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PARRON, Tâmis A política da escravidão no Império do Brasil

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PARRON, Tâmis. A política da escravidão no Império do Brasil, 1826-1865. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2011.
· O presente trabalho se propõe analisar de forma diacrônica a ideia de política e escravidão, ao unir enunciação parlamentar, formação partidária, articulação social, dinâmica do tráfico negreiro, transformações institucionais do aparelho de Estado e ações de escravos, no período de 1826 a 1865.
· A consolidação de práticas do liberalismo político justifica o marco inicial deste estudo e o desenlace da Guerra Civil nos Estados Unidos define o fim do recorte, que é ao mesmo tempo nacional e internacional.
· O autor estudou diacronicamente as relações sociais e políticas que, tecidas por meio do Parlamento imperial, produziram a estabilidade necessária à expansão e à reprodução do cativeiro no Império do Brasil.
· “O presente estudo entende por política da escravidão não exatamente o comportamento de eleitores, mas uma rede de alianças políticas e sociais que, costurada em favor da estabilidade institucional da escravidão, contava com o emprego dos órgãos máximos do Estado nacional brasileiro em benefício dos interesses senhoriais; a esse modo de agir, é claro, correspondia também um protocolo discursivo, com seus lugares-comum e suas verdades universais. A política da escravidão, assim definida, não é hipóstase, dado preexistente ou natural, como se uma sociedade escravista devesse, por definição, apresentar uma política igualmente escravista. Ao contrário, ela foi sendo historicamente construída e reinventada por meio de diversos órgãos liberais, sobretudo a Câmara dos Deputados e o Senado, conforme as conjunturas nacionais e internacionais o permitissem ou mesmo demandassem.” (p. 18)
· Política da escravidão Política do contrabando negreiro (1835-1850) Política da escravidão na era do pós-contrabando (1850-1865)
· FONTES: livros, panfletos, memórias, traduções e artigos de jornal livres de censura prévia, bem como correspondências diplomáticas, atas e pareceres do Conselho de Estado e petições coletivas de proprietários, de municípios e de assembleis legislativas provinciais. 
· A hipótese do trabalho de Tâmis Parron é buscar o que nunca aparecia na historiografia ou era às vezes negado superficialmente nela. Que relação poderia existir entre o Estado imperial e a manutenção da escravidão no Brasil? Sempre se soube que no século XIX o Brasil manteve a escravidão, mas as causas disso eram atribuídas às vontades dos proprietários pura e simplesmente e não ao interesse do Estado brasileiro na escravização dos homens. 
· O autor busca demonstrar que no Brasil, assim como nos Estados Unidos, também houve um esforço político e intelectual pró-escravista.
· Expansão do cativeiro simultânea à formação do Estado nacional em uma sociedade plenamente escravista. 
· O que o Parron buscou fazer é restaurar uma ponte entre esses dois polos: o da sociedade, em que estavam reunidos os interesses dos proprietários, e o do Estado, em que se formula uma agenda de desenvolvimento nacional para ver se eles se excluíam, se negavam ou se reforçavam. Ao longo da pesquisa o autor consegue perceber que eles são polos que não podem ser percebidos de forma dissociada. São polos que se complementam no processo histórico do século XIX.
· METODOLOGIA: Análise de discursos através do método contextualista de Quentin Skinner e a ideia de luta semântica de Reinhart Koselleck.
· Neste estudo, dois fenômenos de longa duração, conquanto pouco apareçam de modo explícito, são pressupostos constantes: a economia-mundo de livre mercado e o sistema interestatal moderno do liberalismo político. 
· Primeiro passo foi procurar discursos nos anais parlamentares do tempo. Ver o que esses representantes políticos tinham a dizer. 
· O segundo passo foi tentar encontrar ligações entre esses políticos e a sociedade imperial. A relação entre os donos do poder e os donos dos escravos.
· Parron conseguiu vislumbrar a distribuição geográfica dos interesses escravistas pela manutenção do cativeiro no século XIX e mapeou quais eram as pessoas que queriam expandir o cativeiro na época da liberdade e quais os meios que elas utilizavam para que o Estado Nacional atendesse aos seus interesses. Se destacam os cafeicultores e proprietários do Vale do Paraíba fluminense e paulista, bem como da Zona da Mata mineira.
· A elite política e proprietária conseguiu fazer com que a lei de 1831 não tivesse validade na prática. Dessa jogada houve a escravização ilegal de 740 mil africanos. Em 15 anos esses africanos ilegalmente trazidos para o Brasil ao arrepio desta lei por causa de um consórcio vil entre o Estado brasileiro e os proprietários.
· Foi o primeiro crime em massa na história do Brasil. 
· Parron percebe a escravidão com dois níveis de estabilidade: no nível nacional ela é regulada, mas no nível internacional ela é condicionada. Os atores históricos regulam a escravidão em instâncias nacionais de poder.

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