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A prática do Gestalt-terapeuta Laís Nadai Tavares A Gestalt-terapia é uma abordagem que tem suas raízes nos trabalhos clínicos, grupais e principalmente vivenciais. 01 Atualmente sabemos que a Gestalt-terapia pode ser utilizada nos mais diferentes âmbitos da psicologia e também de outras áreas do saber. Mas muito de nossa literatura tradicional se apresentou voltada para trabalhos clínicos e de workshop. 02 Essa é uma pergunta que muitos alunos me fazem. E a resposta é o Método Fenomenológico. Todo trabalho realizado pela Gestalt-terapia tem influência da fenomenologia enquanto filosofia e método. E nos mais diferentes contextos, qual a base metodológica da Gestalt-terapia? 03 ... Um método que faz crítica a ciência positivista permitindo o resgate da subjetividades e a recolocação do saber num contexto histórico e mundano (HOLANDA, 2014). Sobre a fenomenologia: 04 E como é esse tal de Método Fenomenológico? Temos vários princípios que fundamentam a fenomenologia enquanto método e consequentemente a nossa prática enquanto Gestalt-terapeuta. Vamos a elas! 05 DESCRIÇÃO Para a Fenomenologia nossa consciência é intencional, o que significa que nós damos sentido as coisas. Assim, trabalhamos com a descrição daquilo que aparece na fala, gestos, postura do cliente, para que ele então dê sentido ao seu jeito de ser. Evitando que o terapeuta coloque seus sentidos subjetivos sobre a vivência do outro. 06 DESCRIÇÃO Ao descrever evidenciamos para o cliente seufuncionamento e ajudamos no processo pelo qual ele atribui sentido àquilo que aparece. Facilitando também a integração de partes antes não conscientes por ele e que a partir da descrição podem ser vistas, validadas, ressignificadas, mantidas ou transformadas. Não podemos chegar a lugar algum quando sequer sabemos de onde estamos partindo. A descrição auxilia a situar o cliente onde ele está hoje, no seu momento existencial. 07 Significa abster-se de julgamentos, colocar entre parênteses nossas pré-concepções. É uma postura fundamental para que a compreensão fenomenológica aconteça, pois a partir da Epoché conseguimos facilitar a compreensão do indivíduo a partir dele próprio, de sua subjetividade e não da minha enquanto terapeuta. EPOCHÉ 08 Assim, quando surgem inferências pautadas em minha subjetividade, minhas compreenções ou em conceitos antecipados, posso colocar esse conteúdo entre parênteses, deixá-lo de lado, para investigar o sentido que é dado pelo cliente. Costumamos brincar que guardamos tudo em uma caixa e pegamos de volta depois do atendimento. EPOCHÉ 09 "É uma proposta radical colocar-se entre parênteses, suspender todo conhecimento anterior e olhar as coisas a partir delas mesmas. Essa é uma abertura essencial para nos aproximarmos da realidade humildemente, permitindo que ela se constitua dentro de nós para além da nossa subjetividade, que nos escraviza em nossa compreensão de mundo (RIBEIRO, 2011, p.96)". EPOCHÉ 10 (...) É baseada em três perguntas principais: O quê? Como? Para quê? Permite investigar o fenômeno e auxiliar o cliente a encontrar o sentido deste fenômeno. Nós terapeutas temos que estar cientes que não temos as respostas que o cliente procura, pois cada indivíduo tem suas necessidades únicas e subjetivas, mas podemos compreender que ao nos tornarmos bons questionadores podemos facilitar o processo de autodescoberta de nossos clientes. INVESTIGAÇÃO FENOMENOLÓGICA 11 Além da fenomenologia, a Gestalt-terapia também utiliza a relação dialógica como metodologia de trabalho. Nela nós terapeutas somos a principal ferramenta para auxiliar no crescimento emocional de nossos clientes. RELAÇÃO DIALÓGICA 12 A Relação dialógica requer a presença do terapeuta de maneira integral. O terapeuta precisa estar presente e disponível ao cliente em suas diversas dimensões, fisicamente, cognitivamente, emocionalmente, etc. A qualidade da presença é recurso essencial para que a relação seja considerada uma relação terapêutica. PRESENÇA 13 Sobre a qualidade de presença afirma Buber (2001): "Ele não intervém mais, mas nem por isso permite que aconteça pura e simplesmente. Ele espreita aquilo que por si mesmo se desenvolve, o caminho do ser no mundo; não para se deixar levar por ele, mas para atualizá-lo como ele deseja ser atualizado pelo homem de quem ele necessita, por meio do espírito humano e do ato humano, com a vida do homem e com a morte do homem. Ele crê, disse eu, o que equivale dizer: ele se oferece ao encontro (p.73)". PRESENÇA 14 "Quem quer dizer quanto sente, Fica sem alma nem fala, Fica só, inteiramente! Mas se isto puder contar-lhe O que não lhe ouso contar, Já não terei que falar-lhe Porque lhe estou a falar…" 15 ... A importância da qualidade da presença e o olhar para além do que apresentado verbalmente é lindamente exposto por Fernando Pessoa em sua poesia: É a capacidade do terapeuta buscar compreender o que esta acontecendo pelo ponto de vista de quem vivencia a situação, ou seja, o cliente. O terapeuta deve se colocar na vivência do outro, retornar para seu ponto de vista e refletir ao cliente o que ele experienciou. INCLUSÃO 16 Na relação dialógica, nós terapeutas não nos colocamos como detentores do saber, mas sim como um ser humano tal qual o que está a minha frente. Desta forma, nos colocamos disponíveis para a escuta e para o diálogo, utilizando os conhecimentos e a presença para auxiliar o cliente. Nós terapeutas detemos o saber da psicologia, o cliente detém o saber de si, e juntos realizaremos um trabalho em prol do seu autoconhecimento. RELAÇÃO HORIZONTALIZADA 17 18 Para a utilização da fenomenologia e da relação dialógica enquanto método, precisamos enquanto terapeutas, desenvolver profundamente nosso autoconhecimento, compreendendo nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos e entendendo quais de nossas feridas estão abertas, quais estão cicatrizadas e quais estão em processo de cura. Estes são alguns dos Recursos Metodológicos que utilizamos na prática da Gestalt-terapia. Precisamos cuidar de nossa saúde física, emocional, relacional, para que então consigamos oferecer-nos enquanto ferramenta para o desenvolvimento do cliente. Se vamos nos esquecendo, nos descuidando, teremos muita dificuldade de compreender se o que surge na relação é do cliente, logo material de trabalho, ou é nosso, fruto de nossas vivências pessoais, vamos nos tornando uma ferramenta descuidada, enferrujada, logo, pouco eficaz. 19 Espero que você tenha se apropriado dos conhecimentos sobre a prática da Gestalt-terapia e seus recursos metodológicos. E que possa ressignificar o olhar sobre o autocuidado como compromisso ético do Gestalt-terapeuta, já que somos a própria ferramenta a ser utilizada no auxílio do suporte e do crescimento do outro que nos procura. 20 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BUBER, Martin. Eu e Tu. Tradução do alemão, introdução e notas por Newton Aquiles Von Zuben. São Paulo: Centauro, 2001. HOLANDA, Adriano Furtado. Fenomenologia e humanismo: reflexões necessárias. Curitiba: juruá, 2014. RIBEIRO, Jorge Ponciano. Conceito de mundo e de pessoa em Gestalt-terapia: revisitando o caminho. Summus Editorial, 2011. Laís Nadai Tavares É psicóloga clínica CRP 08/21107, Mestre em Psicologia pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) com ênfase em Existencialismo e Fenomenologia, Gestalt-terapeuta pela Escola Paranaense de Gestalt-terapia com Formação Avançada em Gestalt-terapia, Especialista em Docência no Ensino Superior. Possue treinamento em trabalho com crianças e adolescentes no modelo Violet Oaklander. Pós- Graduanda em EAD e as Novas Tecnologias Educacionais. Professora e Supervisora Universitária. Essa obra não deve ser reproduzida sem citação, devido a lei que preserva os direitos autorais. WWW.GESTALTPARANA.COM.BR
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