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Manuella Soussa Braga ORC I - 2019/2 - 6º período PROTEÇÃO DO COMPLEXO DENTINO-PULPAR A proteção do complexo dentino-pulpar tem por objetivo proteger tanto a câmara pulpar quanto a dentina que a reveste. Essa proteção, então, não tem por objetivo apenas proteger a polpa diretamente e sim também de forma indireta, fazendo com que a dentina sofra uma reação capaz de formar dentina reacional para proteger o interior da cavidade pulpar. Consiste, por fim, na utilização de materiais protetores sobre dentina ou polpa, a fim de manter ou recuperar a vitalidade destes órgãos. O órgão pulpar é um tecido conjuntivo bem especializado e possui odontoblastos que são capazes de formar células para deposição de dentina ao redor da câmara pulpar. As causas de uma injúria pulpar são: (1) lesão cariosa, (2) preparo cavitário, (3) trauma oclusal e (4) materiais restauradores. Lesão cariosa Os estímulos inflamatórios provenientes da lesão cariosa se difundem até a polpa através dos túbulos dentinários. O processo de lesão cariosa se divide em: ➤ zona superficial de cavidade: encontram-se resíduos de cárie, fragmento do dente, restos de alimento, restos necróticos e intensa atividade bacteriana. ➤ dentina cariada superficial ou infectada: é uma matriz orgânica irreversivelmente desnaturada, não sendo passível de remineralização, o paciente não sente dor durante remoção (insensível à remoção), tem-se intensa atividade bacteriana e deve ser removida. ➤ dentina cariada profunda ou afetada : é uma matriz orgânica reversivelmente desnaturada, passível de remineralização (desde que coloque um material que estimule a mineralização - CIV, hidróxido de cálcio), as bactérias encontradas são escassas/raramente encontradas e podem estar ausentes, pode ser preservada se tratada adequadamente (material que estimule a mineralização + paredes bem vedadas e limpas, livres de lesão cariosa). ➤ dentina esclerosada: resposta do organismo. ➤ dentina terciária. Manuella Soussa Braga ORC I - 2019/2 - 6º período Preparo cavitário É uma importante etapa na remoção da cárie e acesso à cavidade que causa uma resposta do complexo dentino-pulpar. Alguns fatores devem ser considerados devido a preparação cavitária: pressão de corte, calor friccional, desidratação da dentina, qualidade dos instrumentos, condição inicial da polpa e a quantidade e qualidade de dentina remanescente. A qualidade dos instrumentos tem relação com a pressão de corte. As brocas de aço enferrujam e perdem o corte com facilidade e, quando isso ocorre, a tendência é realizar mais pressão para remover a cárie. O calor friccional é evitado realizando movimentos intermitentes. Durante o preparo cavitário, a dentina deve estar úmida, evitando a sua desidratação. A condição inicial da polpa deve ser notada, como a presença de pulpite, por exemplo, pois o preparo cavitário pode agravar o caso. A quantidade e qualidade de dentina remanescente é importante, pois fornece proteção à polpa. A espessura de 2 mm de dentina é o suficiente para impedir a passagem de substâncias para a polpa. O aumento de temperatura maior que 5,5 ºC já é suficiente para causar injúrias pulpares. Para minimizar as injúrias causadas pelo preparo cavitário opta-se por instrumentos rotatórios novos, fazer menor pressão de corte, intermitente, minimizar a secagem da dentina previamente ao preparo, refrigeração abundante. Trauma oclusal Pode ser agudo (morder um alimento duro e o dente fica dolorido, por exemplo - localizado) ou crônico (mudanças graduais e constantes na oclusão - alteração de posição dos dentes, restaurações mal realizadas, hábitos parafuncionais). Como minimizar o trauma oclusal? Deve-se sempre realizar o ajuste dos contatos oclusais quando estão prematuros, tratar os hábitos parafuncionais se presentes e orientar em relação aos outros hábitos em geral. Materiais restauradores Materiais muito ácidos como o ácido fosfórico e o fosfato de zinco podem causar danos à polpa por irritação química. Além disso, a má adaptação das restaurações também é um fator de irritação por meio da microinfiltração. A fotopolimerização insatisfatória do adesivo e da resina faz com que se tenha monômeros residuais (componentes resinosos) que também são irritativos à polpa. FATORES QUE INFLUENCIAM NA INDICAÇÃO DE AGENTES PROTETORES ➤ profundidade da cavidade ➤ qualidade da dentina ➤ idade do paciente ➤ condição da polpa Manuella Soussa Braga ORC I - 2019/2 - 6º período Profundidade da cavidade A dentina é um excelente isolante térmico e barreira f ísico- química contra a penetração de bactérias, suas toxinas e ácidos. Por isso, a dentina é o material protetor ideal e deve ser conservado sempre que possível. Quanto maior a espessura e qualidade, menor será a resposta inflamatória. 1 cavidades superficiais : aquém, ao nível ou ultrapassando ligeiramente a JAD. 2 cavidades rasas : 0,5 a 1,0 mm da JAD. 3 cavidades de média profundidade : 1,0 a 2,0 mm da JAD 4 cavidades profundas : aproximadamente 0,5 mm de dentina remanescente. 5 cavidades bastante profundas : 0,5 mm ou menos de dentina remanescente. Clinicamente, diferencia-se uma cavidade profunda de uma bastante profunda pela coloração. Na bastante profunda, observa-se uma coloração rosa devido à transparência da polpa com a coloração amarelada da dentina. Qualidade da dentina (1) dentina primária (2) dentina secundária (3) dentina esclerosada (4) dentina terciária ou reparadora ➤ dentina primária: é formada antes da erupção dentária (apicogênese) ao redor de toda a polpa, é mais permeável e apresenta túbulos em grande quantidade, organizados, regulares e contínuos. ➤ dentina secundária: é formada após a erupção dentária (apicogênese) ao redor de toda a polpade maneira homogênea, por estímulos de baixa intensidade (como mastigação e idade), é menos permeável que a dentina primária, tem-se diminuição do volume pulpar sem alterar sua anatomia e apresenta túbulos em menor quantidade, mais tortuosos e mais estreitos. ➤ dentina esclerosada: é a primeira resposta frente a um estímulo/agressão externa, sendo uma hipermineralização ( apresenta brilho ) da dentina peritubular que leva à redução do diâmetro dos túbulos dentinários, tem-se uma redução da permeabilidade e ocorre em regiões subjacentes à lesões cariosas, afetando apenas os túbulos lesados e tem uma coloração escura. ➤ dentina terciária ou reparadora: é causada por estímulos de alta intensidade, como uma lesão cariosa, preparo cavitário e erosão, por exemplo, que se localiza abaixo da zona de irritação e altera a anatomia da polpa, os túbulos são mais irregulares, tortuosos, em pequena quantidade ou Manuella Soussa Braga ORC I - 2019/2 - 6º período ausentes, sendo que a dentina é mal formada, ou seja, menos mineralizada, com coloração mais escura- marrom. Idade do paciente Em pacientes jovens, há uma maior quantidade de células, uma câmara pulpar ampla e túbulos dentinários mais amplos que favorecem a penetração de agentes tóxicos. Em pacientes idosos, o tecido pulpar é mais fibroso e a câmara pulpar diminuída. Cavidades da mesma profundidade acabam se aproximando mais da polpa nos pacientes jovens. Condição da polpa Deve-se realizar o diagnóstico da condição pulpar por meio da anamnese, sabendo dados como a localização, frequência, intensidade e duração da dor. TÉCNICAS DE PROTEÇÃO DO COMPLEXO DENTINO-PULPAR ➤ proteção pulpar indireta ➤ tratamento expectante ➤ proteção pulpar direta ➤ curetagem pulpar ➤ pulpotomia Proteção pulpar indireta No diagnóstico, a polpa não está exposta e o tipo de material selecionado depende da profundidade do preparo que é variável ( rasa ou média, profunda e bastante profunda). Nessa técnica, os objetivos são: bloquear os estímulos térmicos, elétricos e químicos das restaurações e do meio bucal, auxiliar na manutenção ou recuperação da polpa, evitar ou reduzir a microinfiltração, melhorar as propriedades de selamento das restaurações, dissipar as forças de condensação durante a inserção de materiais restauradores e estimular a formação de dentina esclerosada e/ou reparadora e remineralizar a dentina já existente. ➤ passo a passo: anestesia, isolamento absoluto ou relativo, remoção da cárie com brocas esféricas em baixa rotação e colheres de dentina afiadas, limpeza da cavidade com água de cal, clorexidina 2% ou água oxigenada a 3%. CAVIDADE/ RESTAURAÇÃO AMÁLGAMA RESINA COMPOSTA rasa ou profunda verniz cavitário ou sistema adesivo sistema adesivo profunda CIV + verniz cavitário CIV + sistema adesivo bastante profunda cimento de hidróxido de cálcio + CIV + verniz cavitário cimento de hidróxido de cálcio + CIV + sistema adesivo Manuella Soussa Braga ORC I - 2019/2 - 6º período ➤ continuação do passo a passo em cavidades rasas ou médias: aplicação de verniz cavitário (amálgama) ou aplicação de sistema adesivo ( resina), restauração definitiva na mesma sessão. ➤ continuação do passo a passo em cavidades profundas: aplicação de CIV, aplicação de sistema adesivo ou de verniz cavitário, restauração definitiva na mesma sessão. Após o CIV tomar presa, pode-se condicionar a cavidade com ácido fosfórico sem nenhum problema. ➤ continuação do passo a passo em cavidades bastante profundas: aplicação do cimento de hidróxido de cálcio, cimento de ionômero de vidro e aplicação de verniz cavitário ou sistema adesivo e restauração definitiva na mesma sessão. SEQUÊNCIA DA PROTEÇÃO PULPAR INDIRETA EM CAVIDADE BASTANTE PROFUNDA (1) anestesia (2) isolamento absoluto ou relativo (3) remoção de tecido cariado (4) limpeza da cavidade (5) aplicação de cimento de hidróxido de cálcio (6) aplicação de CIV (7) ácido fosfórico (8) aplicação de sistema adesivo ou verniz cavitário (9) restauração definitiva na mesma sessão Aplica-se o ácido poliacrílico por fricção. Tratamento expectante O objetivo é bloquear as agressões da lesão cariosa, vedar a cavidade, inativar bactérias, remineralizar a dentina descalcificada remanescente, hipermineralizar a dentina sadia e promover formação de dentina esclerosada ou terciária. Esse tratamento é realizado em pacientes jovens, quando a polpa não está exposta, em que a lesão cariosa aguda está profunda, muito próxima a polpa, com risco de exposição pulpar. O tratamento expectante consiste na remoção parcial do tecido cariado, inserção do material restaurador provisório, aguarda cerca de 45 dias para formar barreira mineralizada (dentina), após 45 dias remove a restauração, continua removendo a cárie e protege como uma cavidade bastante profunda, realizando a restauração definitiva logo após. ➤ passo a passo: 1ª SESSÃO CLÍNICA: anestesiar ou não o paciente, isolamento absoluto do campo operatório, remoção da dentina infectada: tentar preservar a dentina afetada, limpeza da cavidade com bolinhas de algodão estéreis embebidas em água de cal, remoção da umidade com algodão ou papel absorvente estéril, aplicação de cimento de hidróxido de cálcio no assoalho da cavidade, vedamento da cavidade com CIV ou OZE. Manuella Soussa Braga ORC I - 2019/2 - 6º período 2ª SESSÃO CLÍNICA: após 45 a 60 dias, sendo que o dente não deverá apresentar dor espontânea, a menos que o estado pulpar seja irreversível: realiza-se o exame clínico, radiografa o dente e observa-se a formação de dentina esclerosada ou reparadora, tratar como se fosse uma cavidade muito profunda com remoção de todo o tecido cariado e inspeção cuidadosa da cavidade, aplicação de cimento de hidróxido de cálcio,CIV, sistema adesivo e material restaurador. ➤ desvantagens do tratamento expectante: risco de degradação do material provisório e consequente progressão da lesão, risco de exposição pulpar durante remoção do material durante escavação final, maior tempo e custo necessário de tratamento e desconforto ao paciente. SELAMENTO DE LESÕES DE CÁRIE APÓS REMOÇÃO PARCIAL DE DENTINA CARIADA Tem a mesma indicação do tratamento expectante (lesões profundas com risco de exposição) e difere por não preconizar a reabertura da cavidade. Tem o intuito de evitar a exposição da polpa pela remoção parcial do tecido cariado, deixando uma camada fina a mais espessa de dentina desmineralizada. Além disso, preconiza-se a remoção completa de dentina cariada das paredes circundantes e na parede de fundo utiliza-se apenas instrumentos cortantes manuais (AS PAREDES CIRCUNDANTES DA CAVIDADE DEVEM ESTAR LIMPAS E BEM SELADAS!). Utiliza-se material forrador (como cavidade bastante profunda) e a cavidade é restaurada na mesma sessão. A dentina cariada selada torna-se mais dura e escura, cai o número de microrganismos e aumenta a radiopacidade da dentina cariada. Apresenta, por fim, um resultado mais satisfatório em relação ao expectante para manter a vitalidade pulpar (OBSERVAR RISCOS/DESVANTAGENS DO TRATAMENTO EXPECTANTE) . Proteção pulpar direta Também chamado de capeamento pulpar direto. O seu diagnóstico clínico é: exposição mecânica acidental da polpa durante o preparo cavitário ou por fratura do dente. NÃO pode ser exposição por cárie (indicação para a endodontia, pois a polpa já está toda contaminada. Não pode ser hemorragia, pois esta indica um processo de inflamação pelo aumento da vascularização. O sangramento deve estar normal e com coloração vermelho vivo (a coloração marrom escuro indica necrose pulpar) e a polpa exposta não pode estar escurecida. Tem como objetivos recuperar e preservar as funções biológicas da polpa, anular a atividade microbiana oral, proteger a polpa de irritações e estimular a formação da barreira mineralizada. A principal condição para realizar a proteção pulpar direta é o paciente ser jovem, além disso o tamanho da exposição deve ser menor que 1 mm de diâmetro. O tempo de exposição tem que ser imediata ou até 6h. ➤ passo a passo: 1ª SESSÃO CLÍNICA: anestesia e isolamento do campo operatório, limpeza da cavidade com água de cal, controle da umidade e do sangramento com bolinha de algodão estéril na área de exposição, capeamento pulpar com pó ou pasta de hidróxido de cálcio ou MTA , realizando uma aplicação suave, sem fazer pressão e selar a cavidade com restauração provisória de CIV ou OZE. Aguarda de 40 a 60 dias e faz radiografia para acompanhar o caso. Remove curativo e restaura como uma cavidade bastante profunda.
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