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Economia 1ª edição 2017 Economia 5 3 Unidade 5 Contabilidade nacional Para iniciar seus estudos Como já vimos na unidade anterior, a macroeconomia estuda os agrega- dos econômicos, e a medição desses agregados é realizada pela contabi- lidade nacional, conhecida também como contabilidade social. Nesta unidade, estudaremos como os agregados econômicos são medi- dos a partir de valores já realizados, ou seja, ex post, ou já ocorridos. Como observam Vasconcellos e Garcia (2014), na macroeconomia, os valores são teóricos, previstos ou planejados, isto é, trabalha-se com o conceito ex ante, ou antes de ocorrerem. A contabilidade nacional trata o país como se fosse uma grande empresa que produz um único produto, o Produto Nacional Bruto, ou seja, o agre- gado de tudo o que é produzido no país. Objetivos de Aprendizagem • Entender os princípios básicos das contas nacionais. • Compreender os fluxos pela ótica da renda, do produto e da des- pesa. • Conhecer as principais formas de medir os agregados macroeco- nômicos. • Identificar conceitos importantes, como Produto Nacional, Con- sumo, Investimento, Poupança e PIB. 5 4 Tópicos de estudo A contabilidade social ou contabilidade nacional registra a atividade eco- nômica global de um país num período determinado. É realizada pelo método das partidas dobradas (um crédito pede um débito), e os países seguem um modelo determinado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Para que possamos entender melhor a contabilidade nacional, é necessá- rio que alguns conceitos sejam esclarecidos. 5 Economia | Unidade 5 - Contabilidade nacional 5.1. Setores da economia e agentes econômicos Os setores da economia podem ser divididos em: setor primário, setor secundário e setor terciário. • Primário: abrange a produção da agricultura, pecuária, pesca e extração vegetal. • Secundário: faz parte desse setor a produção da indústria e da extração mineral. • Terciário: serviços, comércio, transportes, comunicações e serviços públicos. Já os agentes econômicos podem ser definidos como as entidades que realizam as transações econômicas. Estão classificados em empresas, famílias, governo e o resto do mundo. • Empresas: como já foi visto, são os agentes produtores de bens e serviços. Para produzir bens e serviços, compram os fatores de produção das famílias (terra, capital e trabalho), pagando a estas uma remune- ração. • Famílias: são as entidades que fornecem os fatores de produção às empresas e, numa economia com- pleta, também ao governo. • Governo: é constituído pelos órgãos da Administração Direta, de nível federal, estadual e municipal, que prestam serviços que são consumidos pela coletividade, como a defesa nacional, a administração da jus- tiça, a educação etc. O governo não tem o objetivo de obter lucro, e suas empresas públicas e de socie- dade mista estão incluídas como empresas. • Resto do mundo: são todas as entidades que praticam atos econômicos com o país em que se elabora a contabilidade social e que tenham a sua residência fora das fronteiras geográficas deste. Se estivermos trabalhando com a contabilidade social do Brasil, o resto do mundo são os agentes dos outros países. Todos esses participantes levam ao fluxo circular da renda, como já foi abordado anteriormente. 5.2. Fluxo circular do produto, da renda e do dispêndio A macroeconomia utiliza o fluxo circular da renda para estudar como são formados o produto e a renda gerados pela atividade econômica. Como foi abordado resumidamente na Unidade 1, o fluxo circular da renda se dá pela interação entre os agentes econômicos: famílias, empresas, governo e setor externo (VASCONCELLOS, 2007). Podemos medir o resultado da atividade econômica do país por três óticas: • a ótica da produção e venda de bens e serviços finais na economia, conhecida como ótica do produto (que observa os bens e serviços produzidos) e do dispêndio (que observa a economia pelas despesas para a produção dos bens e serviços). A ótica do produto e a do dispêndio são medidas pelo mercado de bens e serviços • a ótica da renda gerada no processo de produção é chamada de ótica da renda. É medida pelos fatores de produção, ou seja, salários, juros, aluguéis e lucros. Para compreender melhor essa questão pense numa família que representa o conjunto de famílias existentes na economia. Vamos avaliar o fluxo circular dessa família pela ótica do produto e do dispêndio. 6 Economia | Unidade 5 - Contabilidade nacional A família trabalha na empresa A, ou seja, fornece seu serviço de mão de obra para a empresa A. Por sua vez, a empresa A utiliza essa mão de obra e os insumos que vai adquirir na produção do produto AB. Com o produto pronto, a empresa A oferece o produto AB ao mercado de bens e serviços, os quais serão comprados pela família. Este é o fluxo circular do produto e do dispêndio, o qual pode ser visualizado na Figura 5.1.. Figura 5.1 – Fluxo circular do produto e dispêndio Fonte: Adaptada de Vasconcellos (2007). Agora que você já visualizou o funcionamento do fluxo circular do produto e do dispêndio, veja como funciona o fluxo circular pela ótica da renda. A empresa A, do exemplo anterior, paga um salário para a família fornecer sua mão de obra. Assim, para essa família, o salário é a sua renda e será gasto na compra do produto AB. Por seu turno, o salário gasto para o con- sumo do produto AB será a receita da empresa A. Visualize melhor o fluxo circular da renda na Figura 5.2, a seguir. Figura 5.2 – Fluxo circular da renda Fonte: Adaptada de Vasconcellos (2007). Agora que já você pôde compreender como funcionam os fluxos circulares pelas duas óticas, veja a seguir como o consumo das famílias e as outras despesas são incorporados aos agregados nacionais. 7 Economia | Unidade 5 - Contabilidade nacional 5.3. Produto Nacional O produto de uma economia é representado pelo valor de todos os bens e serviços finais produzidos em deter- minado período de tempo. Bens finais porque não se consideram os bens e serviços intermediários, como matéria-prima e componentes, para que não haja múltipla contagem. O produto é definido por um período de tempo, ou seja, o produto brasileiro de 2016 são todos os bens e serviços produzidos e realizados em 2016. Os estoques anteriores a esse ano não contam como produto de 2016, e sim numa conta de variação de estoques. O produto de uma economia é a soma dos produtos do setor primário, secundário e terciário. Onde: • PN= Produto Nacional • psp= preço unitário dos bens do setor primário • pss = preço unitário dos bens do setor secundário • pst = preço unitário dos serviços do setor terciário • qsp = quantidades produzidas dos bens no setor primário • qss = quantidades produzidas dos bens no setor secundário • qst = quantidades produzidas serviços do setor terciário O setor primário corresponde à agricultura, pecuária, pesca e extração vegetal; o setor secundário abrange a indústria e a extração mineral; já o setor terciário engloba os serviços, comércio, transportes e comunicação. O Produto Nacional, por seu turno, engloba todos os setores e pode ser representado por: Onde: • i = bens e serviços finais • pi = preço unitário dos bens e serviços finais • qi = quantidade dos bens e serviços finais 8 Economia | Unidade 5 - Contabilidade nacional 5.4. Despesa Nacional A Despesa Nacional (DN) revela quais são os setores compradores do Produto Nacional, ou seja, representa os gastos dos agentes econômicos ou quais os setores compradores do Produto Nacional. Suponha que o país produza apenas soja e trigo e que as famílias, as empresas, o governo e alguns países de fora comprem o que nossa simples economia produziu. Esta seria a Despesa Nacional, que é o gasto dos agentes econômicos com o Produto Nacional. Mais especifica- mente: Despesa Nacional = despesas das famílias (c) + despesas das empresas (i) + despesas do governo (g) + despesas líquidas do setor externo (X – M) DN = C + I + G + X – M Onde:• C = despesas ou consumo das famílias (bens que as famílias compram) • I = despesas das empresas, ou simplesmente, investimento. • G = despesas ou gastos do governo para sua manutenção e para a coletividade. • (X – M) = despesas do setor externo, onde X = exportações e M= importações. (*) Deveria ser computado somente os gastos que o resto do mundo teve comprando a mercadoria do nosso país, mas as nossas empresas também gastaram – compraram (importaram) – mercadorias ou serviços dos outros países, os quais devem ser excluídos da equação. 5.5. Renda Nacional Como mencionado anteriormente, o consumo das famílias ocorre a partir da renda obtida das empresas. Assim, podemos afirmar que a renda das famílias, também chamada de Renda Nacional, representa a soma dos rendi- mentos pagos aos fatores de produção no período analisado. Ou seja, é o total de pagamentos feitos aos fatores de produção que foram utilizados para a obtenção do produto da economia. Assim, as remunerações dos fatores de produção são pagas às famílias. Os rendimentos que compõem essa equação são os salários (w), os aluguéis (a), os juros pagos (j) e o lucro das empresas (l). Definidas as variáveis, podemos representar a equação da Renda Nacional da seguinte maneira: 9 Economia | Unidade 5 - Contabilidade nacional Vejamos um exemplo do envolvimento entre produto e renda. Supondo uma economia que seja composta ape- nas de uma empresa agrícola que use trabalho, terra, máquinas e equipamentos e capital de giro emprestado para produzir soja e trigo. O produto e a renda dessa economia seriam, por exemplo: Quadro 5.1 – Produto e renda PRODUÇÃO RENDA Valor total da produção de soja = 600.000 Valor total da produção de trigo = 400.000 1.000.000 Total dos pagamentos de salários= 800.000 Aluguel da terra = 80.000 Juros pagos = 20.000 Lucros = 100.000 1.000.000 Fonte: Adaptado de Vasconcellos e Garcia (2014) O Produto Nacional, a renda e a despesa representam as três óticas para medir o resultado da atividade econômica de um país, em um determinado período. É importante lembrar que PRODUTO = RENDA = DESPESA. Outra forma de medir o resultado das atividades econômicas de um país é o Valor Adicionado. Essa forma é a mais usada por estatísticos e caracteriza-se por ser mais prática, mais operacional. 5.6. Valor Adicionado De acordo com Vasconcellos e Garcia (2014), o Valor Adicionado, ou valor agregado, é aquele que se adiciona ao produto em cada estágio da sua produção. O método do Valor Adicionado (VN) consiste em calcular o que cada ramo de atividade adicionou ao valor do produto final, em cada etapa do processo produtivo. VALOR ADICIONADO = VALOR BRUTO DA PRODUÇÃO (receita de vendas) – CONSUMO DE PRODUTOS INTERMEDIÁRIOS (MATÉRIA-PRIMA E COMPONENTES) O Valor Bruto da Produção (VBP) é o faturamento, a receita de vendas de cada setor produtivo. É a renda gerada por cada setor de atividade na cadeia de produção. Retirando da receita de vendas os gastos com a compra de bens intermediários, o que sobra é a remuneração dos fatores de produção de cada setor. Vamos ver um exemplo: 10 Economia | Unidade 5 - Contabilidade nacional Quadro 5.2 – Fator de produção TRIGO FARINHA PÃO a) Receita de vendas b) Compras intermediárias Valor Adicionado (a – b) 100.000 0 100.000 + renda paga pelo setor de trigo aos fatores de produção (VA trigo) 400.000 100.000 300.000 + renda paga pelo setor de farinha aos fatores de produção (VA farinha) 1.000.000 400.000 600.000 = renda paga pelo setor de panificação aos fatores de produção (VA pão) PN = DN = 1.000.000 1.000.000 = RN Fonte: Adaptado de Vasconcellos e Garcia (2014) Portanto: PN = DN = RN = VA = 1.000.000 Mais um exemplo pela ótica do produto: Quadro 5.3 – Fator de produção Unidades Produtoras Valor da Produção Compra de bens intermediários Valor Adicionado (1) (2) (3) (4) = (2) – (3) A B C 200 380 520 - 200 220 200 180 300 TOTAL 1.100 420 680 Fonte: Adaptado de Vasconcellos e Garcia (2014) 11 Economia | Unidade 5 - Contabilidade nacional E pela ótica da renda: Quadro 5.4 – Fator de produção Remunerações Empresa A Empresa B Empresa C Total Salários Juros Aluguéis Lucros 100 30 20 50 90 10 15 65 160 20 5 115 350 60 40 230 Total = Valor Adicionado 200 180 300 680 Fonte: Adaptado de Vasconcellos e Garcia (2014) Você pode estar se perguntando o que acontece se parte da produção não for vendida. Nesse caso, a produção não vendida faz parte do produto, pois foi fabricada no período em questão. Mas, como Produto Nacional e Despesa Nacional são iguais, os bens que não foram vendidos deverão ser comprados pelos próprios fabricantes e tidos como estoques. Isso não é absurdo. Mais tarde, no outro ano, se as despesas forem maiores que o produto (contrário) haverá uma variação de estoques negativa, consumindo os estoques iniciais. Há um item especial na contabilidade social voltado apenas para essa situação, chamado variação de estoques.. 12 Economia | Unidade 5 - Contabilidade nacional 5.7. Formação de Capital: Poupança, Investimento e Depreciação Como é destacado por Vasconcellos e Garcia (2014), vamos admitir que as famílias não gastem toda a sua renda em bens de consumo. Ou seja, elas também guardam recursos sob a forma de poupança, para que possam consumir no futuro. Por outro lado, as empresas também não produzem apenas bens de consumo, mas também bens de capital, os quais elevarão a capacidade produtiva daquela economia. Assim, devemos introduzir em nossa análise os conceitos de Poupança, Investimento e Depreciação, em nível agregado. 5.7.1. Poupança agregada A poupança agregada (S) representa a parte da renda, ou do Produto Nacional, não utilizada para consumo no período de análise. Ou seja, ela representa a poupança que fazemos para cobrir imprevistos ou para gastos futu- ros de maior valor. Sua formulação matemática é representada por: S = PN – C Onde: • S= Poupança agregada • RN = Produto Nacional • C = Consumo agregado 5.7.2. Investimento agregado Investimento é o gasto com bens de capital novos (representam aumento na capacidade produtiva) pelas empresas com o objetivo de ampliar ou melhorar a sua capacidade produtiva. Além dos gastos com bens de capi- tal (máquinas e equipamentos novos) na economia, quando as famílias compram imóveis novos, estes também são considerados investimentos porque aumentam a capacidade de consumo da economia. Esses dois tipos de investimento também são chamados de Formação Bruta de Capital Fixo. Quando há variação de estoques na economia, ou seja, quando não foi consumido tudo o que foi produzido, essas variações são consideradas também investimentos, sendo contabilizadas, conforme já dissemos como Variação de Estoques. A soma da Formação Bruta de Capital Fixo mais a Variação de Estoques é igual ao Investimento Total. Investimento Total = Investimento em Bens de Capital + Variação de Estoques Com a introdução do conceito de Investimento (I), o Produto Nacional (PN) fica: PN = C + I Ou seja, as empresas produzem bens de consumo (C) e bens de capital (I). 13 Economia | Unidade 5 - Contabilidade nacional Não confunda o investimento em ações – CDB ou Poupança em bancos comerciais – com o investimento econômico explicado anteriormente! Os investimentos em produtos financei- ros representam transferências financeiras, pois não estão impactando diretamente a capa- cidade produtiva da economia. No caso, por exemplo, do investimento em ações de empre- sas, estas poderão usar os recursos das vendas de suas ações para comprar equipamentos e elevar sua capacidade produtiva. Porém, o conceito de investimento, no sentido macro- econômico, acontece quando há compra dos equipamentos,e não a compra das ações por parte do investidor da Bolsa. Além disso, o investimento em equipamentos de segunda mão também não entra no investimento agregado, pois não se trata da produção de novas máquinas, estas apenas trocaram de mãos. 5.7.3. Depreciação Depreciação é o consumo do estoque de capital físico em dado período. Note que as máquinas e equipamentos também sofrem desgaste, mas as empresas computam esse desgaste (Depreciação) em parcelas, as quais são abatidas do lucro das empresas. Então, o Investimento é contabilizado de duas maneiras diferentes, incluindo ou não a Depreciação: Investimento Bruto = Investimento sem descontar a Depreciação; Investimento Líquido, ou Formação Líquida de Capital ou Acumulação Líquida de Capital, é o investimento total, ou bruto, menos a depreciação: Investimento Líquido (IL) = Investimento Total ou Bruto (IB) – Depreciação IL = IB – D Sendo assim, podemos também dizer que Produto Nacional Bruto menos a Depreciação é igual ao Produto Nacional Líquido. PNL = PNB – D Ou seja, pode-se considerar no produto apenas o aumento da capacidade produtiva em termos brutos, ou então considerar o seu desgaste (Depreciação). 14 Economia | Unidade 5 - Contabilidade nacional 5.7.4. Identidade contábil entre Poupança e Investimento Esta é uma das principais identidades macroeconômicas. Então se Produto Nacional (PN) é igual a Consumo (C) mais Investimento (I): PN = C + I E Produto Nacional (PN) é igual a Consumo (C) mais Poupança (S), PN = C + S Pode-se concluir que Consumo mais Investimento é igual a Consumo mais Poupança: C + I = C + S Portanto, Investimento deve ser igual à Poupança: I = S Então, como você deve estar concluindo, são as poupanças das famílias que financiam os investimentos das empresas, e a ponte entre ambos é feita pelo mercado financeiro. A renda não consumida pelas famílias é apli- cada na aquisição de ativos financeiros, como depósitos, títulos, fundos de investimento, que rendem juros. Assim, as instituições financeiras colocam esse dinheiro à disposição das empresas, que realizam os seus inves- timentos. Além disso, os lucros que as empresas não distribuem por algum motivo e os gastos em Depreciação também são investimentos. Entenda qual o papel do mercado financeiro na economia, clicando aqui: <https://visaoeco- nomica.wordpress.com/2010/03/24/o-que-e-intermediacao-financeira/>. 15 Economia | Unidade 5 - Contabilidade nacional 5.8. Os agregados relacionados ao setor público Vamos agora incluir mais um participante no nosso modelo que contava apenas com as famílias e as empresas. Com a inclusão do governo, poderemos introduzir os conceitos de Receita Fiscal e gastos do governo. 5.8.1. Receita Fiscal A receita do governo é composta principalmente pela arrecadação de impostos, mas, também por algumas outras receitas: • impostos indiretos: incidem sobre as transações com bens e serviços, como o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Imposto sobre Circulação de Mercadorias e prestação de Serviços (ICMS); • impostos diretos: incidem sobre pessoas físicas e jurídicas. Por exemplo, Imposto de Renda; • contribuições à previdência social: tanto por parte de empregados como por parte de empregadores; • outras receitas: por exemplo, taxas, multas, pedágios, aluguéis. 5.8.2. Gastos do governo Os gastos do governo dividem-se em três categorias (Vasconcellos e Garcia, 2014): • gastos de ministérios e autarquias; • Gastos das empresas públicas e sociedades de economia mista; • gastos com transferências e subsídios. 5.8.3. Superávit ou déficit público Quando o governo tem um total de arrecadação maior do que os gastos públicos, consideramos que ocorreu superávit das contas públicas; quando ocorre o oposto temos déficit das contas públicas. Ao descontarmos do total arrecadado dos gastos públicos e excluirmos os juros da dívida pública (interna e externa), temos o conceito de superávit primário ou déficit primário. Se forem incluídos os juros nominais sobre a dívida, tem-se o conceito de superávit ou déficit total ou nominal. Porém, se forem considerados apenas os juros reais (ou seja, sem a taxa de inflação e a variação cambial), chega- -se ao conceito de superávit ou déficit operacional (VASCONCELLOS; GARCIA, 2014). 16 Economia | Unidade 5 - Contabilidade nacional O déficit ocorre quando o governo gasta mais do que arrecada, e o superávit ocorre quando o governo arrecada mais do que aquilo que gasta. . Glossário O conceito de déficit ou superávit primário é relevante, pois faz parte das metas negociadas entre os países e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Para o FMI, um país que tem superávit primário está com as contas nacio- nais equilibradas e pode honrar seus compromissos, assim, pode negociar sua dívida externa com juros maiores e prazos menores (VASCONCELLOS, 2007). Os gastos do governo representam um retorno de recursos deste para a população, pois, ao pagarmos os impos- tos, estamos financiando as atividades do governo, que, ao gastar esses valores em atividades com serviços essenciais, como saúde, educação, com transferência de renda ou até mesmo com as empresas mistas, gera um aumento da atividade econômica. Por isso, no que se refere à demanda agregada, consideramos os gastos do governo como um acréscimo. Após conhecermos a participação do governo resta conhecermos o setor externo, composto pelas exportações e importações. 5.9. Os agregados relacionados ao setor externo Para que se complete o esquema da contabilidade social, faz-se necessário considerar os conceitos relacionados à economia aberta. São eles: exportações, importações e renda líquida do exterior. Ao considerarmos a economia aberta, é possível introduzir ainda a diferença entre produto interno e Produto Nacional. 5.9.1. Exportações e importações Os conceitos de exportações e importações são bastante simples: as exportações representam as vendas, para estrangeiros, de mercadorias produzidas no país; as importações são as compras que fazemos de produtos estrangeiros. Assim, as exportações trazem renda para o país, enquanto as importações levam a Renda Nacional para o exte- rior. Portanto, somamos as exportações na demanda agregada e subtraímos as importações. 17 Economia | Unidade 5 - Contabilidade nacional 5.10. Produto Interno Bruto, Produto Nacional Bruto e Renda Líquida do exterior. O principal indicador de crescimento econômico de um país é o seu Produto Interno Bruto (PIB). O PIB é a soma de todos os bens e serviços finais produzidos dentro do território nacional, num dado período, a preço de mercado. Em termos matemáticos, o PIB nada mais é do que uma identidade da oferta agregada. Podemos representá-lo a partir da seguinte expressão: PIB = C + I + G + (X – M) Onde: • PIB = Produto Interno Bruto • C= Consumo agregado • G = gastos do governo • X = exportações • M = importações realizadas no período de análise Você poderá se deparar também com a expressão “PIB per capita”, o qual consiste no PIB de um país dividido por seu número de habitantes. Esse conceito deve ser analisado com cuidado, pois ele não pode ser tomado como um indicador da renda média efetivamente recebida por habitante, uma vez que a renda gerada é distribuída de forma desigual. Na produção desses bens e serviços podem ter sido utilizados fatores de produção que são de propriedade de residentes ou de não residentes. Dessa forma, o PIB engloba a remuneração de fatores de produção do exterior, os quais são remunerados por juros, royalties e lucros. Porém, também existem residentes que possuem fatores de produção fora do país e recebem por isso renda do exterior (VASCONCELLOS; GARCIA, 2014). Observe que nem toda a renda fica retida no país, pois parte dela retorna ao país de origem através do lucro das empresas multinacionais instaladas no país; pagamento de royalties para utilização de tecnologia estrangeira e pagamento de juros pela utilização de dinheiro obtido no exterior (dívidaexterna). 18 Economia | Unidade 5 - Contabilidade nacional Ao descontarmos a Renda Enviada ao Exterior (REE) da Renda Recebida do Exterior (RRE), temos a Renda Líquida Enviada ao exterior (RLE). Podemos representá-la por: RLE = RRE – REE Ao somarmos a Renda Líquida Enviada ao exterior ao PIB, temos o Produto Nacional Bruto (PNB), que representa a renda que efetivamente pertence aos residentes do país (VASCONCELLOS; GARCIA, 2014). PNB = PIB + RLE O PIB pode ser calculado tanto do ponto de vista da oferta como da demanda agregada. Para saber mais, clique aqui: <http://economia.estadao.com.br/noticias/negocios,entenda- o-que-e-o-pib-e-como-ele-e-calculado,82627e>. . Todos os agregados macroeconômicos estudados nesta unidade vão ajudá-lo a analisar melhor a economia e perceber como as alterações de política econômica afetarão sua vida e sua empresa. 19 Considerações finais Nesta unidade, entendemos que o fluxo circular da economia mostra a interação entre os agentes econômicos e que o fluxo circular da renda observa como as empresas e as famílias interagem a partir da renda gerada durante as trocas. Estudamos também como o consumo das famílias demonstra a relação com a variável Despesa Nacional, que mede os gastos dos agentes eco- nômicos na economia. Compreendemos que a Renda Nacional representa a soma dos rendi- mentos pagos aos fatores de produção; a poupança agregada representa a parte da renda não utilizada para consumo; e o investimento agregado é a soma dos investimentos das empresas em estoque e bens de capital. Também aprendemos que o investimento agregado representa o acrés- cimo ao estoque de capital que leva ao crescimento da capacidade pro- dutiva. Os gastos do governo, por sua vez, ocorrem para a manutenção de seus ministérios, das empresas públicas e das transferências de renda. Estudamos também o PIB, que representa a soma de todos os bens e ser- viços finais produzidos dentro do território nacional, num dado período, a preço de mercado. O PNB, por sua vez, representa a renda que efetivamente pertence aos residentes do país. Referências bibliográficas 20 VASCONCELLOS, M. A. S. de. Manual de economia. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. Disponível em: <http://integrada.minhabiblioteca.com.br/ books/9788502135062>. Acesso em: 19 jan. 2016. ______; GARCIA, M. E. Fundamentos de economia. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
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