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SUS_Antecedentes__Percursos_Perspectivas_e_Desafios

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Textos extraídos do livro: SUS: antecedentes, percurso, perspectivas e desafio, de Zenaide Neto Aguiar. 
 
1 
 
 
 
CIRCULAÇÃO INTERNA 
 
 
 
Antecedentes, percurso, perspectivas e desafios 
 
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Textos extraídos do livro: SUS: antecedentes, percurso, perspectivas e desafio, de Zenaide Neto Aguiar. 
 
2 
Sumá rio 
 
 
 
Apresentação ..........................................................03 
CAPÍTULO I - Antecedentes históricos do Sistema Único de Saúde (SUS)- 
breve história da política de saúde no Brasil ....................... 05 
EXERCÍCIOS DE SÍNTESE ............................................... 19 
CAPÍTULO II - O Sistema Único de Saúde e as Leis Orgânicas da Saúde . 20 
EXERCÍCIOS DE SÍNTESE ............................................... 36 
CAPÍTULO III - A descentralização do SUS: o financiamento e as Normas 
Operacionais Básicas ................................................ 37 
EXERCÍCIOS DE SÍNTESE ............................................... 53 
CAPÍTULO IV - Zenaide Neto Aguiar x Pacto pela Saúde ................ 54 
EXERCÍCIOS DE SÍNTESE ................................................65 
CAPÍTULO V - Do Programa de Saúde da Família à Estratégia Saúde da 
Família ............................................................ 66 
EXERCÍCIOS DE SÍNTESE ............................................... 76 
CAPÍTULO VI - Os avanços e desafios do SUS nas duas décadas de existência 
..................................................................... 77 
EXERCÍCIOS DE SÍNTESE ............................................... 86 
Anexos .............................................................. 87 
ATIVIDADES AVALIATIVAS ...............................................109
 
 
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Textos extraídos do livro: SUS: antecedentes, percurso, perspectivas e desafio, de Zenaide Neto Aguiar. 
 
3 
Apresentáçá o 
 
 
O livro SUS: Sistema Único de Saúde - antecedentes, percurso, perspectivas e desafios — tem a 
finalidade de facilitar o processo ensino-aprendizagem dos alunos de, cursos técnicos de nível médio e de 
graduação da área da saúde, quanto aos aspectos da política pública de saúde no Brasil. Também se destina 
aos profissionais ingressantes na área da saúde que precisam conhecer um pouco da evolução histórica da 
política de saúde de nosso país, como subsídio para uma atuação mais consciente e proativa na continuidade 
da construção do SUS. 
Embora o SUS represente um grande avanço da nossa política pública, ainda exige grandes esforços da 
sociedade, inclusive dos trabalhadores da área, para o enfrentamento criativo e persistente dos desafios, para 
firmá-lo como sistema capaz de promover as ações de saúde necessárias ao nosso contexto sociopolítico e 
econômico. 
O material é composto por seis capítulos que resumem o percurso do sistema de saúde brasileiro, desde 
o despontar de sua conformação para poucos nos primeiros anos da república até a sua trajetória mais recente, 
buscando consolidar-se como um sistema de saúde para todos. 
No capítulo 1 — Antecedentes históricos do Sistema Único de Saúde (SUS): breve história da política 
de saúde no Brasil — abordamos a evolução da política de saúde brasileira, evidenciando a interface com as 
questões políticas e econômicas de cada momento. Nesse aspecto, destacam-se as características de um 
sistema que excluiu de seus serviços grande parcela da população, desenvolveu-se vinculado aos interesses 
privatistas e lucrativos da sociedade capitalista e que consolidou um modelo assistencial fragmentado, 
curativista e pouco resolutivo. Nessa triste história e no contexto de um regime ditatorial dos anos 70 e 80, 
merece destaque o florescer dos ideais da reforma sanitária, que teve na VIII Conferência Nacional de Saúde o 
seu momento áureo. Nesse evento, consolidou-se o consenso quanto às estratégias para a construção de um 
Sistema Único de Saúde — o SUS — para todos, independentemente da vinculação ao sistema previdenciário. 
No capítulo 2 - Sistema Único de Saúde e as Leis Orgânicas da Saúde - abordamos o nascimento do 
SUS na nova Constituição Federal, inaugurando, pela primeira vez na carta magna do país, a concepção da 
saúde como direito de cidadania, além de seus princípios doutrinários (universalidade, equidade e 
integralidade) e organizativos (descentralização, hierarquização, regionalização, participação e controle 
social). Abordamos ainda as leis orgânicas da saúde, os objetivos e atribuições desse novo sistema que já 
encontra no seu início de vida percalços e descaminhos na conjuntura neoliberal e de redução do papel do 
Estado como responsável pelos direitos sociais, inclusive os de saúde. 
No capítulo 3 — A descentralização do SUS: o financiamento e as Normas Operacionais Básicas - 
abordamos o longo caminho ainda inconcluso, da descentralização das ações e serviços de saúde aos 
municípios com o devido financiamento, questão central para que o SUS se consolide enquanto política 
pública de saúde universal, equânime e integral. Apesar dos recursos insuficientes e da falta de uma rede 
devidamente integrada em diversos municípios e/ou regiões, alguns avanços já se evidenciam, deixando claro 
que o SUS precisa ampliar e qualificar-se para melhor atender as necessidades de saúde da população em cada 
município brasileiro. 
No capítulo 4 - Pacto pela Saúde - apresentamos o contexto de criação do Pacto pela Saúde como 
ferramenta de responsabilização pública das três esferas de governo (federal, estadual e municipal) com a 
consolidação do Sistema Único de Saúde, avançando-se no processo de descentralização de forma 
compartilhada e solidária. Esse representa um compromisso dos gestores do SUS que passam a assumir uma 
agenda articulada e integrada com prioridades e metas estabelecidas através do Pacto pela Vida, Pacto e 
Gestão e Pacto em Defesa do SUS, redefinindo-se as atribuições e responsabilidades de cada nível do sistema 
 
 
 
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Textos extraídos do livro: SUS: antecedentes, percurso, perspectivas e desafio, de Zenaide Neto Aguiar. 
 
4 
na sua consolidação enquanto política pública de saúde estatal. 
No capítulo 5 - Do Programa Saúde da Família à Estratégia Saúde da Família - destacamos a criação 
oficial do Programa Saúde da Família em 1994, como um modelo de assistência à saúde direcionada para as 
populações residentes em áreas de risco social e sua transformação em estratégia (Estratégia Saúde da 
Família) para fortalecimento da atenção básica a partir de 1996, com a edição da Norma Operacional Básica 
(NOB 01/96), que prevê incentivos financeiros aos municípios aderentes à proposta. Apresentamos a evolução 
das equipes de saúde da família nos últimos anos e as atribuições propostas pelo Ministério da Saúde para os 
diversos profissionais, tendo em vista a resolubilidade e integralidade da atenção. 
No capítulo 6 — Os avanços e desafios do SUS nas duas décadas de existência — apresentamos os 
avanços do SUS nesse período de existência e demonstramos os enormes desafios estruturais e de conjuntura 
ainda existentes que precisam ser enfrentados pelos gestores e pela sociedade na defesa e implementação do 
sistema público de saúde universal, equânime e integral. 
Espera-se com este material contribuir com a formação de profissionais de saúde comprometidos com a 
implementação da política pública de saúde e com a melhoria da qualidade da assistência oferecida pelo SUS 
— que deve pautar-se pelo princípio do direito humano à saúde e à qualidade de vida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Textos extraídos do livro: SUS: antecedentes, percurso, perspectivas e desafio, de Zenaide Neto Aguiar. 
 
5 
 
CAPÍ TULO 1 
 
ANTECEDENTES HISTORICOS DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE 
BREVE HISTÓRÍA DA POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL 
 
 
O sistema de saúde brasileiro adquiriu, ao longo de sua evolução, características marcantes que 
acompanharam as tendências políticas e econômicas de cada momento histórico. Alguns aspectos que 
marcaram a história da organização desse sistema: a evolução da política de saúde deu-se em estreita relação 
com a evolução da política econômica e social da sociedade brasileira, obedecendo à ótica do capitalismo 
nacional, por sua vez, influenciado pelo capitalismo internacional a saúde pública não se constituía em 
prioridade dentro da política do estado brasileiro, recebendo maior atenção apenas nos momentos de epide-
mias ou endemias que refletiam na área econômica ou social e ameaçavam o modelo capitalista adotado; a 
assistência à saúde desenvolveu-se a partir da evolução da previdência social, com ênfase na medicina 
curativa e lucrativa a partir da contratação de serviços privados; o sistema de saúde estatal consolidou a 
dicotomia entre ações preventivas e de caráter coletivo e as ações curativas de caráter individual, sendo a 
primeira de responsabilidade do Ministério da Saúde e das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde e a 
segunda, assumida pela Previdência Social e pela medicina liberal.
2 
 Política de Saúde - ―definida como a ação ou omissão do 
Estado, enquanto resposta social diante dos problemas de 
saúde e seus determinantes, assim como da produção, 
distribuição e regulação de bens, serviços e ambientes 
que afetam a saúde dos indivíduos e da coletividade.‖! 
 
Tendo em vista a compreensão da realidade do sistema de saúde no contexto atual, será feito um breve 
resgate da história da política de saúde no Brasil, abordando-a por períodos históricos e relacionando-a ao 
contexto econômico e político de cada momento, desvelando-se algumas dificuldades e entraves que são 
estruturais e persistem até os dias de hoje. 
 
 1. Período Colonial/Imperial (1500 a 1889) 
 
No período de 1500 a 1822, o Brasil, como colônia de Portugal, tinha sua produção econômica 
realizada por meio dos ciclos do açúcar e da mineração, à base do trabalho escravo, com destino ao comércio 
internacional, de acordo com os interesses da Coroa Portuguesa. Após 1822, com a proclamação da 
independência, a produção econômica brasileira, também mantida à base do trabalho escravo, ainda se 
destinava à exportação, porém com maior liberdade de comércio com outros países, especialmente com a 
Inglaterra. Nesse período imperial, houve um crescimento da produção do café, que embora se destinasse à 
exportação, dinamizou o comércio interno, promovendo mudanças na estrutura social e o aumento do poder 
da burguesia local, o que culminou, em 1889, com a Proclamação da República. 
 
 
 
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Textos extraídos do livro: SUS: antecedentes, percurso, perspectivas e desafio, de Zenaide Neto Aguiar. 
 
6 
No final desse período, ideias abolicionistas e exigências internacionais contribuíram para a progressiva 
substituição do trabalho escravo pelo trabalho assalariado, o que motivou a imigração de trabalhadores de 
origem europeia para a produção cafeeira e as atividades industriais emergentes no Brasil. 
O quadro sanitário do Brasil colonial e imperial caracterizava-se pela existência de diversas doenças 
transmissíveis, trazidas inicialmente pelos colonos portugueses e, posteriormente, pelos escravos africanos e 
diversos outros estrangeiros que aqui chegavam para fins de comércio ou por imigração. Muitas dessas doen-
ças tornaram-se endêmicas e outras, provocavam epidemias assustadoras e dizimavam enormes contingentes 
populacionais. Eram frequentes as doenças Sexualmente transmissíveis, a lepra (hoje conhecida como 
hanseníase), a tuberculose, a febre amarela, a cólera, a malária, a varíola, a leischmaniose, além de 
doenças provocadas por desnutrição, acidentes por animais peçonhentos e as decorrentes das aglomerações 
urbanas nas cidades e das condições precárias de trabalho nas lavouras. 
 
 Endemia — ocorrência coletiva de uma determinada doença 
transmissível em uma determinada área geográfica acometendo a 
população de forma permanente e contínua. 
 Epidemia - ocorrência súbita de uma determinada doença 
transmissível em uma determinada área geográfica, acometendo em 
curto espaço de tempo grande número de pessoas. 
 
 Não se pode falar da existência de uma política de saúde no período colonial e imperial. No entanto, eram 
tomadas medidas que visavam minimizar os problemas de saúde pública que afetavam a produção econômica 
e prejudicavam o comércio internacional. Eram medidas que incluíam: o saneamento dos portos por onde 
escoavam as mercadorias; a urbanização e infraestrutura nos centros urbanos, de maior interesse econômico e 
que eram muito insalubres (Salvador, Recife, Ouro Preto, Rio de Janeiro, Cuiabá e São Paulo); e campanhas 
para debelar as epidemias frequentes e prejudiciais ã produção, que afetavam a imagem brasileira nos países 
com os quais o Brasil mantinha o comércio internacional. Essas intervenções eram pontuais e logo 
abandonadas, assim que conseguiam controlar os surtos presentes na época. A primeira campanha foi 
realizada em Recife e Olinda, entre 1685 e 1694, para debelar uma epidemia de febre amarela que afetava a 
produção e exportação da cana de açúcar.
2,3
’
4
 
A assistência médica limitava-se apenas às classes dominantes, constituídas principalmente pelos 
coronéis do café e era exercida pelos raros médicos que vinham da Europa (medicina liberal). Aos demais 
(índios, negros e brancos pobres), restavam apenas os recursos da medicina popular e as sangrias (extração de 
sangue) que eram praticadas para a cura de algumas doenças. Surgem as primeiras L.a>as de Misericórdias, 
que se destinavam ao abrigo dos doentes, indigentes e viajantes, sem assistência médica e tratamento aos 
problemas de saúde.
4
 
Datam desse período: a fundação das Escolas de Medicina do Rio de Janeiro (1813) e da Bahia (1815); 
a criação da Imperial Academia de Medicina em 1829 — órgão consultivo do imperador para as questões de 
saúde pública; e a organização da Inspetoria de Saúde dos Portos em 1828.
4 
 
 2. Período da Primeira República ou República Velha (1889-1930) 
Após o término da monarquia, a sociedade brasileira inicia a organização de seu Estado moderno, 
marcado pelo predomínio dos grupos vinculados à exportação do café e à pecuária. Inicia-se a primeira 
república, também chamada de república velha, em oposição ao período posterior governado pelo presidente 
Getúlio Vargas. 
No campo político, esse período foi marcado pelo domínio das elites agrárias de São Paulo, Minas 
Gerais e Rio de Janeiro. A maioria dos presidentes dessa época eram políticos mineiros e paulistas que se 
alternavam no poder e adotavam medidas que favoreciam o setor agrícola, principalmente do café (paulista) e 
 
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Textos extraídos do livro: SUS: antecedentes, percurso, perspectivas e desafio, de Zenaide Neto Aguiar. 
 
7 
da pecuária (mineiro), caracterizando a chamada política do café-com-leite. A atuação política era de repúdio 
à monarquia e visava à consolidação dos ideais republicanos e da ideologia liberal.
5
 
No campo econômico, tipicamente agroexportador, houve a hegemonia da produção do café, mantida à 
base do trabalho assalariado. Houve também um crescimento significativo da produção industrial, que 
juntamente com o setor agrário, passou a exigir gradativamente aumento de mão de obra, levando os governos 
brasileiros à adoção de políticas de incentivo à imigração europeia.
5
 
A situação de saúdeda população apresentava o mesmo panorama do período anterior, com predomínio 
das doenças pestilenciais como cólera, febre amarela, malária, tuberculose tifo, peste, varíola, gripe espanhola 
e outras. As condições de saneamento básico eram bastante precárias e várias epidemias matavam a população 
e dificultavam o recrutamento de trabalhadores da Europa. 
As ações e programas de saúde visavam ao controle das doenças epidêmicas, principalmente nas áreas 
fundamentais para a economia agrária exportadora (área dos portos) e buscavam atrair os imigrantes para a 
lavoura do café e da indústria incipiente. Assim, as ações de saneamento básico e infraestrutura eram 
realizadas, prioritariamente, nos espaços de circulação de mercadorias, especialmente, nos portos de Santos e 
Rio de Janeiro. Em 1902, o presidente Rodrigues Alves lançou o programa de saneamento do Rio de Janeiro e 
de combate à febre amarela em São Paulo. Essas medidas visavam estimular o comércio internacional e 
fomentar a política de imigração — trazendo para as lavouras cafeeiras a mão de obra necessária à produção 
do café.
6
 
Com essa finalidade, o governo de Rodrigues Alves nomeou Oswaldo Cruz, médico e pesquisador do 
Instituto Pasteur para a Diretoria Geral da Saúde Pública, o qual elegeu as campanhas sanitárias como 
modelo de intervenção de combate às epidemias rurais e urbanas, de conotação militar. Esse modelo de 
inspiração americana foi trazido de Cuba e caracterizava-se pela centralização das estruturas administrativas, 
pela concentração de poder e por um estilo repressivo de intervenção médica nos corpos individual e social.
7
 
Além das campanhas sanitárias e das ações de saneamento básico nas áreas de interesse comercial, foi 
criado o Instituto Soroterápico de Manguinhos, no Rio de Janeiro, depois denominado Instituto Oswaldo Cruz, 
com a finalidade de pesquisa e desenvolvimento de vacinas.
4
 
Em 1904, houve a imposição legal da vacinação contra a varíola, desencadeando-se uma revolta 
popular (revolta da vacina) liderada por opositores políticos do governo e médicos contrários à vacinação, 
sendo reprimida após alguns dias, depois da morte de alguns líderes populares. 
Revolta da Vacina - reação popular ocorrida no período de 10 a 16 de novembro de 1904, contra a Lei 
da Vacinação obrigatória de combate à varíola, aprovada em 31 de outubro de 1904. A população estava 
insatisfeita com as medidas autoritárias e policialescas das campanhas sanitárias comandadas por Oswaldo 
Cruz para combate de várias epidemias. Com a aprovação dessa Lei que permitia a entrada nas residências de 
brigadas sanitárias acompanhadas por policiais para a vacinação à força, movimentos estudantis e populares 
iniciam manifestações, sob lideranças de políticos opositores do governo e médicos contrários à vacina. O 
centro da cidade do Rio de Janeiro transformou-se em campo de guerra e sua contenção deu-se após forte 
repressão policial que resultou em muitas prisões, feridos e mortes. Após o episódio a vacinação tornou-se 
opcional e passado algum tempo, com aceitação dessa medida, a epidemia de varíola foi controlada. 
 
Em 1920, Carlos Chagas assumiu o Comando do Departamento Nacional de Saúde, inovando o modelo 
campanhista de Oswaldo Cruz, criando alguns programas que introduziam a propaganda e a educação 
sanitária da população como forma de prevenção das doenças. Nessa ocasião, foram criados alguns órgãos 
para controle da tuberculose, da lepra e das doenças sexualmente transmissíveis. 
2
 
Observa-se nesse período o nascimento da saúde pública, cujo modelo de intervenção chamado de 
sanitarismo campanhista estrutura-se sob a influência dos saberes fundamentados pela bacteriologia e pela 
microbiologia, contrapondo-se à concepção tradicional baseada na teoria dos miasmas que era utilizada para 
 
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Textos extraídos do livro: SUS: antecedentes, percurso, perspectivas e desafio, de Zenaide Neto Aguiar. 
 
8 
explicar o processo saúde-doença. Por outro lado, surge a Previdência Social que vai incorporar a assistência 
médica aos trabalhadores como uma de suas atribuições a partir de contribuição com as Caixas de 
Aposentadorias e Pensões (CAPs). As primeiras CAPs foram instituídas nas empresas ferroviárias e, mais 
tarde, estendidas aos portuários, marítimos e outras áreas, dando inicio ao sistema previdenciário no Brasil, 
como resposta das empresas e do governo às reinvidicações operárias. 
As CAPs foram criadas em 1923, pela Lei Eloy Chaves e são consideradas como embriões da previdência. 
Eram financiadas com recursos das empresas, do governo e dos empregados e o controle era exercido por 
patrões e empregados. Tinham como finalidade, além dos benefícios previdenciários, a assistência médica 
aos trabalhadores segurados e seus familiares.
5
 
 
Observa-se ainda o crescimento da medicina liberal, que era utilizada pela classe dominante e com 
poder aquisitivo, restando à maioria da população brasileira que não tinha direito às CAPs apenas os serviços 
oferecidos pelos escassos hospitais filantrópicos mantidos pela Igreja ou a prática popular da medicina. 
 
 O modelo sanitarismo campanhista — que envolve uma 
abordagem coletiva e ambiental da doença e caracteriza-se pela 
prática autoritária. 
3
 O modelo clínico curativo-privatista — 
realizada através das CAPS e da medicina liberal que 
privilegiam a abordagem individual e medicalizante dos 
problemas de saúde e negam a relação da doença com as 
condições de vida dos indivíduos e coletividades. 
 
Conclui-se que o estado brasileiro, na área da saúde, caracterizou-se ao longo desse período por dois as-
pectos básicos: o primeiro refere-se à estreita relação entre a política de saúde estabelecida e o modelo econô-
mico vigente e a clara dicotomia entre as ações de saúde pública e as ações de assistência médica. Emerge 
nessa conjuntura a estruturação de dois modelos de intervenção nas questões da saúde: o sanitarismo 
campanhista e o curativo-privatista.
3,5
 
No decorrer dos anos 20, o controle do governo federal passa a ser disputado por outros grupos sociais 
que se fortalecem econômica e politicamente no processo de urbanização e industrialização crescente, 
surgindo rupturas no cenário político. Por outro lado, a crise econômica aprofunda- se no Brasil a partir da 
crise mundial de 1922 a 1929, que trouxe impactos negativos para a exportação do café.
8
 
Diante desse panorama, as oligarquias agrárias perdem força política, o que favoreceu a revolução de 
1930 que foi comandada por Getúlio Vargas e representantes da classe dominante vinculada a outras áreas 
econômicas. Contaram com o apoio da classe média urbana (representada por profissionais liberais, 
intelectuais, militares e tenentes) e das classes populares insatisfeitas com as condições de vida e trabalho. 
Assim, a revolução de 1930 marcou o fim da hegemonia política dos grupos ligados ao café e à pecuária, 
crescendo a influência das indústrias mais voltadas para o mercado interno e o aumento do capital. Inicia-se 
uma nova fase política sob o comando de Getúlio Vargas que se mantém no poder por 15 anos. 
3. Período da Segunda República ou Era Vargas (1930-1945) 
A partir de 1930, o Brasil esteve sob o comando político do Presidente Getúlio Vargas, quando foi 
promovida uma ampla reforma administrativa e política que culminou com a Constituição de 1934, iniciando-
se o governo constitucional até 1937 e a ditadura do Estado Novo de 1937 a 1945. Trata- se de uma fase de 
forte centralização política e participação estatal nas políticas publicas, o que, aliado às políticas populistas, 
atribuiu ao presidente o apelido de 
:
pai dos pobres‖.
4
 
No período em questão, ocorre um deslocamento do polo dinâmico da economia para os centros 
 
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Textos extraídos do livro: SUS: antecedentes,percurso, perspectivas e desafio, de Zenaide Neto Aguiar. 
 
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urbanos, com grande investimento no setor industrial na região centro-sul, especialmente nas cidades de São 
Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Esse encaminhamento reforça ainda mais a importância econômica e 
financeira dessa região, agravando os desequilíbrios regionais ainda vigentes nos dias atuais. Essa política 
promove o êxodo rural, especialmente da região nordeste para os centros econômicos do país, contribuindo 
para o processo de urbanização precária e desordenada e a proliferação de favelas nas grandes cidades.
2
 
A crescente massa urbana constitui a mão de obra para o setor industrial crescente. Esse, por sua vez, 
passa a exigir cada vez mais investimentos em infraestrutura de grande porte. O Estado, como regulador das 
relações entre capital e trabalho, estabelece o salário mínimo, o que junto a outras medidas, possibilita o 
acúmulo de capital necessário ao investimento na infraestrutura demandada pela industrialização, a exemplo 
da construção da Companhia Hidrelétrica do Vale de São Francisco e da Siderúrgica de Volta Redonda.
8
 
Para a promoção da expansão do sistema econômico em projeto, foram realizadas mudanças na 
estrutura do Estado e uma legislação paralela para a efetivação das mudanças, além da criação do Ministério 
do Trabalho, da Indústria e Comércio e do Ministério da Educação e Saúde.
2
 
No governo de Vargas, foram promulgadas as leis trabalhistas que estabelecem uma relação contratual 
entre 'capital e trabalho e, ao mesmo tempo,garantem alguns direitos sociais aos trabalhadores. Também se 
promoveu a vinculação dos sindicatos à estrutura do Estado com exigência de pagamento de contribuição 
sindical por parte dos empregados sindicalizados.
2
 
O crescimento acelerado da indústria se dá à custa das condições precárias de trabalho, aumentando os 
riscos e problemas de saúde aos trabalhadores urbanos, piorando as condições de vida e saúde dessa 
população, que não contava com moradia e saneamento adequados. Dessa forma, aos problemas antigos de 
saúde da população (doenças endêmicas e epidêmicas) foram acrescidos outros decorrentes da inserção no 
processo produtivo industrial e das condições precárias no modo de viver, tais como: acidentes de trabalho, 
doenças profissionais, estresse, desnutrição, verminoses, entre outros. 
 
 IAPs — Institutos de Aposentadorias e Pensões - criados no governo de Getúlio Vargas, 
vinculados ao Ministério do Trabalho. Foram criados vários Institutos, agora não mais 
por empresas e sim por categorias profissionais: dos Marítimos (IAPM); dos Bancários 
(IAPB); dos Comerciários (IAPC); dos Empregados de Transportes e Cargas (IAPTEC); 
e dos Industriários (IAPI). 
 
No entanto, as medidas adotadas caminhavam no sentido de manter a força de trabalho em condições de 
produção, valendo-se da assistência médica vinculada à Previdência Social, que a partir de 1933 transformou 
as CAPS em Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs). A gestão dos IAPS passou gradativamente para o 
controle do Estado, sendo o seu presidente nomeado pelo Presidente da República e os representantes dos 
trabalhadores e patrões indicados pelos sindicatos atrelados ao poder executivo, mudando a prática da escolha 
por eleição direta. O financiamento era de forma tripartite, com participação dos empregados, empregadores e 
Estado, sendo este último o centralizador dos recursos financeiros.
9
 De acordo com Mendes
10
, a assistência 
médica era prerrogativa fundamental das CAPS, por meio de uma rede própria desenvolvida para esse fim, 
passando a ser um aspecto secundário no período dos IAPs. Esses Institutos priorizavam a contenção de 
gastos, tendo em vista a política de acumulação do capital necessário ao investimento em outras áreas de 
interesse do governo. 
A criação do Ministério da Educação e Saúde ocorreu em 1930, com a função de coordenar as ações de 
saúde pública no mesmo modelo do sanitarismo campanhista do período anterior. Conforme Roncalli
6
, essa 
fase corresponde ao auge do sanitarismo campanhista na área de saúde pública, com a criação do Serviço 
Nacional de Febre Amarela, do Serviço de Malária no Nordeste e da Fundação Serviço Especial de Saúde 
Pública (SESP).
6
 
A política de saúde adotada reforça a antiga dicotomia: as ações de caráter coletivo sob a gestão do 
Ministério da Educação e Saúde (modelo sanitarismo campanhista), separadas das ações curativas e 
 
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Textos extraídos do livro: SUS: antecedentes, percurso, perspectivas e desafio, de Zenaide Neto Aguiar. 
 
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individuais, vinculadas aos IAPS, reforçando a dualidade do modelo assistencial. Destaca-se que a população 
de maior poder aquisitivo utilizava os serviços privados de saúde integrantes da medicina liberal crescente, 
enquanto a maioria da população não vinculada à previdência contava apenas com os escassos serviços 
públicos e das instituições de caridade, além das práticas populares de tratamento. 
4. Período da Redemocratização ou Desenvolvimentista (1945-1963) 
O ano de 1945 é marcado pelo final da segunda guerra mundial, com a vitória dos Estados Unidos e das 
forças aliadas sobre o fascismo e o nazismo, com a derrota de Hitler. Nesse contexto, os regimes ditatoriais 
são enfraquecidos e um clima de democratização faz parte do cenário mundial. Motivados por esse clima e 
pela crise econômica brasileira, forças sociais lideradas pelos opositores do regime impõem a deposição do 
presidente Getúlio Vargas em 29 de outubro de 1945. 
Com a deposição de Vargas, reinicia-se um período de redemocratização do país com eleições para 
presidente e para a Assembleia Constituinte, seguindo-se a consolidação do populismo nacionalista, o 
pluripartidarismo de caráter nacional e maior efervescência social. 
Após eleições populares, deu-se início ao governo de Eurico Gaspar Dutra (1946-1951), quando a 
quarta Constituição Federal foi aprovada, mantendo-se o regime presidencialista e os direitos trabalhistas 
estabelecidos no governo de Vargas. Em tempos de guerra fria, Dutra alinha-se à política dos Estados Unidos 
da América em oposição aos países socialistas. No decorrer de seu mandato, intervém nos sindicatos e 
partidos, declara ilegal o Partido Comunista Brasileiro, governa com um Congresso representante da classe 
dominante, adota medidas anti-inflacionárias e congela os salários dos trabalhadores. 
Dutra lançou o Plano Salte (Saúde, Alimentação, Transporte e Energia) elaborado em 1948 e aprovado 
em 1950, destacando a saúde como uma de suas prioridades, o que não se consolidou na prática, uma vez que 
a maior parte dos recursos do plano foi destinada à área de Transporte.
11
 
De acordo com alguns autores
11
, o sanitarismo campanhista, tio âmbito da saúde pública, revigorou seu 
caráter centralizador e autoritário. Um debate político se faz presente na sociedade com críticas dirigidas à 
atuação da Fundação SESP e com propostas para a criação de um Ministério da Saúde independente. Foi 
observada uma redução dos casos de tuberculose, malária e outras doenças transmitidas por insetos, o que foi 
atribuído por alguns ao resultado das campanhas sanitárias e, por outros, como decorrência do 
desenvolvimento do período.
11
 
Segue-se o mandato de Getúlio Vargas (1951-1954) que retorna ao poder por meio de eleições diretas 
(1951-1954). Nessa nova fase, retoma seus projetos econômicos, expande a Companhia Siderúrgica Nacional, 
amplia as rodovias, cria as usinas hidrelétricas, a Petrobrás, entre outras medidas, para garantir a infraestrutura 
necessária ao processo de industrialização que desejava implementar, numa política de caráter nacionalista. 
No campo político, Vargas sedimentou o populismo, como ―modalidade de relação entre governante e 
governados‖. O populismo adotado caracteriza-se, principalmente, pela prática de contato direto comas mas-
sas populares, sem a intermediação de partido ao qual era filiado (o PTB), desqualificando a ideia de 
democracia representativa, numa perspectiva de vínculo emocional com o povo para poder ser eleito e 
governar.
11
 Nessa prática, faz concessões sociais, enquanto adquire o apoio popular para as medidas 
econômicas e políticas adotadas. 
Alguns autores destacam que nesse clima de barganha e pressões, a assistência médica expandiu-se em 
todos os Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs), generalizando pouco a pouco os direitos, que se dife-
renciavam entre os Institutos, conforme a capacidade reivindicativa e de organização de cada categoria.
3
 No 
entanto, a implantação de programas e serviços de atenção médica tem como marca o clientelismo, favorecido 
pelo atrelamento dos sindicatos e Institutos ao Estado.
7
 
Em Julho de 1953, foi criado o Ministério da Saúde independente da área da educação, sendo-lhe 
destinado apenas um terço dos recursos alocados no antigo Ministério da Educação e Saúde. Durante 10 anos, 
esse Ministério foi dirigido por 14 ministros, caracterizando-se pela transitoriedade de seus titulares como 
 
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Textos extraídos do livro: SUS: antecedentes, percurso, perspectivas e desafio, de Zenaide Neto Aguiar. 
 
11 
resultado da intensa barganha política e prática clientelista que envolvia a escolha de seus dirigentes.
11
 
A proposta de separação do Ministério da Saúde do antigo Ministério de Educação e Saúde já era 
debatida havia algum tempo, paralelamente ao tipo de política de saúde defendida para o país. Existiam dois 
grupos de sanitaristas que defendiam propostas distintas: os que defendiam a manutenção do tradicional 
modelo do sanitarismo campanhista e a prática higienista da Fundação SESP; e os que desenvolviam a 
corrente de opinião do sanitarismo desenvolvimentista, sob o argumento da relação entre o nível de saúde da 
população e o grau de desenvolvimento econômico do país. Esses últimos defendiam uma proposta de 
articulação das campanhas sanitárias à promoção de assistência e de articulação de ações preventivas e 
curativas, de acordo com as necessidades da população, a serem executadas no nível municipal.
11
 No entanto, 
os parcos recursos destinados à pasta limitavam a sua atuação, permanecendo- se a pouca efetividade nas 
questões relativas à saúde pública brasileira. 
O mandato de Vargas foi acompanhado de intensos conflitos políticos entre os Nacionalistas que 
defendiam o desenvolvimento do país sem o capital estrangeiro e os Desenvolvimentistas que defendiam a 
entrada do capital estrangeiro para o deslanche industrial no Brasil. Com o aumento da oposição ao governo e 
o envolvimento de sua segurança pessoal ao atentado de Carlos Lacerda, porta-voz da oposição getulista, a 
pressão para a renúncia de Getúlio Vargas aumentou. Diante dessas pressões e sem ver uma saída honrosa, 
Getúlio suicidou-se em 1954, saindo da vida para entrar na história, como mártir do nacionalismo, herói 
popular e pai dos pobres.
11
 
Juscelino Kubitschek que governa o país de 1956 a 1960, através da coligação Nacional-
Desenvolvimentista, promove grandes transformações econômicas com apoio do capital estrangeiro e põe em 
ação o Plano de Metas, cuja síntese é a construção de Brasília para sede da nova capital. Ao final de seu 
governo, o país contava com uma estrutura industrial complexa e consequente fortalecimento da burguesia 
industrial. Era evidente a crise econômica com crescimento da inflação e da dívida externa brasileira. 
Seu governo caracteriza-se pela ênfase ao desenvolvimento, com a visão das políticas sociais como 
paliativas. Nesse contexto, a saúde pública obtém modestas conquistas, enquanto os IAPS fortalecem o 
modelo de assistência médica curativa aos seus segurados na perspectiva de manutenção do trabalhador 
saudável para a produção. Aqueles que possuíam mais recursos e cuja categoria profissional exercia maior 
poder de pressão construíam hospitais próprios para o atendimento de seus segurados. Algumas empresas 
insatisfeitas com a atuação dos Institutos começaram a contratação de serviços médicos particulares, o que 
mais tarde viria a se constituir nas empresas médicas ou medicina de grupo que terá espaço garantido na 
assistência previdenciária nos anos seguintes. Amplia-se assim o modelo médico-assistencial privatista que se 
tornou hegemônico dos anos 60 aos 80.
7
 
Segue-se um período tumultuado na política do país, com a vitória de Jânio Quadros em 1961 e sua 
renúncia no mesmo ano e a condução política de seu vice, João Goulart, com forte oposição política da elite 
nacional, por defender reformas de base e políticas sociais. A partir de uma articulação dos militares, da 
burguesia industrial e da elite nacional, foi planejado o golpe das forças armadas que se concretizou no dia 31 
de março de 1964, instaurando-se a ditadura militar, que perdurou até sua lenta gradual e pactuada transição 
para o regime democrático em 1985. 
 
5. Período do Regime Militar (1964-1984) 
O período de ditadura militar que perdurou por 20 anos foi cortado por conjunturas específicas: a 
primeira fase de 1964 a 1968 — de institucionalização da ditadura; a segunda fase de 1968 a 1974 - de 
expansão da industrialização com capital internacional ou período do milagre brasileiro; a terceira fase de 
1974 a 1984 — de crise econômica e do regime militar e abertura política.
7
 
Na primeira fase (1964-1968) — de institucionalização da ditadura, os governos militares 
estabeleceram eleições indiretas para presidente, cassaram os mandatos de diversos parlamentares federais e 
estaduais, intervieram nos sindicatos, entre outras medidas autoritárias e antidemocráticas. Os partidos 
 
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Textos extraídos do livro: SUS: antecedentes, percurso, perspectivas e desafio, de Zenaide Neto Aguiar. 
 
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políticos foram dissolvidos com a criação do bipartidarismo que permitia o funcionamento apenas de dois 
partidos — a Aliança Renovadora Nacional (ARENA) que representava os militares e o Movimento 
Democrático Brasileiro (MDB) de oposição consentida. Com a Constituição de 1967, confirma-se e 
institucionaliza-se o regime militar e suas formas de atuação e o governo segue por meio de Decretos e Atos 
Institucionais. Promoveu-se nesse período o processo de restauração da ordem na sociedade, entendida como 
repressão a qualquer discordância, a modernização da estrutura econômica subordinada aos interesses do 
grande capital nacional e internacional, a reestruturação do aparelho estatal, com a expansão de sua 
tecnoburocracia. Cresce o investimento em infraestrutura para favorecer o processo de modernização e 
industrialização do país e gradativamente são reduzidos os gastos sociais, favorecendo a acumulação 
capitalista.
12
 
Segue-se o período de crise da política econômica (1974-1984), agravada pela crise do petróleo e 
recessão mundial e pela redução de empréstimos internacionais que afetaram a economia brasileira, 
evidenciando-se os sinais de esgotamento do modelo que gerou concentração de renda para uma minoria e 
empobrecimento para grande parcela da população. 
No campo da saúde, implantou-se, de modo gradual e intenso, um sistema de saúde caracterizado pelo 
predomínio financeiro das instituições previdenciárias e por uma burocracia técnica que priorizava a 
mercantilização da saúde. Nessa perspectiva, em 1966, promoveu-se a unificação dos Institutos de 
Aposentadorias e Pensões (IAPs), com a criação do Instituto Nacional de Previdência e Assistência Social 
(INPS), subordinado ao Ministério do Trabalho e Previdência Social, com responsabilidade pelos 
benefícios previdenciários e pela assistência médica aos segurados e seus familiares.
13
 A medida uniformiza 
os benefícios para todas as categorias, mas acaba com a gestãotripartite (trabalhadores, empregadores e 
União) que existia até então nos IAPs, passando o INPS a uma gestão centralizada do ponto de vista 
administrativo e financeiro e com fins de capitalização. Destaca-se que até 1964, a assistência médica 
previdenciária era prestada, principalmente, pelos hospitais, ambulatórios e consultórios médicos da rede de 
serviços próprios dos Institutos, passando-se a partir de então à contratação prioritária dos serviços privados 
de saúde. Assim, o INPS passou a ser o grande comprador dos serviços privados de saúde, estimulando-se um 
padrão de organização da prática médica pela lógica do lucro. Além do fortalecimento do setor privado, a 
previdência mantém a expansão da medicina de grupo, modalidade em que as empresas contratavam uma 
empresa médica para assistência aos seus empregados, deixando de contribuir com o INPS. 
A medicina de grupo, também orientada para a comercialização da saúde e pelo lucro, teve grande 
expansão no período e destinava-se principalmente aos trabalhadores com maior poder aquisitivo. 
Ocorreu no período uma expansão da assistência médica da previdência a partir da inclusão dos 
trabalhadores rurais (1971), das empregadas domésticas (1972) e dos trabalhadores autônomos (1973). A 
ampliação da seguridade e da assistência médica a outras categorias traz um grande impacto para os gastos da 
previdência, já elevados, em decorrência do modelo assistencial, da forma de contrato com as empresas 
privadas que favoreciam a lucratividade, além de fraudes e corrupção frequentes, com grande ônus aos cofres 
previdenciários. 
O Ministério da Saúde, com a missão de atuação em âmbito coletivo, é relegado ao segundo plano, 
perdendo poder e privilégios políticos. Com recursos limitados, torna-se ineficiente para enfrentar os 
problemas de saúde pública que se agravam no país em decorrência das condições precárias de vida impostas 
à maioria da população,
12
 Os sanitaristas perdem espaço político com consequente desvalorização do modelo 
sanitarista campanhista de anos anteriores. As ações de saúde pública reduzem-se ao controle e erradicação de 
algumas endemias comandadas agora pela então criada Superintendência de Campanhas de Saúde Pública 
(SUCAM). 
O sistema previdenciário foi desvinculado do Ministério do Trabalho, passando-se à subordinação do 
Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), criado em 1974, o que não traz mudanças nas 
características em curso dos serviços de saúde: o privilegiamento do modelo clínico de caráter individual, 
curativo e especializado em detrimento das ações coletivas e de saúde pública; a expansão do complexo 
 
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médico-assistencial privado composto pelo hospital, pela indústria farmacêutica e de equipamentos médico-
hospitalares e pela medicina de grupo; a lógica lucrativa do setor saúde; a desigualdade de acesso e 
diferenciação no atendimento de acordo com a clientela, além da exclusão de parcela importante da população 
do atendimento à saúde.
9,12
 
Com a criação do MPAS, também foi criado o Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social (FAS), 
cujos recursos eram destinados ao financiamento da construção de hospitais. Esse Ministério elaborou o Plano 
de Pronta Ação (PPA) que ampliava a contratação 'de hospitais e clínicas particulares para atendimentos de 
urgência de qualquer indivíduo, segurado ou não.
1
 Essas medidas contribuíram para elevar os gastos 
previdenciários e fortalecer a dicotomia entre atenção preventiva e atenção curativa.
14
 
A assistência médica financiada pela Previdência Social alcançou, na década de 70, a maior expansão 
em número de leitos, em cobertura e em volume de recursos arrecadados. A forma de contratação e 
pagamento de empresas privadas para prestação de assistência aos segurados favoreceu o processo de 
corrupção com consequente desfalque para o orçamento previdenciário. Fazendo jus a essa política, ocorreu 
uma expansão de clínicas e hospitais privados construídos com recursos da previdência e de faculdades 
particulares de medicina com enfoque na medicina curativa — com ênfase nas especialidades médicas e na 
sofisticação tecnológica, com consequente aumento de consumo de equipamentos médico-hospitalares e 
produtos farmacêuticos.
13
 
Ao final dos anos 70, aprofunda-se a crise do modelo de saúde previdenciária. Crise essa, favorecida: 
pelo alto custo da assistência que é complexa, pouco resolutiva e insuficiente para a demanda; pela menor 
arrecadação financeira em tempos de crise econômica; e pelos desvios dos recursos, alimentados pela ânsia de 
lucro do setor privado. Vive-se um caos nos serviços públicos de saúde, há muito sucateados e insuficientes 
para a demanda existente. 
Como os problemas sociais e de saúde agravam-se e a resolução por parte do Ministério da Saúde é 
lenta e insignificante, cresce a insatisfação da sociedade e um clima propício para o surgimento dos 
movimentos sociais. Esses movimentos sociais denunciam a ineficiência das estruturas de saúde pública e 
previdenciária, reivindicam serviços de saúde e lutam por melhores condições de vida à população menos 
favorecida. 
Em 1975, a crise do setor saúde foi discutida na V Conferência Nacional de Saúde. Foram levantados 
os problemas da insuficiência, má distribuição e falta de coordenação dos serviços de saúde, além de sua 
inadequação e ineficácia. Nessa ocasião, o Governo Federal apresentou a proposta de criação de um Sistema 
Nacional de Saúde através da Lei 6.229 que definia as atribuições dos diversos ministérios envolvidos com a 
questão saúde, além das atribuições das instâncias federal, estadual e municipal.
1
 No entanto, a oposição dos 
empresários da saúde dificulta a regulamentação dessa lei e o governo mantém sua intervenção política em 
alguns programas verticais, tais como: Programa Materno- infantil, Programa Nacional de Imunização, 
Programa Nacional de Alimentação e Nutrição (PRONAN), Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica 
etc.
1
 
Em 1977, efetivou-se uma nova reordenação burocrático-administrativa do sistema de saúde com a 
criação do Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social (SIMPAS). Esse sistema era composto 
pelos órgãos: Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) — direcionado para o pagamento de benefícios 
aos segurados; o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS) — encarregado 
da prestação de assistência médica individual e curativa por meio dos serviços privados contratados e 
conveniados aos trabalhadores urbanos e rurais; a Fundação Legião Brasileira de Assistência (LBA) - com a 
finalidade de prestar assistência à população carente; o Instituto de Administração Financeira da Previdência e 
Assistência Social (IAPAS); a Empresa de Processamento de Dados da Previdência Social (DATAPREV); a 
Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor (FUNABEM); e a Central de Medicamentos (CEME).
3
 
A política econômica dos anos do regime militar trouxe como consequências: concentração de renda, 
arrocho salarial, redução do poder de compra do salário mínimo, aumento de preços, colapso dos serviços 
públicos de saúde e transporte e precárias condições de vida para a população brasileira.
12
 Essa situação 
 
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14 
reflete-se nas altas taxas de morbidade e mortalidade por doenças endêmicas e algumas epidemias ainda 
persistentes, altas taxas de mortalidade materna e infantil, entre outras doenças de massas resultantes e/ou 
agravadas pelas condições de vida e trabalho. No período, também aumentaram as mortes por doenças 
cardiovasculares e por neoplasias.
1
 
A partirda Conferência de Alma Ata, ocorrida em 1978, começa a ser difundida na América Latina e 
no Brasil, com apoio da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Organização Pan-Americana de Saúde 
(OPAS), o conceito de Atenção Primária à Saúde e os princípios da medicina comunitária que preconizava: a 
desmedicalização, o autocuidado de saúde, a atenção primária realizada por não profissionais de saúde, a 
participação da comunidade, entre outros. Assim, alguns programas vinculados aos departamentos de 
medicina preventiva foram implantados na perspectiva de formação de estudantes da área de medicina, 
propiciando novas práticas e novas concepções para a organização dos serviços de saúde.
12
 Essas práticas 
permitiram aos Departamentos de Medicina Preventiva das Faculdades de Medicina uma consciência crítica 
dos problemas sanitários do país. Uma abundante produção acadêmica passa a apresentar severas críticas ao 
modelo assistencial e fundamentação teórica quanto à determinação social da saúde-doença, além de 
alternativas para reestruturação do sistema de saúde, partindo da concepção de saúde como direito de 
cidadania. 
PIASS - Programa que foi criado com a finalidade de* extensão 
da cobertura dos serviços de saúde prioritariamente nas zonas 
rurais e pequenas cidades do interior do país. Teve sua 
implantação em algumas comunidades da região nordeste, 
seguindo- se os mesmos princípios preconizados pela atenção 
primária à saúde. 
 
Tendo como referência as recomendações internacionais e a necessidade de expansão da cobertura dos 
serviços de saúde, foi criado em 1976 o Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento 
(PU5S). Esse programa promoveu uma grande expansão da rede ambulatorial pública e favoreceu a entrada 
de técnicos provenientes do movimento sanitário nos órgãos de Saúde do Estado e o surgimento de novas 
experiências no campo da saúde pública.
1
 
A crise do regime militar começa a ganhar evidências e manifesta-se no processo eleitoral de 1974, 
quando o partido MDB sai vitorioso das eleições para cargos legislativos e ganha a prefeitura na maioria das 
grandes cidades. Cresce o processo de redemocratização do país, com a Lei da Anistia em 1977, que concede 
o direito de retorno aos exilados e condenados por crimes políticos.
12
 
No que se refere à saúde, todo esse clima favoreceu o fortalecimento do debate e o surgimento de 
propostas para reformulação do setor. Uma dessas propostas gerou o projeto denominado PREV-SAÚDE que 
foi discutido na VII Conferência Nacional de Saúde no governo de João Figueiredo. Esse Programa, no 
entanto, não foi implementado por encontrar objeções dos dirigentes do INAMPS e pressão dos empresários 
da saúde. 
O movimento social mantém-se articulado e pressiona o governo por mudanças no modelo de 
assistência previdenciário em crise crescente em função da escassez de recursos e do aumento dos custos 
operacionais para sua manutenção. Assim, em 1981, foi criado pelo governo o Conselho Consultivo de 
Administração da Saúde Previdenciária (CONASP) ligado ao INAMPS, que traz em seu plano a proposta de 
mudança do modelo assistencial, tendo em vista: a melhoria da qualidade da atenção; a ampliação de serviços 
para as populações urbanas e rurais; a descentralização e a hierarquização dos serviços de saúde por nível de 
complexidade. A partir desse plano, vários sanitaristas entraram para áreas estratégicas do INAMPS e 
iniciaram a fiscalização da prestação de contas dos prestadores de serviços credenciados para combate das 
fraudes e passaram a exercer maior influência no processo de reforma do setor saúde, apesar das disputas com 
o setor privado.
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15 
 PREV-SAÚDE — Programa Nacional de Serviços Básicos de Saúde — que visava uma 
reorientação do sistema vigente, através de uma integração entre os dois ministérios 
(Saúde e Previdência Social) e as secretarias estaduais e municipais de saúde. Propunha-se 
à extensão da cobertura dos serviços a toda a população, com ênfase na atenção primária à 
saúde e na participação comunitária. 
A partir do CONASP, foi possível a criação, em 1983, do Programa de Ações Integradas de Saúde. Os 
governos estaduais, através de convênios com o Ministério da Saúde e da Previdência Social, recebiam 
recursos que eram repassados aos municípios, o que possibilitou a expansão da cobertura por meio da 
construção de Unidades Básicas de Saúde e a contratação e capacitação de recursos humanos para os serviços 
de atenção básica. Vale destacar que a ampliação dos serviços acontecia como resposta das autoridades 
estaduais e municipais às reivindicações dos movimentos sociais e de saúde que foram se fortalecendo por via 
da organização nos diversos espaços (da academia, do sindicalismo, das comunidades e de várias 
associações). Na cidade de São Paulo a participação do movimento de saúde foi decisiva para as conquistas 
que se sucederam na história da saúde pública brasileira nos anos 70 e 80. 
 
 Ações Integradas de Saúde (AIS). O programa tinha como objetivo articular todos os 
serviços que prestavam assistência à saúde da população de uma região e integrar as ações 
preventivas e curativas com vistas à integralidade da atenção. Através das AIS, o 
INÀMPS repassava 10% de sua arrecadação para as Secretarias Estaduais de Saúde, 
propiciando a expansão dos serviços de saúde de atenção básica. 
 
 O Movimento de Saúde na cidade de São Paulo nasceu na região leste no final dos anos 
70 e espalhou-se para outras regiões de maneira articulada. Era composta por moradores 
das periferias, maioria mulheres, que lutavam pela ampliação e qualidade dos serviços de 
saúde nos seus bairros, por saneamento básico, creches, educação e outras políticas 
públicas, consideradas como direitos de cidadania e dever do Estado. Esse movimento 
articulou-se aos demais, reforçando a luta pela Reforma Sanitarista Brasileira. 
 
Nos últimos anos do regime militar o Brasil estava envolto em uma grande crise econômica 
caracterizada por alta inflação e forte recessão econômica. Enquanto isso, aumenta a participação social, 
fortalecem-se os sindicatos e a oposição política, culminando em 1984 com o Movimento das Diretas Já, que 
resultou na Emenda Dante de Oliveira, com garantia de eleições diretas para presidente naquele ano. No 
entanto, a emenda não foi aprovada e em janeiro de 1985, o Colégio Eleitoral escolheu Tancredo Neves que 
concorreu com Paulo Maluf para Presidente da República. 
Com a morte de Tancredo Neves, o seu vice Sarney assumiu o poder, iniciando-se o Período da Nova 
República. Na ocasião, novas conquistas foram obtidas pelo movimento da Reforma Sanitária, com apoio de 
alguns parlamentares, movimentos de saúde, trabalhadores da saúde, acadêmicos e entidades como CEBES e 
ABRASGO. Essas entidades tiveram papel fundamental na politização, divulgação de conhecimentos, críticas 
e experiências inovadoras na área da saúde e propostas de articulação da sociedade para as mudanças na esfera 
sanitária fortalecendo a proposta da Reforma Sanitária — em construção ao longo dos anos 70 e 80
13
. 
 CEBES — Centro Brasileiro de Estudos da Saúde, criado em julho de 1976. Através da 
Revista Saúde em Debate mantinha um espaço de divulgação dos problemas de saúde 
brasileira, de crítica e propostas para reformas do sistema de saúde. 
 ABRASCO — Associação Brasileira de Pós- Graduação em Saúde Coletiva, criada em 
1979, atuava na formação de profissionais com ênfase na saúde coletiva e articulação 
com a sociedade organizada e o poder público para a reorganização das políticas pú-
blicas de saúde. 
 
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REFORMA SANITÁRIA 
A Reforma Sanitária refere-se ao projeto articulado ao longo dos anos 70 e 80 no Brasil, na 
perspectiva de reformulação do sistema de saúde que aprofundou no período do regime militar a sua 
característica de assistência médica curativa fortemente vinculada ao setor privado e lucrativo, eminentemente 
excludente, curativo, pouco resolutivo e dispendioso. O projeto de reforma sanitária preconizava a criação de 
um sistema único de saúde, acabando com o duplo comando do Ministério da Saúde e do INAMPS que 
executavam ações de saúde em perspectivas antagônicas. A defesa desse projeto era encaminhada pelo 
movimento sanitário que aglutinava sanitaristas comprometidos com as mudanças do sistema de saúde e 
diversos atores sociais, entre os quais, lideranças populares, trabalhadores, sindicatos, parlamentares de 
esquerda, intelectuais e estudantes da saúde e entidades como CEBES e ABRASCO. Todos em luta contra as 
condições precárias de vida da população, contra as iniquidades do sistema de saúde e pelo reconhecimento 
da saúde como direito social a ser garantido pelo Estado. Esse projeto, cujo desenho e conteúdo consolidaram-
se gradativamente ao longo do tempo, preconizava a transformação da relação entre Estado e sociedade, com 
clara defesa da participação social de forma institucionalizada nos rumos da política de saúde e pela 
construção da cidadania.
15
 Tinha como ambição a universalização do direito à saúde, compreendida como 
qualidade de vida e um modelo de atenção com ênfase na integralidade. Nos anos 80, o movimento sanitário 
usou como tática a ocupação dos espaços institucionais e a formulação e implementação de políticas de saúde 
frente à crise do INAMPS
13
, o que propiciou o surgimento de alguns programas de expansão dos serviços e 
sua descentralização, como as Ações Integradas de Saúde - AIS (1983) e Sistema Unificado e Descentralizado 
da Saúde - SUDS (1987). Teve como momento expressivo a realização da VIII Conferência Nacional de 
Saúde em 1986, em cuja oportunidade, a reforma mais completa do setor saúde foi debatida e pactuada para 
sua inscrição na Constituição Federal. Embora a maior parte das propostas discutidas e encaminhadas pelo 
movimento da Reforma Sanitária tenha sido inscrita no capítulo da saúde da nova constituição em 1988, a 
reforma não se acaba com esse ato, uma vez que encaminhamentos para a devida implementação do Sistema 
Único de Saúde (SUS)- encontram barreiras estruturais e conjuntura desfavorável no período pós-constituinte. 
E importante destacar que estão sempre presentes na sociedade outros projetos de interesse lucrativo do setor, 
os quais impõem barreiras à consolidação SUS, manifestadas nas dificuldades de financiamento e repasses de 
recursos para a sua completa universalização e integralidade, desde o seu nascimento e com persistência nos 
dias atuais. 
 
 
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6. Período da Nova República (1985-1988) 
Em março de 1985, José Sarney tomou posse na Presidência da República e, mantendo o compromisso 
assumido por Tancredo Neves, enviou ao Congresso a proposta de convocação da Assembleia Nacional 
Constituinte a ser composta pelos deputados federais e senadores que seriam eleitos nas eleições previstas 
para 1986 e pelos senadores já eleitos em 1982. 
Diante desse cenário de redemocratização da sociedade, diversas entidades e movimentos sociais 
mobilizavam e estimulavam a participação popular em vários estados no processo de discussão da nova Carta 
Constitucional. Desejava-se que a sua elaboração fosse fruto da participação dos diversos segmentos sociais e 
não apenas das elites econômicas e políticas e, consequentemente, avançasse no aspecto da democracia e na 
garantia dos direitos e deveres de cidadania. 
Na ocasião, o quadro sanitário evidenciava a redução das doenças imunopreveníveis e da mortalidade 
infantil, a manutenção da mortalidade por doenças cardiovasculares e neoplásicas, aumento da mortalidade 
por causas externas (acidentes, homicídios etc.), da epidemia da AIDS e surgimento de epidemias de dengue 
em algumas capitais.
1
 Enquanto isso, persistem as iniquidades e precariedades do sistema de saúde e os 
protestos populares pela conquista de direitos sociais, inclusive de saúde. 
Esse clima de ebulição participativa e de lutas por ampliação da cidadania foi favorável para se colocar 
a saúde na agenda política e difundir as propostas da Reforma Sanitária. Assim, a realização da VIII 
Conferência Nacional de Saúde em 1986 criou um espaço importante para o debate dos problemas do 
sistema de saúde e de propostas de reorientação da assistência médica e de saúde pública. 
 
VIII CONFERENCIA NACIONAL DE SAÚDE - realizada na cidade de Brasília em 1986 
com a participação de cerca de 5.000 pessoas, representantes dos diversos movimentos 
sociais, movimentos populares de saúde, trabalhadores, usuários, estudantes e intelectuais 
da saúde, parlamentares, sindicatos, entre outros. No evento foram debatidos (não sem 
conflitos e contradições) os princípios e diretrizes da Reforma Sanitária, destacando-se: o 
conceito ampliado de saúde, o reconhecimento da saúde como direito de todos e dever do 
estado, a criação do SUS (através da unificação dos serviços do INAMPS e do Ministério 
da Saúde), a descentralização e hierarquização dos serviços, a atenção integral às 
necessidades de saúde da população e a participação popular. A partir dessa conferência, 
foi instituída uma Comissão Nacional de Reforma Sanitária para o encaminhamento das 
propostas à Assembleia Nacional Constituinte e sua inscrição na nova Carta Magna.
1,16
 
 
A Assembleia Nacional Constituinte foi instalada em fevereiro de 1987, sendo eleito Ulisses Guimarães 
para presidir a elaboração da nova constituição brasileira, que teria a participação social por meio de 
instrumentos jurídicos — as emendas populares com propostas a serem incorporadas na Carta Magna. 
Enquanto se elaborava o arcabouço jurídico do Sistema Único de Saúde no processo constituinte, um 
decreto da União de julho de 1987 transformava as AIS no Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde 
(SUDS) — a ser implantado por meio de convênio entre os governos federal, estadual e municipal. O SUDS 
representou certo avanço na medida em que possibilitou a formação dos conselhos estaduais e municipais de 
saúde, a desconcentração de recursos e poder da esfera federal para a estadual, o esvaziamento do INAMPS e 
o aumento (mesmo que insuficiente) da cobertura de serviços de saúde para a população. Vale ressaltar que a 
implantação do SUDS promoveu uma estadualização do INAMPS, por meio da fusão de suas estruturas às 
secretarias estaduais de saúde. Como resultado, ocorreu uma concentração de poder nas secretarias estaduais 
de saúde, as quais estabeleciam com os municípios uma relação clientelista, repassando-se os recursos com 
mais facilidade, quando o gestor municipal era da mesma agremiação partidária ou por outros interesses 
políticos. 
Finalmente, em 1988, com a promulgação da Constituição Federal, foi aprovado o Sistema Único de 
Saúde (SUS) que incorporou a maioria das propostas do movimento da Reforma Sanitária apresentadas por 
 
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Textos extraídos do livro: SUS: antecedentes, percurso, perspectivas e desafio, de Zenaide Neto Aguiar. 
 
18 
emenda popular acompanhada da participação dos segmentos interessados. Também não se deu de modo 
consensual, ocorrendo embate e conflitos entre os que defendiam os interesses privatistas e os que lutavam 
pela saúde pública e estatal. 
A aprovação do SUS com os princípios e diretrizes da Reforma Sanitária significou uma grande vitória 
da sociedade. Não obstante,foi criado em um período em que o Brasil se encontrava em grande instabilidade 
econômica, altas taxas de inflação e influências da conjuntura internacional neoliberal que, juntamente com o 
recuo dos movimentos sociais, traz sérias dificuldades para a sua regulamentação e implementação de seus 
princípios e diretrizes e da concretização das propostas da Constituição Cidadã. Destaca-se que no início dos 
anos 90, o Governo de Fernando Collor de Melo reduziu em quase metade os recursos para o setor saúde, ao 
mesmo tempo em que os governos estaduais também reduziram sua participação orçamentária para a saúde.
1
 
Essas deliberações contrariam a política pública do SUS que já nasce enfrentando o caos em que estavam os 
serviços de saúde e a descrença popular em relação ao Estado. 
A reforma sanitária deparou, no período de 1988 a 1992, com dois governos (Fernando Collor de Mello 
e Itamar Franco) que, embora distintos, reforçaram o projeto conservador em saúde, com a implantação 
distorcida do SUS e o apoio ao modelo médico-assistencial privatista reciclado de expansão da assistência mé-
dica supletiva, entre outros fatos.
1
 Nesse sentido, vale destacar que se ampliaram no Brasil as diversas 
modalidades de assistência médica supletiva com interesse de lucro na saúde, tais como: medicina de grupo, 
cooperativas médicas e seguro- saúde, evidenciando o florescimento do projeto conservador antagônico à 
política pública de saúde defendida pela reforma sanitária. 
 
Referências 
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& Saúde. 6
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 ed. Rio de Janeiro(RJ): Me- dsi, 2003. p 589-563. 
2. Polignano MV. História das políticas de saúde no Brasil: uma pequena revisão [documento da Internet]. 
Belo Horizonte (MG): UFMG; s.d. [citado 2009 junho 20];[about 10p.]. Disponível em: http:// 
www.medicina.ufmg. br/dmps/internato/saude_no_brasil.ntf 
3. Bertolozzi MR, Grecco RM. As políticas de saúde no Brasil: reconstrução histórica e perspectivas atuais. 
Rev Esc Enf USP. 1996;30(3):380-98. 
4. Bertolli Filho C. História da saúde pública no Brasil. 4
a
 ed. São Paulo (SP): Ática; 2004. 
5. Souto-de-Moura LC, Souto-de-Moura GMS. Notas de aula sobre a evolução histórica das políticas de 
saúde, no Brasil. Rev Gaúcha Enf. 1997;18(2):94-103. 
6. Roncalli AG. O desenvolvimento das políticas de saúde e a construção do Sistema Único de Saúde. In: 
Pereira AC, organizadora. Odontologia em Saúde Coletiva: planejando ações e promovendo saúde. Porto 
Alegre (RS): ARTMED, 2003. Cap.2, p.28-49. 
7. Luz MT. Notas sobre políticas de saúde no Brasil de ―Transição Democrática
5
 — anos 80. In: Ministério 
da Saúde (BR). Fundação Nacional de Saúde. Desenvolvimento Gerencial de unidades básicas de saúde do 
distrito sanitário — Projeto GERUS. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 1995. 
8. Marsiglia R, Rossi SS. Saúde e Desenvolvimento no Brasil. Mimeo [1980]. 
9. Oliveira JAA, Teixeira SMF. (In)Previdência Social: 60 anos de história da Previdência no Brasil. Rio de 
Janeiro (RJ): ABRASCO; 1986. 
10. Mendes EV. As políticas de saúde no Brasil nos anos 80: a conformação da reforma e a construção da 
hegemonia do projeto neoliberal. In: Mendes EV, organizador. Distrito Sanitário: o processo social de 
mudança das práticas sanitárias do Sistema Único de Saúde. São Paulo (SP): Hucitec; 1993. 
11. Escorei S, Teixeira LA. História das políticas de saúde no Brasil de 1922 a 1963: do império ao 
desenvolvimento populista. In Giovanella L et al., organizador. Políticas e Sistema de Saúde no Brasil. Rio de 
Janeiro (RJ): FIOCRUZ; 2008. p.333-383. 
12. Escorei S. História das políticas de saúde no Brasil de 1964 a 1990: do golpe militar à reforma sanitária. 
http://www.medicina.ufmg/
 
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19 
In: Giovanella L, et al., organizador. Políticas e Sistema de Saúde no Brasil. Rio de Janeiro (RJ): FIOCRUZ; 
2008. p.385-434. 
13. Escorei S, Nascimento DR, Edler FC. As origens da Reforma Sanitária e do SUS. In: Lima NT, 
Gerscman S, Edler FC, Suarez JM, organizadores. Saúde democracia: historia e perspectivas do SUS. Rio de 
Janeiro (RJ): FIOCRUZ; 2005. p.59-81. 
14. Carvalho BG, Martin GB, Cordoni Junior L. A organização do Sistema de Saúde no Brasil. In: Andrade 
SM, Soares DA, Cordoni Junior L, organizadores. Bases de Saúde Coletiva. Londrina (PR): UEL; 2001. p.27-
59. 
15. Arouca S. O dilema preventivista. Campinas (SP): UNESP; 2003. 270p. 
16. Gouveia R, Palma JJL. O SUS na contramão do neoliberalismo e da exclusão social. In: Gouveia R, 
organizador. Saúde Pública, suprema Lei — a nova legislação para a conquista da saúde. São Paulo (SP): 
Mandacaru; 1996. p.21-30. 
 
 
EXERCÍCIOS DE SÍNTESE 
 
1. Qual a relação das ações de saúde pública adotadas nos períodos colonial/imperial e da república 
velha com as questões econômicas e políticas? 
 
 
 
 
 
2. Como o Estado brasileiro estruturou o sistema de saúde no período governado por Getúlio Vargas? 
 
 
 
 
 
3. O que eram as CAPs e os IAPs? Qual a importância que esses organismos tiveram para a 
consolidação do modelo assistencial médico-privatista no Brasil? 
 
 
 
 
 
 
4. Quais as características consolidadas no sistema de saúde brasileiro ao longo da história e, 
especialmente, no período do regime militar? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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20 
CAPÍ TULO ÍÍ 
 
 
O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE E AS LEIS ORGÂNICAS DA SAÚDE 
 
1. O SUS na Constituição Federal 
 
O Sistema Único de Saúde (SUS) é o sistema de saúde oficial brasileiro, estabelecido formalmente a 
partir da Constituição Federal de 1988. A sua inscrição na carta magna acatou as proposições da sociedade 
civil organizada, incorporando mudanças no papel do Estado e alterando de forma significativa o arcabouço 
jurídico-institucional do sistema público de saúde brasileiro, pautando-se por um conjunto de princípios e 
diretrizes válidos para todo o território nacional. E composto pelo conjunto organizado e articulado de 
serviços e ações de saúde integrantes das organizações públicas de saúde das esferas municipal, estadual e 
federal, além dos serviços privados como complementares.
1
 
Embora a instituição formal do SUS tenha ocorrido com a aprovação da Constituição Federal, a sua 
proposição foi amplamente debatida na 8
a
 Conferência Nacional de Saúde (CNS) em março dei986, após 
alguns anos de gestação na sociedade que ansiava por mudanças na área da saúde. Seus princípios filosóficos 
e organizativos tiveram origem no movimento social (também denominado de reforma sanitária) que se 
estruturou no país ao longo dos anos 70 e início dos anos 80, em torno de mudanças do modelo médico 
assistencial privatista que se tornou hegemônico na segunda metade do século XX, induzido pelo processo de 
industrialização brasileira.
2
 
A 8
a
 CNS representou o evento político-sanitário mais importante da segunda metade do 
século XX, onde foram lançadas as bases doutrinárias de um sistema público de saúde para o 
Brasil. Essa conferência colocou em pauta três aspectos necessários à reforma sanitária: um 
conceito amplo de saúde que extrapola a visão meramente biologicista; a saúde como direito 
de cidadania e obrigação do Estado; e a instituição de um sistema único pautado pelos 
princípios da universalidade, da integralidade, da equidade, da descentralização e da 
participação da comunidade.
2
 
De acordo com a nova concepção de saúde expressa na constituição, entende-se que os níveis de saúde 
da população expressam a organização social e econômica do país e que os indicadores de saúde da população 
devem servir deparâmetros para avaliar o desenvolvimento do país e o bem-estar da população. A saúde 
passa a ser direito de todos os cidadãos e a ser assegurada pelo Estado por meio de recursos públicos de 
acordo com o previsto na lei. O sistema é considerado único, porque os princípios e diretrizes que regem a 
organização dos serviços e ações de saúde devem ser os mesmos nas três esferas de governo (federal, estadual 
e municipal), que também terão comando único em cada nível de gestão.
3
 
Antes da existência do SUS, havia um duplo comando na área da saúde, sendo que o Ministério da 
Saúde cuidava das ações preventivas e de caráter coletivo e o Ministério da Previdência e Assistência Social 
responsabilizava-se pela assistência médica, de caráter curativo, prestada aos indivíduos. A assistência médica 
era assegurada apenas aos trabalhadores que estavam inseridos formalmente no trabalho, contribuindo com a 
previdência. Aos demais, não era assegurado esse direito, podendo apenas ter assistência nos poucos serviços 
públicos ou filantrópicos disponíveis. 
O SUS fundamenta-se em uma concepção ampla do direito à saúde e do papel do Estado na garantia 
 
 
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Textos extraídos do livro: SUS: antecedentes, percurso, perspectivas e desafio, de Zenaide Neto Aguiar. 
 
21 
desse direito. Para tanto, incorpora, em sua estrutura institucional e decisória, espaços e instrumentos para 
democratização e compartilhamento da gestão do sistema de saúde.
4 
 
Seguridade social - ―conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da 
sociedade destinado a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência 
social‖(Art. 194 da Constituição Federal)
5
. E financiada com receitas de impostos e 
contribuições sociais dos orçamentos da União, dos Estados e dos Municípios, cabendo ao 
poder público organizá-la de forma universalista e equitativa
4
. 
 
A Constituição Federal de 1988 traz um título inteiro — o Título VIII, referente à Ordem Social, cujo 
Capítulo II, o da Seguridade Social apresenta quatro seções, sendo uma delas (a seção II) dedicada à saúde. O 
SUS, portanto, está descrito oficialmente no capítulo da Seguridade Social, especificamente, nos artigos 196 
a 200 desta seção.
5
 
 o artigo 196 explicita que a saúde é direito de todos e dever do Estado, que deve garantir o 
acesso universal e igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação; 
o artigo 197 define as ações e serviços de saúde como sendo de relevância pública; 
 o artigo 198 constitui o sistema único de saúde, referido como uma rede regionalizada e 
hierarquizada de ações e serviços públicos de saúde, cuja organização deve pautar-se nas 
diretrizes: descentralização, com direção em cada esfera do governo; atendimento integral, com 
prioridade para as atividades preventivas e sem prejuízos das atividades curativas; e 
participação da comunidade. Define ainda que o financiamento do sistema de saúde brasileiro 
será feito com recursos do orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito 
Federal e dos Municípios, além de outras fontes; 
 o artigo 199 mantém a assistência à saúde livre à iniciativa privada, explicitando porém que as 
instituições privadas poderão participar do SUS de forma complementar, segundo diretrizes do 
SUS e mediante contrato de direito público ou convênio, tendo preferência as entidades 
filantrópicas e as sem fins lucrativos; 
 o artigo 200 apresenta as competências do Sistema Único de Saúde, detalhando as suas 
atribuições. Essas atribuições foram mantidas na Lei Orgânica da Saúde que veremos adiante. 
A Constituição Federal de 1988 passou a ser conhecida como Constituição Cidadã, uma vez que se 
caracteriza pelo reconhecimento de muitos direitos, inclusive o de saúde a todos os cidadãos a ser garantido 
pelo Estado, por meio de políticas públicas e sociais
6
 A inclusão da saúde como um direito de cidadania 
representou um grande avanço por ser a primeira vez que aparece na história das constituições brasileiras e 
por sepultar o modelo excludente anterior, que garantia assistência à saúde apenas aos contribuintes da 
previdência social.
7
 
A Constituição Federal, ao instituir o Sistema Único de Saúde, traz também uma série de desafios. 
Destaca-se que ela estabelece os direitos e deveres básicos dos cidadãos brasileiros, cuja concretização 
necessita de regulamentações por atos do legislativo, nem sempre fáceis numa sociedade marcada por 
políticas que favorecem as elites dominantes e que sempre lucraram com o modelo de saúde vigente na 
história brasileira. Outro desafio posto é a mudança do próprio modelo assistencial, caracterizado 
predominantemente pela assistência médica individual e curativa, biologicista, fragmentada e 
hospitalocêntrica, associada a uma utilização irracional de recursos tecnológicos e medicamentos, com 
consequente baixa cobertura e pouca resolutividade dos problemas de saúde da população.
8
 
Apesar das profundas dificuldades, o SUS vem sendo implantado no país como um processo social em 
permanente construção.
2
 Em 1990, deu- se a regulamentação do SUS por meio das Leis Orgânicas da Saúde 
(LOS), Leis 8.080/90 e 8.142/90 e até o momento, outras, leis e portarias foram editadas, dando a 
continuidade possível à implementação do SUS em consonância com os interesses e composição de forças 
políticas vigentes em nossa sociedade. 
 
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Textos extraídos do livro: SUS: antecedentes, percurso, perspectivas e desafio, de Zenaide Neto Aguiar. 
 
22 
2. Leis Orgânicas da Saúde 
Após a promulgação da Constituição Federal, muitos de seus artigos, inclusive o da saúde, deveriam 
passar por um processo de regulamentação com proposta de acontecer no prazo de 180 dias.
7
 No entanto, a 
conjuntura política pós-constituinte, caracterizada pelo projeto neoliberal implementado por Fernando Collor 
de Mello, então presidente da república, criou dificuldades que retardaram esse processo. Apenas em agosto 
de 1990 o Congresso Nacional aprovou a primeira versão da Lei Orgânica da Saúde, a Lei 8.080, que sofreu 
vários vetos por parte do executivo, especialmente nos itens relativos ao financiamento e ao controle social. 
Somente em dezembro de 1990, como resultado de negociações, é que foi aprovada a Lei 8.142 que recuperou 
alguns vetos da Lei 8.080, recebendo essas duas Leis (8.080 e 8.142) a denominação de Leis Orgânicas da 
Saúde (LOS).
7,3
 
 
A Lei 8.080/90 dispõe sobre as condições para promoção, proteção e recuperação da saúde e ainda 
regula as ações, a organização e o funcionamento dos serviços de saúde em todo o país. O artigo 4 dessa lei 
explicita que o novo sistema de saúde compreende: ―o conjunto de todas as ações e serviços de saúde 
prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, de administração direta e indireta 
e das fundações mantidas pelo poder público‖, além da participação da iniciativa privada de maneira 
complementar.
9
 
Com base nessa lei, a saúde é entendida como um direito fundamental do ser humano. Cabe ao Estado 
prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício, por meio de políticas econômicas e sociais que 
visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos, além do estabelecimento de condições que 
assegurem o acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
9
 
Estão incluídas no conjunto de ações e serviços dos SUS referidos pela Lei 8.080/90
4
 (p. 438): 
 “atividades dirigidas às pessoas, individual ou coletivamente, voltadas para a promoção da 
saúde e prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação de agravos e doenças; 
 serviços prestados no âmbito ambulatorial, hospitalar e nas unidades de apoio diagnóstico e 
terapêutico geridos pelos governos (quer seja pelo

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