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Terceiro Setor, Voluntariado e 
Responsabilidade Social
Felipe Athayde Lins de Melo
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© 2018 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro 
meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de infor-
mação, sem prévia autorização, por escrito, da Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Presidente Rodrigo Galindo
Vice-Presidente de Pós-Graduação 
e Educação Continuada
Paulo de Tarso Pires de Moraes
Conselho Acadêmico
Carlos Roberto Pagani Junior
Camila Braga de Oliveira Higa
Carolina Yaly
Danielle Leite de Lemos Oliveira
Juliana Caramigo Gennarini
Mariana Ricken Barbosa
Priscila Pereira Silva
Coordenador Danielle Leite de Lemos Oliveira
Revisor Aldrei Jesus Galhardo Batista
Editorial
Alessandra Cristina Fahl
Daniella Fernandes Haruze Manta
Flávia Mello Magrini
Leonardo Ramos de Oliveira Campanini
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
 Melo, Felipe Athayde Lins de 
M528t Terceiro setor, voluntariado e responsabilidade social
 Felipe Athayde Lins de Melo – Londrina : Editora e
 Distribuidora Educacional S.A., 2018.
 151 p.
 
 ISBN 978-85-522-0658-3
 
 1. Terceiro Setor. 2. Responsabilidade Social. I. Melo,
 Felipe Athayde Lins de. III. Título
 
CDD 300
2018
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Responsável pela ficha catalográfica: Thamiris Mantovani CRB: 8/9491
SUMÁRIO
Tema 1: Políticas Neoliberais e Influências 
nas Políticas Públicas Brasileiras .................................................. 6
Tema 2: Ministério da Administração Federal 
e Reforma do Estado ..................................................................... 20
Tema 3: Terceiro Setor: definições e contextualização ............ 34
Tema 4: Terceiro Setor na Contradição Capital e Trabalho: 
Tendências e Desafios .................................................................... 48
Tema 5: Histórico do Voluntariado e da Filantropia no Brasil ......63
Tema 6: Voluntariado: Suas Definições, 
Características e Motivações do Voluntário ................................ 79
Tema 7: Fundamento Teórico da Responsabilidade Social 
Empresarial (RSE) ........................................................................... 95
Tema 8: Instrumentos de Gestão e Avaliação da RSE .............. 112
O Terceiro Setor constitui, atualmente, em âmbito mundial, um impor-
tante segmento das ações consideradas públicas não estatais, ou seja, 
ações que são direcionadas para o interesse público, mas que não são 
executadas diretamente por órgãos do Estado, estando a cargo de uma 
multiplicidade de organizações cuja caracterização é bastante díspar. 
Seu surgimento, sua conceituação, sua tipificação e sua expansão em 
torno do mundo estão inseridos num conjunto mais amplo de processos 
políticos, econômicos e sociais, que encontram no caráter também multifa-
cetado da globalização um importante ponto de sustentação: num mundo 
de relações transnacionais e impulsionado pelo desenvolvimento tecnoló-
gico e comunicacional, aqueles processos políticos, econômicos e sociais 
ultrapassam as barreiras dos territórios e nações e impactam as popu-
lações nos cinco continentes, seja pelo abalo na configuração típica dos 
Estados-nação, seja pela força da expansão do modo de produção capi-
talista, seja pela emergência de novos sujeitos coletivos que, em âmbito 
mundial, ganharam voz e visibilidade.
Por outro lado, os impactos destrutivos destes processos, especial-
mente no que diz respeito às questões ambientais e aos conflitos geopo-
líticos que caracterizaram o século XX, fizeram emergir um sem-número 
de novas questões éticas e comportamentais, as quais encontrarão, no 
Terceiro Setor, um lócus privilegiado de representação e intervenção direta 
no mundo das práticas sociais. 
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
Esta disciplina busca investigar e debater os processos que, gestados 
na segunda metade do século XX, fazem do Terceiro Setor um segmento 
significativo das sociedades do século XXI. Para tanto, parte-se de uma 
análise geral daqueles processos políticos, econômicos e sociais para, em 
uma aproximação empírica e conceitual, discutir as características multi-
dimensionais e conflitivas que estão presentes no conceito, nas organiza-
ções e nas práticas do Terceiro Setor, no que se incluem as Organizações 
Não Governamentais, as práticas de Responsabilidade Social Empresarial, 
a “nova” cultura do voluntariado.
1 Políticas 
Neoliberais 
e Influências 
nas Políticas 
Públicas 
Brasileiras
7
Objetivos Específicos
• Reconhecer os processos políticos, econômicos e sociais que marcaram o “breve século XX”, 
resultando numa formação social conflitiva, multidimensional e com interações em nível 
mundial.
• Compreender o impacto das crises do modo de produção capitalista para a emergência das 
políticas neoliberais, nas décadas finais do século XX, que se expandem como resposta hege-
mônica para superação das crises.
• Identificar as determinações promovidas pelo Consenso de Washington para a configuração de 
um novo paradigma da questão social na América Latina, promovendo o Terceiro Setor como 
elemento central deste novo modelo.
Introdução
Em novembro de 1989, economistas latino-americanos foram chamados para um encontro infor-
mal organizado pelo Institute for International Economics com a participação dos organismos finan-
ceiros internacionais - Banco Mundial, FMI e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) - e de 
funcionários do governo norte-americano para “proceder a uma avaliação das reformas econômi-
cas empreendidas nos países da região” (BATISTA, 1994, p. 5). O encontro passaria à história com a 
denominação de Consenso de Washington:
Embora com formato acadêmico e sem caráter deliberativo, o encontro propiciaria opor-
tunidade para coordenar ações por parte de entidades com importante papel nessas refor-
mas. Por isso mesmo, não obstante sua natureza informal, acabaria por se revestir de signi-
ficação simbólica, maior que a de muitas reuniões oficiais no âmbito dos foros multilaterais 
regionais (BATISTA, 1994, p. 5).
8
A pauta eram as reformas econômicas que vinham sendo realizadas em diversos países latino-ame-
ricanos, com exceção, até aquele momento, de Brasil e Peru. As reformas tinham a finalidade, segundo 
seus ideólogos, de dotar os países das condições macroeconômicas de alcançar níveis mais elevados 
de desenvolvimento, atraindo capitais estrangeiros e modernizando a estrutura produtiva dos países 
em desenvolvimento. Assim, a fim de captar os recursos dos organismos internacionais, voltados exa-
tamente para o financiamento destas reformas, cabia aos países o papel de implementar as reformas.
A mensagem neoliberal que o Consenso de Washington registraria vinha sendo transmi-
tida, vigorosamente, a partir do começo da Administração Reagan nos Estados Unidos, com 
muita competência e fartos recursos, humanos e financeiros, por meio de agências inter-
nacionais e do governo norte-americano. Acabaria cabalmente absolvida por substancial 
parcela das elites políticas, empresariais e intelectuais da região, como sinônimo de moder-
nidade, passando seu receituário a fazer parte do discurso e da ação dessas elites, como se 
de sua iniciativa e de seu interesse fosse (BATISTA, 1994, p. 6).
O receituário neoliberal vinha sendo construído há anos por economistas, intelectuais, gestores 
e políticos norte-americanos, com forte inserção nosdebates acadêmicos e econômicos internacio-
nais, sobretudo, por meio da atuação de fundações que financiavam publicações e seminários inter-
nacionais voltados para a divulgação de suas teses.
A imprensa, por meio de editoriais ou de articulistas entusiastas do novo velho credo, alguns 
de passado esquerdista, colocaria na defensiva todos os que não se dispusessem a aderir 
à autodenominada “modernização pelo mercado”, qualificando-os automaticamente como 
retrógrados ou “dinossauros” (BATISTA, 1994, p. 7).
Nesse contexto de convencimentos por meio de estratégias de marketing, pressão e financia-
mento, o Consenso elencou suas prioridades em dez áreas principais, as quais passaram a ser alvo 
de intenso movimento reformista-liberalizante. Essas áreas envolviam: disciplina fiscal, priorização 
dos gastos públicos, reforma tributária, liberalização financeira e comercial, regime cambial, aber-
tura para o investimento direto estrangeiro, privatização e enxugamento do aparelho estatal, desre-
gulação trabalhista e propriedade intelectual.
9
Em 1989, as eleições presidenciais no Brasil colocariam em lados opostos a ameaça da fuga de 
capitais, então identificada com o candidato do Partido dos Trabalhadores, Sr. Luís Inácio Lula da 
Silva, e o representante principal da nova classe modernizadora, aquele que seria eleito com a pro-
messa de colocar o Brasil no caminho da moralidade e do desenvolvimento de mercado, Sr. Fernando 
Collor de Melo, do Partido da Renovação Nacional. 
A eleição do candidato da modernização colocaria o Brasil, finalmente, no rumo das reformas 
patrocinadas pelo grupo que estabelecera aquele Consenso.
1. O breve 
século XX
O historiador britânico Eric Hobsbawm 
(1917- 2012) definiu o século XX como a “Era 
dos extremos”, dando-lhe a alcunha de breve 
século, pois, segundo seu entendimento, tal 
Era teria se iniciado com a Primeira Guerra 
Mundial e acabado com o fim da União 
Soviética. Ou seja, para Hobsbawm, o século 
XX teria se desenrolado ao longo de 75 anos, 
período que vai de 1914 a 1989 e que abrangeu duas guerras mundiais, o 
maior desenvolvimento tecnocientífico até 
então vivido, uma explosão demográfica 
mundial, a consolidação da sociedade indus-
trial, a Guerra Fria e a polarização entre um 
mundo capitalista e seu oponente socialista. 
E é na esteira do antagonismo entre 
socialismo e capitalismo que se insere o 
 
Para saber mais
“Era dos extremos. O breve século XX”. O livro do 
historiador britânico Eric Hobsbawm bem como 
o conjunto de sua obra tornou-se um clássico da 
historiografia e é lido no mundo todo não apenas 
por estudantes ou pesquisadores de História, mas 
por qualquer pessoa interessada em compreender 
as contradições, os avanços, as conquistas e as de-
cepções da Humanidade, num período de profun-
das transformações sociais.
 
 
Link
O cineasta brasileiro Marcelo Massagão lançou, 
em 1999, uma versão cinematográfica inspirada 
na obra de Hobsbawm. Trata-se do documentário 
“Nós que aqui estamos, por vós esperamos”, que 
pode ser acessado em <https://www.youtube.
com/watch?v=-PXo5oGztiw&t=5s>. Acesso em: 12 
abr. 2018.
 
https://bit.ly/2uDZcqO
https://bit.ly/2uDZcqO
10
movimento que, ao final do século, dará fôlego às teses adotadas em boa parte do mundo ocidental 
e sustentadas na América Latina, a partir de Consenso de Washington. Vejamos, então, como chega-
mos até esse momento.
Seguindo a linha argumentativa de Hobsbawm, o século XX alcançou seus anos dourados no perí-
odo que vai do pós-Segunda Guerra até o início dos anos setenta, quando o crescimento econômico era 
impulsionado, nas décadas de 1940 e 1950, pela reconstrução dos países atingidos pela Guerra e, poste-
riormente, pela expansão dos mercados para o chamado Terceiro Mundo, fazendo com que as riquezas, 
nos países de capitalismo avançado, se traduzissem por meio do bem- estar da população e do pleno 
emprego, com as taxas de desemprego caindo drasticamente, na Europa ocidental, no EUA e no Japão:
a Era de Ouro foi um fenômeno mundial, embora a riqueza geral jamais chegasse à vista da 
maioria da população do mundo - os que viviam em países para cuja pobreza e atraso os 
especialistas da ONU tentavam encontrar eufemismos diplomáticos 
(HOBSBAWM, 1994, p. 255).
Esse momento de euforia coletiva, tão bem 
caracterizado pelas propagandas de época, 
em que famílias felizes eram retratadas em 
seus lares, rodeadas do conforto dos ele-
trodomésticos e do carro novo na garagem, 
encontraria seu limite nas crises estruturais da 
expansão capitalista que passariam a se repe-
tir, a partir do início da década de 1970.
O processo de reconstrução das nações 
europeias do pós-guerra consolidou os EUA 
como a maior potência mundial, fazendo do 
dólar o principal valor de referência nas tran-
sações internacionais. Dessa forma, a econo-
mia estadunidense tornaria-se a balança do 
 
Assimile
As crises estruturais do capitalismo. Uma leitura 
a partir de Karl Marx. Segundo a análise crítica do 
capitalismo realizada pelo pensador alemão Karl 
Marx (1818-1883), o capitalismo carrega em si uma 
contradição imanente, decorrente da lógica de ap-
ropriação privada dos resultados obtidos a partir 
da socialização da produção. Ou seja, conquanto o 
trabalho seja socialmente distribuído, os resultados 
por ele gerados são privativamente apropriados. 
Ao mesmo tempo, a necessidade de obter lucros 
promove o avanço tecnológico e a substituição da 
força de trabalho pela maquinaria, o que conduz ao 
aumento da produção e, inversamente, à queda do 
consumo, tendendo à queda na própria taxa de lu-
cro. Essa lei geral da acumulação, em longo prazo, 
produz ciclos de crescimento econômico e desen-
volvimento tecnológico, seguidos de fases de de-
saceleração, estagnação e, por fim, crises general-
izadas, forçando a necessidade de criação de novos 
mercados e expansão do modelo de acumulação.
 
11
comércio internacional, fomentando os grandes financiamentos das reformas econômicas em todo o 
mundo ocidental. Entretanto a principal base de sustentação da pujante economia industrial dos EUA 
estava no petróleo, que era adquirido a preços módicos junto aos principais países produtores no Golfo 
Pérsico, originando o que se convencionou chamar de “petrodólares”, isto é, as divisas acumuladas 
pelos países exportadores de petróleo, que baseavam suas transações comerciais, exclusivamente, na 
moeda estadunidense, e não mais no antigo referencial comercial mundial, o ouro. 
No início dos anos 1970, porém, houve uma abrupta queda na produção petrolífera, gerada, sobre-
tudo, por conflitos geopolíticos entre os países membros da OPEP - Organização dos Países Exportadores 
de Petróleo. Em 1973, um conflito entre Israel e os países árabes integrantes da OPEP (Irã, Iraque, Kuwait 
e Arábia Saudita) seria o estopim da sobrevalorização do preço do petróleo, pois os países produtores/
exportadores reduziram drasticamente sua produção em resposta ao alinhamento dos EUA a Israel.
O aumento do preço do petróleo, que chegou a ordem de 400% em apenas um semestre, desesta-
bilizou o custo da principal fonte energética mundial, base de todo o avanço industrial e tecnológico dos 
países capitalistas, gerando uma enorme crise mundial e exigindo, para manutenção do modo de produ-
ção capitalista, novas estratégias de reprodução do próprio sistema econômico.
A saída, então, foi construída sobre um conjunto de processos políticos, eco-
nômicos e sociais que dariam origem à glo-
balização, assentada sobre diversas reformas 
estruturais, que incluíram: a forte reestrutu-
ração produtiva, que resultará no avanço tec-
nológico do fim do século; a ofensiva con-
tra as organizações e os direitos trabalhistas, 
diminuindo os custos de produção; a profunda 
reforma fiscal, representada, ainda nos anos 
1970, pelo aumento abrupto das taxas de 
juros, o que impactará diretamente os países 
da América Latina cujas economias vinham se 
 
Para sabermais
Entre 1969 e 1973, o crescimento econômico bra-
sileiro saltou de aproximadamente 9% ao ano para 
um pico de 14%, promovido por um conjunto de me-
didas que visavam à substituição de importações 
e por maciços investimentos na indústria nacion-
al, com crescimento na produção de bens duráveis 
e incentivo ao consumo interno. Essa política, no 
entanto, era fortemente dependente do capital 
internacional captado a juros baixos, o que gerou 
sua estagnação quando, pressionado pelo aumento 
do custo do petróleo e pelos índices crescentes de 
inflação, os EUA aumentaram suas taxas de juros, 
provocando a insolvência de seus devedores, como 
o Brasil. 
 
12
desenvolvendo por meio do financiamento internacional, até então a juros baixos, pela reforma do 
Estado, reduzindo seu tamanho e suas atribuições.
Este conjunto de reformas, que se iniciarão ainda nos anos 1970, promoverão enorme recessão, 
dando à década de 1980 o título de “década perdida”, em razão da queda, em nível internacional, 
dos índices de produção da riqueza. Especialmente para os países latino-americanos, o endividamento 
gerado entre os anos 1960-1980 produziriam mais do que um sonho de desenvolvimento, tal como 
o milagre brasileiro: produziriam forte dependência do capital internacional e tornando as economias 
locais extremamente frágeis das decisões tomadas pelas economias de capitalismo avançado.
1.1 Globalização, reformas 
e a nova questão social
As crises estruturais do capitalismo iniciadas na década de 1970 geraram respostas em âmbito 
internacional, com profundos impactos nas economias nacionais e no modo de organização dos 
Estados-nação. Após conhecerem seus “anos dourados” nas décadas de 1950 e 1960, os países de 
capitalismo avançados, especialmente os EUA, entraram em profunda recessão, gerando uma crise 
econômica mundial e impactando fortemente os países do Terceiro Mundo cujas economias eram 
dependentes do financiamento internacional.
A década perdida, que caracteriza a estagnação dos anos 1980, fez emergir com bastante força 
os ideais de fortalecimento do livre-mercado, segundo os quais a intervenção estatal na economia 
seria fator de produção das crises, devendo o Estado funcionar como simples garantidor do jogo de 
forças que caracteriza as transações de capital. O receituário que se consolidaria teria, na expansão 
da própria economia capitalista, o modelo de sucesso para a promoção do desenvolvimento, fazendo 
com que as economias locais cedessem espaço para as transações transnacionais.
Em paralelo, a dissolução da União Soviética e o fim da Guerra Fria fariam emergir as novas “cer-
tezas” mundiais, dentre elas a ideia de que não seria possível outro modo de produção das socie-
dades que não fosse o capitalismo. Assim, os fenômenos da globalização, que envolvem processos 
políticos, econômicos, culturais, sociais e ideológicos (SANTOS, 2002) ganharão força no crepúsculo 
13
do século XX, fazendo emergir a nova sociedade global, com entrelaçamentos e influências mútuas 
entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento, numa teia transnacional de relações. 
O fim do século trará consigo uma nova promessa da promoção da felicidade pelo mercado, tor-
nando possível um novo ciclo de crescimento e expansão econômica que fomentaria “os exuberan-
tes anos 90” (STIGLITZ, 2003):
Proclamamos o triunfo da globalização. Com a globalização, veio a difusão do capitalismo 
estilo americano para todos os rincões do mundo. [...] Esperava-se que o comércio e o 
dinheiro gerassem emprego e crescimento. [...] A Nova Economia também prometia o fim 
do ciclo econômico, os altos e baixos da economia que, até então, haviam feito parte do 
capitalismo. [...] Entre julho de 2000 e dezembro de 2001, a nação [EUA] registrou o mais 
longo declínio na produção industrial desde o primeiro choque do petróleo (STIGLITZ, 2003, 
p. 34-36).
Em meio a tamanhas e tão rápidas mudanças políticas, econômicas e sociais, as contradições da 
sociedade de mercado exacerbam-se: por um lado, um nível de desenvolvimento tecnológico jamais 
alcançado, elevando a expectativa de vida em nível mundial, a circulação de riquezas, a produção 
de bens de consumo e de artigos voltados ao bem-estar das pessoas. Por outro, guerras e conflitos 
permanentes, a circulação mundial de armas, drogas e violência, o terrorismo ameaçando as mais 
diversas nações e a concentração de renda, com níveis mundiais de desigualdades, em patamares 
jamais imaginados pelos ideólogos do desenvolvimento pelo mercado.
É no bojo destes processos que emerge um novo trato da “questão social”: 
O projeto neoliberal, que elabora essa nova modalidade de resposta à “questão social”, 
quer acabar com a condição de direito das políticas sociais e assistenciais, com seu cará-
ter universalista, com a igualdade de acesso, com a base de solidariedade e responsabili-
dade social e diferencial [...] No seu lugar, cria-se uma modalidade polimórfica de resposta 
às necessidades individuais, diferente segundo o poder aquisitivo de cada um (MONTAÑO, 
2002, p. 189).
14
Num contexto de redefinição das funções do Estado, em que este deve 
ser garantidor e regulador das transações do 
livre mercado, a “questão social”, ou seja, “o 
conjunto de expressões da desigualdade na 
sociedade capitalista madura” (IAMAMOTO, 
1999, p. 27), passa a ser compreendida não 
mais como um direito universal de todos os 
cidadãos, mas como uma intervenção téc-
nica e direcionada de um Estado gerencial 
cuja assistência dará-se a segmentos especí-
ficos da população, segundo cálculos e ações 
focalizados, hierarquizados e temporários, 
uma vez que os gastos sociais dos governos 
devem estar subsumidos à necessidade do 
equilíbrio financeiro, determinado pelo ajuste 
fiscal (ou seja, o princípio de que o Estado 
não deve gastar mais do que arrecada e que, 
portanto, não deve garantir direitos sociais universais de alto custo, mas atuar, seletivamente, junto 
às camadas menos favorecidas pela dinâmica do livre mercado).
Além disso, dissemina-se a concepção de que a assistência social deve ser compartilhada entre 
a família, a comunidade e os serviços privados, que são revestidos da aura da “responsabilidade 
social” das empresas e da sociedade civil organizada, esta representada pelas ONGs, OSCIPs e outras 
denominações criadas para caracterizar as organizações privadas que atuam em favor de causas 
coletivas ou públicas.
Processa-se, assim, uma substantiva alteração da responsabilidade pela resposta à “ques-
tão social”. Nesse sentido, se no contexto do Estado de Bem-Estar Social esta é de res-
ponsabilidade do conjunto da sociedade por via do Estado, agora é fundamentalmente o 
 
Exemplificando
Exemplo significativo dessa mudança no padrão 
de resposta à questão social é dado pela criação, 
em 1999, do Conselho da Comunidade Solidária, 
órgão instituído pelo Presidente Fernando Henrique 
Cardoso com a “finalidade de promover o diálo-
go político e parcerias entre governo e sociedade 
para o enfrentamento da pobreza e da exclusão, 
por intermédio de iniciativas inovadoras de desen-
volvimento social” (BRASIL, 1999), Art. 1º. Embora 
constituindo importante embrião para uma rede 
nacional de proteção social, superando traços cli-
entelistas da política social brasileira, o Comuni-
dade Solidária caracterizou-se por transferir para 
organizações privadas (ONGs, entidades sociais 
diversas) a responsabilidade pela execução de dif-
erentes políticas (de educação, saúde, assistência 
social), retirando esta execução do âmbito das or-
ganizações estatais e impedindo a formulação de 
modelos nacionais de referência, acarretando frag-
mentação e mais dificuldade de gestão nacional 
das políticas.
 
15
próprio trabalhador quem tem o encargo de responder às suas necessidades e reprodu-
zir-se como força de trabalho, liberando o capital deste ônus, Com isso, promove-se uma 
demanda por serviços sociais, respondidas ora pela auto-atividade dospróprios sujeitos 
portadores de carecimentos, ora pela ação filantrópica de entidades sociais, ora pela pres-
tação de serviços privados (e lucrativos) (MONTAÑO, 2002, p. 192).
A entrada do Brasil na agenda neoliberal, a partir do Governo de Fernando Collor de Melo (1990-
1992) consolidou-se com o período de dominação desta agenda em toda a América Latina ao longo 
da década de 1990, com governos de inspiração neoliberal no Brasil, na Argentina, no Chile, Peru, 
México, dentre outros países. A modernização [tardia] das economias nacionais e sua integra-
ção no cenário global promoveram transformações significativas na sociedade latino-americana. 
Promoveram também o agravamento das condições históricas que marcam as diferenças sociais 
internas de cada um destes países, o que se evidencia, por exemplo, no crescimento dos dados de 
encarceramento em toda a região, levando o Brasil a ocupar o terceiro lugar no ranking mundial de 
pessoas presas (DEPEN, 2017).
No âmbito das políticas sociais, o Brasil logrou configurar ampla rede de proteção social, mes-
clando políticas de responsabilidade estatal e o incremento do Terceiro Setor, ampliando a complexi-
dade dos modelos institucionais e o arranjo jurídico-legal que o sustenta, o que exige, cada vez mais, 
mais profissionalização das organizações e das pessoas que atuam neste segmento da sociedade. 
Questão para reflexão
Conforme a interpretação de Eric Hobsbawm, o século XX promoveu, paralelamente, grandes 
avanços nos campos das ciências, da economia, do bem-estar social e, ainda, da violência, das des-
truições ambientais, das desigualdades sociais. Refletindo sobre essas contradições, faça uma ana-
logia com o cotidiano brasileiro e procure elaborar uma lista com até cinco itens de avanços e cinco 
itens de desafios que você observa na sociedade brasileira da transição do século XX para o século 
XXI, para exercitar a reflexão sobre a temática. 
16
Considerações Finais
• O processo de crises cíclicas do modo de produção capitalista tem exigido, ao longo da his-
tória, o desenvolvimento de novas estratégias de expansão do capitalismo, de produção e de 
acumulação de riquezas. 
• O século XX promoveu as maiores expansões da economia capitalista bem como o desenvol-
vimento jamais visto dos conhecimentos e das tecnologias para promoção do bem-estar da 
humanidade. 
• Em paralelo aos avanços na produção de riquezas e bens materiais, cresceram, exponencial-
mente, as desigualdades sociais, a violência e as mazelas que atingem níveis significativos da 
população mundial. 
• Em resposta às crises estruturais do capitalismo, em fins do século XX, os processos da globa-
lização trouxeram consigo um conjunto de transformações políticas, econômicas e sociais que 
incluem, em seu bojo, um novo padrão de resposta à “questão social”, com a emergência, em 
nível mundial, do terceiro setor. 
Glossário
Questão social: conjunto de fenômenos típicos das sociedades modernas e industriais, em que 
as desigualdades sociais são produzidas pelas relações políticas e econômicas que caracterizam o 
modo de produção capitalista. 
Neoliberalismo: doutrina político-econômica surgida em meados do século XX e que retoma 
teses do liberalismo clássico (tais como o caráter inalienável da propriedade privada, a livre iniciativa 
e o livre mercado), atualizando-as face às novas demandas do capitalismo financeiro internacional, 
especialmente a necessidade de desregulação dos mercados, de livre circulação de mercadorias e 
investimentos e de baixa intervenção do Estado na economia.
17
Verificação de leitura
QUESTÃO 1-A respeito do Consenso de Washington, é correto afirmar: 
a) Reuniu as principais lideranças populares da América Latina, para discutir políticas de in-
teresse dos países em desenvolvimento.
b) Foi promovido por organismos financeiros internacionais, com a finalidade de assegurar 
novas bases para expansão do capital.
c) Foi um encontro bilateral de construção de estratégias de desenvolvimento sustentável 
para os países do continente americano.
d) Reuniu lideranças de pouca representatividade na América Latina, gerando impactos re-
duzidos nas políticas adotadas nesta região. 
e) Foi um encontro de cunho meramente acadêmico cujas proposições foram descartadas 
pelas lideranças da América Latina.
QUESTÃO 2-A modernização das economias latino-americanas, a partir da adoção da 
agenda neoliberal, permitiu:
a) Elevar as economias nacionais ao patamar de países desenvolvidos, superando traços 
históricos de dependência econômica com relação às nações do Primeiro Mundo.
b) Superar o clientelismo e o patrimonialismo das políticas latino-americanas, profissionali-
zando a gestão pública.
c) Promover o desenvolvimento tecnológico e científico e elevar os padrões de consumo e 
bem-estar de parcelas da população, não interrompendo os ciclos de produção da pobreza 
e as desigualdades sociais. 
d) Aprofundar o atraso tecnológico das economias latino-americanas, dada sua histórica 
dependência dos financiamentos da antiga União Soviética.
e) Acirrar as disputas entre grupos comunistas preponderantes na política latino-americana 
e a minorias liberal-conservadoras, impedindo o desenvolvimento social dos países.
18
QUESTÃO 3-Dentre as reformas que integram a agenda neoliberal, farão parte das pro-
postas para as políticas sociais:
a) Universalização da Previdência Social e do Ensino Superior gratuito.
b) Terceirização da Educação Básica e renda mínima de cidadania.
c) Estatização da rede privada de saúde e focalização da assistência social.
d) Parcerias entre governos e sociedade civil e focalização do gasto social.
e) Renda mínima de cidadania e universalização da Previdência Social.
Referências Bibliográficas
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latino-americanos. São Paulo, 1994. Disponível em: <http://www.consultapopular.org.
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Solidária e dá outras providências. Brasília: Diário Oficial da União, 1999. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d2999.htm>. Acesso em: 11 abr. 2018.
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Penitenciárias. Brasília: Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional, 2017. 
Disponível em: <http://justica.gov.br/seus-direitos/politica-pena>. Acesso em: 12 abr. 2018.
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Letras, 1994. 
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profissional. São Paulo: Cortez, 1999.
MONTAÑO, Carlos. Terceiro Setor e questão social. Crítica ao padrão emergente de 
intervenção social. São Paulo: Cortez, 2002.
SANTOS, Boaventura de Souza. A globalização e as ciências sociais. São Paulo: Cortez, 
2002. 
STIGLITZ, Joseph E. Os exuberantes anos 90. Uma nova interpretação da década mais 
próspera da História. São Paulo: Companhia das Letras, 2003. 
https://bit.ly/2powPuq
https://bit.ly/2powPuq
19
Gabarito
QUESTÃO 1-Alternativa B. 
Realizado pelos organismos financeiros internacionais e representantes do governo estadunidense 
responsáveis pelas políticas para a América Latina, o encontro que passou a ser chamado, poste-
riormente, de Consenso de Washington, reuniu também importantes lideranças latino-americanas, 
como o economista brasileiro Mário Henrique Simonsen, o mexicano Salinas de Gortari e o argentino 
Domingo Cavallo, estes últimos tendo ocupado cargos de primeiro escalão em seus países de origem.
QUESTÃO 2-Alternativa C.
A abertura comercial e financeira das economias latino-americanas permitiu a modernização de 
seus parques industriais e tecnológicos, seja pelo investimento estrangeiro direto, seja pelo financia-
mento das indústrias nacionais e grupos ligados à Nova Economia, especialmenteem áreas ligadas 
à tecnologia de ponta. Não obstante essa modernização, permanecem em toda a América Latina os 
traços de forte desigualdade social que marca os países da região, com persistência de parcelas sig-
nificativas da população em situação de miséria e pobreza.
QUESTÃO 3-Alternativa D
Um dos pontos principais da agenda neoliberal está na redução das funções do Estado e na focali-
zação das políticas sociais, compreendidas em termos de gastos cuja previsão orçamentária deve ser 
determinada pelos limites do ajuste fiscal. Assim, as políticas sociais, para reduzir custos, devem ser 
executadas por meio de parcerias com a sociedade civil e a iniciativa privada, de caráter compen-
satório e mitigador de danos sociais inexoráveis às dinâmicas do mercado, o que exige focalização 
sobre grupos específicos, em vez dos modelos de universalização de direitos.
2
Ministério da 
Administração 
Federal e Reforma 
do Estado
21
Objetivos Específicos
• Compreender os impactos da agenda neoliberal no Brasil e suas determinações para a reforma 
do Estado brasileiro.
• Reconhecer as principais mudanças realizadas na gestão pública brasileira, por meio dos pro-
cessos da reforma gerencial e das privatizações de serviços públicos.
• Identificar as novas contradições da “questão social” no Brasil dos anos 1990, marcada pela 
emergência da esfera pública não-estatal e pela incipiência das redes de proteção social.
Introdução
O processo de crises cíclicas do modo de produção capitalista tem exigido, ao longo da história, 
o desenvolvimento de novas estratégias para sua expansão e para o aumento da produção e acu-
mulação de riquezas. Ao longo do século XX, a economia capitalista conheceu seus maiores ciclos de 
expansão, os quais foram acompanhados pelo desenvolvimento jamais visto dos conhecimentos e 
das tecnologias para promoção do bem-estar da humanidade. 
Estes avanços, entretanto, ocorreram concomitantemente ao crescimento exponencial das desi-
gualdades sociais, da violência e das mazelas que atingem níveis significativos da população mun-
dial, ampliando a concentração de riquezas, a destruição ambiental, os conflitos de ordem econô-
mica, geopolítica e étnica. Em resposta às crises estruturais do capitalismo, em fins do século XX, 
um conjunto de transformações políticas, econômicas e sociais constituíram nova ordem mundial, 
denominada sociedade global: a partir de então, eventos antes localizados passaram a ter impacto 
mundial, ultrapassando as barreiras territoriais e gerando efeitos em diferentes regiões do planeta. E 
no bojo destas transformações, emerge também um novo padrão de resposta à questão social, com 
o fortalecimento, em nível mundial, do Terceiro Setor. 
No caso brasileiro, a agenda neoliberal será adotada a partir das eleições presidenciais de 1989, 
quando a vitória do candidato Fernando Collor de Melo inseriu o país no conjunto de nações lati-
no-americanas sob influência do Consenso de Washington. Por seu turno, esta agenda neoliberal 
22
somente será consolidada a partir do primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-1998), 
quando a criação do Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado - MARE significará a 
implantação, no seio do Governo Federal, do aparato estatal de formulação e institucionalização das 
medidas ditadas pelo capitalismo internacional.
1. A adesão nacional ao 
neoliberalismo
Ao longo da década de 1990 e início dos anos 2000, o Brasil adotou e 
executou uma extensa agenda de reformas 
políticas e institucionais que tinha como 
objetivo principal inserir a economia nacio-
nal no contexto mundial da globalização. O 
argumento inicial para adoção do receitu-
ário neoliberal ditado a partir do Consenso 
de Washington foi a crise fiscal gerada pela 
recessão dos anos 1980 e pelos seguidos 
pacotes econômicos que, ao longo daquela 
década, foram implantados sem sucesso para a reversão da crise que se abatia sobre boa parte da 
América Latina, incluindo o Brasil. 
Os planos lançados ao longo daquela década tinham como principal estratégia a busca de con-
trole estatal pelos mecanismos de variação dos preços, da produção e do consumo internos, visando, 
sobretudo, ao controle inflacionário. Troca de moeda, congelamento de preços e salários, controle 
das tarifas públicas e do câmbio foram as principais e repetidas estratégias adotadas.
Com a inflação beirando os 2.000% anuais ao final da década, as eleições presidenciais de 1989 
acabaram se polarizando entre um candidato que se apresentava como representante da classe 
trabalhadora, Luís Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores, e um candidato oriundo da 
 
Para saber mais
Os pacotes e planos econômicos lançados naquela 
década incluem o Plano Cruzado e o Plano Cruzado 
2, lançados pelo Presidente José Sarney, em 1986; 
o Plano Bresser, coordenado pelo então Ministro da 
Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira, em 1987, tam-
bém no governo Sarney; o Plano Verão, de 1989, 
capitaneado pelo então ministro da Fazenda, Maíl-
son da Nóbrega, no último ano do mesmo governo.
 
23
antiga elite colonial do Nordeste brasileiro, Fernando Collor de Mello, filiado 
ao Partido da Renovação Nacional. De um 
lado, a ameaça de um socialismo que pro-
vocaria a fuga de mais de 800 mil empre-
sas, conforme declaração do então presi-
dente da Federação das Indústrias de São 
Paulo, Mario Amato. Do outro, um candidato 
novato e pouco conhecido, concorrendo por 
um pequeno partido, mas que construíra 
fama como o “caçador de marajás”, como o 
definiu a capa de um semanário nacional1, 
referindo-se à cruzada do então governador de Alagoas contra os salários do alto escalão do fun-
cionalismo público.
Assim, construiu-se uma disputa maniqueísta entre o “atraso” atribuído ao candidato do PT, 
sobretudo, num contexto de desmonte da experiência socialista da URSS e as turbulências que, 
naquele ano, levaram à queda do Muro de Berlim, e a promessa da renovação modernizadora que se 
atribuía ao “azarão”, Fernando Collor. Vencidas as eleições, o presidente modernizador reeditaria as 
medidas adotadas nos planos econômicos anteriores, agora com um implemento que entraria para 
a história dos fracassados pacotes econômicos nacionais:
Em março de 1990, o então presidente Fernando Collor de Mello entregou seu Plano de 
Estabilização Econômica ao Congresso. Entre as medidas,  instituiu o traumático confisco 
das poupanças e contas correntes, o tabelamento de preços e a extinção de 24 órgãos do 
governo. A moeda voltou a se chamar cruzeiro. A inflação neste ano chegou a 1.476,71%. 
Em janeiro de 1991, a ministra da Fazenda da época, Zélia Cardoso de Mello, anunciava na 
TV novas medidas econômicas que congelaram preços, salários e serviços. Era o novo plano 
econômico do governo Collor. A sucessão de medidas de impacto na economia não foram 
suficientes: a inflação em 1991 chegou a 480,17%2.
1 Revista Veja, edição de 23 de março de 1988. 
2 Extraído de: <http://brasileconomico.ig.com.br/vida-e-estilo/2014-05-30/planos-economicos-
marcaram-as-decadas-de-80-e-90-no-brasil.html>. Acesso em: 13 abril 2018.
 
Link
Um resumo destes planos econômicos e seus pa-
cotes de medidas pode ser encontrado na report-
agem “Planos econômicos marcaram as décadas 
de 80 e 90 no Brasil”, do blog Brasil Econômico, 
edição de 30/05/2014. Disponível em: <http://bra-
sileconomico.ig.com.br/vida-e-estilo/2014-05-30/
planos-economicos-marcaram-as-decadas-de-80-
e-90-no-brasil.html>. Acesso em: 31 jan. 2018.
 
https://bit.ly/1tvF7IY
https://bit.ly/1tvF7IY
https://bit.ly/1tvF7IY
https://bit.ly/1tvF7IY
24
Paralelamente, o governo Collor daria início aos processos de abertura 
comercial, com a redução gradual das tarifas 
de importação, que tinha por objetivo for-
çar a queda dos preços internos e a melho-
ria da produção nacional, e de liberalização 
financeira, visando a facilitar a entrada de 
capital estrangeiro no país. Além disso, foi 
lançadoo primeiro plano de privatizações 
do Brasil, chamado Programa Nacional de 
Desestatização, com a previsão de vender 
68 estatais, mas que, ao final, realizou a pri-
vatização de 18, sendo a principal e mais 
polêmica a venda da Usiminas. 
O governo Collor encontraria seu ocaso num processo de impeachment, tendo o presidente renun-
ciado ao mandato em 29 de dezembro de 1992. Em termos conceituais, a literatura apontará contra-
dições e divergências quanto ao caráter neoliberal deste governo. Em que pese tais divergências, há 
consenso de que os anos Collor de Mello representam o início das reformas que serão intensificadas 
no período posterior, quando as eleições de 1994 levarão ao Palácio do Planalto o socialdemocrata 
Fernando Henrique Cardoso.
1.1 uma agenda de reformas para o estado 
brasileiro
A vitória de Fernando Henrique Cardoso, do Partido da Social Democracia Brasileira, nas eleições 
presidenciais de 1994, trouxe para o centro do poder nacional a perspectiva de integração nacional 
aos mercados e movimentos políticos que haviam conquistado hegemonia mundial a partir dos pro-
cessos da globalização.
 
Para saber mais
Ministro da Administração Federal e Reforma do 
Estado no governo Fernando Henrique Cardoso, 
tendo, anteriormente, ocupado o Ministério da Fa-
zenda do Governo Sarney, o economista e professor 
Luiz Carlos Bresser-Pereira diverge da perspectiva 
que insere o governo Collor no espectro do neolib-
eralismo, sobretudo, por considerar que as medi-
das tomadas pelo então Presidente da República 
tinham por fundamento principal a intervenção 
estatal para conter a própria crise fiscal do Esta-
do brasileiro, e não uma inspiração liberalizante de 
deixar ao próprio mercado as decisões e os rumos 
de funcionamento da economia nacional.
 
25
Mais uma vez, o discurso da modernização nacional, agora reforçado pelo 
sucesso da estabilização financeira obtida pelo Plano Real, lançado em feve-
reiro de 1994, ainda no governo de Itamar 
Franco (1992-1994) e comandado por FHC, 
à época Ministro da Fazenda, traria à pauta 
nacional a necessidade de dotar o país de 
mecanismos mais sólidos de crescimento 
econômico e inserção internacional. 
Já no início de seu mandato, FHC instituirá 
o órgão máximo responsável pela formula-
ção, negociação e implementação das refor-
mas: o MARE - Ministério da Administração 
Federal e Reforma do Estado, que terá como 
titular o economista Luiz Carlos Bresser-
Pereira. O diagnóstico da época era aquele 
que saíra do receituário neoliberal descrito 
pelo Consenso de Washington: o país atra-
vessava uma enorme crise fiscal decorrente, por um lado, da “redução nas taxas de crescimento 
econômico, aumento do desemprego e elevados índices de inflação” (BRASIL, 1995, p. 10), e, por 
outro, da crise do Estado
que não soubera processar de forma adequada a sobrecarga de demandas a ele dirigidas. 
A desordem econômica expressava agora a dificuldade do Estado em continuar a adminis-
trar as crescentes expectativas em relação à política de bem-estar aplicada com relativo 
sucesso no pós-guerra (BRASIL, 1995, p. 10).
 
Assimile
Segundo Boaventura de Souza Santos (2002), a 
globalização envolve um conjunto de processos 
de ordem política, econômica, social, cultural e 
ideológica, que, emanado a partir dos países de 
capitalismo avançado, especialmente os EUA e a 
Europa Ocidental, buscam constituir nova ordem 
mundial homogênea e linear. Contudo, alerta o au-
tor, a globalização possui também processos contra 
hegemônicos relacionados à emergência de novos 
sujeitos coletivos e movimentos sociais, além de 
resistências à dominação do capitalismo e de pro-
cessos de violência transnacional e destruição am-
biental em níveis mundiais. Para o autor, a visão 
hegemônica da globalização busca eliminar as re-
sistências e ocultar as perversidades daqueles pro-
cessos dominantes, divulgando a falsa ideia de que 
os fenômenos globais são naturais e necessários, e 
não o resultado de decisões políticas tomadas pelos 
países centrais da sociedade capitalista. 
 
26
As respostas, seguindo o receituário, deveriam ser dadas a partir de medidas que garantissem:
(1) o ajustamento fiscal duradouro; (2) reformas econômicas orientadas para o mercado, que, 
acompanhadas de uma política industrial e tecnológica, garantam a concorrência interna 
e criem as condições para o enfrentamento da competição internacional; (3) a reforma da 
previdência social; (4) a inovação dos instrumentos de política social, proporcionando maior 
abrangência e promovendo melhor qualidade para os serviços sociais; e (5) a reforma do 
aparelho do Estado, com vistas a aumentar sua “governança”, ou seja, sua capacidade de 
implementar de forma eficiente políticas públicas (BRASIL, 1995, p. 10).
Em seus quatro anos de existência, o MARE, que seria extinto e substituído, no final de 1998, pelo 
Ministério do Planejamento e Gestão, empreenderia uma série de reformas estruturais no Estado 
brasileiro, abrangendo, sobretudo, as privatizações, a reforma fiscal e da previdência, a liberaliza-
ção comercial e financeira. Assim, um balanço realizado por Fábio Giambiagi, José Guilherme Reis e 
André Urani (2004), aponta como principais conquistas do governo FHC no tocante a esta agenda 
de reformas:
1) A estabilização dos preços; 2) o fim dos monopólios estatais nos setores de petróleo e 
telecomunicações; 3) as mudanças no tratamento do capital estrangeiro; 4) um extenso 
programa de privatizações; 5) o saneamento do sistema financeiro; 6) uma reforma inicial 
da Previdência Social; 7) a renegociação das dívidas estaduais, acompanhada de expressiva 
melhoria dos resultados fiscais dos estados; 8) Lei de Responsabilidade Fiscal; 9) adoção do 
sistema de metas de inflação; 10) o ajuste fiscal implementado a partir de 1999 (GIAMBIAGI, 
REIS; URANI, 2004, p. 13).
Para o Ministro Bresser-Pereira, as reformas realizadas nos anos 1990 representaram um segundo 
passo no processo de transição modernizadora do Estado brasileiro: “Tivemos no Brasil a transição, 
de um lado, do Estado do regime autoritário para o democrático, e, de outro, do aparelho do Estado 
de uma administração pública burocrática para uma administração pública gerencial” (BRESSER-
PEREIRA apud MOREIRA et al., 2010, p. 7).
Assim, a reforma gerencial do Estado brasileiro, ao propor sua desburocratização e o aumento de 
sua eficiência, ao mesmo tempo em que apontava para maior focalização das ações estatais, com 
27
incentivo à criação de novos mercados para a iniciativa privada, sobretudo por meio das privatiza-
ções, das terceirizações e da concessão para as empresas privadas de serviços até então realizados 
pelo Estado, dotou o aparelho estatal brasileiro de um novo perfil, numa reengenharia administrativa 
que visou lhe dar uma nova característica: “é o fim da Era Vargas”3, descreveu o Presidente FHC, ao 
declarar que a partir de então o Estado deixava de lado seu perfil de investidor e produtor de bens e 
serviços para assumir uma característica de regulação e fiscalização. Estas mudanças terão impac-
tos significativos, também, na perspectiva adotada nas políticas sociais brasileiras, produzindo novas 
contradições no trato da “questão social”.
1.2 A questão social no novo estado gerencial 
brasileiro
Inspirada no receituário internacional, a reforma gerencial do Estado brasileiro, implementada a 
partir do Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado, buscou redefinir a macroestrutura da 
administração pública federal, a partir da distinção de quatro setores infra estatais, a saber: um 
núcleo estratégico, um núcleo de atividades exclusivas, um de atividades não-exclusivas e, por fim, 
um núcleo de produção de bens para o mercado. Com estes núcleos, os reformadores do Estado bus-
caram distinguir as formas de propriedade estatal, privada e pública não-estatal, propondo para cada 
segmento uma linha específica de administração, ou burocrática, ou gerencial (MOREIRAet al., 2010).
A proposta articula autonomia e responsabilização, por meio da celebração de contratos de 
gestão entre as entidades públicas não-estatais e o núcleo estratégico do Estado, respon-
sável pela formulação das políticas públicas. O contrato de gestão é também o instrumento 
por meio do qual se concedem autonomia às agências executivas, título concedido às orga-
nizações estatais que atuam no setor de atividades exclusivas do Estado (...) As atividades 
não exclusivas do Estado (...) são consideradas, no plano diretor, “necessariamente públi-
cas” (...) não podendo, portanto, ser privatizadas. Tais atividades devem ser financiadas pelo 
Estado. Mas seu estatuto jurídico passa a ser, segundo a proposta, o de organizações não 
estatais, dotadas de maior autonomia de gestão, que lhes possibilite prover melhores servi-
ços (MOREIRA et al., 2010, p. 192-193). 
3 Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/2/14/brasil/26.html>. Acesso em: 14 abr. 2018.
28
Esta nova concepção de Estado e de execução das políticas públicas, incorporando a dimen-
são das ações públicas não-estatais, exercerá impacto direto no campo das políticas sociais. Se a 
Constituição de 1988 trouxe a grande inovação, em termos nacionais, de considerar a proteção 
social como direito universal de cidadania, cabendo ao Estado assegurar o acesso de toda a popula-
ção, como nos casos da seguridade, da saúde e da educação, além de promover a descentralização 
e a pactuação das responsabilidades entre as três esferas federativas – União, estados e municípios 
– a reforma gerencial abriu espaço para considerar outros atores – não-estatais – como componen-
tes indispensáveis da rede de proteção social, permitindo a entrada de grupos corporativos, associa-
ções diversas, organizações da sociedade civil, dentre outras, na execução, financiada pelo Estado, 
daquelas políticas. Assim, 
o Estado, dirigido pelos movimentos neoliberais, se afasta parcialmente da intervenção 
social, porém é subsidiador e promotor do processo ideológico de “transferência” da ação 
social para o “terceiro setor” (MONTAÑO, 2002, p. 235). 
Este processo logrou obter resultados bastantes díspares: por um lado, permitiu configurar as 
primeiras redes nacionais de políticas públicas universais e dar início à implantação de critérios não 
patrimoniais ou clientelistas para as políticas redistributivas, como nos casos dos programas Bolsa-
escola, Renda Cidadã, Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, entre outros cujos critérios de 
acesso e concessão dos benefícios foram regulamentados de acordo com parâmetros nacionais, difi-
cultando desvios e usos político-eleitorais: 
Em todos esses programas, a opção foi a transferência direta de renda monetária aos bene-
ficiários e sua gestão centralizada no governo federal. Foram, assim, eliminados os pro-
gramas de distribuição de cesta básica de alimentos, que se prestavam, com frequência, à 
manipulação clientelista. Os programas de transferência direta de renda impunham também 
aos beneficiários contrapartidas, como frequência escolar das crianças e ida da família a 
postos de saúde, na suposição de que se estariam criando condições para a sua indepen-
dência econômica futura (ALMEIDA, 2004, p. 10).
29
Por outro lado, o investimento na universalização do acesso às políticas 
distributivas acabou focalizado em algu-
mas áreas, como a educação fundamental 
e saúde básica, seguindo o receituário de 
organismos internacionais que defendem, 
desde meados do século XX, a transferência 
de responsabilidades estatais para a inicia-
tiva privada ou para a sociedade civil, sendo 
esta representada pela emergência do ter-
ceiro setor.
Dessa forma, conquanto tenha havido 
grandes avanços na constituição das redes 
de proteção social e na gestão de políti-
cas públicas sociais, os principais traços da 
questão social no Brasil, marcada por forte 
desigualdade de renda, consumo e acesso 
aos bens materiais e serviços públicos, não 
foram enfrentados uma vez que as políticas sociais voltadas a estes segmentos acabaram sendo 
transferidas para a lógica da focalização, da seleção de beneficiários e da autorresponsabilização dos 
indivíduos, que marca o modelo de intervenção social caracterizado pelo terceiro setor. 
Questão para reflexão
O paradoxo da questão social brasileira no século XXI é marcado pela expansão das redes e polí-
ticas de proteção social, ao mesmo tempo em que aumentam as desigualdades e mazelas de boa 
parte da população. Procure refletir sobre os fatores que impulsionam este paradoxo e, se possível, 
identifique exemplos de iniciativas que buscam superar tais condições.
 
Exemplificando
Nos anos 1990, o Banco Mundial elaborou uma 
série de estudos e documentos setoriais com a fi-
nalidade de subsidiar as contrapartidas dos países 
tomadores de empréstimos. Denominados “Country 
Assistance Strategy”, esses estudos incluíam es-
tratégias para reformas dos sistemas de educação, 
que previam: 1) a educação infantil para as pes-
soas de baixa renda deveria ser ofertada por ONGS, 
por meio de custos subsidiados, cabendo-lhes o 
gerenciamento desta oferta; 2) educação básica 
obrigatória e universal; 3) ensino médio ofertado 
prioritariamente pelo setor privado, com subsí-
dio público para alunos que se mostrarem capazes 
de prosseguir os estudos após a educação básica, 
requerendo, portanto, um rigoroso processo de 
seleção por parte do Estado; 4) educação superi-
or de oferta exclusiva pela iniciativa privada, com 
sistema de bolsas de estudos para alunos de baixa 
renda.
Fonte: Kruppa (2001).
 
30
Considerações Finais
• O ingresso do Brasil no contexto mundial da globalização, que corresponde ao período de con-
solidação da abertura política, trouxe consigo a promessa da modernização política, econômica 
e social do país, rapidamente frustrada pela derrocada do primeiro presidente eleito democra-
ticamente, após a Ditadura Militar, que vigorou de 1964 a 1985.
• Com a chegada do Presidente Fernando Henrique Cardoso ao governo federal, a agenda das 
reformas neoliberais ganhou pulso, com forte ênfase na reforma do Estado e das políticas eco-
nômica e social.
• No bojo das reformas promovidas por FHC, a questão social ganha nova conotação, com a 
entrada em cena da sociedade civil organizada, representada pela emergência do Terceiro Setor.
• Em que pese a configuração das redes de proteção social, de caráter federativo, descentrali-
zado e universal, as políticas sociais implementadas não lograram superar a grave desigual-
dade social brasileira, fortalecendo as críticas a este padrão de intervenção social.
Glossário
Proteção social: considera-se proteção social o conjunto de direitos básicos da popula-
ção, de caráter universal, cujo acesso deve ser garantido independentemente de contribuições 
individuais, sendo seu financiamento assegurado por meio dos recursos públicos advindos dos 
impostos coletados. 
Políticas redistributivas: são aquelas que visam à redistribuição de renda na forma de recursos 
transferidos diretamente – como no caso das políticas de cotas e bolsas – ou por meio do financiamento 
de equipamentos e serviços públicos, tais como políticas de incentivos fiscais ou de reforma agrária.
31
Verificação de leitura
QUESTÃO 1-A agenda neoliberal propôs aos países latino-americanos um conjunto de 
medidas e reformas, dentre as quais se incluem:
a) Universalização do Ensino Médio e Superior.
b) Liberalização comercial e financeira. 
c) Desestatização e universalização da previdência.
d) Reforma trabalhista e estatização da produção petrolífera.
e) Privatização e ampliação dos direitos trabalhistas.
QUESTÃO 2-A respeito das políticas sociais iniciadas no governo FHC, é correto afirmar 
que:
a) Têm início com a criação do Bolsa Família.
b) Romperam com as recomendações neoliberais.
c) Privilegiaram o desenvolvimento científico-tecnológico das universidades.
d) Estabeleceram parâmetros deuniversalização e focalização não clientelistas.
e) Ficaram restritas ao bolsa escola e à renda cidadã.
QUESTÃO 3-O MARE – Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado teve 
como um de seus principais resultados:
a) O fim da corrupção no governo federal.
b) A neutralização da ameaça comunista de 1989.
c) A reforma gerencial do Estado brasileiro.
d) A burocratização da assistência social.
e) A desburocratização das atividades cartoriais.
32
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https://bit.ly/2v2xJPy
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33
Gabarito
QUESTÃO 1-Alternativa B
Entre as primeiras medidas neoliberais adotadas no Brasil estão a liberalização comercial, com 
incentivo à importação, considerada estratégica para melhoria da produção nacional, e a liberaliza-
ção financeira, com vistas a permitir a entrada, no país, de capital internacional.
QUESTÃO 2-Alternativa D
Buscando romper com as práticas clientelistas das políticas sociais, o governo FCH buscou esta-
belecer parâmetros de acesso e concessão aos benefícios sociais, mantendo centralizada a gestão 
dos programas e descentralização sua execução e fiscalização.
QUESTÃO 3-Alternativa C
O MARE foi criado pelo governo FHC para promover a modernização do Estado brasileiro, com-
preendida como a superação de suas características burocráticas, em favor de um modelo gerencial 
e baseado na obtenção de resultados.
3
Terceiro Setor: 
definições e 
contextualização
35
Objetivos Específicos
• Compreender a origem do conceito de terceiro setor e as principais divergências em torno de 
suas definições.
• Identificar os fatores que favoreceram a emergência e consolidação do terceiro setor, compre-
endendo suas contradições.
• Reconhecer a multiplicidade de atores que estão presentes neste segmento social, caracteri-
zando os diferentes tipos de organizações.
Introdução
Nos anos 1990, o ingresso do Brasil no contexto mundial da globalização, que corresponde ao perí-
odo de consolidação da abertura política no país, trouxe consigo a promessa da modernização política, 
econômica e social, rapidamente frustrada pela derrocada do primeiro presidente eleito democrati-
camente, após a ditadura militar que vigorou de 1964 a 1985. A partir de 1994, porém, a chegada do 
Presidente Fernando Henrique Cardoso ao governo federal demarcou o início de uma ampla agenda de 
reformas neoliberais e de inserção do Brasil no cenário mundial da globalização, com forte ênfase na 
reforma do Estado e das políticas econômica e social.
No bojo destas reformas, a questão social ganha nova conotação, com a configuração das redes de 
proteção social que haviam sido previstas na Constituição Federal de 1988 e a perspectiva de universa-
lização das políticas de educação, saúde e seguridade social, com caráter federativo e descentralizado. 
Ao mesmo tempo, o governo FHC institui o Conselho da Comunidade Solidária, um órgão colegiado for-
mado por diversos ministérios e por representantes da sociedade civil organizada, com a finalidade de 
“promover o diálogo político e parcerias entre governo e sociedade para o enfrentamento da pobreza e 
da exclusão, por intermédio de iniciativas inovadoras de desenvolvimento social” (BRASIL, 1999, Art. 1º).
Dessa forma, a configuração das redes de proteção social, com vistas à universalização das políticas 
de saúde, educação e seguridade social, dará mediante a transferência de diversas ações anteriormente 
compreendidas como de responsabilidade do Estado para as organizações da sociedade civil, impulsio-
nando a constituição do terceiro setor no Brasil.
36
1. Terceiro setor: um conceito clivado 
da realidade
A expressão “terceiro setor” é originária do inglês estadunidense “third sector”, uma expressão 
cunhada em 1978 pelo magnata e fundador da Universidade de Chicago, John, D. Rockfeller III para 
caracterizar as organizações que, naquele país, possuíam finalidades coletivas ou públicas mas eram 
administradas e financiadas privadamente. A importação do termo para o Brasil, como destaca a 
professora Maria da Glória Gohn, faz dele, entretanto, “uma expressão com significados múltiplos, 
devido aos sentidos históricos diferenciados, em termos de realidade social” (GOHN, 1999, p. 73). 
Para outro pesquisador da questão (MONTAÑO, 2002), a expressão Terceiro Setor caracteriza um 
universo
que envolve um número significativo de organizações e instituições – organizações não-
governamentais (ONGs), sem fins lucrativos (OSFs), instituições filantrópicas, empresas 
“cidadãs", entre outras – e sujeitos individuais – voluntários ou não (MONTAÑO, 2002, p. 15).
Tomando esta perspectiva, considera-se que o Terceiro Setor congrega grande variedade de tipo-
logias organizacionais: associações de bairro, grupos comunitários, clubes de serviço, voluntários 
individuais, fundações empresariais, organizações internacionais das mais variadas, entre outras. 
Buscando englobar essa variedade de tipos, ou, ao menos, justificar os processos de mudança no 
trato da questão social no Brasil, ao longo da década de 1990, quando as organizações do terceiro 
setor emergem enquanto atores inseridos na formulação e execução das políticas sociais, conforme 
mencionando anteriormente, ganharam força duas tentativas de definir o termo conceitualmente. 
Primeiramente, a definição elaborada pelo antropólogo e fundador da ONG Viva Rio, no Rio de 
Janeiro, Rubem César Fernandes (1994), que, diretamente inspirado na experiência norte-ameri-
cana, define o Terceiro Setor como o setor privado, porém público. Já a segunda definição, trazida 
pela experiência do professor e ex-Ministro da Administração Federal e Reforma do Estado, Luiz 
Carlos Bresser-Pereira, o define como o setor público não-estatal.
37
Em que pese a força dessas definições para respaldar teoricamente as mudanças em curso, ao 
longo dos anos seu caráter dogmático vai se tornando cada vez mais evidente, sobretudo, em razão 
de sua precariedade frente à realidade empírica que estes conceitos buscam representar. 
Tome-se, por exemplo, as fontes de financiamento de boa parte das ações do terceiro setor: num 
contexto de crise da arrecadação e do investimento estatal, o qual seria utilizado como justificativa 
para as reformas apresentadas pelo governo federal e coordenadas pelo próprio Ministro Bresser-
Pereira, as fontes de financiamento do setor privado, porém público, eram, sobretudo, advindas de 
mecanismos de transferência – convênios, contratos, renúncia fiscal – do Estadopara as organiza-
ções da sociedade civil, num processo de precarização do trabalho e redução dos custos sociais, uma 
vez que significavam menor investimento na estrutura pública – recursos humanos, materiais, físi-
cos – do Estado e inseriam as políticas sociais numa lógica de competição ditada pela disputa entre 
organizações pelos escassos recursos ofertados por meio de editais ou chamamento público. 
Assim, em áreas como educação, assistência social e saúde, muitas organi-
zações de gestão privada, efetivamente, cumpriam o papel do poder público, 
sendo, não raramente, de origem religiosa 
e concebidas anteriormente a própria insti-
tuição das políticas setoriais. É o caso, por 
exemplo, das Santas Casas de Saúde, con-
cebidas a partir da Caridade Católica, ou, 
ainda, de muitas creches e instituições de 
Educação Infantil, criadas antes mesmo 
que a legislação educacional brasileira pas-
sasse a considerar a educação como direito 
de todos os cidadãos e responsabilidade do 
Estado. Portanto, mesmo sendo organi-
zações de gestão privada, seu caráter não 
estatal ficava comprometido pelo alinha-
mento, dependência e comprometimento 
com o recurso público, que financiava suas ações.
 
Exemplificando
Em 1993, a prisão de José Alves Carlos dos San-
tos, então assessor da Comissão de Orçamento do 
Senado Federal, deu início à sucessão de denúncias 
que levaria à abertura de uma Comissão Parlamen-
tar de Inquérito, conhecida como “CPI dos Anões”. 
As investigações debruçaram-se sobre denúncias 
de desvios de verbas por deputados e senadores, 
por meio do repasse de emendas parlamentar-
es para ONGs que, sem fiscalização ou com falsas 
prestações de contas, não executavam as políticas 
previstas, destinando o dinheiro para as contas 
dos parlamentares. À época, tornou-se bastante 
conhecido o caso do Deputado João Alves (então 
PFL, sigla posteriormente alterada para DEM), que, 
tentando justificar a riqueza indevidamente acu-
mulada, alegou ter recebido 56 prêmios de loterias, 
apenas em 1993.
 
38
Outra crítica ao suposto caráter não-estatal é exatamente esta necessidade de alinhamento 
entre a organização do terceiro setor e as políticas estatais, exigindo que aquelas organizações, 
para obter recursos públicos, fossem simples executoras da política governamental, comprome-
tendo sua independência e autonomia. Além disso, muitas organizações passaram a ser criadas 
com o intuito de atender aos interesses coletivos, ou seja, voltadas para executar políticas espe-
cificamente formuladas por determinados grupos políticos, afastando o Terceiro Setor do caráter 
público de uma política ou ação. Mais uma vez, as organizações, mesmo possuindo gestão privada, 
acabavam por se tornar braços não oficiais do Estado, também comprometendo sua definição 
enquanto organização pública não estatal.
1.1 As parcerias estratégicas e o crescimento do terceiro 
setor
As críticas àquelas definições são acrescidas da percepção de que o Terceiro Setor vai se configu-
rando como o novo mercado para profissionais que são excluídos do mercado privado, em razão das 
crises constantes do capitalismo, tornando-se, então, o polo de absorção para a mão de obra quali-
ficada, mas em condições precarizadas de trabalho. 
Assim, não obstante suas fragilidades teóricas, o Terceiro Setor expande-se em meio a dois 
processos complementares: por um lado, a precarização do trabalho assalariado e a concentra-
ção do capital, que elevam o custo da mão de obra de alta qualificação, ao mesmo tempo em que 
exige maior qualificação de todos os profissionais, empurrando-os para uma zona limítrofe entre o 
emprego de alto rendimento ou a busca de novas oportunidades de trabalho. Por outro lado, a cres-
cente necessidade de se obter maior capilaridade e menor custo nas políticas sociais, o que repre-
senta tanto a abertura de novas modalidades de trabalho no campo das políticas públicas quanto a 
exigência de maior profissionalização desses trabalhadores. 
Por isso, o modelo de intervenção social assentado na parceria e coparticipação entre o Estado 
e organizações de gestão privada tornou-se bastante disseminado no Brasil. A concepção de par-
cerias estratégicas é o ponto de inflexão para este crescimento e, segundo esta concepção, a crise 
39
da sociedade contemporânea, manifesta na forma de crise dos Estados nacionais, com seu esgo-
tamento fiscal e perda de eficiência, exige a redefinição das funções do Estado e a pactuação com 
a sociedade civil. As contradições deste crescimento, no entanto, foram apontadas pela pesquisa 
Fundações e Associações Privadas Sem Fins Lucrativos no Brasil, publicada em 2012 pelo Associação 
Brasileira das ONGs - ABONG:
Em 2010, havia 290,7 mil Fundações Privadas e Associações sem Fins Lucrativos (Fasfil) 
no Brasil, voltadas, predominantemente, à religião (28,5%), associações patronais e profis-
sionais (15,5%) e ao desenvolvimento e defesa de direitos (14,6%). As áreas de saúde, edu-
cação, pesquisa e assistência social (políticas governamentais) totalizavam 54,1 mil enti-
dades (18,6%). As Fasfil concentravam-se na região Sudeste (44,2%), Nordeste (22,9%) 
e Sul (21,5%), estando menos presentes no Norte (4,9%) e Centro-Oeste (6,5%). Dessas 
instituições, 72,2% (210,0 mil) não possuíam sequer um empregado formalizado, apoian-
do-se em trabalho voluntário e prestação de serviços autônomos. Nas demais, estavam 
empregadas, em 2010, 2,1 milhões de pessoas, sendo intensa a presença feminina (62,9%). 
Porém a remuneração média das mulheres (R$1.489,25) equivalia a 75,2% da remuneração 
média dos homens (R$1.980,08), sendo para o total dos assalariados, R$1.667,05 mensais 
naquele ano. Quanto ao nível de escolaridade, embora 33,0% dos assalariados dessas enti-
dades possuíssem nível superior, quase o dobro do observado para o total das organizações 
(16,6%), sua remuneração era de 5,8 salários mínimos, bem menor do que a dos assalaria-
dos do total das organizações do CEMPRE - 7,6 salários mínimos (ABONG, [2018])1. 
As parcerias estratégicas constituem-se como instrumento de articulação dos diferentes seto-
res que compõem o modelo tripartite de compreensão da sociedade, segundo o qual as formações 
sociais são compostas pelo Estado (a organização política e administrativa de uma nação), pelo mer-
cado (a economia) e pela sociedade civil, então compreendido como o conjunto de organizações que 
não se encontram, oficialmente, em nenhuma daquelas outras esferas. 
Seguindo esta concepção, a sociedade civil assume que deve demarcar as funções do Estado, limitan-
do-o à regulação da esfera pública e possibilitando a livre regulação dos mecanismos de funcionamento 
da esfera econômica. No campo social, por seu turno, a sociedade civil deve ser parceira do Estado e do 
mercado na busca de soluções que possam remediar os desajustes inexoráveis do mundo capitalista.
1 Disponível em: <http://www.abong.org.br/ongs.php?id=18>. Acesso em: 14 abr. 2018.
40
Nesse sentido, a sociedade civil, conquanto integre – mas não se identifique com – nem com a 
esfera econômica, nem com o Estado, deve intervir na conformação destas relações, e o paradigma 
das parcerias estratégicas concebe a sociedade como um campo de anula-
ção dos conflitos que são inerentes às particularidades de cada uma des-
sas esferas, postulando a “ideia” de compartilhamento de “crenças e valo-
res, pontos de vistas e interesses [que con-
duzem a] um posicionamento estratégico 
comum diante de uma determinada reali-
dade” (NOLETO, 2000, p. 15). 
A compreensão de que interesses e valo-
res conflitivos reuniriam-se por meio das 
parcerias estratégicas representadas pelas 
organizações do Terceiro Setor parte, como 
demonstra Grau (1998), de um argumento 
que pressupõe que o Estado democrático 
deve assumir um novo papel histórico e, 
por consequência, adaptar suas estrutu-
ras legais, funcionais e burocráticas à par-
ticipação e publicização das ações de cunhosocial, o que daria ao Terceiro Setor um estatuto de legitimidade, em oposição ao caráter burocrático, 
ineficiente, clientelista, que seria atribuído ao Estado enquanto provedor de bens e serviços. 
As reformas estruturais do final do século XX são, nesse sentido, a manifestação da moderniza-
ção do Estado aos seus novos desafios, colocados, principalmente, em termos de equilíbrio fiscal 
e financeiro, incentivo – e apoio não-intervencionista – ao mercado e ao progresso técnico e tec-
nológico e gerenciamento das estruturas globais de funcionamento das sociedades. Nesta pers-
pectiva, legitima-se o fortalecimento do Terceiro Setor enquanto manifestação da nova sociedade 
civil cujas ações não se farão mais em combate ao governo inimigo, como houvera no período de 
 
Assimile
Compreender as parcerias estratégicas como 
“ideia”, e não como fenômeno empírico da real-
idade, corresponde a compreender que, mesmo 
quando permitido analisar sua concretização em 
casos específicos, verifica-se que a teoria que a 
justifica em muito se dissocia da realidade, haven-
do, sobretudo, a anulação de identidades (individ-
uais ou coletivas) em razão da pressão econômi-
co-política de determinadas partes aliadas. Não são 
raros os casos em que para obter determinado fi-
nanciamento, o que é uma operação indispensável 
para as organizações do terceiro setor, valores in-
ternos da instituição que capta o recurso tenham 
de ser revistos para acomodar os valores determi-
nados pela instituição financiadora, o que, longe de 
configurar um compartilhamento de crenças, evi-
dencia a sobredeterminação econômica que preva-
lece nesse modelo de intervenção social.
 
41
exceção militar e durante o processo de redemocratização, mas se volta-
rão, agora a, por um lado, contrapor-se a um estado ineficiente e burocrá-
tico no trato das necessidades populares e, 
por outro, a aparceirar-se com este Estado 
em favor de ações mais ágeis e efetivas.
Portanto, sustenta-se a importância do 
Terceiro Setor não só pelo seu papel de pres-
tador mais ágil de serviços públicos ou cole-
tivos, mas também por sua capacidade de 
incidir em políticas públicas e de funcionar 
como laboratórios para experiências inova-
doras de atendimento a determinadas necessidades sociais, ao mesmo tempo em que se amplia a 
capilaridade e o alcance das ações públicas para além dos limites de atuação 
do próprio Estado.
1.2 Mas, afinal, quais 
são as organizações do 
terceiro setor?
Conforme mencionado, o crescimento do 
Terceiro Setor assenta-se sobre um argu-
mento de fortalecimento da sociedade civil. 
Esta, segundo seus defensores, decorre do 
avanço da democratização em nível mundial (PEREIRA et al., 1999), quando a falência do Estado 
provedor passa a exigir a articulação de organizações e redes de intervenção social, capitaneadas 
pela pouca capilaridade do Estado (CARDOSO, 2002) e pelo crescente quadro de necessidades e 
injustiças sociais. Nesta perspectiva, o cenário de fortalecimento democrático impulsionaria o forta-
lecimento da sociedade civil, então compreendida como o Terceiro Setor, identificação essa que está 
 
Para saber mais
O crescimento das ações realizadas no âmbito do 
Terceiro Setor, suas relações com a reforma do Es-
tado e a consolidação de um novo padrão de inter-
venção social são objeto de críticas diversas, desde 
aquelas que apontam para o risco de precarização 
e mercantilização da questão social até outras que 
apontam seu caráter funcional à reestruturação do 
sistema capitalista, em nível mundial.
 
 
Link
O Prof. Dr. Carlos Montaño é, no Brasil, um dos 
principais autores da linha crítica ao Terceiro Setor. 
Resenha de sua tese de doutorado está disponível 
em: < http://ojs.up.com.br/index.php/raizesjurid-
icas/article/viewFile/194/161>. Acesso em: 14 abr. 
2018.
 
42
sustentada em torno da ideia-chave de parcerias e alianças estratégicas - enquanto compartilha-
mento de crenças e valores (NOLETO, 2000). 
Noutra perspectiva, se o Terceiro Setor é identificado como a sociedade civil, faz-se necessário 
assumi-lo como a estrutura social primeira a partir da qual emergem o próprio Estado e o mercado 
e, nesse caso, o terceiro torna-se o primeiro, anulando as definições usuais que buscam clarificar 
este conceito. Nessa outra perspectiva, clarificar o conceito de Terceiro Setor faz-se fundamental 
para que se possa compreender as relações entre a sociedade civil, o Estado por ela constituído e as 
relações comerciais por ela – e nela – praticadas, quando a esfera econômica torna-se determinante 
da própria configuração do Estado e da reconfiguração da sociedade civil, agora, compreendida em 
termos das organizações privadas que realizam ações com finalidades públicas. 
Deste embate paradigmático pode-se extrair, em termos bastante operativos, algumas defini-
ções sobre os tipos de organizações que compõem o Terceiro Setor. Resultante das clivagens entre 
a formulação conceitual hegemônica – a esfera pública não-estatal, ou privada, porém pública – e 
a percepção empírica deste fenômeno de crescimento do Terceiro Setor surgiu no próprio campo de 
definições, uma distinção entre dois tipos de organizações, a saber, as ONGs cidadãs (GOHN, 1999) 
ou organizações de controle social (PEREIRA, 1999) e as organizações voltadas para a prestação de 
serviços nas mais variadas áreas. 
Com esta distinção, busca-se afirmar que, embora o Terceiro Setor atue num escopo de ações 
que, geralmente, se atribuem como de responsabilidade estatal, sua importância maior consiste em 
ser a representação de esforços civis organizados, os quais possuem a clara finalidade de participar 
de decisões públicas. Portanto, de acordo com esta perspectiva, o Terceiro Setor constitui-se, prin-
cipalmente, como um polo de organização popular e participação cujo intuito é interferir ativamente 
nas decisões políticas do país, e não substituir o Estado em suas atribuições sociais.
Assim, segundo aquele paradigma de parcerias estratégicas, é nas interfaces entre Estado, mer-
cado e sociedade civil que se pode compreender a diversidade de organizações e de relacionamentos 
que compõem o Terceiro Setor, conforme apresentado no quadro a seguir:
43
QUADRO 1 - Modelo tripartite de sociedade
  ESTADO MERCADO TERCEIRO SETOR
ESTADO
Órgãos estatais da Administração 
direta e indireta; Poder Público; 
Lei
Fornecimento de bens e 
serviços, corrupção, lobby 
Organizações que 
realizam ações de 
interesse público
MERCADO
Órgãos reguladores, agências de 
controle e fiscalização, empresas 
de capital misto
Lucro
Financiamentos e 
sustentabilidade
TERCEIRO 
SETOR Marco regulatório
Fundações privadas, 
projetos empresariais, ações 
estratégicas, financiamentos e 
marketing
Associações e 
Fundações
FONTE: o autor.
Conquanto haja interfaces entre os três setores que compõem a sociedade neste modelo inter-
pretativo, o quadro permite-nos ver que há um campo específico de atuação das organizações do 
Terceiro Setor, o qual está voltado para a sociedade como um todo: na terceira coluna, em seu 
último quadrante, encontramos a tipologia oficial das organizações do Terceiro Setor, quais sejam, 
as Fundações e as Associações. 
Segundo o Código Civil Brasileiro (BRASIL, 2002), são três as figuras jurídicas 
existentes: as Fundações, as Associações e as organizações religiosas. Se estas 
são dedicadas aos cultos e preservação das práticas e doutrinas religiosas, as 
Fundações caracterizam-se por serem insti-
tuídas a partir de um Fundo Patrimonial que, 
por meio de escrituração pública, deve ser 
destinado a uma finalidade específica. Um 
exemplo é a Fundação Semear, entidade pri-
vada instituída junto à Associação Comercial 
e Industrial de Novo Hamburgo, Campo Bom 
 
Para saber mais
As transformações e permanências do Terceiro 
Setor, ao longo das últimas décadas, têm sido ob-
jeto de mapeamento sistemático do Grupo de Insti-
tutos, Fundações e Empresas, o GIFE, que organiza 
desde 2001 o

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