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Uma Breve descrição sobre a relação entre Taxa de Juros

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UFFinance – Liga de Mercado Financeiro UFF 
Rua Professor Marcos Waldemar de Freitas Reis - Campus do Gragoatá - Bloco F - sala 409, 
 São Domingos, Niterói – RJ 
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Uma Breve descrição sobre a relação atual entre 
Taxa de Juros, Câmbio, Inflação no Covid-19 
No noticiário, temos diversos termos econômicos que, à primeira vista, parecem complexos e 
difíceis de entender. Muito mais complicado parece ser a relação entre eles. Temos, também, 
um trio que sempre se repete nesse meio, a saber: a taxa de juros, o câmbio e a inflação. 
Entendê-los é de vital importância para a compreensão do que está acontecendo tanto no 
cenário econômico quanto no político, devido ao aparecimento do covid-19. 
 
Taxa de Juros 
A Taxa de Juros é a compensação ganha por manter uma parte da renda emprestada ou 
investida e não consumida. 
A taxa básica de juros brasileira que guia todas as outras é a Taxa Selic. Sua meta é definida 
pelo COPOM, com o objetivo de realizar alguma política monetária. Isso é possível pois a Selic 
define a rentabilidade dos títulos indexados a ela. Com isso, geram-se efeitos interessantes de 
se observar, como veremos a seguir. 
Um deles é o controle sobre os juros que serão cobrados pelos bancos. Como a alteração da 
Selic altera também uma parte do custo de captação dos bancos, estes podem repassar a 
variação para os clientes reduzindo ou ampliando os juros cobrados a eles. 
No cenário externo de até então desaceleração do crescimento global, as taxas de juros dos 
vários bancos centrais já se encontravam em baixos patamares. Esse cenário mais dovish 
também condicionou internamente a eventual redução gradual da nossa taxa de juros. Essa 
passou de 14,25% em outubro de 2016 para 4,5% em janeiro de 2020. Com os efeitos gerados 
e esperados pelo lockdown imposto após a chegada do Covid-19, espera-se em suma a 
redução de demanda agregada. A partir dessa redução de consumo, devido ao fato das 
pessoas tenderem dispor de menor renda para gastos não essenciais, o COPOM optou por 
reduzir a taxa básica para 3,75%, o que, considerando a meta de inflação (4%), reduz o ganho 
real, isto é, a taxa básica de juros real, para menos que 1%, pela primeira vez na história. 
 
 
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 Fonte: Banco Central do Brasil 
Outro fator a ser considerado quanto neste assunto são as taxas de juros internacionais. A 
mais importante é a imposta pelo FED (Federal Reserve System), dos EUA, a Fed Funds Rates, 
que em março foi para 0,25%. Essa taxa é importante pois a comparação entre ela e a Selic é 
um dos fatores que pode determinar se haverá ou não fuga de capitais e, com isso, a variação 
da taxa de câmbio e da inflação. 
 
Câmbio 
No dia 16 de março de 2020, pela primeira vez na história do Real, o valor da taxa foi acima 
de R$ 5,00 por dólar. A tendência de alta vem ocorrendo desde o final de dezembro de 2019, 
depois de quase 2 anos variando em torno de US$ 3,80. 
 
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Fonte: Banco Central do Brasil 
Anteriormente, a taxa já estava aumentando devido a Guerra Comercial entre China e EUA. E 
o que explica isso é que em um ambiente de incerteza no mercado internacional, os 
investidores tendem a procurar ativos mais seguros e líquidos, sendo o mais representativo 
deles o dólar. Isso provoca nos países emergentes uma desvalorização da moeda frente ao 
dólar devido a fuga de capitais. 
Para os exportadores, como JBS, BRF e Vale, essa depreciação cambial influi de algumas 
maneiras positivas. Isto porque seus produtos podem ficar mais baratos comparadas aos 
competidores internacionais, portanto, mais competitivos no mercado. Até o começo do ano, 
era possível que este cenário se concretizasse, mas devido à pandemia que reduziu o consumo 
global, houve junto ao aumento do dólar, uma redução da demanda pelas exportações. Como 
eles representam uma boa parte da troca de dólar por real, a redução de suas vendas também 
representa a redução do contrafluxo que determinava o equilíbrio da balança comercial. 
Menos exportadores com dólares, menos dólares disponíveis no mercado de câmbio para a 
troca com o real, então a moeda norte-americana tende a ficar mais valorizada. 
Já os importadores, como Nissan, LG e Volkswagen, terão que lidar com a redução da 
demanda interna, devido à queda de renda das pessoas, fechamento de comércios, elevado 
grau de falência de companhias e etc. Porém, se por um lado a demanda tende a cair, seus 
custos também tendem a se elevar, visto a desvalorização do câmbio para seus insumos e seus 
próprios produtos. Logo, esse setor verá sua margem de lucro ainda mais espremida. 
Para evitar ou contornar maiores problemas que podem advir da variação do câmbio, que vem 
sendo causado por fatores externos, como a instabilidade no comércio internacional devido a 
 
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guerra comercial, o governo intervém no mercado cambial, comprando ou vendendo dólares. 
Esta medida visa estabilizar a taxa a ponto que não prejudique os importadores nem os 
exportadores. Isso chama-se câmbio flutuante sujo. Foi o que ocorreu no primeiro quaternário 
de 2020, onde o BACEN vendeu 25,339 bilhões de dólares das reservas internacionais do país. 
Ao longo de 2019, ele vinha deixando a taxa chegar até em torno de 4,25 R$/US$, e então 
intervinha. No começo de 2020, o banco pouco interviu para evitar a elevação do dólar, o que 
sempre faz o mercado especular se o BACEN está determinando algum tipo de patamar para 
a moeda estrangeira. 
Um detalhe a ser notado é que o Real vem se desvalorizando mais que a maior parte de todas 
as outras moedas frente ao dólar. Um dos motivos que deve ser apontado é a alta participação 
e importância na Bolsa das empresas de petróleo e mineração. Juntas, Vale e Petrobras 
representam grande parte da movimentação nela e quase 20% do valor do Ibovespa. Com a 
variação do preço do barril de petróleo, de US$ 57,50 para US$ 27,00 e a variação do preço 
do minério (Gráfico 3), que tende a cair devido à desaceleração econômica chinesa, os 
investidores ficam mais céticos quanto a futura rentabilidade e preferem vender essas ações. 
Junto à preferência pela liquidez em momentos de crise, essa situação os faz procurar o dólar. 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Investing.com Fonte: Investing.com 
 
Deflação? 
Como estamos numa crise de demanda, existe uma tendência natural a deflação. Como um 
dos aspectos que interfere na inflação e na deflação é a demanda por produtos, o 
enclausuramento, o fechamento de lojas e o desemprego causado por isso podem vir a 
provocar o efeito de diminuição das vendas. 
 
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 Fonte: Banco Central do Brasil 
Segundo o último relatório Focus, a expectativa é que a inflação deve continuar abaixo da 
meta, de 4%, pelo próximo ano, o que indica a confiança dos agentes econômicos que os 
fatores que levam a inflação serão fortemente contrabalanceados pelos fatores que causam 
a deflação. E o fator mais importante a ser observado nesse período é justamente estas 
expectativas, pois, baseados nelas, as empresas definem seus contratos de longo prazo. E as 
expectativas dependem diretamente de como será o desenvolvimento da doença no mundo 
e o comportamento do preçodo petróleo. 
Com a atual disputa entre Rússia e Arábia Saudita e devido a isso, a variação do preço do barril 
de petróleo, de US$ 57,50 para US$ 27,00, existe a expectativa de redução duradoura do preço 
do combustível nas bombas. Não somente por este embate, mas também, porque os estoques 
de petróleo globais e a demanda por esta commodity com a desaceleração global tende a cair. 
Isso pode colaborar a contrabalancear a tendência altista em cima dos bens de consumo 
essenciais como, alimentos, fármacos pois, como o transporte de bens e pessoas é no Brasil 
feito em maior parte através das rodovias, a redução do preço do combustível reduz o preço 
de transportes, e isso pode segurar o aumento dos preços finais dessas mercadorias. 
Outro fator que pode colaborar para reduzir tendências altistas de preço é o pass through 
cambial. A partir da leitura anterior que fizemos apesar do real depreciado, a demanda global 
por commodities está menos acentuada, quando nos referimos a bens de consumo essenciais 
e commodities no geral, o pass through segue o racional de que, quando um bem está muito 
competitivo no exterior, a demanda do consumidor externo é alta, e assim, atua competindo 
 
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em preço com o consumidor interno. Contudo, como entendemos uma menor aderência 
global a commodities, entendemos também que o efeito de pass through atua em menor 
intensidade na economia, logo, não colaborando para uma tendência altista, por hora. 
Se a inflação diminui, a Taxa de Juros Real aumenta. Isso pode ser estendido a todas as taxas, 
inclusive a Selic, como dito acima. Então, essa redução tem efeito similar a um aumento da 
Selic, no sentido de que representa ganho de rendimentos aos investidores estrangeiros e 
pode vir a causar o efeito de entrada de capital por partes deles. 
 
Portanto, se a Selic diminuir assim como a inflação diminuir também, poderíamos observar 
uma manutenção de capitais estrangeiros nos próximos períodos, isto se, a redução da Selic 
for próxima de compensar a redução da inflação, a taxa de juros real permaneceria no mesmo 
patamar. Ao contrário disso, tivéssemos aumento de inflação, teríamos a potencialização de 
sua saída. Esse fato foi observado entre o final do ano passado e o começo deste, onde, entre 
outubro e dezembro, tivemos uma redução de 0.5 p.p. da Selic e um aumento de 1,77 p.p. no 
IPCA, o que resultou, neste período, uma série quase ininterrupta de saídas de capitais, 
chegando menos 16 bilhões de reais no dia 2 de janeiro. 
 
 
 
 
 
1+Taxa de Juros Real = (1+ Taxa de Juros Nominal )/(1 + Inflação)

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