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Linguística I apostila Unicesuma

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Prévia do material em texto

LINGUÍSTICA I
Professora Dra. Vera Lucia da Silva
GRADUAÇÃO
Unicesumar
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a 
Distância; SILVA, Vera Lucia da. 
 
 Linguística I. Vera Lucia da Silva. 
 Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018. Reimpresso em 2019.
 192 p.
“Graduação - EaD”.
 
 1. Linguística. 2. Linguagem. EaD. I. Título.
ISBN 978-85-459-1154-8
CDD - 22 ed. 411
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário 
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Impresso por:
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de Ensino de EAD
Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Diretoria Executiva
Chrystiano Minco�
James Prestes
Tiago Stachon 
Diretoria de Graduação e Pós-graduação 
Kátia Coelho
Diretoria de Permanência 
Leonardo Spaine
Diretoria de Design Educacional
Débora Leite
Head de Produção de Conteúdos
Celso Luiz Braga de Souza Filho
Head de Curadoria e Inovação
Tania Cristiane Yoshie Fukushima
Gerência de Produção de Conteúdo
Diogo Ribeiro Garcia
Gerência de Projetos Especiais
Daniel Fuverki Hey
Gerência de Processos Acadêmicos
Taessa Penha Shiraishi Vieira
Gerência de Curadoria
Carolina Abdalla Normann de Freitas
Supervisão de Produção de Conteúdo
Nádila Toledo
Coordenador de Conteúdo
Fabiane Carniel
Designer Educacional
Amanda Peçanha dos Santos
Projeto Gráfico
Jaime de Marchi Junior
José Jhonny Coelho
Arte Capa
Arthur Cantareli Silva
Editoração
Robson Yuiti Saito
Qualidade Textual
Cintia Prezoto Ferreira
Ilustração
Bruno Cesar Pardinho
Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos 
com princípios éticos e profissionalismo, não so-
mente para oferecer uma educação de qualidade, 
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão in-
tegral das pessoas ao conhecimento. Baseamo-nos 
em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional e 
espiritual.
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos 
de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 
100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: 
nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, 
Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos 
EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e 
pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros 
e distribuímos mais de 500 mil exemplares por 
ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma 
instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos 
consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos 
educacionais do Brasil.
A rapidez do mundo moderno exige dos educa-
dores soluções inteligentes para as necessidades 
de todos. Para continuar relevante, a instituição 
de educação precisa ter pelo menos três virtudes: 
inovação, coragem e compromisso com a quali-
dade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de 
Engenharia, metodologias ativas, as quais visam 
reunir o melhor do ensino presencial e a distância.
Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é 
promover a educação de qualidade nas diferentes 
áreas do conhecimento, formando profissionais 
cidadãos que contribuam para o desenvolvimento 
de uma sociedade justa e solidária.
Vamos juntos!
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está 
iniciando um processo de transformação, pois quando 
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou 
profissional, nos transformamos e, consequentemente, 
transformamos também a sociedade na qual estamos 
inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-
nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de 
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com 
os desafios que surgem no mundo contemporâneo. 
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de 
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo 
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens 
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica 
e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con-
tribuindo no processo educacional, complementando 
sua formação profissional, desenvolvendo competên-
cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em 
situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado 
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal 
objetivo “provocar uma aproximação entre você e o 
conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento 
da autonomia em busca dos conhecimentos necessá-
rios para a sua formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas 
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos 
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. 
Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu 
Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns 
e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das dis-
cussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe 
de professores e tutores que se encontra disponível para 
sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de 
aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranqui-
lidade e segurança sua trajetória acadêmica.
CU
RR
ÍC
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Professora Dra. Vera Lucia da Silva
Professora Formadora responsável pelas disciplinas de Linguística I e II 
do Centro Universitário Maringá (UNICESUMAR). Por meio da área de 
concentração em estudos linguísticos e linha de pesquisa em estudos do 
texto e do discurso, possui pós-doutorado pela Universidade Estadual de 
Maringá (UEM-PR/CAPES 5, 2016), doutorado pela Universidade Estadual 
de Campinas (UNICAMP-SP/CAPES 7, 2014), mestrado pela Universidade 
Estadual de Maringá (UEM-PR/CAPES 5, 2006) e graduação em Letras 
(Português/Francês) pela Universidade Estadual de Maringá (UEM-PR/CAPES 
5, em 2002). Especialista em Gestão Pública com ênfase em Direitos Humanos, 
pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG-PR, 2015). Pesquisadora 
e integrante do grupo de pesquisa GEPOMI/CNPQ-UEM. Atualmente, os 
interesses de pesquisas estão pautados teoricamente na Análise de Discurso 
de linha francesa, com dedicação às questões relacionadas à educação a 
distância, novas tecnologias e ensino de língua materna.
Link de acesso: <http://lattes.cnpq.br/3139374696864904>. 
SEJA BEM-VINDO(A)!
O advento da Linguística, no início do século XX, mediante o lançamento da obra Curso 
de Linguística Geral, de Ferdinand de Saussure, inovou os estudos da lingua(gem) huma-
na, que sempre estiveram presentes, desde a Antiguidade, na pauta dos debates dos 
estudiosos interessados em desvendar seus mistérios. No entanto, a partir desse acon-
tecimento, foi possível pensar em um conjunto de disciplinas que compõem o arcabou-
ço das ciências da lingua(gem). 
A teoria, no entanto, mesmo sendo básica, é capaz de iniciar (ou mesmo instigar) você 
a percorrer, cientificamente, o mundo da língua, prepará-lo para se dedicar à produção 
de novos conhecimentos nesses domínios, bem como pensar a língua longe do senso 
comum. E, aqui, é preciso iniciar uma travessia complexa, vislumbrando um desnudar-se 
de preconceitos e ousar ir adiante, perante uma ciência que pensa, exclusivamente, a 
língua na sociedade e que, por conta disso, não se sujeita ficar à sombra de conceitos 
cristalizados, como a velha definição de que no campo da língua somente há dois lados: 
o certo e o errado. Estamos diante de algo muito maior e precisamos saber que a nossa 
sociedade é líquida (não concreta, fixa, imutável), ou seja, a língua também é fluída e nos 
acompanha em todos os momentos (bons ou ruins) da nossa vida. 
Por isso, precisamos saber um pouco mais sobre ela e seus mistérios e isso será feito no 
percurso das cinco unidades que compõem este material que foi feito para você ousar a 
pensar a língua, a partir de um mergulho na teoria, mas sem deixar para trás seu conhe-
cimento vivido e adquirido cotidianamente. 
A primeira Unidade - O campo teórico da Linguística: conceitos gerais - situará você 
a partir da resposta sobre o que é linguística e qual é a sua função social, perpassan-
do uma reflexão sobreo seu objeto de estudo - a língua - e as diferenças entre elas, a 
linguagem e a fala. Momento em que algumas reflexões sobre a(s) gramática(s) serão 
suscitadas como convite a se desconstruir de alguns paradigmas, bem como assumindo 
postura acadêmica sobre seu papel social e no sistema educacional, especificamente, 
nas aulas de ensino de língua.
Na segunda Unidade - Estudos da linguagem humana: percurso histórico - faremos uma 
viagem de retorno pelo túnel do tempo, com parada programada na Antiguidade Clás-
sica, para abordarmos o modo como se conceberam tais estudos e, por conseguinte, os 
reflexos desses estudos nos dias atuais, em lugares pontuais, como: Egito, Índia, Arábia, 
Grécia e Roma. O objetivo maior aqui é não só contar uma história sobre os estudos da 
linguagem em tempos tão distantes do nosso, mas também despertar em você algumas 
reflexões sobre o fato de que a língua sempre foi (e é) uma ferramenta estratégica no 
funcionamento social, político, cultural e religioso dos povos. Você já sabe, mas não 
custa lembrar que a língua também é um instrumento utilizado nas divisões de classes 
e relações de poder. 
APRESENTAÇÃO
LINGUÍSTICA I
Na terceira Unidade - Os estudos pré-saussurianos da linguagem: da gramática espe-
culativa à neogramática - iniciaremos nosso retorno no túnel do tempo e agendamos 
a primeira parada no século XIII para refletirmos sobre os estudos da lingua(gem). Para 
tanto, será selecionada a gramática de cada período como ferramenta de discussão 
sobre o modo como a língua era pensada em cada momento, a saber: gramática espe-
culativa, de Port-Royal, histórico-comparativa e a neogramática, no final do século XIX. 
Nesse entremeio, faremos uma parada rápida para relatar alguns fatos históricos que 
contribuíram para a formação da nossa Língua Portuguesa Brasileira, pois ela é o tema 
central das nossas reflexões, e precisamos compreendê-la para além do público leigo. 
Na quarta Unidade - Ferdinand de Saussure: o breve século XX e a fundação da 
Linguística - nossa parada tem como objetivo compreender as bases teóricas que 
deram suporte ao início do movimento denominado Estruturalismo, responsável 
pela reconfiguração dos estudos sobre a língua até então desenvolvidos, a partir 
das reflexões de Saussure, o pai da Linguística Moderna. Passaremos a pensar a 
língua, considerando a biografia da vida acadêmica desse mestre preocupado em 
desvendar os segredos de uma habilidade exclusivamente humana, resumida na 
importante obra denominada Curso de Linguística Geral (CLG) e nos avanços geo-
gráficos da teoria do continente europeu para o americano, incluindo o Brasil e seus 
desdobramentos posteriores. 
Na quinta Unidade - Os principais conceitos da Linguística sincrônica de Ferdinand 
de Saussure - a nossa última parada é inteiramente dedicada à apresentação das di-
cotomias saussurianas e às implicações destas nas teorias subsequentes, pois é por 
meio delas - língua e fala, significado e significante, diacronia e sincronia, sintagma 
e paradigma - que os linguistas tentam simplificar a base teórica saussuriana que 
revolucionou os estudos acerca da língua, bem como provocou os desdobramentos 
teóricos e metodológicos, culminando em vários campos de saberes sob diferentes 
perspectivas, as denominadas teorias linguísticas pós-estruturalistas. Alguns desses 
campos serão apresentados em Linguística II, mas não nos preocupemos com essa 
viagem agora, pois o momento pede uma preparação para um mergulho em um 
mar teórico que nunca termina de dizer o que tem para ser dito.
Por isso, convido você, aluno(a), a iniciar a leitura deste material e espero que ele 
seja bastante proveitoso, atinja o objetivo de apresentar a ciência linguística, bem 
como instigar e provocar você a aceitar o desafio de continuar refletindo sobre e 
por meio desta corrente teórica denominada Linguística. Sucesso e bons estudos!
APRESENTAÇÃO
SUMÁRIO
09
UNIDADE I
O CAMPO TEÓRICO DA LINGUÍSTICA: CONCEITOS GERAIS
15 Introdução
16 Linguística? O Que é Isso? 
21 Delimitação do Objeto de Estudo da Linguística 
23 Linguagem, Língua e Fala: Diferenças Conceituais 
30 A(s) Gramática(s): Consensos, Dissensos e Limites 
36 Linguagem Humana e de Outros Animais: A Dança das Abelhas 
42 Afinal, Para que Serve a Linguística? 
46 Considerações Finais 
53 Referências 
54 Gabarito 
UNIDADE II
ESTUDOS DA LINGUAGEM HUMANA: PERCURSO HISTÓRICO 
57 Introdução
58 A Linguagem Humana no Túnel do Tempo 
61 Os Estudos da Linguagem no Egito 
62 Os Estudos da Linguagem na Índia 
65 Os Estudos da Linguagem na Arábia 
68 Os Estudos da Linguagem na Grécia 
73 Os Estudos da Linguagem em Roma 
77 Considerações Finais 
SUMÁRIO
10
85 Referências 
86 Gabarito 
UNIDADE III
OS ESTUDOS PRÉ- SAUSSURIANOS DA LINGUAGEM: DA GRAMÁTICA 
ESPECULATIVA À NEOGRAMÁTICA
89 Introdução
90 Os Estudos da Linguagem na Idade Média: A Gramática Especulativa 
92 Os Estudos da Linguagem na Idade Moderna: A Gramática Geral ou de 
Port-Royal 
93 Do Lado de cá do Atlântico: Um Passeio pela Língua Portuguesa Brasileira 
102 Os Estudos da Linguagem na Idade Contemporânea: A Gramática 
Histórica-Comparativa e a Neogramática
114 Considerações Finais 
122 Referências 
123 Gabarito 
UNIDADE IV
FERDINAND DE SAUSSURE: O BREVE SÉCULO XX E A FUNDAÇÃO DA 
LINGUÍSTICA
127 Introdução
128 Ferdinand de Saussure: Sinopse Biográfica 
130 História e Desenvolvimento do Estruturalismo: o Corte Saussuriano 
SUMÁRIO
11
135 O Curso de Linguística Geral (CLG): (in)Certezas Sobre um Apócrifo 
137 Expansão do Estruturalismo: Europa e AméricA 
142 Jovem Linguística à Brasileira: Breve Percurso Histórico 
145 Um Mergulho nos Conceitos Teóricos Saussurianos 
146 Considerações Finais 
153 Referências 
154 Gabarito 
UNIDADE V
OS PRINCIPAIS CONCEITOS DA LINGUÍSTICA SINCRÔNICA DE 
FERDINAND SAUSSURE
157 Introdução
158 O Movimento Teórico de Ferdinand de Saussure: as Dicotomias 
162 A Dicotomia Língua e Fala 
166 Teoria do Signo Linguístico e a Dicotomia Significado e Significante 
172 A Dicotomia Diacronia e Sincronia 
176 A Dicotomia Sintagma e Paradigma 
180 Considerações Finais 
188 Referências 
189 Gabarito 
190 Conclusão 
191 Anotações 
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Professora Dra. Vera Lucia da Silva
O CAMPO TEÓRICO DA 
LINGUÍSTICA: CONCEITOS 
GERAIS
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Apresentar a ciência da língua e o seu objeto de estudo.
 ■ Promover reflexões sobre a língua dentro da Linguística.
 ■ Estabelecer a distinção entre linguagem, língua e fala.
 ■ Conhecer a(s) gramática(s).
 ■ Refletir sobre as diferenças entre linguagem humana e de outras 
espécies.
 ■ Contextualizar a aplicabilidade da linguística por meio de seus 
campos de saberes.
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ Linguística? O que é isso?
 ■ Delimitação do objeto de estudo da linguística
 ■ Linguagem, língua e fala: diferenças conceituais
 ■ A(s) gramática(s): consensos, dissensos e limites
 ■ Linguagem humana e de outros animais: a dança das abelhas
 ■ Afinal, para que serve a linguística?
Introdução
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INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), o objetivo principal desta Unidade I é inseri-lo no conte-
údo que será abordado em Linguística I, enquanto ciência que se preocupa em 
desvendar os segredos do seu objeto de estudo, ou seja, a língua. Esta merece 
que seja refletida, como uma característica exclusivamente humana, indepen-
dentemente do lugar onde nascemos e/ou a cultura em que vivemos e o nosso 
grau de escolaridade. 
Por isso, nossa pretensão é inserir você no mundo da ciência da língua, por 
meio de informações teóricas básicas que servirão como suporte na compreen-
são das unidades posteriores. Diante de um conteúdo multifacetado, foi preciso 
fazerrecortes e escolhas teóricas que, inicialmente, buscará uma resposta para 
a questão: o que é linguística?
Trataremos, também, de temas essenciais para compreender essa ciência 
e, por isso, apresentaremos as diferenças básicas entre linguagem, língua e fala, 
priorizando um item para o seu objeto específico de estudo, ou seja, a língua 
que não é estanque e vai acompanhando a evolução da sociedade - um dado 
que justifica uma ciência própria para se pensar sobre ela, além de conceitos já 
cristalizados pela nossa gramática normativa tradicional. Esta não deixa de ser 
um importante instrumento de estudo, nas aulas de língua portuguesa brasi-
leira, mas não deve ser o único, pois há outras gramáticas oriundas de projetos 
ousados de pesquisadores inovadores que romperam a tradição, as quais serão 
apresentadas neste espaço.
Ademais, a língua, muito mais do que qualquer outra característica, distin-
gue o ser humano de outros animais, pois consegue adaptar-se às mais diversas 
situações, encontrando formas eficientes para se comunicar com seus pares. É 
sobre tais ideias que iremos discutir, no percurso desta unidade, e para dar ares 
de fecho, encerraremos com algumas questões que justificam a importância da 
linguística para você que optou em manejar a língua de forma profissional.
O CAMPO TEÓRICO DA LINGUÍSTICA: CONCEITOS GERAIS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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LINGUÍSTICA? O QUE É ISSO?
Para definir a linguística, é necessário, inicialmente, refletir sobre dois aspectos 
ligados ao fator temporal: 
a) A linguística enquanto campo do conhecimento.
b) A linguística enquanto disciplina atual do curso de Letras e outras áreas 
que necessitam dela para desenvolver suas teorias. 
Enquanto campo do conhecimento, Altmann (2013, on-line)1 afirma que a lin-
guística é muito antiga, pois, a partir do momento em que as pessoas passaram 
a refletir sobre sua língua e a de outros povos, já é possível estabelecer um marco 
histórico para o conhecimento da linguagem humana.
Esta abordagem histórica é a temática deste material de estudo, na Unidade 
II, mas é necessário registrar, sucintamente, suas fases neste momento em que 
estamos iniciando este percurso. De acordo com Saussure (1993, p. 7), “a ciên-
cia que se constitui em torno dos fatos da língua passou por três fases sucessivas 
antes de reconhecer qual é o seu verdadeiro e único objeto”. Segundo o autor, 
tais fases subdividem-se em:
a) Gramática: um modelo de estudo normativo, baseado na lógica e des-
tituído de visão científica, inaugurado pelos gregos com o objetivo de 
formular regras para estabelecer o modo certo e errado de usar a língua.
Linguística? O Que é Isso?
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b) Filologia: um modelo de estudo voltado para os textos produzidos em 
diferentes épocas, buscando as peculiaridades dos autores, bem como 
explicando e decifrando as produções textuais redigidas em língua arcaica 
e obscura. 
c) Gramática comparativa: iniciou-se quando se descobriu que línguas, 
como o sânscrito, o germânico, o grego e o latim poderiam ser compara-
das entre si e se concluiu que elas pertenciam a uma única família.
Tais fases são denominadas, por Câmara Júnior (2011), como pré-linguística e 
trouxeram contribuições importantes para os estudos linguísticos estudados na 
atualidade. No entanto, o propósito desta unidade é produzir reflexões sobre as 
condições teóricas e práticas da linguística moderna apresentada no início do 
século XX, a partir do lançamento da obra Curso de Linguística Geral (CLG) do 
linguista Ferdinand de Saussure. Informações que nortearão este percurso ini-
cial, bem como as reconfigurações em que passaram os estudos do campo da 
linguagem e seus desdobramentos posteriores serão parcialmente apresentados 
durante a disciplina de Linguística II.
A linguística, enquanto campo do conhecimento que fazia parte das reflexões 
sobre a língua, desenvolvida pelos povos da antiguidade clássica até o século XIX, 
foi, primordialmente, constituída para atender as necessidades sociais, políticas, 
culturais e econômicas daquele momento histórico. Como tais fatores serão tra-
tados nas Unidades II e III, o foco, neste momento, será dedicado aos conceitos 
gerais desenvolvidos a partir do início do século XX, para que você seja capaz 
de se situar nas trilhas desta disciplina.
Enquanto tema atual, Weedwood (2012) afirma que a palavra linguística 
começou a ser utilizada, em meados do século XIX, para estabelecer as diferen-
ças entre uma abordagem inovadora sobre a linguagem que estava começando 
a se desenvolver naquele momento e uma abordagem tradicional. Diante da 
pergunta que abre este tópico e, portanto, exige uma resposta, a maioria dos 
materiais teóricos, referente ao assunto, define a linguística como a ciência que 
estuda a linguagem humana em sua fase atual ou em um período determinado, 
denominado sincrônico (a dicotomia, diacronia e sincronia, que veremos na 
Unidade V).
O CAMPO TEÓRICO DA LINGUÍSTICA: CONCEITOS GERAIS
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E18
Rememorando: estamos lidando com uma ciência que tem como objetivo 
estudar, cientificamente, a linguagem humana e que foi, oficialmente, inaugu-
rada apenas no início do século XX, precisamente em 1916, com o lançamento 
do CLG, obra que trouxe no seu arcabouço o pensamento póstumo e inovador 
do linguista Ferdinand de Saussure (a Unidade IV será dedicada à teoria estru-
turalista saussuriana, que compôs a linguística moderna).
A linguística foi concebida por Saussure, a partir de um projeto amplo, pois 
ela faz parte da semiologia (do grego semion, que significa estudo dos signos/
sinais), um campo de conhecimento que estuda a ciência geral dos signos. Para 
Cunha, Costa e Martelotta (2013), a semiologia não se interessa somente pela lin-
guagem humana, mas por qualquer sistema de signos naturais - fumaça, nuvens 
etc. - e culturais - sinais de trânsito, gestos, dança etc. A linguística é um ramo 
da semiologia que tem interesse particular em pesquisas voltadas para as lín-
guas naturais: português, inglês, francês, italiano, alemão etc. 
Para os autores, o termo “linguagem” é socialmente praticado a partir de uma 
multiplicidade de sentidos, diante de qualquer situação de comunicação - lingua-
gem gestual, sonora, visual, artística, de sinais, de programação, escrita, verbal 
etc. - produzindo dúvidas no iniciante. Por isso, para se compreender a comple-
xidade da linguagem humana, estudada cientificamente a partir do século XX, 
é preciso depreender suas diferentes vertentes de estudo apresentadas por meio 
de métodos e pesquisas diversas que estabelecem diferentes formas de conside-
rar suas unidades básicas de análise.
Apesar de a linguística configurar-se como uma ciência autônoma, pois 
determinou um objeto de estudo e uma metodologia própria para estudar esse 
objeto (a língua), não deixou de estabelecer relações com outras ciências, a fim 
de demarcar o lugar da linguagem na hierarquia de campos do conhecimento, 
como: filosofia, psicologia, filologia, sociologia etc.
Por isso, sua postura teórica implica, apenas aparentemente, um isolamento 
de outras disciplinas, pois tal autonomia se configura como relativa e isso esta-
belece relações ainda mais próximas e bastante frutíferas com outras áreas do 
conhecimento. Isto é: 
[...] isso não significa dizer que a linguística encontra-se isolada das 
demais ciências e de outras áreas de pesquisa. Ao contrário, existem 
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relações bastante estreitas entre elas, o que faz com que, algumas vezes, 
seus limites não se apresentem nitidamente. Dessemodo, a caracteriza-
ção dessas disciplinas é útil na medida em que permite delimitar mais 
claramente o campo de atuação da linguística, contrastando-o com o 
de outras ciências (CUNHA; COSTA; MARTELOTTA, 2013, p. 22).
Essa autonomia relativa estabelece relações tanto com outras áreas científicas 
quanto dentro dos seus próprios limites, provoca discussões internas entre pen-
sadores exclusivos da linguagem humana, resultando em diversas ramificações de 
pesquisas dentro do campo da linguística. Apresentamos as principais ramifica-
ções que compõem o arcabouço teórico, hoje estudado por meio das disciplinas 
norteadas pela linguística, subdivididas, de acordo com Weedwood (2012), em: 
microlinguística e macrolinguística.
a) Microlinguística: refere-se a uma visão restrita da língua analisada em si 
mesma. As disciplinas desse campo são pertencentes ao chamado “núcleo 
duro” da linguística: fonética, fonologia, sintaxe, morfologia, lexicologia 
e semântica.
b) Macrolinguística: trata-se das diversas áreas reconhecidas da linguística 
que abrangem temáticas diversas: linguística histórica, análise da conver-
sação, psicolinguística, neurolinguística, linguística do texto, dialetologia, 
linguística computacional, estilística, gerativismo, sociolinguística, prag-
mática, análise de discurso etc.
A referida subdivisão fornece pistas concretas sobre as diferentes vertentes de 
estudos da linguagem em uma ordenação hierárquica e métodos de pesquisa 
diversos, bem como diferentes formas de considerar as suas unidades básicas de 
análise. Desse modo, a linguística, com sua diversidade teórica, é afirmada no 
meio acadêmico como uma ciência com objeto e metodologia de estudo próprio:
[...] reivindica sua autonomia em relação às outras áreas do conheci-
mento. No passado, o estudo da linguagem se subordinava, por exem-
plo, às investigações da Filosofia através da Lógica. Sobretudo a partir 
do século XX, com a publicação do Curso de linguística geral (marco 
inicial da chamada lingüística moderna), obra póstuma do linguista 
suíço Ferdinand de Saussure, instaura-se uma nova postura, e os es-
tudiosos da linguagem adquirem consciência da tarefa que lhes cabe: 
utilizando-se de uma metodologia adequada, estudar, analisar e des-
crever as línguas a partir dos elementos formais que lhes são próprios 
(CUNHA; COSTA; MARTELOTTA, 2013, p. 22).
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Reprodução proibida. A
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Essa postura teórica implica apenas, aparentemente, um isolamento de outras 
disciplinas. No entanto, com isso são estabelecidas relações ainda mais próximas 
e bastante frutíferas com outras áreas do conhecimento. Isto é: 
[...] isso não significa dizer que a lingüística encontra-se isolada das 
demais ciências e de outras áreas de pesquisa. Ao contrário, existem 
relações bastante estreitas entre elas, o que faz com que, algumas vezes, 
seus limites não se apresentem nitidamente. Desse modo, a caracteriza-
ção dessas disciplinas é útil na medida em que permite delimitar mais 
claramente o campo de atuação da linguística, contrastando-o com o 
de outras ciências. Temos, assim, duas faces da relação entre linguística 
e as demais ciências (CUNHA; COSTA; MARTELOTTA, 2013, p. 22).
Aprendemos, até aqui, do que se trata a ciência linguística e algumas das suas rami-
ficações (gerativismo, sociolinguística, semântica, pragmática e Análise do Discurso, 
que serão estudadas durante o percurso da disciplina de Linguística II), mas ainda 
falta uma questão essencial para avançarmos no nosso aprendizado, pois estamos 
lidando com uma temática que tem um interesse específico dentro dos temas relacio-
nados à linguagem humana, fazendo-se necessário apresentar seu objeto de estudo.
Profissão? Linguista.
Os cursos de Letras devem proporcionar aos estudantes a possibilidade de 
refletir sobre os fatos linguísticos, por meio de reflexões críticas fundamen-
tadas teoricamente. O objetivo é fazer com que o futuro linguista aproprie-
-se de conceitos que o capacite a operar com os fatos da linguagem huma-
na, pelas observações investigativas que permitam ultrapassar as barreiras 
do senso comum.
O linguista, ao se estabelecer profissionalmente, elabora diferenças ele-
mentares entre a linguagem e a língua e elege esta como sua ferramenta 
de trabalho. Na condição de cientista, observa a estrutura e os aspectos das 
línguas naturais, especificamente, os processos que estão na base de sua 
utilização enquanto instrumentos de comunicação. 
Fonte: adaptado de Fiorin (2012) e Cunha; Costa e Martelotta (2013).
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DELIMITAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO DA 
LINGUÍSTICA 
Já afirmamos que a linguística é uma ciência que tem como objetivo central estu-
dar a linguagem humana, manifestada em forma de línguas naturais (português, 
inglês, francês, italiano etc.), com o propósito de depreender suas leis, regras e 
tendências gerais que regulam seu sistema imanente, ou seja, tais leis, regras e 
tendências estão contidas, inseparavelmente, na sua natureza.
A linguística oficialmente inaugurada com o registro do pensamento saussu-
riano no CLG e apresentada, geograficamente, aos pensadores de alguns países 
do continente europeu, por intermédio de conferências denominadas Círculos 
Linguísticos, apresenta-se, enquanto ciência, com características próprias que 
delimita um objeto de estudo. No entanto, é preciso tecer algumas considerações 
sobre esse objeto de estudo da linguística, enquanto componente essencial das 
pesquisas desenvolvidas pelos linguistas que encontrou, nessa ciência, um lugar 
“[...] para uma hipótese, para um ‘ponto de vista’, e a indicação de um objeto e 
de um método. Esse objeto é a ‘língua’, componente social da linguagem, que se 
impõe ao indivíduo e se opõe à ‘fala’ [...]” (DUBOIS et al., 2001, p. 391).
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Embora compartilhando o mesmo objeto de estudo, ou seja, a língua, as 
diferentes teorias linguísticas não partilham da mesma concepção de língua, 
havendo, portanto, diferentes orientações teóricas sobre o mesmo objeto. A lin-
guística apresenta múltiplas concepções acerca do que é e de como se constitui 
a língua enquanto sistema que se apresenta como o objeto de estudo dessa ciên-
cia. A respeito disso, Neves (2002, p. 11) mostra que, depois de
Organizada a ciência linguística, passa a língua a ser verdadeiro objeto 
de estudo, constituindo-se um método próprio de investigação linguís-
tica. Diferentes correntes, então, se sucedem, assentadas em diferentes 
concepções de linguagem e governadas por diferentes finalidades. Cen-
tradas nas estruturas, ou centradas em princípios gerais, centradas no 
conhecimento linguístico do falante, ou centradas no uso, as diversas 
correntes explicitam seus princípios e oferecem suas análises, seguindo 
tais princípios.
Dessa maneira, relativamente ao seu objeto de estudo e às metodologias empre-
gadas, já registramos as fases dos estudos sobre a linguagem humana, mas, para 
atender aos objetivos propostos neste tópico, que é definir o objeto de estudo 
da linguística atual, cabe registrar a fase da linguística que se refere ao início do 
século XX até os dias atuais, que se caracteriza pelo seu caráter sincrônico e pela 
sua diversidade teórica.
Após a publicação do CLG, de Ferdinand de Saussure, a investigação linguís-
tica voltou sua atenção para o caráter sistêmico da língua, e as teorias linguísticas 
contemporâneas dedicam-se a questões bastante pontuais sobre seu objeto de 
estudo, apresentado mediante definições multifacetadas, em conformidade aos 
objetivos da ramificação estudada, dentro deste campo de estudos.Isso significa que há um único objeto de estudo para a linguística, enquanto 
ciência geral, mas suas definições são heterogêneas para atender as especificida-
des dos objetivos propostos para cada corrente da linguística. Você terá acesso 
a algumas dessas definições, durante a disciplina de Linguística II, pois, neste 
momento inicial, apresentaremos seu objeto, por meio de Saussure e a oficiali-
zação da linguística como ciência. Pela concepção saussuriana, tratar do objeto 
da linguística é mergulhar em um dilema, pois: 
[...] se estudarmos a linguagem sobre vários aspectos ao mesmo tempo, 
o objeto da Linguística nos aparecerá como um aglomerado confuso 
de coisas heteróclitas, sem liame entre si. Quando se procede assim, 
abre-se a porta a várias ciências - Psicologia, Antropologia, Gramática 
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normativa, Filologia, etc. -, que separamos claramente da Linguística 
(SAUSSURE, 1993, p. 16).
É por conta dessa afirmação que Saussure nomeia a língua como o objeto de estudo 
da linguística com o objetivo de tomá-la como norma de todas as outras manifesta-
ções da linguagem, pois, segundo ele, mesmo diante de tantas dualidades, somente 
ela parece suscetível de uma definição que a caracteriza como um sistema de sig-
nos convencional e articulado, ocupando o primeiro lugar no estudo da linguagem. 
Delimitamos o objeto de estudo da linguística, pois essa informação é essen-
cial para avançarmos neste campo do conhecimento que tem como objetivo o 
estudo da linguagem humana. Portanto, precisamos depreender, neste momento 
do curso, que, na linguística, a língua ocupa posição diferenciada em relação, por 
exemplo, à gramática tradicional e em outros campos do saber e, para compre-
endê-la de um modo mais amplo, é necessário, também, abordar as diferenças 
entre linguagem, língua e fala.
LINGUAGEM, LÍNGUA E FALA: DIFERENÇAS 
CONCEITUAIS 
Como estamos tratando de uma ciência que tem por objetivo refletir, cienti-
ficamente, sobre a linguagem humana, é necessário estabelecermos algumas 
subdivisões tanto para auxiliar na compreensão quanto para didatizar a apresen-
tação de elementos básicos constituintes da linguística e que causam “confusão” 
entre os leigos que se apropriam dos referidos termos como algo unificado 
(tomam um pelo outro). Há uma indagação saussuriana que confirma a existên-
cia de outros elementos, além da língua, para a ciência linguística: 
Mas o que é a língua? Para nós, ela não se confunde com a linguagem; é 
somente uma parte determinada, essencial dela, indubitavelmente. É, ao 
mesmo tempo, um produto social da faculdade de linguagem e um con-
junto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permi-
tir o exercício dessa faculdade nos indivíduos (SAUSSURE, 1993, p. 17).
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Desse modo, para entender o objeto 
de estudo da linguística, é necessário 
distinguir os conceitos de linguagem, 
língua e fala e lembramos que, na vida 
cotidiana, tais conceitos diluem-se na 
nossa condição de seres sociais que têm 
a língua como instrumento principal de 
comunicação a ser transmitida pela fala.
A linguagem refere-se, de 
forma bastante ampla, a sistemas 
de comunicação, e isso justifica sua 
impossibilidade de ser eleita o objeto 
de estudo da linguística, pois: 
[...] o termo ‘linguagem’ apresenta mais de um sentido. Ele é mais co-
mumente empregado para referir-se a qualquer processo de comuni-
cação, como a [...] linguagem corporal, a linguagem das artes, a lin-
guagem da sinalização, a linguagem escrita, entre outras (CUNHA, 
COSTA e MARTELOTTA, 2013, p. 15) . 
Isso posto, o conceito de linguagem é mais amplo do que aparenta ser à primeira 
vista, pois se refere não somente à linguagem verbal, mas também a todo e qualquer 
conjunto de sinais empregados pelo ser humano para estabelecer comunicação, seja 
por meio de sinais auditivos, visuais, seja por meio de linguagem corporal ou verbal. 
Esses sinais são convencionados por determinada comunidade, a fim de permi-
tir o entendimento mútuo ou, em certos casos, também o sentimento de exclusão.
Os autores salientam que, dentro desta concepção teórica, as línguas naturais, 
como o português, o inglês, o francês, o italiano etc., são formas de linguagem 
pelo fato de constituírem enquanto instrumentos capazes de possibilitar o pro-
cesso de comunicação entre os membros de uma comunidade. 
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Essa divisão entre o que é língua e o que é linguagem apresenta implicações 
no momento de compreender cientificamente esse fenômeno, pois há teorias 
que se voltam para o todo, procurando encontrar, na linguagem, o que há de 
universal. Outras teorias, por sua vez, analisam as línguas em particular, com o 
objetivo de encontrar estruturas comuns entre elas, de modo a definir como se 
estabelece o todo que é a linguagem. 
Para Saussure (1993), a linguagem é multiforme, heteróclita, possuidora 
de elementos físico (ondas sonoras), fisiológica (fonação e audição) e psíquica 
(imagem acústica e conceito). Podemos caracterizá-la como pertencente ao domí-
nio individual (o embrião) e social (de modo aproximado, todos reproduzem os 
mesmos signos, unidos aos mesmos conceitos)isto é, há um conhecimento lin-
guístico que todos os falantes encontram, ao nascer, bastando aprendê-lo.
A língua é a parte essencial, integral e capaz de permitir o exercício da facul-
dade da linguagem no indivíduo. Segundo o autor, ela se define como o produto 
que o indivíduo registra e é o objeto bem definido no conjunto heteróclito dos 
fatos da linguagem. Neste sentido, a língua é “a parte social da linguagem, exte-
rior ao indivíduo, que, por si só, não pode nem criá-la nem modificá-la; ela não 
existe senão em virtude de uma espécie de contrato estabelecido entre os mem-
bros da comunidade” (SAUSSURE, 1993, p. 22). 
Os conceitos apresentados operam diferenças entre a linguagem, aqui definida 
como heterogênea, e a língua, concebida como de natureza homogênea, defi-
nindo-se como um sistema de signos convencionados que estabelece a união do 
sentido (conceito/significado) e da imagem acústica (significante). Retomaremos, 
com mais informações explicativas sobre o signo linguístico, na Unidade V). 
Entretanto, para compreendermos as definições já apresentadas sobre a lingua-
gem e a língua, precisamos, também, refletir sobre algumas considerações sobre 
a fala, esta se define como ato individual de vontade e inteligência, utilizado para 
transmitir, por intermédio do aparelho fonador ou articulatório, o pensamento 
pessoal do falante.
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Tais concepções levam-nos a pensar que há modos diferentes de se falar uma 
língua, pois, segundo a teoria saussuriana, ela “se altera ou, melhor, evolui, sob 
a influência de todos os agentes que possam atingir quer os sons, quer os signifi-
cados” (SAUSSURE, 1993, p. 91). Embora haja uma resistência social em aceitar 
que a língua evolui mediante a atribuição de valores como certo ao modelo padrão 
canonizado e errado para as demais formas de expressão, o autor afirma ainda que 
“essa evolução é fatal; não há exemplo de uma língua que lhe resista. Ao fim de 
certo tempo, podem-se sempre comprovar deslocamentos sensíveis” (SAUSSURE, 
1993, p. 91), conforme observaremos no item sobre variação linguística.
VARIAÇÃO LINGUÍSTICA: É PRECISO ELIMINAR PRECONCEITOS
A língua constitui-se como um constructo sócio-histórico,que nunca perma-
nece estanque, posto que está sempre a sofrer alterações em todos os seus níveis, 
de modo a se adaptar à sociedade, à cultura e à situação em que é empregada. 
Esse caráter social e histórico é nitidamente percebido, se entrarmos em contato 
com diversos falantes e notarmos que nenhum deles fala da mesma forma. Essas 
diferenças encontradas em uma mesma língua constituem o que se denomina 
variação linguística, pois, assim como a sociedade muda (os costumes, a moda, 
as profissões, as tecnologias etc.), a língua também está em constante mutação. 
Para didatizar a questão aqui apresentada, amparamo-nos nos tipos de varia-
ções apresentadas por Guimarães (2012). No entanto, na prática, tais variações 
são interdependentes, ou seja, podem ser refletidas, simultaneamente, nos vários 
tipos que serão apresentados. Vejamos brevemente quais são os tipos de varia-
ção linguística mais usuais:
a) Variação histórica (ou diacrônica): define-se pelo uso de palavras con-
sideradas antigas e, portanto, já em desuso (fora da moda, arcaicas) por 
alguns grupos de falantes. Desse modo, diante das alterações que vão 
acontecendo na língua, ao longo do tempo, há grupos de pessoas (idosos, 
comunidades isoladas, grupos pertencentes a estratos sociais, culturais e 
economicamente excluídos por causa da pouca oportunidade de escola-
rização plena) que continuam usando tais palavras no seu cotidiano. De 
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acordo com a autora, um exemplo muito comum dessa variação é deno-
minado rotacismo (a troca do l pelo r). Exemplo: chicrete, praca, frauta, 
frecha (em vez de chiclete, placa, flauta e flecha).
Outro exemplo dessa variação encontra-se consagrado na literatura portuguesa, 
por meio de Os Lusíadas, de Luiz Vaz de Camões: a) Canto I: E não de agreste 
avena ou frauta ruda e b) Canto X: Doenças, frechas, e trovões ardentes. Neste 
contexto, a forma como tais palavras foram registradas atendia aos padrões da 
norma culta da língua portuguesa de Portugal daquela época. 
A explicação científica dessa variação (antes considerada correta, hoje vista 
como “errada” e, por conta disso, aqueles que falam e escrevem desse modo, são 
vítimas de preconceito) ocorre mediante um retorno histórico à língua latina e 
às origens da língua portuguesa. As palavras latinas, como placere, clavu e blandu 
foram incorporadas à língua portuguesa como prazer, cravo e brando, justifi-
cando, por analogia, os motivos que levam os falantes da nossa língua materna 
a enunciar dessa forma.
Outros fatores que podem ser registrados nesta variação são os avanços tec-
nológicos que, em pouco tempo, torna uma palavra obsoleta. Como exemplo, 
basta tentar um diálogo com um adolescente envolvendo assuntos sobre disco 
de vinil, fita magnética, disquete para perceber que a maioria não tem conheci-
mento sobre o significado de tais palavras.
b) Variação diatópica (ou regional): refere-se à região onde o falante nasceu 
ou reside, possibilitando variações na pronúncia, na morfologia ou sin-
taxe e no vocabulário (lexical) de um mesmo objeto. Essa variação pode 
estigmatizar quando é capaz de distinguir o falante como pertencente à 
zona rural ou falares urbanos de pessoas que habitam nas periferias e que 
não conseguem ascender socialmente, por não ter acesso à escolarização 
e aos serviços públicos básicos. Para Guimarães (2012), o preconceito 
não está ligado ao fato linguístico propriamente dito, mas às condições 
sociais e econômicas dos falantes. Como exemplo, apresentamos as seguin-
tes situações:
1. Variação na pronúncia: o r retroflexo, considerado caipira, comumente 
enunciado por pessoas das zonas rurais de São Paulo, sul de Minas e 
do Paraná. Ex: po[ ]ta, ve[ ]de, ma[ ], ca[ ]ta.
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2. Variação na morfologia e na sintaxe: as formas tu visse e sei não (em 
vez de tu viste e não sei) em regiões do Nordeste.
3. Variação lexical: dada a extensão territorial brasileira, há diferentes 
formas para designar um mesmo objeto ou alimento. Como exemplo: 
abóbora e mandioca, no Paraná, ou jerimum e macaxeira, no nordeste; 
menino, no Paraná, ou guri, no Rio Grande do Sul.
c) Variação diastrática (ou social): essa variação, segundo Guimarães (2012), 
vai além dos pares popular e culto ou pouco escolarizados e muito esco-
larizados, pois, além de considerar o registro de fala de acordo com a 
camada social e cultural do indivíduo, há também os seguintes fatores:
1. Escolaridade: quanto maior o grau de escolarização, maior é a proba-
bilidade de fala ou escrita aproximar-se da norma culta. Ex.: o falante 
escolarizado diminui a possibilidade de cometer a síncope da conso-
ante d em verbos no gerúndio (cantano, andano, correno em vez de 
cantando, andando, correndo).
2. Faixa etária: por um lado, falamos diferente do modo como nossos 
pais ou avós falam e, por outro, do modo como nossos sobrinhos, 
filhos ou netos falam.
3. Gênero: há pesquisas sociolinguísticas voltadas à questão de gênero, 
e já se comprovou que homens e mulheres apresentam diferenças 
notáveis no modo de se expressarem. De uma forma geral e diante 
do mesmo nível de escolarização, as mulheres tendem a obedecer à 
norma culta com mais regularidade do que os homens. Como exem-
plo, elas comumente mantém com mais regularidade o s e o m como 
marcas de plural no final das palavras (as crianças nadam).
4. Profissão e grupos sociais: cientistas (descobrimos que Bauhinia for-
ficata - árvore com nome popular de pata de vaca - é uma planta 
eficaz para reflorestamento de áreas degradadas), policiais (os 3 ele-
mentos roubaram o banco e saíram em fuga) , médicos (infelizmente, 
o paciente não resistiu e veio a óbito). Há também marcas linguísticas 
- comumente denominadas gírias - de grupos específicos como surfis-
tas, skatistas, fãs de música sertaneja etc. - que se unem por afinidades. 
d) Variação diafásica (ou de registro formal e informal): é a alteração do registro 
de fala condicionada ao grau de formalidade da situação comunicativa em que 
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a pessoa encontra-se. Independentemente do grau de escolarização que temos, 
nosso comportamento linguístico altera diante das diversas situações a que esta-
mos submetidos. Há situações de oralidade ou escrita que exigem um grau de 
formalidade maior que outras em que o linguajar informal é cabível. Vejamos 
os seguintes exemplos: 
1) Situação informal: conversa entre familiares ou amigos, recado no 
whatsapp no grupo de amigos íntimos etc.
2) Situação formal: conferência, reunião de departamento, sermão, cor-
respondência oficial, sentença judicial etc.
Nessa variação, é importante destacar que, independentemente do seu grau de 
escolarização, seu comportamento linguístico em um encontro de amigos da 
faculdade é diferente da sua participação em uma reunião com os professores 
do curso que você coordena. Na primeira situação, é comum e aceitável você 
dizer: “Galera das antigas, hoje é só festança e momento de relembrar os velhos 
tempos”, e na segunda, faz parte do protocolo você iniciar a reunião da seguinte 
maneira: “Boa noite, hoje, precisamos rever o projeto pedagógico do curso de 
Letras e alinhar seu escopo às novas demandas exigidas pelo contexto social”.
e) Variação diamésica (ou de oralidade e escrita): de acordo com Guima-
rães (2012), entre os campos da oralidade e da escrita também há variações 
que apresentam vantagens e desvantagens, pois há diferentes habilidades 
de atuação exigidas para cada modalidade. Diante de um texto oral,a pro-
dução e a recepção ocorre simultaneamente e vem acrescido por gestos, 
expressões faciais, olhares, entonação da voz etc. que podem auxiliar o 
locutor para que sua mensagem seja compreendida.
Na modalidade escrita, a relação entre o autor e o leitor ocorre pela intermedia-
ção do texto disponibilizado no papel ou na tela para captar a mensagem emitida, 
por meio da escrita. Nesse caso, o texto pode ser revisado, antes de ser publicado 
e, diferentemente do texto oral, o autor pode fazer pesquisas durante o processo 
de escrita, possibilitando a produção de texto bem acabados.
Já sabemos distinguir e conceituar os três elementos básicos da linguística 
(linguagem, língua e fala) e também descobrimos que as variações são trata-
das, cientificamente, por meio da sociolinguística, é importante destacar que, 
entre tais elementos, língua, foi eleita o objeto de estudo oficial desta ciência. 
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Além das distinções aqui registradas, é preciso, também, pensar sobre a(s) gra-
mática(s) enquanto instrumento de ensino de língua materna e estrangeira, mas 
vislumbradas a partir de conceituações pertencentes ao senso comum e que pre-
cisam ser, urgentemente, desfeitas por aqueles que atuarão profissionalmente no 
campo da docência.
A(S) GRAMÁTICA(S): CONSENSOS, DISSENSOS E 
LIMITES 
Ao se estudar a linguagem, deparamo-nos, fre-
quentemente, com o termo gramática, e as 
concepções veiculadas por esse termo podem 
ser bastante variadas, tendo seguido, também, 
o desenvolvimento da linguística. Embora haja 
diversas concepções de gramáticas que, por 
vezes, parecem incompatíveis entre si, pois apre-
sentam diferentes metodologias e terminologias 
para considerar o mesmo fato – a língua(gem) – 
estas também mantêm pontos comuns entre si. 
Verificaremos isso nos parágrafos seguintes, em 
que descreveremos, brevemente, sua evolução his-
tórica, bem como as diferenças epistemológicas 
entre as diferentes acepções que o conceito gra-
mática traz para este campo de saberes.
Você já parou para pensar que somente as línguas mortas são estáticas, imu-
táveis e petrificadas? Já percebeu que a nossa língua portuguesa brasileira é 
flexível, variável e mutável? 
(Pedro Celso Luft)
A(s) Gramática(s): Consensos, Dissensos e Limites 
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Na Antiguidade, incluindo-se aí não somente a Grécia Antiga e Roma, mas 
também a China, a Índia e outros países dos continentes ocidental e oriental, a 
noção de gramática representava um conjunto de regras a serem seguidas para 
falar e escrever de forma clara e racional, com o objetivo de preservar a forma 
original da língua enquanto instrumento principal dos acordos políticos, ati-
vidades administrativas, preservação da cultura de uma nação e, também, o 
principal instrumento de celebração dos rituais religiosos, pois era considerada 
uma dádiva dos deuses.
Para Martelotta (2013), refletir sobre a gramática é algo que perdura desde a 
Antiguidade Clássica, quando os estudiosos debruçaram-se no ofício de interpre-
tar a natureza e o funcionamento das línguas. As ressignificações desses estudos 
foram ocorrendo, sobretudo, com a evolução dos estudos linguísticos, pois “essas 
interpretações foram sendo aperfeiçoadas, abandonadas e até mesmo retoma-
das em função de novas descobertas científicas” (MARTELOTTA, 2013, p. 44).
Por isso, ao lidar com este tema, devemos estar cientes do conjunto de inter-
pretações e descrições, simultaneamente, multifacetadas e singulares, movediças 
e fixas na tarefa de interpretação e descrição da língua. Entretanto, diante de uma 
pergunta aparentemente simples, como: O que é gramática?, obteremos como 
resposta de um público leigo algo em torno de que se trata de um manual que 
ensina as pessoas a falar e escrever de modo correto (certo), merecendo uma 
reflexão acurada sobre o referido termo que trará respostas diversificadas, resul-
tando em diversas concepções tipológicas.
TIPOS DE GRAMÁTICAS
Pensar sobre a(s) gramática(s) requer conscientização de que se trata de um campo 
vasto de delimitações que, grosso modo, pode ser definida, segundo Possenti 
(1996) como um “conjunto de regras” que serve como um guarda-chuva que, 
ao ser aberto, apresenta algumas gramáticas: tradicional, descritiva, estrutural, 
gerativa, funcional, pedagógica, do português falado, internalizada etc. Dentre 
as registradas, teceremos alguns comentários sobre as gramáticas tradicional, 
prescritiva e internalizada.
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a) Gramática tradicional (normativa ou prescritiva): surgiu sob os precei-
tos da tradição iniciada na Grécia antiga, em que filósofos, como Platão, 
interessavam-se em estudar a relação entre a língua, a realidade e o pensa-
mento. Segundo Martelotta (2013), Aristóteles também nutria uma visão 
que relacionava a linguagem à lógica, enquanto componente que descrevia 
a forma pura e geral do pensamento, sem se preocupar com os conteúdos 
veiculados. Seu objetivo principal seria prescrever o que seria a língua cor-
reta, apresentando características altamente regulatórias e distintivas da 
noção do que é certo ou errado na língua, perdurando até os dias atuais, 
sobretudo, entre o público leigo.
Segundo o autor, a cultura grega daquele tempo tinha como preocupação ditar 
padrões que refletissem o uso ideal da língua grega, por meio da imposição do 
dialeto ático, que passou a ser o dialeto oficial da Grécia como consequência da 
hegemonia política e cultural de Atenas, conquistada nas guerras contra os persas.
A base dessa gramática fundamenta-se em textos literários de escritores do 
passado, negligenciando o tratamento dado ao uso efetivo da língua. Assim, as 
características do estado atual da língua são deixadas de lado, apresentando, 
no lugar delas, arcaísmos que não se usam na língua atual. Segundo Martelotta 
(2013), ela apresenta uma visão preconceituosa do uso da linguagem e, por isso, 
não fornece aos estudiosos uma teoria adequada para descrever o funcionamento 
das línguas, justificando, portanto, a ausência de caráter científico.
É nessa questão que se pode perceber o caráter prescritivista (prescreve, dita 
as regras a serem seguidas) da gramática tradicional, visto que ela se preocupa 
mais em elencar exceções, a fim de que o falante evite “erros”, resultando em um 
conjunto de regras esparsas e complexas. Além disso, ela nutre definições vagas, 
impossibilitando a compreensão dos fatos da língua que, normalmente, resumem 
nas tradicionais classes de palavras, fazendo parte dos projetos pedagógicos para o 
ensino de língua portuguesa brasileira como um conjunto de regras que devem ser 
seguidas (ao menos deveriam, segundo a gramática tradicional). Mas a realidade 
cotidiana dos falantes da nossa língua materna apresentam outros resultados, na 
produção de regras que, de fato, são seguidas, explicada pela gramática descritiva.
b) Gramática descritiva: a língua, devido ao seu caráter sistêmico, apresenta 
regularidade e organização estrutural. Tais características são passíveis 
de análise e, consequentemente, de descrição das regras que são segui-
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das pelos falantes, surgindo daí o conceito de gramática descritiva. Por 
conseguinte, ela se difere da gramática normativa, pois tem por objetivo 
descrever as possibilidades combinatórias e discursivas de uma língua 
sem atribuição de juízos de valores sobre elas (se são certas ou erradas).
Para Possenti (1996), nesse tipo detrabalho, a preocupação central do linguista 
é explicitar as regras que, de fato, são utilizadas pelos falantes e, por esse motivo, 
todas as variedades da língua podem servir como objeto de estudo para o lin-
guista, prevalecendo, nesse tipo de gramática, o caráter científico. Para o autor,
pode haver diferenças entre as regras que devem ser seguidas e as que 
são seguidas, em parte como consequência do fato de que as línguas 
mudam e as gramáticas normativas podem continuar propondo regras 
que os falantes não seguem mais (POSSENTI, 1996 p. 65).
Para exemplificar, o autor apresenta algumas situações, dispostas a seguir:
1) As segundas pessoas do plural desapareceram nas situações práticas dos 
falantes, mas continua nas gramáticas. Dificilmente alguém diz “vós fos-
tes”, pois, hoje, o usual é dizer “vocês foram”.
2) A forma infinitiva tem a consoante “r” suprimida, ou seja, dificilmente, 
hoje, diz-se “vou dormir”, mas “vou dormi”.
3) Apenas algumas regiões ainda usam o pronome pessoal “tu”. Na maior 
parte do país, o pronome de segunda pessoa é “você”. Um fato interpretado 
como problema pela gramática normativa e para a gramática descritiva 
trata-se apenas de um fato regular e constante.
4) No lugar do pronome da primeira pessoa do plural “nós”, frequente-
mente, usa-se a forma “a gente” tanto na posição de sujeito “a gente foi” 
quanto na forma de complemento “ela viu a gente”.
Conforme salienta o autor, em se tratando do português do Brasil, a questão 
pronominal é outro aspecto relevante que deve ser estudado, pois, apesar dos 
pronomes átonos – me, te, o, a, lhe, nos, vos, os, as, lhes – serem encontrados 
nas gramáticas e ensinados nas escolas, sua aplicabilidade somente se justifica 
por saudosismo a Portugal, pois lá, eles são recorrentes e usuais pela população, 
independentemente do seu grau de instrução escolar.
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Enfim, a descrição de uma língua pode abranger diferentes níveis, partindo 
de unidades mínimas, como os fonemas e os morfemas, passando pelo estudo 
das palavras, dos sintagmas, das orações, dos enunciados, para chegar, por fim, 
ao texto e ao discurso. A descrição gramatical objetiva demonstrar a forma como 
essas unidades exteriorizam-se em forma de sons (fonologia); como diferentes 
unidades combinam-se para expressar novos significados e formar novas palavras 
(morfologia); como elas são dispostas e organizadas nas orações e nos enuncia-
dos (sintaxe), além de procurar explicar os diferentes valores e significados de 
uma mesma palavra de acordo com o contexto em que está situada (semântica).
c) Gramática internalizada: independentemente das regras que devem 
ser seguidas pela gramática tradicional e as que são realmente segui-
das e apresentadas pela gramática descritiva, há também as regras que o 
falante domina, estabelecidas de forma natural e paulatina na memória 
dos usuários, por meio das relações sociais com os demais membros da 
sua comunidade linguística. Segundo Possenti (1996), é por meio dessa 
gramática que os falantes são habilitados a produzir frases compreensí-
veis e reconhecíveis como pertencente a uma língua – no nosso caso, a 
língua portuguesa brasileira.
Nesse tipo de gramática, consideram-se as línguas como sistemas que regulari-
zam e possibilitam o emprego e a consequente combinação das unidades e das 
estruturas linguísticas que as compõem. São possibilidades linguísticas, das quais 
se servem os falantes de determinada comunidade. O conjunto de possibilida-
des linguísticas a que aludimos anteriormente se efetiva de maneira espontânea, 
bastando a criança estar em contato com determinada língua e receber estímu-
los positivos que contribuam para que ela a aprenda.
Por esse motivo, todo ser humano, em condições normais, domina sua lín-
gua com eficiência, capacitando-o a exteriorizar seu pensamento, embora nem 
sempre tenham consciência desse conhecimento. Pela gramática internalizada, 
a língua está no falante e, por conta disso, ele conhece muito bem a gramática 
dessa língua. Vamos exemplificar:
Você estranharia (ou não) os seguintes enunciados?
1) Quero sorvete um gostoso.
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2) Adoro passear com a minha pai.
3) Me dá um doce aí.
A situação 1, certamente, causa estranhamento, pois pelas regras da nossa língua 
materna, o artigo (um) deve preceder o nome (substantivo sorvete), ou seja, pela 
regra é: quero um sorvete gostoso. A situação 2 também causa estranhamento, 
pois houve uma violação da regra, já que na nossa língua o pronome possessivo 
minha, no contexto desse exemplo, é designado para referir-se à mãe (adoro pas-
sear com minha mãe). Nesses casos, há duas justificativas: ou o falante possui 
alguma patologia, ou é um estrangeiro que está aprendendo a nossa língua. A 
situação 3 não causa estranhamento, mesmo estando em desacordo com a norma 
culta da língua portuguesa que orienta não se iniciar uma frase com pronome 
oblíquo átono, exigindo, nesse caso, a ênclise (Dê-me um doce).
A gramática internalizada permite explicar a noção de gramaticalidade 
(aceitabilidade) e agramaticalidade (não aceitabilidade) da elocução linguística 
dos falantes. Assim, a língua internalizada pelos falantes não é homogênea e 
apresenta diferenças quanto ao seu uso em determinada região, nível social. A 
língua apresenta determinado grau de fixidez, no sentido de que não podemos 
alterá-la completamente para obter determinado propósito, pois temos sempre 
de nos valer de estruturas, formas e palavras estabelecidas em uma espécie de 
acordo implícito entre os falantes de uma comunidade linguística. A gramática 
internalizada define-se como um saber linguístico completo dos falantes que se 
explica como um:
[...] sistema de todas as regras necessárias para se poder falar. Mesmo a 
criança de cinco ou seis anos que já fala com desembaraço, e o mais hu-
milde dos analfabetos, necessariamente dominam a gramática completa 
que preside a seus atos de fala. Do contrário, não haveria como falar. Para 
a mais simples elocução, para juntar sílabas que seja, é indispensável do-
minar uma gramática (conjunto de regras) interior (LUFT, 1985, p. 41).
Além das questões já postas, o fato de a linguagem pertencer, exclusivamente, à 
raça humana é tema que sempre faz parte dos debates entre os linguistas, haja vista 
que as outras espécies também possuem habilidades para interagir, ou mesmo, 
estabelecer situações de ameaça e defesa com seus pares e às demais espécies. A 
respeito desse assunto, teceremos alguns comentários no tópico seguinte.
O CAMPO TEÓRICO DA LINGUÍSTICA: CONCEITOS GERAIS
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LINGUAGEM HUMANA E DE OUTROS ANIMAIS: A 
DANÇA DAS ABELHAS 
As questões voltadas para a linguagem humana e outros modos de interação ocor-
ridas entre demais espécies fazem parte da pauta de discussões entre profissionais 
da língua e de outros campos do conhecimento. Para nós, enquanto estudiosos 
que buscam compreender a língua como algo inerente e exclusivo da espécie 
humana, é importante compreender algumas características que justificam essa 
exclusividade. Por isso, iniciamos este tópico, apresentando as seguintes reflexões:
a) Quais são as propriedades definidoras da linguagem humana?
b) As outras espécies também possuem capacidade inata de linguagem?
O domínio da linguagem é intrínseco à nossa espécie, ou seja, onde há pessoas, há 
linguagem, justificando o marco estruturador de toda a nossa existência. Assim, 
a linguagem, estruturadora do ser humano, é onipresente, pois, ao ser submetido 
a condições apropriadas e com o devido estímulo cognitivo, desenvolve lingua-
gem articulada.É por ela que se estabelece as relações sociais, conforme afirma 
Neves (2002, p. 17):
[...] Por natureza racional, dotado de linguagem, o animal ho-
mem estrutura seu pensamento em cadeias faladas. Codifica-as e 
decodifica-as porque, independentemente de alguém que anun-
cie isso, ele é senhor das regras que regem a combinação dos 
elementos das cadeias que tem a faculdade de 
produzir. A partir dessa faculdade que 
lhe dá sua natureza, o homem cum-
pre sua vocação de animal políti-
co [...] comunicando-se com voz 
articulada que produz sentido e, 
assim, criando uma sociedade 
política (NEVES, 2002, p. 17).
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Tais afirmações que caracterizam a linguagem como uma exclusividade 
humana é embasada por um estudo que o linguista francês Émile Benveniste 
(1902-1976) desenvolveu, a partir de uma pesquisa elaborada pelo professor de 
zoologia Karl Von Frisch, da Universidade de Munique, sobre o modo como as 
abelhas são avisadas quando a operária descobre uma fonte de alimentos. 
Para o linguista, não interessava a logística das abelhas, mas o modo como 
conseguiam se comunicar de maneira tão eficiente, umas com as outras, na indi-
cação da distância e da direção da fonte alimentícia, mediante dois movimentos 
sincronizados (dança em círculo para avisar que a fonte de alimento está a um 
raio de 100 metros, ou vibrando o ventre e fazendo movimentos em forma de 
número oito para avisar que a fonte está entre cem metros e seis quilômetros de 
distância e também para apontar a direção).
As informações postas fizeram Benveniste (2005, p. 60) chegar à conclu-
são de que as outras espécies possuem códigos de sinais que as capacitam a se 
comunicarem e, apesar dessa característica, o termo linguagem do mundo ani-
mal “só tem crédito por abuso de termos”. Dessa forma, registramos aqui mais 
uma indagação: as informações ocorridas entre as abelhas como uma forma efi-
ciente de indicar o néctar pode ser considerada uma forma de comunicação ou 
mesmo uma linguagem?
As experiências com as demais espécies têm mostrado que os outros ani-
mais também são capazes de exteriorizar sentimentos, como medo, fome, cólera, 
dor, alegria etc. Por isso, as pesquisas atuais têm os designados como seres sen-
cientes (capazes de sentir as mesmas sensações primárias dos seres humanos).
Por esse motivo, quaisquer outras características biológicas e, inclusive, 
comportamentais aplicadas aos animais podem também ser aplicadas aos seres 
humanos. No entanto, a linguagem é característica única de nossa espécie e se 
diferencia das ditas “linguagens” animais por meio de algumas características, 
baseadas em Benveniste (2005):
O CAMPO TEÓRICO DA LINGUÍSTICA: CONCEITOS GERAIS
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LINGUAGEM HUMANA CÓDIGO DOS ANIMAIS (EX.: ABELHAS)
Canal: aparelho vocal. Canal: dança (gestual).
Limitação: não há limites de fuso 
horário.
Limitação: percepção visual e somente à 
luz do dia.
Provoca e produz respostas, 
transmite e retransmite a mesma 
mensagem.
Não exige resposta, mas conduta. Re-
produz a mesma informação a partir da 
realidade experimentada.
Uso ilimitado, criativo e variável de 
conteúdos no tempo e no espaço.
Uso limitado a um mesmo dado: direção e 
distância da fonte de alimento.
Predisposição inata, mas precisa ser 
aprendida (aspecto cultural).
Predisposição físico-biológica, herdada 
como programação genética de ação e 
reação.
Compõe-se de signos linguísti-
cos arbitrários, convencionados 
e articulados, decomponíveis em 
elementos menores.
Compõe-se de dados físicos, mediante cau-
salidade natural e seu conteúdo é global, 
não articulado e indecomponível.
Quadro 1-Linguagem humana e códigos dos animais
Fonte: a autora.
Algumas características apresentadas sobre a linguagem humana, no referido 
quadro, precisam ser exemplificadas em relação à questão dialogista, ao tempo 
e ao espaço de sua produção, à predisposição inata e cultural e sobre os signos 
arbitrários, convencionais e articulados.
a) Os deslocamentos temporais e espaciais da linguagem humana: os seres 
humanos, em qualquer língua, conseguem se referir a momentos que 
não se situam somente no presente, fazendo referências tanto ao passado 
quanto ao futuro que está por vir. Ex.:
1) Viajarei só depois de amanhã.
2) Comprei esse livro na semana passada.
Ademais, essa característica também se refere à capacidade do ser humano em 
produzir novas expressões linguísticas por meio da manipulação e da alteração do 
inventário linguístico que possui, com o intuito de descrever novos fatos, objetos e 
situações a partir de um número finito de elementos (as 26 letras do alfabeto brasi-
leiro), pois a capacidade de criação de novas expressões pelo ser humano é infinita.
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b) Predisposição inata e transmissão cultural da linguagem humana: dife-
rentemente de outras características herdadas geneticamente, a linguagem 
tem de ser transmitida culturalmente. Embora tenhamos predisposição a 
aprender uma língua, nossa capacidade de produzir expressões linguísti-
cas precisa ser estimulada.
c) Arbitrariedade, convencionalidade e articularidade dos signos linguísticos: 
ao afirmar a arbitrariedade e a convencionalidade dos signos linguísticos, 
significa que não há uma relação natural entre a forma linguística e o seu 
significado. Assim, se compararmos a palavra árvore em várias línguas, 
percebemos que nenhuma delas apresenta traços icônicos de motivação 
natural, remetendo a um objeto com tronco, galhos, ramos e folhas, geral-
mente verdes, que pode produzir flores e/ou frutos:
Português Alemão Inglês Russo Japonês Francês
árvore Baum tree djerevo ki arbre
Quadro 2 - Árvore(s)
Fonte: a autora.
Veja que, diante da palavra “árvore”, não há traço comprobatório que caracterize 
as palavras registradas nas diversas línguas e isso comprova sua arbitrariedade. 
No que concerne às onomatopeias – sons que parecem lembrar objetos ou ani-
mais: o tic tac do relógio e o cri cri do grilo etc. –, elas não são consideradas 
naturais, pois, se compararmos a título de exemplo o som do latido do cachorro 
em várias línguas, logo perceberemos sua arbitrariedade:
Português Inglês Alemão Russo Espanhol Chinês Japonês
au-au woof--woof wau-wau gav-gav
guau-
-guau
wou-
-wou wan-wan
Quadro 3 - Código canino
Fonte: a autora.
Por esse motivo, afirma-se que as palavras são arbitrárias e convencionais, ou seja, 
estabelecidas, mediante uma espécie de acordo, por uma comunidade linguís-
tica. Além das características já apresentadas, a linguagem humana também se 
define como duplamente articulada, sendo, pois, organizadas, simultaneamente, 
em dois níveis distintos: o morfema e o fonema. Segundo Benveniste (2005):
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IU N I D A D E40
[...] cada enunciado se reduz a elementos que se deixam combinar li-
vremente segundo regras definidas, de modo que um número bastante 
reduzido de morfemas permite um número considerável de combina-
ções [...] que é a capacidade de dizer tudo. Uma análise mais aprofun-
dada da linguagem mostra que esses morfemas, elementos de signifi-
cação, se resolvem, por sua vez, em fonemas, elementos articulatórios 
destituídos de significação [...] (BENVENISTE, 2005, p. 66).
Para compreendermos essa importante característica da linguagem humana, 
é necessário o acesso à definição dos seguintes termos: articulação, morfema 
e fonema. De acordo com Martelotta (2013), a noção de articulação deriva dodiminutivo articulus, do latim artus e quer dizer articulação dos ossos, membros 
ou partes do corpo. Ressignificando tal termo dentro do campo da linguagem, 
ao afirmar que a língua é articulada, significa que os enunciados produzidos em 
uma língua são divisíveis em partes/unidades menores, pois eles resultam da 
união de elementos encontrados em outros enunciados. 
Vamos exemplificar com a metáfora da locomotiva, por meio do enunciado: 
as malas são bonitas. Cada elemento/parte (os vagões da locomotiva) de As-malas-
são-bonitas é autônomo e pode ser retirado ou deslocado para outros enunciados, 
dependendo do interesse comunicativo do falante e das regras de formação da sua 
língua (neste caso, a língua portuguesa brasileira). Se retirar o elemento -s- de -as-, 
-malas-, -bonitas- passa a ser -a-, -m-a-l-a-, -bonita-. Neste caso, a retirada do 
elemento -s- fez o enunciado perder sua marca de plural (denominado como desi-
nência de número), passando para o singular. Nesse exemplo, o -s- é denominado 
um morfema, pois possui a menor unidade significativa da estrutura gramatical 
de uma língua, determinando seu estado de plural (mais de um).
Ao observar o adjetivo -bonita-, verifica-se que a vogal -a- é uma desinên-
cia que marca o gênero feminino (bonito, bonita). Neste caso, o -a- de bonita 
é um morfema, pois é a menor unidade significativa que marca o gênero do 
enunciado. O morfema, ao ser identificado nos enunciados por meio de radi-
cais, vogais temáticas, prefixos, sufixos e desinências, faz parceria com outro 
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elemento denominado fonema. Este é definido, por Martelotta (2013), como inte-
grante da parte fonológica das línguas e é utilizado para formar o corpo sonoro 
do vocábulo, possuindo função distintiva, pois, se trocar o som /a/ de -mala- e 
acrescentarmos o som -u-, obteremos um novo enunciado (-mula-).
O exemplo capacita-nos a compreender a linguagem humana como dupla-
mente articulada, porque sua manifestação ocorre mediante a união de elementos 
menores: o morfema que possui unidades significativas mínimas e o fonema (do 
grego som, voz) que significa o menor elemento sonoro capaz de estabelecer a 
distinção das palavras (de mala para mula, de pote para bote).
Por meio dos pressupostos teóricos apresentados por Martelotta (2013), 
a caracterização da linguagem como duplamente articulada resume-se em: a) 
primeira articulação ou morfologia: constitui-se de elementos dotados de sig-
nificação (morfemas) e b) segunda articulação ou fonologia: constitui-se de 
elementos não dotados de significado ou fonemas. Como exemplo dessa articu-
lação, o autor apresenta os fonemas /g/, /a/, /l/ e /a/ (gala). Se substituir o fonema 
/g/ pelo /m/, gala transforma-se em mala, /a/ por /u/, transforma-se em gula, /l/ 
por /t/ em gata, /a/ por /o/, em galo.
De acordo com Benveniste (2005), as características elencadas no quadro 
estabelecem as diferenças básicas entre a linguagem humana e as formas intera-
tivas e comunicacionais das outras espécies. Fato que justifica a inexistência de 
uma linguagem, mesmo rudimentar, entre os outros animais, mas um conjunto 
de código de sinais que os capacitam a interagir entre si e com outras espécies.
Para linguistas, como Lopes (2003), por mais eficiente que seja o sistema de 
comunicação das abelhas, não pode afirmar que se trata de uma linguagem com-
parável à humana, haja vista que a comunicação entre animais irracionais está 
voltada a questões de comportamento; enquanto a dos seres humanos, realizada 
por meio de signos vocais, está voltada tanto para a questão comportamental 
quanto para a intelectual e é desta última que a linguística se ocupa.
O CAMPO TEÓRICO DA LINGUÍSTICA: CONCEITOS GERAIS
Reprodução proibida. A
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AFINAL, PARA QUE SERVE A LINGUÍSTICA? 
Diante de algumas opiniões ancoradas em máscaras teóricas, mas repetidoras 
de um senso comum que defende, irrefletidamente, a ineficácia da linguística 
perante o contexto educacional de ensino de línguas, o referido tópico pauta-se 
na busca de argumentos científicos que defendem esta ciência.
Vimos, no tópico 1 desta unidade, que a linguística é estudada em um âmbito 
micro – fonética, fonologia, sintaxe, morfologia, lexicologia, semântica etc. – e 
macro – linguística histórica, análise da conversação, psicolinguística, neurolin-
guística, linguística do texto, dialetologia, linguística computacional, estilística, 
gerativismo, sociolinguística, pragmática, análise do discurso etc. Veremos o 
modo de aplicação de algumas dessas correntes, a título de exemplificação prática.
Por se tratar de uma disciplina essencial para se refletir a língua em sua 
dimensão social e também como guia para marcar limites culturais, ou mesmo 
sua difusão por migração ou empréstimo, conforme afirma Borba (1998), ao pen-
sar em nós enquanto seres sociáveis e amparados na linguagem como o carro 
chefe para guiar nossa vida em sociedade, a linguística é uma grande parceira 
para estudar a cultura de um povo, por meio de observações do modo como a 
realidade é representada pela língua, ou seja, pela visão peculiar que cada grupo 
tem do mundo, por intermédio, por exemplo, da antropologia linguística e da 
psicolinguística, além das já citadas.
Afinal, Para que Serve a Linguística? 
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Para o autor, a antropologia linguística subsidiará o pesquisador a refletir 
sobre como cada povo comporta-se diante de um objeto e, como exemplo, ele 
cita o caso do beija-flor. Para nós, brasileiros, a denominação é dada pela ativi-
dade da ave (beijar as flores), para os franceses a ave é oiseau-mouche (pássaro 
mosca) por causa do seu tamanho, e para os ingleses é humming bird (pássaro 
que zumbi) por causa do ruído que produz.
Segundo Cagliari (2001), a linguística fornece subsídios para estudar a língua 
por meio de várias áreas que compõem seu vasto campo teórico, a depender do 
ponto de vista e do interesse de cada pesquisador. Este pode desenvolver pesqui-
sas amparadas na fonética, fonologia, morfologia, sintaxe, semântica, pragmática, 
análise do discurso etc. Para o autor, por um lado, pode se estudar a língua pela 
fonética que se preocupa com sons da fala e os seus mecanismos de produção 
e audição, dando ênfase no aspecto descritivo da realidade fônica de uma lín-
gua, nas mais variadas situações. Por outro, ela também pode ser estudada por 
meio da fonologia que estuda os sons, a partir da sua estrutura funcional. Veja o 
seguinte exemplo: diante da pronúncia de potxi, txia, tudu e tapa por um falante, 
a fonética constata e descreve a diferença notada, e a fonologia interpreta essa 
diferença, atribuindo um valor único a esses dois sons, pois tx somente ocorre 
antes da vogal i e t antes de outras vogais, que não seja o i.
Por intermédio da morfologia, estuda-se as unidades mínimas dotadas de 
significados (morfemas) e suas possíveis combinações na formação de unidades 
maiores. Como exemplo: a palavra casinhas têm três morfemas: casa + inha + s.
A sintaxe também é uma área da linguística que fornece suporte teórico para 
explicar a estrutura sintática das construções das frases pela língua portuguesa 
brasileira. Exemplo: em eu achei a bola, há um sujeito (eu) + um predicado (achei 
a bola). A semântica também é uma área da linguística que se preocupa com o 
significado das palavras contextualizadas em textos falados e escritos, de uma 
forma diferente do modo como os dicionários atribui significados a ela. Cagliari 
(2001) exemplifica esta à aplicação dessa corrente teórica com a palavra manga:
[...] a palavra manga é ambígua quando tomada isoladamente, mas

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