE JERUSALÉM 
Os palestinos defendem que a parte oriental da cidade, ocupada pelos israelenses em 1967, seja a 
capital do futuro Estado. O governo de Israel não aceita, reivindicando a cidade inteira como sua 
própria capital. Uma proposta para que Jerusalém fosse a capital dos dois Estados não avançou, e a 
recente decisão dos EUA de reconhecer a cidade como capital israelense tende a inviabilizar as 
negociações sobre o status de Jerusalém. A Palestina tem a seu favor a posição da ONU, que não 
reconhece a anexação de Jerusalém Oriental por Israel e afrma que o Estado judeu viola o direito 
internacional. 
ASSENTAMENTOS NA CISJORDÂNIA 
Desde 1967, Israel passou a estabelecer colônias judaicas na Cisjordânia, onde hoje vivem cerca de 
400 mil judeus em mais de 100 assentamentos, em meio a 3 milhões de palestinos. Israel instalou 
também colônias judaicas no setor oriental de Jerusalém, para justificar a soberania sobre a área. 
Dessa forma, o governo israelense mantém a política de criar assentamentos nos territórios 
destinados ao futuro Estado palestino. Os assentamentos são considerados ilegais pela lei 
internacional, e resoluções da ONU determinaram a devolução das áreas ocupadas, mas não foram 
obedecidas pelo governo israelense. Pela última proposta negociada entre os dois lados, os 
principais assentamentos ficariam com Israel, que, em troca, destinaria outras terras para os 
palestinos – mas as conversas não avançaram. 
RETORNO DOS REFUGIADOS 
Com a criação de Israel, mais de 700 mil palestinos tornaram-se refugiados. Outra grande onda de 
expulsões ocorreu após a Guerra dos Seis Dias, de 1967, quando cerca de 380 mil palestinos foram 
expulsos ou fugiram de suas casas e vilas. Os refugiados, mais seus filhos e netos, somam mais de 
5 milhões de pessoas, segundo a ONU o maior contingente de refugiados do mundo. Essa enorme 
população vive de forma precária, em campos de refugiados superpovoados. Os países árabes onde 
se situam os campos mal garantem o mínimo para sua sobrevivência. Os palestinos continuam 
reivindicando o retorno às antigas casas e a devolução de suas posses. Mas Israel resiste em 
aceitar a ideia. 
 
Fatah e Hamas 
Se o conflito com os israelenses já é um problema de difícil solução, há outro fator desestabilizador 
no interior da comunidade palestina: a rivalidade política entre as suas principais organizações 
políticas – o movimento laico Fatah e o grupo fundamentalista islâmico Hamas, considerado 
terrorista por Israel. Mas a situação começa a mudar aos poucos. 
Após uma guerra civil entre os dois grupos em 2007, o Hamas passou a controlar a Faixa de Gaza e 
expulsou o Fatah da região. Com isso, o Fatah manteve-se na Cisjordânia, onde o presidente da 
ANP, Mahmoud Abbas, constituiu um novo governo, logo reconhecido por Israel e pelas potências 
ocidentais. Em 2017, as duas facções selaram um acordo para a formação de um governo unificado 
palestino, com o Hamas cedendo os postos de controle de fronteira da Faixa de Gaza para o Fatah. 
A reconciliação é importante não apenas para garantir a paz interna, mas para tentar unificar a 
proposta de paz entre os palestinos. Enquanto o Fatah apoia a solução de “dois Estados”, o Hamas 
tradicionalmente defendia a luta armada contra Israel. Mas, nos últimos anos, o grupo tem 
flexibilizado suas posições. Em 2016 admitiu pela primeira vez a possibilidade de um Estado 
palestino nos limites vigentes em 1967. O Hamas abandonou em seu discurso a defesa explícita do 
fim do Estado de Israel, mas afirma que continuará lutando contra os que ocupam territórios 
palestinos. 
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O governo israelense vem se mostrando cético em relação à nova postura do Hamas. Apoiado por 
grupos nacionalistas, o primeiro-ministro Benyamin Netanyahu e o seu partido, Likud, se opõem à 
devolução dos territórios aos palestinos. 
 
Situação dos palestinos 
Com o impasse nas negociações, estende-se também o sofrimento da população palestina que vive 
em Israel. O país tem atualmente 21% de árabes-israelenses, descendentes de palestinos que 
permaneceram no território durante a criação de Israel, que afirmam ser tratados como cidadãos de 
segunda classe. Após a anexação, os palestinos receberam o direito à cidadania, mas a maioria não 
aceitou. Muitos dos árabes que vivem em Jerusalém Oriental são apenas “residentes permanentes”. 
Essa categoria lhes permite viver em Israel e ter acesso a serviços de saúde e educação. No 
entanto, eles não têm direito a votar nas eleições nacionais, nem passaporte. 
Os residentes de fora dos limites de Israel também vivem sob restrições. O governo israelense isola 
os assentamentos judaicos das populações palestinas da Cisjordânia, separando vilas e bairros uns 
dos outros por meio da construção de um enorme muro de concreto. Com isso, os palestinos da 
Cisjordânia têm limitações de circulação e podem ser barrados nos postos de controle e nas 
barreiras. Alegando questões de segurança, diante das 
forças hostis do Hamas, Israel impõe à Faixa de Gaza um bloqueio que proíbe a circulação de bens 
e pessoas para dentro e para fora do território. Isso levou a uma situação de desastre humanitário. 
Essa precária condição de vida dos palestinos, a falta de perspectivas em relação ao avanço das 
negociações e o reconhecimento de Jerusalém como capital israelense pelos EUA criam um 
ambiente de conflito iminente na região. A Faixa de Gaza foi palco de três ataques recentes de Israel 
– em dezembro de 2008/janeiro de 2009, em novembro de 2012 e em junho/agosto de 2014. 
Além disso, ao longo dos anos ocorreram revoltas populares do povo palestino contra o domínio 
israelense – as chamadas “intifadas”. A primeira durou de 1987 a 1993 e foi caracterizada pelo uso 
de armas simples, como pedras e paus. A segunda ocorreu entre 2000 e 2005, após mais um 
fracasso nas negociações com os israelenses. Grupos extremistas realizaram atentados terroristas 
ao que Israel respondeu com a invasão de áreas palestinas. O temor agora é que, diante da atual 
situação, grupos radicais convoquem uma terceira intifada, o que pode sepultar de vez qualquer 
negociação de paz na região. 
PARA IR ALÉM O filme israelense Lemon Tree (de Eran Riklis, 2008) retrata as diferenças entre 
árabes e israelenses a partir da história de uma viúva palestina que vive na Cisjordânia. Quando o 
ministro da Defesa israelense torna-se seu vizinho, ela é obrigada a derrubar o seu pé de limão. 
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RESUMO 
Israel e Palestina 
JERUSALÉM 
A decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, de reconhecer Jerusalém como capital de Israel 
foi condenada pela ONU e pode obstruir as negociações de paz entre judeus e árabes. O status de 
Jerusalém é um dos pontos-chave do conflito entre as duas partes. Os judeus a consideram sua 
capital “eterna e indivisível”, enquanto os palestinos reivindicam a parte oriental da cidade como 
capital de seu futuro estado. 
CRIAÇÃO DE ISRAEL 
O conflito árabe-israelense surgiu com a divisão da Palestina pela ONU em 1947, criando um Estado 
judeu e outro árabe. O Estado de Israel é proclamado em 1948. Contrariadas com a decisão, as 
nações árabes entram em guerra contra Israel. Ao final, o território previsto de Israel cresceu 75%, e 
os palestinos ficaram sem Estado. Em 1967, na Guerra dos Seis Dias, Israel incorpora a Faixa de 
Gaza, o Sinai (devolvido ao Egito em 1982), as Colinas de Golã, Jerusalém Oriental e a Cisjordânia. 
DOIS ESTADOS 
Em 1993, palestinos e israelenses assinam o Acordo de Oslo, que prevê a solução de dois Estados 
nacionais: um para os judeus e outro para os árabes, conforme as fronteiras definidas antes da 
Guerra dos Seis Dias. No entanto, há divergências que impedem a devolução dos territórios 
ocupados por Israel aos palestinos. Além

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