Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
50 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 Unidade II Unidade II 5 Responsabilidade social: conceitos, visões e dimensões Os acontecimentos ocorridos na década de 1990 delinearam o atual panorama do Terceiro Setor na realidade brasileira. Conforme apontado pela Abong (2007, p. 1 apud SILVA, 2010), nessa época: [...] os diversos fóruns de articulação de ONGs começam a discutir as mudanças globais, o avanço do neoliberalismo, o processo internacional de reestruturação do capitalismo, a flexibilização produtiva, a globalização da economia, as reformas do papel do Estado, a mundialização da cultura, e, particularmente, a conjuntura brasileira e a crise política. Nesse debate, também estava em pauta a criação de uma associação nacional de ONGs que [...] promovesse o intercâmbio entre as organizações e representasse um canal legítimo de expressão destas em torno de temáticas sociais relevantes. Reunindo organizações com atuação em diferentes áreas, em sua maioria situadas em espaços urbanos da região Sudeste (SILVA, 2010). Em 1991, para atender a esses objetivos, foi criada a Associação Brasileira de ONGs (Abong) que priorizou entre suas primeiras ações: [...] a realização de um cadastro de ONGs atuantes no país; o apoio aos processos regionais, estaduais e locais de articulação; o estímulo à reflexão acerca da relação entre a Associação e os movimentos sociais, bem como acerca da interlocução entre as ONGs de desenvolvimento e organizações ambientalistas; a participação na ECO‑92; a disseminação de informações de interesse para as organizações associadas [inicialmente eram 164 associadas] e a análise da legislação existente com relação à criação e funcionamento das ONGs (ABONG, 2007, p. 1 apud SILVA, 2010). A proliferação e a diversificação das organizações se mantiveram por meio do movimento da Responsabilidade Social, onde o setor empresarial introduziu‑se de maneira organizada no Terceiro Setor, por meio da [...] intensificação de doações de recursos e da firmação de parcerias com as ONGs, além da criação de suas próprias fundações e institutos empresarias, que passaram a implementar diretamente os programas e projetos (FALCONER, 1999; BNDES, 2001 apud SILVA, 2010). 51 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 Projetos sociais no terceiro setor De acordo com Melo Neto (1999), um estudo denominado “Parceria, pobreza e cidadania”, realizado pelo Banco Mundial (divulgado em março de 1999), constatou novas evidências sobre as recentes mudanças ocorridas na estrutura e funcionamento do Terceiro Setor. O relatório dessa pesquisa, segundo o referido autor, destacou o tema da responsabilidade do Terceiro Setor em todo o mundo e revela a emergência de um novo modelo de atuação na área social, cujas principais características são: • atuação conjunta envolvendo empresas, governos, ONGs e sociedade civil; • predomínio de formas participativas de gestão; • participação de múltiplos atores no desenvolvimento das ações sociais; • foco nas ações de combate à pobreza; • ênfase nos projetos e ações em caráter local; • grande adesão de membros da comunidade como voluntários. De acordo com estudo do Banco Mundial, “[...] a mais nova tendência de atuação no Terceiro Setor é a disseminação da estratégia de parceria envolvendo empresa, governo, ONGs e sociedade civil” (MELO NETO, 1999, p. 22‑25). lembrete É na década de 1990 que a estratégia de parceria entre empresa, governo, ONGs e sociedade civil passa a ser disseminada. O autor pontua ainda que a chamada parceria compreende a soma de esforços envolvendo a empresa privada, o governo, as ONGs e a sociedade civil, e pode ocorrer de diversas formas: • a empresa privada fornece recursos para o governo desenvolver os seus projetos sociais, sob a forma de patrocínio, doações ou financiamento de campanhas sociais (parceria governo‑empresa); • a empresa contrata os serviços de uma ONG para desenvolver os seus projetos sociais (parceria empresa – ONG); • a empresa desenvolve seus projetos sociais com o apoio de uma ou mais ONGs e demais entidades da sociedade civil (parceria empresa‑ONG‑sociedade civil); • o governo desenvolve seus projetos com recursos da empresa e com participação de uma ou mais ONGs e da sociedade civil (parceira governo‑empresa‑ONG‑sociedade civil); 52 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 Unidade II • a empresa desenvolve seus projetos com a participação da sociedade civil (parceria empresa‑sociedade civil) (MELO NETO, 1999). Ou seja, no contexto neoliberal em que se experimenta um “Estado mínimo” frente à questão social, as empresas, a partir da década de 1990, passam a assumir um papel mais claro frente aos chamados “problemas sociais”. Sendo importante destacar que nessa perspectiva não se cogita a possibilidade de distribuição de renda ou direitos dos cidadãos, visando acabar com esses “problemas”, pelo contrário, a lógica que se institui é a do “cliente‑cidadão”, objetivando‑se o fortalecimento do capital. Menezes (2010) defende que a chamada responsabilidade social das empresas pauta‑se em um discurso de defesa da cidadania, da democracia, da participação social e etc. para o enfrentamento da questão social, o que na prática é estratégia ideológica, que objetiva facilitar o aumento de seus níveis de acumulação. Na realidade, ela exerce um papel segmentador e segue na contramão dos direitos sociais conquistados pela classe trabalhadora. Contra esse argumento, Passos (2012) afirma que os objetivos e práticas sociais não podem ser confundidos com interesses comerciais e econômicos, embora na prática essa seja uma tendência. Isso porque “[...] é bem maior o número de empresas que fazem de conta que possuem uma ação responsável, quando, de fato, elas procuram em suas práticas um diferencial competitivo” (p. 166). Nessa lógica de “fingir uma ação responsável”, é mais comum encontrar empresas que investem em ações para o público externo, esquecendo que “[...] seus colaboradores e familiares são explorados, recebem salários aviltantes, não possuem incentivos à sua capacitação, nem condições de trabalho dignas” (PASSOS, 2012, p. 167). Este é um exemplo (citado pelo autor) de “falso exercício da responsabilidade social”, que visa apenas vantagens econômicas para a empresa (PASSOS, 2012, p. 167). A referida autora defende ainda que a verdadeira responsabilidade social deve efetivar‑se na promoção da cidadania e do bem‑estar para o público interno e externo. “As empresas precisam colocar seu conhecimento, seus instrumentos de gestão e seus recursos econômicos a serviço de seus colaboradores, dos membros da sociedade e da defesa do meio ambiente” (PASSOS, 2012, p. 166). A partir do critério da responsabilidade social, o autor classifica as empresas em três grandes modelos. São eles: • Empresas que visam apenas o lucro e são assumidamente negócios. • Empresas que se colocam como organizações sociais e procuram satisfazer aos interesses de uma rede de pessoas. • Empresas socialmente responsáveis, que não se preocupam apenas com o lucro econômico, mas também com o social, com a transformação social. Infelizmente, essas são em número bem menor do que as duas anteriores. 53 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 Projetos sociais no terceiro setor Silva (2010) afirma que o Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife) foi o pioneiro na introdução da temática da “cidadania empresarial” e primeira associação da América do Sul a agrupar organizações de origem privada que financiam ou executam projetos sociais, ambientais e culturais de interesse público. Já o conceito da responsabilidade social veio a seconcretizar com a fundação do Instituto Ethos, em 1999. Ele foi idealizado por empresários vindos do setor privado e tornou‑se referência nacional e internacional como: [...] polo de conhecimento, troca de experiências e desenvolvimento de ferramentas — notadamente os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social — que auxiliam as empresas a analisar suas práticas de gestão e aprofundar seus compromissos com o a cidadania empresarial (INSTITUTO ETHOS, 2007 apud SILVA, 2010). Esse modo de atuação empresarial e a introdução da visão de mercado no Terceiro Setor também reforçaram a tendência de modernização e multiplicação das organizações sem fins lucrativos como um todo (SILVA, 2010). Como observa o BNDES (2001, p. 9 apud SILVA, 2010), as organizações, [...] passaram a investir na aquisição de atributos que conferissem melhorias de qualidade, transparência de ação e resultados (inclusive auditorias externas), aumento da visibilidade e da credibilidade e identificação de novas estratégias de sustentabilidade e financiamentos. Destaca‑se, nessa década, a criação de vários cursos e instrumentos voltados para o planejamento, a gestão e o marketing de instituições do Terceiro Setor; para estratégias de captação de recursos; para sistematização de metodologias utilizadas nessas instituições; para a divulgação e avaliação das experiências (metodologias e instituição de prêmios), por exemplo. Outro elemento que também estimulou a profissionalização do Terceiro Setor foi o aparecimento de prêmios de qualidade e eficiência, que na sua maioria concedem recursos financeiros para as organizações premiadas. Entre esses, destacam‑se pelo pioneirismo o prêmio ECO (Amcham), Bem Eficiente (Kanitz e Associados), Empreendedor Social (Ashoka & Mckinsey), Tecnologia Social (Fundação Banco do Brasil) e o Prêmio Itaú‑Unicef, que remete ao nome de seus instituidores (SILVA, 2010). Silva (2010) informa que o crescimento da responsabilidade social, assim como a institucionalização de prêmios ou práticas de gestão, deu‑se em parceria com a academia, que passou a criar seus “centros” voltados ao estudo do Terceiro Setor. Cita como exemplo o Centro de Estudos do Terceiro Setor (Cets) da Fundação Getulio Vargas (FGV), criado em 1994, que tem como missão: 54 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 Unidade II [...] contribuir para o fortalecimento das organizações, formar especialistas em gestão social, produzir e disseminar conhecimentos, dar consciência a futuros dirigentes empresariais sobre a responsabilidade social do setor privado, colaborando para uma maior eficiência e eficácia do Terceiro Setor (CETS, 2008, p. 1 apud SILVA, 2010). Mas não foram só as academias que se mobilizaram; o referido autor enfatiza que o governo, em âmbito federal, também seguiu essa tendência e criou em 1995 o referido Conselho da Comunidade Solidária, com o objetivo de estabelecer parcerias entre governo, sociedade civil, universidades e empresas “[...] visando otimizar os recursos empregados no combate à pobreza e à exclusão social” (COMUNITAS, 2008, p. 1 apud SILVA, 2010). Em 2002 esse conselho se institucionalizou na Comunitas, organização não governamental, que tinha como principal visão [...] adaptar capacidades e técnicas de gestão de qualidade, inerentes ao mundo empresarial, às organizações do Terceiro Setor, sem desrespeitar a lógica dessas organizações que não atuam pelo lucro, mas sim pela causa. Ética e transparência, construção de parcerias entre múltiplos atores, gestão eficiente, mensuração e avaliação de resultados são valores direcionadores dos investimentos e ações sociais (COMUNITAS, 2008, p. 1 apud SILVA, 2010). Ainda em 1997, lembra o autor, o Conselho da Comunidade Solidária, “[...] iniciou um processo de interlocução entre [...] entidades sem fins lucrativos que tinham expressão e atuação nas mais variadas áreas sociais [...]” (FERRAREZI, 2001, p. 1 apud SILVA, 2010). Esse processo de interlocução, segundo Silva (2010), resultou nas seguintes leis: • Lei nº 9.608/1998, conhecida como Lei do Voluntariado, que reforça a tendência de profissionalização do setor. • Lei nº 9.790/1999, conhecida como Lei das Oscips (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público). Outro ponto importante para a legislação pertinente ao Terceiro Setor, destacado pelo autor, foi a reforma do Código Civil, ocorrida em 2002. O novo Código (Lei nº 10.406/2002), [...] além de estabelecer as associações e fundações como formas jurídicas representativas do setor, também excluiu das pessoas jurídicas de direito privado as sociedades civis sem fins econômicos, juridicamente reconhecidas pelo Código Civil de 1916. Contudo, na prática, as sociedades civis continuaram a coexistir com as fundações e 55 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 Projetos sociais no terceiro setor associações, tendo sido determinado um prazo para que optassem por uma dessas formas, de modo a dar continuidade aos seus propósitos (BRASIL, 2002 apud SILVA, 2010). A transparência das organizações do Terceiro Setor, perante a sociedade, também é um aspecto contemplado pela determinação legal. Conforme apontado por Ferrarezi (2001 apud SILVA). [...] um dos pressupostos da Lei das Oscips foi o estabelecimento de mecanismos de transparência, em que a sociedade, através da internet, passou a ter acesso aos dados cadastrais e outras informações sobre as organizações que detinham esse título. Posteriormente, os demais títulos e certificações também disponibilizaram da mesma forma o acesso às informações das organizações certificadas. Diante dessa tendência à transparência das organizações, a FGV criou em 2003 o Mapa do Terceiro Setor, que consiste em uma base de dados eletrônica de organizações que espontaneamente se cadastram, “[...] facilitando a transparência, favorecendo a credibilidade, identificando, sistematizando e divulgando suas informações relevantes”. (CETS, 2008, p. 1 apud SILVA, 2010). No entanto, como lembram Alves e Koga (2003, p. 14 apud SILVA, 2010), nessa dinâmica institucional ainda existe um processo inicial de [...] profissionalização no Terceiro Setor, principalmente com a formação de profissionais “especialistas” no assunto, tais como administradores, advogados e, principalmente, de captadores de recursos, que são pessoas especializadas em levantar fundos para organizações sem fins lucrativos. Já existe até mesmo uma Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR), que até mesmo estabeleceu um código de ética para a atividade. Silva (2010) elaborou uma figura na qual sistematiza o Terceiro Setor no século XXI, contemplando os diferentes atores que passaram a somar nesse cenário a partir da década 1990. 56 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 Unidade II Configuração do Terceiro Setor no início do século XXI Governo Indivíduos Lei do Voluntariado Igreja Prestação de Contas Finanças Constituição 1998 Código Cívil 2002 Utilidade Pública Entidade BeneficienteEmpresas Recursos Próprios Organizações Nacionais Organizações Internacionais Conselho de Políticas Pub. Forma Jurídica Avaliação de Atividades Auditoria Gestão de Pessoas e Voluntariado Marketing Captação de Recursos Legenda: Elementos surgidos no período Terceiro Setor Práticas de Gestão Planejamento Legislação OSCIP Fontes de Recursos Figura 4 observação A proliferação e a diversificação das organizações que ocorreram na década de 1990 se mantiveram por meio do movimento da Responsabilidade Social das empresas, que passaram de maneira organizada a introduzir‑se no Terceiro Setor de diferentes maneiras: intensificando doações de recursos, firmando parcerias com as ONGs e criando suaspróprias fundações e institutos empresariais. 5.1 Responsabilidade social: refletindo sobre possibilidades e limites De acordo com Duarte et al.(1986 apud PASSOS, 2012), os primeiros estudos sobre responsabilidade social no Brasil afirmavam que o termo era “controvertido e de difícil precisão”. Segundo os autores, havia quem a entendesse como obrigação legal, comportamento ético, ou filantropia e caridade. Schommer et al. (1999 apud PASSOS, 2012, p. 165) “[...] asseguram que o termo continua sendo de difícil precisão, agora já envolvido com outros conceitos, tais como: filantropia empresarial, filantropia estratégica, cidadania empresarial e ética nos negócios”. 57 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 Projetos sociais no terceiro setor Diferentes autores defendem que algumas empresas confundem responsabilidade social com filantropia, sendo esses conceitos distintos. Toldo (2002) registra a diferença entre os dois conceitos: Filantropia significa “amizade do homem para com outro homem” (ABBAGNANO, 1998 apud TOLDO, 2002, p. 1) [...]. Na linguagem moderna, filantropia restringe‑se à ajuda. Passando para a esfera empresarial, temos o seguinte entendimento: filantropia é o ato de a empresa distribuir uma parte de seu lucro a ocasionais pedintes. Acontece de maneira eventual. É uma ajuda (PASSOS, 2012, p. 84). Já o conceito de Responsabilidade Social: [...] são estratégias pensadas para orientar as ações das empresas em consonância com as necessidades sociais, de modo que a empresa garanta, além do lucro a da satisfação de seus clientes, o bem estar da sociedade. A empresa está inserida nela e seus negócios dependerão de seu desenvolvimento, e, portanto, esse envolvimento deverá ser duradouro. É um compromisso (TOLDO, 2002, p. 84). Para Passos (2012), no Brasil há uma rejeição ao termo filantropia, “[...] porque o mesmo está impregnado de significados que o conduzem à ideia religiosa de caridade e doação”. Alguns preferem denominar de “cidadania empresarial”, por achar que este termo é mais amplo e pode incluir práticas filantrópicas e de responsabilidade social; entretanto, “[...] ele é mais apropriado a ações voltadas para a comunidade, realizadas por empresas a partir da criação de fundações e institutos” (p. 165). No entanto, o autor defende que em nosso país é mais comum o uso da expressão responsabilidade social para as ações praticadas por empresas, estando relacionada à ação empresarial, lucrativa, podendo incluir ou não ações filantrópicas ou com a comunidade. 5.1.1 Responsabilidade social corporativa: algumas contribuições Segundo Cavalcante (2009), as recentes transformações globais tecnológicas, econômicas e políticas que afetaram a vida social em todo o mundo geraram questionamentos novos acerca dos valores e da ética social. Nesse contexto, Fischer (2003 apud CAVALCANTE, 2009) afirma que ocorre o resgate do conceito e da prática da responsabilidade social, perdidos ao longo de décadas. No Brasil, a concepção de responsabilidade social “[...] aparece com muita evidência sob a forma de responsabilidade social corporativa, associada a iniciativas empresarias de intervenção social, ou de apoio a projetos, programas e entidades voltados à ação social” (CAVALCANTE, 2009, p. 29). De acordo com Kraemer (2005) o conceito responsabilidade social corporativa acompanha a noção de sustentabilidade, que busca “[...] conciliar as esferas econômica, ambiental e social na geração de 58 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 Unidade II um cenário compatível à continuidade e à expansão das atividades das empresas no presente e no futuro”. Ou seja, para ser considerada uma empresa socialmente responsável, torna‑se necessário que esta apresente ações que respeitem o ser humano e a natureza. Nessa perspectiva, a responsabilidade social corporativa tem crescido nos últimos anos, em companhias de diferentes tamanhos e setores, o que influencia no desenvolvimento de estratégias nos seus programas, em áreas como ética de negócio, ambiente de trabalho, meio ambiente, marketing responsável e envolvimento comunitário. Cavalcante (2009) afirma que foi na década de 1970 que a concepção de responsabilidade social coorporativa passou a ser utilizada para a elaboração do termo desempenho corporativo, sendo este, na época, pouco operacional. Nessa década, Sethi (1975 apud PASSOS, 2012) definiu três estágios de desempenho baseado no comportamento das empresas: “[...] obrigação social, responsabilidade social e responsividade social” (p. 24). Entretanto, apesar da sua contribuição ser importante, o autor não definiu clara e operacionalmente o termo desempenho social corporativo. No final da década de 1970, Carroll (1979, p. 499 apud CAVALCANTE, 2009), definiu responsabilidade social corporativa como: [...] desempenho corporativo em quatro diferentes categorias de responsabilidade: econômica, legal, ética e discricionária. [...] Sendo que estas quatro categorias não são mutuamente exclusivas, e nem pretendem retratar um contínuo com as preocupações econômicas de um lado e as preocupações sociais do outro. Além disso, elas não são nem cumulativas, nem aditivas (p. 25). Carroll (1979, p. 500 apud CAVALCANTE, 2009) define essas quatro categorias: — As responsabilidades econômicas como fundamentais e a base para todas as outras, já que antes de qualquer coisa, a instituição negócio é a unidade econômica básica da sociedade. — As responsabilidades legais são definidas como parte integrante do contrato social entre empresa e sociedade, uma vez que a sociedade espera que os negócios cumpram sua missão econômica dentro da estrutura de requisitos legais. — As éticas, em que, apesar de não serem necessariamente codificadas em leis e regulamentações, são esperadas pelos membros da sociedade em relação às empresas, já que a sociedade possui expectativas acima dos requisitos legais em relação aos negócios. 59 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 Projetos sociais no terceiro setor — As responsabilidades discricionárias, ou seja, aquela em que os negócios têm a liberdade de assumir ou não, uma vez que não há imposição legal ou ética, além de não haver uma mensagem clara da sociedade neste sentido. Dessa forma, esta categoria seria de natureza voluntária por parte das empresas (CARROLL, 1979, p. 500 apud CAVALCANTE, 2009, p. 25). A partir dessas colocações, a autora define que a responsabilidade social corporativa dos negócios “[...] abrange as expectativas econômicas, legais, éticas e discricionárias que a sociedade possui em relação às organizações em determinado período de tempo” (CARROLL,1979, p. 500 apud CAVALCANTE, 2009, p. 25). Ou seja, a responsabilidade social corporativa constitui‑se das expectativas que a sociedade possui em relação às organizações em determinado momento histórico. Porém, inúmeros autores, dentre eles Cavalcante (2009), defendem que esse conceito merece uma análise mais aprofundada, já que existe “[...] inconsistências conceituais e práticas mal elaboradas que geram um ambiente bastante confuso e teoricamente frágil” (p. 29). Para Kraemer (2005), a concepção de responsabilidade social vem sendo amplamente difundida por parte das empresas, pois elas têm enfrentado novos e crescentes desafios impostos pelas [...] exigências dos consumidores, pela pressão de grupos da sociedade organizada e por legislações e regras comerciais que demandam, por exemplo, proteção ambiental, produtos mais seguros e menos nocivos à natureza e o cumprimento de normas éticas e trabalhistas em todos os locais de produção e em toda a cadeia produtiva. Na contramão desse argumento, Belisário e Ramos (2011) defendem que a responsabilidade social corporativatem sido usada como mercadoria para responder “[...] às constantes pressões de consumidores informados, atualizados e conscientes. Responsabilidade social e sustentabilidade passam então a ser palavras de ordem para conquistar um mercado extremamente competitivo” (p. 1). Segundo Cavalcante (2009, p. 31), o tema responsabilidade social corporativa torna‑se cada vez mais comum nos espaço da mídia, na organização e no campo de atuação de diversas entidades da sociedade civil, tais como: • O Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE), criado em 1981 e responsável pelo Balanço Social no Brasil entre as empresas, como instrumento de gerenciamento da atividade social das organizações. • O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, criado em 1998 e responsável pela elaboração de manuais e indicadores para a autoavaliação das empresas em relação ao desempenho empresarial responsável. 60 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 Unidade II • A Fundação Instituto de Desenvolvimento Empresarial e Social (FIDES), que estimula iniciativas de responsabilidade social corporativa e empreendedorismo social. • O Grupo de Instituto, Fundações e Empresas (Gife), que apoia as empresas a desenvolverem ações sociais com racionalidade econômica e eficiência administrativa, entre outros. lembrete A responsabilidade social corporativa pressupõe o desenvolvimento sustentável pautado na harmonia entre as esferas econômica, ambiental e social que possibilite a expansão das atividades das empresas no presente e no futuro. Feitas essas distinções, avancemos em nossa reflexão. Rasquinha (2010) afirma que o Instituto Ethos é uma das instituições que mais se destacam na divulgação do conceito de responsabilidade social na sociedade brasileira. Oded Grajew, presidente do Instituto, assim define este conceito: [...] a atitude ética da empresa em todas as suas atividades. Diz respeito às interações da empresa com funcionários, fornecedores, clientes, acionistas, governo, concorrentes, meio ambiente e comunidade. Os preceitos da responsabilidade social podem balizar, inclusive, todas as atividades políticas empresariais (GRAJEW; INSTITUTO ETHOS, 2001 apud RASQUINHA, 2010). A lógica da responsabilidade social exige uma nova postura dos atores envolvidos, pautada em valores éticos – os quais estudaremos a seguir – que visem ao desenvolvimento sustentado da sociedade em sua totalidade. Vai [...] muito além da postura legal da empresa, da prática filantrópica ou do apoio à comunidade. Significa mudança de atitude, numa perspectiva de gestão empresarial com foco na qualidade das relações e na geração de valor para todos (RASQUINHA, 2010). É importante destacar que as empresas socialmente responsáveis são vistas pelo consumidor com “bons olhos”, tornando‑se, como a própria autora defende, “[...] um diferencial competitivo e um indicador de rentabilidade e sustentabilidade no longo prazo” (RASQUINHA, 2010), o que explicita um contexto contraditório, permeados pela lógica neoliberal, em que o objetivo principal é criar condições para o acúmulo de capital. No entanto, a responsabilidade social é uma realidade que está em crescimento no Brasil, sendo impossível negá‑la ou agir como se ela não existisse. 61 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 Projetos sociais no terceiro setor Para Passos (2012), de fato, existe aceitação maior por parte dos clientes de serviços e produtos oferecidos por empresas consideradas socialmente responsáveis. Tendo como alvo esses clientes, o número de empresas que iniciam experiência nesse campo crescem a cada dia. Porém, nem toda a ação praticada por essas empresas pode ser considerada responsabilidade social. Não é socialmente responsável a empresa que age agora de uma forma correta e em outro momento de maneira inversa [...] a responsabilidade social pressupõe consciência e compromisso das empresas com as mudanças sociais (PASSOS, 2012, p. 166). De acordo com Moysés (2001 apud PASSOS, 2012), esses compromissos são condições para que uma empresa possa ser considerada socialmente responsável, ou como defende, uma “empresa cidadã”: [...] no estágio de empresa cidadã, a empresa passa na transformação do ambiente social, sem se ater apenas aos resultados financeiros do balanço econômico; busca avaliar a sua contribuição à sociedade e se posiciona de forma pró‑ativa nas suas contribuições com os problemas sociais (MOYSÉS, 2001 apud PASSOS, 2012, p. 90). O fato é que o envolvimento das empresas no Terceiro Setor – mesmo que dentro dessa lógica perversa do capital – tem encontrado ambiente propício para seu fortalecimento, resultando inclusive em algumas experiências expressivas no enfrentamento da questão social. Algumas dessas experiências foram apresentadas por Passos (2012), conforme abordaremos a seguir. 6 Responsabilidade social: algumas expeRiências Programa Adolescentes Trabalhadores (PAT) O Banco do Brasil S.A., entre outras ações, lançou em 2001 o Programa PAT, com o objetivo de promover no país a inclusão de jovens de baixa renda, por meio de um processo de qualificação para o trabalho. O projeto de formação dura entre 18 e 24 meses e está dividido em quatro módulos, sendo dois referentes à teoria e prática bancária, ministrados pelos próprios empregados da instituição, após prévia preparação, e os dois seguintes versam sobre cidadania e educação básica, ministrados por instituições de ensino ou entidade filantrópica. O banco, além de apoiar financeiramente o projeto, também o acompanha de perto, como se exige que seja a atuação da verdadeira prática responsável; não basta doar recursos econômicos, exige‑se que a instituição o desenvolva de forma consciente e comprometida. Alguns resultados já são computados pela empresa como o atendimento a 3.430 jovens em todo país, cuja certificação está prevista para outubro do ano de 2004. 62 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 Unidade II Samarco Mineração S.A. A empresa também apresenta várias ações de responsabilidade social; entretanto, destacamos a redução do consumo de óleo lubrificante, desenvolvida no município de Mariana, em Minas Gerais, onde a Samarco atua na extração e concentração de minério de ferro. Por meio de um levantamento das consequências da sua atividade sobre o meio ambiente, descobriu‑se a necessidade de monitorar o consumo do óleo lubrificante de seus moinhos, a fim evitar e controlar vazamento. Iniciou‑se um plano de ação no ano de 1998, por meio do monitoramento dos equipamentos, coleta e reutilização do óleo que vazasse. Após uma ação cuidadosa e competente, registraram entre 1999 e 2001 a diminuição do consumo de óleo em cerca de 75% e uma maior conscientização e comprometimento dos membros da empresa com as questões ambientais e, especificamente, com o problema. Essa é uma ação de responsabilidade social que visa à proteção do meio ambiente. Nessa e em todas as outras áreas, as empresas precisam começar por corrigir seus próprios erros, mesmo que as ações necessárias não demonstrem possibilidade de ganhos econômicos, e sim de despesas. Nessa situação, a empresa registra que a ação não só beneficiou o meio ambiente, mas também as pessoas, e como foi útil para elas. Além de economizar com a diminuição da quantidade do produto lubrificante, afirma que seus equipamentos passaram a ter melhor desempenho. Fonte: Passos (2012, p. 171‑172). 7 Ética empResaRial: apontamentos paRa o debate Para muitos autores, pensar responsabilidade social das empresas está diretamente ligado a uma questão ética, dado que implica mudança de valores e atitudes. Para Moysés (2001 apud PASSOS, 2012) refletir a responsabilidade social como uma questão ética[...] pressupõe uma atuação eficaz da empresa com todos aqueles que são afetados por sua atividade, sejam diretas sejam indiretas, possuindo um alto grau de comprometimento com seus colaboradores internos e externos (MOYSÉS, 2001 apud PASSOS, 2012, p. 164). Logo, refletir sobre ética empresarial significa pensar sobre os valores que imperam em nossa sociedade e que permeiam as relações sociais dentro e fora das empresas em um contexto no qual a chamada responsabilidade social vem ganhando força nas últimas décadas. 63 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 Projetos sociais no terceiro setor 7.1 Ética e moral: existe diferença? Segundo Passos (2012), etimologicamente ética e moral são palavras que possuem origens distintas, mas significados iguais. Moral vem do latim mores, que quer dizer costume, conduta, modo de agir; ética vem do grego ethos e, do mesmo modo, quer dizer costume, modo de agir. Contudo, alguns autores, entre eles Vázquez (apud PASSOS, 2012), defendem que, apesar da proximidade são termos distintos, como veremos a seguir: • Moral: “[...] enquanto norma de conduta, refere‑se a situações particulares e quotidianas, não chegando à superação desse nível” (PASSOS, 2012, p. 22). • Ética: “[...] destituída do papel normatizador, ao menos no que diz respeito aos atos isolados, torna‑se examinadora da moral. Exame que consiste em reflexão, em investigação, em teorização” (PASSOS, 2012, p. 22‑23). Pode‑se assim dizer que “[...] a moral normatiza e direciona a prática das pessoas, e a ética teoriza sobre as condutas, estudando as concepções que dão suporte à moral” (PASSOS, 2012, p. 23). Sánchez (1975, p. 12 apud PASSOS, 2012, p. 23) define que a Ética “[...] é a ciência que estuda o comportamento moral dos homens na sociedade”. saiba mais O livro a seguir poderá contribuir para uma reflexão mais aprofundada, porém sucinta sobre ética: VALLS, A. L. M. O que é ética. São Paulo: Brasilense, 2008. (Coleção Primeiros Passos, 177). Nasch (1993, p. 6 apud PASSOS, 2012, p. 66) define ética nas organização como “[...] o estudo da forma pela qual normas morais pessoais se aplicam às atividades e aos objetivos de uma empresa comercial”. O que nos permite pensar que a ética nas organizações apresenta‑se como uma reflexão aprofundada da forma como os valores morais historicamente construídos são experimentados no ambiente empresarial. De acordo com Passos (2012): 64 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 Unidade II [...] a ética nas organizações não se caracteriza como valores abstratos nem alheios aos que vigoram na sociedade; ao contrário, as pessoas que as constituem, sendo sujeitos históricos e sociais, levam para elas as mesmas crenças e princípios que aprenderam enquanto membros da sociedade [...]. Visa tornar inteligível a moral vigente nas empresas, através de estudos que contemplem também as questões de tempo e o espaço [...], pois os valores organizacionais mudam com as mudanças histórico‑sociais e as relações humanas seguem a mesma tendência (p. 66). Apesar do crescimento do número de empresas que demonstram interesse pela ética, ainda é forte a tensão entre a busca do lucro e a possibilidade de agir com ética (PASSOS, 2012). Como essa tensão não se resolveu, os problemas morais continuaram crescendo dentro das organizações, vividos desde situações corriqueiras, “[...] como prática do favoritismo, a obediência inquestionável às leis [...] até subornos, sonegação fiscal entre outros” (PASSOS, 2012, p. 67). Sendo que esses comportamentos antiéticos ferem não só os outros, como também o próprio indivíduo, pois são desumanos com todos. Os valores vigorantes na sociedade transformam as pessoas em seres apenas produtivos, desprezando a consciência de sua dimensão humana, que implica tempo para a vida, para o lazer e para a família (PASSOS, 2012). É importante destacar que os valores considerados como antiéticos, que colocam o lucro na frente do ser humano, são aqueles que fundamentam a sociedade capitalista, cujo objetivo é acumular capital. Sendo que – como vimos anteriormente – o capitalismo, na realidade brasileira, tem características próprias devido à forma como esse modo de reprodução foi implantado. Passos (2012) defende que a ética “[...] nos ajuda a entender que um bom profissional não é aquele que age como uma máquina, cumprindo ordens inconscientes e deixando de impor limites entre os mundos profissional e pessoal” (p. 67). Logo, a ética nas organizações implica não somente mudanças, mas também uma revolução que transforme a relação capital x trabalho, o que não nos parece tarefa fácil. A autora concorda que na prática, em uma organização, as ações humanas são orientadas por princípios morais que, na maioria das situações, não satisfazem, dado que objetivam apenas garantir a sobrevivência de alguns de seus membros e, no máximo, da empresa, visando manter o posto de trabalho. Outro exemplo de ação moral dentro de uma organização, destacado pela autora, é a que se constitui pela imposição de leis e pela cobrança do seu cumprimento, seguida por processos punitivos, entre outros. Porém, defende “[...] uma ética em que as empresas procurem e alcancem o lucro, que é imprescindível para sua continuidade, dede que seja o ‘lucro virtuoso’, aquele capaz de gerar valor e que é posto a serviço do desenvolvimento social” (PASSOS, 2012, p. 69). 65 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 Projetos sociais no terceiro setor Exemplo de aplicação Você acredita que o “lucro” pode ser “virtuoso” e priorizar qualidade de vida? Pesquise sobre esse tema e tire suas próprias conclusões. Afinal, a ética nos aponta esse caminho. Na perspectiva de Passos (2012), a discussão sobre responsabilidade social como uma questão ética pressupõe: a) [...] atuação eficaz da empresa com todos aqueles que são afetados por sua atividade, sejam diretas, sejam indiretas, possuindo um alto grau de comprometimento com seus colaboradores internos e externos (MOYSÉS, 2001, p. 85 apud PASSOS, 2012); b) [...] reconhecer obrigação não só com acionista e clientes, mas também com os seres humanos, com a construção de uma sociedade mais justa, honesta e solidária, uma sociedade melhor para todos, assim, ela é uma prática moral. É uma prática orientada pela ética, que vai além das obrigações legais e econômicas, rumo às sociais, respeitando‑se a cultura e as necessidades e desejos das pessoas; c) [...] que as empresas precisam comportar‑se de forma justa com todas as pessoas com quem elas se relacionam direta ou indiretamente: colaboradores, clientes, fornecedores, consumidores, acionistas e comunidade. Precisam ficar atentas às necessidades das pessoas que são afetadas por elas, não como uma postura legal ou filantrópica, mas como compromisso e responsabilidade (PASSOS, 2012, p. 166‑ 167). Ou seja, pensar em responsabilidade social nos obriga a pensar em ética. O que nos leva a colocar o ser humano em primeiro lugar, “[...] respeitando os direitos humanos, justiça, dignidade; e com o planeta, comportando‑se de forma responsável e comprometida com a sustentabilidade de toda a rede da vida” (PASSOS, 2012, p. 167). Para ilustrar a nossa reflexão sobre ética nas organizações, apresentaremos a seguir o Código de Ética elaborado pelo Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife), que, como vimos, foi a primeira Associação da América do Sul a agrupar organizações de origem privada que financiam ou executam projetos sociais, ambientais e culturais de interesse público. 7.1.1 Código de ética Gife: um exemplo para ilustrar I) Compromissos dos associados do Gife • Servir ao ideal do Gife, zelando pela aplicação profissional e ética dos conceitos e práticas de investimentosocial, conforme aqui descritas. • Procurar disseminar esses conceitos e práticas, inspirando outros, principalmente por meio de seu próprio exemplo. 66 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 Unidade II • Adotar sempre uma atitude transparente quanto aos procedimentos e reais motivações de suas práticas de investimento social. II. A relação dos associados com seus mantenedores/doadores • Zelar para que, na definição e implementação dos programas de desenvolvimento social patrocinados por terceiros, os ideais do Gife sejam observados, sem distorções. • Gerenciar eticamente, com competência e eficácia, os recursos a si confiados, cumprindo fielmente as intenções dos doadores, mantendo‑os informados quanto aos resultados. III. A relação dos associados com seus beneficiários/parceiros • Proceder sempre de modo a privilegiar o benefício do parceiro sobre vantagens do próprio associado. • Colaborar para manter uma relação produtiva entre as partes, tendo por base respeito, compromisso e confiança, privilegiando o processo de negociação em caso de conflitos. • Não alimentar expectativas infundadas, nem avançar promessas que não possam ser cumpridas. IV. A relação dos associados com outras entidades similares • Proceder de modo cooperativo, buscando colaborar dentro das possibilidades, interesses e princípios éticos. • Assumir na crítica, quando esta se fizer necessária, uma atitude construtiva. • Assumir, em situação de conflitos, uma posição aberta à negociação e ao entendimento. V. A relação dos associados com o Poder Público • Ater‑se estritamente à legislação geral e específica. • Não buscar relações que privilegiem interesses corporativos, em detrimento do bem comum. • Agir de maneira clara, com transparência quanto aos objetivos e interesses envolvidos. 67 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 Projetos sociais no terceiro setor VI. A conduta dos profissionais pertencentes aos quadros das entidades associadas do Gife • Trabalhar pela efetiva realização da missão do Gife, observando os valores éticos que o embasam. • Conduzir todas as atividades pessoais e profissionais com honestidade e integridade de modo a refletir favoravelmente no setor de investimento social. • Esforçar‑se por agir sempre com competência, definindo objetivos de autodesenvolvimento permanente. • Afirmar com atitudes pessoais o compromisso com o desenvolvimento social e seu papel na sociedade. • Respeitar o sigilo profissional, quando necessário. Fonte: Gife (s.d.). 8 Responsabilidade social de empResas: um desafio paRa o seRviço social Como estudamos, as organizações filantrópicas há muito tempo estão presentes na realidade brasileira, porém, é a partir da década de 1990 que o Terceiro Setor tem encontrado terreno propício para sua proliferação. Isso porque, no contexto neoliberal, a sociedade civil, assim como a então “filantropia empresarial”, tem sido chamada a “contribuir” no enfrentamento da questão social, concretizando uma “[...] transferência de responsabilidade para a iniciativa privada no campo do investimento social, que, na verdade, seria uma atribuição constitucional do Estado brasileiro em todos os níveis do governo” (MENEZES, 2010, p. 505). Desse modo, a atuação das empresas na área social tem se expandido por meio de financiamento de ONGs, parcerias com associações de moradores, criação e a manutenção de fundações sociais, em uma estratégia de gestão empresarial, conhecida atualmente como “responsabilidade social empresarial” (RSE), podendo, inclusive, contar com o auxilio governamental, via parcerias, tendo as ONGs como “pontes” e/ou via deduções de impostos devidos ao Estado, respaldadas por leis federais (MENEZES, 2010). Nesse cenário, as organizações que compõem o Terceiro Setor “[...] têm se aprimorado para buscar financiamentos junto a essas empresas, firmando parcerias e até se adequando aos seus interesses para atraí‑las” (MENEZES, 2010, p. 505) e, com a ampliação das ações sociais empresariais, ascende um campo potencial para a atuação do assistente social na chamada responsabilidade social das empresas (MENEZES, 2010). 68 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 Unidade II De acordo com Santos (2007, p. 129), em pesquisa recente sobre o mercado de trabalho do assistente social no Brasil, [...] o Conselho Federal de Serviço Social apresentou que o setor estadual continua sendo o maior empregador de assistentes sociais (78,16%), mas há um crescimento nas organizações do chamado Terceiro Setor: cerca de 7% dos assistentes sociais apresentam inserção formal nesse espaço e pouco mais de 13% dos assistentes sociais respondentes têm no setor privado seu principal vínculo empregatício. Há também que se considerar o número de profissionais que pautam suas ações em atividades voluntárias, as quais têm crescido nos últimos anos, e que são, inclusive, utilizadas como mecanismos para subcontratação e precarização do trabalho dos profissionais do Serviço Social. Ou seja, o Terceiro Setor – como estudamos – é composto por diferentes instituições e compreende a soma de esforços envolvendo a empresa privada, o governo, as ONGs e a sociedade civil. Tem se tornado em sua totalidade um campo de trabalho emergente para os profissionais do Serviço Social. No entanto, conforme referida pesquisa, é no setor privado que o Serviço Social tem se inserido em maior número, isso, é claro, após a inserção no serviço público. A atuação do assistente social na responsabilidade social das empresas pode ser considerada nova (ou renovada), dado que se diferencia das tradicionais demandas impostas à profissão no âmbito da empresa – onde a atuação profissional se voltava basicamente para o público interno – funcionários e suas famílias (MENEZES, 2010, p. 505). No contexto da responsabilidade social, a empresa visa superar a postura assistencialista em que mantinham ações sociais caracterizadas como “[...] ajudas, doações esporádicas feitas diretamente às comunidades ou pessoas pobres que se localizavam no entorno das empresas” (BEHRING apud MENEZES, 2010, p. 508‑509). Institui‑se então a chamada por alguns autores de “neofilantropia empresarial”, ou seja, retorno da filantropia, porém com características distintas, já que a empresa busca ações [...] mais preventivas dos “problemas sociais”. É calçada por um discurso baseado em conceitos como ética e cidadania, participação e parceria, mas ainda representa uma modalidade de intervenção reguladora da “pobreza”. Estado e sociedade devem trabalhar em parceria para amenizar a “exclusão social” [...]. Tem como características/objetivos principais: o incentivo à educação como meio de aumentar “a competitividade econômica nacional” e facilitar as “condições de inserção do país na nova ordem mundial” (idem, p. 56) seguindo uma lógica de eficiência. Esse ativismo é divulgado pelo marketing social, onde ganha centralidade a figura do “cidadão consumidor” e suas preocupações com as desigualdades sociais e um desenvolvimento sustentável; o discurso da “parceria” e o comprometimento com uma causa (BEHRING apud MENEZES, 2010, p. 509). 69 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 Projetos sociais no terceiro setor Porém, como ressalta Behring (apud MENEZES, 2010), a neofilantropia empresarial tem o mesmo objetivo moralizador da filantropia caritativa que busca controlar a miséria, baseado na “moral da responsabilidade”. Para Menezes (2010), a chamada responsabilidade social das empresas pauta‑se em um discurso de defesa da cidadania, da democracia, da participação social etc. para o enfrentamento da “questão social” como uma estratégiaideológica, objetivando facilitar o aumento de seus níveis de acumulação. Mas na prática exerce um papel segmentador e segue na contramão dos direitos sociais conquistados pela classe trabalhadora. No entanto, a referida autora afirma que isso não significa que o profissional deva recusar‑se a atuar nesse espaço, já que, como trabalhador, necessita vender sua força de trabalho. Porém, defende que ele não deve alimentar ilusões quanto à possibilidade de as práticas sociais das empresas tornarem‑se a solução para as expressões da questão social, muito menos enganar‑se, confiando que o mercado está de fato comprometido com a superação da desigualdade social. Ou seja, o Terceiro Setor mostra‑se como um campo de atuação profissional contraditório, onde se expressam valores contrários aos defendidos pelo projeto ético‑político‑profissional. Porém, como nos fala Iamamoto (2005), é na realidade que as possibilidades estão postas, ou seja, negar a realidade não extinguirá esse campo de trabalho em ascensão. No entanto, é fundamental uma inserção crítica que norteie ações à luz do projeto em questão. saiba mais O livro a seguir poderá contribuir para uma reflexão mais ampla sobre os desafios impostos ao assistente social na sociedade atual. IAMAMOTO, M. V. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2005. Como nos alerta Sarachu (1999 apud Santos, 2007), é responsabilidade do profissional do serviço social refletir sobre essas transformações, compreendendo a ampliação do conceito de Estado e de sociedade civil, e a própria condição de uma profissão que atua nessa mediação. Menezes (2010) defende que este é um contexto contraditório, em que as fundações sociais das empresas e seus projetos de cidadania empresarial não têm condições de substituir os postos de trabalho fechados no âmbito estatal e que o vínculo empregatício com esses projetos é precário, flexível e, muitas vezes, temporário. Pontua ainda que a prática do assistente social nesse campo de atuação 70 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 Unidade II [...] embora tenha um discurso de construção de cidadania, se restringe a uma prática assistencialista, que busca o consenso entre classes antagônicas, ou mesmo de enquadramento ou cooptação do usuário já que nesse campo não existe espaço para “sujeito de direito” – existem usuários de serviços privados. Nessas ações não existe nenhuma garantia de atendimento; o público alvo é escolhido de acordo com a imagem que a empresa pretende passar aos consumidores; suas ações são paliativas e superficiais, já que as empresas precisam mostrar resultados rápidos para ganhar visibilidade e garantir seus lucros. Seus atendimentos não se constituem em direitos sociais, ao contrário do que ocorre no Estado. Estão inscritas no campo “não direito”, contribuem para o paternalismo nos atendimentos e para a refilantropização da assistência social (MENEZES, 2010, p. 526). O que só reforça o fato de que a inserção do assistente social nesse espaço deve ser crítica no sentido de identificar as forças presentes nessa arena de conflitos, visualizando limites, mas buscando possibilidades que potencialize a prática profissional. Como afirma Santos (2007), o Serviço Social brasileiro tem elementos para que se realizem uma análise dessa realidade e se elaborarem respostas para as novas demandas impostas à profissão. Para superar ações pautadas no senso comum, enfatiza a autora, faz‑se necessário que a atuação profissional no Terceiro Setor se fundamente em reflexões sobre a relação entre a dimensão do público e do privado, assim como sobre os conflitos na sociedade capitalista e sobre o compromisso histórico da profissão no Brasil. O fato é que temos experimentado tempos difíceis, onde o capital mostra‑se cada vez mais valioso em relação ao homem. Nessa lógica, as expressões da questão social têm se aprofundado, tornando a vida da classe trabalhadora cada vez mais difícil. Nesse cenário, o Estado apresenta‑se cada vez mais distante de concretizar a proteção social pautada nos princípios constitucionais que garantem a atendimento do ser humano em suas múltiplas necessidades. Na contramão, ele convoca a sociedade civil e o setor privado para exercer ações no enfrentamento da questão social que deveriam ser de sua responsabilidade. Essa realidade implica que o profissional que tem como objeto de trabalho as expressões da questão social busque uma compreensão profunda dos elementos que se manifestam nas diferentes áreas de atuação profissional, seja ela pública ou privada, não sendo diferente no Terceiro Setor. Apenas sabendo interpretar essa realidade é que o assistente social será capaz de pensar em ações profissionais comprometidas com seu projeto ético‑político e, para esse fim, é preciso instrumentalizar‑se, entender a lógica instituída no seu local de trabalho, preparando‑se para enfrentar os desafios impostos cotidianamente, superando o imediatismo e traçando uma trajetória norteada pelo projeto ético‑político da profissão. “O conformismo imperante em alguns profissionais determina, muitas vezes, a falta de análise e de resposta às novas questões que se colocam na atualidade” (SARACHU, 1999, p. 150 apud SANTOS, 2007, p. 130, tradução nossa). 71 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 Projetos sociais no terceiro setor observação O assistente social que atua Terceiro Setor deve ser crítico, no sentido de identificar as forças presentes nessa arena de conflitos, visualizando limites, mas buscando possibilidades que potencializem a prática profissional. Resumo As organizações filantrópicas há muito tempo estão presentes na realidade brasileira, mas é a partir da década de 1990 que o Terceiro Setor tem encontrado terreno propício para sua proliferação, cuja composição tem se tornado cada vez mais complexa, contemplando diferentes atores e revelando a emergência de um novo modelo de atuação na área social, sendo ela a atuação envolvendo a chamada parceira entre empresa, governo, ONGs e sociedade civil. A proliferação e a diversificação das organizações se mantiveram por meio do movimento da responsabilidade social, onde para ser considerada uma empresa socialmente responsável a organização necessita desenvolver ações que conciliem as esferas econômica, ambiental e social na geração de um ambiente compatível com a expansão das atividades das empresas, no presente e no futuro. A introdução do setor empresarial no Terceiro Setor se deu de maneira organizada, por meio da intensificação de doações de recursos e da firmação de parcerias com as ONGs, além da criação de suas próprias fundações e institutos empresarias, que passaram a implementar diretamente os programas e projetos. No debate acerca da responsabilidade social das empresas, alguns autores defendem que, embora paute‑se em um discurso de defesa da cidadania, da democracia, da participação social etc., para o enfrentamento da questão social, na prática, essa é mais uma estratégia ideológica do que objetiva para facilitar o aumento de seus níveis de acumulação. Contra esse argumento, outros autores defendem que os objetivos e práticas sociais não podem ser confundidos com interesses comerciais e econômicos e que, embora na prática essa seja uma tendência, a verdadeira responsabilidade social deve efetivar‑se na promoção da cidadania e do bem‑estar para o público interno e externo, contemplado desde seus colaboradores até os membros da sociedade e o meio ambiente. 72 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 Unidade II O fato é que a responsabilidade social é uma realidade que está em crescimento no Brasil. Esse modo de atuação empresarial e a introduçãoda visão de mercado no Terceiro Setor têm reforçado a tendência de modernização e multiplicação das organizações sem fins lucrativos como um todo. As organizações que compõem o Terceiro Setor têm se aprimorado para buscar financiamentos junto a essas empresas, firmando parcerias e até se adequando aos seus interesses para atraí‑las. Elas têm buscado instrumentos para atuar com melhor qualificação técnica, visando à qualidade e resultados para atrair credibilidade e identificar novas estratégias de sustentabilidade e financiamento. A lógica da responsabilidade social exige uma nova postura dos atores envolvidos, pautada em valores éticos que visem o desenvolvimento sustentado da sociedade em sua totalidade. Logo, pensar responsabilidade social das empresas está diretamente ligado à uma questão ética, já que implica mudança de valores e atitudes. O que não nos parece tarefa fácil! Com a ampliação das ações sociais empresariais, ascende um campo potencial para a atuação do assistente social na chamada responsabilidade social, que coloca demandas diferenciadas das tradicionais impostas à profissão no âmbito da empresa – onde a atuação profissional voltava‑se basicamente para o público interno – funcionários e suas famílias. Esse é um campo de atuação contraditório, em que se expressam valores opostos aos defendidos pelo projeto ético‑político‑profissional. Isso só reforça o fato de que a inserção do assistente social nesse espaço deve ser crítica, no sentido de identificar as forças presentes nesse campo de conflitos, visualizando limites, mas buscando possibilidades que potencializem práticas norteadas pelo projeto em questão. Faz‑se necessária uma atuação profissional fundamentada na reflexão sobre a relação entre a dimensão do público e do privado, assim como sobre os conflitos na sociedade capitalista e sobre o compromisso histórico da profissão no Brasil. Apenas sabendo interpretar essa realidade é que o assistente social será capaz de pensar ações profissionais comprometidas com seu projeto ético‑político e para esse fim é preciso instrumentalizar‑se, entender a lógica instituída no seu local de trabalho, preparando‑se para enfrentar os desafios impostos cotidianamente, superando o senso comum e o imediatismo, e traçando uma trajetória à luz desse projeto. 73 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 Projetos sociais no terceiro setor exercícios Questão 1. A empresa em que você atua como assistente social pediu a organização de um projeto social que levasse em conta aspectos referentes à sustentabilidade, solicitando que esses aspectos projetassem a marca da empresa como defensora do meio ambiente. Ao pesquisar sobre o assunto você detectou que a empresa é ré em um processo judicial movido pelo Estado em razão de poluir um rio próximo a uma de suas unidades, situada na Amazônia. Você levou o assunto à diretoria e argumentou que: I – O projeto de sustentabilidade não pode ser desenvolvido neste momento, já que a empresa tem um comportamento incoerente com a essência do projeto, porque não age com respeito ao meio ambiente. II – É preciso certificar‑se de que a imprensa não tem conhecimento do processo judicial para não prejudicar o projeto social de sustentabilidade. III – A estratégia de marketing da empresa precisa ser melhorada, porque sua imagem está desgastada com o problema da poluição do rio, e essa estratégia deve ser desenvolvida junto com o projeto de sustentabilidade. Por isso, além do departamento de serviço social, deve ser envolvido também o departamento de marketing. IV – O projeto social tem por objetivo melhorar a imagem da empresa, e isso não será possível se ele não for ancorado em princípios éticos. Assim, não é possível mentir sobre o processo judicial e nem ocultar sua existência. É necessário adotar uma postura transparente e efetivar esforços no sentido de não poluir mais e contribuir para minorar os males causados pela poluição já provocada. V – Tratar o problema da poluição de forma objetiva e eficiente será uma boa maneira de dar credibilidade ao projeto social de sustentabilidade. Está correto o que se afirma em: A) I e V. B) II e III. C) III e IV. D) II e V. E) IV e V. 74 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 Unidade II Resposta correta: alternativa E. Análise das alternativas A) Alternativa incorreta. Justificativa: a afirmativa I está incorreta porque o projeto social de sustentabilidade pode ser desenvolvido. O que não se poderá admitir é que a empresa negue que tem problemas com poluição ambiental e que precisa adotar medidas para sanar esses problemas. A afirmativa V está correta, porque a credibilidade do projeto social e da própria empresa depende fundamentalmente da forma como será tratada a questão da poluição: se será solucionada de forma satisfatória e se incorporará o quadro de erros que são cometidos, pois isso pode transformar‑se em oportunidade de aprendizagem e melhoria. B) Alternativa incorreta. Justificativa: a afirmativa II está incorreta porque o fato de a imprensa não ter conhecimento de que a empresa tem um problema judicial com poluição não minimiza o problema. Ter poluído um rio é um problema sério, independente de ele ter sido ou não divulgado. A afirmativa III está incorreta porque o problema não é de marketing: o que precisa ser melhorado é o sistema de produção da empresa, de modo que ela não seja mais um sistema poluente. C) Alternativa incorreta. Justificativa: a afirmativa III está incorreta, conforme explicado anteriormente. A afirmativa IV está correta porque o aspecto fundamental de um projeto social é o aspecto ético, que prioriza práticas que possam ser transparentes e coerentes com os propósitos de contribuir para a construção de uma sociedade melhor. D) Alternativa incorreta. Justificativa: a afirmativa II está incorreta, conforme já explicado. A afirmativa V está correta porque a empresa cometeu um erro ao poluir um rio próximo a sua unidade na Amazônia e, por isso, tem de rever seus métodos de produção, assumir o prejuízo causado, trabalhar para minimizá‑lo e atender às determinações legais aplicáveis ao caso. Só com essa atitude transparente é que a empresa poderá ser considerada coerente para organizar um projeto social de sustentabilidade. E) Alternativa correta. Justificativa: as afirmativas IV e V estão corretas, conforme o explicado. 75 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 Projetos sociais no terceiro setor Questão 2. Uma importante empresa de moda feminina de alto padrão, com preços muito caros e peças de grife, instalou sua principal loja em um bairro conceituado de uma grande cidade brasileira. Atrás da loja, no entanto, existe uma comunidade carente que construiu suas moradias no modelo que comumente denominamos de favela. A loja é alvo de inúmeras críticas em razão da situação contraditória em que se encontra, pois vende peças caríssimas ao lado de uma população que sequer tem condições básicas de moradia. A empresa resolveu, então, iniciar um projeto de responsabilidade social e chamou você para organizá‑lo. No seu projeto, a primeira medida a ser adotada é: A) A distribuição de roupas e brinquedos para as crianças da comunidade carente. B) A realização de um show com um cantor popular para agradar a população carente. C) A realização de uma pesquisa para saber quais as necessidades daquela população e, a partir da sistematização dos dados, alcançar o direcionamento do projeto para desenvolver os objetivos específicos. D) A contratação de funcionários que venham prioritariamente daquela comunidade para todos os cargos da empresa. E) A reunião com a diretoria da empresa para saber quanto eles pretendem investir nesse projeto. Resoluçãodesta questão na plataforma. 76 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 fIGuRAS e IluSTRAçõeS figura 1 SILVA, C. E. G. Gestão, legislação e fontes de recurso no Terceiro Setor brasileiro: uma perspectiva histórica. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 44, n. 6, nov./dez. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034‑76122010000600003>. Acesso em: 13 jun. 2014. figura 2 SILVA, C. E. G. Gestão, legislação e fontes de recurso no Terceiro Setor brasileiro: uma perspectiva histórica. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 44, n. 6, nov./dez. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034‑76122010000600003>. Acesso em: 13 jun. 2014. figura 3 SILVA, C. E. G. Gestão, legislação e fontes de recurso no Terceiro Setor brasileiro: uma perspectiva histórica. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 44, n. 6, nov./dez. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034‑76122010000600003>. Acesso em: 13 jun. 2014. figura 4 SILVA, C. E. G. Gestão, legislação e fontes de recurso no Terceiro Setor brasileiro: uma perspectiva histórica. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 44, n. 6, nov./dez. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034‑76122010000600003>. Acesso em: 13 jun. 2014. RefeRÊNCIAS Audiovisuais DAENS – um grito de justiça. Dir. Stijn Coninx. Bélgica; França; Holanda: Dérives Productions; Favourite Films; Shooting Star Filmcompany BV, 1992. 138 minutos. ILHA das Flores. Documentário. Dir. Jorge Furtado. Brasil: Casa de Cinema de Porto Alegre, 1989. 13 minutos. QUANTO vale ou e por quilo? Dir. Sergio Bianchi. Brasil: Agravo Produções Cinematográficas, 2005. 110 minutos. 77 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 Textuais ANTUNES, R. Adeus ao trabalho. Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. São Paulo: Cortez, 2005. ___. Uma esquerda fora do lugar: o governo Lula e os descaminhos do PT. Campinas: Armazém do Ipê, 2006. BARROCO, M. L. S. Ética: fundamentos sócio‑históricos. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2010. (Biblioteca Básica de Serviço Social, v. 4). BEHRING, E. R.; BOSCHETTI, I. Política social: fundamentos e história. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2008. (Biblioteca Básica de Serviço Social, v. 2). BELISÁRIO, K. M.; RAMOS, M. C. A mercadorização da responsabilidade social corporativa. Revista Brasileira de Políticas de Comunicação, Brasília, n. 1, p. 1‑19, 2011. Disponível em: <http://www. rbpc.lapcom.unb.br/pdf/RBPC‑1‑3.pdf>. Acesso em: 17 jun. 2014. BRASIL. Lei nº 91, de 28 de agosto de 1935. Determina regras pelas quaes são as sociedades declaradas de utilidade publica. Brasília, 1935. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/1930‑1949/L0091.htm>. Acesso em: 13 jun. 2014. ___. Lei nº 3.577, de 4 de julho de 1959. Isenta da taxa de contribuição de previdência dos institutos e caixas de aposentadoria e pensões as entidades de fins filantrópicos de reconhecidas de utilidade pública, cujos membros de suas diretorias não percebem remuneração. Brasília, 1959. Disponível em: <http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%20 3.577‑1959?OpenDocument>. Acesso em: 13 jun. 2014. ___. Lei nº 9.608, de 18 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre o serviço voluntário e dá outras providências. Brasília, 1998. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9608. htm>. Acesso em: 16 jun. 2014. ___. Lei nº 9.790, de 23 de março de 1999. Dispõe sobre a qualificação de pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, institui e disciplina o Termo de Parceria, e dá outras providências. Brasília, 1999. Disponível em: <http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9790.htm>. Acesso em: 17 jun. 2014. ___. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 17 jun. 2014. CAVALCANTE, R. L. Desenvolvimento sustentável e responsabilidade social corporativa. 2009. Monografia (Finanças e Gestão Corporativa) – Universidade Cândido Mendes – UCAN, Rio de Janeiro, 2009. Disponível em: <http://www.avm.edu.br/docpdf/monografias_publicadas/t205549. pdf>. Acesso em: 15 jan. 2014 78 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 COELHO, S. C. T. Terceiro setor: um estudo comparado entre Brasil e Estados Unidos. 2. ed. São Paulo: SENAC, 2002. COSTA, S. F. O serviço social e o Terceiro Setor. Serviço Social em Revista, Londrina, v. 7, n. 2, jan./ jun. 2005. Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/ssrevista/c_v7n2_selma.htm>. Acesso em: 13 jun. 2014. DRUCK, G.; BORGES, A. Terceirização: balanço de uma década. 2001. Caderno CRH, Salvador, n. 37, p. 111‑139, jul./dez. 2002. Disponível em: <http://www.flexibilizacao.ufba.br/RCRH‑2006‑132graca. pdf> Acesso em: 10 jul. 2014. FALEIROS, V. P. A política social do estado capitalista: as funções da previdência e assistência sociais. 12. ed. São Paulo:Cortez, 2009. FERNANDES, R. C. Privado, porém público. O Terceiro Setor na América Latina. 2. ed. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1996. GIFE. Código de ética. [s.d.]. Disponível em: <http://site.gife.org.br/arquivos/geral/CodigoEtica/ codigoetica.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2014. GOMES, D. G. P. Direito do trabalho e dignidade da pessoa humana: no contexto da globalização econômica: problemas e perspectivas. São Paulo: LTr, 2005. IAMAMOTO, M. V. Relações sociais e serviço social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico‑metodológica. 6. ed. São Paulo: Cortez; Lima (Peru): CELATS, 2004. ___. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e formação profissional. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2005. IVO, A. B. L. A reconversão da questão social e a retórica da pobreza nos anos 1990. In: CIMADAMORE, A.; HARTLEY, D.; SIQUEIRA, J. (Coord.). A pobreza do Estado: reconsiderando o papel do Estado na luta contra a pobreza global. Buenos Aires: Consejo Latinoamericano de Ciências Sociales (Clacso), 2006. KANITZ, S. Mas o que é Terceiro Setor? [s.d.]. Disponível em: <http://www.filantropia.org/ OqueeTerceiroSetor.htm>. Acesso em: 13 jun. 2014. KISIL, R. Elaboração de projetos e propostas para organizações da sociedade civil. São Paulo: Global, 2001. (Coleção Gestão e Sustentabilidade). KRAEMER, M. E. P. Marco referencial da responsabilidade social corporativa. (2005). Disponível em: <http://www.aedb.br/seget/artigos05/5_Marco%20Referencial%20da%20 Responsabilidade%20Social%20Corporativa.pdf>. Acesso em: 18 jun. 2014. LOPES, N. Terceiro setor: organizações civis sem fins lucrativos. [s.d.]. Disponível em: <http://www. wooz.org.br/setor3monografia6.htm>. Acesso em: 20 jan. 2014. 79 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 MANUAL do Terceiro Setor. São Paulo: Instituto Pro Bono, [s.d.]. Disponível em: <http://www. probono.org.br/arquivos/file/manualterceirosetor.pdf>. Acesso em: 13 jun. 2014. MELO NETO, F. P. Responsabilidade social e cidadania empresarial: a administração do Terceiro Setor. Cesar Froes. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1999. MENEZES, F. C. O serviço social e a “responsabilidade social das empresas”: o debate da categoria profissional na Revista Serviço Social e Sociedade e nos CBAS. Serviço Social e Sociedade, São Paulo: Cortez, n. 103, p. 503‑531, jul./set. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/sssoc/n103/ a06n103.pdf>. Acesso em: 16 jun. 2014. MONTAÑO, C. Terceiro setor e questão social. Crítica ao padrão emergente de intervenção social. 6. ed.São Paulo: Cortez, 2010. NEGRÃO, J. J. O neoliberalismo na redemocratização brasileira. 1996. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 1996. OLIVEIRA, P. B. M. A intersetorialidade das políticas sociais na urbanização de favelas: uma possibilidade para a concretização do direito à cidade? 2011. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2011. PASSOS, E. Ética nas organizações. 8 ª reimpressão. São Paulo: Atlas, 2012. PEREIRA, L. C. B. Notas introdutórias ao modo tecnoburocrático ou estatal de produção. Estudos Cebrap 20, p. 77‑109, abr./jun. 1977. Disponível em: <http://bresserpereira.org.br/papers/1977/77. NotasIntrodutoriasModoTecnoburocratico.pdf>Acesso em: 1 dez. 2013. POMPEO, J. N. Brasil e o Consenso de Washington: nos primeiro e segundo mandatos de FHC. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2003. RAICHELIS, R. Gestão pública e cidade: notas sobre a questão social em São Paulo. Revista Serviço Social e Sociedade, São Paulo, n. 90, jun. 2007. RASQUINHA, E. F. Mas o que é responsabilidade social. 2010. Disponível em: <http://www.ipea. gov.br/acaosocial/articleaeba.html?id_article=632>. Acesso em: 20 jan. 2014. RIZOTTI, M. L. A. A construção do sistema de proteção social no Brasil: avanços e retrocessos na legislação social. [s.d.]. Disponível em: <http://sisnet.aduaneiras.com.br/lex/doutrinas/arquivos/ construcao.pdf>. Acesso em: 26 nov. 2010. SANTOS, V. N. Terceiro setor no serviço social brasileiro: aproximações ao debate. Serviço Social & Sociedade: Projeto Profissional e Conjuntura (Especial), São Paulo: Cortez, n. 91, p. 123‑142, set. 2007. Trimestral. 80 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 SILVA, C. E. G. Gestão, legislação e fontes de recurso no Terceiro Setor brasileiro: uma perspectiva histórica. Revista de Administração Pública, Rio de Janeiro, v. 44, n. 6, nov./dez. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034‑76122010000600003>. Acesso em: 13 jun. 2014. TOLDO, M. et al. Responsabilidade social das empresas. São Paulo: Peirópolis, 2002. VALLS, A. L. M. O que é ética. São Paulo: Brasilense, 2008. (Coleção Primeiros Passos, 177). 81 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 82 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 83 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 84 Re vi sã o: C ris tin a Z. F ra ra ci o - Di ag ra m aç ão : L uc as M an sin i - d at a 12 /0 7/ 20 14 Informações: www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000
Compartilhar