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Possas Neo-Schumpeterianos

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ricjrdo tollpan • Joaquim de andrade
wanclyr hagge • carlos magno toPeS
marla de lourdes rollemberg mollo
joIo heraldo lima • mauro bolanovsky
edward J. amadeo • martln bàs
••••rIo lulz possas • Jolo sabóla
temando cardln de carvalho
Jonas zonlnsein
edward J. amadeo (org.)
EM DIREÇÃO A UM PARADIGMA MICRODINÃMICO:
A ABORDAGEM NEO-SCHUMPETERIANA*
Mário Luiz Possas"
I. INTRODUÇÃO
O estudo dos processos de mudança tecnológica revelou-se durante muito tem-
po um dos terrenos em que a análise econômica, em suas vertentes dominantes, en-
frenta obstáculos praticamente intransponfveis. Dentre as várias razões que podem
ser invocadas para este efeito, destacam-se duas que têm particular interesse neste
ensaio.
A primeira razão prende-se ao caráter estático da teoria econômica dominante,
a neoclássica, cuja abordagem predominantemente atemporal, relativa a situações
hipotéticas de equilrbrio, é particularmente inadequada para lidar com processos de
mudança. Quando muito é capaz de focalizar duas posições distintas sob a ótica da
estática comparativa, onde o processo de transição é deixado de lado. Neste quadro,
não surpreende que a mudança tecnológica tenha merecido quando muito referências
secundárias, quase sempre sob o rótulo sugestivo de "escolha de técnicas", em que
sobressai o, critério de racionalidade microeconômica otimizadora atribufda à empre-
sa capitalista em face das alternativas tecnológicas predeterminadas ou, como dizia
Joan Robinson, dada "por Deus e pelos engenheiros". As abordagens que se centram
no processo de mudança técnica, pensando-o mesmo como motor da dinâmica eco- .
nômica capitalista, são marginais em relação àquele eixo teórico hegemônico. Entre
estas destacam-se claramente as de Marx e Schumpeter, não por acaso as princi-
pais referências teóricas para a recente retomada, no âmbito da reflexão crrtica em
economia, da preocupação com a mudança e o progresso tecnológicos.
Em segundo lugar, merece registro o caráter até certo ponto interdisciplinar que
se exige de uma análise do processo de mudança tecnológica, não apenas quanto
a seus efeitos, que certamente desbordam para o social, o institucional e o cultural,
mas em função de seus determinantes, cujos aspectos especfficos à ciência e à lógi-
ca interna das trajetórias tecnológicas os tornam irredutfveis à pura racionalidade eco-
nômica. Trata-se, potanto, de um objeto particularmente avesso do tratamento preten-
samente auto-suficiente que a análise econômica tem por hábito dispensar, em suas
vertentes ortodoxas, aos temas que lhe caem nas malhas. O estudo da natureza,
dos determinantes e dos efeitos da mudança técnica requer não simplesmente uma
teoria econômica própria, mas um corpo analftico e teórico que, respeitando suas irn-
* Este artigo é parte de um trabalho deseiwolvido junto ao NPCTIIG/UNICAMP com apoio do CNPq •
•• Do Instituto de Economia da UNICAMP.
158 Mário Luiz Possas
bricações interdisciplinares, especifique de forma rigorosa o espaço e o papel que
nele cumpre o econômico. A tendência recente ao desenvolvimento, não só de pes-
quisas, mas de reflexão interdisciplinar no tema, é possivelmente uma indicação nes-
te sentido.
O grande bloco de abordagem contemporânea não-convencional à economia
da mudança tecnológica tratado neste ensaio, escolhido pela abrangência e profundi-
dade de preocupações, bem como pela grande difusão e influência que vêm conquis-
tando, reflete os aspectos que vêm de ser expostos. Os autores "neo-schumpeteria-
nos", basicamente situados em dois grupos não-rivais - o que desenvolve "modelos
evolucionistas" (R. Nelson e S. Winter, EUA) e o do SPRU da Sussex (UK, sob a
direção de C. Freeman) -, voltam-se à análise dos processos de geração e difusão
de novas tecnologias em sua natureza e impactos, destacando sua inter-relação com
a dinâmica industrial e a estrutura dos mercados, neste último caso inclusive lançan-
do mão de modelos de simulação. O critério metodológico é, aqui, o desequillbrio e
a incerteza, e o princípio teórico é a concorrência; o autor de referência é, evidente-
mente, Schumpeter.
As duas seções seguintes tratarão, respectivamente, destes dois grupOS de
autores da mesma corrente, procurando apresentá-los não em forma de resenha
exaustiva, mas de síntese dos ingredientes teóricos centrais de sua contribuição, re-
colhendo-os da forma mais ordenada possível a partir dos elementos mais ou menos
dispersos nas obras mais representativas e/ou sistemáticas disponíveis. Após a res-
pectiva exposição, seçulr-se-á um conjunto sucinto de comentários críticos e breve
retrospecto comparativo destas correntes, sem preocupação estritamente conclusiva.
li. O ENFOQUE "NEO-SCHUMPETERIANO"
Sob o rótulo acima, ainda não consagrado na literatura, situam-se contribuições
de volume e importância crescentes na última década e meia, que procuram focalizar,
com inspiração na abordagem de J. Schurnpeter à dinâmica capitalista, o processo
de transformação econômica e institucional que periodicamente tem lugar nas econo-
mias capitalistas, em diferentes graus de intensidade e abrangência, sob o impacto
das inovações tecnológicas.
Mais que outros, o enfoque neo-schumpeteriano não apenas se desdobra em
direção à economia da mudança tecnológica, mas constitui nesta última o centro de
sua análise, na medida em que, acompanhando Schumpeter, atribui à inovação o pa-
pel de principal dinamizador da atividade econômica capitalista. Deste enfoque resul-
ta não apenas um referencial teórico sólido, alternativo às poucas e limitadas incur-
sões de cunho mais ortodoxo, para esse campo de estudos, como também um apor-
te muito significativo à construção de uma teoria microeconômica alternativa, não
mais centrada quer na firma isoladamente, quer em mercados classificados e analisa-
dos por critérios mortológicos estáticos, mas na dinâmica de transformação das pró-
prias estruturas de mercado a partir de sua base produtiva. Para tanto, pretendendo
superar dinamicamente a posição firma versus mercado, centra-se na interação estra-
tégia-estrutura, sem privilegiar qualquer dos pólos como elemento determinante ex-
clusivo, ao procurar captar o movimento resultante dessa interação ao longo do tem-
po. Não por acaso, as diferentes versões deste enfoque procuram elaborar modelos
onde tanto variáveis de comportamento quanto estruturais têm ação recíproca, geran-
do trajetórias não de equilíbrio, mas de mudança e transformação estrutural.
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Em Direção a um Paradigma Microdinâmico 159
Com o risco de alguma arbitrariedade, este enfoque pode ser basicamente des-
membrado em duas correntes: a primeira, mais antiga, originária da Universidade de
Vale (EUA), tem por expoentes R. Nelson e S. Winter, que autodenominam sua abor-
dagem de "evolucionista"; a segunda, mais difícil de caracterizar como corrente homo-
gênea, originária da Universidade de Sussex (UK)/SPRU (mas não apenas), tem co-
mo expoentes C. Freeman, C. Perez, K. Pavitt, L. Soete e G. Dosi, entre outros, que
tratam diferentes questões - desde os impactos macrodinâmicos das inovações à
teoria e taxonomia setorial da geração e difusão de inovações tecnológicas, sempre
sob inspiração schumpeteriana. Os dois itens a seguir tratarão, respectivamente, de
forma sintética, dessas duas vertentes principais do enfoque aqui discutido. O item
final fará uma avaliação crítica de ambas, apontando as perspectivas atuais.
111.A ABORDAGEM "EVOLUCIONISTA" DE NELSON E WINTER
Precedido por diversas intervenções desses autores, é num artigo famoso de
1977 1 que são lançadas as idéias centrais da abordagem evolucionista à dinâmica
da inovação tecnológica em sua relação com a "concorrência schumpeteriana". Mais
tarde são desenvolvidas, estendidas e formalizadas compactamente em modelo de
simulação com a publicação de um livro 2.
A analogia biológica deste enfoque é explícita: os autores não são os primeiros
economistas a proporem tal tipo de paralelo, mas desta vez buscando um referencialdinâmico, ou ao menos aparentemente adequado à análise da mudança - o proces-
so de evolução. A idéia central é que, tal como a evolução das espécies se dá (na
teoria darwiniana) por meio de mutações genéticas submetidas à seleção do meio am-
biente, as mudanças econômicas - entendidas tanto no aspecto técnico-produtivo
(processos e produtos) quanto na estrutura e dinâmica dos mercados (concentração,
diversificação, rentabilidade, crescimento) - têm origem na busca incessante, por par-
te das firmas, como unidades básicas do processo competitivo, de introduzir inova-
ções de processos e produtos - o que teria, em regra, características estocásticas;
e estas inovações, por sua vez, seriam submetidas aos mecanismos de seleção ine-
rentes à concorrência e ao mercado.
O paralelo biológico, pelo menos na versão destes autores, não vai muito além
disso, limitando-se a um referencial heurístico e assim poupando a teoria dos riscos
de uma analogia forçada além de limites razoáveis.
1. A Crítica dos Pressupostos Ortodoxos e o Novo Marco Teórico
Dada a saudável preocupação com a mudança econômica e, para explicar
suas principais causas primárias, com o progresso técnico, o marco teórico que es-
sa abordagem procura construir choca-se, desde o início e explicitamente, com o refe-
rencial ortodoxo (neoclássico) da teoria da firma e dos mercados. Dois pontos de rup-
tura, claramente assumidos pelos autores, se destacam. Primeiro, a hipótese de equi-
líbrio estático como norma definidora do objeto da teoria - tanto firmas como merca-
dos - é abandonada em direção ao desequilíbrio e às assimetrias como fatores es-
senciais da mudança estrutural e do movimento; segundo, e muito importante, a hipó-
tese de que a racionalidade dos agentes econômicos individuais se expresse em de-
cisões baseadas em critérios de maximização é abandonada, em função da presen-
ça de incerteza no horizonte de cálculo capitalista - notadamente pela ocorrência de
160 Mário Luiz Possas Em Direção a um Paradigma Microdinâmico 161
mudanças estruturais, particularmente as tecnológicas, de previsibilidade grandemen-
te limitada -, pelo critério alternativo de adesão dos agentes à rotina na tomada de
decisões e no esforço inovador. Vejamos com mais atenção esses dois aspectos crucals.
Comecemos pelo segundo aspecto, decisivo para a argumentação dos autores
e sua sugestão de um novo referencial teórico. Sua critica à visão ortodoxa centra-
se na hipótese de maximização dos lucros como expressão da racionalidade dos agen-
tes econômicos da produção - especificamente, da firma; neste particular, filiando-
se à corrente de teorias da firma conhecida como "comportamental" por sua ênfase
no "realismo do processo" (de decisão) 3, apresentada desde fins dos anos 40 por
autores corno Simon, Cyert e March. O primeiro ponto de critica, mais difundido, refe-
re-se ao irrealismo que marca não só a separação rígida entre "dados" e "variáveis"
- por exemplo, entre o conhecimento de "técnicas dadas" e a "escolha de técnicas"
que maximizarão o lucro - como também a própria disponibilidade do volume e quali-
dade das informações requeridas, a um custo tolerável. O segundo, mais original, re-
fere-se à incerteza que necessariamente permeia decisões empresariais tomadas
em relação a um futuro imprevisível nos seus resultados - notadamente no campo
da mudança técnica -, que depende de acontecimentos e decisões (empresariais e
institucionais) quase sempre fora do alcance de quem decide 4. .
A introdução desse elemento de incerteza, embora sem a argumentação teóri-
ca sofisticada de um Keynes, um Shackle ou dos pós-keynssíanos contemporâneos,
representa a nosso ver a contribuição mais relevante para uma ruptura radical e bem
fundamentada com a teoria ortodoxa da firma e dos mercados. Certamente sob a in-
fluência de um contexto - o da inovação tecnológica - onde a empresa capitalista
se defronta com a necessidade de decidir sem qualquer segurança quanto aos resul-
tados, mais ainda que a decisão de investir keynesiana, os autores se dão conta de
que a racional idade econômica aponta, na verdade, não para a otimização de um ob-
jetivo bem definido sob condições bem delineadas, mas para a adoção de um com-
portamento cauteloso e defensivo, melhor expresso no emprego de procedimentos
de rotina, no processo de decisão sob condições de incerteza 5. A racionalidade da
adoção deste tipo de procedimento repousa essencialmente no fato de que os resulta-
dos provenientes de decisões sob incerteza não são previsíveis nem assegurados,
de um lado, nem corrigíveis senão com altos custos, de outro lado, uma vez que as
decisões de investir, particularmente em inovações (novos produtos e processos),
são basicamente irrevogáveis. Assim, algum tipo de norma habitual, convencional
ou rotineira, na tomada de decisões - regras práticas simples do tipo rufe of thumb
- acabam por revelar-se linhas de menor risco 6.
A suposição de que procedimentos heurísticos e de rotina governam o compor-
tamento das empresas na tomada de decisões não implica, obviamente, para uma
teoria centrada nas inovações, resultados igualmente rotineiros; tais regras simples
determinam, juntamente com fatores estocásticos, a própria mudança das rotinas de
comportamento. A cada momento elas são uma função' das características vigentes
do processo "evolucionista" em que se insere a firma e seu ambiente competitivo,
assim como o afetam no momento seguinte. Elas se aplicam às atividades de "curto
prazo" (produção, preços, etc.), ou operacionais, tanto quanto às de "longo prazo",
referentes ao investimento, podendo envolver esforços de maior ou menor grau em
pesquisa e desenvolvimento (P&D) de novos produtos ou processos produtivos. O
esforço especificamente inovador, de mudança das rotinas existentes a partir das
mesmas, caracteriza o que os autores denominam o processo de busca (search),
pelas empresas, de novas oportunidades, centradas sobre o espectro de inovações
que o contexto tecnológico presente, ou futuro já manifesto, oferece.
O processo de busca das inovações juntamente com o de seleção das mes-
mas pelo ambiente competitivo e de mercado (que será visto a seguir) irão compor,
em sua interação, o quadro teórico alternativo proposto pela abordagem evolucionis-
ta. A analogia biológica é flagrante no segundo caso, mas não é menos explícita no
primeiro caso: os 'autores relacionam a busca com as mutações genéticas, notando
inclusive a possibilidade - e conseqüente necessidade analítica - de um caráter até
certo ponto estocástico para a ocorrência ou não de sucesso na tentativa de inovar.
No entanto, observam ainda os autores sua adesão ao "Iamarckianismo" para efeito
de desenvolver a analogia biológica: não apenas os caracteres adquiridos podem ser
"herdados", por aprendizado ou imitação, como também situações adversas podem
provocar variação e mutação esporadicamente. No mesmo sentido, a distinção entre
processos "cego" e "deliberado", conquanto relevante para as teorias biológicas da
evolução, não importa aqui: ambos têm lugar no âmbito de uma teoria econômica da
firma que procura inovar 7 •
A heurística e as regras de rotina que caracterizam o processo de busca na
abordagem evolucionista se traduzem concretamente na definição de metas e conjun-
tos de procedimentos para identificar e incorporar meios de chegar próximo dos obje-
tivos - sempre caracterizados por regras práticas de conduta -, mas sem que um
bom resultado possa ser assegurado. Tipicamente, a aplicação de certa proporção
do valor das vendas em P&D sobre projetos potencialmente rentáveis e a ordenação
destes segundo critérios que levem em conta simultaneamente a demanda potencial
pelo produto e o potencial de viabilidade técnica e de custos nas linhas tecnológicas
conhecidas são itens amplamente presentes, e uma específica combinação destes,
quando relativamente introjetada no padrão de decisões habitual da empresa, configu-
rará o que os autores denominam uma estratégia 8.
O outro aspecto da visão ortodoxa contra o qual se insurgea evolucionista con-
siste no referencial de equi/lbrio como norma definidora do processo resultante da inte-
ração das firmas no mercado. Este paradigma, quase onipresente no corpo da análi-
se econômica tradicional, é encarado como um obstáculo a ser ultrapassado na cons-
trução de uma teoria econômica dinâmica centrada na mudança estrutural. Não que
uma eventual tendência à estabilização da estrutura produtiva de urna determinada
atividade econômica e seu mercado não possa ter lugar e não mereça ser descrita;
mas, se for este o caso, apenas como a trajetória resultante de um processo interati-
vo ao longo do tempo, e não como um pressuposto estático 9. De fato, nada assegu-
ra que o resultado do processo de "busca" e decisões da empresa, refletindo-se em
reações do mercado - via concorrentes e demanda - venha a sancionar, ou ainda
desencadear reações corretivas suficientemente ágeis e adequadas para assegurar
algum equilíbrio para a firma; e, menos ainda, para o conjunto do mercado, mediante
alguma convergência das ações concorrentes e da demanda. No novo contexto ana-
lítico, trata-se de identificar e analisar o processo de seleção através do qual o merca-
do - e as próprias empresas, por suas decisões - sanciona, redireciona ou rejeita
certas estratégias, bem como as trajetórias que as firmas individuais e a estrutura
do mercado ou da indústria, em seu conjunto, seguirão 10. .
A interação dinâmica entre o processo decisório e as estratégias empresariais,
de um lado, e o processo de "seleção" efetuado pelo mercado - validando ou não
uma inovação -, dá lugar a um movimento que não pode ser reduzido a um ajusta-
162 Mário Luiz Possas
mento ao equilfbrio, e a uma trajetória que não pode ser caracterizada por essa ótí-
ca. Nas palavras dos autores, "a preocupação central da teoria evolucionista é com
o processo dinâmico pelo qual padrões de comportamento da firma e resultados do
mercado são determinados conjuntamente no tempo" 11. Assim, apesar de o modelo,
em distintas versões, em que os autores apresentam e desenvolvem sua teoria, con-
ter simplificações (produtos homogêneos e preços iguais, por exemplo) que podem
identificá-Io com uma análise de "equnibrio temporário", os referidos autores recusam
enfaticamente que as indústrias ou setores de atividade estejam (ou admitam uma
análise) em equilfbrio de "longo prazo" 12.
Em uma palavra, a interação endógena entre estratégia (da firma) e estrutura
(do mercado) ao longo do tempo é proposta como o marco teórico alternativo para a
abordagem dos processos de geração e difusão de inovações, vistos respectivamen-
te, numa ótica evolucionista, através dos processos de busca e seleção de inovações.
2. Geração e Difusão de Inovações Através dos Processos de Busca e Seleção
Um dos aspectos que mais se destacam como ruptura do enfoque evolucionis-
ta sobre os processos de geração e difusão de inovações em relação aos tradicio-
nais é a recusa da dicotomia entre modelos centrados na demanda do mercado ou
na lógica interna do progresso tecnológico - respectivamente, no jargão especializa-
do, demand pull e technology push. A posição sustentada é a de que tais processos
são influenciados tanto pela demanda quanto pela lógica interna da "trajetória natural"
da tecnologia, e isto no que se refere tanto à geração como à difusão de inovações.
Assim, a influência da demanda se dá, de forma mais evidente, na seleção da trajetó-
ria tecnológica pelo mercado, mas de forma não menos importante através das expec-
tativas das empresas, em suas estratégias de P&D e de lançamentolabsorção de
novas tecnologias e/ou produtos, a respeito do comportamento futuro das vendas e
de rentabilidade, de modo a poder financiar os investimentos necessários. De outro
lado, a lógica interna da tecnologia manifesta-se na busca de novas oportunidades
dentro do quadro referencial oferecido pela "trajetória natural" vigente, tanto quanto
na fixação progressiva desta última através do processo de seleção realizado ex
post, no qual as características técnicas podem ter um papel econômico decisivo.
Examinemos mais de perto as hipóteses adotadas neste enfoque. O primeiro
passo é caracterizar o processo de busca de inovações de produtos/processos de
produção.
Neste enfoque, são características fundamentais do processo de busca de ino-
vações sua irreversibilidade, seu caráter contigente em face da trajetória vigente e a
incerteza que o envolve 13. Admite-se que qualquer tecnologia possui dois grupos
de atributos igualmente importantes para o processo decisório nela envolvido - os
tecnológicos e os econômicos -, e que ambos estão presentes nas decisões relati-
vas aos investimentos em P&D de uma firma potenciálmente inovadora. A formulação
de um modelo de decisões relevante, não-neoclássico, implica então considerar me-
canismos não-determinísticos de caráter técnico-econômico como base. O enfoque
evolucionista identifica nestes uma "heurística", em lugar de algum algoritmo maximi-
zador, pela qual a escolha de determinados projetos de P&D possa ser vista como
uma estratégia. Tal heurística envolve procedimentos habituais, caracterizáveis em
termos de objetivos (metas) e regras simples convencionais (rules of thumb) que con-
figuram uma rotina na atividade inovadora 14.
Em Direção a um Paradigma Microdinâmico 163
A tomada de decisões quanto ao direcionamento e magnitude dos investimen-
tos em P&D pode assim ser definida como uma "estratégia de busca", não-determi-
nlstica, heurística, condicionada ao mesmo tempo por fatores econômicos - o retor-
no esperado das inovações - e técnicos - as oportunidades oferecidas por determi-
nada linha de desenvolvimento tecnológico, ao lado da capacitação e das áreas espe-
cíficas de competência da empresa. Da mesma forma, os resultados destas ações,
sendo estritamente imprevisíveis, podem ser descritos estocasticamente, abrangen-
do tanto uma invenção ou inovação específica como sua "vizinhança tecnológica",
capaz de absorver conhecimentos em áreas correlatas, impedindo assim que os efei-
tos - positivos e negativos - da decisão de inovar se esgotem em si mesmos. A
idéia de uma tal "vizinhança" tecnológica exprime a dimensão cumulativa do conheci-
mento técnico, pela qual as inovações atuais tendem a ser semelhantes, mas superio-
res (segundo atributos técnico-econômicos) às precedentes; bem como ao fato de
que "a história de muitas tecnologias parece ser caracterizada por invenções primá-
rias ocasionais seguidas por uma onda de invenções secundárias" 15.
O caráter cumulativo da mudança tecnológica tem uma dimensão estritamente
técnica que assume, no processo de busca, um papel estratégico decisivo. Consis-
te na direção ou direções em que o avanço tecnológico mostra-se mais provável, e
com isso potenciálmente mais promissor, sob condições muito variadas de deman-
da, já que em grande parte determinadas endogenamente - através da própria "heu-
rística" do processo de busca: trata-se do que os autores denominam trajetória natu-
ral, semelhante aos "imperativos tecnológicos" de Rosenberg, que guiam a evolução
de muitas tecnologias - o aparecimento de pontos de estrangulamento em processos
conexos, falhas evidentes em produtos, metas evidentes de aperfeiçoamento, etc.
Sob certas condições de uniformidade tecnológica as trajetórias podem agrupar-se
no que os autores definem como regimes tecnológicos, de caráter mais abrangente,
e incluindo basicamente aspectos cognitivos que se traduzem em procedimentos
usuais nas estratégias de P&D 16.
Embora específicas a uma dada tecnologia, as trajetórias naturais podem com-
partilhar características em determinado período, bem como apresentar semelhanças
ou complementaridades. São exemplos conhecidos de elementos comuns entre traje-
tórias, de importância marcante desde o século passado, a busca de mecanização
crescente e do aproveitamento de economias de escala latentes; têm servido com
muita freqüência como pontos focais da atividade inovadora, não raro de modo mais
heurístico que plenamente consciente das implicações17. Este caráter até certo pon-
to intuitivo e genérico dos critérios que norteiam o avanço tecnológico baseia-se no
fato de que a atividade inovadora se apóia num corpo de conhecimento e de prática
subjacente aos técnicos, engenheiros e cientistas envolvidos no processo. Sem ex-
cluir o papel funoarnental e crescente da ciência no progresso técnico, e não obstan-
te as especificidades do conhecimento necessário à atividade inventiva, trata-se de
enfatizar o fato de que ele pode envolver mais arte (habilidade) e intuição que ciência 18.
Cabe notar, finalmente, que a natureza e o ritmo do processo gerador de inova-
ções aqui descrito, crescentemente internalizado nas empresas capitalistas e em boa
medida rotinizado nos departamentos de P&D, nem de longe podem ser associados
a uma evolução contínua e progressiva. Não só os resultados, como se viu, são im-
prescindíveis, podendo alternar sucessos é fracassos com a mesma estrutura da ati-
vidade, como a própria trajetória tecnológica, tão importante ao condicionar a busca
de inovações, tende a apresentar retornos decrescentes a partir de certo ponto, des-
164 Mário Luiz Possas
crevendo um movimento de esgotamento progressivo freqüentemente paralelo ao do
"ciclo do produto", ou produtos, a ela associada. Em suma, descontinuidade e mudan-
ça, mais do que evolução firma, são os traços mais nrtidos do processo de busca
de inovações.
O processo de seleção das inovações completa o anterior ao cumprir o papel
de validar ou não uma inovação realizada, através de sua implementação prática e
eventual difusão no mercado e/ou entre empresas concorrentes.
Uma primeira observação geral necessária neste enfoque é a recusa de uma
distinção bem marcada entre invenção e inovação, proposta por Schumpeter. Isto
porque as incertezas não se dissipam ao nível da primeira, mas só tendem a fazê-Io,
em diferentes graus, através da avaliação dos resultados concretos, técnicos e eco-
nômicos, da sua aplicação prática. O uso, não raro por um período considerável, é
crucial para pôr à prova as potencialidades de um novo produto ou processo, o que
pode pressupor algum grau de sua difusão 19.
A difusão de uma inovação pode seguir habitualmente dois mecanismos: subs-
tituição, pela(s) empresa(s), do produto ou processo antigo pelo novo, aumentando
progressivamente sua utilização; ou a imitação por outras empresas (no caso normal
em que a irv enção é patenteada) 20. Sem chegar a desenvolver os aspectos gerais
ou teóricos da difusão, os autores focalizam a atenção sobre o que denominam o "am-
biente de seleção" que envolve uma inovação, que tem no mercado seu mecanismo
central, mas não exclusivo. São três os elementos relevantes na seleção: o nível de
lucratividade considerado adequado à inovação pelas empresas do setor; a influência
das preferências dos consumidores e dos dispositivos regulatórios existentes; e os
processos de investimento e imitação. A combinação destes elementos determinará
o curso e o ritmo do processo de difusão. Não é necessário entrar aqui em suas par-
ticularidades; basta destacar alguns pontos que, embora ainda circunscritos ao enfo-
que schumpeteriano, permitem relativizar seus traços mais vulgarizados 21.
Em primeiro lugar, os determinantes da difusão diferem conforme se trate de
inovação de produto ou de processo. No primeiro caso a rentabilidade e rapidez de
difusão da inovação dependerão fortemente da reação dos consumidores ao produto,
o que não ocorre no segundo caso. Este, ademais, depende em menor grau do P&D
das empresas - ao inverso das inovações de produto - que do empenho dos forne-
cedores de equipamentos em expandir seu mercado difundindo seu uso. Em segun-
do lugar, a ênfase schumpeteriana na vinculação entre a ação inovadora e o sobrelu-
cro que tende a dissipar-se através da difusão deve ser qualificada nos casos, cres-
centemente importantes, em que o processo de aprendizado continuado, pela fabrica-
ção ou pelo uso, reduz o custo e o risco da inovação significativamente com o tem-
po, tornando relativamente mais atraente - e rentável - a posição de lat comer. Seja
como for, a difusão depende sempre da expansão tanto do inovador como dos imita-
dores. Em terceiro lugar, o mercado, mesmo sendo o principal/ocus da seleção, não
é o único. Cabe relativizar seu papel por dois ângulos: de um lado, há outros "ambien-
tes de seleção" de caráter institucional, tais como agências públicas e mecanismos
regulatórios, sempre destacados pelos autores em detrimento dos enfoques voltados
exclusivamente aos mercados; de outro lado, a seleção depende geralmente de deci-
sões (ou não) de investir das empresas, para as quais os sinais provenientes dos re-
sultados verificados ex post nos mercados são apenas um dos aspectos considera-
dos no cálculo das empresas em sua estratégia competitiva. As expectativas de lu-
crativd ade são fortemente condicionadas pela "trajetória natural" em andamento, em
\
Em Direção a um Paradigma Microdinâmico 165
função da qual valorizar os ativos existentes, desde o estoque de capital até o acer-
vo de conhecimentos adquiridos, pode ser a opção mais vantajosa.
Do que foi dito acima pode-se concluir que a difusão de inovações, vista pela
ótica do processo de seleção, não pode ser limitada a uma análise comportamental,
como pode sugerir o enfoque tradicional de pesquisa empírica sobre o tema que foca-
liza as curvas de difusão em forma de "S". Ela passa a ser vista como fortemente
condicionada, ainda que de modo não determinístico, pelo contexto estrutural- expres-
so numa dada "trajetória natural" da tecnologia - e institucional que a cerca, tornan-
do esta fase, além disso, teoricamente inserparável, ainda que analiticamente distin-
guível, do processo de busca anteriormente descrito.
3. Comentários
A abordagem "evolucionista" procurou estender sua proposta de novo referen-
cial teórico na direção da construção de modelos que simulem a mudança da estrutu-
ra de uma indústria em função do processo de inovação, supondo basicamente que
a geração de inovações seja o resultado probabilístico condicionado de "estratégias"
de P&D, tal como expressas no nível de gastos da empresa com essa finalidade, e
que seu sucesso (ou não) dependa das condições do ambiente competitivo. Apresen-
tado em mais de uma versão 22, o modelo apresenta ainda alg.umas deficiências rela-
tivamente sérias que podem comprometer seu potencial analítico, particularmente no
que se refere à excessiva simplicidade das hipóteses tecnológicas (mudança de pro-
dutividade e gasto e P&D) e de investimento e crescimento das firmas, que não le-
vam em conta suficientemente a própria relevância da "trajetória natural" (incluindo o
aprendizado da firma inovadora) e outros fatores "estruturais" no comportamento das
firmas.
Entretanto, atento ao princípio salutar de não confundir uma teoria com mode-
los que procuram representá-Ia ou operacionalizá-Ia, convém evitar que a precarieda-
de dos referidos modelos prejudique uma avaliação da contribuição evolucionista. En-
tre os seus méritos, que não será preciso reconstituir após esta exposição, está es-
sencialmente a apresentação de um marco teórico consistente alternativo ao neoctás-
sico, voltado à dinâmica competitiva da indústria e centrado na interação estrutura/es-
tratégia sob o comando do processo de geração e difusão de inovações visto como
endógeno, através da concorrência, à estrutura produtiva da indústria.
O que esta abordagem deixa de oferecer satisfatoriamente, por outro lado, é
um conjunto de elementos teóricos de mediação entre a estrutura industrial, principal-
mente (mas não apenas) quanto às características tecnológicas, e o comportamento
empresarial, especialmente frente às inovações, através de estratégias competitivas
definidas. Em outras palavras, embora o referencial teórico "neo-schumpeteriano" ado-
tado seja adequado à proposta e formule corretamente tal questão, a abordagem evo-
lucionista carece de maior aprofundamento nas conexões que justamente permitiriam
caracterizar a extensão -evidentemente não total - em que a dinâmica industrial é
efetivamente endógena, mediante sua transformação provocada pelo processo inovador.
Essa lacuna certamente não constitui um obstáculo intransponível frente a es-
forços adicionais de pesquisa e aprofundamento teórico, dado que o referendal assu-
mido aponta exatamente nessa direção; na verdade, é mesmo provável que se dêem
importantes avanços na construção de tais mediações. O que se quer destacar é jus-
166 Mário Luiz Possas
tamente a necessidade de centrar o esforço teórico no preenchimento desse espa-
ço decisivo.
Para tanto, parece indispensável aprofundar ao menos duas linhas de reflexão
complementares. De um lado, a abordagem evolucionista carece de maior suporte
teórico no que se refere às estruturas de mercado. Vale dizer, a ênfase exclusiva,
quanto à questão estrutural, nos aspectos tecnológicos, ao lado da influência - reco-
nhecida - das teorias comportamentais da firma, com sua preocupação voltada ao
realismo na descrição do processo decisório e conseqüente abstração dos condicio-
nantes do mercado, levaram à omissão de determinações estruturais não-redutiveis
à tecnologia e, por conseguinte, a um tênue embasamento estrutural das decisões
estratégicas das empresas. O que, aliás, se reflete em certa medida na forma como
os modelos evolucionistas estilizam, com demasiada simplicidade, as decisões estra-
tégicas, resultantes de maior ou menor sucesso (estocasticamente definido) na polrti-
ca de inovações e rentabilidade corrente das empresas.
Teria sido sem dúvida preferível - talvez apenas à custa de maior complexida-
de analítica e abrangência teórica - recorrer à literatura não-neoclássica de organiza-
ção industrial e estruturas de mercado oligopolísticas, notadamente Bain, Sylos-Labi-
ni e Steindl, para complementar o enfoque com elementos não-tecnológicos, e até
certo ponto estáticos, que estes autores desenvolveram com o objetivo de fixar os
determinantes estruturais dos padrões competitivos que caracterizam o comportamen-
to das empresas frente a decisões estratégicas. Estaríamos, assim, mais próximos
de um marco teórico alternativo, não somente para abordar a mudança tecnológica,
mas a própria microdinâmica - a dinâmica das indústrias e mercados, em sentido
mais amplo -, sem a qual a primeira, por mais crucial, não chega a se tornar plena-
mente inteligível.
De outro lado, a abordagem evolucionista, apesar de sua ênfase nas inovações
tecnológicas, ainda não fornece elementos suficientes, no plano teórico, para aprofun-
dar uma análise do próprio caráter estrutural da "trajetória natural" das tecnologias e,
portanto, de sua influência sobre as decisões empresariais estratégicas - o que, de
resto, também se reflete em seus modelos. Tampouco esse é um problema insolúvel,
já que o tema vem sendo desenvolvido pelos mesmos e outros autores, de forma
convergente ou complementar. O prosseguimento nesta linha tem podido revelar cres-
centemente as dimensões endógenas da mudança tecnológica e da inovação lato
sensu, não obstante certos aspectos irredutiveis à lógica interna de uma trajetória tec-
nológica, quer os de caráter fortuito, quer os vinculados estritamente ao progresso
cientifico.
Essas insuficiências do enfoque evolucionista têm sido em boa medida supera-
das, dentro do mesmo paradigma neo-schumpeteriano, pela corrente de autores da
SPRU/Sussex, particularmente G. Dosi no âmbito teórico e K. Pavitt na pesquisa e
análise comparativa setorial da difusão de inovações, entre outros. É desta corrente
que trata o item seguinte.
IV. A ABORDAGEM DE "PARADIGMAS E TRAJETÓRIAS TECNOLÓGI-
CAS" DE G. DOSI
O titulo acima envolve uma simplificação, ao parecer reduzir a corrente de eco-
nomistas da mudança tecnológica da SPRU/Sussex a um nome, e a contribuição
deste apenas aos conceitos que mais se difundiram e ganharam aceitação. No entan-
I
I
':1
Em Direção a um Paradigma Microdinâmico 167
to, como veremos, a concepção de paradigmas e trajetórias tecnológicas, embora iso-
ladamente insuficiente, surge na obra de seu autor integrada a uma visão teórica arti-
culada em torno da noção de "concorrência schumpeteriana", sem contudo deixar
de lado um esforço de integração com as teorias não-ortodoxas de estruturas de
mercado oligopolísticas, notadamente na versão de Sylos-Labini 23; ou seja, atende
precisamente às necessidades de uma estratégia teórica neste campo visando com-
pletar e aprofundar o enfoque "evolucionista". Por outro lado, dada a preocupação es-
sencialmente teórica do presente texto, os demais autores, por mais relevantes em
termos da pesquisa neste campo, serão quando muito referidos de passagem, por
não terem uma proposta teórica tão significativa.
Exceção parcial deve ser feita a C. Freeman e Carlota Perez em seu esforço,
eminentemente teórico, de pensar os impactos macrodinâmicos das inovações tecno-
lógicas, em conexão com a concepção schumpeteriana de "ondas longas" inerentes
ao desenvolvimento econômico capitalista 24. Apesar de sua evidente importância pa-
ra o estudo abrangente do processo de inovação sob a ótica neo-schumpeteria, es-
ta reflexão implica um recorte - o das inovações com grande potencial de difusão
macroeconômica, a que Schumpeter denominava major innovations, e uma ênfase -
sobre os efeitos macroeconômicos e sócio-institucionais do processo inovativo -, am-
bos distanciando-a dos propósitos deste texto. Por esse motivo a breve exposição
seguinte omitirá a importante contribuição destes autores à corrente em questão.
1. Inovações Tecnológicas: Paradigmas, Trajetórias e uma Dinâmica Industrial
Endógena
A proposta teórica de G. Dosi parte iguá mente da noção de "concorrência
schumpeteriana" e de seus desdobramentos para a análise da transformação e da
dinâmica industrial, centrada nos padrões da mudança tecnológica. Cabe destacar,
no entanto, sua maior ênfase nas as simetrias tecnológicas e produtivas como fatores
cruciais na determinação de padrões da dinâmica industrial, as quais, por sua vez,
são geradas ou reforçadas essencialmente pela geração e difusão de inovações tec-
nológicas 25. Além desse referencial de caráter nitidamente schumpeteriano, merece
especial referência a preocupação explícita do autor com a incorporação do marco
teórico, já conhecido, da análise nâo-neoclássica das estruturas de mercado oligopo-
lísticas - notadamente a de Sylos-Labini -, com seu enfoque predominantemente es-
tático. Trata-se, quanto a esse aspecto, de desenvolver um referencial teórico mais
amplo para tal análise, com base na visão mais geral proporcionada pela concorrên-
cia schumpeteriana, permitindo explicar a própria constituição das estruturas de mer-
cado em seus aspectos técnico-produtivos, em regra tomados como dados.
O objetivo teórico mais ambicioso é, em outras palavras, a construção de um
marco teórico dinâmico para o estudo da economia industrial, que como tal deverá
estar apoiado essencialmente - ainda que não exclusivamente - na atividade inova-
dora e seus efeitos econômicos mais diretos a nível da indústria e dos mercados,
permitindo integrar a criação e transformação das estruturas industriais pelo progres-
so técnico, de um lado, com os padrões de geração deste último através da concor-
rência na própria indústria, de outro lado 26 - o que só pode ser realizado mediante
a endogeneização da dinâmica tecnológica no interior das estruturas de mercado in-
dustriais. Em síntese, tal abordagem oferece um caminho mais claro e promissor pa-
ra construir um paradigma microdinâmico - ou, nos termos do autor, de dinâmica in-
dustrial - ainda virtualmente inexistente na teoria econômica 27.
168 Mário Luiz Possas
Admitindo-se que o progresso técnico é o elemento indutor por excelência da
criação/transformação das estruturas de mercado, nele deve-se centrar o novo mar-
co teórico da "microdinâmica". O ponto de partida é portanto identificar as caracterfs-
ticas da tecnologia que a tornam fator de mudança econômica estrutural. No que se
refere à dimensão econômica das inovações, sãotrês estas características: a oportu-
nidade de introdução de avanços tecnológicos relevantes e rentáveis; a cumulativida-
de inerente aos padrões de inovação e à capacidade das firmas em inovar; e a apro-
priabilidade orovada dos frutos do progresso técnico mediante seu retorno econômi-
co 28. Tais elementos - evidentemente típicos de um enfoque schumpeteriano - res-
pondem pela criação, sustentação e eventual ampliação de vantagens competitivas
que reproduzem, no seio da estrutura produtiva, as assimetrias técnico-econômicas
tão cruciais, naquele mesmo enfoque, pela geração de impulsos dinâmicos na estrutu-
ra econômica.
Já no que se refere mais especificamente à dimensão tecnológica das inova-
ções, em seu caráter parcial porém efetivamente endógeno, Dosi propõe sua conhe-
cida transposição da noção de paradigma científico de Thomas Kuhn para O âmbito
tecnológico, cunhando a expressão paradigmas tecnológicos para representar os pro-
gramas de pesquisa tecnológica que em regra, analogamente à definição kuhniana,
baseiam-se em modelos ou padrões de solução de problemas tecnológicos seleciona-
dos e em boa medida predeterminados, derivados de princípios científicos e procedi-
mentos tecnológicos igualmente selecionados - e não genericamente abertos e exó-
genos como nos enfoques tradicionais dos economistas. Prosseguindo a analogia,
haveria no paradigma tecnológico, como no científico, prescrições habituais (nem sem-
pre conscientes) sobre que direção tomar e quais evitar; isto é, "heurísticas positiva
e negativa". Os esforços tecnológicos tendem a focalizar determinadas soluções en-
quanto excluem outras, porque o paradigma é "cego" a estas. Observa-se que a ana-
logia é maior do que pode parecer, uma vez que o campo de possíveis problemas e
soluções que definem o paradigma tecnológico, especialmente nas últimas décadas,
tende a associar-se a algum paradigma científico que lhe serve de base, ao oferecer-
lhe os princípios das ciências naturais que crescentemente norteiam o processo de
pesquisa responsável pelo surgimento de inovações 29.
Da mesma forma que se desenvolve um modo de fazer "ciência normal" ineren-
te a um paradigma científico, que caracteriza algo como uma "evolução" - certamen-
te não-linear - da ciência, o progresso técnico inerente a determinado paradigma tec-
nológico, denominado pelo autor de trajetória tecnológica, constitui o modo ou o pa-
drão "normal" de realizar a formulação e solução de problemas específicos no inte-
rior daquele paradigma tecnológico. Essa noção, claramente próxima da "trajetória
natural" de Nelson e Winter, contém simultaneamente elementos tecnológicos e eco-
nômicos cujas dimensões definem, a cada passo, o trade-oft relevante para ser focali-
zado pela pesquisa tecnológica e conseqüentemente a direção a ser tomada paIo "pro-
gresso técnico".
O conceito de trajetória tecnológica pode ser muito útil para caracterizar e ana-
lisar os aspectos endógenos do progresso técnico, como processo simultaneamente
tecnológico e econômico. Assim, cabe notar que uma das características cruciais
do progresso ao longo de uma trajetória tecnológica é sua natureza cumulativa. A
maior proximidade da "fronteira tecnológica" - definida como o nível mais elevado
da trajetória quanto às dimensões tecnológicas e econômicas -, assim como a com-
plementaridade e integração de diferentes formas de conhecimento, habilidade e expe-
Em Direção a um Paradigma Microdinâmico 169
riência ao longo da trajetória, amplia a probabilidade de avanços subseqüentes da
unidade em questão - uma firma ou mesmo um país - na direção da fronteira. Por
outro lado, uma trajetória tecnológica tem ainda, em diferentes graus, um caráter ex-
cludente frente a trajetórias alternativas do mesmo paradigma (e, com mais forte ra-
zão, de outros paradigmas), embora eventualmente possam "cruzar-se" em igualda-
de de condições, permitindo uma alteração de trajetória. Notadamente no caso de
uma mudança mais radical - a do próprio paradigma -, mas sempre inerente às pers-
pectivas futuras da tecnologia, surge com toda a ênfase a questão já apontada por
Nelson e Wintér, da incerteza que preside às decisões envolvendo a escolha e o in-
vestimento em mudanças tecnológicas, até porque a comparabilidade entre diferentes
possibilidades de "soluções" numa trajetória ou entre distintas trajetórias dificilmente
oferece critérios técnicos inteiramente objetivos e, ademais, sempre envolve cálculo
econômico relativo à difusão e aos imprevisrveis resultados econômicos, definidos
ex post pelo mercado, da inovação 30.
Todas essas caracterfsncas, econômicas e tecnológicas, do processo de inova-
ção tecnológica apontam fundamentalmente para a diversidade - mantendo assim a
tradição schumpeteriana - das firmas e unidades produtivas como um aspecto cen-
tral do ambiente competitivo, e conseqüentemente de sua dinâmica. Essa diversida-
de assume diferentes aspectos, todos relevantes, que convém explicitar 31. Uma pri-
meira manifestação, de caráter essencialmente técnico, consiste nas assimetrias tec-
nológicas entre as firmas de uma indústria. Trata-se de diferenças entre firmas que
dizem respeito à capacidade tecnológica para inovar; aos distintos graus de suces-
so na adoção e desenvolvimento de inovações de produtos e de processos; e às es-
truturas de custo. Apesar das óbvias implicações destes fatores no desempenho eco-
nômico, eles têm natureza essencialmente tecnológica e dão conta precisamente da
influência da tecnologia como arma competitiva apoiada em elementos intrafirma, em
lugar da imagem convencional de uma oferta tecnológica exógena, homogênea ao ní-
vel da indústria, e portanto neutra do ponto de vista competitivo.
Um segundo aspecto importante relativo às fontes de diversidade de origem téc-
nico-econômica entre firmas refere-se à variedade tecnológica, entendida como dife-
renças não necessariamente hierarquizáveis, como no caso anterior, mas que corres-
pondem a especificidades da acumulação de conhecimentos tecnológicos, ao uso
de insumos e à linha de produtos das firmas. Finalmente, o terceiro aspecto consis-
te nas diferenças de procedimentos e critérios da firma em face dos processos de
decisão quanto a preços, investimento - especialmente em P&D, em quantidade e
qualidade - e às rotinas básicas em que se traduz a estratégia da firma, a diversida-
de comportamental, em suma. A originalidade deste aspecto refere-se à discrepância
em relação à visão ortodoxa, que supõe homogeneidade de comportamento (maximi-
zador) frente a funções-objetivo da mesma natureza, ainda que sujeitas a diferentes
aversões individuais ao risco.
Tanto as características tecnológicas potencialmente geradoras de assimetrias
e desequilíbrios, anteriormente descritas, quanto a diversidade intersetorial associa-
da às trajetórias e paradigmas tecnológicos, assim como a diversidade técnico-econô-
mica interfirmas acima indicada, são de grande importância para uma reinterpretação
mais adequada dos resultados empíricos da literatura de difusão de inovações à luz
de uma proposta teórica alternativa neste campo. É o que se verá em seguida.
170 Mário Luiz Possas
2. Concorrência e Padrões Setoriais de Inovação e Difusão
As análises tradicionais do processo de difusão de inovações não costumam
dar maior importância aos fatores acima indicados, notadamente quanto a seus as-
pectos endógenos, cumulativos (feedback) e assimétricos. Ao contrário, o enfoque
discutido aqui enfatiza, como o evolucionista, os processos de seleção, mas dá des-
taque igualmente grande aos mecanismos de aprendizado, como componentes bási-
cos da difusão de inovações. Suas implicações são distintas: enquanto os primeiros
operam no sentido de ampliar as vantagens competitivas tecnológicas das firmas mde-
res, os últimos tendem a difundir, em diferentes graus, o potencial inovativo e imitati-
vo das firmas na indústria 32.
Os processos de seleção dependem de uma combinação complexa, setorial-
mente variável, de elementos que envolvem desde a validação pelo mercado atéas
possibilidades oferecidas pela trajetória tecnológica. Assim, não apenas os resultados
econômicos verificados ex post sancionam determinada inovação ou escolha tecnoló-
gica, mas os critérios de decisão ex ante das firmas frente à rentabilidade prospectí-
va e à adequação do novo paradigma - ou trajetória, ou ainda em relação à trajetória
vigente, conforme o caso - são mecanismos de seleção igualmente decisivos, e, co-
mo tal, parte destacada do processo de concorrência - "schumpeteriana", que presi-
de à mudança tecnológica e à sua difusão. É claro que neste enfoque está inteiramen-
te afastada a dicotomia simplista entre teorias e modelos de demand pull e techno-
logy push para explicar a incidência predomiante do "mercado" ou da "tecnologia"
na geração e difusão de inovações 33
Os mecanismos de aprendizado, por sua vez, são tipicamente de três modalida-
des. Primeiro - o mais estudado na literatura -, o investimento em P&D, que consti-
tui o economicamente mais importante meio de aprendizado, não apenas por envol-
ver dispêndios significativos, mas por representar (em geral) o principal mecanismo
cumulativo de aprendizado, através da acumulação "tácita" de conhecimentos que re-
alimenta o processo de busca de inovações e aperfeiçoamento de produtos e proces-
sos. Segundo, os processos informais de acumulação de conhecimento tecnológico
dentro das firmas, que não envolvem destinação específica de recursos e um formato
organizacional definido, mas podem ser de extrema importância no desenvolvimento
de novos produtos e processos que já tenham sido incorporados; os exemplos típi-
cos deste mecanismo são os processos de learning by doing e learning by using, es-
pecialmente importantes em setores de atividades tecnologicamente mais dependen-
tes de fornecedores, no primeiro caso, e mais complexo, no último. Terceiro, o desen-.
volvimento de "externalidades" intra e interindustriais, que inclui difusão de informa-
ção, mobilidade de mão-de-obra especializada e crescimento de serviços especializados.
Diferentes combinações setoriais das características tecnológicas descritas an-
teriormente e desses mecanismos de seleção e aprendizado poderão configurar dis-
tintos padrões de difusão e geração de assimetrias no interior e entre indústrias. Estu-
dos setoriais desenvolvidos, entre outros, no SPRU por Pavitt (1984) 34 permitem ela-
borar uma taxonomia de processos de geração e difusão de inovações, frente à qual
Dosi propõe algumas considerações em direção a uma tipologia de relações entre
padrões de inovação e difusão e estrutura de mercado, dando lugar conseqüentemen-
te a padrões de dinâmica industrial.
Da referida taxonomia destacam-se quatro tipos mais importantes de setores:
a) os "dominados por fornecedores" (supplier-daminated), cujas inovações são basi-
Em Direção a um Paradigma Microdinâmico 171
camente de processo, incorporadas nos equipamentos e insumos, e por isso geradas
fora do próprio setor, tipicamente através da difusão de bens de capital e intermediá-
rios mais avançados (best practice). São exemplos as indústrias têxtil, de vestuário,
editorial e gráfica, couro, madeira, etc.; b) os "intensivos em escala" (scale intensive),
onde as inovações, tanto de produto como de processo, envolvem o domínio de siste-
mas complexos e a fabricação de produtos complexos, apresentando economias de
escala de vários tipos, empresas de grande porte, altos gastos em P&D e freqüente
integração vertical. São exemplos as indústrias de material de transporte, bens eletro-
eletrônicos duráveis, metalúrgica, alimentar, vidro e cimento; c) os "fornecedores es-
pecializados" (specialised suppliers), cujas inovações, geralmente de produtos, co-
mo insumos para outros setores, envolvem contato íntimo das firmas (em geral peque-
nas) com os usuários e domínio especifico de tecnologia de projeto e construção de
equipamentos. São exemplos típicos as atividades de engenharia mecânica e de ins-
trumentos; d) os "intensivos em ciência" (science-based), cujo processo de inovação
está diretamente vinculado a um paradigma tecnológico viabilizado por um paradig-
ma cientffico, e por isso apresenta elevadas oportunidades tecnológicas, grandes in-
vestimentos em P&D, grande porte das empresas (exceto em "nichos" altamente es-
pecializados) e difusão predominante por seleção. Inclui tipicamente indústrias eletrô-
nicas e químicas.
Os padrões de inovação e difusão associados a esses casos e às caracte-
rísticas tecnológicas podem ser resumidos como segue. O primeiro caso tende a
apresentar baixa apropriabilidade e oportunidade (exógena) de inovação. A difusão
dá-se predominantemente por aprendizado, e não por seleção, e é afetada principal-
mente pela interação entre estas indústrias, "dominadas pelos fornecedores", e os
respectivos "fornecedores especializados". O aumento da adoção de novas tecnolo-
gias leva à sua crescente rentabilidade, quer pelo deslocamento ao longo das "cur-
vas de aprendizado" (custos) decrescentes, quer por economias de escala, ou ain-
da por efeitos de spill over resultantes da difusão estimulada pelos fornecedores.
No extremo oposto, os setores "intensivos em ciência" apresentam elevadas
apropriabilidade e oportunidade tecnológica, em que as possibilidades cientificamen-
te determinadas são economicamente exploradas a partir de investimentos maciços
e direcionados em P&D, através dos quais opera o mecanismo de aprendizado típi-
co. Correspondentemente, o prêmio "schumpeteriano" pela liderança bem-sucedida
na inovação pode ser alto e dar lugar a vantagens rapidamente cumulativas. O caso
intermediário das indústrias "intensivas em escala" combina em diferentes graus ele-
mentos dos dois extremos acima: se o aprendizado pelo uso de equipamentos e pro-
cessos pode ser importante, como no primeiro caso, apresenta, ao contrário deste,
vantagens tecnológicas derivadas do aproveitamento de economias de escala e de
efeitos sinérgicos na produção e utilização de grupos de inovações internalizadas
por integração vertical e horizontal, além de métodos de aprendizado tanto formais
(P&D) quanto informais. A difusão de inovações é portanto baseada tanto em seleção
como em aprendizado 35.
Além disso, pode haver casos - não redutíveis especificamente a nenhum dos
padrões acima - em que as vantagens cumulativas da inovação sejam de tal magnitu-
de e provenham com tanta rapidez que tornem tecnologias rivais, mesmo quando su-
periores, rapidamente inviáveis (Iacked aut), configurando situações de "hiper-sele-
ção", Situações extremas como essa, ao lado de outras mais comuns, como a cumu-
latividade (retornos crescentes dinâmicos) e as economias de escala, mostram os Ii-
172 Mário Luiz Possas
mites do mercado como mecanismo espontaneamente eficiente de seleção das inova-
ções tecnológicas e de sua difusão, ao mesmo tempo em que sublinham a dificulda-
de em prever com um mínimo de segurança a evolução futura de uma trajetória tecno-
lógica - ressaltando deste modo o extremo grau de incerteza nela presente.
Por outro lado, cabe examinar brevemente a relação entre as formas de diver-
sidade e as características tecnológicas a elas associadas, e os padrões de difusão
e as estruturas de mercado na indústria. Um primeiro aspecto refere-se à distribuição
e à média da capacidade tecnológica dos inovadores ou adotantes/imitadores poten-
ciais: quanto mais alta esta última, maior a taxa de difusão; esta, no entanto, pode
ser afetada qualitativamente pela distribuição, podendo-se supor que quanto menos
uniforme (maiores assimetrias tecnológicas iniciais) esta for, mais importante tende-
rá a ser a difusão por seleção comparada à difusão por aprendizado, provocando con-
centração nas parcelas de mercado e eliminando ou deixando em pior posição relati-
va as firmas mais atrasadas tecnologicamente. Pelos mesmos motivos, é provável
que a taxa de difusão seja favorecida, para um mesmo nfvel baixo de capacidade tec-
nológica média, por uma distribuição mais assimétrica desta característica.lnversa-
mente, baixo nívelde assimetrias tecnológicas no ínicio do processo tende a produzir
uma difusão por imitação mais fácil e uniforme, com o que o aprendizado, por diferen-
tes meios, poderá dificultar o processo de seleção pelo mercado e uma posterior con-
centração de sua estrutura.
Em síntese, a eficácia (irreversibilidade) do processo de difusão em afetar a
estrutura do mercado depende da adequação entre as distribuições entre firmas de
parcelas de mercado (estrutura de mercado inicial) e das assimetrias de capacidade
tecnológica: quanto melhor combinarem, mais tende a se acentuar a estrutura preexis-
tente e melhor atua a seleção via mercado; e vice-versa: quando o potencial tecnoló-
gico das firmas não corresponde à sua posição relativa em tamanho e participação
no mercado, é provável que a dinâmica industrial impulsionada por difusão de uma
inovação afete e instabilize a estrutura preexistente 36.
Já no que se refere à escolha entre tecnologias concorrentes, a presença de
variedade tecnológica (como definida antes) é importante no sentido de facilitar a acei-
tação e absorção de uma nova tecnologia, exceto quando esta variedade for tão gran-
de que torne dispersivos os esforços individuais e evite que uma opção tecnológica
específica se torne suficientemente vantajosa em rentabilidade. Por último, a diversida-
de comportamental pode afetar o peso relativo da difusão por seleção ou por aprendi-
zado e a própria taxa de difusão: esta última tende a tornar-se mais alta, e o proces-
so de seleção pelo mercado mais eficiente ao premiar rapidamente a melhor tecnolo-
gia, quanto maior a "agressividade" (e menor a aversão ao risco) das empresas ino-
vadoras; neste caso a inovação bem-sucedida torna-se de imediato forte arma com-
petitiva, aumentando a rentabilidade das firmas inovadoras e concentrando suas par-
celas de mercado. A situação limite seria aquela em que a seleção de mercado fos-
se tão eficiente a ponto de inibir a difusão de nova tecnologia que, apesar de potencial-
mente superior, não apresentasse rentabilidade maior desde o início, pois não teria
tempo para se desenvolver e aperfeiçoar.
As observações anteriores apenas ilustram possibilidades mais imediatas, e
ainda incipientes, de elaboração analítica e aprofundamento da verificação empírica
na direção de um novo referencial teórico na linha sugerida por Dosi e outros. Elas
giram em torno de uma ternática decisiva: a da interação dinâmica entre as dimen-
sões tecnológica e comportamental da concorrência nos mercados industriais; ou ain-
Em Direção a um Paradigma Microdinâmico 173
da, entre as dimensões estrutural e estratégica da dinâmica industrial, quando exami-
nada pela ótica (schumpeteriana) do seu motor principal - as inovações tecnológicas.
Neste ponto torna-se inevitável a ênfase no esforço analítico e mesmo modelístico,
em se tratando de um campo complexo e de resultados pouco intuitivos. Analogamen-
te à modelagem "evolucionista" de Nelson e Winter, também Dosi, Orsenigo e Silver-
berg, entre outros da mesma vertente, têm procurado desenvolver modelos de simula-
ção que captem, pelo menos, a complexidade daquela interação dinâmica, ainda que
não possam por enquanto ser integrados facilmente (sem novas mediações) a mode-
los macroeconômicos relevantes 37.
Até por serem ainda esforços experimentais incipientes, embora avancem nu-
ma direção muito fértil, não cabe aqui comentar tais modelos. Basta, para concluir, fi-
xar os aspectos mais gerais que os norteiam 38; seu caráter: a) evolucionista no sen-
tidos amplo, ou seja, de que a mudança se dá por meio de processos (não instantâneos)
de seleção entre agentes concorrentes, nos quais sobrevêm fatores indetermina-
dos, imprevistos e erros, mas ao longo dos quais é possível aprender e ai entualmen-
te discernir uma lógica interna, ainda que não determinista à trajetória percorrida; b)
irreversível, no sentido de que circunstâncias passadas geram estruturas e estas ofe-
recem opções e mecanismos de seleção; c) auto-organizativo, no sentido de que exis-
te uma "ordem" na evolução do sistema (tecnologia, indústria, estrutura de mercado),
embora não predeterminada, mas como resultado objetivo não-intencional da intera-
ção dinâmica entre o progresso técnico em sua lógica interna (inovação, difusão,
aprendizado, P&D, capacitação), a atividade propriamente econômica da firma (inves-
timento, preços, expansão, diversificação, financiamento, concorrência por parcelas
de mercado) e os aspectos institucionais pertinentes ao processo decisório e às ex-
pectativas 39.
3. Comentários
As limitações do enfoque de G. Dosi e outros (SPRU) na construção de um
marco teórico neo-schumpeteriano à dinâmica industrial são claramente menos impor-
tantes que as antes apontadas à concepção "evolucionista" de Nelson e Winter, não
tanto pela despreocupação com analogias biológicas - mesmo porque aquela última
é mais uma referência heurística que uma camisa-de-força teórica -, mas principal-
mente porque se propõe, entre outros objetivos centrais, suprir algumas das lacunas
que foram apontadas no enfoque "evolucionista".
Primeiramente, ele assume, como se viu,a proposta explicita de incorporar ele-
mentos da teoria não-neoclássica do oligopólio, especialmente na versão de
Sylos-Labini, ao novo referencial microdinâmico em elaboração, tanto no que diz res-
peito à (re)constituição da estrutura da indústria e do mercado a partir de uma inova-
ção radical, como no que toca à análise do processo de formação de preços ao lon-
go do tempo, quando em presença de curvas de aprendizado, e de economias dinA-
micas de escala, e de possibilidades alternativas de decisão de estratégia competiti-
va da(s) empresa(s) inovadora(s) frente ao conhecido trede-ott entre lucratividade a
curto prazo e expansão com barreiras à entrada (Iucratividade a "longo prazo") 40.
Embora ainda preliminar, este esforço é muito importante, ao sugerir caminhos bem
definidos de integração do novo enfoque microdinâmico, centrado nas inovações, ao
anterior, essencialmente estático, que as tomava como um dado, sublinhando desta
forma a possibilidade de uma integração pela via de complementaridade entre ambos,
ainda que sob a égide indispensável do enfoque dinâmico (mais geral) 41.
174 Mário Luiz Possas
Em segundo lugar, as noções - a serem evidentemente aprofundadas, teóri-
ca e empiricamente - de paradigmas e trajetórias tecnológicas preenchem de modo
mais completo a necessidade de estabelecer os determinantes endógenos, à estrutu-
ra industrial, do progresso técnico - ainda que reconhecendo possuir determinantes
fundamentais não redutrveis à dimensão técnico-econômica, não apenas de caráter
estritamente científico - pois, como assinalou Rosenberg 42, a exogeneidade da ciên-
cia não pode de nenhum modo ser dada como evidente -, mas até mesmo fortuitos
e não-teorizáveis, devido à margem de indeterminacão "objetiva" presente no proces-
so de seleção. Trata-se, como se sabe, de um problema antigo e crucial para a teoria
econômica, sem cujo enfrentamento a formulação teórica de uma dinâmica econômi-
ca relevante - isto é, que supere as hipóteses de "estrutura estável" inerentes aos
modelos convencionais de crescimento e ciclo econômico - não pode sequer ser es-
boçada.
Neste sentido, a proposta mais ao alcance do esforço que vem sendo despen-
dido é a construção de um paradigma microdinâmico nos moldes já descritos, que
virá substituir com enorme vantagem (incorporando-o) o próprio referencial básico
da economia industrial, as teorias não-neoclássicas do oligopólio, ainda insuficiente-
mente dinâmicas. Mas ela não exclui - e até mesmo aponta nessa direcão - uma in-
tegração mais ambiciosa com a teoria macrodinâmica, até porque a difusão de inova-
ções freqüentemente extrapola os limites de uma indústria ou mercado, e porque as
inter-relações dinâmicas das decisões dos agentes econômicos e seus efeitos trans-
cendem em muito as dimensões setorial e tecnológica. Em outras palavras, um para-
digma macroeconômico dinâmico também ainda está por ser desenvolvido,embora
em estágio algo mais avançado, e os pontos de interação potencial entre ambos são
essenciais, uma vez que cada uma destas dimensões não chega a ser plenamente
inteligrvel sem que se examinem seus efeitos sobre a outra, e vice-versa 43.
Frente ao referencial teórico para a dinâmica industrial aqui já resumido, o pas-
so seguinte, como se viu, é de dotá-lo de maior poder anaftico, através da constru-
ção de modelos de simulação. As limitações que estes apresentam, e que não serão
discutidas aqui, referem-se mais à necessidade de desenvotvê-los de forma a incor-
porar maior variedade de hipóteses estruturais (tecnológicas e de padrões de concor-
rência), de um lado, e arnpliá-los de modo a incorporar elementos de análise macroe-
conômica (principalmente no que concerne aos determinantes do investimento), de
outro lado, do que a algum defeito congênito. Na verdade, sua concepção metodológi-
ca é adequada tanto no tratamento das variáveis e parâmetros - modificáveis sob
hipóteses de simulação em lugar de fixados endoqenarnente por algum critério aprío-
rístico, ou ainda estabelecidos estatisticamente - quanto no tratamento do tempo, que,
como se viu, é corretamente percebido, ao nível do processo decisório, pela sua di-
mensão incontornável de incerteza, e ao nível da trajetória estrutural, pelas suas di-
mensões essenciais de evolução, irreversibilidade e auto-organização. Em se tratan-
do de um modelo dinâmico, a opção é, corretamente, radical: os pressupostos de equi-
flbrio são excluídos a priori por incompatibilidade essencial com o enfoque dinâmico
no sentido aqui definido 44.
Pensá-Io como um sistema cuja estrutura se move a partir de decisões toma-
das em incerteza, sob condicionantes estruturais que geram padrões em lugar de de-
terminações unívocas, e portanto admitem trajetórias plurideterminadas, constitui a
única possibilidade de fazer uma teoria econômica relevante que trate ao mesmo tem-
po de estruturas e de sua dinâmica. Supor que a incerteza gere "caos" é um precon-
Em Direção a um Paradigma Microdinâmico 175
ceito "equilibrista", pois não passa de uma hipótese arbitrária e não-demonstrada.
Num sistema anárquico, não regulado conscientemente, ordem - e portanto a possi-
bilidade de constituir um objeto teórico - não se confunde com equilibrio, mas pode
resultar do processo complexo, que tem sido denominado de "auto-organização", pe-
lo qual a interação estrutura/decisões dos agentes repõe a própria estrutura (e seus
"padrões") ao longo de uma trajetória que, se não é predeterminada, tampouco é ale-
atória ou "caótica", mas incorpora a própria incerteza das expectativas acerca do fu-
turo na racionalidade "convencional" - eventualmente rotinizada e padronizada - que
dirige a tomada de decisões. Os ecos nitidamente keynesianos destas proposições
reforçam a convicção de que a principal limitacão, se existe alguma, deste enfoque
é o de ainda reunir uma quantidade de esforço teórico e de pesquisa insuficieste, ape-
sar da qualidade dos adeptos, para a importância e complexidade do trabalho nele
envolvido.
Em sfntese, o enfoque neo-schumpeteriano, em ambas as vertentes aqui trata-
das, mas especialmente na dos pesquisadores do SPRU/Sussex, pela sua maior
densidade teórica e de pesquisa, oferece uma perspectiva muito promissora. A preo-
cupacão desta corrente com a problemática da mudança tecnológica não se reduz a
mais um esforço de descrever e estudar o processo de difusão de inovações e seus
impactos setoriais e macroeconômicos, mas, como foi destacado, de contribuir com
um novo referencial teórico, de corte schumpeteriano, centrado na dimensão inovado-
ra do processo de concorrência capitalista, para pensar a dinâmica industrial. Neste
caso, a preocupação de construir um enfoque alternativo, que focalize a mudança es-
trutural - o eterno ausente das cogitações dos economistas, mas de importância ca-
da vez mais premente -, não parte de proposições gerais e abstratas para em se-
.9uida procurar delimitá-Ias progressivamente; a estratégia é a inversa, menos ambicio-
sa e por isso mais bem-sucedida: partindo da temática específica da geração e difu-
são de inovações, recolher elementos empíricos suficientes para elaborar tipologias
setoriais, e - certamente com o .auxüio de insights teóricos importantes - propor com
isso um novo paradigma microdinâmico; a possibilidade - bastante plausível, a meu
ver - de compatibilização ou extensão para níveis mais a rangentes de reflexão teó-
rica permanecendo em aberto para eventuais futuras incursões.
NOTAS
1. Nelson, R. e Winter, S. (1977). "In search of a useful theory of innovation", Research Po-
Iicy, Vol. 6, North Holland.
2. Nelson, R. e Winter, S. (1982). An Evolulionary Theory of Economic Change. Cambridge
(Mass.), Harvard University Press.
3. Seguindo essa corrente, a crItica se estende à maximização não s6 do lucro, mas de qual-
quer função-objetivo, como critério de racionalidade de firma. Veja-se Nelson e Winter (1982), op.
cit., capo 1, p.12.
4.lbidem; e Nelson e Winter (1977), op. cn, pp. 50 sego
5. É surpreendente a semelhança com a idéia de Keynes de que a incerteza no contexto
das decisões dá lugar a um comportamento convencional, de tentar seguir a opinião média, basean-
do-se quando posslvel nos acontecimentos recentes. A rotina, tal como a convenção, não se apli-
ca aos resultados, mas ao processo de escolha do que fazer (como investir, em que direção inovar,
ete), e por isso não produz necessariamente comportamentos repetitivos e estáveis.
176 Mário Luiz Possas
6. /bidem, p. 53.
7. Nelson e Winter (1982), capo 1, p. 11.
8. Nelson e Winter (1977), pp. 54-55.
9. Nelson e Winter (1982), capo 1, p. 20.
10. "Traletórlas Naturais" é o conceito básico aqui, sugerindo que as inovações possuem
uma lógica própria interna, ainda que não de todo previsível em sua gênese e menos ainda em sua
difusão e "seleção" via mercado: ver Nelson e Winter (1l77), pp. 56 e sego O ponto será retomado.
11. Nelson e Winter (1982), capo 11, p. 18
12./bidem.
13. Nelson e Winter (1982), caps. 9 e 11.
14. Nelson e Winter (1977), pp. 52-53.
15. Nelson e Winter (1982), capo 11, p. 257.
16. Nelson e Winter (1977), pp. 56 e sego
17. lbidem, p. 58.
18. Nelson e Winter (1982), p.261.
19. /bidem, p. 262.
20. Nelson e Winter (1977), pp. 61 e sego
21. Nelson e Winter (1982), pp.266-68.
22.lbidem, parte IV, e Winter, S. (1984). "Schumpeterian Cornpetíüon in Alternative Techno-
logical Regimes", Journal of Economic Behavior and Organization, 5.
23. Dosi, G. (1984). Technica/ Change and Industrial Transformation - the theory and an
application to the semiconductor industry. Londres, Macmillan.
24. Especialmente Freeman, C. e Perez, C. (1986). "The diffusion of technical innovations
and changes of techno-economic paradigm", Conferência Internacional sobre Difusão de Inovações,
março, Veneza. Também Freeman, C. (ed.) (1981). "Technical Innovation and Long Waves in
World Economic Developmenf', Futures, 13(4), agosto, número especial; e Perez, C. (1983). "Struc-
tural Change and assimilation of new technoloqies in the economic and social systems", Futures,
15(5), outubro.
25. Dosi (1984), capo 3, especialmente pp. 93 e segs.
26.lbidem, seção 3.2.
27. O paradigma schumpeteriano estrito é de fato mais "macrodinâmico", ao cingir-se às ino-
vações que produzem efeitos macroeconômicos significativos.
28. Dosi, G., Orsenigo, L. e Silverberg, G. (1986). "Innovation, diversity and diffusion: a
self-organisation model"; trabalho apresentado à Conferência Intemacional sobre Difusão de Inova-
ções, Veneza, março, 1986; seção 3. Ver também Dosi (1984), seção 3.1., para maior detalhamento.
29./bidem, seção 2.2.
Em Direção a um Paradigma Microdinâmico 177
30. tbidem, pp. 17-18.
31. Dosi eta/ií (1986), p. 6. Ver também, com maiores detalhes, Dosi, G. (1986). "The mlcro-
economic sources and effects of innovation: an assessment of recent findings", apresentado em pri-
meira versão em seminário sobre "Distribution, Growth and Technical Progress",CNR, Roma, no-
vembro, 1985.
32. Dosi et s/li (1986), p. 8.
33. Dosi (1984), pp. 18-20.
34. Pavitt, K. (1984). "Sectoral pattems of technical change: t owards a taxonomy and a the-
ory". Research Policy, 13.
35. Dosi et alii (1986), pp. 10-12.
36./bidem, pp. 14-15. Também Dosi (1986), 2.8 em diante.
37. Dosi et alii (1986), partes 6 e 7.
38. Dosi (1986), 3.1.4.
39. A esse respeito veja-se especificamente o modelo e suas simulações em Dosi et alii
(1986),loc. cít,
40. Ver Dosi (1984), seção 3.3, para uma interessante proposta de "dinamizar', pelo ângulo
da inovação tecnológica, o modelo estrutural de Sylos-Labini.
41. Observe-se ademais que a variedade de trajetórias posslveis de estruturação da indús-
tria e do mercado reafirmada pelo novo referencial constitura para Labini não uma deficiência de
seu modelo, mas evidência de sua superioridade, em virtude do maior realismo envolvido na p/uri-
determinação, sobre o neoclássico.
42. Rosenberg, N. (1982). Inside lhe Black Box - Technology and Economics, Cambridge
University Press, cap 7.
43. Por exemplo, a análise dos impactos macrodinâmicos das inovações não é só um proble-
ma "rnacro", uma vez que repercute decisivamente sobre a continuidade, reprodução e transforma-
ção das indústrias mesmas e de sua base técnica. O corte entre "micro" e "macroeconomia" tem
algum sentido estritamente analftico, mas passa a ser seriamente questionado quando ambas as
dimensões são vistas dinamicamente.
44. A hipótese de que uma série de equilftJrios sucessivos aos quais os agentes possam po-
sicionar-se ex ante dá consistência a suas ações e as torna de algum modo dinamicamente está-
veis "é um salto de fé metodológica que não estou disposto a subscrever". Dosi (1986), p. 61.

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