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Capítulo 2 – AVALIAÇÃO no CAMPO da SAÚDE: conceitos e métodos Brousselle, A. (org). Avaliação: conceitos e métodos. Rio de Janeiro: Ed. FIOCRUZ, 2011. Gestor – Sistema de Saúde acesso equânime aumento da demanda -> envelhecimento da população corte/redução de gastos/recursos/crises financeiras necessidade de implementar novas tecnologias Assim, a avaliação permite uma melhor tomada de decisão e alocação dos recursos. Avaliação consiste em um bom mecanismo para responder às informações necessárias para a tomada de decisão pelos decisores --> aumento da institucionalização da avaliação. DEFINIÇÕES DE AVALIAÇÃO Le Petit Robert (2007): “emitir um julgamento sobre o valor, o preço”; “determinar aproximativamente” Suchman (1967): “a determinação (baseada em opiniões, documentos, dados objetivos ou subjetivos) dos resultados obtidos por uma atividade que fora estabelecida para realizar um objetivo ou quaisquer objetivos”. Arnold (1971): “retroação planejada e sistemática de informações necessárias para guiar a ação futura”. apresenta intenção mais ampla, para orientar decisões e novos programas. avaliação deve ser útil à ação futura. Weiss: “apreciação sistemática do funcionamento ou dos resultados de um programa ou de uma política em função de critérios implícitos ou explícitos, de modo a contribuir para a melhoria do programa ou da política. Agrega a noção de avaliação do funcionamento. Avaliação econômica Avaliação baseada na epidemiologia e na prática clínica Avaliação oriunda das ciências sociais Avaliação em Saúde Beeby (1977): avaliação consiste na coleta e interpretação sistemática de provas (dos dados convenientes) que leva, de modo inerente ao processo, a um julgamento sobre o valor de um programa em uma perspectiva de ação. Acrescenta a noção de juízo de valor sobre o próprio valor (value) da intervenção (worth). Sociedade Canadense de Avaliação (1985): introduz a questão da pertinência. Scriven (1991): o valor das coisas é determinado por critérios individuais na ausência de critérios explícitos. “goal free valuation” Patton (1997): “coleta sistemática de informações sobre as atividades, as características e os resultados desses programas a fim de emitir julgamentos sobre eles, melhorar sua eficácia e esclarecer as decisões relacionadas a novos programas.” Rossi, Freeman e Lipsy (2004): “utilizar métodos de pesquisa das ciências sociais para analisar sistematicamente a eficácia dos programas de intervenção social de um modo adaptado ao seu ambiente político e organizacional, e de maneira a iluminar a ação social tendo em vista a melhoria das condições sociais. Definição mais restrita Se aproximação da definição de avaliação de resultados de Suchman Traz a importância do ambiente e contexto da intervenção. Mark, Henry e Julnes (2000): “análise que descreve e explica as atividades, os efeitos, as justificativas e as consequências sociais dessas políticas e programas. O objetivo da avaliação é a melhoria social/ do bem-estar coletivo. Os autores do texto propõem a seguinte definição: Avaliar consiste fundamentalmente em emitir um juízo de valor sobre uma intervenção implementando um dispositivo capaz de fornecer informações cientificas válidas e socialmente legítimas sobre essa intervenção ou sobre qualquer um de seus componentes, com o objetivo de proceder de modo a que os diferentes atores envolvidos, cujos campos de julgamentos são por vezes diferentes, estejam aptos a se posicionar sobre a intervenção para construir individual ou coletivamente um julgamento que possa se traduzir em ações. A Intervenção Uma intervenção pode ser objeto de dois tipos de avaliação: a avaliação normativa ou pesquisa avaliativa. Intervenção Normativa ✓ Critérios e normas ✓ Processo de verificação dos componentes em relação à referência. “Foi feito o que era necessário de modo desejável respeitando normas definidas?” Pesquisa Avaliativa ✓ Depende de procedimento científico ✓ Busca analisar e compreender as relações de causalidade entre os componentes da intervenção ✓ “Como?”; “Por quê?” dos resultados Componentes, tipologia e modelo lógico da intervenção Define-se por intervenção um sistema organizado de ação que visa, em determinado ambiente e durante um período, a modificar o curso previsível de um fenômeno para corrigir uma situação problemática. Possui 5 componentes: 1. Estrutura ✓ Física – relacionada a volume e estruturação dos diferentes recursos mobilizados (financeiros, técnicos, humanos, imobiliários, informacionais) ✓ Organizacional – refere-se ao conjunto de leis, regulamentos, convenções, regras de administração que definem a repartição e o intercâmbio de recursos (dinheiro, poder, influência e compromisso). Seriam as “regras do jogo” dos sistemas de ação. ✓ Simbólica – crenças, valores, representações que permitem aos diferentes atores envolvidos pela intervenção se comunicar entre si e dar um sentido a suas ações. 2. Atores Representados por seus projetos, visões de mundo, convicções, recursos (os próprios ou aqueles que controlam) e disposições para agir. Há interação/ cooperação e concorrência para aumentar seus controles sobre o sistema de ação (dinheiro, poder, influência, compromissos acerca de normas sociais). As práticas ou condutas são ao mesmo tempo constitutivas da intervenção e influenciadas por sua estrutura, e interdependentes. “São os atores de fato que, em função de suas características, interesses e convicções, moldam a intervenção e lhe dão sua forma particular em um determinado momento, em um determinado contexto.” 3. Processo de Ação Conjunto dos processos durante os quais e pelos quais os recursos são mobilizados e utilizados pelos atores para produzir os bens e serviços requeridos para alcançar as finalidades da intervenção. 4. Finalidades São os objetivos da intervenção. Visam modificar a evolução de um ou mais fenômenos ao atuar no tempo sobre um certo número de suas causas ou de seus determinantes (objetivos específicos da intervenção) para corrigir uma situação problemática. 5. Ambiente da Intervenção São os contextos - jurídico, social, econômico, político, físico, simbólico, histórico - que estruturam o campo, bem como todos os outros sistemas de ação organizados com os quais ela interage. Assim, existem vários tipos de intervenções. Técnicas (exame de triagem de malformações fetais ou um software de gestão em reanimação...) Medicamentos ou tratamentos (no caso dos tratamentos, um único ato ou um conjunto de atos) Protocolos de cuidados (quimioterapia no tratamento de câncer...) Organizações (um hospital; unidade de cuidados...) Programas (prevenção às DSTs...) Políticas (promoção da saúde; setorização das demandas de saúde...) .Qualquer dispositivo de avaliação é em si uma intervenção, suscetível de se tornar objeto de um trabalho avaliativo. Intervenções simples x Intervenções Complexas São focalizadas Resolvem problemas convergentes Abordagem experimental ou quase-experimental Exemplos: Aplicação tópica de flúor Técnica diagnóstica Modelo Lógico da Intervenção A construção do modelo lógico precede a escolha do questionamento avaliativo. “Teoria do Programa”: “a especificação das ações a serem realizadas para se alcançarem os efeitos desejados, dos outros impactos que deviam ser cogitados e dos mecanismos mediante os quais esses efeitos e impactos seriam produzidos.” (Chen & Rossi, 1992) “O conjunto de postulados sobre o modo pelo qual um programa é relacionado com os benefícios que supostamente produz e a estratégia e as táticas que foram adotadas para alcançar suas metas eobjetivos.” (Rossi, Freeman & Lipsy, 2004a:154) NATUREZA E FINALIDADES DA AVALIAÇÃO Avaliação... “ferramenta habitual indispensável à formulação da própria ação, de sua implementação e melhoria.” (Monnier, Conan & Allen,1992) Dimensão cognitiva: a avaliação visa a produzir informações científicas válidas e socialmente legítimas. Dimensão normativa: quando a avaliação visa a emitir um julgamento. Dimensão instrumental ou utilitária: quando visa a melhorar uma situação. Dimensão democrática: quando visa a provocar debates. Resolvem problemas divergentes Abordagem holística Métodos de Pesquisa Sintética Exemplos: Política de combate à pobreza Organização de um hospital Sistema de Cuidados A escolha das abordagens e dos métodos para se avaliar uma intervenção depende da complexidade desta. Entre as finalidades oficiais, distinguem-se as seguintes: Finalidade Estratégica: visa auxiliar o planejamento e a elaboração de uma intervenção (OMS, 1981) Análise situacional; antes da intervenção Finalidade Formativa: visa fornecer informações para melhorar a intervenção no curso da atividade (Scriven, 1967) Durante a intervenção Finalidade Somativa: busca determinar os efeitos de uma intervenção para decidir se deve ser mantida, transformada de modo importante ou interrompida (Scriven, 1967; Conseil Scientifique de l’Évaluation, 1996) Após a intervenção; para tomada de decisão. Finalidade Transformadora: visa utilizar o processo de avaliação como alavanca para transformar uma situação injusta ou problemática, pois a avaliação tem por objetivo a melhoria do bem-estar coletivo. Finalidade Fundamental: contribuir para o avanço dos conhecimentos empíricos e teóricos sobre a intervenção, assim como para a construção e validação de normas. (Weiss, 1977; Conseil Scientifique de l’Évaluation, 1996) Finalidades Oficiosas ▪ Táticas: utilizar o processo de avaliação para outro fim ▪ Políticas: utilizar os resultados da avaliação como munição no âmbito de um debate político. A ABORDAGEM AVALIATIVA Pode ser uma apreciação normativa ou pesquisa avaliativa. A Apreciação Normativa Consiste em medir as diferenças entre os componentes da intervenção e critérios e normas de referência de mesma natureza. Permite emitir um julgamento sobre a estrutura (os recursos), o processo (os serviços ou atividades) e os resultados de uma intervenção. A Pesquisa Avaliativa Visa analisar o grau de “adequação” (a exatidão dos vínculos) entre os diferentes componentes da intervenção. Objetivo: analisar a pertinência, a lógica, a produtividade, os efeitos e a eficiência de uma intervenção, bem como as relações existentes entre a intervenção e o contexto em que se desenrola. Pode ser decomposta em seis tipos de análises que recorrem a métodos de pesquisa diferentes: ▪ Análise estratégica: se refere a razão de ser de uma intervenção e a natureza do problema que supostamente ela resolve ou lida. Traz a questão central da escolha do problema a ser resolvido. ▪ Análise lógica: consiste em avaliar o mérito da intervenção. É preciso testar ao mesmo tempo, a validade teórica da intervenção e a validade operacional. ▪ Análise da produção: estuda as relações entre os recursos utilizados (meios) e o volume e a qualidade dos serviços prestados (atividades). Dois aspectos: Análise da produtividade e análise da qualidade. ▪ Análise dos efeitos: busca medir a eficácia da intervenção – a influência dos serviços (ou das atividades) sobre os estados de saúde. “Quais são os efeitos observáveis?” ▪ Análise da eficiência: tem por objeto a análise dos recursos e os efeitos observados. Custos (inputs) relacionados às consequências (outcomes) da intervenção. É cada vez mais exigida em função do contexto atual de restrição orçamentária, controle de despesas e de pressões importantes. A análise da eficiência é central na avaliação econômica. Avaliação econômica possui três análises: ➔ Custo-benefício (custo-vantagem): todos os custos e todos os benefícios de uma intervenção são expressos em termos monetários. Permite comparar programas cujos resultados não são necessariamente benefícios à saúde de indivíduos ou coletividades, mas representa uma lógica de eficiência de alocação de recursos. ➔ Custo-eficácia e custo-utilidade: custos são expressos em unidades monetárias e as consequências em valor real (anos de vida salvos, doenças evitadas) ou em um valor ajustado à “qualidade” de vida ▪ Análise da implantação: tem por objeto as relações entre a intervenção, seus componentes e o contexto, em comparação com a produção de efeitos. Implantação: transferência de uma intervenção no plano operacional. – Integração em um determinado contexto organizacional. Procura determinar a razão das diferenças. O método de estudo de casos é o que melhor se adequa à análise da implantação.
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