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Mariah Brochado André Luzzi de Campos Direitos Humanos e Grupos Vulneráveis no Sistema Prisional 2 AUTORES MARIAH BROCHADO ANDRÉ LUZZI DE CAMPOS DESENVOVIMENTO: Parceria entre o Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – Centro de Apoio à Educação a Distância. 3 TABELA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas ACUDA – Associação Cultural de Desenvolvimento do Apenado e Egresso ADPF – Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental CAHMP – Centro de Atendimento Hospitalar à Mulher Presa CF – Constituição Federal CIMI – Conselho Indigenista Missionário CNCD/LGBT – Conselho Nacional de Combate à Discriminação CNJ – Conselho Nacional de Justiça CNPCP – Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária CREAS – Centros de Referência Especializados de Assistência Social DEPEN – Departamento Penitenciário Nacional DST – Doenças Sexualmente Transmitidas FUNAI – Fundação Nacional do Índio HIV/AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística InfoPen – Sistema de Informações Penitenciárias LEP – Lei de Execução Penal LGBT – Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros LGBTTT – Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais, Travestis e Transgêneros NBR – Normas Brasileiras de Normatização OEA – Organização dos Estados Americanos OIT – Organização Internacional do Trabalho OMS – Organização Mundial de Saúde ONU – Organização das Nações Unidas PNAISP – Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Pessoa Privada de Liberdade no Sistema Prisional 4 PNAMPE – Política Nacional de Atenção às Mulheres em Situação de Privação de Liberdade e Egressas do Sistema Prisional PNGATI – Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas RAPS – Rede de Atenção Psicossocial SIC – Serviço de Informação ao Cidadão SPI – Serviço de Proteção aos Índios SUS – Sistema Único de Saúde 5 Sumário APRESENTAÇÃO .............................................................................................. 7 OBJETIVOS ....................................................................................................... 7 ESTRUTURA DO CURSO ................................................................................. 8 TEMPO DE DEDICAÇÃO AO CURSO .............................................................. 9 AVALIAÇÃO E APROVAÇÃO ............................................................................ 9 MÓDULO 1 - DIREITOS HUMANOS E DIVERSIDADE: FUNDAMENTOS E TRAJETÓRIA DE UMA CONQUISTA SOCIAL ................................................ 10 Aula 1 - Os Direitos Humanos como processo histórico ............................... 12 Aula 2 - Compreendendo a Diversidade Social ............................................ 17 MÓDULO 2: CONTRIBUIÇÃO DOS CONCEITOS DE UNIVERSALIDADE, IGUALDADE E EQUIDADE PARA UMA NOVA AGENDA DE POLÍTICAS PÚBLICAS ........................................................................................................ 22 Aula 1 - Os conceitos de UNIVERSALIDADE, IGUALDADE E EQUIDADE . 24 Aula 2 - Nova agenda para as políticas públicas .......................................... 26 MÓDULO 3 - VULNERABILIDADES FRENTE AO SISTEMA PENITENCIÁRIO ......................................................................................................................... 33 Aula 1- O Perfil dos presos no Brasil ............................................................ 35 Aula 2 - As dimensões da vulnerabilidade .................................................... 39 Aula 3- Diversidade social no sistema penitenciário ..................................... 50 POLÍTICAS PARA AS MULHERES E IDENTIDADES DE GÊNERO........ 50 POPULAÇÕES INDÍGENAS ..................................................................... 57 POPULAÇÕES NEGRAS ......................................................................... 70 POPULAÇÕES ESTRANGEIRAS PRESAS E EGRESSAS DO SISTEMA PRISIONAL ............................................................................................... 77 JUVENTUDE PRIVADA DE LIBERDADE ................................................. 85 ATENÇÃO ÀS PESSOAS IDOSAS PRESAS ........................................... 87 PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA OU MOBILIDADE REDUZIDA ... 90 6 LÉSBICAS, GAYS, BISSEXUAIS E TRANSGÊNEROS ........................... 94 Aula 4 - Saúde mental, diversidade e o sistema penitenciário .................... 100 MÓDULO 4 - MECANISMOS DE DENÚNCIA DE VIOLAÇÕES DE DIREITOS E PARTICIPAÇÃO SOCIAL ............................................................................... 105 Aulas 1 - Mecanismos de denúncia de violações a direitos e participação social .................................................................................................................... 107 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 114 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA .................................................................... 115 7 APRESENTAÇÃO Olá, Seja bem-vindo ao curso Direitos Humanos e Grupos Vulneráveis no Sistema Prisional! Saiba que somos todos diversos. Diante disso, a realização deste curso visa apresentar aspectos relativos à diversidade humana e sua inserção na discussão e consolidação do arcabouço dos direitos humanos na contemporaneidade. Analisar e discutir a implantação de políticas e serviços para atender as demandas e necessidade dos diferentes grupos populacionais em cumprimento de pena no Brasil também está previsto como objetivo a ser atingido. OBJETIVOS Ao final deste curso, espera-se que você seja capaz de: • reconhecer as dinâmicas constituintes da identidade dos indivíduos e seus grupos sociais; • identificar aspectos conceituais e a trajetória dos direitos humanos centrado na promoção da dignidade humana; • compreender os marcos legais que fundamentam o atendimento adequado aos grupos populacionais em cumprimento de pena; • considerar a ampla diversidade humana na formulação de políticas penitenciárias e estruturação de serviços; • conhecer as recomendações técnico-jurídicas, assim como algumas experiências e práticas sociais potencialmente transformadoras, de modo a contribuir para aperfeiçoamento da sua prática profissional. 8 ESTRUTURA DO CURSO O material didático do curso Direitos Humanos e Grupos Vulneráveis está estruturado em quatro módulos de modo a favorecer um amplo debate e a construção do saber de forma coletiva: Módulo 1: Direitos humanos e diversidade: fundamentos e trajetória de uma conquista social É apresentada, de forma retrospectiva, a construção da noção de direitos humanos no tempo presente e a multiplicidade de vozes e lutas pela sua efetivação para os diferentes grupos sociais. Módulo 2: Contribuição dos conceitos de universalidade, igualdade e equidade para a construção de uma nova agenda para as políticas públicas São apresentados os conceitos de universalidade, igualdade e equidade e feita uma análise sobre o necessário protagonismo da noção de equidade nas políticas e serviços focalizados nas necessidades de cada indivíduo, mostrando o esforço de corrigir desigualdades sociais históricas. Módulo 3: Vulnerabilidades frente ao sistema penitenciário São apresentadas situações observadas no âmbito do sistema penal que podem levar alguns grupos sociais em cumprimento de pena, e seus familiares, a terem seus direitos ameaçados devido à ausência de proteção do Estado. Módulo 4: Mecanismos de denúncia das violações de direitos e participação social Busca sensibilizar os participantes do curso com relação aos mecanismos de exigibilidade de direitos no âmbito do sistema penitenciário, assimcomo a importância do fortalecimento da participação comunitária em nível local, 9 objetivando o aperfeiçoamento das políticas e gestão penitenciárias na perspectiva da autonomia e emancipação social. TEMPO DE DEDICAÇÃO AO CURSO O curso Direitos Humanos e Grupos Vulneráveis, com carga horária prevista de 26 (vinte e seis) horas, exige de você, aproximadamente, 01 (uma) hora por dia de estudo. AVALIAÇÃO E APROVAÇÃO As atividades avaliativas serão realizadas ao longo de todo o curso. Elas serão divididas em questões objetivas, totalizando 100 (cem) pontos. A pontuação mínima para aprovação é de 70 (setenta) pontos. Bom Estudo! Assista à Videoaula de apresentação do curso Direitos Humanos e Grupos Vulneráveis, disponível em “Material Complementar”. 10 MÓDULO 1 - DIREITOS HUMANOS E DIVERSIDADE: FUNDAMENTOS E TRAJETÓRIA DE UMA CONQUISTA SOCIAL Caro estudante, A afirmação dos direitos humanos se consagra na atualidade como exercício do respeito e defesa da dignidade humana. A construção dos sentidos destes direitos universais vem sendo produzida a partir de práticas e lutas sociais de indivíduos e diferentes grupos no Brasil e no mundo, contra a violência e a injustiça. Conhecer os fundamentos balizadores dos direitos humanos, sua diversidade e estabelecer uma breve discussão das diversas vozes que lutam pela sua efetivação dos diferentes grupos sociais é o que trabalharemos neste módulo. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO Na tentativa de organizar a discussão, este módulo está divido em dois momentos: • Direitos Humanos; e • Diversidade Social. OBJETIVO Esperamos que você, ao final do estudo deste módulo, seja capaz de: • Compreender os direitos humanos como processo histórico; • Reconhecer os princípios que constituem os direitos humanos; e • Reconhecer as dinâmicas constituintes da identidade dos indivíduos e seus grupos sociais. 11 ANTES DE INICIAR OS ESTUDOS, ASSISTA AO VÍDEO: Declaração dos Direitos Humanos - Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=KzEKd5fFLmY https://www.youtube.com/watch?v=KzEKd5fFLmY 12 Aula 1 - Os Direitos Humanos como processo histórico De acordo com o conceito apresentado pela ONU Brasil: “Os direitos humanos são direitos inerentes a todos os seres humanos, independentemente de raça, sexo, nacionalidade, etnia, idioma, religião ou qualquer outra condição. Os direitos humanos incluem o direito à vida e à liberdade, à liberdade de opinião e de expressão, o direito ao trabalho e à educação, entre e muitos outros. Todos merecem estes direitos, sem discriminação. O Direito Internacional dos Direitos Humanos estabelece as obrigações dos governos de agirem de determinadas maneiras ou de se absterem de certos atos, a fim de promover e proteger os direitos humanos e as liberdades de grupos ou indivíduos”. Fonte: Nações Unidas Brasil. Disponível em https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/. Acesso em 15 Jun. de 2020. Algumas experiências de horror contra a humanidade, como a perseguição em massa durante a 2ª Guerra Mundial e os regimes ditatoriais em muitos países, tornou objeto de preocupação e mobilização social. Teorias racistas ou de limpeza étnica foram utilizadas por lideranças políticas para justificar a ação de seus países ou grupos sociais, colocando-se contra os povos judeus, ciganos, pessoas com deficiência, idosos e homossexuais. PARA REFLETIR.... Você conhece ou já conheceu alguém que passou por uma situação de horror na sua região? Você saberia falar sobre a situação ocorrida? https://nacoesunidas.org/acao/direito-internacional/ https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/ 13 Em 1948, na Assembleia Geral das Nações Unidas, foi promulgada a Declaração Universal dos Diretos Humanos (https://nacoesunidas.org/wp- content/uploads/2018/10/DUDH.pdf), como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações e no qual enseja a construção do conceito moderno de dignidade da pessoa humana, entendido como propulsor do exercício da cidadania, da garantia de direitos e da liberdade individual. Em 1966, foi celebrado o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0592.htm). O Artigo 27 do referido documento político busca estabelecer a proteção das diferenças, garantindo-se “nos Estados em que haja minorias étnicas, religiosas ou linguísticas, as pessoas pertencentes a essas minorias não poderão ser privadas do direito de ter, conjuntamente com outros membros de seu grupo, sua própria vida cultural, de professar e praticar sua própria religião e usar sua própria língua”. Boaventura de Sousa Santos (2010), contudo, ao demonstrar o caráter liberal do surgimento desta convenção internacional, aponta enfoque da supremacia dos direitos civis e políticos aos direitos econômicos, sociais e culturais. Em 1993, foi realizada a Convenção de Viena (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d7030.htm), da Organização das Nações Unidas – ONU, que buscou ampliar a compressão sobre os direitos humanos. Os direitos humanos assumiram como princípios a universalidade, a indivisibilidade, a interdependência e interrelação. Considera-se assim para sua realização uma visão integral que articula os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais, não podendo ser desassociados ou ter condicionalidade de um ou outro. https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2018/10/DUDH.pdf http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0592.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d7030.htm 14 Fundamenta-se nas premissas da igualdade em dignidade e valor de todos os seres humanos, sem discriminação. Está ligada à ideia de que os “direitos de liberdade” (direitos civis e políticos) não sobrevivem perfeitamente sem os “direitos da igualdade” (direitos econômicos, sociais e culturais) e vice-versa. Aponta para a ligação existente entre os diversos direitos humanos. Possuindo uma vinculação uns com os outros, não podendo ser visto de forma isoladas. Exemplo é o direito à liberdade de locomoção que está ligada ao habeas corpus. Todos os direitos humanos são relacionados entre si, não sendo divisível. Universalidade Indivisibilidade Interdependência Inter-relação Figura 1 Fonte: SCD/EaD/Segen Figura 2 Fonte: SCD/EaD/Segen Figura 3 Fonte: SCD/EaD/Segen Figura 4 Fonte: SCD/EaD/Segen 15 Além disso, são inalienáveis, ou seja, todas as pessoas são sujeitas de direitos simplesmente por ser humano, independente de sexo, origem, cor, orientação sexual, religião etc. Dessa maneira, o indivíduo portador do direito de ter direitos não pode abrir mão destes ou mesmo cedê-los a terceiros. Figura 5 - Viena A convenção de Viena, Áustria, da ONU, reforçou a necessidade dos Estados membros assumirem compromissos concretos para a realização dos direitos humanos, tendo como recomendação que casa país formulasse seu Plano Nacional de Direitos Humanos. No Brasil, o primeiro plano foi lançado em 1996 com o objetivo de apontar as diretrizes que organizariam as ações do poder público no campo de promoção e efetivação dos direitos humanos. A segunda versão dos planos foi revisada e publicada em 2002. Já em 2008, após a realização de conferências de direitos humanos e conferências temáticas, foi desenhado o 3º Plano de Direitos Humanos, procurando ampliar a garantia dos direitos sociais e econômicos como forma de consolidação da democracia no país. PLANO DE DIREITOS HUMANOS – PDH3 16 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007- 2010/2009/decreto/d7037.htm ) Pelo exposto até aqui, evidenciamos que a experimentaçãode uma vida plena e digna passa pela possibilidade de ser e estar no mundo do jeito que é, se identifica e se reconhece. Para isso, é preciso medidas do Estado e do conjunto da sociedade. Em 1992, por exemplo, foi votada na Assembleia Geral da ONU a Declaração Sobre os Direitos de Pessoas Pertencentes a Minorias Nacionais ou Étnicas, Religiosas e Linguísticas. Para ampliar seu conhecimento, lei na íntegra a “Declaração Sobre os Direitos de Pessoas Pertencentes a Minorias Nacionais ou Étnicas, Religiosas e Linguísticas”, acesse o link: (http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Preven%C3%A7%C3 %A3o-contra-a-Discrimina%C3%A7%C3%A3o-e- Prote%C3%A7%C3%A3o-das-Minorias/declaracao-sobre-os- direitos-das-pessoas-pertencentes-a-minorias-nacionais-ou-etnicas- religiosas-e-linguisticas.html). Finalizamos a Aula 1. Nessa aula vimos a evolução histórica dos Direitos humanos no mundo e no Brasil, vamos continuar nossos estudos e compreender um pouco sobre a Diversidade Social. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d7037.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d7037.htm http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Preven%C3%A7%C3%A3o-contra-a-Discrimina%C3%A7%C3%A3o-e-Prote%C3%A7%C3%A3o-das-Minorias/declaracao-sobre-os-direitos-das-pessoas-pertencentes-a-minorias-nacionais-ou-etnicas-religiosas-e-linguisticas.html http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Preven%C3%A7%C3%A3o-contra-a-Discrimina%C3%A7%C3%A3o-e-Prote%C3%A7%C3%A3o-das-Minorias/declaracao-sobre-os-direitos-das-pessoas-pertencentes-a-minorias-nacionais-ou-etnicas-religiosas-e-linguisticas.html http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Preven%C3%A7%C3%A3o-contra-a-Discrimina%C3%A7%C3%A3o-e-Prote%C3%A7%C3%A3o-das-Minorias/declaracao-sobre-os-direitos-das-pessoas-pertencentes-a-minorias-nacionais-ou-etnicas-religiosas-e-linguisticas.html http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Preven%C3%A7%C3%A3o-contra-a-Discrimina%C3%A7%C3%A3o-e-Prote%C3%A7%C3%A3o-das-Minorias/declaracao-sobre-os-direitos-das-pessoas-pertencentes-a-minorias-nacionais-ou-etnicas-religiosas-e-linguisticas.html http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Preven%C3%A7%C3%A3o-contra-a-Discrimina%C3%A7%C3%A3o-e-Prote%C3%A7%C3%A3o-das-Minorias/declaracao-sobre-os-direitos-das-pessoas-pertencentes-a-minorias-nacionais-ou-etnicas-religiosas-e-linguisticas.html http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Preven%C3%A7%C3%A3o-contra-a-Discrimina%C3%A7%C3%A3o-e-Prote%C3%A7%C3%A3o-das-Minorias/declaracao-sobre-os-direitos-das-pessoas-pertencentes-a-minorias-nacionais-ou-etnicas-religiosas-e-linguisticas.html http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/Preven%C3%A7%C3%A3o-contra-a-Discrimina%C3%A7%C3%A3o-e-Prote%C3%A7%C3%A3o-das-Minorias/declaracao-sobre-os-direitos-das-pessoas-pertencentes-a-minorias-nacionais-ou-etnicas-religiosas-e-linguisticas.html 17 Aula 2 - Compreendendo a Diversidade Social Outros instrumentos dos direitos humanos, como acordos, tratados e declarações, contemplam também temas relacionados às mulheres, população idosa, pessoas com deficiência, lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, combate à discriminação e intolerância religiosa. Essas medidas assumidas pela comunidade internacional procuram criar mecanismos de assegurar a promoção da diversidade frente às rápidas mudanças e seus impactos no Estado-nação, em virtude da consolidação do processo de globalização capitalista, de caráter neoliberal, marcada pelo aumento dos fluxos populacionais pelo globo, precarização das relações de trabalho e interpenetração dos mercados financeiros. Turner (2003) considera que a tensão nas relações entre global e local, e das nações, grupos e pessoas, são resultantes de serem consideradas apenas como consumidores ou potenciais produtores. Para ele, “os critérios culturalmente específicos pelos quais identificam sua identidade não são relevantes, somente importando o fato de que suas diferenças os identifiquem como indivíduos distintos e, como tais, eventuais jogadores do jogo universal”. Dessa maneira, os esforços de alguns países e organizações da sociedade civil procuram garantir e ampliar direitos específicos a estes grupos. Cabe ressaltar que tais direitos não são privilégios ou vantagens que as minorias possuem em relação ao resto da população. O que se almeja, ao contrário disso, é reequilibrar a chamada igualdade material, ou seja, identificar grupos sub- representados, que são minorias ou estão sujeitos a desigualdades estruturais, e conferir maiores poderes para que tenha acesso a igualdade de oportunidades. 18 Ou como é conhecido o conceito de equidade: tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de suas desigualdades. Você sabia que o termo MINORIA não é um conceito definitivo? Deve-se fazer uma primeira ressalva sobre o seu uso, a saber: a noção de minoria não quer dizer necessariamente um grupo social numericamente menor. Em regra, uma minoria está, sim, em menor quantidade, mas isso nem sempre é verdade. É importante compreender, também, como estes grupos específicos se colocam e se comportam dentro da sociedade, podendo constituir uma maioria numérica, mas, ao mesmo tempo, ser politicamente uma minoria em razão da impossibilidade de participar das instâncias decisórias. Um exemplo radical, que não deixa dúvida a essa possibilidade, é o regime de apartheid que vigorou na África do Sul, no qual uma quantidade reduzida de brancos utilizou técnicas políticas e bélicas para manter-se no poder, a partir da subjugação dos negros. Os negros, em quantidade maior, acabaram por formar uma minoria, controlada socialmente pelos colonizadores. O Apartheid (significa "separação") foi um regime de segregação racial que ocorreu na África do Sul a partir de 1948, o qual privilegiava a elite branca do país, que perdurou até as eleições presidenciais de 1994, ano em que ascendeu ao poder Nelson Mandela, o maior ícone de liderança da África Negra, que pôs fim ao regime segregacionista, lutando pela igualdade racial na África do Sul. 19 O filme INVICTUS retrata a história do recém-eleito presidente, Nelson Mandela, sabia que o país estava dividido entre brancos e negros. Mesmo com as eleições vencidas, a África do Sul continuava sendo um país racista e economicamente dividido, em decorrência do apartheid. Mandela, ao ler em um jornal local que “[...] ele pode vender uma eleição, mas poderá governar um país?”, observou ser “uma pergunta pertinente”. Com a proximidade da Copo do Mundo de Rúgbi, pela primeira vez realizada no país, fez com que Mandela resolvesse usar o esporte para unir a população. Caso queira conhecer mais sobre a história do regime de apartheid no continente africado, assista ao filme: Invictus – direção de Clint Eastwood; elenco formado por Matt Damon, Morgan Freeman, ano de 2009; duração de 133 min; EUA. Sobre esse aspecto, Liszt Vieira (2001) nos mostra que no momento em que se consolidou no Ocidente o entendimento sobre a noção de dignidade houve também uma nova compreensão referente à ideia de identidade que resultou, por conseguinte, em uma política da diferença. Para este autor “a expressão “direitos iguais” significa não somente direito de tratamento igual, mas também direito a ser tratado como igual, apesar das diferenças”. Em determinado momento histórico houve uma associação do termo “minoria” aos grupos socialmente identificados por suas características como sexo, etnia, origem, orientação sexual etc., e que por isso se distinguiam do conjunto da população, balizada por aspectos identitários e ideológicos hegemônicos, e amplamente disseminados nos ambientes da família, das Figura 6 - Filme Invictus Fonte: Wikipedia 20 instituições e dos meios de comunicação de massa, na perspectiva de construir uma coesão social interna. Frenteàs desigualdades, movimentos de mulheres, gays, estrangeiros, ecologistas, entre outros, organizaram-se em movimento sociais, notadamente nas décadas de 1970 e 1980, e passaram a reivindicar igualdade de direitos e a participação nos processos democráticos e vida política do país. Nessa perspectiva, é salutar lembrarmos que Boaventura de Sousa Santos reforça a necessidade de articulação entre os princípios da igualdade e da diferença, promovendo seu entendimento de forma harmônica e combinada, assumindo assim um duplo movimento de “luta por igualdade e luta por reconhecimento igualitário” (SANTOS, 2010). SUGESTÃO DE LEITURA BENEVIDES, Maria Victoria. Cidadania e Direitos Humanos. São Paulo: Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo. Disponível em: http://www.iea.usp.br/publicacoes/textos/benevidescidadaniaedireitoshumanos. pdf/view Saiba Mais... Para um tratado internacional ser incorporado ao direito interno de um Estado, deve-se consultar seu ordenamento interno (Constituição) para identificar se este adota a teoria monista ou a dualista. A teoria monista entende que o direito nacional e o direito internacional são um só, portanto este pode ser incorporado automaticamente a aquele. Por outro lado, a teoria dualista, adotada pelo Brasil, preza pela soberania do Estado, devendo o direito internacional passar por um rigoroso processo de incorporação para poder se incorporado ao regimento interno do país. (Calaza, 2018) http://www.iea.usp.br/publicacoes/textos/benevidescidadaniaedireitoshumanos.pdf/view http://www.iea.usp.br/publicacoes/textos/benevidescidadaniaedireitoshumanos.pdf/view 21 Antes da edição da referida Emenda Constitucional, apenas havia a previsão na Constituição, no art. 5º, § 2º, de que os Direitos e Garantias Fundamentais expressos na Carta de 1988 não excluiriam outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil fosse parte. Com o advento da EC 45/04, foi incluído o § 3º ao art. 5ª na CF, disciplinando que os tratados e convenções internacionais sobre Direitos Humanos que fossem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, seriam equivalentes às Emendas Constitucionais. (Casado Filho, 2010) A partir de então os tratados internacionais, via de regra, possuem status de uma lei ordinária e se situam no nível intermediário, ao lado dos atos normativos primários. Já os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos, se aprovados em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. (Motta, 2009) Finalizando.... Neste Módulo pudemos conhecer melhor a importância da participação nas políticas e serviços penitenciários com um olhar para a diversidade. A definição de direitos humanos tem evoluído historicamente em virtude da melhor compreensão sobre os acontecimentos e as relações sociais. As mudanças profundas nas dinâmicas sociais e a interação cada vez maior entre os grupos sociais em nível local e global têm chamado a atenção para a necessidade de assegurar o direito à diversidade humana. Vimos nesta seção que os direitos humanos só se realizam se entendidos de forma integral, garantindo a interconexão entre cada um deles. Dessa forma, para que existam direitos são necessários o reconhecimento e a manifestação da diversidade. 22 MÓDULO 2: CONTRIBUIÇÃO DOS CONCEITOS DE UNIVERSALIDADE, IGUALDADE E EQUIDADE PARA UMA NOVA AGENDA DE POLÍTICAS PÚBLICAS A defesa dos direitos humanos fundamentais, que já fazem parte do direito internacional em geral ou, então, que foram conferidos por instrumentos internacionais de caráter universal, dos quais o Estado brasileiro é signatário, pressupõe a plena aceitação da diversidade e a repúdio a qualquer forma de preconceito ou discriminação. (MONTAGNER, Paula et al. 2010, Pág. 11) Caro estudante, Encerramos o primeiro módulo no qual destacamos o processo histórico de construção dos sentidos dos direitos humanos na atualidade como exercício de respeito e defesa da dignidade humana, tendo em vista a melhoria da qualidade de vida de indivíduos e diferentes grupos no Brasil e no mundo e contra a violência e a injustiça. Destacamos os pactos fundamentais e balizadores dos direitos humanos e sua diversidade. A seguir, vamos estabelecer uma breve discussão sobre os conceitos de universalidade, igualdade e equidade, tendo em vista uma nova agenda para as Políticas Públicas. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO Na tentativa de organizar a discussão, este módulo está organizado de forma a contemplar o entendimento sobre: • Conceito de universalidade, igualdade e equidade; • A nova agenda das políticas públicas. OBJETIVO 23 Esperamos que você, ao final do estudo deste módulo, seja capaz de: • Identificar aspectos que ajudam a reconhecer a diversidade como fundamento para promoção e realização de direitos; e • Compreender a necessidade de legislação e políticas públicas que consideram as características e necessidades dos diferentes grupos populacionais. 24 Aula 1 - Os conceitos de UNIVERSALIDADE, IGUALDADE E EQUIDADE Há uma ampla produção teórica e acadêmica que procura compreender as diferentes dinâmicas e relações sociais, e como estas estabelecem formas de ser e estar no mundo. Bastos e Faerstein (2012), após ampla revisão da literatura e adotando estudo feito por Dovido e colaboradores (2010:7), afirmam que “o preconceito é uma atitude individual, subjetivamente tanto positiva quanto negativa, contra grupos e seus membros, que cria ou mantém relações hierárquicas contra categorias sociais”. Percebem-se também na vida cotidiana situações de discriminação. Ou seja, ações ou comportamentos que em razão do preconceito ou estigma podem gerar prejuízos ou desvantagens a pessoas ou determinados grupos, oferecendo assim tratamento desfavorável a alguém que se encontra na mesma situação ou parecida (BASTOS & FAERSTEIN,2012; LAIA, 2010). Inspirada pelas lutas sociais que tinham em seu bojo a defesa dos direitos humanos e a construção da democracia, a Constituição Federal de 1988, no Brasil, traz um importante avanço ao dirigir a toda população, em uma perspectiva de universalidade de acesso às políticas, bens e serviços públicos. De acordo com Paim (2010), o conceito de universalidade está intrinsecamente relacionado ao de igualdade e refere-se aquilo que deve ser comum a todos. Assim, quando a Constituição Federal de 1988 preocupa-se em trazer para o cerne do debate a necessidade de acesso universal e igualitário a determinadas circunstâncias da vida social, fica claro que tal acesso não era até então possível a todos. Foi necessário reconhecer que, devido a um longo processo histórico de exclusão, os indivíduos não compartilham de forma igualitária do constructo social, das instâncias de participação e de poder. Diante disso, para além da importância da igualdade, Paim destaca que atender os desiguais priorizando a igualdade apenas, poderia resultar na 25 manutenção das desigualdades, pois a igualdade pode não ser justa (PAIM, 2010). Assim, passou-se a delinear a noção de equidade que está relacionada à condição de efetivação de direitos de forma igual sem estigmatizar as diferenças dos diversos grupos da população. Mais ainda, nas palavras de Aldaíza Sposati, “é a possibilidade de diferenças serem manifestadas e respeitadas, em discriminação; condição que favoreça o combate das práticas de subordinação ou de preconceito” (SPOSATI, 2002). De tal forma, a equidade admite o atendimento desigual aos desiguais, garantindo com isso que vislumbre-se a igualdade, caracterizando, portanto, uma discriminaçãopositiva (PAIM, 2010). 1. É uma criação mental, simples, que serve de exemplificação na descrição de uma teoria. 2. Em psicologia é percepção ou pensamento formado a partir da combinação de lembranças com acontecimentos atuais. 26 Aula 2 - Nova agenda para as políticas públicas Veremos na sequência como a discriminação positiva em favor do reconhecimento das diferenças vem ocorrendo na prática. A Constituição Federal, por exemplo, faz menção à proteção das diferentes raças, ao “repudiar o racismo” e torná-los imprescritível e inafiançável (Art. 4º, VIII; art. 5º, XLII). Trata-se, no contexto interno brasileiro, do reconhecimento da desigualdade racial como elemento de exclusão. QUANTO A COTAS EM UNIVERSIDADES No escopo das ações afirmativas, a partir de um critério étnico e após amplo diálogo social, consagrou-se o entendimento sobre a constitucionalidade das políticas de ação afirmativa para o ingresso no ensino superior e escolas públicas, bem como do critério étnico racial e da autoidentificação como método de seleção em concursos públicos. A promulgação da Lei Federal nº 12.711/2012 estabeleceu a reserva de 50% das vagas das Instituições Federais de Ensino Superior àqueles que cursaram todo o ensino médio em escolas públicas e, destas, 50% devem ser reservadas a estudantes oriundos de família cuja renda seja igual ou inferior a 1,5 salários-mínimos. Também nas escolas de ensino médio e técnico é aplicável a regra, porém com um diferencial: deve haver, dentro do número das vagas reservadas, correspondência com a proporção de “pretos, pardos e indígenas na população da unidade da Federação”, segundo o último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Acesse o link: (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011- 2014/2012/lei/l12711.htm) Figura 7 - Sala de Aula Fonte: Aula em anfiteatro da Universidade de Brasília (UnB) — Foto: Isa Lima/UnB Agência 27 QUANTO A IGUALDADE DE GÊNEROS Da mesma forma, observa-se a implementação de medidas a fim de assegurar a igualdade jurídica entre mulheres e homens a partir da construção de oportunidades, considerando as especificidades de gênero, uma vez que continuamos a viver numa sociedade ainda machista e sexista. Podemos citar, para ilustrar, algumas distinções jurídicas compensatórias que visam proporcionar igualdade material entre homens e mulheres, a saber: critérios diferentes para a aposentadoria por idade, justificada pela dupla jornada que a mulher enfrenta, pois assume, em regra, parte substancial do trabalho doméstico; ou, ainda, exigências diferenciadas para teste físico em concursos públicos. É importante ressaltar que o uso do conceito de gênero é moderno. As lutas feministas e humanitárias do século XX redefiniram as discussões sobre as diferenças entre homens e mulheres para além das diferenças biológicas dos sexos. A identidade de gênero não é inata, dada pela constituição fisiológica, mas, sim, uma construção social, política e cultural, representada muitas vezes por papéis sociais atribuídos ou não às pessoas em cada grupo social ou comunidade. Daí a comum associação das tarefas públicas ao homem, que é o “provedor”, aquele que sai de casa e vai “ganhar o pão”, enquanto à mulher cabe o papel “privado” de cuidar da casa, da família, dos filhos etc., o que acaba sendo um fator de limitação social às mulheres. Ao empregarmos identidade de gênero nas políticas, propomos desmontar a lógica de que as desigualdades entre homens e mulheres são resultadas de diferenças naturais. Com isso, avança o reconhecimento da autonomia das mulheres e de sua representação nas instâncias de decisão. Figure 8 - Igualdade de Gêneros 28 No Brasil, o supremo Tribunal Federal reconheceu, em 2011, a união estável entre casais homossexuais. Em seguida, houve a possibilidade de casamento entre pessoas do mesmo sexo, nos termos da Resolução do Conselho Nacional da justiça – CNJ -, nº 175, de 04 de maio de 2013. Como uma variação desta discussão, não se pode olvidar a luta pela garantia dos direitos sexuais e reprodutivos, e a livre manifestação de afeto. Em diferentes países do mundo já é reconhecido o casamento entre pessoas do mesmo sexo, ampliando a cobertura de cidadania entre os cônjuges e seus dependentes. Assim, em razão do critério de isonomia, deve-se observar o respeito às orientações sexuais e de gênero, sendo inadmissíveis o preconceito, seja em relação a gays, lésbicas, travestis, transexuais e outras demais formas de viver a própria sexualidade. QUANTO AOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE Outros exemplos podemos extrair da leitura da Constituição Federal: no Capítulo denominado “Da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do Idoso”, destaca-se a proteção e olhar prioritário para a criança, o adolescente, o jovem e o idoso, na perspectiva de uma discriminação positiva que possa favorecer o desenvolvimento das pessoas em diferentes fases do ciclo de vida. A criança e o adolescente estão em fase de formação, possuem alta dependência da família, precisam da assistência desta, da sociedade e do Estado para se desenvolverem de modo sadio e atingirem suas potencialidades Figura 9 - Bandeira LGBT Imagem: Por Ludovic Bertron from New York City, Usa - https://www.flickr.com/photos/23912576@N05/2942525739, CC BY 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=14831997 29 (Art. 227, CF). O jovem, por sua vez, encontra-se na transição para a vida adulta ou acaba de nela ingressar. Trata-se de momento de emancipação e busca de estabilidade na sociedade. Nosso Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 – é considerado um dos mais avançados diplomas legais dedicados à garantia dos direitos da população infanto- juvenil. Acesse o link: (http://www.planalto.gov.br/ccivil.03/leis/l8069.htm). QUANTO AOS DIREITOS DOS IDOSOS Já o idoso é aquele que possui idade igual ou maior que 60 (sessenta) anos. Diante disso, dispõe de proteção legal conferido pelo Estatuto do Idoso e outras leis, a exemplo do atendimento preferencial. Garante-se ao idoso de família de baixa renda benefício assistencial no valor de um salário mínimo. Apesar do critério trazido pela lei, o poder judiciário deferiu a assistência a idosos que possuíam renda familiar maior, mas que, apesar disso, ainda se encontravam em situação de miséria, violando a sua dignidade. Figura 10 - Direito 30 A lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, institui o Estatuto do Idoso e dispõem sobre a prioridade, a segurança, a proteção, entre outros direitos dos idosos. Para ampliar seu conhecimento e compreender mais sobre esta lei e toda sua sistemática acesse o endereço eletrônico: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm . QUANTO AOS DIREITOS DOS DEFICIÊNTES A sociedade progressivamente vem compreendendo a importância da inclusão das pessoas com deficiência. Como resultado da ampla mobilização social destas pessoas, seus familiares e organizações sociais, já existe uma série de normas cujo objetivo é a sua proteção e plena integração social. Ressalta-se que é obrigação do Estado: a promoção de assistência integral por meio da “criação de programas de prevenção e atendimento especializado para as pessoas com deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente e do jovem com deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de obstáculos arquitetônicos e de todas as formas de discriminação”. Figura 11 - Idosos Figura 12 - Deficiente http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm 31 Além disso,garante a proteção à discriminação no tocante ao salário e aos critérios de admissão no trabalho dos deficientes físicos, além de estabelecer ser competência comum da União, dos Estados e dos Municípios cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas com deficiência. Outra conquista é a obrigatoriedade da exigência de reserva para este grupo populacional nos concursos públicos. No setor privado, nos termos da Lei Federal nº 8.213/91 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm ), as empresas acimas de 200 funcionários devem contar em seu quadro de empregados determinado número de pessoas com deficiência. É importante lembrar o aspecto da acessibilidade. A Lei Federal nº 10.098/2000 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L10098.htm) estabelece regras para mobilidade no espaço urbano, em prédios públicos e privados, no transporte público e em relação aos sistemas de comunicação. Dessa maneira, o que temos demonstrado até aqui é que se observamos avanços no ordenamento jurídico é em razão da necessidade do Estado criar condições de acolher e cuidar, agindo de maneira protagonista para dissolver possíveis tensões nas relações sociais e econômicas orientadas por uma lógica capitalista. QUANTO AOS DIREITOS DOS ESTRANGEIROS Os direitos de igualdade dos brasileiros estendem-se às populações estrangeiras, que estão distantes de seu país de origem e não conhecem bem os costumes, a língua, as normas e instituições, políticas, jurídicas e sociais do Brasil. Muitas vezes apresentam dificuldades de se expressar e não sabem exatamente quais são seus direitos e deveres. Basta lembrar que uma das penas mais terríveis e temidas na Figura 13 - Mapa Globo http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L10098.htm 32 Antiguidade eram o banimento e o degredo, em que o sujeito era proibido de voltar à cidade em que vivia e tinha que procurar algum lugar que o aceitasse. Por essa razão, como exemplo, em 2009 o Brasil sancionou a Lei da Anistia Migratória, beneficiando cerca de 50 mil pessoas estrangeiras, autorizando a residência provisória de cidadãos estrangeiros em situação irregular no Brasil. A Lei nº 11.961, de 02 de junho de 2009 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007- 2010/2009/Lei/L11961.htm), dispõe sobre a residência provisória para o estrangeiro em situação irregular no território nacional e dá outras providências. Mesmo com todas as conquistas alcançadas em nível nacional e internacional na construção de um arcabouço legal dos direitos humanos, e referências de atendimento adequado aos diferentes grupos populacionais, ainda convivemos em nossa sociedade com o preconceito, o estigma e a discriminação. Finalizando... Vimos neste módulo que a incorporação da noção de equidade, demonstra que apenas a garantia da universalidade e igualdade não são suficientes para que todos tenham acesso às mesmas oportunidades. Faz-se necessária a adoção de medidas focalizadas nas necessidades e singularidades de cada grupo social, visto que vivemos em sociedades que excluem notadamente em razão das diferenças, e que, por preconceito e discriminação produzem desigualdades e obstáculos para acesso a serviços e políticas públicas. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11961.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L11961.htm 33 MÓDULO 3 - VULNERABILIDADES FRENTE AO SISTEMA PENITENCIÁRIO Caro estudante, No módulo anterior tivemos a oportunidade de distinguir e caracterizar os conceitos de universalidade, igualdade e equidade. Encerramos essa unidade tendo em vista uma nova agenda para as Políticas Públicas. Agora, vamos trazer para o debate algumas situações vivenciadas no contexto do sistema penal. Vamos analisar o cumprimento de pena e a ausência de atendimento e serviços que respeitem as particularidades e múltiplas demandas dos indivíduos, em suas dimensões objetivas e subjetivas. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO Na tentativa de organizar a discussão, este módulo contemplará aspectos relativos às diferentes situações que tornam o indivíduo e grupos sociais vulneráveis no âmbito do sistema prisional. OBJETIVO Esperamos que você, ao final do estudo deste módulo, seja capaz de: • compreender os marcos legais que fundamentam o atendimento adequado aos grupos populacionais atingidos pelo sistema penitenciário; • Considerar a ampla diversidade humana na formulação de políticas penitenciárias e estruturação de serviços penitenciários; • Reconhecer medidas que promovem os direitos dos diferentes grupos em cumprimento de pena e seus familiares. 34 SUGESTÕES DE VÍDEO Direitos Humanos, a Exceção e a Regra, de Gringo Cardia (2008). Disponível em: http://portacurtas.org.br/filme/?name=direitos_humanos_a_excecao_e_a_regra SUGESTÃO DE LEITURA CASTEL. Robert. A dinâmica dos processos de marginalização: da vulnerabilidade a “desfiliação”. Cahiers de Recherche Sociologique, (22) 1994. Disponível em: https://portalseer.ufba.br/index.php/crh/article/view/18664/12038 MARANDOLAJR, Eduardo & HOGAN, Daniel Joseph. As dimensões da vulnerabilidade, Revista Perspectiva, São Paulo, v. 20, n. 1, p. 33-43, jan/mar 2006. Disponível em: http://produtos.seade.gov.br/produtos/spp/v20n01/v20n01_03.pdf http://portacurtas.org.br/filme/?name=direitos_humanos_a_excecao_e_a_regra https://portalseer.ufba.br/index.php/crh/article/view/18664/12038 http://produtos.seade.gov.br/produtos/spp/v20n01/v20n01_03.pdf 35 Aula 1- O Perfil dos presos no Brasil Antes de avançarmos, que tal conhecer o Perfil dos Presos no Brasil? De acordo com o INFOPEN/DEPEN sobre os dados consolidados do período compreendido entre Julho a Dezembro de 2019, o sistema penitenciário brasileiro apresentava a seguinte configuração: • Do universo total de presos no Brasil, 95% são homens e 5% são mulheres. • 45% têm entre 18 a 29 anos. • Quando estratificado segundo a cor da pele, o levantamento mostra que 59% da população prisional é composta por pessoas com cor de pele preta ou parda. • Quanto à escolaridade, 76% da população prisional brasileira não concluiu o ensino médio e apenas 1% dos presos possui graduação. • 1% das vagas nos estabelecimentos prisionais possuem ala ou cela destinadas exclusivamente às pessoas privadas de liberdade que se Figura 14 - Dados Infopen Fonte: SCD/EaD/Segen 36 declarem lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT). Já o quantitativo de instalações destinadas com exclusividade a idosos e indígenas, não representa 1% do quantitativo total de vagas. Veja os gráficos abaixo: Figura 15 - População Carcerária por Gênero Fonte: Gráfico 14, do Painel Interativo Dezembro 2019 INFOPEN/DEPEN. Disponível em: https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiZTlkZGJjODQtNmJlMi00OTJhLWFlMDktNzRlNmFkNTM0M WI3IiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9. Acesso em 18 jun. 2020 37 Figura 16 - Presos em unidades Prisionais do Brasil Fonte: Versão adaptado pelo SPED/DEP/SEGEN, conforme Gráfico 3, do Painel Interativo Dezembro 2019 INFOPEN/DEPEN. Disponível em: https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiZTlkZGJjODQtNmJlMi00OTJhLWFlMDktNzRlNmFkNTM0MWI3Ii widCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05M Figura 17 - População prisional por ano Fonte: Gráfico 8, do Painel Interativo Dezembro 2019 INFOPEN/DEPEN. Disponível em: https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiZTlkZGJjODQtNmJlMi00OTJhLWFlMDktNzRlNmFkNTM0MWI3Ii widCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9. Acesso em 18 jun. de 2020. 38 Figura 19 - Você conhece o Infopen? Fonte: SCD/EaD/Segen Figura 18 - Alas ou Celas Exclusivas para grupos específicos Fonte: Versão criada pelo SPED/DEP/SEGEN, conforme dados dos relatóriosanalíticos de Dezembro 2019 INFOPEN/DEPEN. Disponível em: http://depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen/relatorios- analiticos/relatorios-analiticos. Acesso em 19 jun. de 2020. Você conhece o INFOPEN? O INFOPEN é um sistema de informações estatísticas do sistema penitenciário brasileiro. É possível ter acesso a um rico bando de dados que permite conhecermos a realidade do sistema penitenciário brasileiro. Acesse: http://depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen http://depen.gov.br/DEPEN/depen/sisdepen/infopen 39 Aula 2 - As dimensões da vulnerabilidade As pessoas privadas de liberdade sob custódia do Estado brasileiro podem vivenciar situações que as coloquem em risco ou maior vulnerabilidade, notadamente os grupos populacionais específicos. Como vimos nos capítulos anteriores, vivemos em sociedade que produz e reproduz valores baseados no preconceito e que acabam por refletir em práticas discriminatórias e até mesmo violações de direitos em razão do gênero, idade, orientação sexual, religião, origem, opinião ou deficiência. No ambiente de cumprimento de pena também são observados os reflexos do preconceito e estereótipos compartilhados na sociedade como um todo, atingindo negativamente a população assistida. Dessa maneira, as autoridades penitenciárias e o corpo funcional têm o compromisso de criar mecanismos e procedimentos a fim de evitar a discriminação, inclusive institucional, e a responsabilização dos seus agentes quando identificados, sejam eles servidores públicos, indivíduos ou a própria população carcerária (COYLE, 2009). A Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos é enfática ao estabelecer como princípio de proteção das pessoas privadas de liberdade a não discriminação em razão de origem, nacionalidade, cor, sexo, idade, idioma, religião, opiniões políticas, origem nacional ou social, posição econômica, deficiência, gênero, orientação sexual ou qualquer outra. De maneira afirmativa, recomenda a aplicação de medidas dirigidas a grupos ou temas específicos como: direitos das mulheres, notadamente das gestantes e nutrizes, das crianças, dos idosos, das pessoas com patologias infecciosas, como HIV/AIDS, e das pessoas com deficiências. Nesse caso, justificam estas práticas na legislação internacional de direitos humanos considerando a realidade local. 40 Alguns diplomas legais internacionais que tratam dos direitos das pessoas presas ou em cumprimento de penas alternativas à prisão trazem aspectos relativos à diversidade e às medidas positivas a serem adotadas para atender as demandas e necessidades de grupos específicos. Pesquise como estes assuntos são abordados e quais recomendações são feitas em documentos como: Princípios para a Proteção de Todas as Pessoas sob Qualquer Forma de Detenção ou Prisão - http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/fpena/lex51.htm Regras Mínimas para o Tratamento de Pessoas Presas. https://www.unodc.org/documents/justice-and-prison- reform/Nelson_Mandela_Rules-P-ebook.pdf No Brasil, o Artigo 5º da Constituição Federal, o qual elenca direitos e garantias fundamentais, buscou resguardar de abusos e arbitrariedades aquele que é processado penalmente e o que cumpre pena. Tanto um como o outro se encontram em posição de fragilidade social e jurídica, pois tem, contra si, uma pressão e pretensão exercida pelo Estado, parte inegavelmente mais forte nesta relação. Incluem-se neste grupo os presidiários, os submetidos à medida de segurança (Código Penal, art. 26) e, ainda, os penalmente processados. http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/onu/fpena/lex51.htm https://www.unodc.org/documents/justice-and-prison-reform/Nelson_Mandela_Rules-P-ebook.pdf https://www.unodc.org/documents/justice-and-prison-reform/Nelson_Mandela_Rules-P-ebook.pdf 41 Acesse: https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_1 5.12.2016/art_5_.asp Infelizmente, predomina ainda em nossa sociedade a desconsideração do preso como cidadão e como pessoa humana, que deve ter todos os seus direitos resguardados e a sua dignidade preservada, bem jurídico absoluto, inalienável e intangível que é. A violência constante a que muitas vezes é submetido o preso nos superlotados estabelecimentos prisionais brasileiros, sem qualquer condição de reintegrá-los à vida social, acaba por promover a reificação do preso, isto é, este não é mais tratado como ser humano, mas como objeto, coisa – o que causa a marginalização e exclusão, exatamente o problema que se quer evitar. Consequentemente, além de perder a liberdade, degrada-se a dignidade do preso, perpetuando um ciclo vicioso. Portanto, diante da ameaça à liberdade e dos prejuízos que o próprio processo penal pode gerar, garante-se, constitucionalmente, o direito ao devido processo legal, ao contraditório, à ampla defesa, ao juiz natural e a consequente vedação de juízos de exceção. Também, a todo aquele que é processado é garantida a presunção de inocência, devendo o Estado produzir a prova da materialidade (existência) do delito e da autoria. DOS DIREITOS A Lei Federal nº 7.210, de 11 de julho de 1984, a Lei de Execução Penal – LEP http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm, também trouxe uma série de direitos, que devem ser observados. Inicialmente, cabe ressaltar que um dos objetivos principais da LEP é proporcionar condições para a harmônica reintegração social. A lei confere ao preso e ao egresso do sistema prisional o https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_15.12.2016/art_5_.asp https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_15.12.2016/art_5_.asp http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm 42 direito à assistência, em suas modalidades material, jurídica, educacional, social e religiosa (Art. 11), nos termos da lei. Constituem direitos do preso provisório ou definitivo, além do respeito à integridade física e moral: alimentação suficiente, saudável, em condições adequadas de higiene e consumo; vestuário; trabalho e sua remuneração; previdência social; descanso e recreação; entrevista pessoal e reservada com o advogado; visita do cônjuge, companheira, parentes e amigos em dias determinados; chamamento nominal; igualdade de tratamento, salvo quanto às exigências de individualização da pena; audiência especial com o diretor do estabelecimento e representação de qualquer autoridade, em defesa de direito; contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita e leitura de meios de informação; atestado de pena a cumprir, emitido anualmente. Ressalte-se que, em alguns casos, o direito à visita, ao lazer e à correspondência e leitura pode ser restrito, de forma motivada por razões jurídicas, pelo diretor do estabelecimento. DOS DIREITOS DOS PRESOS Todo aquele que é preso tem direito de permanecer em silêncio, sem que isso importe em qualquer tipo de prejuízo à sua defesa e de ser assistido pela sua família e advogado. Deve também ser informado sobre os responsáveis pela sua prisão. Proíbe-se, igualmente, o uso de provas ilícitas, o que coloca limites, sobretudo ao modo de exercer a investigação policial, dentre outros. À pessoa condenada, assegura-se o direito a penas humanizadas, pois são vedadas as cruéis – assim entendidas as de banimento, de trabalho forçado, 43 de caráter perpétuo e de morte, salvo no caso de guerra declarada. Garante-se, constitucionalmente, o direito ao respeito e à integridade física e moral, observando-se que a pena deve ser cumprida em estabelecimento distinto, de acordo com natureza do delito, da idade e do sexo. DO DIREITO AO TRABALHO Não se duvida que um dos mais importantes fatores de coesão social, de elevação da autoestima, capaz de proporcionar o desenvolvimento da solidariedade e da disciplina, entreoutros valores, é o trabalho. Este não serve apenas para se sustentar. Possui um escopo maior, que abrange a própria possibilidade de se autodeterminar. Por essa razão, a LEP tratou especificamente do trabalho do presidiário, com finalidade educativa e produtiva (Art. 28), devendo este ser remunerado em valor não inferior a 3/4 (75%) do salário mínimo. É certo que este dinheiro possui, em parte, vinculação (como a reparação do dano causado, assistência à família e ressarcimento ao Estado com as despesas de manutenção do condenado), ressaltando-se o seu caráter social. O trabalho divide-se em interno e externo, de modo que o condenado a regime fechado só terá direito ao primeiro, exceto no caso de obras públicas realizadas pela administração pública ou a seu cargo. DA PERMISSÃO PARA SAIR DO ESTABELECIMENTO PRISIONAL No caso de condenados que cumprem pena em regime fechado, poderão obter permissão para sair do estabelecimento prisional no caso de falecimento ou doença grave do cônjuge, companheira, ascendente, descendente ou irmão, ou para tratamento médico, sempre mediante escolta. No caso de regime semiaberto, as hipóteses se ampliam para a visita à família, frequência a cursos supletivos e profissionalizantes, e à participação em atividades que concorram para o retorno ao convívio social. Para tanto, exige-se do preso bom comportamento, cumprimento mínimo de 1/6 da pena, se primário, ou 1/4, se 44 reincidente, além da compatibilidade do benefício com os objetivos da pena – por até sete dias, não podendo ser renovada mais que quatro vezes ao ano. DA DIMINUIÇÃO DO TEMPO DA PENA Destaca-se, ainda, a possibilidade de remição, ou seja, da diminuição do tempo de pena a cumprir devido ao trabalho ou estudo feito pelo preso, nos termos da lei, bem como a possibilidade de livramento condicional, quer dizer, a colocação do preso em liberdade, depois de cumprida parte da pena e determinados pressupostos. É um período de teste. Na hipótese de descumprimento das condições impostas, volta ele a ser recolhido, para o cumprimento do restante da pena. Caso contrário, ficará livre, cumprindo o restante da pena em liberdade. DA CONVIVÊNCIA DO PRESO E SEUS DESCENDENTES A criança e o adolescente gozam de proteção especial, conferida infraconstitucionalmente pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm). O correto atendimento das crianças e adolescente atingidos pelo sistema prisional requer da família, da sociedade e da administração pública um olhar atento. Nesse sentido, como exposto até aqui, a dimensão dos direitos humanos é a mais favorável para análise das diferentes dinâmicas sociais e os vínculos construídos entre filhos e pais, mesmo que estes últimos estejam privados temporariamente de sua liberdade. A Lei nº 12.962, de 18 de abril de 2014 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L12962.htm), alterou o Estatuto da Criança e Adolescente, inovando no atendimento a esta parcela de pequenos cidadãos brasileiros e mostrando que a exclusão dos descendentes do apenado não pode fazer parte da punição imposta pelo Estado. O texto sancionado reafirma o direito de convivência entre pais e filhos que agora podem ser feitos de forma periódica sem autorização prévia do poder judiciário, pelo responsável ou, em caso de acolhimento, pela instituição http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L12962.htm 45 responsável. Isso requer um forte diálogo do estabelecimento penitenciário com o serviço público de assistência social em nível local, e outros setores públicos para efetivação da norma. Esta medida deve coibir casos em que as crianças eram apartadas de seus genitores na mais tenra idade, e suas famílias perdiam o contato, tendo dificuldade de localização mesmo depois de cumprimento da pena. A permanência da criança na família de origem enseja agora a obrigatoriedade de inclusão do menor em programas oficiais de auxílio. O cumprimento deste dispositivo pode produzir as mais potentes transformações sociais, na medida em que é possível, de forma criativa, contribuir para a emancipação e autonomia do indivíduo, favorecendo o fortalecimento do tecido familiar e social. Há, ainda, uma importante inovação do diploma no que se refere à perda do pátrio poder. Lembramos a letra da lei: a condenação criminal do pai ou da mãe não implicará a destituição do poder familiar, excetuando os casos em que o crime doloso foi praticado contra os próprios filhos. Para adequado atendimento das pessoas sob custódia do Estado, assegurando cumprimento dos dispositivos legais nacionais e os pactos internacionais, é preciso identificar quais situações discriminatórias vivenciadas no cotidiano dos estabelecimentos e, de forma concreta, buscar corrigi-las. A Lei de Execução Penal – LEP trouxe ainda a instituição do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, com sede na Capital da República e subordinado ao Ministro da Justiça. O Conselho tem proporcionado valioso contingente de informações, de análises, de deliberações e de estímulo intelectual e material às atividades de prevenção da criminalidade. O Órgão busca a implementação, em todo o território nacional, de uma nova política criminal e principalmente penitenciária a partir de periódicas avaliações do sistema criminal, criminológico e penitenciário, bem como a 46 execução de planos nacionais de desenvolvimento quanto às metas e prioridades da política a ser executada. No Brasil, em 2011, foi adotado o Plano Nacional de Política Criminal e Penitenciária http://www.tjrj.jus.br/documents/10136/3231852/plano-politica- criminal-penitenciaria-2011.pdf, que estabeleceu em sua Medida nº 05 a necessidade de ações objetivando o reconhecimento e respeito à diversidade no âmbito do sistema penitenciário brasileiro. O documento aponta a necessidade de se promover iniciativas para assegurar direitos de mulheres, idosos, populações de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros, e estrangeiros presos. Trata, ainda, do direito à livre manifestação religiosa. O texto apresenta recomendações e objetivos a serem alcançados em todas as unidades prisionais, bem como nas diferentes instâncias envolvidas no cumprimento de pena. DESTACAMOS, A SEGUIR, OS PONTOS DE OBSERVÂNCIA PELA ADMINISTRAÇÃO DOS SERVIÇOS PENITENCIÁRIOS: I. Assegurar as visitas íntimas para a população carcerária LGBTTT (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis e transgêneros). II. Garantir a assistência pré-natal e a existência de espaços e serviços específicos para gestantes durante a gestação e também no período de permanência dos filhos das mulheres presas no ambiente carcerário (conforme Resolução deste Conselho). III. Elaborar políticas de respeito às mulheres transexuais e travestis nos presídios estaduais. IV. Estudar a possibilidade de unidades específicas para população LGBTT (acompanhar a experiência em andamento em Minas Gerais). V. Garantir a acessibilidade nas unidades prisionais, conforme a orientação da NBR 9050 (http://www.mpf.mp.br/atuacao- tematica/pfdc/institucional/grupos-de-trabalho/inclusao-pessoas- deficiencia/atuacao/legislacao/docs/norma-abnt-NBR-9050.pdf/view). VI. Garantir as condições de manifestação e de profecia de todas as religiões http://www.tjrj.jus.br/documents/10136/3231852/plano-politica-criminal-penitenciaria-2011.pdf http://www.tjrj.jus.br/documents/10136/3231852/plano-politica-criminal-penitenciaria-2011.pdf http://www.mpf.mp.br/atuacao-tematica/pfdc/institucional/grupos-de-trabalho/inclusao-pessoas-deficiencia/atuacao/legislacao/docs/norma-abnt-NBR-9050.pdf/view http://www.mpf.mp.br/atuacao-tematica/pfdc/institucional/grupos-de-trabalho/inclusao-pessoas-deficiencia/atuacao/legislacao/docs/norma-abnt-NBR-9050.pdf/viewhttp://www.mpf.mp.br/atuacao-tematica/pfdc/institucional/grupos-de-trabalho/inclusao-pessoas-deficiencia/atuacao/legislacao/docs/norma-abnt-NBR-9050.pdf/view 47 e credos. VII. Criar sistema de acompanhamento de estrangeiros presos no Brasil e implantar políticas de atendimento adequadas e unidades específicas para estrangeiros (quando necessário), garantindo o cumprimento das leis e dos tratados e acordos internacionais de que o Brasil é signatário. VIII. Aplicar a separação de pessoas presas por facção criminosa para aquelas que realmente estejam ligadas a grupos organizados do crime e que precisem de controle ou proteção, eliminando as separações por origem, isto é, por locais de moradia, que supostamente são comandados por determinados grupos, evitando assim a criação de unidades específicas por facções criminosas. IX. Elaborar e implantar metodologia específica para cada público (CNPCP, 2011). O Plano Nacional de Política Criminal e Penitenciária em vigência atualmente foi aprovado em novembro de 2019 e terá sua vigência entre 2020 e 2023. Face aos desafios atuais, a tríade “criminalidade violenta, corrupção e crime organizado” foi elegida como foco para a concentração dos esforços. Veja o documento vigente no endereço eletrônico: http://depen.gov.br/DEPEN/depen/cnpcp/plano_nacional- 1/Plano_Nacional_de_Politica_Criminal_e_Penitenciaria_2020_2023__FINAL_. pdf Dessa forma, dentro do novo espectro de trabalho, não houve estabelecimento pontual de medidas para a promoção ampla de direitos aos grupos vulneráveis, contudo, a noção de que precisam de ações que lhes garantam a sobrevivência de forma justa se faz presente ao longo do documento, confira: “não só a população de baixa renda merece realce, mas a igualdade de direitos, envolvendo questões correlatas à orientação sexual, portadores de necessidades especiais, http://depen.gov.br/DEPEN/depen/cnpcp/plano_nacional-1/Plano_Nacional_de_Politica_Criminal_e_Penitenciaria_2020_2023__FINAL_.pdf http://depen.gov.br/DEPEN/depen/cnpcp/plano_nacional-1/Plano_Nacional_de_Politica_Criminal_e_Penitenciaria_2020_2023__FINAL_.pdf http://depen.gov.br/DEPEN/depen/cnpcp/plano_nacional-1/Plano_Nacional_de_Politica_Criminal_e_Penitenciaria_2020_2023__FINAL_.pdf 48 cor, rala e etnia, sendo estas questões transversais em quaisquer diretrizes que visem o aperfeiçoamento da gestão criminal e penitenciária no Brasil. A garantia à dignidade humana não permite exceções”. (BRASIL, 2019. Grifo nosso) “A reorganização do sistema prisional é imperativa e urgente, perpassando por medidas básicas, como a readequação das unidades prisionais, com a inexorável observância de suas capacidades físicas instaladas, a separação dos presos – previsão expressa na Lei de Execução Penal (BRASIL, 1984), com o implemento de outras e atuais distinções pela natureza dos 81 delitos, pertencimento à organização criminosa, gêneros sexuais (por exemplo, Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais ou Transgêneros- LGBT) etc. – e culminando com o controle e o exercício do poder estatal”. (BRASIL, 2019) No dia a dia da organização penitenciária podemos presenciar práticas ou atitudes discriminatórias por parte do corpo funcional ou autoridades penitenciárias e mesmo da população carcerária que podem impactar na realização de direitos ou acesso a serviços públicos. Por exemplo, verifica-se que em determinados locais homossexuais ou travestis não podem trabalhar na cozinha ou no setor de lavanderia. Relatos informam que estes grupos são muitas vezes obrigados a portar ilícitos de outros presos. Sabe-se também que determinados cultos ou rituais religiosos são proibidos em razão do preconceito. Ou ainda, que é vedada a manutenção de alguns hábitos religiosos como vestuário, indumentárias ou preparação de alimentos culturalmente referenciados. 49 Outra situação discriminatória aponta para a aplicação de sanções disciplinares de alcance e intensidade diferentes em razão das características de cada grupo populacional específico. E mesmo ausência de locais adequados e serviços que respondam às demandas de cada indivíduo. Mas é necessário alertar para situações que possam ameaçar também os direitos de pessoas impactadas pelo sistema prisional, como familiares dos presos e presas, operadores do sistema de justiça e outros que prestam assistência à população prisional. Matérias de caráter jornalístico, registros de audiências públicas e estudos revelam, por exemplo, irregularidades que ocorrem nas revistas em dias de visita nas unidades prisionais, ficando conhecidas por adotar procedimentos vexatórios, como revista corporal, desnudamento e abordagem dos funcionários de forma violenta. São expostas a esta situação especialmente mulheres, travestis e transexuais, pessoas idosas e, até mesmo, crianças e bebês, mesmo não existindo fundamentada suspeita, um dos casos excepcionais que justificariam maior rigor. Por esta razão, tramita no Congresso Nacional o projeto de Lei nº 480/2013 para proibir a revista íntima. A Corte Interamericana de Direitos Humanos também acompanha o caso a partir de queixas formuladas pelas entidades de defesa de direitos. Na década de 1990, a Argentina foi condenada por este órgão pela adoção desta prática em seus estabelecimentos prisionais. 50 Aula 3- Diversidade social no sistema penitenciário Nesta aula, analisaremos a situação de cada grupo populacional em cumprimento de pena ou impactado pelo sistema penitenciário como também familiares da pessoa presa, buscando articular aspectos conceituais, dimensões das conquistas sociais históricas e marcos legais existentes para as mulheres e identidades de gênero. As mudanças sociais e principalmente a atuação dos movimentos organizados em níveis nacional e internacional, vem impactando na elaboração e implantação de políticas públicas considerando uma perspectiva de gênero, ou seja, o entendimento sobre as diferenças entre homens e mulheres para além dos conceitos biológicos, que leva em consideração também os aspectos culturais, econômicos e políticos que produzem a desigualdade. A seguir, abordaremos mais detidamente cada um desses principais grupos populacionais. POLÍTICAS PARA AS MULHERES E IDENTIDADES DE GÊNERO Segundo o International Centre for Prision Studies o aprisionamento feminino cresce em todos os continentes. Em aproximadamente 80% dos países, as mulheres representam de 02% a 09% do total da população carcerária. O retrato da população prisional brasileira tem mostrado o aumento do encarceramento feminino. Em 2019, o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias – INFOPEN/DEPEN, demonstra esse aumento, veja: 51 Figura 20 – Encarceramento feminino. FONTE: INFOPEN. Dados relativos a Dezembro de 2019. Disponível em: https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiZTlkZGJjODQtNmJlMi00OTJhLWFlMDktNzRlNmFkNTM0MWI3Ii %20widCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9. Acesso em 18 jun. de 2020. Dados extraídos do INFOPEN/DEPEN, mostra a realidade dentro do sistema carcerário feminino, confira: Figura 21 - Estatística Feminina Fonte: SCD/EaD/Segen https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiZTlkZGJjODQtNmJlMi00OTJhLWFlMDktNzRlNmFkNTM0MWI3Ii%20widCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9 https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiZTlkZGJjODQtNmJlMi00OTJhLWFlMDktNzRlNmFkNTM0MWI3Ii%20widCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9 52 No Brasil, a Lei de Execução Penal – LEP –, desde 1984, garantiu determinados direitos à presidiária, a saber: que seja recolhida separadamente em estabelecimento próprio adequado e que sejam disponibilizadas exclusivamente funcionárias mulheres. Igualmente, garantiu o acompanhamento médico à mulher, especialmente no pré-natal, pós-parto, e ao recém-nascido.Figura 22 Fique Atento - Direitos Mulher Fonte: SCD/EaD/Segen A legislação e o sistema penitenciário têm avançado no reconhecimento das questões de gênero, apesar de que, ainda, muito se tem a fazer. Vamos conhecer um pouco dos principais acontecimentos que marcaram a evolução quanto aos direitos das mulheres presas, confira: 2004 53 Realização da I Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, realizada em 2004 pela Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) e pelo Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM). Igualdade na diversidade, autonomia das mulheres, universalidade, participação e transparência dos atos públicos foram princípios deliberados por unanimidade na I Conferência e que nortearam não só a formulação do Plano Nacional, mas que seguem orientando sua implementação 2007 Realização da II Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, realizada em 2007 pela Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) e pelo Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM). 2008 Após ampla consulta aos entes federados e representantes da sociedade civil, e discussão com demais órgãos que integram sistema de justiça, foi elaborado o II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres Presas (http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/planonacional_politicamulheres.pdf), aprovado em 2007, lançado em 2008. Entre os principais desafios está a construção de planos operacionais locais e a constituição de comitês em cada ente federado para acompanhamento e monitoramento das ações previstas e pactuadas no plano. Houve a criação de um grupo de trabalho interministerial para reorganização e reformulação do sistema prisional feminino, importante passo, considerando as recomendações da I e II Conferências Nacionais de Políticas para as Mulheres. Coordenado pela então Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República e o Ministério da Justiça, por meio do Departamento Penitenciário Nacional, para analisar a situação da mulher encarcerada em todo o país, notadamente nas cadeias públicas. O grupo reuniu representantes de diferentes ministérios e órgãos públicos, bem como organizações da sociedade civil e especialistas no tema. http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/planonacional_politicamulheres.pdf 54 Os resultados do trabalho foram apresentados em eventos públicos e na publicação do Relatório Final, que representou um marco na construção de diretrizes para atenção às mulheres presas. 2009 Em 2009, chama atenção, a Resolução CNPCP nº 3, de 15 de julho de 2009, que versa sobre a estada, permanência e posterior encaminhamento das (os) filhas(os) das mulheres encarceradas. A publicação estabelece que deva ser garantida a permanência de crianças no mínimo até um ano e seis meses para as (os) filhas (os) de mulheres encarceradas junto às suas mães. Após este período, há necessidade de se construir processo gradual de separação a partir da fixação de etapas conforme quadro psicossocial da família, que podem durar até 06 (seis) meses. A normativa possibilita que crianças até 07 (sete) anos possam permanecer junto às suas mães nas unidades prisionais, mas desde que o estabelecimento reúna as condições para atender melhor o interesse do menor nesta fase de desenvolvimento. 2011 Em 2011, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas aprovou resolução para os Estados-membros contendo regras de atenção às mulheres presas e em cumprimento de medidas alternativas, conhecidas como Regras de Bangkok. O texto reitera as dimensões aprovadas nas Regras Mínimas de Tratamento de Presos, considerando agora as especificidades da condição do gênero feminino. É criada a Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres (https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/entenda-a- violencia/pdfs/politica-nacional-de-enfrentamento-a-violencia-contra-as- mulheres), que tem por finalidade estabelecer conceitos, princípios, diretrizes e ações de prevenção e combate a violência contra as mulheres. https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/entenda-a-violencia/pdfs/politica-nacional-de-enfrentamento-a-violencia-contra-as-mulheres https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/entenda-a-violencia/pdfs/politica-nacional-de-enfrentamento-a-violencia-contra-as-mulheres https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/entenda-a-violencia/pdfs/politica-nacional-de-enfrentamento-a-violencia-contra-as-mulheres 55 Ainda no ano de 2011, considerando a necessidade de elaboração de políticas públicas integradas para as mulheres encarceradas, o Depen cria o projeto “Efetivação dos Direitos das Mulheres no Sistema Penal”, que tem por objetivo atender às necessidades da população feminina privada de liberdade. 2012 Mais adiante, em 2012, no âmbito do Ministério da Justiça, é criada a Comissão Especial do Projeto Efetivação dos Direitos das Mulheres Presas. O “Projeto Mulheres” merece destaque, uma vez que faz o acompanhamento das ações nos presídios femininos nos Estados, incentiva estudos e estatísticas sobre a mulher no sistema penal, busca ampliar as políticas de acesso aos direitos das presidiárias, entre outros. As propostas elaboradas neste projeto retratam ações que precisam ser enfrentadas na conjuntura atual da política penitenciária e das políticas sociais, como forma de garantir os direitos das mulheres em situação de privação de liberdade, egressas e seus familiares, rechaçando, assim, práticas institucionais violadoras dos direitos humanos. Também foi instituído, por meio da Portaria MJ nº 885 de maio de 2012, um Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) que ficou responsável pela elaboração de políticas intersetoriais e integradas, destinadas às mulheres em situação de privação de liberdade, restrição de direitos e às egressas. 2014 Em janeiro de 2014, foi instituída a Política Nacional de Atenção às Mulheres em Situação de Privação de Liberdade e Egressas do Sistema Prisional – PNAMPE – (http://www.lex.com.br/legis_25232895_PORTARIA_INTERMINISTERIAL_N_2 10_DE_16_DE_JANEIRO_DE_2014.aspx), por meio de uma portaria interministerial. O propósito do Ministério da Justiça e da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República é reformular as práticas do sistema prisional brasileiro, visando a garantia dos direitos das mulheres, http://www.lex.com.br/legis_25232895_PORTARIA_INTERMINISTERIAL_N_210_DE_16_DE_JANEIRO_DE_2014.aspx http://www.lex.com.br/legis_25232895_PORTARIA_INTERMINISTERIAL_N_210_DE_16_DE_JANEIRO_DE_2014.aspx 56 nacionais e estrangeiras, presas em estabelecimentos penitenciários e delegacias em todo o Brasil. Voltada também para os funcionários que atuam nos estabelecimentos penitenciários, a Política também prevê alterações e orientações para as rotinas carcerárias, com atenção às diversidades e especificações das mulheres, no que diz respeito à idade, escolaridade, etnia, maternidade e outros aspectos, além de condições adequadas de cumprimento de pena, garantindo o direito à saúde, educação, proteção à maternidade e à infância, atendimento psicossocial e demais direitos humanos. Deve-se destacar, ainda, a relevante atuação da Defensoria Pública, que tem constituído núcleos de assistência à mulher, e possuem o direito de vistoriar os presídios para verificar o cumprimento da lei. Espera-se que uma atuação conjunta do poder público propicie condições adequadas para a reintegração social da presa, como preconizado na lei de execução penal, o que dependerá da articulação e integração de políticas públicas e do apoio da comunidade. 57 Figura 23 - Sugestão de Filmes Fonte: SCD/EaD/Segen POPULAÇÕES INDÍGENAS A população indígena brasileira, segundo resultados do último Censo Demográfico realizado pelo IBGE em 2010, é de 817.963, representando 305 diferentes etnias dos quais 502.783
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