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MEDICINA LEGAL – Parte 1 Profª Luciana Gazzola POLÍCIA CIVIL | RS D E L E G A D O D E P O L Í C I A Profª Luciana Gazzola www.acasadoconcurseiro.com.br Medicina Legal Profª Luciana Gazzola POLÍCIA CIVIL | RS Delegado de Polícia Edital MEDICINA LEGAL: 1. Introdução à medicina legal: conceito, importância, divisões, perícias e peritos, documentos médico-legais, elaboração do laudo pericial. 2. Traumatologia Forense: agentes mecânicos (perfurantes, cortantes, contundentes, perfurocortantes, cortocontundentes e perfurocontundentes); agentes físicos (calor, frio, eletricidade, pressão atmosférica, radiação); agentes químicos - toxicologia forense: cáusticos, envenenamento, tolerância e dependência. 3. Asfixiologia forense: conceito e clas- sificação das asfixias, asfixias por constrição do pescoço, asfixias por alteração do estado físico ambien- tal, asfixias por sufocação. 4. Sexologia Forense: himeneologia, exclusão médico-legal da paternidade, sexualidade anômala e criminosa, obstetrícia forense (fecundação, anticoncepção, gravidez, parto e puerpério, abortamento, infanticídio). 5. Embriaguez: exame clínico, fases da embriaguez, tipos de em- briaguez e aspectos médico-legais. 6. Tanatologia: conceitos de morte, cronotanatognose, causas jurí- dicas da morte (suicídio, crime, morte acidental, diagnóstico comparativo), morte súbita, fenômenos cadavéricos, lesões pré-mortem e pósmortem. 7. Resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) nº 2.132/2015. 8. Resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM) nº 1.779/2005. BANCA: Fundatec CARGO: Delegado de Polícia 7 Medicina Legal PERÍCIA MÉDICO-LEGAL E PERITOS 1. O que é a Medicina Legal? Para Lacassange, a Medicina Legal é “a arte de por os conceitos médico a serviço da Adminis- tração e da Justiça.” Para Flamínio Fávero é “a aplicação dos conhecimentos médico-biológicos na elaboração e na execução das leis que deles carecem.” Por esses conceitos pode-se ver que a Medicina Legal serve muito mais ao Direito do que à própria Medicina. Essa disciplina é, na verdade, a ciência que coloca à disposição do Direito, conceitos médicos preenchendo as leis e o conhecimento do jurista. Embora a medicina legal tenha um corpo de conhecimento autônomo, essa disciplina transita por várias áreas não só do direito, como também de outros ramos do conhecimento, como cri- minalística, sociologia, balística, física, química, patologia, ciência penal e política criminal. 8 2. Qual é o objeto de estudo da Medicina Legal? Perícia Médica: todo ato médico com o propósito de contribuir com as autoridades administra- tivas, policiais ou judiciárias com conhecimentos específicos da área médica. Assim, o papel da medicina legal nada mais é que produzir a prova, em questões que digam respeito especificamente à Medicina. 3. O que faz a Medicina Legal? A Medicina Legal presta esclarecimentos à justiça, presta esclarecimentos ao jurista, em suas mais diversas formas, preenchendo o conhecimento deste com informações técnicas que ele não dispõe, próprias da formação da profissão médica. a) âmbito criminal – uma perícia criminal vai fornecer elementos do corpo de delito em casos de homicídio, lesões, corporais, aborto... b) âmbito cível – interdições de capacidade civil, exame de DNA c) âmbito trabalhista – insalubridade, acidente de trabalho, doenças advindas do trabalho d) âmbito previdenciário – auxílios doença, aposentadoria por invalidez (INSS) Assim, a todo momento em que a Medicina for chamada a dialogar com o Direito, estará pre- sente a Medicina Legal. Perícia Médico-Legal (artigos 158 a 184) Segundo França, a Medicina Legal é um exame que “visa informar e fundamentar, de maneira objetiva, todos os elementos consistentes no corpo de delito e, se possível, aproximar-se de uma possível autoria.” Dessa forma, é possível ver que o princípio da objetividade rege à Medicina Legal, sob o brocar- do latino o “visum et repertum” que significa visto e reportado, inibindo o perito de emitir juízo de valor. Ou seja, não cabe ao perito julgar o fato, apenas reportar o ocorrido, do ponto de vista médico, juridicamente em razão de contribuir pela busca da “verdade real”. O corpo de delito é a base residual do crime, qual seja, todos os elementos sensíveis ao fato criminoso. Por sensível pode-se entender tudo aquilo que é perceptível aos sentidos, ao olfato, a visão, a audição. Atenção: as bancas gostam de cobrar que corpo de delito é o mesmo que corpus criminis, ou o mesmo que corpus intrumentorum, o que não é verdade! Corpus instrumentorum Corpus criminis Corpo de delito Os meios, ou objeto, os ins- trumentos usados na condu- ta criminosa A coisa, ou a pessoa sobre a qual recai a conduta crimi- nosa. Ex: corpo da vítima no homicídio Todos os elementos sen- síveis ao fato. Além de corpus criminis e corpus instrumentorum pode ter testemunhas curso – matéria – Prof. 9 Art.158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. Do artigo supra é possível retirar três conclusões. A primeira quanto à indispensabilidade do exame do corpo de delito em casos que a infração deixe vestígios, como nos crimes materiais; a segunda quanto ao modo de confecção do laudo pericial, direto ou indireto e a terceira é que nem mesmo a confissão do acusado pode suprir a confecção do exame. Corpo de delito direto quando o perito analisa os próprios vestígios Corpo de delito indireto quando não há vestígios e o perito examina testemunhas, docu- mentos, fotos, fichas médicas, prontuários, etc... Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, por- tador de diploma de curso superior. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008) § 1º Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilita- ção técnica relacionada com a natureza do exame. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008) Três conclusões: a lei prioriza que o exame de perícia seja realizado por um perito oficial. Con- tudo, em caso de ausência desse e indispensabilidade da perícia é possível que essa seja reali- zada por dois peritos nomeados, ou peritos ad hoc, preferencialmente na área específica. § 2º Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente desempenhar o en- cargo. (Redação dada pela Lei nº 11.690, de 2008) O artigo só menciona os peritos não oficiais porque os peritos oficiais são ocupantes de cargo público, assim o compromisso já está implícito. § 3º Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao que- relante e ao acusado a formulação de quesitos e indicação de assistente técnico. (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008) Art. 161. O exame de corpo de delito poderá ser feito em qualquer dia e a qualquer hora. Embora os médicos-legistas orientem que as necropsias sejam feitas à luz do dia, vez que a luz artificial pode mascarar algumas lesões, a lei diz que é possível que seja realizada em qualquer período do dia, a qualquer hora do dia. Art. 162. A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte, julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que decla- rarão no auto. As primeiras seis horas correspondem posteriores ao óbito correspondem ao “período de in- certeza de Tourdes”, qual seja, incerteza que uma pessoa está realmente morta. A partir dessas seis horas começam a aparecer os sinas de certeza de morte, que são os fenômenos abióticos consecutivos, como perda de temperatura e ressecamento cadavérico. Exceção: quando os peritos têm certeza do óbito, como em casos de decapitação. Parágrafo único. Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame externo do cadáver, quando não houver infração penal que apurar, ou quando as lesõesexternas permitirem pre- cisar a causa da morte e não houver necessidade de exame interno para a verificação de algu- ma circunstância relevante. 10 Esse dispositivo é muito questionado na doutrina médico-legal. Quase nunca é aplicado! Exemplo: um corpo de um senhor foi encontrado espotejado no trilho de um trem. Seria lógico concluir que a causa da morte foi o atropelamento pelo trem sendo dispensável a perícia inter- na. Contudo, os peritos não se contentaram com os traços expostos e fizeram perícia interna descobrindo, assim, que o senhor havia sofrido infarto do miocárdio pouco tempo antes de ser atropelado. Por fim, a família confessou que ele havia infartado e que, propositalmente, o colo- caram nos trilhos do trem a fim de receber indenização da ferroviária. Art. 180. Se houver divergência entre os peritos, serão consignadas no auto do exame as de- clarações e respostas de um e de outro, ou cada um redigirá separadamente o seu laudo, e a autoridade nomeará um terceiro; se este divergir de ambos, a autoridade poderá mandar proceder a novo exame por outros peritos. Se são os peritos, logicamente são os nomeados ad hoc (vez que se fosse oficial seria apenas um perito), cada um produz o seu laudo médico. Art. 182. O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em parte. O juiz, de acordo com seu conhecimento motivado, pode rejeitar o laudo no todo ou em parte. Não estando vinculado a aceitá-lo ou rejeitá-lo em sua totalidade. Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, conta- dor, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral: (Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001), Código Penal Brasileiro. § 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta. Peritos (artigos 275 a 281, CPP) Uma vez que a perícia é o exame dos elementos materiais de um fato alegado, nos crimes ma- teriais, o perito é aquele que detém o conhecimento técnico sobre determinado assunto. É aquele que coloca uma “lupa médica” nos olhos no jurista, é aquele que faz o jurista enxergar de forma técnica o crime. a) Peritos oficiais: médicos legistas (vinculados ao IML) e peritos criminais (vinculados ao insti- tuto de criminalística. São aqueles ocupantes de cargo de provimento efetivo, que se submete- ram a concurso público de provas e títulos. b) Nomeados: livre escolha do juiz. Nomeados “ad hoc”, ou seja, para o ato quando, por exem- plo, não existem peritos no local e o exame pericial é obrigatório. c) Assistentes técnicos: indicados pelas partes (processos cíveis e trabalhistas). curso – matéria – Prof. 11 DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS Necropsias 1. Conceito: é o exame externo e/ou interno de um cadáver. A Necropsia, também chamada de autópsia ou necropsia, é realizada habitualmente por pato- logistas, no caso de necropsias clínicas ou por médicos legistas, no caso de necropsias forenses (médico-legal). A necropsia clínica, feita por médicos patologistas, é realizada em casos de morte “natural”, que é a causada por antecedentes patológicos, por doença. A necropsia forense, por sua vez, é realizada por médicos legistas, ou peritos ad hoc e é realiza- da em casos de morte violenta, ou suspeita. Nesse caso, interessa ao perito lato senso, contri- buir para a causa jurídica da morte. Lembrando que não cabe ao médico legista definir se foi um homicídio, suicídio ou acidente, pois é preciso que se avaliem vários outros elementos do corpo de delito e o laudo do médico legista é apenas um dos elementos do documento completo. 2. Quando uma necropsia forense deverá ser feita? São duas as situações em que a autópsia é obrigatória, por lei, e independe de autorização da família: • Morte por causas externas – morte violenta • Morte suspeita Em casos de morte por antecedentes patológicos a necropsia clínica deverá ser autorizada pe- los familiares do morto. 2.1. Morte suspeita • Pela subtaneidade: Muito questionável na doutrina a morte súbita é a morte brusca, inesperada, de efeitos imedia- tos, que não tem explicação prorrogada no tempo. 12 Para o professor Hygino de Carvalho Hércules, toda morte súbita deve ser considerada suspeita, até que se prove o contrário. • Por violência oculta: Não é possível dizer se houve violência ou não. • Por violência indefinida; Quando existem indícios de violência, mas não é possível determinar a sua causa, pelo simples exame externo. • Por infortúnio do trabalho. Situações relacionadas à doenças do trabalho ou acidentes de trabalho. Documentos médico-legais Notificações: comunicações compulsórias, ou seja, obrigatórias feitas pelos médicos às autori- dades competentes, acerca de determinado fato profissional. Exemplos: doenças infecto-con- tagiosas, como febre amarela, AIDS, tuberculose, etc...; doenças do trabalho, morte encefálica, para fins de transplantes de órgãos. • Embriaguez e uso de drogas ilícitas não são fatos de notificação compulsória! Art. 269 - Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. Se o médico se depara com uma doença de notificação compulsória e se omite de notificá-la, comete o delito previsto no art. 269, CP. Existe uma discussão se isso seria uma violação do sigilo médico. Contudo, conforme se vê no esquema abaixo, a notificação de doença compulsória se enquadra nos “casos de dever legal” não havendo, portanto, violação de sigilo médico. curso – matéria – Prof. 13 Atestado: documento particular de declaração pura e simples de um fato médico verídico e suas possíveis consequências, normalmente feito a pedido do paciente ou responsáveis. Obs.: Pode ser feito por qualquer médico e não apenas pelo médico-legista. Classificação. Quanto a finalidade Administrativo Judiciário Oficioso Interesse do serviço ou do servidor público Por solicitação da justiça Pedido do paciente ou dado no interesse de Pessoas Físicas ou Pessoas Jurídicas de Direito Privado Quanto ao conteúdo Idôneo Gracioso Imprudente Falso Atestado ético, verdadeiro. Complacente ou de favor. Não é falso do ponto de vista criminal, mas é antiético. Feito às pressas, sem exame físico necessário Art. 302, CP/1940 – falsidade ideológica. Crime doloso • Revelação de diagnóstico no atestado. Só é possível revelar o diagnóstico no atestado por escrito, ou pelo CID (Classificação Internacional de Doenças), caso o médico tenha autorização expressa do paciente. Relatório: é o documento médico por excelência. É no relatório que há descrição minuciosa de uma perícia médica a fim de responder a autoridade policial ou judiciária. Pode ser dividido em laudo e ato: • Laudo – redigido pelo próprio perito depois de terminada a perícia • Auto – documento que é ditado ao escrivão de polícia durante a realização do exame peri- cial. Ex.: auto de exumação. Partes do relatório • Preâmbulo – identificação • Quesitos – perguntas oficiais ou suplementares • Históricos – relatar o que aconteceu • Descrição – é na descrição que o médico legisla vai se amparar no adágio visum et reper- tum, de forma mais objetiva possível • Discussão – debater questões ligadas à literatura médica 14 • Conclusão • Responder aos quesitos Parecer médico-legal: documento produzido quando ocorrem divergências quanto a interpre- tação de achados de uma perícia. O parecer é solicitado quando é preciso um esclarecimento mais aprofundado e, por isso, é nomeado um perito ou professor de com competência inques- tionável e autoridade reconhecida. Normalmente o parecerista não está diante do corpo de delito, ele atua no decorrer do proces- so na fase de instrução probatória.Por ter reputação reconhecida, indiscutível, o parecerista é analisar documentos, debater e concluir acerca do laudo já pronto. Assim, as partes mais im- portantes do parecer são a discussão e a conclusão. Partes do parecer • Preâmbulo • Quesitos • Histórico • Discussão • Conclusão • Resposta aos quesitos • Não há descrição (que é o ponto mais importante do relatório), pois o parecerista não está diante dos vestígios materiais do crime. Depoimento oral: Declaração tomada ou não a termo em audiência de instrução e julgamento sobre fatos obscuros ou conflitantes descritos no relatório de perícia. Declaração de óbito: documento base do Sistema de Informação sobre Mortalidade do Minis- tério da Saúde. Possui como finalidade confirmar a morte, determinar a causa da morte (causa médico-biológi- ca) e satisfazer interesses de ordem civil, estatística, demografia e político-sanitária. • Ponto de divergência doutrinária a declaração de óbito pode, ou não, ser considerada si- nônimo de atestado de óbito. Prevalece o entendimento na doutrina de que são coisas diferentes e que o atestado é simplesmente um campo da declaração de óbito. Contudo, atente-se no modo de formulação da questão, pois pode ser que venham como sinônimos. curso – matéria – Prof. 15 TRAUMATOLOGIA FORENSE Conceito: A traumatologia, ou lesionologia é a ciência que estuda os traumas e as lesões. Trauma, por sua vez, pode ser conceituado como “energia que lesa o organismo” e lesão como “alteração estrutural proveniente de uma agressão ao organismo”. Tais traumas e lesões são causados agentes lesivos que se dividem em agentes de ordem mecânica, ordem física, ordem química, ordem físico-química, etc... Trauma energia que lesa o organismo Lesão alteração estrutural proveniente de uma agressão ao organismo Agentes lesivos ordem mecânica, física, química, físico-química, bioquímica, etc... 1. Energias de ordem mecânica Conceito: São aquelas capazes de modificar o estado de repouso ou de movimento de um cor- po, produzindo lesões em parte ou no todo. Os objetos mais utilizados que causam lesões por energias de ordem mecânica são as armas, como as armas propriamente ditas, como os revólveres e os punhais; as eventuais, como as fa- cas e os machados, que possuem outra finalidade, mas que podem ser usados como armas e as de ordem naturais, como os punhos e os pés e tantas outras, como queda, explosão e veículos. Objeto ou instrumento Meio ou ação Lesão Coisa material. Mecanismo pelo qual o objeto atua, produzindo a lesão. Resultado final da atuação do objeto através do meio. Esquema: em cima – o nome do objeto; embaixo – o nome da lesão. 16 Obs. 1: as lesões feitas mediante objeto pérfuro-contundente, que resultam em lesão pérfuro- contusa são as lesões típicas de projéteis de arma de fogo. Obs.2: o professor França não faz a distinção entre lesão corto-cortante e incisa, mas é um dos únicos, a maioria da doutrina o faz. 1.1. Lesões produzidas por ação perfurante O instrumento pode ser de pequeno calibre, como uma agulha, ou de médio calibre, como uma caneta. A ação perfurante é realizada pelo afastamento das fibras dos tecidos por pressão vertical, geralmente por meio de uma ponta causando feridas punctórias. Instrumentos de médio calibre Primeira lei de filhos: A ferida causada por um instrumento perfurocortante de médio porte, no vivo, terá uma forma semelhante aos ferimentos causadas por instrumento de dois gumes. Ou seja, ela será alongada e não será redonda, como o formado do instrumento que o perfurou. curso – matéria – Prof. 17 Lei do paralelismo:” as feridas causadas por instrumentos de médio calibre apresentam dire- ções fixas em cada parte do corpo.” As direções são paralelas às linhas de força da pele. Lei de Langer: se uma ferida produzida por um instrumento perfurocortante de médio calibre, for produzida em uma área de confluência de diferentes linhas de força, ela terá uma forma bizarra, estrelada, irregular. Obs.: É possível a determinação certeira do comprimento do objeto pela profundidade do feri- mento? Não é possível diagnosticar com certeza o cumprimento do objeto analisando apenas a ferida se ela for feita em áreas depressivas do corpo, como a real abdominal. São as chamadas “feridas em sanfona ou em acordeão” de Lacassagne. 1.2. Lesão cortante Instrumentos que agem por deslizamento em sentido linear, gerando feridas incisas. As feridas incisas possuem as seguintes características: forma linear, bordas e fundos regulares, hemorragia abundante, predomínio do comprimento sobre a profundidade, paredes lisas e regulares, afastamento das bordas (no vivo), ausência de vestígios traumáticos em torno da ferida, mas quando aparecer, indicará o posicionamento da vítima em relação ao agressor, é a cauda de escoriação. Cauda de escoriação Acontece quando o ferimento possui maior profundidade em uma das pontas devido ao maior emprego de força nesse momento e, menos profundidade na outra pronta, na qual há a escoriação, que é o arrancamento da epiderme, da camada mais superficial da pele. Assim, com a análise da profundidade da lesão pela força nele empregada, é possível determinar aonde começou e aonde terminou o ferimento. Sinal de Chavigny Indica a ordem das lesões. Ex.: Uma ferida em cima da outra: a primeira ferida seguirá um trajeto linear e a segunda ferida não vai seguir a linha reta, isso porque a segunda lesão encontrará a pele com as bordas já afastadas, devido à primeira lesão. Tipos especiais de lesões cortantes Degola Esgorjamento Decapitação Esquartejamento Espostejamento Ação produzida na região cervical posterior Ação produzida na região cervical anterior Secção da cabeça, separação da cabeça do restante do corpo. Secção do corpo em vários fragmentos nas articulações. Secção do corpo em vários fragmentos fora das articulações. Ex.: acidente na linha férrea 18 TRAUMATOLOGIA Lesões produzidas por instrumentos contundentes Conceito: a ação contundente é caracterizada pela ação provocada por um instrumento de su- perfície plana. Os mecanismos de ação são: a pressão, a explosão, a percussão, o deslizamento, a compressão, o contragolpe... Os meios de ação podem ser ativos, passivos ou misto a depender doe estado de movimento do corpo e do instrumento ou objeto. Meio ativo: quando o objeto está em movimento e a vítima não. Ex.: homem parado atropela- do por um carro (objeto em movimento) Meio passivo: quando o corpo humano está em movimento e o objeto, ou instrumento está parado. Ex.: uma pessoa que pula (corpo em movimento) de um prédio e cai no chão (objeto em repouso) Meio misto: quando ambos estão em movimento e se chocam gerando, assim, uma força de choque. Ex.: colisão entre carro e bicicleta. Obs.: a força de choque vai variar de intensidade e gravidade a depender do movimento do corpo e do movimento do instrumento. Lesões produzidas por ação contundente: a) Rubefação: congestão de vasos sanguíneos b) Escoriações: arrancamento da epiderme = erosão epidérmica = abrasão. Segue o princípio da restitutio ad integrum, que é restituição da camada integral, sem formação de cicatrizes. c) Equimoses: infiltração hemorrágica nas malhas dos tecidos. É um sangramento, uma mancha rocha. d) Hematomas: coleção, cavidade sanguínea e) fraturas, luxações, entorses f) rotura de vísceras internas g) lesões por queda de altura h) ferida contusa → cutânea obs.: pode-se falar em três tipos de equimoses: sugilação, quando há equimoses em grãos grosseiros; petéquias, quando há equimoses em pontos e víbice, quando há estrias paralelas. curso – matéria – Prof. 19 A composição muda devido a decomposição da oxiemoglobina, que é a hemoglobina ligada ao oxigênio, que vai se decompor e mudar de cor até desaparecer. Atenção: o espectro ocorre, predominantemente, nas equimoses cutâneas, mas não serve para as equimoses conjuntivas (lembrando que, a partebranca do olho é a esclera, a parte colorida é a Íris e a conjuntiva é a membrana que reverte o olho). Caso explicativo: um soco no olho possivelmente resultaria em uma lesão nas pálpebras e em uma equimose dentro do olho. A parte da pele seguiria o espectro de Du Saulle, ou seja, com o passar do tempo e do diminuição da OxiHb, a cor iria muda até o desaparecimento da lesão por completo com, mas a equimose conjuntiva não. Isso deve ao fato da membrana conjuntiva ser uma membrana muito fina, mui- to porosa e de fácil oxigenação, então a hemoglobina sempre estará ligada ao oxigênio, ela não vai se decompor. Assim, a equimose de dentro do olho ficará vermelha do início ao fim, até ser reabsorvida pelo corpo. • Equimose bilateral bipalpebral: “sinal do guaxinim”, significa traumatismo crânio encefáli- co (TCE), que é uma fratura da base do crânio. • Equimose retroauricular (atrás da orelha): “sinal de battle”, significa traumatismo crânio encefálico, que é uma fratura da base do crânio. Ferida cutânea contusa: ferida na própria pele por uma série de ações (pressão, compressão, percussão, arrastamento, explosão e tração dos tecidos). Possui forma estrelada; bordas irregu- lares, escoriadas e esquimosadas; fundo e vertentes irregulares; presença de pontes de tecido íntegro ligando as vertentes; pouco sangrantes (devido ao fenômeno de hemostasia traumáti- ca); integridade de vasos, nervos e tendões no fundo da ferida. Obs.: hemostasia = parada de sangue. Desenluvamento → cisalhamento dos tecidos por tração Pontes de tecido íntegro ligando as bordas da ferida → serve para diferenciar a ferida cutânea- -contusa de uma ferida incisa ou de uma ferida corto-contusa. 20 Lesões produzidas por ação mista Pérfuro-contudente: gera uma lesão pérfuro-contusa que perfura e pressiona a pele. Ex.: pro- jétil de arma de fogo. Pérfuro-cortante: trata-se de um mecanismo misto, pois deriva do uso de instrumentos de ponta (perfura) e gume (corta). Assim, a lesão ocorre por pressão, no mecanismo perfurante e por secção, no mecanismo cortante. São lesões que costumam ser mais grave, principalmente se atingirem a cavidade abdominal, pois a parte perfurante costuma ser profunda e a cortante, extensa em superfície. Obs.: as lesões de defesa são clássicas lesões que aparecem nos braços, nas mãos, pela posição da vítima ao se defender. Assim, ao se deparar com situação em que elas estão presentes, é possível que a causa mortis seja homicídio. Corto-contundentes: Segundo França, lesões corto-contusas são aquelas “produzidas por ins- trumentos que, mesmo sendo portadores de gume, são influenciados pela ação contundente, quer pelo seu próprio peso, quer pela força ativa de quem os maneja.” Ex.: foice, facão, macha- do, serra elétrica, as rodas de um trem. As feridas corto-contundentes podem acontecer por deslizamento (na ação cortante) ou por pressão (na ação contundente), não apresentam cauda de escoriação (a causa de escoriação é típica das feridas incisas puras, ou seja, instrumentos cortantes) e nem pontes de tecido ínte- gro entre as vertentes da ferida (clássicas em feridas cutâneas contusas puras). Ex.: mordedura animal e mordedura humana
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