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Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 1 Metodologia de Assistência Técnica e Gerencial Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária Este curso tem 30 horas ©2017. SENAR - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural - Administração Central. Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei Nº 9.610). Informações e Contato SGAN 601 –Módulo K Edifício Antônio Ernesto de Salvo – 1º andar Brasília – CEP 70830-021 Telefone: 61 2109-1300 www.senar.org.br Presidente do Conselho Deliberativo João Martins da Silva Júnior Entidades integrantes do Conselho Deliberativo Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil - CNA Confederação dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG Ministério do Trabalho e Emprego - MTE Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA Ministério da Educação - MEC Organização das Cooperativas Brasileiras - OCB Agroindústrias / indicação da Confederação Nacional da Indústria - CNI Secretário Executivo do SENAR Daniel Klüppel Carrara Coordenação de Assistência Técnica e Gerencial Matheus Ferreira Pinto da Silva Metodologia de Assistência Técnica e Gerencial Curso da Faculdade de Tecnologia CNA Ponto de Partida! ........................................................................................... 5 Introdução do módulo ....................................................................................................... 9 Tema 1 | Histórico da assistência técnica no Brasil .......................................................... 11 Topico 1 | Contextualização da realidade rural brasileira ..........................................13 Topico 2 | Origem e evolução da assistência técnica ................................................21 Topico 3 | A importância da assistência técnica .......................................................27 Topico 4 | Métodos de disseminação de assistência técnica .....................................30 Topico 5 | Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural .......................39 Encerramento do tema ................................................................................. 44 Tema 2 | A Assistência Técnica e Gerencial ...................................................................... 46 Topico 1 | Organização de assistência técnica ..........................................................48 Topico 2 | Modelo da Assistência Técnica e Gerencial ...............................................50 Topico 3 | Modelo de Assistência Técnica e Gerencial do SENAR ..............................56 Topico 4 | Responsabilidades e papel de cada agente ...............................................71 Topico 5 | A importância da formação continuada no processo de assistência técnica .......81 Encerramento do tema ................................................................................. 85 Tema 3 | Técnicas de abordagem ao produtor rural ........................................................... 87 Topico 1 | Estabelecendo a confiança com o produtor ..............................................89 Topico 2 | Entendendo o comportamento humano ....................................................95 Topico 3 | Mantendo o equilíbrio emocional ............................................................103 Topico 4 | Relacionamento interpessoal e autocontrato de mudança ......................109 Topico 5 | Comunicação assertiva ..........................................................................113 Encerramento do tema ............................................................................... 121 Encerramento do módulo ........................................................................... 123 Linha de Chegada ...................................................................................... 124 Referências ................................................................................................ 128 Sumário Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 5 Ponto de Partida! Olá, bem-vindo(a) ao curso Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária, da Faculdade CNA a distância. Esse curso tem como objetivo principal abordar a dinâmica no campo e o dia a dia de um Técnico de Campo, capacitando-o para as diferentes situações que envolvem a Assistência Técnica e Gerencial da propriedade rural. O curso tem carga horaria total de 150h e foi dividido em 5 módulos de 30h cada, para que você possa se organizar e realizar seus estudos com tranquilidade. Conheça os objetivos de cada um dos módulos que compõem o curso. Veja: M1 – Metodologia de Assistência Técnica e Gerencial Dispor conhecimentos metodológicos para o desem- penho necessário de ações de Assistência Técnica e Gerencial, destacando as competências requeridas ao exercício da atividade. M2 – Gerencial I da Assistência Técnica e Gerencial Compreender de forma ampla os conceitos geren- ciais que envolvem a Assistência Técnica e Gerencial. M3 – Gerencial II da Assistência Técnica e Gerencial Contextualizar os conceitos gerenciais da Metodolo- gia de Assistência Técnica e Gerencial. M4 – Gerencial III da Assistência Técnica e Gerencial Calcular e interpretar indicadores técnicos e econô- micos nas principais cadeias produtivas da pecuária. M5 – Planejamento da propriedade rural Definir em que consiste o planejamento estratégico da propriedade rural assistida pela metodologia de ATeG, facilitando sua compreensão e aplicabilidade. Perceba que os conteúdos a serem trabalhados em cada módulo são interligados e complementares entre si. Ao final do curso, sua formação na Assistência Técnica e Gerencial será completa. Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 6 Após a data do primeiro acesso ao curso você terá 45 dias para concluir cada módu- lo. Por isso, o conteúdo ficará disponível no Ambiente de Estudos 24h. Assim, você pode se programar e estudar onde quiser e no horário em que achar mais adequado, de acordo com sua agenda de estudos. Fonte: Banco de imagens do SENAR Atividades de passagem A navegação pelo conteúdo de cada módulo será linear, ou seja, você deverá acessar o primeiro tema, conferir todos os tópicos e realizar a atividade de passagem para, depois, acessar o tema seguinte. Veja os tipos de atividades que teremos ao longo dos módulos: Atividade de passagem A atividade de passagem será composta por uma questão com o ob- jetivo de verificar se você teve um bom aproveitamento em relação ao conteúdo do tema correspondente. É importante responder à ativida- de para poder acessar o tema seguinte. Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 7 Fórum O fórum proporciona o debate e a troca de conhecimento entre você e o tutor. Haverá um fórum por módulo, que ficará aberto durante todo o seu período de estudos nesse módulo, permitindo que você faça a postagem de novas percepções, enquanto trilha seu processo de aprendizagem. Simulado Ao finalizar o conteúdo, isto é, quando você tiver passado por todos os temas do módulo e respondido à última atividade, deverá se preparar para responder ao simulado, que será composto por 17 questões de múltipla escolha. Você pode respondê-lo de uma a três vezes, para se preparar adequadamente para a avaliação. Avaliação A Avaliação é obrigatória e tem caráter avaliativo, tendo como objetivo verificar o seu desempenho em cada módulo. Ela é composta por 17 questões objetivas, assim como o simulado. Você poderá respondê-la apenas uma vez, depois da conclusão dos 3 temas de estudo e após realizar o simulado. Estudo de caso É obrigatório, com caráter avaliativo. O estudo de caso consiste em uma questão reflexiva, relacionada aos temas estudados. No primeiro módulo, como resposta para a questão, você deverá gravar um vídeo respondendo oralmente à pergunta lançada no estudo de caso. A par- tir do segundo módulo ela será discursiva. Outra atividade importante para realizar no Ambiente de Estudosé a pesquisa de satisfação. Com essa pesquisa, poderemos analisar a qualidade do curso por meio das suas respostas e, assim, melhorá-lo cada vez mais. Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 8 Composição da nota de cada módulo A nota do módulo é composta por uma média simples entre a nota da Avaliação e o Estudo de caso. A nota pode variar de 0 a 10, sendo que na Avaliação a correção é automática e no Estudo de caso você receberá a nota junto com o feedback do tutor. Para ser considerado aprovado no curso, você precisa alcançar a média final igual ou supe- rior a 6. Ela é obtida por meio de uma média simples de suas notas em cada módulo. Certificado Ao final do percurso, com o desempenho esperado, você terá o seu certificado de conclusão do curso. Para obtê-lo, você deverá: • percorrer o conteúdo dos módulos e seus temas; • realizar a atividade de passagem de cada tema; • realizar o simulado de cada módulo; • realizar a Avaliação de cada módulo; • responder o Estudo de caso em cada módulo; • alcançar um desempenho de 60% na média final do curso. Agora que você está bem informado, poderá dar início ao seu curso. Conte sempre com a ajuda da tutoria e da monitoria caso tenha alguma dúvida quanto ao curso ou Ambiente de Estudos. Aproveite a oportunidade para participar das atividades pro- postas como os fóruns e enquetes. Lembre-se de que você terá sucesso garantido na busca por crescimento pessoal e profissional se mantiver a organização e a dedicação durante esse processo. Siga em frente e bons estudos! Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 9 Introdução do módulo Bem-vindo(a)! A partir de agora você irá participar do módulo Metodologia de Assis- tência Técnica e Gerencial do SENAR. Objetivos Para que você, profissional, expresse todo o seu potencial no trabalho de campo, é imprescindível que, além de domínio técnico, disponha de uma metodologia de trabalho e de competências que tornem eficien- te e efetiva a transferência de conhecimentos para o produtor, sendo este o objetivo do módulo. Para atingir este objetivo, o módulo está estruturado em três temas: • Tema 1: Histórico da assistência técnica no Brasil. • Tema 2: Assistência Técnica e Gerencial. • Tema 3: Técnicas de abordagem ao produtor rural. Nossa expectativa é a de que, ao final do módulo, você conheça a trajetória da assis- tência técnica no Brasil, tenha condições de discernir sobre os modelos tradicionais de assistência técnica e Assistência Técnica e Gerencial, e domine algumas técnicas de abordagem ao produtor. Tudo isso para que você possa se tornar um autêntico Fonte: Banco de imagens do SENAR Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 10 agente de transformações no campo, capaz de acessar o produtor, transferir conhe- cimento, melhorar seus resultados produtivos e econômicos e, acima de tudo, melho- rar a qualidade de vida das pessoas do meio rural. Agora que conhecemos os temas com os quais iremos trabalhar e tudo o que os en- globa, será interessante visualizá-los de uma forma mais prática, não acha? Vídeos Acesse o ambiente de estudos e assista a um vídeo que preparamos especialmente para você. Nele, você acompanhará a primeira experi- ência do Marcelo, Técnico de Campo do Senar, na Fazenda Santa Feli- cidade, propriedade assumida pelo sr. Ariovaldo. A fazenda possui um total de 50 hectares, dos quais 20 são destinados à atividade leiteira e o restante é voltado ao cultivo de grãos. O proprietário tem várias dú- vidas, que Marcelo tentará sanar. Será que ele vai conseguir encontrar essas respostas e obter sucesso em seus atendimentos na Fazenda? Tome nota Você consegue responder a todas as dúvidas do Marcelo? Você já passou por essas situações? Se sim, compartilhe conosco! Diga tam- bém quais são as suas expectativas para este módulo! Sabemos da magnitude da sua missão como agente de mudanças na vida das pes- soas do campo e de fomento de um setor que vem se consolidando como um im- portante pilar da economia nacional, o que aumenta a nossa responsabilidade em explorar da melhor forma possível todos os recursos disponíveis neste ambiente de aprendizagem. Vamos juntos embarcar nessa viagem de conhecimento e crescimento! 11Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária Tema 1 Histórico da assistência técnica no Brasil Fonte: Banco de imagens do SENAR Vamos juntos estudar o primeiro tema do módulo. Nele, temos como propósito co- nhecer a breve caminhada da assistência técnica no Brasil, bem como as fases viven- ciadas, as dificuldades, os avanços e, acima de tudo, sua contribuição para o desen- volvimento desse tão importante setor de nossa economia. Ao final deste tema, você será capaz de discorrer sobre aspectos relevantes da realidade rural brasileira, de identifi- car as classes de produtores rurais, os princípios e as diretrizes da Política Na- cional de Assistência Técnica, os prin- cipais conceitos da assistência técnica, os métodos e as técnicas de difusão de conhecimentos nas atividades rurais, bem como a correlação entre a assis- tência técnica e o processo educativo do produtor rural. Grandes são os desafios enfrentados pelos agentes da assistên- cia técnica, por isso é necessário que es- tejamos preparados e munidos de toda ordem de informações e conhecimentos. Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 12 Veja os tópicos que serão abordados nesse tema: Tópico 1: Contextualização da realidade rural brasileira Neste tópico, iremos reconhecer a importância de assistência técnica para o meio rural, destacando pontos relevantes da realidade rural brasileira e des- crevendo a classe de produtores rurais no Brasil. Tópico 2: Origem e evolução da assistência técnica Iremos identificar a origem e as fases da extensão rural no Brasil, discorrer sobre os princípios e diretri- zes que orientam a Política Nacional da Assistência Técnica e descrever os principais conceitos da as- sistência técnica. Tópico 3: A importância da assistência técnica para o meio rural Neste tópico iremos identificar a importância da assistência técnica no desenvolvimento da agrope- cuária brasileira. Tópico 4: Métodos de disseminação de assistência técnica Aqui, iremos destacar os métodos e técnicas de difusão de conhecimentos nas atividades rurais e correlacionar a ação de assistência técnica ao pro- cesso educativo do produtor rural. Tópico 5: A Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural Por fim, iremos conhecer a Política Nacional de As- sistência Técnica e Extensão Rural. Um forte abraço e ótimos estudos! Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 13 Tópico 1: Contextualização da realidade rural brasileira Quando se trata do meio rural, o Brasil é um país de muitos contrastes. A renda bruta per capita dos produtores é muito variada. Fonte: Banco de imagens do SENAR Objetivos A seguir, nós iremos destacar pontos relevantes da realidade rural bra- sileira e descrever a classe de produtores rurais no Brasil. Segundo o Censo Agropecuário de 2006, 78,8% dos produtores têm renda inferior a R$1.588,00/mês. A atividade leiteira, por exemplo, realizada em 25% dos estabelecimentos brasileiros, tem índices muito baixos de produção e produtividade. São 1.350.000 produto- res que produzem, em média, 70 litros por dia. A produtividade da vaca brasi- leira, por exemplo, é muito baixa quan- do comparada com a de outros países, como se pode ver no gráfico abaixo. Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 14 Litros de leite de vaca/dia 0 5 10 15 20 25 30 35 40 EUA Índ ia Chi na Bra sil Rús sia Ale ma nha Fra nça No va Zel ând ia Tur qui a Rei no Uni do Paq uis tão Pol ôni a Arg ent ina Ho lan da Ucr âni a Isra el 33 4 10 5 13 24 22 13 10 26 4 17 18 25 15 39 Nos tópicos a seguir, iremos abordar a realidade rural brasileira. Veremos como estão estruturados os estabelecimentos de produção rural e de que forma os produtores estão classificados. A realidade ruralbrasileira A população brasileira que vivia no campo em 1970, segundo dados do Instituto Bra- sileiro de Geografia e Estatística (IBGE), era de 41,6 milhões de habitantes (43%). Já em 2010, eram apenas 29,8 milhões de brasileiros vivendo na zona rural. Consi- derando que, em 2010, a população brasileira era de 160,9 milhões de habitantes, a população rural foi reduzida significativamente para apenas 15,6% dos habitantes do país. Isso quer dizer que muita gente foi viver nas cidades. Observe esses dados no gráfico a seguir. Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 15 1940 20 25 30 35 40 45 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 33,2 39,0 41,6 39,1 36,0 31,8 29,828,4 Fonte: IBGE, Censo Demográfico (2010). População rural brasileira, e milhões de habitantes, de 1940 a 2010 Qual a explicação para um êxodo tão elevado? As condições de infraestrutura, como estradas, comunicação, saúde, lazer e educa- ção induzem a migração do homem do campo para as cidades. A Assistência Téc- nica e Extensão Rural pode representar um papel relevante para reduzir essa migra- ção, de forma a promover o desenvolvimento do meio rural brasileiro e melhorar as condições socioeconômicas das famílias que ali vivem e trabalham, por exemplo, buscando melhorias nas condições de estradas; oferecendo assistência técnica para melhorar a renda rural; levando informação sobre crédito rural e condições dos mer- cados agropecuários. Na tabela a seguir, é possível verificar que, nas regiões Norte (26,5%) e Nordeste (26,9%), o percentual de população rural é mais elevado. Já no Sudeste (7,1%) e no Centro-Oeste (11,2%), esse percentual é menor. Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 16 Censo Demográfico 2010 � População urbana e rural Regiões Urbana Rural % do total Total Brasil 160.925.804 29.829.995 15,6 190.755.799 Norte 11.664.509 4.199.945 26,5 15.864.454 Nordeste 38.821.258 14.260.692 26,9 53.081.950 Sudeste 74.696.178 5.668.232 7,1 80.364.410 Sul 23.260.896 4.125.995 15,1 27.386.891 Centro-Oeste 12.482.963 1.575.131 11,2 14.058.094 O crescimento da agricultura no Brasil até a década de 1960 se deu pelo crescimen- to da área cultivada e pela inserção de trabalhadores rurais no processo produtivo, período considerado da agricultura tradicional. Da década de 1970 em diante, o cres- cimento da produção e sua concentração em poucos estabelecimentos é explicado pela adoção de tecnologia. Os fatores terra e trabalho ficaram menos importantes em relação aos fatores tecnológicos. O gráfico a seguir mostra o crescimento da produtividade da terra. A produção au- menta e a área cultivada praticamente se mantém a mesma. No período de 1975 a 2011, o rendimento da área cultivada quase quadruplicou. 4.50 4.00 3.50 3.00 2.50 2.00 1.50 1.00 0.50 0.00 197 5 197 7 197 9 198 1 198 3 198 5 198 7 198 9 199 1 199 3 199 5 199 7 199 9 200 1 200 3 200 5 200 7 200 9 201 1 Produto Terra Rendimento Legenda: Contribuição da terra e do rendimento para o crescimento do produto Fonte: Gasques et al.. (Apresentação Eliseu Alves, Congresso da FAPEG , em Goiânia, 2016) Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 17 O Brasil é o país que apresenta o potencial mais elevado para o crescimento da pro- dução de alimentos no mundo. Sua dimensão continental (8.500.000 Km²), com pou- cas restrições climáticas e de topografia, diferentemente de muitos países do mun- do, reúne as melhores condições para o cultivo de plantas e a criação de animais. Acompanhe: Fonte: Shutterstock Fonte: Shutterstock Fonte: Shutterstock No estado de Winsconsin (EUA), para viabili- zar o manejo das vacas de leite, faz-se neces- sário construir instalações muito caras, com elevados investimentos, o que onera sobre- maneira a produção, afetando a competitivi- dade da atividade naquele estado. A Austrália tem um terço do seu território muito seco, com pouca ou nenhuma condição para produção. Mui- tos estados dos Estados Unidos da América (EUA), durante vários meses do ano, ficam impossibilitados de produzir em virtude das condições climáticas. Ainda, em vários países da Europa, pouco ou quase nada se produz durante seis meses do ano, em virtu- de do frio e da neve. A Rússia é outro país de grande dimensão com grande restrição climática. Há outros países do mundo cuja capacidade produtiva é limitada à sua reduzida dis- ponibilidade de área, como é o caso de Israel ou da Nova Zelândia, que possuem pouco espaço para ampliar a produção. Em Israel, o desafio para produzir é tão gran- de que uma das formas de se utilizar a água doce é por meio da “dessalinização” da água do mar, o que custa muito para a sociedade. Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 18 Aqui no Brasil, a natureza favorece a produção. Além de muita área, temos clima, chuvas e condições edafoclimá- ticas para produzir alimentos para a toda a população brasileira e com exce- dentes exportáveis, o que se traduz em uma grande oportunidade para a sus- tentabilidade do agronegócio. Por essa razão, o mundo todo está de olho no Brasil. Quando se fala nas pro- jeções da produção de alimentos para 2050, estima-se que 40% do crescimen- to da produção para o mundo saia de nosso território. E, quando o Brasil se alia à Argentina, ao Uruguai, ao Para- guai e ao Chile, a projeção de aumento da produção de alimentos para suprir o mundo em 2050 passa para 60%. condições edafoclimáticas O termo condições eda- foclimáticas se refere a um conjunto de carac- terísticas relativas ao solo, ao relevo, ao clima, à intensidade de chuvas e à temperatura de uma certa região. Outro comentário relevante diz respeito ao baixo nível de escolaridade do pro- dutor brasileiro, que representa signifi- cativo limitador à ampliação do uso de tecnologia. Ainda são muitos os pro- dutores que não sabem ler e escrever, diferentemente da realidade de outros países do mundo desenvolvido. Você sabia? Em Israel, onde a produção é feita de forma muito técnica e os re- cursos naturais são muito escassos, a maioria dos produtores têm formação superior. Na Nova Zelândia, um dos mais eficientes produ- tores de leite do mundo, o jovem produtor, para ingressar na atividade leiteira, tem de passar por uma formação técnica intensiva. Um fato igualmente importante diz respeito à baixa produtividade da terra e da mão de obra, o que impacta diretamente nos custos da produção, de modo a impedir uma renda adequada para as famílias que vivem no meio rural brasileiro. Nessas condi- ções, os mais jovens, que deveriam suceder o trabalho nos estabelecimentos rurais, se recusam a continuar a atividade dos pais por falta de atratividade econômica. Essa é uma realidade de todo o Brasil, mas podemos destacar que, nos estados do Sul, o problema sucessório é ainda mais acentuado. Os mais velhos, imigrantes ita- lianos e alemães, predominantes no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, hoje já estão muito sozinhos nas propriedades. É comum observar ranchos caindo, cercas remendadas e máquinas envelhecidas. Tudo isso é consequência da falta de uma boa gestão técnica e econômica do siste- ma de produção, seja em uma pequena, média ou grande propriedade. Fonte: Shutterstock Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 19 Pare para pensar Muitos produtores, como os de hortaliças, mandioca, galinha caipira, gado bovino de corte ou de leite não conseguem produzir e guardar o valor equivalente à depreciação das benfeitorias, das máquinas e das instalações em sua estrutura orçamentária. Isso quer dizer que, se a casa envelhece, não há dinheiro para reformá-la ou para construir uma nova. Se o trator fica velho, falta recurso para trocá-lo. Se a cerca enferruja, há dificuldade financeira para refazê-la. Diante do que você viu até aqui, podemos dizer que a Assistência Técnica e Gerencial nas propriedades é urgente, tanto para preservá-las quanto para que soluções mais lucrativas cheguem aos produtores. Estabelecimentos de produção rural Veremos, agora, alguns dados sobrea estrutura fundiária no Brasil. Fonte: Shutterstock Segundo o Censo Agropecuário de 2006, o Brasil tem 5.175.489 estabe- lecimentos rurais. Desses, 4,4 milhões declaram produção e utilizam a terra. Há uma grande variabilidade entre os produtores no que se refere ao tamanho da propriedade, ao nível de tecnificação empregada, ao nível de escolaridade e à sua capacidade de investimento. Este cenário apresenta o grande desafio que o profissional do agronegócio terá pela frente ao trabalhar na assistência técnica. Podemos imaginar que cada um desses milhões de estabelecimentos é conduzido por pequenos, médios e grandes empresários, com realidades completamente diferentes umas das outras. No que se refere à Ater, os dados do Censo de 2006 apontam que 4.030.473 (77,88%) dos estabelecimentos não receberam assistência, e que apenas 482.452 (9,32%) deles receberam assistência regularmente, conforme a tabela a seguir. Assistência Técnica e Extensão Rural no Brasil Quantidade de estabelecimentos Não receberam Receberam regularmente Receberam ocasionalmente Qtd. % Qtd. % Qtd. % 5.175.489 4.030.473 77,88 482,452 9,32 662,564 12,8 Legenda: Atendimentos de Ater nos estabelecimentos rurais do Brasil. Fonte: Censo IBGE (2006). Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 20 Classe de produtores rurais no Brasil A classificação econômica norteia o foco das ações de assistência técnica. Mas como se classificam os estabelecimentos rurais no Brasil? O Censo Agropecuário de 2006 (IBGE) permite observar que: • 23.306 estabelecimentos geraram 51% do Valor Bruto da Produção (VBP); • 500 mil estabelecimentos geraram 87% do valor da produção; • 3,9 milhões de estabelecimentos ficaram à margem da modernização e ge- raram 13% do VPB; • 2,9 milhões de produtores são muito pobres, com meio salário mínimo de VBP mensal por estabelecimento. Nas tabelas a seguir, os produtores foram classificados segundo a renda líquida mensal. Observe: Número de produtores por classes econômicas Classes Número de produtores % A e B 301 mil 5,8 C 796 mil 15,4 D e E 4,070 milhões 78,8 Total 5,167 milhões 100 Fonte: Censo Agropecuário IBGE (2006). Valor de renda líquida mensal por classes Classes Valor da renda líquida mensal Sem correção Corrigido A e B Acima de R$4.083,00 Acima de R$ 6.847,00 C R$947,00 a R$4.083,00 R$ 1.588,00 a R$ 6.847,00 D e E Inferior a R$947,00 Inferior a R$ 1.588,00 Não informantes - - Fonte: Censo Agropecuário IBGE (2006) - Dados corrigidos pelo IGP/DI (jun. 15). Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 21 Como pode ser observado, o número de produtores com renda inferior a R$1.588,00 representa quase 80%. Isso significa dizer que a necessidade de intervir no pro- cesso de produção destes estabelecimentos é uma grande oportunidade. Neste primeiro tópico, você pôde conhecer alguns aspectos da realidade rural brasi- leira segundo dados levantados pelo IBGE. Você também viu como estão estrutura- dos os estabelecimentos de produção rural e como eles são classificados. A partir disso, foi possível compreender a estrutura do setor rural brasileiro como um todo e identificar algumas das necessidades do homem do campo e, diante disso, tomar consciência dos desafios que temos pela frente. Tópico 2: Origem e evolução da assistência técnica Você sabe qual é a origem da assistência técnica no Brasil? Fonte: Banco de imagens do SENAR Objetivos Neste tópico, iremos identificar a origem e as fases da extensão rural no Brasil, além de conhecer os princípios e diretrizes que orientam a Política Nacional de Assistência Técnica. Admite-se que o Serviço de Extensão Rural foi criado em 6 de dezembro de 1948, com a assinatura do convênio entre a Associação Internacional Ame- ricana (AIA) e o governo do estado de Minas Gerais. Mas os pioneiros da assistência técnica atribuem o início do Serviço de Extensão às atividades em Santa Rita do Passa Quatro/MG e em São José do Rio Pardo/MG, a partir de 1947, também com a participação da AIA. Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 22 Há, ainda, registros de que as primeiras atividades extensionistas no Brasil aconte- ceram em torno de 1910, em Lavras/MG, tendo sido realizadas pelo agrônomo prof. Benjamim H. Hunnicutt, da Universidade Federal de Lavras. Naquela época, Hunni- cutt procurou dar cursos e treinamentos para os agricultores usando algumas me- todologias de extensão, tais como aulas, palestras, demonstrações de resultados e distribuição de folhetos ao produtor, com o objetivo de difundir técnicas relacionadas à escolha de sementes, ao plantio, ao espaçamento e à colheita para as culturas de milho, arroz e feijão. Fonte: Banco de imagens do SENAR Outros admitem que os primeiros pas- sos da extensão se deram em Viçosa/ MG, em 1929, com a criação da “Sema- na do Fazendeiro”, que é realizada até os dias de hoje. As dificuldades no início foram muitas: preconceito em relação a mulheres tra- balhando no campo com os homens, falta de pessoal habilitado, estradas in- transitáveis, falta de meios de locomo- ção e falta de recursos para implemen- tar o crédito rural brasileiro. Pare para pensar Inicialmente, o trabalho de extensão era difícil, pois havia a descon- fiança dos beneficiários e até mesmo das pessoas da cidade. En- quanto isso, assustados com a grande curiosidade alheia sobre seu trabalho, os extensionistas tinham receio de que iriam ter de pagar mais impostos ou de que o governo fosse lhes tomar alguma coisa. Assim, um técnico recém-formado podia enfrentar muita resistência para propor as novas tecnologias. Foi a Associação de Crédito e Assistência Rural (Acar) que introduziu no meio rural mineiro os primeiros fertilizantes químicos e defensivos agrícolas, a vacina da aftosa e o milho híbrido. Além de difundir a tecnologia, os técnicos da Acar inicialmente tiveram que comercializar esses produtos. Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 23 Fases da extensão rural no Brasil A extensão rural teve origem nos Estados Unidos da América e foi trazida para o Brasil no século XX, seguindo inicialmente os modelos, os objetivos e as práticas norte-americanas. Até chegar aos dias atuais, a extensão rural no Brasil passou por uma evolução, vivendo diferentes momentos no que se refere à sua forma de atua- ção, como será visto a seguir. Primeira fase A primeira fase da extensão rural no Brasil, conhecida como Humanismo Assisten- cialista, compreendeu o período de 1948 a 1963. Iniciou-se no estado de Minas Gerais, com a criação da Acar, um serviço de coopera- ção técnica e financeira americana que disponibilizava linhas de crédito por meio de um serviço de assistência técnica, de forma a repassar aos produtores os produtos e as práticas agrícolas que os enquadrariam na chamada agricultura moderna. A extensão rural tornou-se um sistema nacional a partir da criação da Associação Bra- sileira de Crédito e Assistência Rural (ABCAR), em 1956. Fonte: Shutterstock Os objetivos de extensão da ABCAR, que se estendeu por meio da Acar aos diversos estados da federação, eram aumentar a produtividade agrícola e proporcionar melhores condições de vida para as famílias rurais por meio do aumento da renda. Nos escritórios locais da Acar havia equipes formadas por extensionistas da área agrícola e da área de economia doméstica que se preocupavam com as ações de bem-estar social das famí- lias rurais. A atuação dos técnicos, apesar de levar em consideração o fator humano, era marca- da por uma relação paternalista, ou seja, apenas procurava induzir mudanças com- portamentais por meio de métodos pré-estabelecidos, os quais não favoreciam a construção crítica e participativa dos indivíduos assistidos, agindo quase sempre na busca de resultados imediatos. Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 24 O público-alvo era preferencialmente composto pelos pequenos produtores, mas não ha- via distinção clara do público atendido. As unidades utilizadas como meios de intervenção eram grupose comunidades, lideranças comunitárias, a família rural, sua propriedade e jovens rurais organizados em grupos. Aos extensionistas, cabia a responsabilidade de promover mudanças de comportamento e de mentalidade e supervisionar a aplicação de crédito concedido às famílias. As metodologias utilizadas eram campanhas e programas de rádio, visitas às proprie- dades rurais, decisões conjuntas para aplicação de recursos de crédito rural, reuni- ões técnicas, treinamentos, demonstrações técnicas e demonstração de resultados. Segunda fase A segunda fase, que se estendeu de 1964 a 1980, foi caracterizada pela abundância de crédito rural subsidiado e chamada de Difusionismo Produtivista. Nesta fase, os produtores adquiriram um pacote tecnológico modernizante atrelado ao uso de muito capital subsidiado, investido em máquinas e outros insumos indus- trializados, como fertilizantes e sementes selecionadas. A Ater servia para inserir o homem do campo nas regras da economia de mercado, visando o aumento da produtividade e a mudança da mentalidade dos produtores, do “tradicional” para o “moderno”. A extensão atuava com o objetivo de convencer os produtores a adotar novas tecno- logias. Os conhecimentos empíricos dos produtores, assim como as suas necessi- dades tradicionais, não eram considerados. A Ater agia de uma forma protecionista e paternalista. A Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Embrater) foi criada nesse período, quando houve uma grande expansão do serviço de extensão rural no país. Em 1960, apenas 10% dos municípios brasileiros contavam com serviços de Ater. Já em 1980, a extensão rural atingiu aproximadamente 80% dos municípios do país. Conhecimentos empíricos Conhecimentos basea- dos na experiência, sem bases cietíficas. Como nesse período o crédito rural era o principal indutor de mudanças, os pe- quenos agricultores familiares ficavam à margem do serviço de extensão rural, uma vez que não possuíam uma estru- tura produtiva compatível com as ga- rantias e exigências bancárias. Foi tam- bém na metade dos anos 1970 que as associações de crédito e as Ater foram transformadas em empresas estatais. O público prioritário era composto de médios e grandes produtores. Muitos projetos grandes foram realizados. As metodologias utilizadas para difundir tecnologias eram os programas de rádio, as campanhas, os dias de cam- po, as reuniões, as demonstrações de resultados, as palestras e os treina- mentos, além das visitas técnicas às propriedades. Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 25 Terceira fase Na terceira fase, compreendida entre 1980 e 1989, principalmente por conta do esgotamento do modelo de crédito rural subsidiado, teve início no país uma nova proposta de extensão rural, que preconizava a construção de uma �consciência crítica� nos extensionistas. Essa fase foi chamada de Humanismo Crítico. O planejamento participativo era um instrumento de ligação entre os técnicos de Ater e os produtores, com base na pedagogia da libertação desenvolvida por Paulo Freire. As mudanças no meio rural contri- buíram para a revisão da missão ex- tensionista frente às consequências negativas (sociais e ambientais) da modernização parcial da agricultura brasileira. De acordo com essa nova fi- losofia, as metodologias de intervenção devem fundamentar-se nos princípios participativos, levando em conta os as- pectos culturais dos produtores e de suas famílias.Fonte: Shutterstock Na segunda metade dos anos 1980 houve redução do financiamento externo, crise fiscal e diminuição dos investimentos públicos, mas o foco no aumento da produção e na especialização produtiva regional era mantido. Diante disso, tiveram início mu- danças na concepção e na prática da extensão. Apesar da nova orientação para seguir princípios participativos, as empresas de Ater continuavam a atender os pequenos e médios agricultores, deixados de lado pelo processo seletivo de modernização dos anos 1970, tornando-os dependentes dos insumos industrializados e subordinados ao capital industrial. O grande desafio da época para as instituições de ensino, pesquisa e movimentos sociais era o de criar meios de colocar em prática as metodologias participativas de Ater, de forma a envolver os produtores desde a concepção até a adoção das tecnologias, tornando-os parte do processo. Diante disso, começaram a ocorrer as mudanças na concepção e na prática da exten- são rural por meio de discussões a respeito da agricultura moderna, do desenvolvimen- to humano e social, da organização social e política e uso de tecnologias apropriadas. Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 26 Última fase Entre 1990 e 2003, período conhecido pela Diversificação Institucional, ocorreu a extinção da Embrater e do Sistema Brasileiro de Assistência Técnica e Extensão Rural (Sibrater). Esta última fase, caracterizada pela criação do Pronaf (Programa Nacional da Agri- cultura Familiar), é a fase atual, que foi iniciada no ano 2000. Ela caracteriza-se pela reestruturação institucional da Ater. As mudanças ocorridas neste período influenciaram a diversificação das organiza- ções, das entidades e das instituições prestadoras de Ater (ONGs, prefeituras, sin- dicatos, cooperativas, agroindústrias, lojas agropecuárias etc.) na busca por novas fontes de recursos para a intervenção, reinvindicação por políticas sociais e criação do Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf), em 1996. Nesta fase, é dado um valor maior aos aspectos gerenciais da propriedade. A visão da produção deixa de ser voltada para a máxima produção e busca o ótimo econômico.Ótimo econômico É o resultado de uma atividade que permite ao produtor ganhar dinheiro. Isso significa que não basta adotar tecnologias e obter produções ele- vadas com aumento de despesas sem que haja resultados econômicos. Para alcançar seus objetivos, a partir deste novo modelo, a assistência téc- nica passou a realizar intervenções nas propriedades, oferecendo ao produtor uma análise econômica voltada à ob- tenção de resultados e lucratividade. E foi com base nesta nova realidade que o Senar desenvolveu, a partir de 2013, o seu modelo de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG). Fonte: Banco de imagens do SENAR Com o que você estudou até aqui, já é possível entender melhor a importância da as- sistência técnica para o agronegócio brasileiro, não é? Além de ser fundamental para o agronegócio, a assistência técnica e a extensão rural são muito importantes para o desenvolvimento sustentável do país. No próximo tópico, você poderá se aprofundar nesse assunto. Bons estudos! Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 27 Tópico 3: A importância da assistência técnica Você sabe qual é a importância da assistência técnica e extensão rural? Fonte: Banco de imagens do SENAR Objetivos Neste tópico, iremos identificar a importância da assistência técnica no desenvolvimento da agropecuária brasileira. Vamos lá? A assistência técnica e a extensão rural têm uma grande importância no proces- so de educação e desenvolvimento do produtor rural e também no crescimento do agronegócio. Isso porque suas ações levam consigo as informações sobre novas tecnologias, inovações, pesquisas, entre outros conhecimentos fundamentais para o desenvolvimento das atividades do agronegócio. O Brasil tem avançado muito em algumas cadeias produtivas no que se refere à in- trodução de tecnologias e ao aumento da produtividade. São bons exemplos deste elevado nível de tecnificação a integração lavoura- pecuária, as cadeias das frutíferas e olerícolas, a soja e a avicultura. Este avanço se tornou mais relevante a partir da criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em 26 de abril de 1973. No caso da soja, a tabela a seguir revela indicadores da evolução da adoção de tecnologias atuais e projetadas para o Brasil. Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 28 Avanço da tecnologia na cultura da soja no BrasilPeríodo Ciclo (dias) Plantas (ha) Produtividade (kg/ha) 1990/1991 140-150 550 2.400 2011/2012 120-125 250 4.200 2020/2030 110-115 200 8.400 Fonte: Fapeg (2016). Veja a seguir como a assistência técnica, por meio da difusão e do auxílio à implan- tação de tecnologias, pode impactar positivamente no desenvolvimento da agrope- cuária brasileira: Tecnologias poupam terra e trabalho, os quais têm custos altos, e assim surge uma nova organização da produção de leite, carne e aves, por exemplo, que move os animais para o confinamento e li- bera a terra para outras explorações. A mecanização da agricultura também é parte desse novo tipo de organização. A adoção de tecnologia reduz o custo de produção e aumenta a competitividade, assim o mercado passa a estimular ainda mais a expansão e o desenvolvimento das atividades rurais. Aumenta a especialização das regiões – em grãos, hortaliças, fru- tas, gado de corte e leite, avicultura e florestas, por exemplo, para baixar o custo de produção. A tecnologia melhora a qualidade e o padrão dos produtos do agro- negócio, melhorando também a sua sanidade. A tecnologia elimina o desperdício até o consumidor. Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 29 Por ser o serviço de maior alcance no meio rural, a assistência técnica exerce papel fundamental no desenvolvimento do homem no campo e se firma cada vez mais como o principal meio de liga- ção entre as políticas públicas e o agro- negócio. A assistência técnica procura adaptar-se ao novo modelo de desen- volvimento sustentável, que exige pro- fissionais diferenciados, com conheci- mento a respeito de novas tecnologias, mas que também saibam trabalhar com as questões econômicas e gerenciais, sociais, institucionais e ambientais. Tome nota Você já parou para pensar por que, muitas vezes, o produtor não adota tecnologia? E sobre como tem atuado a assistência técnica em sua região? Existe mercado para o profissional do agronegócio no meio rural do seu município? Escreva sua resposta aqui! Todas essas questões envolvem o trabalho de um profissional da assistên- cia técnica, que pode proporcionar um grande desenvolvimento da agrope- cuária brasileira. A seguir, você vai compreender mais sobre essa importância. Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 30 Tópico 4: Métodos de disseminação de assistência técnica Você conhece os métodos de disseminação de conhecimentos na assistência técnica? Fonte: Banco de imagens do SENAR Objetivos Neste tópico, vamos correlacionar a ação de assistência técnica ao pro- cesso educativo do produtor rural. Além disso, iremos destacar méto- dos e técnicas de difusão de conhecimentos nas atividades rurais. No processo de decisão, desde o primeiro contato com uma tecnologia até a sua adoção, o produtor em geral passa por alguns estágios. O esquema a seguir, propos- to por Rogers (2003), é um modelo que explica como ocorre o processo mental para a adoção de tecnologias. Acompanhe: Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 31 No primeiro estágio, o produtor toma conhecimento de uma tecnologia e pode ser despertado por ela ou manter-se indiferente. Em um dia de campo, por exemplo, ele toma conhecimento de uma técnica de plantio de uma nova variedade de milho, recém-lançada pela Embrapa, de elevada produtividade. 1º estágio No segundo estágio, depois de o produtor ter conhecido e se interessado pela tecnologia, ele inicia uma etapa de julgamento. No caso de um produtor que tem plantado variedades de pouco rendimento, por exemplo, ele pode ter interesse pelo atual lançamento ou pode não se interessar pela novidade e não adotar essa tecnologia. 2º estágio Na sequência, no terceiro estágio, o produtor faz uma avaliação mental e procura comparar o novo com o tradicional. Pensando na nova variedade de milho, o produtor inicia a etapa de avaliação, fazendo comparações entre a nova variedade e a variedade que ele conhece. 3º estágio No quarto estágio, o produtor procura validar a ideia e este é o momento de a assistência técnica apresentar o suporte, de modo a oferecer oportunidade para que ele teste e experimente a novidade. Este estágio é chamado de validação. 4º estágio Uma vez obtido êxito com o teste, o produtor tem toda a chance de passar para o quinto estágio e adotar a nova tecnologia sugerida pela assistência técnica. 5º estágio Adoção Uso contínuo Experimentação Validação Avaliação mental Vantagem comparativa Interpretação e julgamento Processo cognitivo Conhecimento Exposição à inovação Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 32 Também é possível que, ao testar uma novidade, a experiência do produtor não cor- responda à sua expectativa. Neste caso, cabe ao técnico avaliar os motivos da falha - se técnicas ou do produtor - para resgatar os benefícios da nova técnica sugerida. A adoção de tecnologias é movida, principalmente, pelas necessidades de mercado e de renda dos produtores! Métodos e técnicas de assistência técnica Veremos agora os diferentes métodos e técnicas para trabalhar com o produtor du- rante o processo de adoção de tecnologias. É preciso conhecê-las bem para saber o momento certo de utilizá-las. métodos e técnicas Métodos e técnicas de assistência técnica são os meios ou instrumen- tos utilizados pelos técnicos para difundir conhecimentos sobre as atividades rurais e a gestão da empresa rural. Para serem eficientes, é essencial que esses métodos e técnicas sejam adequados ao público-alvo. Deve-se ter em mente que a relação ide- al entre o técnico e o produtor acontece com o diálogo de indivíduo para indi- víduo. Desse modo, os métodos devem ser utilizados de forma que se contem- ple sempre um relacionamento estreito entre ambos. O produtor deve ser o sujeito de seu próprio aprimoramento. Ele deve ser es- timulado a pensar alternativas de solu- ções que promovam o desenvolvimento de sua realidade. Fonte: Banco de imagens do SENAR Na prática Uma estratégia genérica é, inicialmente, trabalhar com grupos de produtores que levem o conhecimento ao maior público possível. Os produtores que se manifestarem interessados na assistência técnica seriam, então, reunidos em grupos, o mais homogêneo que se conse- guir. Neles seriam trabalhadas as ações de forma a viabilizar o estrei- tamento das relações entre eles para facilitar a troca de experiências, difundir conhecimentos e tecnologias. Não existe um método perfeito de assistência técnica para a difusão de tecnologias e processos gerenciais. Existem diversos métodos e todos têm suas vantagens e desvantagens para cada caso particular de comunicação. Há, por outro lado, a pos- sibilidade de combinar vários desses métodos para obter determinada evolução tec- nológica e gerencial. Para isso, o técnico deve conhecer todos os métodos de difusão para selecioná-los e saber empregá-los de acordo com as suas necessidades de co- municação com os produtores. Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 33 A seleção e o uso dos métodos de difusão em assistência técnica dependem do tipo de público com o qual o técnico deseja se comunicar, do objetivo de sua comunica- ção, da natureza da mensagem que se quer comunicar e da disponibilidade de mate- rial. A difusão de uma variedade de feijão, por exemplo, exige métodos diferentes dos necessários para introduzir um sistema de poda ou de irrigação. O nível de conhecimento do público e a sua capacidade de leitura determinam o uso e a importância dos métodos escritos em relação aos falados, por exemplo. Comunicar aos produtores uma situação de mercado requer técnicas muito diferentes das utilizadas para mudar hábitos alimentares, e uma dessas comunicações pode ser mais eficaz se feita por escrito. Além disso, também há diferença entre os métodos para ensinar uma só pessoa e aqueles utilizados para trabalhar com grupos. Os métodos são classificados basicamente em três categorias: Métodos de massa Técnico e público não se encontram frente a frente, reduzindoa possibilidade de uma conversa de indivíduo para indivíduo. Exemplos: televisão, rádio e outros, como cartas circulares, jor- nais e cartazes. As principais vantagens dos métodos de massa são: baixo custo por pessoa atingida e rapidez em alcançar um grande público. Ge- ralmente são utilizados para divulgar reuniões, promover a com- preensão e o entusiasmo, estimular o interesse e atrair atenção. Por meio deles, é possível informar pessoas não atingidas por outros métodos, podendo-se distribuir uma mensagem rápida e repetidamente, sem considerar problemas de tempo e distância. Métodos grupais Esses métodos requerem a presença do técnico entre o público e possibilitam um intercâmbio comunicativo. Podem ser conside- rados grupais: cursos, reuniões, excursões, semanas ou jornadas técnicas, dias de campo e palestras. A principal vantagem é a oportunidade de fazer perguntas e com- partilhar respostas e opiniões. Além disso, esses métodos tam- bém facilitam o intercâmbio de experiências. Métodos individuais Permitem um contato mais próximo com as pessoas, oportunizan- do a conversa entre indivíduos e um relacionamento mais estreito. A principal vantagem é a influência facilitada por meio dos conta- tos individuais, que são importantes em qualquer programa, po- rém, esse tipo de método costuma ter custos elevados. A apropriação do método ou dos métodos deve ser feita pelo técnico, em consonân- cia com o estágio em que o produtor se encontra. Veja o exemplo a seguir: Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 34 Na prática Uma universidade acabou de desenvolver uma técnica de recupera- ção de pastagem. Ela pode levar esta novidade diretamente ao pro- dutor ou, o que é mais provável e eficiente, o faz por meio de uma demonstração para os técnicos. Como o desejo da universidade é divulgar a nova descoberta para um grande número de pecuaristas, realiza um dia de campo em uma fazenda que já testou o novo pro- duto. A partir disso, o técnico da assistência técnica procura pelos produtores interessados e organiza reuniões técnicas para aprofun- dar a divulgação da tecnologia. Entre os produtores interessados, o passo seguinte é validar a tecnologia em uma propriedade, o que pode ser feito por meio de uma visita do técnico para fazer uma demonstração da técnica na propriedade que provavelmente aplicará a nova tecnolo- gia. Para entender melhor, acompanhe a descrição de cada um dos métodos. 1. Visita técnica Trata-se de um método de alcance indi- vidual, planejado e realizado no campo e que envolve relacionamento interpes- soal. Realizada in loco com uma agenda de planejamento, análise de dados, ava- liação de resultados e demonstrações de técnicas, a visita técnica permite verificar o cumprimento de compromis- sos, correções de rotas e discussões sobre resultados alcançados. Fonte: Banco de imagens do SENAR 2. Dia de campo É um método planejado que visa mostrar uma tecnologia ou prática para um grupo de produtores. É realizado em propriedade de colaboradores, unidades demonstrativas, centros de treinamentos ou estações experimentais. Não se limita apenas a uma ati- vidade, mas sim a um conjunto delas, com a finalidade de sensibilizar o público para sua adoção. O método envolve a participação não apenas do público trabalhado pelo técnico, podendo envolver líderes, autoridades, agentes financeiros e comerciais e técnicos de outras entidades. É recomendado para demonstrar experiências bem-sucedidas ou casos de produto- res de sucesso em uma ou mais tecnologias. Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 35 Normalmente, o dia de campo é organi- zado em estações técnicas, que variam de quatro a cinco e são estrategicamen- te localizadas na propriedade. Cada estação dura de 20 a 30 minutos, e os grupos circulam por elas de modo que, ao final, todos os participantes tenham percorrido todas as estações.Fonte: Banco de imagens do SENAR Por exemplo, se o dia de campo é para apresentar um produtor de leite bem-suce- dido, pode-se criar cinco estações assim distribuídas: • Estação 1 - pastejo rotacionado (nos piquetes). • Estação 2 - recria de fêmeas (no local onde as bezerras são manejadas). • Estação 3 - suplementação para o período seco (no canavial). • Estação 4 - qualidade do leite (na sala de ordenha). • Estação 5 - resultados econômicos da propriedade (na sede da propriedade). 3. Palestra Método de comunicação verbal em que um orador discorre para um grupo de pesso- as sobre um assunto previamente determinado. Geralmente, adota-se a palestra para divulgar tecnologias a um grande número de interessados. Uma palestra deve ter tempo para apresentação (em torno de 1h) e tempo para debates (de 15 a 20 minutos). As palestras podem ser realizadas em locais e horários mais adequados a cada região ou público-alvo, e com assuntos previamente escolhidos pelos organizadores. Na prática Uma boa estratégia é o técnico ou os organizadores levantarem antes as necessidades do momento. O palestrante, na maioria das vezes, é buscado fora do ambiente dos interessados. O número de participantes é variável, mas, em geral, busca-se a maior quantidade possível compatível com o local disponível. Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 36 4. Reunião técnica É um encontro organizado quando se pretende abordar um ou mais assuntos técni- cos em detalhes com um grupo de produtores. O tema da reunião técnica pode ser tratado pelo grupo com a mediação do técnico que o assiste ou por algum convi- dado. Deve-se planejar com antecedência público-alvo, objetivo, conteúdo, tipo de reunião. É preciso montar um roteiro ou uma pauta, escolher local, época, duração, técnicas, recursos e materiais necessários. Na prática Durante a reunião, é preciso ser claro e atribuir papéis. O tempo não deve exceder uma hora por assunto e, para cada um deles, o expositor deve apresentar conhecimentos em profundidade. Como exemplo: o técnico que assiste um grupo de 20 produtores precisa, anualmente, avaliar ações de interesse coletivo dos produtores benefici- ários ou discutir os índices econômicos e técnicos apurados no grupo. 5. Demonstração de Método (DM) ou Demonstração de Técnica (DT) A Demonstração de Método (DM) ou Demonstração de Técnica (DT), como o próprio nome diz, é utilizada para se demonstrar uma tecnologia para um ou poucos produ- tores, além de desenvolver destrezas e habilidades de forma que os beneficiários da ação “aprendam a fazer fazendo”. Utiliza-se, em geral, por ocasião de uma visita técnica ou durante um curso ou dia de campo. Fonte: Banco de imagens do SENAR Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 37 6. Demonstração de Resultado (DR) Fonte: Banco de imagens do SENAR Método utilizado para comparar uma técnica que se quer introduzir em uma proprie- dade rural com uma prática tradicional utilizada (testemunha). Deve ser feita com orientação, acompanhamento e controle de um técnico. Tem como finalidade comparar técnicas rotineiras e tradicionais com as novas reco- mendações e comprovar a viabilidade e a adequação de novas tecnologias às con- dições locais. Na prática A realização de uma DR passa pela implantação de uma tecnologia que deve ser comparada com práticas tradicionais adotadas. Ao longo do tempo, elas são comparadas e os resultados são demonstrados. Há muitos bons exemplos, como a introdução de novas variedades de milho ou de pasto, a adubação, o sistema de recria de fêmeas com fornecimento de concentrados etc. 7. Excursão Trata-se de um método no qual o técnico reúne um grupo de pessoas com interesses comuns para se deslocarem a determinado lugar onde existam experiências com técnicas e práticas passíveis de serem adotadas. Ela tem por finalidade mostrar a aplicação prática de tecnologias implantadas, facilitando a compreensão do grupo. Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 38 É um processo de comparação de pro- dutos, serviços, indicadores e práticas empresariais, ou seja, valores-referên- cia de empresasde produção bem-su- cedidas. Serve para conhecer o que já deu certo, podendo ser um fator de estímulo e motivação para que as em- presas agropecuárias melhorem seus processos de produção. A execução acontece por meio da com- paração de resultados entre proprie- dades com a mesma realidade de pro- dução ou entre propriedades de uma mesma região. Como exemplo, é pos- sível comparar os índices econômicos de um grupo de produtores com os 25% mais bem-sucedidos. Competência No próximo tópico, vamos conhecer alguns aspectos da política nacional de assis- tência técnica e extensão rural. Para sua execução, faz-se necessário planejar com cuidado o público a ser convidado, o objeti- vo, o local, a duração, as etapas, o transporte, os custos e as facilidades para os participantes. Se possível, deve-se elaborar um roteiro, escolher o conteúdo e definir objetivos em termos educacionais. Além disso, selecionar métodos e técnicas e preparar material de apoio necessário. Na prática Por exemplo: um produtor, ao ver a produção satisfatória em cultura tecnicamente conduzida, em condições semelhantes às suas, con- trastando com as menores produções que vem alcançando, tem seu interesse despertado para os fatos que consagram a demonstração. Benchmarking Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 39 Tópico 5: Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural Você está pronto para começar os estudos do último tópico desse tema? Fonte: Banco de imagens do SENAR Objetivos Agora, iremos conhecer a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural. Vamos lá? Veja a a linha do tempo a seguir: 1940 Iniciados na década de 1940, os serviços de Assistência Técnica e Ex- tensão Rural, fundamentados em uma diretriz de incentivo ao desenvol- vimento no período do pós-guerra, tinham como principal objetivo a pro- moção de melhoria das condições de vida da população rural e o apoio ao processo de modernização da agricultura. Na verdade, isso fazia parte das estratégias direcionadas à política de industrialização do Brasil, por meio do fornecimento de matérias-primas para a indústria, da liberação de mão de obra e do abastecimento alimentar a preços compatíveis. Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 40 1956 A assistência técnica atuava como um serviço privado e paraestatal, com o apoio de entidades públicas e privadas. Em 1956, criou-se a Associação Bra- sileira de Crédito e Assistência Rural (Abcar), integrando um sistema nacio- nal articulado com associações de crédito e assistência rural nos estados. 1970 Em meados da década de 1970, houve a estatização do serviço de Ater, surgindo o Sistema Brasileiro de Assistência Técnica e Extensão Rural (Sibrater), coordenado pela Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Embrater) e executado pelas empresas estaduais de Ater nos estados, as denominadas Empresa de Assistência e Extensão Rural (Emater). Nesta época, a participação do Governo Federal nas ações de Ater chegou a representar 40% do total dos recursos orçamentários das Emater, alcançando 80% em alguns estados. 1990 Esses subsídios duraram mais de uma década. Porém, em 1990, a Embra- ter foi extinta. Assim, o Sibrater foi esquecido, causando o sucateamento de toda a estrutura. Houve ainda a tentativa de gestão da Ater por meio da Embrapa e, posteriormente, do Ministério da Agricultura. Entretanto, todo este esforço não foi suficiente para evitar a quase extinção das contribui- ções financeiras do Governo Federal. O distanciamento do Governo Federal desencadeou um forte golpe nos serviços de Ater estruturados de maneira centralizada, levando a uma crise relevante na Ater ofi- cial, principalmente nos estados e municípios mais pobres. Na tentativa de prosseguir com a política pública de Ater, de extrema importância, e não podendo contar mais com o apoio do Governo Federal, alguns estados passaram a fomen- tar os serviços de assistência técnica e extensão rural com recursos próprios. Criou-se uma nova estratégia de operação das empresas oficiais, com novos meca- nismos de financiamento e incentivo às entidades públicas e privadas emergentes. Assim, surgiram e se expandiram várias iniciativas com o propósito de cobrir o espa- ço deixado pelo Governo Federal. Paraestatal Entidade paraestatal ou serviço social autônomo é uma pessoa jurídica de direito privado criada por lei, atuando sem sub- missão à Administração Pública, para promover o atendimento de neces- sidades assistenciais e educacionais de certas atividades ou categorias profissionais que arcam com sua manutenção mediante contribuições compulsórias. Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 41 Conheça muito mais Como exemplo, é possível citar as entidades apoiadas financeiramen- te pelas prefeituras municipais, as organizações não-governamentais e as organizações de agricultores (associações e cooperativas). Ain- da hoje, a insuficiência dos serviços de Ater pode ser relacionada ao afastamento do Estado, gerando a redução da oferta de um serviço público aos produtores rurais do Brasil. A nova Lei de Assistência Técnica e Extensão Rural A Lei nº 12.188, de 2010, denominada nova lei da Ater, instituiu a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural para a Agricultura Familiar e Reforma Agrária (Pnater) e o Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural na Agricul- tura Familiar e na Reforma Agrária (Pronater). A referida lei entende por assistência técnica e extensão rural: O serviço de educação não formal, de caráter continuado, no meio rural, que promove pro- cessos de gestão, produção, beneficiamento e comercialização das atividades e dos serviços agropecuários e não agropecuários, inclusive das atividades agroextrativistas, florestais e artesanais (BRASIL, 2010). Essa é a definição atual da extensão rural pública. Mas, para que a política instituída pelo governo funcione, é necessário que alguém a execute. Para isso, a nova lei da Ater estabelece que as entidades responsáveis por executar o Pronater devem preencher determinados requisitos e obter o credenciamento de entidade executora do programa. As ações geradas pela Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Pnater) têm contribuído com a implementação de diversas políticas e programas (alguns exclusivos para o meio rural e outros não). A criação da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater) se deu pela Lei nº 12.897, de 18 dezembro de 2013, e sua regulamentação aconteceu por meio do Decreto nº 8.252, de 26 de maio de 2014. Foi uma instituição paraestatal voltada a credenciar entida- des públicas e privadas capazes de prestar serviços de Ater, qualificar profissionais de assistência técnica e extensão rural, contratar e disponibilizar serviços, transferir tecnologia, fazer pesquisas, monitorar e avaliar resultados e gerenciar as entidades quanto à qualidade do serviço prestado. Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 42 A Anater surgiu para enfrentar o desafio de suprir, de modo mais eficiente, as demandas de Ater no país, assumindo o papel de coordenar as competências e os recursos finan- ceiros existentes em nível federal, tendo a participação dos entes federativos (estados e municípios) e da iniciativa privada. Veja a seguir a linha do tempo da assistência técnica e extensão rural no Brasil: Acar – Minas Gerais1948 1956 1969 1974 1990 2003 2010 2010 Abcar Abcar – Vinculada ao Ministério da Agricultura (presente em 1.025 municípios) Embrater – Sibrater (presente em 4.056 municípios) Extinção da Embrater Ater no MDA Lei Geral de Assistência Técnica e Extensão Rural Anater A Anater mantém o desafio de consolidar a integração da assistência técnica e ex- tensão rural com o Sistema Brasileiro de Pesquisa Agropecuária, o ensino e a orga- nização de um amplo universo de agentes de assistência técnica e extensão rural, entre os quais o Senar. Fazem parte do seu Conselho de Administração integrantesde vários ministérios e do setor privado, entre os quais está a Confederação da Agri- cultura e Pecuária do Brasil. Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 43 A iniciativa privada e a assistência técnica No modelo tradicional do mercado privado de Ater no Brasil, consolidado por meio das cadeias produtivas, priorizou-se os serviços de venda e pós-venda de insumos e equi- pamentos, bem como de compra de matéria-prima agropecuária pelas agroindústrias. Fonte: Shutterstock Em consonância com a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Pnater), a iniciativa privada surge como uma oportunidade de somar esforços às de- mais entidades do setor público, originando novos modelos de assistência técnica. O país tem um perfil rural e uma economia agropecuária muito diversificada. Um modelo ou sistema único de Ater dificilmente atenderia a toda a demanda potencial existente. O pluralismo de modelos, que combine financiamento e agentes públicos e pri- vados, de modo a atender todos os públicos, é a melhor saída para um desen- volvimento mais rápido e sustentado da agropecuária nacional por meio da Ater. Nesse sentido, o Estado ainda tem um papel a cumprir para gerar maior estímulo ao financiamento público da contratação de serviços estatais ou pri- vados de Ater. Você sabia? Como exemplo de participação do setor privado, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) se inseriu neste processo a partir do ano de 2013, com sua Metodologia de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG), contribuindo ainda mais para a multiplicação da difusão do conhecimento no campo. Chegamos ao final do último tópico do tema! Vamos encerrar essa etapa de estudos? Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 44 Encerramento do tema Tema 1: Histórico da assistência técnica no Brasil Durante os estudos deste tema, histó- rico da assistência técnica no Brasil, pudemos nos apropriar de informações a respeito da realidade rural brasileira. Vimos também a origem e a evolução da assistência técnica, além de sua im- portância para o meio rural. Também conhecemos os métodos de dissemi- nação de assistência técnica e, por fim, a Política Nacional de Assistência Téc- nica e Extensão Rural. Ao concluir os estudos deste tema, você está apto a reconhecer a importância da assistência técnica no meio rural, a destacar os pontos mais relevantes da realidade rural brasileira e a descre- ver as classes de produtores rurais no Brasil. Ainda, é capaz de discorrer sobre a origem e as fases da extensão rural e sobre a Política Nacional de Assis- tência Técnica, bem como de descrever os principais conceitos de assistência técnica. Você está capacitado para dis- correr sobre os métodos de difusão de conhecimentos nas atividades rurais e para correlacionar a ação de assistên- cia técnica ao processo educativo do produtor rural. Foi um grande prazer ter você conosco nesta etapa de preparação para um tra- balho de excelência no campo e para cumprir a nobre missão de contribuir para a melhoria da qualidade de vida no meio rural. Vídeos Acesse o ambiente de estudos e assista a um vídeo que preparamos especialmente para você. Nele, saberemos um pouco mais sobre o sr. Ariovaldo, que gosta de procurar melhorias e sempre vai a palestras na cooperativa e no sindicato, sendo um produtor aberto a mudanças. Mesmo tendo esse perfil, existe um processo para que uma nova tec- nologia seja aderida por ele, e Marcelo procurou ajudá-lo a aprimorar alguns conceitos como: o conhecimento – exposição à inovação; a interpretação e o julgamento – processo cognitivo; a avaliação mental – vantagem comparativa; a experimentação – validação e, por fim, a adoção – uso contínuo. Será que o proprietário conseguiu compreen- der a importância desse aprendizado? Assistência Técnica e Gerencial - Pecuária 45 Atividade de passagem Chegamos ao final do primeiro tema deste curso. A seguir, você responderá a uma questão relacionada ao conteúdo estudado até aqui. Preparado? Se você estiver com alguma dúvida quanto ao assunto, retorne ao conteúdo do mó- dulo ou, se preferir, entre em contato com o tutor. Questão Segundo Rogers (2003), no processo mental de tomada de decisão, desde o primeiro contato com uma tecnologia até a sua adoção, o produtor rural passa por alguns estágios. Nesse sentido, escolha qual das alternativas a seguir indica corretamente as etapas do esquema proposto por Rogers (lembre-se de considerar a ordem em que cada uma acontece). a. Toma conhecimento da tecnologia, podendo ou não se interessar. Em caso de interesse, faz uma avaliação mental, inicia uma etapa de julgamento e, por fim, valida a ideia. b. Inicia um processo de discussão sobre a tecnologia. Em caso de interesse, faz uma avaliação mental e, por fim, valida a ideia. c. Toma conhecimento da tecnologia, podendo ou não se interessar. Em caso de interesse, inicia uma etapa de julgamento, faz uma avaliação mental - comparando o novo com o tradicional - e, por fim, procura validar a ideia. d. Toma conhecimento da tecnologia e compara o novo com o tradicional, po- dendo ou não se interessar. Em caso de interesse, inicia um processo de jul- gamento, faz uma avaliação mental e, por fim, adere à tecnologia proposta. e. Inicia um processo de validação e compara o novo com o tradicional, poden- do ou não se interessar. Em caso de interesse, faz o julgamento e, por fim, adere ou não à tecnologia. Tema 1 O canto do Galo! Introdução do módulo Tema 2 Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural Encerramento do tema A importância da Assistência Técnica Origem e evolução da Assistência Técnica Contextualização da realidade rural brasileira Tema 3 A importância da formação continuada no processo de Assistência Técnica Encerramento do tema Responsabilidades e papel de cada agente Modelo de Assistência Técnica e Gerencial do SENAR Modelo da Assistência Técnica e Gerencial Organização de assistência técnica Comunicação assertiva Encerramento do tema Encerramento do módulo Referências Relacionamento interpessoal e autocontrato de mudança Mantendo o equilíbrio emocional Entendendo o comportamento humano Estabelecendo a confiança com o produtor Botão 178: Página 1: Página 51: Página 62: Página 73: Página 84: Página 95: Página 106: Página 127: Página 138: Página 149: Página 1510: Página 1611: Página 1712: Página 1813: Página 1914: Página 2015: Página 2116: Página 2217: Página 2318: Página 2419: Página 2520: Página 2621: Página 2722: Página 2823: Página 2924: Página 3025: Página 3126: Página 3227: Página 3328: Página 3429: Página 3530: Página 3631: Página 3732: Página 3833: Página 3934: Página 4035: Página 4136: Página 4237: Página 4338: Página 4439: Página 4540: Botão 171: Botão 147: Botão 150: Botão 151: Botão 153: Botão 154: Botão 156: Botão 157: Botão 31: Página 5: Página 61: Página 72: Página 83: Página 94: Página 105: Página 126: Página 137: Página 148: Página 159: Página 1610: Página 1711: Página 1812: Página 1913: Página 2014: Página 2115: Página 2216: Página 2317: Página 2418: Página 2519: Página 2620: Página 2721: Página 2822: Página 2923: Página 3024: Página 3125: Página 3226: Página 3327: Página 3428: Página 3529: Página 3630: Página 3731: Página 3832: Página 3933: Página 4034: Página 4135: Página 4236: Página 4337: Página 4438: Página 4539: Botão 32: Página 5: Página 61: Página 72: Página 83: Página 94: Página 105: Página 126: Página 137: Página 148: Página 159: Página 1610: Página 1711: Página 1812: Página 1913: Página 2014: Página 2115: Página 2216: Página 2317: Página 2418: Página 2519: Página 2620: Página 2721: Página 2822: Página 2923: Página 3024: Página 3125: Página 3226: Página 3327: Página 3428: Página 3529: Página 3630: Página 3731:Página 3832: Página 3933: Página 4034: Página 4135: Página 4236: Página 4337: Página 4438: Página 4539: Botão 159: Página 11: Botão 160: Página 11:
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