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Resenha Crítica - Freud - Psicologia das Massas

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Resenha crítica dos capítulos I, II e III do texto “Psicologia das Massas e 
Análise do Eu” de Freud 
 
1) Apresentação do tema 
 
O fenômeno das massas teve seu estudo iniciado no século XIX, o 
século das revoluções, um período de tumulto público que passava pela 
Revolução Industrial, em que ouve um processo de individualização do mundo 
público, ao mesmo tempo em que havia uma forte repressão sexual por causa 
da Era Vitoriana. Gustave Le Bon, em sua obra “Psicologia das Multidões” é 
um dos primeiros estudiosos a reconhecer esse fenômeno e tentar estudar 
seus processos psicológicos, cuja produção afetou como o mundo passou a 
ver as massas e seu poder de provocar mudanças. Freud, em sua obra 
“Psicologia das Massas e Análise do Eu, faz uma analise da obra de Le Bon e 
trata da questão do fenômeno das massas a partir da teoria psicanalítica que 
foca nas dinâmicas entre consciente e inconsciente, mas trazendo para o 
debate a questão social. 
Le Bon foi perspicaz ao perceber esse fenômeno e seu potencial, 
mostrando, a partir do material teórico que tinha na época, como as pessoas 
podem se comportar de forma tão extasiada, como em um estado hipnótico, 
quando estão em um grupo. Entretanto, além de não conseguir aprofundar 
suficientemente sua análise, apresentou vários pontos criticáveis em sua obra, 
influenciado por sua classe burguesa que valorizava a racionalidade, o que o 
motivou a ver negativamente os movimentos de massa como algo puramente 
irracional e que era necessário um líder para guiar as massas, o que 
influenciou nos pensamentos nazifascistas do século XX. Além disso, Le Bon 
atribui a irracionalidade das massas aos grupos não dominantes, em uma 
categorização preconceituosa, sexista, racista e xenofóbica, e afirma que os 
movimentos de massa são contagiantes e quando as massas tomam o poder 
ocorre um retrocesso da civilização. 
Freud da outro passo no estudo das massas a partir da teoria 
psicanalista em construção. Freud, fazendo referências e críticas à obra de Le 
Bon, mostra como as forças pulsionais inconscientes se relacionam ao 
fenômeno das massas, como as resistências da consciência, que impediriam o 
sujeito de realizar certas ações, ficam parcialmente dissolvidas para realizar 
ações motivadas pelo grupo. Em sua obra, ele ainda afirma que os limites entre 
o indivíduo e o social não são tão claros assim, há uma identificação do 
indivíduo com o grupo ao qual ele pertence que permite o comportamento 
diferenciado do individuo que se dissolve no movimento das massas. 
 
 
 
 
 
2) Discussão Crítica 
 
Le Bon e Freud dão grandes contribuições para a compreensão do 
fenômeno das massas, como o indivíduo se dissolve no social, comportando-se 
segundo sua identificação com o grupo e como a força inconsciente das 
massas podem provocar mudanças políticas e sociais. Entretanto, suas teorias 
são passíveis de várias críticas, como fazem as ciências que possuem o social 
como objeto de estudo. 
Le Bon possuía motivações de sua classe burguesa, ou seja, medo da 
ascensão das classes populares ao poder e perder seus privilégios, ou seja, 
sua obra, que é praticamente um ensaio (que nem sempre tem compromissos 
científicos), é também uma denúncia para a própria classe burguesa sobre a 
ameaça que as massas populares são, e sobre a necessidade de controlar 
essas massas por meio de um líder que compreenda essas massas, mas que 
não seja influenciado por ela, dinâmica percebida por ditadores como Hitler no 
século XX. A irracionalidade atribuída a mulheres, latinos e outros grupos não 
dominantes é altamente criticável, mas fazia parte dos preconceitos da época 
(que permanecem até os dias atuais), não deixando de ser uma falha na teoria. 
Freud, mesmo considerando nebulosidade dos limites entre o indivíduo e 
o social, construiu a psicanálise mais voltada para a análise clínica individual, o 
que deixa vários problemas ao tentar fazer uma análise de um fenômeno social 
a partir de uma teoria que lida com o individual, já que os grupos seguem leis 
próprias de funcionamento. Por outro lado, é necessário reconhecer a 
influência da força pulsional dos indivíduos no funcionamento dos grupos, 
assim como os indivíduos não possuem apenas um lado reflexivo e racional, 
mas também um lado apaixonado. O sujeito comporta também a experiência 
de massa, que é efeito da socialização e estará sempre presente no indivíduo, 
e não temporariamente como o contágio descrito por Le Bon. 
Por fim, vale salientar que os movimentos de massa não geram apenas 
efeitos negativos, como visto nos movimentos nazifascistas, podem gerar 
também efeitos positivos como na democracia, em que a vontade do povo é 
ouvida pela sua representação e um representante dessa vontade é eleito pelo 
próprio povo, como um líder que não visa controlar, mas sim governar para o 
povo. Ou seja, a racionalidade não é garantida, como pretende os moldes 
políticos atuais, a questão das massas, como aponta Freud, não deve ser 
ignorada ou reprimida, pois isso apenas geraria mais problemas, devemos, 
portanto aprender a lidar com essa força social de mudança.

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