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POLÍTICA, CIDADANIA E ESTADO: DESAFIOS PARA A GOVERNANÇA DEMOCRÁTICA Professores: Dra. Adriana Marques Rossetto Me. Francieli Muller Prado Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho Diretoria de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha Head de Produção de Conteúdos Rodolfo Pinelli Head de Planejamento de Ensino Camilla Cocchia Gerência de Produção de Conteúdos Gabriel Araújo Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Supervisão de Projetos Especiais Daniel F. Hey Projeto Grá� co Thayla Guimarães Design Educacional Rossana Costa Giani Design Grá� co Victor Augusto Thomazini DIREÇÃO Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; ROSSETTO, Adriana Marques; PRADO, Francieli Muller. Desigualdade e Política. Adriana Marques Rossetto; Francieli Muller Prado. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017. 35 p. “Pós-graduação Universo - EaD”. 1. Desigualdade. 2. Política. 3. Sociedade. 4. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 330 CIP - NBR 12899 - AACR/2 01 02 03 sumário A RELAÇÃO ENTRE CIDADANIA E DEMOCRACIA NA ORGANIZAÇÃO DAS SOCIEDADES 09| HISTÓRIA DO WELFARE STATE OU ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL 19| A QUESTÃO DA CIDADANIA NO ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL 23| OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Refl etir sobre as relações existentes entre a democracia e a cidadania. • Levar o aluno a identifi car os dilemas existentes entre os preceitos da eco- nomia política da social-democracia e o pleno exercício da cidadania. • Refl etir sobre os impactos da crise e da transformação do Estado de Bem- Estar Social no alcance da cidadania. PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • A relação entre cidadania e democracia na organização das sociedades • História do Welfare State ou Estado de Bem-Estar Social • A questão da cidadania no Estado de Bem-Estar Social POLÍTICA, CIDADANIA E ESTADO: DESAFIOS PARA A GOVERNANÇA DEMOCRÁTICA INTRODUÇÃO A discussão a seguir busca trazer uma análise das relações existentes entre de- mocracia e cidadania, identificando os dilemas existentes entre os preceitos da economia política da social-democracia e o pleno exercício da cidadania, contem- plando os impactos da crise e da transformação do Estado de bem-estar social no alcance da cidadania. Dado os objetivos, inicialmente, vamos dedicar a compreender o conceito de cidadania. Muito possivelmente você já ouviu sobre a ausência de cidadania, não é mesmo? E você, sabe o que é cidadania? Em que especificamente a cidadania tem haver com democracia e direitos? Embora amplamente debatido, o termo cidada- nia, por vezes, é aplicado de forma equivocada e o objetivo desta discussão é trazer o conceito de cidadania tomando como base a historicidade do termo, para assim pensar na relação estrutural entre democracia e cidadania e buscar demonstrar como a cidadania tem modificado o padrão de desigualdade social, demonstrando uma contradição entre os direitos sociais e o valor do mercado. Pós-Universo 7 Vamos adentrar também na discussão acerca da crise do Estado de Bem-estar social, que embora seja um tema complexo para o qual não há consenso entre os es- tudiosos, vamos apresentar o contexto histórico para compreensão deste processo de crise, para na sequência analisar a natureza do Estado de bem-estar social, assim verificar os arranjos do Estado, que se diferenciam em função do perfil das políticas públicas. Assim, caracterizar as diferentes formas que o Estado de bem-estar social assumiu ao longo dos anos, de modo a situar o Brasil nesse contexto, ressaltando suas características e tendências. Pós-Universo 8 Pós-Universo 9 A RELAÇÃO ENTRE CIDADANIA E DEMOCRACIA NA ORGANIZAÇÃO DAS SOCIEDADES Você sabia que os gregos foram os primeiros a entender que a verificação e o desen- volvimento das características especificamente humanas dos indivíduos presumem a sua integração numa comunidade. Aristóteles, por exemplo, idealizava a política como uma prática que estabelece uma reflexão antropológica e ética e que deve oferecer as condições necessárias para a formação moral e política de seus membros, especialmente a formação daqueles que iriam governar a cidade (Polis). Na Grécia, a vida política se desenvolvia na praça pública, chamada de Ágora, onde ocorriam debates sobre política, resultando em confronto de opiniões. A dis- cussão buscava o consenso relativo às leis e às decisões políticas adequadas para a realização do bem comum, no respeito pelos valores morais e políticos (a honra, a excelência de caráter, o bem e a justiça) partilhados pelos membros da cidade-estado (BARBOSA, 2008). Segundo o autor, o cidadão é o habitante da cidade que, por integrar uma comuni- dade, conquista um definido estatuto, a cidadania, isto é, um conjunto de direitos e de deveres, tendo à sua disposição o espaço público que compreende o lugar onde os cidadãos se encontram para conviver e para debater os problemas que dizem respeito a todos, e o espaço privado que abrange o espaço familiar que só diz respeito a um grupo restrito. Pós-Universo 10 A filosofia política atual destaca a importância da participação política ativa, como modo de exercer influência e controle sobre a ação dos governos; diante disso, um dos grandes desafios do nosso tempo é promover a participação política dos cida- dãos, pois se constata um aumento do número dos eleitores que deixam de votar. E, no sentido de alterar essa tendência é imprescindível criar espaços favoráveis opor- tunizando debates voltados aos problemas e desafios aos quais somos confrontados. Como já relatamos, para os gregos, cidadania era a manifestação do direito e dever de governar, baseados na qualidade de homem livre e na relação de perten- cer a polis. No entanto, na democracia grega, a cidadania era um privilégio dos homens livres; as mulheres e os escravos eram excluídos; e presumia uma participação ativa e efetiva do cidadão. Já na Roma antiga, o cidadão era o indivíduo amparado pelas leis do Império, definindo a cidadania como o reconhecimento jurídico de inclusão. As concepções políticas liberais, provenientes da Revolução Francesa, exprimem a cidadania moderna. Esta, por sua vez, traduz o reconhecimento universal propor- cionando situações de igualdade política e jurídica, do direito de integração e de participação numa comunidade. Conforme Barbosa (2008), no século XX, com os movimentos sociais e a luta em defesa da verificação de direitos humanos universais, retoma-se a concepção de cidadania ativa, isto é, o reconhecimento universal do direito e do dever de partici- pação política, ordenando que os indivíduos e o Estado assumam os seus deveres e responsabilidades. O conceito de cidadania amplamente debatido por diferentes autores tem como referência teórica o autor Thomas H. Marshall com a obra Cidadania e Classe Social, publicada em 1948. Para Marshall a partir de um Estado de Bem-Estar Social Liberal- Democrático é que é possível o acesso pleno aos direitos de cidadania. Para trabalhar o conceito de cidadania Marshall retoma a noção de status. Para o autor a cidadania pode ser comparada a uma forma de status proporcionado aos indivíduos de uma comunidade. Deste modo o trabalho de Marshall sobre cidada- nia é uma teoria liberal clássica que considera a cidadania como o status legal que fornece direitos e deveres aos membros de um estado-nação. Pós-Universo 11 Vale destacar também que Marshall rompe com uma tradição liberal de cidada- nia queaponta apenas para os direitos políticos e amplia também para os direitos civis e sociais. Deste modo, o autor trabalha a cidadania baseado em três elementos: direitos civis, direitos políticos e direitos sociais. “ Três gerações de direitos de cidadania podem ser assim descritos: Primeiramente os direitos civis, correspondendo aos direitos necessários para o exercício das liberdades, originados no século XVIII; depois, os direitos políticos, consagrados no século XIX, os quais garantem a participação, tanto ativa quanto passiva, no processo político; e finalmente, já no século XX, os direitos sociais de ci- dadania, correspondentes à aquisição de um padrão mínimo de bem-estar e segurança sociais que deve prevalecer na sociedade. Para a teoria marshal- liana, a existência de um suporte institucional estatal, através de políticas públicas de serviços sociais e educacionais, é fundamental para a existência da cidadania ampliada. Do contrário, não passaria de um enunciado formal vazio, sem essência. Portanto, para Marshall, mesmo os direitos civis e políti- cos dependem do Estado (FREITAS, 2008, p. 6). Assim, segundo Marshall existem três vertentes diferentes de direitos que constitui a cidadania: Civis, políticos e sociais onde os direitos civis são compostos de direitos necessários à liberdade individual incluem a liberdade da pessoa, a liberdade de ex- pressão, o movimento, a liberdade de pensamento e de fé, o direito à propriedade e como direitos negativos esses direitos limitam o poder do governo . Os direitos políticos são compostos pelo direito de voto, o direito de participar no exercício do poder político, como membro de um órgão investido de autoridade po- lítica ou como eleitor do membro de tal órgão. Os direitos sociais, desenvolvidos no século XX, garantiram ao indivíduo um estatuto social mínimo e constituíram a base para o exercício dos direitos civis e políticos. Cada uma destas três cadeias desenvol- veu-se com diferentes períodos históricos com o desenvolvimento de estruturas de estado específicas - por exemplo, Os direitos sociais com o judiciário, os direitos po- líticos com as instituições parlamentares de governança e os direitos sociais com o sistema educacional e o Estado de bem-estar. Pós-Universo 12 Embora a grande contribuição da teoria marshalliana os críticos têm debatido várias questões teóricas e empíricas em relação ao seu trabalho. Estas questões in- cluíram questões sobre a relação entre os diferentes tipos de direitos de cidadania e a validade da periodização de Marshall do desenvolvimento dos direitos de cidada- nia (evoluindo unidirecionalmente dos direitos civis para os políticos para os direitos sociais). Além disso, ao longo do tempo, foram identificadas algumas limitações im- portantes do trabalho de Marshall, a mais importante centra na imprecisão conceitual e na sua incapacidade de dar conta da possibilidade de mudanças significativas em áreas como o emprego a economia, a família, a comunidade nacional. Embora as críticas vale destacar que Marshall contribui substancialmente ao dar uma definição adequada de cidadania como um vínculo de cidadania comum que criam uma nova identidade nacional e consciência entre si como sendo cidadão. O conjunto de instituições e práticas estatais ao qual se refere o Welfare State Keynesiano desenvolveu-se no capitalismo ocidental desde a Segunda Guerra Mundial. Ele foi adotado como uma concepção básica do Estado e da prática estatal em quase todos os países ocidentais, não importa qual o partido no poder, nem alterações de tamanho e tempo (OFFE, 1984). Para o autor, o Welfare state é definido, como: “ [...] um conjunto de habilitações legais dos cidadãos para transferir pagamen- tos dos esquemas de seguro social compulsório para os serviços organizados do Estado (como saúde e educação), em uma grande variedade de casos de- finidos de necessidades e contingências. Os meios através dos quais o Welfare state intervêm consistem em regras burocráticas e regulamentações legais, transferências monetárias e a experiência profissional de professores, médicos, assistentes sociais etc. Suas origens ideológicas são muito misturadas e he- terogêneas, indo desde fontes socialistas até fontes católicas conservadoras; seu caráter, como fruto de compromissos ideológicos, políticos e econômicos interclasses, é algo que o Welfare State compartilha com a lógica da decisão política econômica keynesiana (OFFE, 1984, p. 374). Ainda, segundo Offe (1984), a intenção estratégica da política econômica keynesiana “é promover o crescimento e o pleno emprego, e a intenção estratégica do Welfare State é proteger aqueles que são afetados pelos riscos e contingências da sociedade industrial e criar uma medida de igualdade social” (1984, p. 378). A sociedade indus- trial deve fornecer os recursos necessários para as políticas de bem-estar social para que se alcance a igualdade social. Pós-Universo 13 Pelo que já foi discutido até aqui, a cidadania, considerada a partir de diferentes institucionalidades (o próprio cidadão ou o Estado que o institui desta condição), dependerá sempre das formas de ação dos dois polos e se estabeleceria pelo equi- líbrio no jogo de forças ou de interesses. Este raciocínio nos levaria a refletir sobre a influência que o desenho de Estado e o regime político adotados exerceriam sobre a dimensão em que a cidadania seria exercida. Nesta linha de reflexão, como se re- lacionam os regimes democráticos com o exercício da cidadania? São eles capazes de gerar este equilíbrio desejado e garantir o pleno exercício da cidadania? Os regimes democráticos não solucionam tudo, mas abrem possibilidades de aprofundamento progressivo da igualdade entre os seres humanos, com o privilégio de, não sendo regimes de força, consentir que nesse movimento sejam preservadas as diferenças entre os indivíduos e grupos, isto é, as características particulares que eles mesmos estimam. O comportamento, a participação e o apoio dos cidadãos em relação ao regime político estão relacionados à estabilidade democrática de um país. Conforme salienta Silva (2003): a. Regimes democráticos se fundam em dois pilares: Estado forte, no sentido de aceito e legitimado, e esfera pública ampla. b. Regimes democráticos têm uma vocação para tornar mais profunda, de maneira progressiva, a igualdade social, sem impor uma homogeneização forçada. c. Regimes democráticos pacificam a luta dos inferiores pelo aprofundamento da igualdade social. Impulsionam o conflito sem transformá-lo em guerra. Para este autor, portanto, vale a pena ressaltar: “ “democracia” não é um conceito estático, é dinâmico. Não se refere a uma estrutura parada no tempo, congelada, cristalizada, mas a um processo. Por isso, diz-se que a cidadania – termo que se refere ao conjunto dos atores no processo democrático – é uma conquista. Cidadãos(ãs) não nascem feitos(as), surgem na luta, no conflito social que, dependendo de seu encaminhamen- to, pode produzir uma democratização das relações sociais (a qual, como foi dito, passa pela construção de um Estado forte em sua legitimidade). Nesse sentido, quando se fala em democracia, o que está em questão são sempre os problemas da democratização ou, para usar a expressão da moda, a “questão democrática” (SILVA, 2003, p. 27). Pós-Universo 14 O centro dos regimes democráticos está na criação de um espaço público no qual grupos superiores e inferiores negociam como iguais, mesmo que, na vida privada, não sejam iguais, a democracia pede a produção de um mínimo de condições de sustentação dos inferiores em seu enfrentamento com os superiores neste espaço. Para que não haja desistência por parte dos inferiores, da luta, é preciso alguma inter- ferência sobre a vida privada, de maneira a impedir que os inferiores se enfraqueçam a ponto de prejudicar o exercício da cidadania, ou seja, negociar de forma tranquila a redução das hierarquiassociais. A isso, denominamos de política social, que não é oferecida pelo Estado, mas resulta de pressões dos inferiores, até certa forma aceitas pelos superiores (SILVA, 2003). Norberto Bobbio (2000) reconhece a democracia como algo dinâmico, como um processo em constante transformação. O autor conceituou democracia como “um método ou um conjunto de regras de procedimento para a constituição de Governo e para a formação das decisões políticas, ou seja, das decisões que abrangem a toda a comunidade” (2004, p. 326). Numa tentativa de firmar uma “definição mínima de democracia”, este pensador italiano declarou que o único modo de se chegar a um acordo quando se fala de democracia “é o de considerá-la caracterizada por um con- junto de regras (primárias ou fundamentais) que estabelecem quem está autorizado a tomar as decisões coletivas e com quais procedimentos. [...]” (BOBBIO, 2000, p. 30-31). Estes preceitos de Bobbio (2004) são compartilhados por vários teóricos contem- porâneos, para os quais as diferentes concepções de democracia têm se revelado em debates sobre a forma, ou seja, a organização das regras do jogo. O próprio Bobbio (2004, p.327) apresentou uma concepção de democracia pautada por um rol do que chamou de “procedimentos universais”: “ 1) o órgão político máximo, a quem é assinalada a função legislativa, deve ser composto de membros direta ou indiretamente eleitos pelo povo, em eleições de primeiro ou de segundo grau; 2) junto do supremo órgão legislativo deverá haver outras instituições com di- rigentes eleitos, como os órgãos da administração local ou o chefe de Estado (tal como acontece nas repúblicas); Pós-Universo 15 3) todos os cidadãos que tenham atingido a maioridade, sem distinção de raça, de religião, de censo e possivelmente sexo, devem ser eleitores; 4) todos os eleitores devem ter voto igual; 5) todos os eleitores devem ser livres em votar segundo a própria opinião formada o mais livremente possível, isto é, numa disputa livre de partidos políticos que lutam pela formação de uma representação nacional; 6) devem ser livres também no sentido em que devem ser postos em condi- ção de ter reais alternativas (o que exclui como democrática qualquer eleição de lista única ou bloqueada); 7) tanto para as eleições dos representantes como para as decisões do órgão político supremo vale o princípio da maioria numérica, se bem que podem ser estabelecidas várias formas de maioria segundo critérios de oportunida- de não definidos de uma vez para sempre; 8) nenhuma decisão tomada por maioria deve limitar os direitos da minoria, de um modo especial o direito de tornar-se maioria, em paridade de condições; 9) o órgão do Governo deve gozar de confiança do Parlamento ou do chefe do poder executivo, por sua vez, eleito pelo povo (BOBBIO, 2004, p. 327). Observa-se, dessa forma, que política social e regime democrático são termos indis- sociáveis, pois um é condição prática e concreta do outro. Na realidade, os conteúdos, as formas, e as dimensões da política social compõem a essência da questão demo- crática em tempo integral. Mas então, poderíamos dizer que democracia é quase um sinônimo de social-democracia? Mas afinal o que é a agenda da social-democracia? Comumente a agenda pode ser associada aos benefícios e a proteção social, de origem, europeia, e está associada a questões como seguro-desemprego, educação e serviços médicos gratuitos, apo- sentadoria, financiamento à habitação, e assim por diante. Também pode-se pontuar como parte desta agenda o desenvolvimento e fortalecimento das corporações pro- fissionais e o crescimento da administração pública (SCHWARTZMAN, 1997). Pós-Universo 16 Acerca da agenda da social-democracia destaca-se duas perspectivas,sendo uma negativa e outra positiva. A perspectiva negativa aponta que esse modelo só foi possí- vel graças aos excedentes econômicos produzidos pelo capitalismo, o que possibilitou a distribuição dos lucros para os trabalhadores. A visão positiva desta agenda é que com o aumento do bem- estar social acarretaram em um aumento da produtivida- de, pois na medida em que se investe em saúde, educação e condições de trabalho a produtividade acaba sendo impactada diretamente (SCHWARTZMAN, 1997). Já no Brasil a agenda da social-democracia começou a ser implantada com a le- gislação social dos anos de 1930 e: “ Sua principal característica, desde o início, era que ela excluía a população rural e da periferia das grandes cidades. Financiada no início pelos exceden- tes das atividades de exportação, mais tarde pelo aumento da capacidade impositiva do Estado, e finalmente pela inflação, a agenda social-democrá- tica sempre teve, no Brasil, um viés extremamente elitista, não só por excluir os mais pobres, mas inclusive pela distribuição perversa dos benefícios que proporcionava: gratuidade do ensino superior, combinando com educação primária pauperizada; aposentadorias generosas para funcionários públicos, e aposentadorias mínimas para os demais; gastos médicos concentrados nas grandes áreas metropolitanas dos Estados mais ricos, em detrimento das populações rurais e dos Estados mais pobres; e distribuição de privilégios profissionais e corporativos muito mais amplos do que os encontrados nos países mais desenvolvidos (SCHWARTZMAN, 1997, p.2). Embora a agenda da social-democracia só tenha iniciado em 1930 no Brasil ela só se consolidou após 1945 e voltou a ressurgir com a Constituição de 1988, após o fim do governo militar. Schawartzman (1997) pontua dois momentos em que os gover- nos militares tentaram introduzir algum equilíbrio entre a agenda da pobreza e a agenda social-democrática: “ Com a unificação do sistema previdenciário e sua extensão ao campo, e com o Estatuto da Terra, que abriu a possibilidade de alterações mais significativas no sistema de propriedade da terra. Também datam deste período algumas iniciativas na área do saneamento e da saúde pública, com impacto signifi- cativo na situação de pobreza rural (SCHWARTZMAN, 1997, p.2). Pós-Universo 17 Em se tratando da crise da agenda social-democrática brasileira, entende-se que esteja associada a custos crescentes e não financiáveis que piora por dois fatores: os benefícios excessivamente generosos para determinadas categorias (as aposentado- rias dos funcionários públicos, a ausência de limite de idade, a falta de limites claros para os dispêndios de atendimento médico, a educação superior gratuita etc.) e a persistência dos problemas relativos à agenda da pobreza, sobretudo da pobreza urbana (SCHWARTZMAN, 1997, p.2). Hoje, não é mais possível catalogar um Estado como “liberal” ou “de bem-es- tar social”, de forma binária. Podemos dizer que existem países menos liberais e, portanto, mais voltados à categoria de bem-estar social, e vice-versa. Na Europa, tradicionalmente alguns países com tendência a social-democra- cia -, que historicamente conservaram uma agenda reformista, que ajudou a construir o Estado de Bem-Estar - adotaram esse modelo de forma plena. Como os Estados Escandinavos (países nórdicos), Suécia, Dinamarca, Noruega, Finlândia e outros países da Europa. Para saber mais sobre o desenvolvimen- to dos países consulte o relatório produzido pelo instituto independente de pesquisas Legatum Institute que traz um estudo global Prosperity Index 2016, que analisa a prosperidade em 142 países. Acesse: <http://www.prosperity.com/globe>. fatos e dados Pós-Universo 18 Pós-Universo 19 HISTÓRIA DO WELFARE STATE OU ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL No caso da Europa, sabemos que de acordo com a evolução da modernidade e a própria evolução do Estado contemporâneo, passamos de um Estado Liberal para um Estado Social, isto é, a construção do que chamamos de Estado de Bem-Estar Social, o Welfare-State. Segundo Arretche (1995), a classe capitalista ameaçada em sua produção pela força do movimento social organizado, provocou reação direcionada as formasmais centralizadas de formulação de políticas em relação à reformulação do Estado. No caso do Welfare State, período pós-guerra, isto gerou a coincidência de interesses entre capital e trabalho. Ou seja, tanto a burguesia quanto o proletariado passaram a demonstrar interesse nas políticas sociais, mesmo tendo diferentes motivos. A classe trabalhadora, porque qualquer política que atenue as dificuldades e mo- difique o jogo cego das forças de mercado é bem-vinda. A classe capitalista, porque provê novas modalidades de integração e controle sobre a classe trabalhadora e oferece ainda benefícios ideológicos e econômicos. Em relação ao Welfare State Arretche acentua que: “ No caso específico do Welfare State, fenômeno do pós-guerra nas economias capitalistas avançadas, o enfrentamento histórico das duas classes antagôni- cas assumiu a forma de um movimento social organizado e de uma resposta da classe capitalista, sob a forma do Estado centralizado. Naquela conjuntu- ra, a do pós-guerra, este enfrentamento histórico da luta de classes implicou a consolidação de um compromisso de classe. (ARRETCHE, 1995, p. 34). Segundo Esping-Andersen (1991), muitos liberais temeram a democracia. Contudo, a industrialização superou o mundo dos pequenos proprietários que detinham o capital, formando massas proletárias para quem a democracia era um meio de reduzir os privilégios da propriedade. “Os liberais temiam com razão o sufrágio universal, pois era provável que este politizasse a luta pela distribuição, pervertesse o mercado e ali- mentasse ineficiências.” (1991, p. 86). Pós-Universo 20 Os Estados de bem-estar social são aqueles cujo governo desempenha um papel central na redução das desigualdades por meio dos subsídios de certos bens serviços. Os serviços de assistência social variam de acordo com os países, mas costumam incluir educação, saúde, habitação, apoio a renda, aposentadoria e desemprego. O futuro da provisão da assistência social esta sendo debatido na maioria dos países industrializados, inclusive no Brasil. De um lado encontram-se aqueles que defendem que a assistên- cia social deve ser ampla e universal. De outro dizem que ela deve apenas ser uma rede de segurança para aqueles que verdadeiramente não conse- gue obter ajuda de outro modo. O que você acha sobre isso? reflita Navarro (2002, p. 91), por sua vez, afirma que: “As reformas do pós-guerra foram pos- síveis graças à escassez generalizada de mão de obra e aos elementos de previdência social providos pela rede social criada pelo Estado de bem-estar.” Segundo Nogueira (2005, p. 84), “a industrialização acelerou e virou fato marcante em quase todos os países sem que se dessem passos firmes em direção ao desen- volvimento social”. Conforme Faria (1998, p. 42), Titmuss salientou em um ensaio de 1954, que: “ As origens de programas sociais devem ser procuradas na crescente comple- xidade da divisão social do trabalho, decorrente da industrialização. Como o processo de industrialização acarretou a especialização dos trabalhadores, os indivíduos foram se tornando cada vez mais dependentes da sociedade. Nesse contexto, os serviços sociais seriam a resposta às necessidades indivi- duais ou coletivas, garantindo a sobrevivência das sociedades. A expansão dos serviços sociais revelaria o crescimento das necessidades das sociedades. [...], necessidades determinadas pela cultura. O desenvolvimento de progra- mas sociais estaria, portanto, subordinado ao reconhecimento e definição das novas dependências criadas pelo Homem. Pós-Universo 21 O surgimento de programas sociais é um desdobramento necessário de tendências mais gerais posta em marcha pela industrialização. Conforme Arretche (1995, p. 6): “ O surgimento de “padrões mínimos, garantidos pelo governo, de renda, nu- trição, saúde, habitação e educação para todos os cidadãos, assegurados como um direito político e não como caridade está associado aos proble- mas e possibilidades postos pelo desenvolvimento da industrialização. De um lado, os gastos com programas sociais somente são possíveis porque a industrialização permite um vasto crescimento da riqueza das sociedades. A partir da constatação de uma correlação entre as variáveis crescimento in- dustrial e gastos sociais, o autor considera que a primeira é uma condição necessária para a segunda. Dito de outro modo, os programas sociais ou não aparecem ou permanecem insignificantes em sociedades que não produzam um excedente nacional suficiente para financiá-los. (WILENSKY, 1975, p. 24). A origem dos programas sociais é explicada, conforme Arretche (1995), como res- posta funcional à necessidade de constituição da classe operária, condição essencial para o desenvolvimento do capitalismo. O poder estatal é fundamental como políti- ca de dominação, e necessária no processo de integração da classe operária. Conforme Navarro (2002, apud BECK, 2005), as manifestações geradas pela classe operária, como as ondas grevistas e o fechamento das fábricas tiveram enorme impacto. O direito da classe capitalista de controlar o processo produtivo passou a ser questionado pelos trabalhadores. Os movimentos operários de fins da década de 60 tomaram de surpresa tanto as organizações operárias como a classe capitalista. Estimulados pelas manifestações dos trabalhadores, os sindicatos passaram a ques- tionar a inviolabilidade dos direitos de propriedade. Os avanços mais progressistas ocorreram nos anos 70, com intervenções no processo de produção e no Estado, for- çando os empresários dos países capitalistas mais importantes a compartilhar parte de seu controle sobre o processo produtivo com os trabalhadores. Mudanças seme- lhantes também ocorreram nos partidos operários. Esse crescimento operário nos âmbitos da produção e do Estado converteu-se numa ameaça para a classe capitalista. A força da classe trabalhadora determinou mudanças no final dos anos 70 e princípio da década de 80. No âmbito da produção, tem-se acrescentado a centralização da direção e do controle, e a descentralização da execução. A internacionalização da produção foi a principal resposta do capital ante a força do movimento operário. A “fábrica mundial” converteu-se na forma do- minante de produção dos anos 80 (NAVARRO, 2002 apud BECK, 2005). Pós-Universo 22 Para este autor, outro tipo de resposta da classe capitalista, frente à força do mo- vimento operário, tem sido a terceirização, seguindo o modelo japonês. Vale destacar que na terceirização, a produção baseia-se num núcleo central de trabalhadores e um grande número de fornecedores, e apoia-se fortemente num trabalho mal pago, pobremente organizado e de tempo parcial. Os fornecedores são dependentes do núcleo central e encontram-se subordinados a ele (NAVARRO, 2002). Na terceirização se estabelecem redes hierárquicas regionais, consideradas fle- xíveis e adaptáveis às necessidades do mercado. Neste contexto, o modelo japonês, por exemplo, acaba promovendo o enfraquecimento sistemático das organizações sindicais nas fábricas e a introdução de estruturas trabalhistas e mercantis que atuam contra a coesão do movimento operário. A grande diversidade que surgiu no mundo do consumo foi possível, segundo os autores do pós-fordismo, graças à flexibilidade do processo de produção e à sua ca- pacidade de atender as necessidades dos consumidores, processo este, que envolve trabalhadores diversos, ou seja, pode ser multinacional, multiétnica e dos dois gêneros (NAVARRO, 2002 apud BECK, 2005). As mudanças no mundo da produção foram facilitadas pelas mudanças no Estado de bem-estar, desencadeadas pela força do movimento operário. Na década de 80, fi- xaram-se políticas estatais de austeridade, que incluíram a redução dos gastos sociais, o crescimento do desemprego, o enfraquecimento da legislação estatal protetora dos trabalhadores, dos consumidores e do meio ambiente, e a flexibilização forçada do mercado de trabalhoatravés da desregulamentação (NAVARRO, 2002 apud BECK, 2005). O Estado de Bem-Estar Social é fruto, de um lado, da pressão do sindicato, dos partidos operários; bem como da construção do pensamento Keynesiano voltado para a regulação da economia e da redistribuição das riquezas. Na década de 70 ele entra em crise, e começam a ser implantadas na Europa a partir do governo de Margareth Thatcher e depois nos Estados Unidos da América com Ronald Reagan, as chamadas políticas neoliberais. Autores neoliberais afirmam basicamente que a função do Estado é garantir a ordem e a segurança dos contra- tos e que quem deveria reger a dinâmica social é o mercado (BECK, 2005). Pós-Universo 23 A QUESTÃO DA CIDADANIA NO ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL A cidadania se expande e se afirma na sociedade conforme os sujeitos conquis- tam seus direitos e aumentam sua participação na criação do próprio direito. Sendo assim, os direitos estão no centro das ideias de Direito, Estado e Cidadania. Os direi- tos que constituem a cidadania são sempre conquistas, resultados de um processo histórico pelo qual indivíduos, grupos e nações lutam por alcançá-los e concretizá- -los (BRESSER PEREIRA, 1998 apud BECK, 2005). Embora o termo “cidadania” possua uma conotação fortemente jurídica, no de- correr dos últimos anos seu conteúdo semântico passou a ser ampliado, passando a denominar todas aquelas formas de ação que signifiquem o envolvimento dos in- divíduos com problemas públicos e sociais. Passou-se a falar, inclusive, de “cidadania ativa” para distinguir esta concepção de cidadania de sua versão meramente jurídi- ca. Ao longo deste processo, as formas organizadas de participação social receberam diferentes tratamentos analíticos. Em relação ao processo de redemocratização e a intensa atuação dos movi- mentos sociais, Dagnino (1994) demonstra sua visão quanto à cidadania brasileira. Reconhece as características sociais e econômicas desfavoráveis, principalmente, a pobreza e o autoritarismo que permeiam as relações sociais e políticas, contudo en- fatiza a cidadania como um espaço resultante dos conflitos vividos pela sociedade em um determinado momento histórico. Para a autora, o conteúdo e significado da cidadania estão associados à luta po- lítica. Neste sentido, desde uma abordagem culturalista da democracia, a autora expressa que a participação dos cidadãos no espaço público, o acesso a direitos e a não violação dos direitos humanos além de fundamentais à democratização das re- lações sociais, se refletem nas instituições políticas. Pós-Universo 24 Assim, a noção de cidadania é expressão do novo estatuto teórico e político as- sumido pela questão da democracia em todo o mundo e aparece como prática social para o “acesso à cidade”, promovida por organismos e movimentos sociais. Desta ótica, a cidadania representa um mecanismo capaz de promover a ruptura de práticas políticas tradicionais da sociedade brasileira, entre elas: o clientelismo, o co- ronelismo e o autoritarismo. Para Bresser Pereira (1996), a adoção de uma perspectiva histórica é importan- te porque ilumina o presente. Os resquícios de antigas interpretações, que tiveram como matriz a interpretação nacional-desenvolvimentista, estão ainda muito presen- tes na América Latina. As questões econômicas e políticas são sempre extremamente ideológicas, refletindo o conflito de interesses de classes. A crise econômica da década de 80 levou a direita e a esquerda, os social-de- mocratas ou social-liberais e os conservadores a reformularem suas interpretações. A direita foi favorecida pela onda conservadora e neoliberal que ganhou forças na década de 70 em todo o mundo, “em consequência da diminuição das taxas de crescimento dos países centrais, da crise do Welfare State, do colapso do consen- so keynesiano e, mais amplamente, da crise fiscal do Estado que se tornou então o principal problema em todos os países, desenvolvidos e subdesenvolvidos, capita- listas ou estadistas.” (BRESSER PEREIRA, 1996, p. 39). A direita retoricamente passou a adotar um discurso neoliberal de defesa do Estado mínimo, da desregulamentação e da abertura da economia brasileira. Na prática, entretanto, uma parcela significativa da direita continuou a apoiar o prote- cionismo e a se beneficiar do intervencionismo estatal (BECK, 2005). A crise generalizada da esquerda mundial somou-se à crise do nacional-populis- mo latino-americano, cuja estratégia de industrialização era vista pela esquerda como parte do seu modo de ser. “Quando ela assumiu o poder em 1985, após o processo vitorioso de redemocratização, os setores progressistas tentaram retomar as políti- cas populistas e desenvolvimentistas que tinham sido bem-sucedidas entre os anos 30 e os anos 40”. A política econômica de 1985 e 1986, que culminou com o fracasso do Plano Cruzado, é um exemplo de política econômica populista (BRESSER PEREIRA, 1996, p. 39 apud BECK, 2005). Pós-Universo 25 O populismo econômico segundo o mesmo autor pode ser resumido em poucos pontos: • Desenvolvimento orientado ao mercado interno; • Proteção à indústria nacional como estratégia industrial básica; • Desenvolvimento tecnológico como elemento complementar à política de substituição de importações; • O déficit público; • As altas taxas de juros; • Aumento dos salários nominais não causam inflação porque são reajusta- dos de forma defasada em relação à inflação; • O aumento do salário real pode ser redistributivo; sendo compensado pela redução dos lucros; • As empresas estatais são basicamente eficientes, mas não são rentáveis; • A coordenação econômica pelo Estado tende a ser mais eficiente do que pelo mercado. Estas ideias predominantes, hoje são questionadas (BECK, 2005). Em oposição a essa perspectiva populista, temos as abordagens neoliberal e social-democrática ou social-liberal da crise do Estado, que compartilham a rejeição ao populismo e ao na- cionalismo, mas divergem sobre as causas da crise e sobre o papel do Estado. Deste modo, para entendermos a Reforma do Estado, é preciso entender a crise. “James O’Connor definiu a crise fiscal do Estado, através da dificuldade do Estado em lidar com as crescentes demandas de diversos setores da economia e de seus grupos sociais correspondentes” (BRESSER PEREIRA, 1996, p. 43). O Estado pode entrar em crise porque não tem capacidade de investimento, proporcionando desta forma a estagnação da economia, pois o desenvolvimento é gerado pela ação do Estado. Bresser Pereira (1996), afirma que a crise é proporciona- da pela falta de poupança pública do Estado, e não, pelo déficit. Pós-Universo 26 Conforme o autor (1997, p. 15): “ Em consequência da captura por interesses privados, que acompanhou o grande crescimento do Estado, e do processo de globalização, que reduziu sua autonomia, desencadeou-se a crise do Estado, cujas manifestações mais evidentes foram a crise fiscal, o esgotamento das suas formas de interven- ção e a obsolescência da forma burocrática de administrá-lo. A crise fiscal definia-se pela perda em maior grau de crédito público e pela incapacidade crescente do Estado de realizar uma poupança pública que lhe permitisse fi- nanciar políticas públicas. A crise do modo de intervenção manifestou-se de três formas principais: a crise do Welfare State no primeiro mundo, o esgota- mento da industrialização por substituição de importações na maioria dos países em desenvolvimento, e o colapso do estatismo nos países comunis- tas. A superação da forma burocrática de administrar o Estado revelou-se nos custos crescentes, na baixa qualidade e na ineficiência dos serviços sociais prestados pelo Estado através do emprego direto de burocratas estatais. No Brasil, na verdade, nós nunca tivemos um Estado de bem-estar social. A história do Estado no Brasil é diferente, pois nós tivemos a partir dos anos 30, a construção de um Estado Desenvolvimentista e Corporativo(BOSCHI, 2002). Estado que vai estar preocupado com a industrialização, com o desenvolvimento econômico, com o desenvolvimento nacional, que vai procurar integrar no Estado corporativo, repre- sentantes do empresariado e dos trabalhadores (BECK, 2005). Estado Desenvolvimentista O Estado Desenvolvimentista no Brasil assumiu uma forma fortemente cen- tralizada, ou, dito de outro modo, a construção do Estado nacional supôs um longo processo de esvaziamento das capacidades institucionais, administrati- vas e financeiras dos governos estaduais e municipais. No entanto, no período pós-64, a forma centralizada de gestão inaugurou uma nova orientação para a expansão do Estado: esta efetivamente fortaleceu as capacidades adminis- trativas de estados e municípios, ainda que de forma inteiramente desigual no território nacional, fato este que permite que a descentralização seja hoje uma possibilidade real. Finalmente, ao longo da década de 80, assistimos a um esvaziamento progressivo dos recursos de que dispunha o governo federal para o exercício de suas funções tradicionais, vale dizer, aquelas sob as quais se erigiu como grande protagonista do Estado desenvolvimentista. Fonte: Arretche (1996, p. 56-57). atenção Pós-Universo 27 Segundo Boschi (2002 apud BECK, 2005), no cenário de desconstrução da era Vargas que coincide com o processo expansivo de direitos políticos e sociais consa- grados pela Constituição de 1988 e, simultaneamente de crise do Estado, a estrutura corporativa, situa-se, portanto, como uma espécie de matriz institucional para as re- formas em curso, na dinâmica da mudança/permanência que tende a caracterizar os processos de transição no Brasil. A lógica do mercado, impulsionada pelos processos de privatização e abertura comercial que, atravessa a lógica de atuação do Estado e impõe novos parâmetros à ação coletiva dos setores organizacionais. O aprofundamento da democratização é vital para a reconstrução do Estado. “Assim, a multiplicação dos espaços societais, a expansão de novas formas de solida- riedade, cooperação e participação democrática é que garantirão a convivência no longo período de maturação das reformas.” (AMARAL, 2003, p. 36). O Estado precisa de transparência, da união da democracia representativa com a participativa, de inovação política e institucional, de participação popular nas decisões e operações estatais e o mais importante, de real responsabilização governamental com melhor desempenho em governança. De acordo com a pesquisa o Brasil, o gigante econômico da América Latina com grandes esperanças de aumentar a prosperidade, está vendo a pros- peridade limitada e um ambiente de negócios pouco competitivo. Entre 2007 e 2015, o Brasil experimentou uma redução dramática na pobreza ab- soluta e relativa, pela qual ganhou muito elogio internacional. No entanto, estes números têm estado estagnados nos anos de 2015 e 2016, uma preo- cupação que também se manifestou em outros subíndices como Saúde, Ambiente Empresarial e Educação, entre outros. O mais prevalente foi o de- clínio dos subíndices de Qualidade Econômica e Governança que podem ser atribuídos em grande parte à recessão econômica e à investigação da corrupção generalizada que recentemente abalou o Brasil. O Legatum Institute, instituto independente de pesquisas, divulgou o estudo global Prosperity Index 2016, que analisa a prosperidade em 142 países. Na pesquisa o Brasil encontra-se na 52º posição em uma lista de 149 países. Navegue pelo site e descubra outros dados importantes do Brasil. Acesse: <http://www.prosperity.com/globe#BRA> fatos e dados atividades de estudo 1. O ensaio clássico do britânico Thomas H. Marshall, publicado em 1949, intitulado Cidadania e Classe Social, continua a ser referência teórica para defi nir o tema da cidadania. O autor conceitua a cidadania baseado em seus três elementos constitu- tivos. Quais são estes elementos. Marque a alternativa correta. a) Direito ao voto, direito a liberdade e direito a participação social. b) Direitos civis, direitos políticos e direitos sociais. c) Direito liberal, direito neoliberal e direito social. d) Direito privado, direito passivo e status. e) Direitos civis, direito passivo e liberal. 2. No caso da Europa, de acordo com a evolução da modernidade passamos de um Estado Liberal para um Estado Social, isto é, a construção do que chamamos de Estado de Bem-Estar Social, o Welfare-State. Com base nesta colocação quais as ca- racterísticas deste modelo de Estado. Marque a alternativa correta. a) Estado assistencial que garante padrões mínimos de educação, saúde, habitação, renda e seguridade social a todos os cidadãos. b) Estado centralizador que reduz os privilégios da propriedade. c) Estatal dominador que auxilia no processo de integração da classe operária. d) Estado que ameaça a classe operária, que prevê a terceirização, assim estabelecem redes hierárquicas regionais, consideradas fl exíveis e adaptáveis às necessidades do mercado. e) Estado dominador que auxilia nos privilégios da propriedade. atividades de estudo 3. No Brasil em 1985, após o processo de redemocratização, os setores progressistas tentaram retomar as políticas populistas e desenvolvimentistas que tinham sido bem-sucedidas entre os anos 30 e os anos 40. Sobre a política econômica populis- ta, julgue as afi rmativas a seguir e marque a alternativa correta. I. A política econômica populista tem como característica o desenvolvimento orien- tado ao mercado interno. II. A política econômica populista prevê o Estado mínimo, a desregulamentação e da abertura da economia brasileira. III. Com a política econômica populista as empresas estatais são basicamente efi cien- tes, mas não são rentáveis. IV. A política econômica de 1985 e 1986, que culminou com o fracasso do Plano Cruzado, é um exemplo de política econômica populista. a) Estão corretas apenas as afi rmativas I, II e III. b) Estão corretas apenas as afi rmativas II, III e IV. c) Estão corretas apenas as afi rmativas I, III e IV. d) Estão corretas apenas as afi rmativas II e III. e) Estão corretas apenas as afi rmativas III e IV. resumo Conduzimos nossas discussões no sentido de apresentar as relações existentes entre democracia e cidadania, analisando a evolução da cidadania na sociedade mundial. Marshall (1949) buscou demonstrar como a cidadania tem modifi cado o padrão de desigualdade social, havendo uma contradição entre os direitos sociais e o valor do mercado. Os regimes democráticos abrem possibilidades de aprofundamento progressivo da igualda- de entre os seres humanos, não havendo regimes de força, consentindo que nesse movimento sejam preservadas as diferenças entre os indivíduos e os grupos. Com a revolução industrial identifi camos o surgimento de programas sociais, como resposta funcional as necessidades da constituição da classe operária, onde as mudanças no mundo da produção foram facilitadas pelas mudanças no Estado de bem-estar, desencadeadas pela força do movimento operário. Porém o Estado de Bem-Estar Social entra em crise na década de 70, e com isso começam a ser implantadas as chamadas políticas neoliberais, onde o estado tem como função garantir a ordem e a segurança dos contratos e quem rege dinâmica social é o mercado. No entanto caro aluno deve fi car claro que no Brasil nós nunca tivemos um Estado de bem-estar social, pois nossa história de estado é diferente, pois nos anos 30 foram inseridas políticas desen- volvimentistas e corporativistas. Verifi camos que a cidadania se expande e se afi rma na sociedade conforme os indivíduos adqui- rem direitos e aumentam sua participação na criação do próprio direito. Sendo assim, os direitos estão no centro das ideias de Direito, Estado e Cidadania. Portanto o comportamento, a partici- pação e o apoio dos cidadãos em relação ao regime político estão relacionados à estabilidade democrática de um país, havendo uma clara associaçãoentre a existência de um sistema políti- co aberto e a agenda social-democrática. material complementar Livro: Cidadania no Brasil: o longo caminho. Autor: José Murilo de Carvalho. Editora: Civilização Brasileira. Sinopse: “A obra é um guia sobre a longa jornada da democra- cia brasileira, desde os primeiros passos do Brasil independente, ainda monárquico, passando pela República, até os movimen- tos de rua recentes. A nova edição chega quando tudo está em ebulição e em transição. Hora perfeita para entender o que o país construiu em quase dois séculos de jornada. Bestseller em Ciências Humanas: o livro está na 19ª edição. José Murilo de Carvalho é referência em História do Brasil. Autor está na Academia Brasileira de Letras. Essencial para com- preender o país, neste momento de ebulição, entre movimentos de rua, discussão sobre direitos civis e eleições presidenciais. Livro atrativo para o público em geral e para acadêmicos”. Filme: Entre Nos Ano: 2009 Sinopse: Uma história baseada em fatos reais que oferece uma nova abordagem sobre a imigração ilegal nos Estados Unidos, isso é Entre Nos. Mariana (Paola Mendoza) sai de seu país natal, a Colômbia, com dois fi lhos com destino para o bairro de Queens em Nova York, local onde seu marido vive. Chegando lá, ela é abandonada pelo marido e tem a difícil missão de viver com duas crianças em um local desconhecido e sem nenhum tipo de direito legal. material complementar NA WEB Acesse o portal “e-Cidadania”, criado em 2012 pelo Senado Federal com o objetivo de estimular e possibilitar maior participação dos cidadãos, nas atividades legislativas, orçamentárias, de fi s- calização e de representação do Senado. WEB: https://www12.senado.leg.br/ecidadania referências AMARAL, Ana Valeska. Terceiro setor e políticas públicas. Revista do Serviço Público Ano 54 Número 2 Abr-Jun 2003. Disponível em: http://antigo.enap.gov.br/index.php?option=com_do- cman&task=doc_view&gid=2627. Acesso em marco de 2017. ARRETCHE, Marta. Emergência e Desenvolvimento do Welfare State: teorias explicativas. 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