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APOSTILA-Geografia-Econômica-Referências-bibliográficas

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FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
GEOGRAFIA ECONÔMICA 
 
 
 
 
 
VENDA NOVA DO IMIGRANTE - ES
 
 
 
SUMÁRIO 
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 5 
2 GEOGRAFIA ECONÔMICA............................................................................. 5 
3 GEOGRAFIA ECONÔMICA NOS PROCESSOS HISTÓRICOS E 
CONTEMPORÂNEOS DE PRODUÇÃO DO ESPAÇO. ................................................... 6 
3.1 Espaço Geográfico .................................................................................... 9 
4 MERCOSUL .................................................................................................. 12 
4.1 Dimensões estratégicas, geopolíticas e geoeconômica .......................... 13 
4.2 O acercamento Brasil-Argentina: abandonando a rivalidade geopolítica 14 
4.3 Uma base geoeconômica para a inserção internacional ......................... 18 
5 O CAPITALISMO ........................................................................................... 22 
5.1 As origens 25 
5.2 A produção para a troca .......................................................................... 25 
5.3 Capital usurário e capital mercantil ......................................................... 26 
5.4 O capital manufatureiro ........................................................................... 27 
5.5 A revolução industrial .............................................................................. 28 
5.6 A burguesia capitalista ............................................................................ 29 
6 O MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA ..................................................... 30 
6.1 Mais-valia e lucro. ................................................................................... 30 
6.2 Capital e trabalho .................................................................................... 33 
7 AS CONTRADIÇÕES DO CAPITALISMO ..................................................... 34 
7.1 As crises 36 
7.2 A irracionalidade do modo de produção capitalista ................................. 37 
7.3 Alienação e luta de classes ..................................................................... 38 
 
 
8 AS ETAPAS HISTÓRICAS DO CAPITALISMO ............................................. 40 
8.1 A primeira revolução industrial ................................................................ 40 
8.2 O imperialismo ........................................................................................ 41 
8.3 A revolução tecnológica .......................................................................... 44 
8.4 As contradições do neocapitalismo ......................................................... 46 
8.5 As recessões ........................................................................................... 46 
8.6 Uma irracionalidade crescente ................................................................ 47 
8.7 Um proletariado renovado ....................................................................... 48 
9 A CAPACIDADE DE ADAPTAÇÃO DO SISTEMA ........................................ 49 
9.1 Os limites de adaptabilidade - A saturação das necessidades ................ 50 
9.2 A extinção do salariato ............................................................................ 51 
9.3 Declínio do trabalho manual .................................................................... 52 
9.4 A hierarquia em perigo ............................................................................ 53 
10 ECONOMIA DO BRASIL, ORGANIZAÇÃO ECONÔMICA ......................... 55 
11 DIVISÃO TÉCNICA E SOCIAL DO TRABALHO ........................................ 59 
12 ESPAÇO INDUSTRIAL BRASILEIRO ........................................................ 61 
12.1 Desconcentração industrial e Desmetropolização ................................ 63 
13 ESPAÇO AGRÁRIO BRASILEIRO ............................................................. 64 
13.1 As questões ligadas a terra .................................................................. 66 
13.2 Agricultura Familiar x Agricultura Comercial ........................................ 66 
13.3 A Geografia dos conflitos fundiários no Brasil ...................................... 67 
14 FONTES ENERGÉTICAS E SUA RELAÇÃO ECONÔMICA ...................... 69 
14.1 Hidrogênio 69 
14.2 Carvão mineral ou natural .................................................................... 71 
14.3 Petróleo 75 
 
 
14.4 Energia Nuclear ................................................................................... 78 
14.5 Hidrelétricas ......................................................................................... 80 
15 FORMAÇÃO DOS GRANDES MERCADOS MUNDIAIS............................ 83 
15.1 A Formação dos Blocos Econômicos................................................... 85 
16 REFERÊNCIAS .......................................................................................... 87 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
Nessa apostila abordaremos de forma sucinta a geografia econômica. 
Estudaremos as formas de organização econômica no espaço geográfico mundial bem 
como a gênese das relações econômicas que abrange a divisão técnica e social do 
trabalho. Veremos ainda sobre a diversidade do espaço econômico agrário, industrial e 
energético e explanaremos sobre a formação dos grandes mercados mundiais, tal qual o 
desenvolvimento socioeconômico e espacial do mundo atual. 
 
2 GEOGRAFIA ECONÔMICA 
 
 
A Geografia Econômica procura compreender as inter-relações entre espaço e 
economia. É o ramo do conhecimento responsável por compreender a lógica da produção 
e distribuição das atividades econômicas. Além disso, ela visa entender a influência 
dessas manifestações produtivas sobre o espaço geográfico e as interferências que o 
meio realiza sobre elas. 
 
 
 
 
A Geografia econômica estudas as relações produtivas e o espaço geográfico. 
Fonte: www.brasilescola.uol.com.br
http://www.brasilescola.uol.com.br/
 
6 
 
Podemos considerar que o espaço geográfico, tanto no meio urbano quanto no 
meio rural é essencialmente produzido, ou seja, é construído pelas práticas humanas. O 
estabelecimento dessas práticas está, quase sempre, relacionado à manifestação de 
condutas no meio financeiro e tecnológico que irão sustentar ações de impacto. 
Um exemplo dos efeitos econômicos sobre o meio geográfico é a ocorrência da 
Revolução Industrial que, via “revolução verde”, conseguiu dinamizar e, ao mesmo 
tempo, mecanizar a produção no campo, o que teve como consequência a ampliação da 
fronteira agrícola no Brasil e a intensificação do êxodo rural nas sociedades 
subdesenvolvidas em geral. 
Em termos práticos, os estudos de Geografia Econômica costumam ser 
segmentados em três partes principais: a) a distribuição das atividades econômicas e 
produtivas sobre o espaço; b) a história das estruturas econômicas e c) a análise das 
composições da economia em nível regional e suas relações com a dinâmica global.1 
 
 
3 GEOGRAFIA ECONÔMICA NOS PROCESSOS HISTÓRICOS E 
CONTEMPORÂNEOS DE PRODUÇÃO DO ESPAÇO. 
 
O espaço geográfico, concebido enquanto elemento da sociedade, é produzido e 
correntemente transformado, apresentando diversas formas, funções e características. 
O espaço geográfico corresponde ao espaço construído pelas atividades humanas 
e pelas sociedades, sendo por elas explorado e correntemente transformado. Ele difere- 
se do meio natural por ser o local onde imediatamente se observa a atuação do ser 
humano sobre o meio, com a geração de seus respectivos impactos. Trata-se, contudo, 
de um conceito que possui várias definições e abordagens. 
 
 
 
 
 
 
1 Texto extraído de https://brasilescola.uol.com.br/geografia/geografia-economica.htm 
https://brasilescola.uol.com.br/geografia/espaco-geografico.htm7 
 
 
Espaço geográfico: múltiplo, diverso e complexo! Fonte: www.brasilescola.uol.com.br 
 
 
De maneira geral, é correto dizer que há uma produção do espaço geográfico, ou 
seja, ele é resultante das atividades sociais nas esferas econômica, cultural, educacional 
e outras. Por esse motivo, compreendê-lo é também uma forma de entender o próprio 
ser humano e a estrutura das sociedades. 
Há que se dizer que, além de produzido, o espaço geográfico é 
propriamente concebido. Isso quer dizer que, além de resultado das práticas e 
intervenções humanas sobre o meio, ele é fruto da forma com que as pessoas enxergam 
a realidade. Nesse sentido, o espaço também interfere nas diferentes maneiras com que 
podemos apreender a realidade e a ela dar significado, ganhando, nesse sentido, uma 
substância, em termos de conteúdo, que lhe dá uma dinâmica própria. 
É nesse sentido que surge o conceito de lugar, que nada mais é do que o espaço 
percebido e também aqueles locais sobre os quais os sujeitos adquirem afeição e 
familiaridade. Aquele ponto turístico preferido, a rua da sua casa ou até a fazenda para 
onde uma pessoa qualquer costuma viajar são exemplos de lugar, que ganha, portanto, 
um aspecto subjetivo e individual. Nesse contexto, a Geografia também é a ciência dos 
lugares. 
http://www.brasilescola.uol.com.br/
 
8 
 
Desde os primórdios da humanidade, antes mesmo da invenção da escrita, os 
seres humanos atuam no processo de modificação da natureza. Com o tempo, essa 
prática foi se tornando cada vez mais comum e culminou no desenvolvimento das 
civilizações, todas elas dotadas de seus espaços, sem os quais não seria possível ter 
referências sobre elas. Assim sendo, esse espaço é parte constituinte da sociedade que 
o constrói e, de certa forma, reflexo dela, sendo o produto de suas visões de mundo, 
práticas sociais, religiões, culturas e, claro, de seu poder. Atualmente, podemos dizer que 
o nosso espaço atual é fruto não só da sociedade contemporânea, mas também um 
produto de seu passado. 
O espaço geográfico, pois, carrega consigo elementos do passado e do presente, 
sendo o testemunho mais explícito das diferenças de valores culturais, arquitetônicos e 
morais dos diferentes períodos da história. Quando observamos um prédio antigo ou 
andamos por ruas centenárias, somos capazes de perceber, ao menos em partes, os 
valores de épocas anteriores. 
É nesse sentido que podemos notar a dinâmica da paisagem, outro importante 
conceito atrelado à ideia de espaço geográfico. Ela não é só a aparência do meio em que 
vivemos, mas também um reflexo e um condicionante de suas formas e conteúdos. Por 
definição, podemos compreender a paisagem como tudo aquilo que podemos apreender 
por meio de nossos sentidos (visão, tato, olfato, paladar e audição), embora também 
existam as chamadas “paisagens ocultas”, aquelas que se escondem ou são ofuscadas 
pelas práticas sociais, seja por questões econômicas, seja por visões de preconceito, 
entre outros. 
Além das paisagens, para melhor compreender o espaço geográfico, muitas vezes 
é preciso compreendê-lo em seus aspectos regionais. Para definir o que seria 
uma região, outro importante conceito, é necessária a adoção de um critério (natural, 
cultural, econômico, político, etc.) para estabelecer aquilo que chamamos de 
regionalização. Portanto, região é a porção do espaço dividida e observada a partir de 
um critério específico, elaborado conforme os nossos interesses e convicções, havendo, 
dessa forma, tantas regiões quanto critérios diferentes utilizados para elaborá-las. 
Mas é importante também conceber que o espaço geográfico possui diferentes 
dinâmicas e relações, carregando consigo os valores morais da sociedade. Em muitos 
 
9 
 
casos, relações de poder são estabelecidas e o espaço passa a ser apropriado, ou seja, 
controlado. Essa apropriação pode receber limites e fronteiras (a exemplo do território 
nacional), mas em outros casos não (como os territórios dos traficantes nas favelas, 
quando os limites não são muito precisos). Por isso, torna-se importante a compreensão 
do território, que é o espaço delimitado a partir das relações de poder, podendo se 
apresentar em várias escalas (do local ao global) e também em múltiplas formas 
(contínuo, em rede, etc.). 
Portanto, podemos notar que o espaço é um elemento bastante complexo da 
realidade, tanto é que ele possui uma ciência específica que se preocupa em estudá-lo: 
a Geografia. Ela analisa-o como um fenômeno social, mas também se preocupa em 
estudar e compreender as paisagens naturais, haja vista que o seu substrato é de 
imediato interesse para a sociedade e suas atividades.2 
 
 
3.1 Espaço Geográfico 
 
O conceito de espaço geográfico varia conforme a abordagem realizada. Mas, em 
geral, refere-se à materialização da relação entre o homem e o meio. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 Texto extraído de https://brasilescola.uol.com.br/geografia/producao-espaco-geografico.htm 
 
10 
 
 
 
O espaço geográfico envolve uma diversidade de aspectos e elementos. 
Fonte: www.brasilescola.uol.com.br 
 
 
O Espaço Geográfico é um importante conceito para a Geografia, haja vista que 
ele é o objeto principal de estudo dessa área do conhecimento. Sendo assim, entender o 
espaço geográfico significa também compreender o papel que essa ciência possui no 
sentido de investigar a realidade tanto em seu aspecto social quanto em suas premissas 
naturais, com ênfase nas relações entre sociedade e natureza. 
Não há, no entanto, um consenso entre os geógrafos sobre o que seria, 
exatamente, o espaço geográfico, haja vista que muitos deles orientam-se a partir de 
diferentes correntes de pensamento que apresentam diferentes perspectivas. Por 
exemplo, para a corrente Nova Geografia, o espaço geográfico corresponde à 
organização da sociedade e seus elementos sobre o meio. 
http://www.brasilescola.uol.com.br/
 
11 
 
Há autores, como Richard Hartshorne3, que defendem que o espaço geográfico é 
apenas uma construção intelectual, não existindo de fato na sociedade. Seria, nesse 
caso, uma concepção da forma como nós enxergamos a realidade no sentido de 
apreender como acontece a espacialização da sociedade e tudo o que por ela foi 
construído. 
Já Milton Santos4 afirma que o espaço geográfico é um conjunto de sistemas de 
objetos e ações, isto é, os itens e elementos artificiais e as ações humanas que manejam 
tais instrumentos no sentido de construir e transformar o meio, seja ele natural ou social. 
Para os geógrafos humanistas, porém, o conceito de espaço geográfico estaria 
atrelado à questão subjetiva, cultural e individual. Nesse sentido, o espaço é o local de 
morada dos seres humanos e, mais do que isso, é o meio de vivência onde as pessoas 
imprimem suas marcas cotidianamente, proporcionando novas leituras à medida que a 
compreensão do mundo se modifica. 
Portanto, se consideramos apenas algumas das várias definições existentes, 
podemos perceber que o conceito em questão possui várias visões conflitantes entre si. 
O que, no entanto, pode ser estabelecido como consenso é que o espaço geográfico 
representa a intervenção do homem sobre o meio, ou seja, um produto (que, dependendo 
da abordagem, pode também ser um produtor) das relações humanas e suas práticas 
sobre o substrato natural. 
Se ao longo de um rio, por exemplo, constrói-se uma ponte, estamos provocando 
a alteração das paisagens locais, o que representa a expressão do espaço geográfico. 
Se em uma cidade adotam-se medidas de revitalização de áreas degradadas, temos aí 
a transformação do espaço. Portanto, tudo o que é construído pelo homem é, 
notadamente, geográfico: hidrelétricas, cidades, campos agrícolas, sistemas de irrigação, 
entre outros elementos, são as construções mais visíveis do espaço geográfico.5 
 
 
3 Richard Hartshorne (1899-1992) foi um geógrafo estadunidense muito conhecidopela ampla difusão de suas 
principais obras: A Natureza da Geografia e Propósitos e Natureza da Geografia. Trata-se de um dos principais nomes 
dessa ciência, com uma vasta obra que deixou um importante legado, incluindo conceitos e observações ainda hoje 
empregados. 
4 Milton Santos foi um geógrafo brasileiro, considerado por muitos como o maior pensador da história da Geografia 
no Brasil e um dos maiores do mundo. Destacou-se por escrever e abordar sobre inúmeros temas, como a 
epistemologia da Geografia, a globalização, o espaço urbano, entre outros. 
5 Texto extraído de https://brasilescola.uol.com.br/geografia/espaco-geografico.htm 
https://brasilescola.uol.com.br/geografia/richard-hartshorne.htm
https://brasilescola.uol.com.br/geografia/milton-santos.htm
 
12 
 
 
Hidroelétrica, um exemplo da intervenção do homem sobre o meio. 
Fonte: www.brasilescola.uol.com.br 
 
 
 
 
 
4 MERCOSUL 
 
 
O Mercosul, iniciativa lançada na última década do século XX, constitui o primeiro 
processo de integração sul-americano a apresentar resultados concretos e a abrir 
alternativas regionais para uma melhor inserção internacional da região, atualmente nos 
quadros de uma ordem mundial emergente. A preocupação central deste ensaio é 
apresentar, a partir da perspectiva brasileira, a estratégia que o Mercosul representa para 
uma política de integração regional e de inserção mundial, bem como levantar novas 
questões pra um debate mais ousado e menos oficioso sobre este importante tema das 
relações internacionais sul-americanas e hemisféricas. 
http://www.brasilescola.uol.com.br/
 
13 
 
 
 
 
 
Fonte: www.mercosur.int 
 
 
 
 
 
 
4.1 Dimensões estratégicas, geopolíticas e geoeconômica 
 
Dentre as questões negligenciadas nas análises sobre o Mercosul, encontram-se 
os aspectos estratégicos internacionais, geopolíticos e geoeconômicos. O discurso liberal 
engendrou um raciocínio centrado exclusivamente nos aspectos comerciais. Há, contudo, 
elementos indicadores da permanência, nem sempre explícita, de fatores políticos ditos 
“tradicionais”, como os estratégicos, geopolíticos e os geoeconômicos, que 
supostamente teriam perdido seu potencial explicativo com o fim da Guerra Fria. Não se 
trata, neste caso, simplesmente de aplicar instrumentos de análise utilizados no passado, 
mas de considerar que, no quadro do atual processo de reordenamento mundial e de 
http://www.mercosur.int/
 
14 
 
redimensionamento do espaço territorial nos marcos da globalização, tais questões 
mantêm sua pertinência, além de necessidade de repensá-las à luz das novas realidades. 
Neste sentido, o Mercosul, na perspectiva da estratégia diplomática brasileira, 
representa bem mais que os interesses comerciais de curto e médio prazos, ainda que 
os aspectos conjunturais e reativos possuam um peso considerável. É possível 
especular-se a respeito de uma sutil estratégia visando construir um espaço econômico 
regional ampliado, como base para a inserção internacional e, implicitamente, para forjar 
uma geopolítica particular. Elas envolveriam, num primeiro momento, a região platina, 
ampliando-se para os países andino-amazônicos e, finalmente, englobando a África 
austral. 
 
 
 
4.2 O acercamento Brasil-Argentina: abandonando a rivalidade geopolítica 
 
Historicamente, a matriz da integração regional sul-americana tem sido a 
cooperação entre os dois maiores países da região, o Brasil e a Argentina. O primeiro 
acercamento sistemático entre ambos os países, que se estendeu dos anos 50 até o final 
dos 70, no contexto sucessivo dos regimes populistas e dos regimes militares de 
Segurança Nacional ante esquerdista, se saldará por mais um fracasso. As estratégias 
da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina da ONU, 1948) não conseguiram 
gerar soluções para os impasses do desenvolvimento, especialmente no quadro das 
repercussões hemisféricas da Revolução Cubana e da reação norte-americana. Foi nas 
Américas, impulsionadas em parte pela Cepal, mas fortemente condicionadas pelos 
Estados Unidos, desejosos de manter sua influência no continente, numa conjuntura 
histórica marcada pela crise e radicalização do nacionalismo populista e pela Revolução 
Cubana. 
A ALALC (Associação Latino-Americana de Livre Comércio), estabelecida em 
1960 entre os países sul-americanos e o México, além dos objetivos comerciais, almejava 
fomentar a industrialização e a diversificação econômica, enquanto a Aliança para o 
Progresso, proposta pelos Estados Unidos em 1961, referia-se vagamente, no campo da 
integração, ao estabelecimento de uma zona de livre-comércio. Estas primeiras tentativas 
 
15 
 
de integração foram seguidas por outras nos anos 60, como as do Mercado Comum 
Centro-Americano (MCCA), da Área de Livre-Comércio do Caribe (Carifta, depois 
Caricom) e do Pacto Andino. 
As razões do relativo insucesso dessas experiências, à luz dos objetivos 
propostos, encontram-se vinculadas à estrutura das economias de substituição de 
importações, que eram pouco propícias à abertura de mercados, ao caráter que os 
Estados Unidos, enquanto outros, como o Brasil, aprofundaram a industrialização por 
substituição de importações. Além disso, as concepções geopolíticas que os orientavam 
conduziram ao acirramento de desconfianças mútuas e rivalidades. 
Apesar disso, entre a década de 50 e o final da década de 70, configurou-se uma 
situação nova nas relações entre alguns países latino-americanos, particularmente entre 
a Argentina e o Brasil, que viriam a ser importantes para o futuro: em conjunturas 
globalmente adversas para os países da região, propiciava-se um acercamento que 
extrapolava as simples relações econômicas. Além do Pacto ABC nos anos 50, em abril 
de 1961, logo após o episódio da Baía dos Porcos, os presidentes Arturo Frondizi e Jânio 
Quadros assinaram o Tratado de Uruguaiana, que previa um amplo leque de cooperação, 
desde tecnológica e comercial até o estabelecimento de consultas diplomáticas para a 
adoção de uma posição comum nos assuntos hemisféricos e mundiais. 
Fonte: www.efficienza.com.br 
http://www.efficienza.com.br/
 
16 
 
Em 1980 a ALALC foi substituída pela Aladi, que, como o nome indica, objetivava 
o desenvolvimento e a integração, e o Sistema Econômico Latino-Americano (SELA), que 
buscava liberalizar o comércio baseando-se em mecanismos mais flexíveis que os 
empregados pela ALALC. Estas iniciativas davam-se numa conjuntura adversa para a 
América Latina, como se verá a seguir, e esta circunstância iria permitir o avanço do 
processo de integração. Contudo, as novas instituições criavam um marco geral para a 
integração, e não produziam a integração em si mesma, processo que dependia da 
vontade política de alguns atores de peso. Ao acercamento Brasil-Argentina viria a ser a 
espinha dorsal da integração regional, coroada com a constituição do Mercosul em 1991. 
Ao contrário do que afirmam certos manuais oficiosos sobre as relações internacionais 
latino-americanas, este acercamento não é resultado da democratização, mas fruto de 
um processo anterior e bem mais complexo e profundo, do qual a redemocratização 
constitui apenas um dos aspectos. 
Ao longo das décadas de 70 e 80, o processo de reorganização econômica e 
política mundial foi tornando inviável a estratégia de inserção internacional do Brasil, tal 
como foi descrita anteriormente. A revolução científico-tecnológica, a nova divisão 
internacional da produção, a nova onda globalizante comercial-financeira e a crise do 
campo soviético, produziram mais e mais dificuldades para o paradigma em que se 
assentavam as relações exteriores brasileiras. Além disso, no plano interno, a recessão 
econômica, a crise da dívida externa, a crise de governabilidade e o processo de 
redemocratização contribuíram para enfraquecer a política externa o país. 
No novo quadro internacional adverso que se criava, desde o choque petrolífero 
de 1973, masparticularmente com a reorganização do capitalismo internacional que se 
seguiu, o governo Geisel começou a revalorizar a América Latina como espaço para a 
política externa brasileira. Não bastava tentar ampliar a influência sobre os pequenos 
países vizinhos, como vinha fazendo o governo Médici: era necessário melhorar as 
relações com a Argentina. O governo Geisel tratou de negociar com Buenos Aires o 
contencioso da barragem hidrelétrica de Itaipu, especialmente após o início do Processo 
na Argentina em 1976. A iniciativa neste e em outros campos da relação bilateral foi 
continuada e aprofundada durante o governo Figueiredo (1979-85). Por esta razão, 
quando ocorreu a Guerra das Malvinas, em 1982, em pleno quadro da crise da dívida 
 
17 
 
externa que se abatia sobre a América Latina e da nova Guerra Fria do governo Reagan, 
pode-se considerar que houve não um simples apoio brasileiro à Argentina durante o 
conflito, mas que amadureceu um processo de crescente convergência entre os dois 
países, e mesmo uma aliança. 
Desde que o governo Geisel, longe de aceitar o impacto negativo que o 
reordenamento político-econômico mundial impunha sobre o desenvolvimento brasileiro, 
optara por aprofundar ainda mais a industrialização por substituição de importações e 
imprimir um rumo ainda mais autônomo pra a política externa, as pressões internacionais 
pela redemocratização do país se intensificaram. Não questiono aqui a posição dos 
grupos políticos domésticos que, desde a implantação do regime militar, lutavam contra 
a ditadura, mas chamo a atenção para a mudança de atitude política de importantes 
atores internacionais e de grupos brasileiros a eles vinculados. A política externa e o 
projeto de desenvolvimento eram os alvos centrais das novas pressões internacionais. A 
Argentina viveu algo semelhante durante a Guerra das Malvinas, quando as potências 
ocidentais, particularmente os Estados Unidos, deixaram claro que não necessitavam 
mais de seu regime militar no novo contexto mundial e regional. A nova agenda 
internacional enfatizava agora a abertura dos mercados internos dos países periféricos e 
a redemocratização, não apenas voltada contra os países socialistas e os regimes 
revolucionários do Terceiro Mundo, mas que também constituía um eficaz meio de 
desconcentração (e enfraquecimento) do processo de tomada de decisões diplomáticas. 
O retorno da democracia, com os presidentes Raul Alfonsín e José Sarney, se dá, 
portanto, numa conjuntura adversa do ponto de vista econômico e diplomático. A crise 
da dívida faz com que os países latino-americanos sejam extremamente vulneráveis às 
pressões do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, num quadro de graves 
dificuldades econômicas, enquanto o conflito centro-americano permite ao governo 
Reagan trazer a Guerra Fria para o âmbito hemisférico, o que lhe possibilita também 
utilizar instrumentos diplomáticos e militares para exercer uma pressão suplementar 
sobre a América Latina. Neste contexto os dois países aderem ao Grupo de Apoio à 
Contadora e iniciam um acercamento sistemático e institucionalizado. 
Em 1985, por intermédio da Declaração de Iguaçu, foi estabelecida uma comissão 
para estudar a integração entre os dois países e em 1986 foi assinada a Ata para 
 
18 
 
Integração e Cooperação Econômica, que previa a intensificação e diversificação, 
Cooperação e Desenvolvimento Brasil-Argentina, que previa o estabelecimento de um 
mercado comum entre os dois países no prazo de dez anos. O que estava por trás desta 
cooperação, a par dos fatores já apontados, é a marginalização crescente da América 
Latina no sistema mundial, a tentativa de formular respostas diplomáticas comuns aos 
fluxos de desvio de comércio e um esforço conjunto no campo tecnológico e de projetos 
específicos. 
 
 
Fonte: www.futuro-europa.it 
 
 
4.3 Uma base geoeconômica para a inserção internacional 
 
Desde o início dos anos 90, a diplomacia brasileira teve que abandonar a retórica 
terceiro-mundista de solidariedade entre países em desenvolvimento, concentrando-se 
no questionamento pontual de regras internacionais que considera injustas e 
obstaculizadas do desenvolvimento dos países periféricos. Um grande número de 
questões relativas à matriz anterior de política externa foi retirado da agenda 
internacional, enquanto novas eram incluídas, como a questão dos direitos humanos, 
meio ambiente, programa nuclear, normas de propriedade intelectual e o fim da reserva 
de mercado para a indústria nacional de informática. A adoção de diferentes regimes 
internacionais, a busca da manutenção de relações satisfatórias com os Estados Unidos 
http://www.futuro-europa.it/
 
19 
 
e a abertura do mercado interno brasileiro, bem como a recente implementação do Plano 
de Estabilização Monetária (Plano Real, de julho de 1994), procurou estabelecer a 
confiança junto aos investidores internacionais e adaptar o país às novas realidades. 
Apesar destas medidas, que sinalizam no sentido de uma aceitação das regras 
internacionais, o Brasil não abandonou suas parcerias diversificadas nem suas 
características de global trader. 
Como foi possível conciliar as duas dimensões? Como as condições de inserção 
internacional tornaram-se ainda mais adversas nos anos 80, a diplomacia brasileira não 
conseguiu mais manter suas relações com importantes regiões do mundo na mesma 
intensidade com que vinha fazendo. O protecionismo crescente e as novas realidades 
internacionais tornaram as relações com a Comunidade Europeia e com o Japão mais 
difíceis, enquanto a crise do campo soviético e do Terceiro Mundo inviabilizaram, ao 
menos temporariamente, a manutenção de vínculos privilegiados com estas regiões. Da 
mesma forma, a ordem regional estabelecida no Oriente Médio após a segunda guerra 
do Golfo encerrou as possibilidades de relações estratégicas com esta área. 
Assim, quanto mais se deterioravam as condições internacionais, mais a política 
externa brasileira tratou de criar uma nova realidade regional. Por meio da integração 
com os países vizinhos, além de benefícios econômicos mais imediatos, se reforçaria a 
base regional como forma de incrementar a participação do Brasil e de seus parceiros 
platinos no plano mundial. Neste sentido, o Mercosul não constituía um fim em si mesmo, 
nem o aspecto comercial constituía o objetivo essencial, apesar do discurso oficial, mas 
fazia parte de um projeto mais abrangente. Quando os Estados Unidos anunciaram a 
criação do Nafta, o Brasil reagiu lançando em 1993 a iniciativa da Alcsa (Área de Livre- 
Comércio Sul-Americana) e estabelecendo com os países sul-americanos e africanos a 
Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (ZoPaCas), numa estratégia de círculos 
concêntricos a partir do Mercosul. 
A primeira estimulava as demais nações sul-americanas a associar-se ao 
Mercosul por meio da negociação de acordos de livre-comércio. Neste contexto, a 
Venezuela, a Bolívia e o Chile já negociaram formas de cooperação com o Mercosul em 
1995 e 1996. A criação de uma área de integração sul-americana, tendo o Mercosul como 
núcleo duro, amplia a margem de manobra e a capacidade de resistência ante o poder 
 
20 
 
de atração que o Nafta exerce sobre os países latino-americanos individualmente, como 
o caso do Chile, por exemplo. Além disso, a possibilidade de uma integração regional 
ampliada cria alternativas para que os países do subcontinente não fiquem tão expostos 
às pressões externas para adotar planos liberais ortodoxos de ajuste, que seriam 
necessários para manter relações privilegiadas com os países desenvolvidos ou estar 
em condições de participar do próprio Nafta, o que se converteu em autêntico “canto da 
sereia” para certas nações latino-americanas. 
No segundo caso, a ideia era criar outro círculo concêntrico em volta do Atlântico 
Sul, por meio da cooperação do Mercosul com a África Austral. Este novoespaço 
constituiria uma área de crescimento econômico, tirando proveito das 
complementaridades existentes e potenciais. Além disso, esta iniciativa amplia o quadro 
de cooperação Sul – Sul, além de abrir uma rota permanente para os oceanos Índico e 
Pacífico, propiciando ainda alianças estratégicas com potências médias e/ou mercados 
emergentes do Terceiro Mundo. Este último aspecto parece ser particularmente 
importante para a diplomacia brasileira. 
Em dezembro de 1994, na reunião de cúpula de Miami, o presidente Clinton 
retomou a proposta da criação de uma zona hemisférica de livre-comércio, que receberia 
a denominação de Área de Livre-Comércio das Américas (Alca). Na reunião, o Brasil 
defendeu a futura convergência e cooperação entre os diversos projetos de integração 
existentes, rechaçando a possibilidade de acordos bilaterais com os Estados Unidos. 
Além disso, o Itamaraty tratou de assegurar que mesmo este acercamento não deveria 
implicar a excludência de contatos e acordos com outras áreas, como a união, como a 
União Europeia. Neste sentido, face ao avanço da estratégia norte-americana, o 
Mercosul iniciou negociação com a União Europeia, que culminaram com a assinatura 
do primeiro acordo Inter blocos econômicos, o Acordo Marco Inter-Regional de 
Cooperação União Europeia-Mercosul, assinado em Madri em dezembro de 1995. 
Como não poderia deixar de ser, os resultados bastante positivos no campo 
econômico para o Mercosul e a colaboração com outros núcleos de integração, num 
quadro de crescente competição econômico-tecnológica no Norte, têm levado a 
crescentes divergências com os Estados Unidos. Não se trata apenas da constante 
ampliação das relações comerciais intra Mercosul, mas também de outros elementos. 
 
21 
 
Esta integração tem se expandido geograficamente, tem se aprofundado e cumprido 
geralmente com o cronograma estabelecido e tem se ampliado socialmente. Hoje existe 
também uma integração pela base, onde interagem novos atores sociais e políticos, 
como é o caso da Rede das Merco cidades e dos contatos cada vez mais intensos de 
sociedade apara sociedade. Além disso, parece ficar cada vez mais claro que o Mercosul 
tem como objetivo implícito a manutenção de uma base industrial dentro de seu território, 
criando condições para que as empresas transnacionais permaneçam aqui. 
Além destes sólidos avanços, os acordos do Mercosul com outras áreas, como a 
Europa e a Ásia Oriental, inquietam sobremaneira os Estados Unidos. Assim, desde fins 
de 1996, mas sobretudo após o início do segundo mandato do presidente Clinton, 
Washington tem atacado o Brasil e o Mercosul por suas práticas comerciais e seu 
acercamento a outros processos de integração. Neste debate áspero, o Brasil tem 
argumentado que o Mercosul, que almeja um mercado comum, constitui um projeto mais 
profundo de integração que o Nafta, que não passa de uma área de livre-comércio, razão 
pela qual não poderia ser abandonado (para uma adesão país a país ao Nafta) nem 
absorvido pela América do Norte. A resposta da Casa Branca tem sido renovar o poder 
de atração do Nafta por meio da promessa de aprovação do Fast Track, especialmente 
para o Chile. A cooperação com a EU e a Ásia, por seu turno, tem sido duramente atacada 
pelos Estados Unidos. 
O Mercosul constitui o primeiro objetivo da política externa do Brasil; a busca de 
novos acordos hemisféricos, o segundo; e os vínculos extracontinentais, o terceiro. Este 
foi o espaço de manobra que restou à diplomacia brasileira, que deve resistir às pressões 
norte-americanas, aprofundando a cooperação no âmbito do Mercosul e ampliando seus 
vínculos externos. Assim procedendo, o Mercosul tem passado a influenciar a 
competição internacional, ainda que seu peso relativo seja modesto, pois trata-se de um 
elemento heterodoxo no atual cenário mundial. Sua importância pode ser inferida do 
discurso do presidente Clinton ao Senado no início de 1997, quando foi pedir a aprovação 
do Fast Track: “Precisamos agir, expandir as exportações para a América Latina e a Ásia, 
as duas regiões que crescem rapidamente, ou ficaremos para trás à medida que essas 
 
22 
 
economias fortaleçam seus lações com outros países”. Ou seja, a integração com os 
Estados Unidos significa tornar-se importadores de produtos norte-americanos.6 
 
Fonte: www.sandersonlourenco.xpg.com.br 
 
 
5 O CAPITALISMO 
 
 
O capitalismo é um modo de produção fundado na divisão da sociedade em duas 
classes essenciais: a dos proprietários dos meios de produção (terra, matérias-primas, 
máquinas e instrumentos de trabalho) - sejam eles indivíduos ou sociedades - que 
compram a força de trabalho para fazer funcionar as suas empresas; a dos proletários, 
que são obrigados a vender a sua força de trabalho, porque eles não têm acesso direto 
aos meios de produção ou de subsistência, nem o capital que lhes permita trabalhar por 
sua própria conta. 
 
6 Texto extraído de LIMA, Marcos Costa; MEDEIROS, Marcelo de Almeida. O Mercosul no limiar do século XXI. 1. 
ed. São Paulo: Cortez, 2000. 28 a 38 p. v. único 
http://www.sandersonlourenco.xpg.com.br/
 
23 
 
O capitalismo não existe em lugar nenhum em estado puro. Ao lado dessas duas 
classes fundamentais vivem outras classes sociais. Nos países capitalistas 
industrializados, encontra-se a classe dos proprietários individuais de meios de produção 
e troca, que não exploram ou quase, mão-de-obra: pequenos artesãos, pequenos 
camponeses, pequenos comerciantes. Nos países do Terceiro Mundo, encontramos 
muitas vezes ainda proprietários fundiários semifeudais, cujos rendimentos não provém 
da compra da força de trabalho, mas de formas mais primitivas de apropriação do sobre 
trabalho, como a corveia ou a renda em espécie. Trata-se aí, porém, de classes que 
representam resquícios das sociedades pré-capitalistas, e não classes típicas do próprio 
capitalismo. 
O capitalismo não pode sobreviver e desenvolver-se senão quando estão reunidas 
as duas características fundamentais que acabámos de indicar: o monopólio de meios 
de produção em proveito de uma classe de proprietários privados; existência de uma 
classe separada dos meios de subsistência e de recursos que lhe permitam viver de outro 
modo que não pela venda da sua força de trabalho. O modo de produção capitalista 
reproduz constantemente as condições da sua própria existência. 
A repartição do "valor acrescentado", do rendimento nacional, faz surgir, por um 
lado, uma acumulação de capitais (entre as mãos das empresas) que permite transformar 
em propriedade privada o essencial dos meios de produção e de troca recém-criados. 
Esta mesma repartição do rendimento nacional condena, por outro lado, a massa dos 
assalariados a só ganhar o que eles consomem, mesmo quando o seu nível de vida e de 
consumo sobem progressivamente; ela não lhes permite se transformarem em 
capitalistas, isto é, em indivíduos trabalhando por sua própria conta. 
Duas séries estatísticas universais confirmam a justeza desta tese. Em todos os 
países capitalistas, a parte da população ativa obrigada a vender a sua força de trabalho 
não para de aumentar; a parte desta população ativa que constituem os "independentes" 
e suas "ajudas familiares" não cessa de diminuir. A repartição da fortuna privada faz surgir 
uma enorme concentração: a metade ou mais da fortuna mobiliária é geralmente detida 
por 1, 2, 3% das famílias, ou ainda por uma fracção mais reduzida da população. 
Quando essas condições de existência do modo de produção capitalista são 
inexistentes à partida, ou existem parcialmente, o capitalismo não pode desenvolver-se 
https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/t/terceiro_mundo.htm
 
24 
 
senão criando-as artificialmente, pela força. Assim, em numerosos países do Terceiro 
Mundo, a penetração capitalista foi travada pela existência de abundantes reservas de 
terras, que permitiram à massa das populaçõesindígenas sobreviver entregando-se à 
agricultura nas terras sem proprietário. Para transformar essas populações em 
proletários, era preciso suprimir o acesso livre a essas terras, quer dizer transformar estas 
em propriedade privada. Durante o último quarto do século 19, esse processo 
generalizou-se na América do Norte e em vastas zonas de África. 
O modo de produção capitalista é essencialmente uma forma de economia de 
mercado. Ele constitui o único exemplo histórico de uma economia de mercado 
generalizada. Todos os elementos da vida económica tornam-se mercadorias: não 
somente a terra (que não existia de forma nenhuma em regime feudal típico), os 
instrumentos de trabalho, as máquinas, o capital-dinheiro, mas também a própria força 
de trabalho. Nas origens do capitalismo, há precisamente esta generalização da 
produção e da circulação de mercadorias na sociedade. As concentrações do 
capitalismo, que o levarão a desaparecer, provêm todas, em última análise, das 
concentrações inerentes à própria produção mercantil. 
 
 
O capitalismo é um sistema político-econômico praticado em grande parte do mundo. Fonte: 
www.mundoeducacao.bol.uol.com.br 
https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/t/terceiro_mundo.htm
https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/t/terceiro_mundo.htm
http://www.mundoeducacao.bol.uol.com.br/
 
25 
 
5.1 As origens 
 
 
 
Convém não confundir "capitalismo" e "capital". O primeiro é um modo de 
produção nascido da penetração do segundo na esfera da produção. Mas antes de 
transtornar o modo de produção, o capital existia, no seio dos modos de produção 
anteriores, essencialmente em sociedades feudais e semifeudais e no modo de produção 
asiático. 
 
 
 
 
 
Fonte: www.infoescola.com 
 
 
5.2 A produção para a troca 
 
A partir de uma certa etapa de desenvolvimento das forças produtivas, a troca - 
inicialmente ocasional e sem importância nas sociedades mais primitivas - se regulariza 
http://www.infoescola.com/
 
26 
 
no seio de sociedades ainda fundadas sobre uma economia essencialmente natural. 
Assim aparece a produção para a troca (produção de mercadorias) ao lado da produção 
para satisfazer diretamente as necessidades dos produtores ou da sua coletividade. A 
pequena produção mercantil (por exemplo o artesanato corporativo da alta Idade média) 
não foi criada pelo capital. Ele pode manter-se estável durante séculos e coabitar com 
uma agricultura de subsistência, com a qual ela estabeleceu relações de troca que não 
minam nem um nem outro. 
Mas a troca regularizada, que se estende progressivamente, faz nascer o dinheiro 
e o comércio do dinheiro, sobretudo quando se trata de uma troca prorrogada no tempo 
e no espaço (comércio internacional). O capital aparece na sociedade capitalista sob a 
forma de capital-dinheiro, independentemente do modo de produção e 
independentemente das classes fundamentais dessa sociedade. Inicialmente 
intermediário, mas um intermediário que subjuga progressivamente todas as esferas da 
atividade económica. 
 
 
 
5.3 Capital usurário e capital mercantil 
 
Os produtos de luxo escoados pelo comércio internacional supõem, para serem 
consumidos por uma economia essencialmente natural, um equivalente em dinheiro. O 
capital usurário apropria-se de uma parte da renda fundiária feudal e provoca a dívida 
geral da nobreza. Ele submete os próprios príncipes, reis, e imperadores, financiando as 
suas guerras e consumo de luxo. A economia monetária estende-se (nomeadamente 
com a aparição da renda fundiária em dinheiro), a usura apodera-se de todas as classes 
da sociedade, nomeadamente por intermédio dos empréstimos sob penhora. Numa 
economia essencialmente natural, o detentor do capital-dinheiro é primeiro um 
estrangeiro (Sírio, judeu, lombardo, banqueiro italiano na Idade média na Europa). Mas 
com a generalização da economia monetária, uma classe de proprietários autóctones de 
dinheiro aparece progressivamente, acabando por eliminar muitas vezes a dominação de 
detentores de capitais estrangeiros a partir do momento que é transposta uma etapa 
determinada de desenvolvimento económico. 
 
27 
 
O início do desenvolvimento do comércio internacional fez aparecer o capital 
mercantil ao lado do capital usurário. Esse capital financia inicialmente empresas 
arriscadas, mas que asseguram um lucro bastante elevado (expedições de pirataria, 
caravanas em direção à Ásia e África). Pouco a pouco, ele organiza-se (as primeiras 
sociedades por ações, dupla contabilidade), normaliza-se (zona da Liga Hanseática) e 
institucionaliza-se (grémios, feiras). Cria os instrumentos típicos do crédito capitalista, 
que são os antepassados de todo o nosso sistema monetário contemporâneo (letras de 
câmbio, moeda escritural, papel-moeda, ações, títulos de dívida pública negociável). 
 
 
 
5.4 O capital manufatureiro 
 
As grandes descobertas dos séculos 15 e 16 provocam uma verdadeira revolução 
comercial: o que ainda ontem era luxo, (açúcar, especiarias, ornamentos em metais 
preciosos, café) está agora ao alcance de largas camadas da população. O capital 
mercantil e os grandes bancos fundem-se e financiam tanto o comércio marítimo regular 
de grande distância como a exploração sistemática de riquezas coloniais (Companhia 
das Índias orientais). Da resposta do capital comercial às limitações impostas à produção 
no seio das cidades dominadas pelos ofícios de artesãos, bem como dos lucros nascidos 
do comércio colonial (pilhagem das colónias, tráfico de Negros, "comércio triangular") 
nasce o capital manufatureiro, que é a primeira penetração do capital na produção 
propriamente dita. São os comerciantes-empreendedores que organizam, no campo ou 
nas cidades outrora pequenas, uma indústria têxtil ou metalúrgica no domicílio, depois, 
manufaturas nas quais os produtores, transformados em proletários, são reunidos e 
colocados sob o controlo permanente de vigilantes: trata-se de realizar uma divisão do 
trabalho mais avançada e de limitar os roubos e as imperfeições. 
A revolução agrícola (ligada à substituição da rotação trienal por técnicas 
restauradoras da fertilidade dos solos, e à extensão da pastagem, nomeadamente de 
ovelhas para alimentar de lã a indústria têxtil em pleno desenvolvimento) aumenta 
consideravelmente o número de pessoas desenraizadas, sem recursos nem acesso aos 
meios de subsistência e de produção. A aparição desses desenraizados está ligada, 
 
28 
 
aliás, a todos os fenómenos de decomposição da sociedade da Idade média: o declínio 
das corporações, dissolução dos séquitos feudais pelo empobrecimento da nobreza. 
Assim nasce o proletariado moderno, seguidamente fixado, muitas vezes pela força, nas 
manufaturas e primeiras fábricas. 
 
 
 
5.5 A revolução industrial 
 
A revolução industrial concretizou esse modo de transformação do modo de 
produção capitalista. Ao aumentar fortemente as despesas de instalação, ao encarecer 
os instrumentos de trabalho, ela finaliza a transformação da propriedade dos meios de 
produção em monopólio de uma classe social: a dos proprietários de capitais. 
 
Fonte: www.jovemnerd.com.br 
Ao permitir obter lucros consideráveis pelo emprego de técnicas mais modernas 
- ao fazer da inovação tecnológica um motor de mudança constante da produção - a 
revolução industrial faz refluir a maior parte dos capitais do comércio para a produção. 
Ao baixar consideravelmente os custos de produção das mercadorias, ela rebenta com 
todas as particularidades (nacionais, climatéricas, tradicionais) das necessidades e dos 
produtos ao criar um mercado mundial, à conquista do qual o capital se lança com 
insaciáveis apetites de lucro. Ao estoirar com todas as antigas limitações da produção, 
ela cria as condições de uma concorrência que é um chicote para o capital: ele deve 
aumentar seus lucros a fim de acumular cada vez mais capitais. 
http://www.jovemnerd.com.br/29 
 
O nascimento do modo de produção capitalista está, portanto, ligado à criação 
histórica das condições de existência acima indicadas. Ela está ligada à generalização 
da produção mercantil, à criação do mercado mundial, bem como à acumulação de 
experiências científicas e de progressos técnicos que tornaram possível a revolução 
industrial. Todos esses processos culminam na afirmação do poder político da burguesia 
capitalista. 
 
 
 
5.6 A burguesia capitalista 
 
O desenvolvimento do capital usurário, do capital mercantil e mesmo do capital 
bancário pôde realizar-se no seio de numerosas civilizações. Ele não foi inferior na Índia, 
na China, no império do Islão clássico, ao que foi na Europa ocidental do século 13 ao 
15. A China tinha séculos de avanço sobre a Europa no domínio do desenvolvimento de 
uma série de técnicas produtivas. Mas a potência do poder de Estado central - função 
nessas sociedades das necessidades de irrigação da agricultura - impôs um processo 
descontínuo de acumulação de capital-dinheiro. As famílias burguesas mais ricas viam 
os seus tesouros regularmente confiscados. O capital é submetido, ele cala-se, espreita 
a ocasião de se re transformar em propriedade imobiliária. No decurso da Idade média 
europeia, produziram-se fenómenos comparáveis de descontinuidade. Mas, nessa 
época, o Estado era relativamente fraco, a cidade adquire a primazia progressiva sobre 
o campo e a jovem burguesia pode fazer uma longa aprendizagem de autonomia política 
nas comunas mais ou menos livres. 
Quando a monarquia absoluta aparece, a burguesia é suficientemente forte que 
ela não pode mais ser dispersada. A Corte deve ao contrário efetuar um jogo de sábia 
basculação entre esta burguesia e a nobreza de forma a afirmar o poder real, já 
submetido ao capital pelas correntes de ouro da dívida pública. O ascenso da burguesia 
em relação ao poder político estabelece as condições de uma continuidade da 
acumulação do capital que, juntamente com progressos técnicos decisivos, 
(nomeadamente no domínio da artilharia) permite a penetração do capitalismo na Europa 
do século 16. 
 
30 
 
 
Fonte: www.supergrupo1.blogspot.com 
 
 
6 O MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA 
 
 
A produção capitalista consiste na produção de mercadorias com vista ao lucro. A 
procura do lucro é imposta pela concorrência. Toda a empresa que não realize um lucro 
suficiente acumulará menos capital, terá um acesso difícil e mais caro ao crédito, será 
por consequência afastada na corrida à tecnologia mais moderna e perderá por esse 
facto mercados em proveito dos seus concorrentes. 
 
 
 
6.1 Mais-valia e lucro. 
 
Apesar de produção capitalista consistir na produção de mercadorias, é necessário 
distinguir entre a produção do lucro (ou, mais exatamente, da mais-valia) e a sua 
realização. A mais valia nasce no decurso do processo de produção; ela provém do facto 
da mão-de-obra assalariada, ao trabalhar sobre a matéria-prima com a ajuda de 
máquinas, preenche uma dupla função: conserva o valor do capital constante com o qual 
ela opera, ao incorporar parcelas deste valor em cada novo produto que fabrica; cria um 
http://www.supergrupo1.blogspot.com/
 
31 
 
valor novo, e este valor ultrapassa o do próprio salário do trabalhador. A mais-valia é a 
diferença entre o valor criado pela força de trabalho e o seu próprio valor. 
 
Fonte: www.analisevermelha.blogspot.com 
 
 
 
 
Mas para que o capitalismo possa recuperar o capital investido (capital constante 
+ capital variável, o capital variável representando o preço da força de trabalho) e realizar 
lucro, é necessário que as mercadorias sejam vendidas, e vendidas a um preço 
susceptível de aumentar o lucro do capital investido. Isso coloca dois problemas. 
Primeiro, o da venda propriamente dita, isto é, da existência de uma procura socialmente 
solvável. Seguidamente, o preço de venda: este pode ser tal que a companhia vende 
com prejuízo, que ela recupere somente o capital, que ela faça lucro inferior, igual ou 
superior à média dos outros capitais. A empresa capitalista joga sobre vários teclados, a 
fim de se assegurar o máximo de proveito. 
No plano da produção, ela vai procurar baixar ao máximo os custos de fabricação: 
ela procurará técnicas produtivas mais avançadas, tentará baixar os salários e reduzir a 
mão-de-obra empregada ao melhorar a organização do trabalho (racionalização). A 
empresa capitalista recorrerá ao crédito para que a maior parte do capital possa ser 
investido em máquinas: ela procurará um crédito de circulação, que cobra a quase 
http://www.analisevermelha.blogspot.com/
 
32 
 
totalidade do fundo de maneio, e de créditos a longo prazo no mercado de capitais para 
alargar a sua esfera de operações para além dos seus próprios meios, emissões de 
ações e de obrigações. Em geral, quanto mais o raio de operações se alarga, mais a 
produção aumenta, mais o capital fixo colocado em movimento cresce, e mais o custo 
unitário (custo da unidade produzida) baixa, e mais aumenta por esse facto a 
competitividade da empresa e a massa absoluta dos lucros que ela realiza. 
No plano da venda, efetua-se uma divisão do trabalho entre o capital industrial e o 
capital comercial e bancário. Este último toma a seu cargo as despesas de distribuição e 
de venda das mercadorias, encurta a duração da sua circulação entre o momento onde 
elas são produzidas e o momento onde elas são vendidas, procura estimular a venda por 
intermédio de técnicas mais diversas, acrescendo assim o raio de ação do capital 
industrial, isto é massa de lucros que obtém. Em troca, esses capitais apropriam-se de 
uma parte da mais-valia social produzida nas fábricas capitalistas. 
Assim efetua-se um movimento de nivelamento da taxa de lucro, pelo fluxo e 
refluxo constante de capitais, que abandonam os ramos onde a taxa de lucro cai abaixo 
da média social e afluem em direção dos ramos onde é superior a esta média. Não se 
trata aí somente de uma tendência: a equalização absoluta das taxas de lucro nunca se 
realiza em regime capitalista. Há sempre ramos em expansão - cuja produção é ainda 
inferior à procura social solvável, que gozam permanentemente dum superlucro 
monopolístico, de uma "renda de monopólio" - e outras em declínio cuja produção é 
geralmente superior à procura social e cuja taxa de lucro é portanto permanentemente 
deprimida. Há também, no interior de um mesmo ramo, empresas gozando do monopólio 
da produtividade que realizam superlucros e empresas envelhecidas que não realizam o 
lucro médio. A tentativa das empresas em ultrapassar o lucro médio é o motor essencial 
dos investimentos e da atividade capitalista. Mas da multiplicação destas tentativas surge 
precisamente a tendência em direção de uma equalização da taxa de lucro. 
 
33 
 
6.2 Capital e trabalho 
 
O modo de produção capitalista não é somente dominado pela concorrência entre 
capitalistas, mas também pela concorrência entre operários e capitalistas. O "valor 
acrescentado" na produção industrial partilha-se entre o trabalho e o capital; é um dado 
fixo, no termo de cada processo de produção (ou de cada mês ou de cada ano): a parte 
de um não pode aumentar sem que a parte do outro diminua. O capitalismo, a fim de 
acumular capital, procura reduzir a parte dos trabalhadores no valor acrescentado, 
enquanto que estes, a fim de aumentar seu nível de vida, procuram espontaneamente 
acrescentar esta parte. Assim nasce a luta de classe elementar no seio deste modo de 
produção. 
 
 
 
A oferta da mão-de-obra é em primeiro lugar muito mais abundante do que a 
procura: a industrialização, na sua fase inicial, suprime mais empregos do que oferece. 
O movimento demográfico, ligado ao início da revolução industrial, vai no mesmo sentido. 
Nesta época, o capital procura aumentar a sua parte do rendimento nacional ao baixar 
os salários reais e prolongando a semana de trabalho. Esta tendênciaprevaleceu no 
Ocidente do século 16 até meados do século 19; ela prevalece ainda em parte nos países 
do Terceiro Mundo. 
Seguidamente, a procura de mão-de-obra aumenta mais rapidamente, quando a 
industrialização se acelera, sobretudo nos países ocidentais que se tornaram as oficinas 
industriais do mundo. A oferta tende a reduzir-se decorrente da emigração em massa (70 
milhões de Europeus partiram para os países de além-mar). Assim, o jogo da oferta e da 
https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/t/terceiro_mundo.htm
 
34 
 
procura parou a baixa absoluta dos salários reais. Estes começam a aumentar 
progressivamente. Os capitalistas procuram, porém, em manter constante a sua parte do 
"valor acrescentado" pelo crescimento da produtividade. Como esta implica a maior parte 
das vezes que as máquinas se substituem às pessoas, ela oferece ao capital a vantagem 
suplementar de reconstituir periodicamente o exército de reserva industrial e de manter 
os salários nos limites suportáveis pelo regime. 
 
 
 
7 AS CONTRADIÇÕES DO CAPITALISMO 
 
 
A produção capitalista é, lembremos, uma produção em busca do lucro; mas este 
provém da mais-valia. Só uma parte do capital produz a mais-valia: capital variável, que 
compra a força de trabalho, a única que cria valor. Ou, à medida que a mecanização 
cresce, que progride a tecnologia, a parte do capital total dispensado em salário diminui; 
a parte desse capital despendido em máquinas e instalações fixas aumenta (a 
composição orgânica do capital aumenta). Se a proporção dos salários no "valor 
acrescentado" fica na mesma, (isto é, se a taxa da mais-valia é estável), há baixa da taxa 
de lucro. 
Esta baixa é somente uma tendência. Pode-se verificar de duas maneiras. Em 
cada ciclo quinquenal, septenal ou decenal, que conduz de uma crise à outra, a taxa de 
lucro aumenta primeiro na retoma económica, nomeadamente porque o desemprego e a 
racionalização pesam ao mesmo tempo sobre os salários individuais, sobre a massa 
salarial (o emprego), sobre a disciplina e sobre a intensidade do trabalho. Essa taxa sobe 
com o boom nascido do aumento dos preços, depois começa a ser "corroída" com o 
pleno emprego, as horas suplementares, o aumento de salários; flutuação da mão-de- 
obra acentua-se; a disciplina e a intensidade do trabalho diminuem. A taxa de lucro 
afunda-se na véspera e no início da recessão. 
 
35 
 
 
 
 
 
Fonte: www.dialogosocialista.wordpress.com 
 
 
 
 
Seguidamente - a longo prazo - a taxa média de lucro diminui quando há uma 
modificação muito importante na composição orgânica do capital. Em geral, é tanto mais 
elevada quanto menos industrializado for um país. 
A verificação estatística desta tendência a longo termo, que é fácil até o pós 
Primeira grande guerra, choca com as dificuldades no decurso das últimas décadas. Os 
especialistas falam então de uma estabilidade ou mesmo de uma baixa do "coeficiente 
do capital" (despesa em capital necessária para produzir uma unidade suplementar do 
rendimento) que, sem ser idêntica à taxa de lucro, está manifestamente em relação com 
ele. Esta dificuldade provém essencialmente da impossibilidade de determinar o valor do 
próprio capital, que os hábitos correntes de amortização tendem a subavaliar de maneira 
considerável, sobretudo com a evasão fiscal. 
Uma outra dificuldade de verificação estatística provém da inflação monetária 
constante. O crescimento colossal da produtividade do trabalho teria feito baixar os 
http://www.dialogosocialista.wordpress.com/
 
36 
 
preços para cifras mais baixas se não houvesse a depreciação monetária. Mas como 
existem distorções consideráveis entre o índice dos preços de retalho dos produtos de 
grande consumo, o índice dos preços de grosso das matérias-primas e o índice dos 
preços das máquinas (aliás não comparáveis a longo prazo, porque profundamente 
modificados), esta depreciação monetária torna muito difícil a comparação das taxas de 
lucro a trinta ou quarenta anos de distância. 
 
 
 
7.1 As crises 
 
Os investimentos são o motor da expansão económica. Os capitalistas são 
levados a investir sob o impulso da concorrência. Mas num regime de propriedade 
privada dos meios de produção, os investimentos fazem-se essencialmente de maneira 
descontínua. Os centros de decisão são múltiplos; eles são essencialmente influenciados 
pelas previsões de lucros. Quando a oferta ultrapassa a procura, quando o mercado 
parece em rápida expansão, quando as vendas se fazem a preços que deixam lucros 
consideráveis, as forças que favorecem a extensão dos investimentos prevalece sobre 
aquelas que tendem a travá-las. Basta que as decisões em investir se multipliquem em 
alguns sectores para que elas se generalizem rapidamente. 
O contrário também é verdade: uma redução brusca dos investimentos em vários 
sectores importantes (porque há superprodução, stocks invendáveis ou capacidade de 
produção excedentária, ou ainda porque as margens de lucro diminuem) tende a impor 
uma tendência geral à redução dos investimentos. Mas há habitualmente uma diferença 
bastante importante no tempo entre o momento onde a decisão de reduzir os 
investimentos é tomada e o momento onde a produção industrial começa a estabilizar-se 
ou a diminuir, porque as antigas decisões de investimento demoram a produzir efeitos 
produtivos. Esta diferença (time lag) é um mecanismo fundamental; explica a eclosão das 
crises. A descontinuidade das decisões de investimento, os movimentos de entusiasmo 
(no sentido da expansão ou do aperto) constituem a explicação técnica. 
Mas a causa mais profunda das crises periódicas reside simultaneamente na 
queda periódica da taxa de lucro e na diferença crescente entre a capacidade de 
 
37 
 
produção e a procura solvável dos produtos acabados, diferença que qualquer produção 
para o produto acaba por dar lugar. Poder-se-ia imaginar em caso de absoluta 
necessidade uma "programação" económica que liga à parte relativamente declinante do 
valor acrescentado que cabe às massas uma parte declinante da produção de bens de 
consumo na produção global. Esta tendência verifica-se aliás a longo termo. Mas o 
crescimento da produção de bens de investimento, quaisquer que sejam as voltas cada 
vez maiores que toma o processo de produção antes de chegar ao "último consumidor", 
acaba sempre por aumentar a capacidade de produção de bens de consumo. É por isso 
que o entusiasmo dos investimentos - indissociavelmente ligado ao regime de 
propriedade privada dos meios de produção e aos múltiplos centros de decisão para os 
investimentos importantes, isto é, a concorrência e a anarquia da produção - conduz 
necessariamente à superprodução periódica. 
 
7.2 A irracionalidade do modo de produção capitalista 
 
As crises periódicas de superprodução são a expressão mais nítida da 
irracionalidade fundamental do modo de produção capitalista. Trata-se aliás de uma 
irracionalidade particular: a produção capitalista combina uma racionalidade cada vez 
mais desenvolvida no seio da empresa com uma irracionalidade no seio do sistema 
considerado no seu conjunto. E às tendências de planificação no interior da empresa, da 
companhia ao trust juntam-se cada vez mais tendências na programação económica 
nacional, que colocam em relevo a natureza irracional do sistema à escala internacional. 
Esta irracionalidade não é senão uma expressão particular da contradição fundamental 
do modo de produção capitalista: a contradição entre a tendência à socialização 
progressiva da produção e a manutenção da apropriação privada. A socialização 
progressiva da produção estabelece laços da interdependência cada vez mais 
numerosos e cada vez mais complexos entre as empresas, os produtores e os 
indivíduos do mundo inteiro. Ela tende a fazer depender a sorte de cada um do 
desenvolvimento da qualificação técnica e intelectual de todos. Ela tende a socializar os 
custos desatisfação das necessidades cada vez mais numerosas (ensino, saúde, 
pesquisa científica, construção de estradas, transportes urbanos, luta contra a poluição 
 
38 
 
do ar e das águas). Mas ao mesmo tempo, toda esta mecânica cada vez mais complexa 
e delicada não pode funcionar senão sob a condição que uma ínfima minoria de homens 
- os grupos financeiros que dispõem dos principais meios de produção e de troca - 
realizem os seus lucros. Senão, será necessário reduzir a produção apesar das imensas 
necessidades insatisfeitas e condenar ao desemprego e à miséria milhões de homens 
"porque se produz demasiado". Reduzir-se-ão os recursos e as possibilidades de 
desenvolvimento de povos inteiros porque o preço das matérias-primas cai. Pré- 
seleciona-se e limita-se o acesso ao ensino superior "por falta de recursos", a prioridade 
tendo sido dada à produção de bens de destruição em detrimento do desenvolvimento 
do capital intelectual da nação. 
 
 
 
7.3 Alienação e luta de classes 
 
Esta contradição entre a socialização crescente da produção e de toda a vida 
económica, por um lado, e a manutenção da propriedade privada, por outro, cristaliza-se 
no processo de concentração e de centralização crescente do capital, precisamente à 
medida que os países se tornam "mais ricos" (e que o nível de vida das massas sobe em 
termos reais). Na maior parte dos países ocidentais, algumas dezenas de grupos 
financeiros - e, os mais pequenos entre eles, apenas uma dezena - controlam as 
principais alavancas de comando da vida económica. E o processo de 
internacionalização crescente do capital chega a uma situação onde, daqui a uma vintena 
de anos, cerca de 300 "companhias multinacionais" controlarão a vida económica do 
mundo capitalista (Cf. P. J. Barber, "Les entreprises internationales", in Analyse et 
Prévision, Setembro 1966 e The Economist, 13 Julho 1968). 
No plano social, a generalização da produção mercantil traduz-se pela reificação e 
uma alienação generalizada das relações humanas. O operário - e, de maneira 
crescente, igualmente o empregado e o produtor intelectual - é alienado dos instrumentos 
de trabalho, dos produtos do seu trabalho e do próprio processo de produção. Ele não 
passa de um apêndice de uma imensa máquina que o tritura sob a fadiga física e nervosa 
ou sob o aborrecimento. O tempo passado na empresa é considerado como tempo 
 
39 
 
perdido para a verdadeira vida, dispensado simplesmente para ganhar os meios de vida 
fora do trabalho. O enorme desenvolvimento das forças produtivas, tornado possível pelo 
capitalismo, aumenta, na verdade, os lazeres. Mas o homem alienado no trabalho não 
pode libertar-se da alienação nos "tempos livres". Após ter sido alistado na indústria 
produtiva, eis que ele é colhido pela comercialização dos lazeres, manipulado pelos 
meios de difusão massiva: é-lhe interdito de livremente e espontaneamente se 
desenvolver, tanto no seu trabalho que fora dele. 
 
Fonte: www.fetracombase.org.br 
 
 
As contradições do modo de produção capitalista alimentam e exacerbam a luta 
de classes. Esta, espontânea e elementar, torna-se consciente e organizada. Os 
trabalhadores não se limitam mais a combater por "uma parte maior do bolo". Eles 
constituem-se em movimento político que procura transtornar as próprias estruturas da 
sociedade. O seu ideal é então substituir uma economia fundada no lucro privado por 
uma sociedade virada para a satisfação das necessidades de todos. Eles não poderão 
chegar aí senão substituindo a propriedade privada dos meios de produção pela 
propriedade coletiva, gerida pelos próprios produtores, substituindo a anarquia e a 
concorrência fundamentais da produção capitalista por uma planificação socialista na 
http://www.fetracombase.org.br/
 
40 
 
qual os grandes projetos de investimentos serão decididos democraticamente pela 
massa da população trabalhadora. 
 
8 AS ETAPAS HISTÓRICAS DO CAPITALISMO 
 
 
8.1 A primeira revolução industrial 
 
 
 
A época do capitalismo de livre concorrência está estreitamente ligada à primeira 
revolução industrial, ou seja, às máquinas movidas pela força do vapor. Os ramos 
industriais fundamentais são o têxtil, a indústria carvoeira, a indústria da fundição. Os 
investimentos principais são, além dos investimentos das primeiras fábricas, a construção 
de caminhos-de-ferro. A indústria é essencialmente situada na Grã-Bretanha, Bélgica, 
França e na Alemanha ocidental; o resto do mundo é um imenso mercado para esta 
oficina industrial. Uma grande parte do Terceiro Mundo (a África tropical, a China, a Ásia 
Central e do Sudeste, a maior parte do mundo árabe) fica ainda de fora da esfera de 
operação do capital. 
No seio da classe capitalista, o industrial é o rei. É um empreendedor individual, 
mesmo quando ele está à cabeça de uma sociedade anónima. Ele é individualista, 
partidário das trocas livres, favorável à monarquia constitucional, ou à república liberal. 
Ele admite com relutância o sufrágio universal, pois o Parlamento deve essencialmente 
controlar os rendimentos e as despesas do Estado, e que o povo paga relativamente 
poucos impostos. Quanto à classe operária, ela é pouco organizada, dobrada sob o peso 
da miséria e pronta somente a explosões periódicas das revoltas da fome. 
A industrialização de toda a Europa ocidental criou um problema de escoamento 
cada vez mais angustiante para o capital. Os capitais acumulados nas velhas metrópoles 
encontram aí cada vez menos emprego frutuoso. Começam também, ao mesmo tempo, 
a corrida para a partilha do Terceiro Mundo em zonas de influência, a extensão dos 
grandes impérios coloniais, a exportação dos capitais em direção dos países menos 
industrializados, o emprego dos capitais assim exportado para assegurar um escoamento 
estável de certos novos ramos chave da indústria, sobretudo a siderurgia. 
https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/t/terceiro_mundo.htm
https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/t/terceiro_mundo.htm
 
41 
 
Ao mesmo tempo, a base energética e tecnológica da indústria modifica-se. O 
motor eléctrico e o motor de explosão substituem pouco a pouco a máquina a vapor. Ao 
lado da siderurgia, os ramos principais da indústria capitalista são agora a construção 
mecânica e eléctrica, a indústria petrolífera, a indústria automóvel. É a segunda revolução 
industrial. 
 
 
 
8.2 O imperialismo 
 
A estrutura interna da classe burguesa não se modifica de forma menos profunda. 
A concentração de capitais, sobretudo nos novos ramos em expansão, deixa subsistir 
somente algumas firmas dominantes. Estas deixam progressivamente de praticar a 
concorrência sistemática pela baixa de preços: os acordos capitalistas tornam-se a regra. 
Carteis, trusts, holdings, grupos financeiros asseguram copiosos lucros monopolísticos, 
aos quais se juntam os superlucros coloniais e semicoloniais. No seio da classe burguesa 
não domina mais o industrial individual, mas o capitão da indústria, o grande capitalista, 
o criador de impérios financeiros. A centralização dos capitais disponíveis nos bancos dá 
a estes a preponderância numa fase de necessidades agudas de recursos para financiar 
a nova revolução industrial. Os bancos penetram na indústria e tornam-se as forças 
dominantes. É o apogeu do capital financeiro, do capitalismo dos monopólios, do 
imperialismo. 
 
42 
 
 
 
Fonte: www.blogdoenem.com.br 
 
 
 
 
Quanto à classe operária do Ocidente, progressivamente libertada do desemprego 
permanente que cai sobre ela durante um século, organiza-se cada vez mais nos 
primeiros partidos socialistas de massas e nos primeiros sindicatos. Ela emprega a força 
assim adquirida para obter melhores salários, uma redução da semana de trabalho, a 
primeira legislação social. Os superlucros coloniais e monopolísticos fornecem a margem 
de manobra que permite ao capital fazer concessões. 
Mas o novo equilíbrioé instável. Ele durará menos de um quarto de século 
(essencialmente o período 1890-1914). A concorrência Inter imperialista agrava-se, é 
acompanhada de uma corrida aos armamentos cada vez mais desenfreada, de múltiplas 
guerras coloniais e de "guerras locais" (guerra russo-japonesa, guerra ítalo-turca, guerra 
dos Balcãs) que anunciam a conflagração mundial. A carga de armamentos e o declínio 
da taxa de lucro reduz a margem de concessões do capital; o aumento dos salários reais 
para. 
http://www.blogdoenem.com.br/
 
43 
 
Os conflitos sociais, que parecem momentaneamente atenuados por volta do início 
do século, tomam de novo um aspecto cada vez mais violento (revolução russa de 1905, 
ascenso revolucionário russo na véspera da Primeira Guerra mundial, movimentos pela 
reforma do sistema eleitoral na Prússia, greve geral de 1905 pelo sufrágio universal na 
Áustria, de 1913 na Bélgica, greve geral na Itália contra a guerra, etc.) Explosões 
anunciam-se, atrasadas momentaneamente pela Primeira Grande guerra à qual se 
resignam as velhas direções sociais-democratas no Ocidente. Elas eclodem com a 
revolução russa de 1917, a revolução alemã de 1918, o ascenso revolucionário de 1918- 
1923 em toda a Europa. 
Simultaneamente, a guerra russo-japonesa, a revolução russa de 1905 e ainda 
mais, a revolução russa de 1917 estimularam o acordar das nacionalidades do Terceiro 
Mundo. Um movimento nacionalista afirmou-se por toda a parte; se ele continua a ser 
dirigido por uma burguesia nacional na Índia (Partido do Congresso) e na China 
(Kuomintang), ele permite o nascimento de um jovem movimento operário revolucionário 
que se afirmará rapidamente comunista e lutará para conquistar primeiro a sua 
autonomia, depois a hegemonia no seio do movimento revolucionário. 
Assim se anuncia o declínio do imperialismo clássico, atingido o seu apogeu na 
véspera da Segunda Guerra mundial. Nas duas guerras mundiais, as diferentes 
potências imperialistas europeias enfraquecem-se mutuamente. Da Segunda Guerra 
mundial, o imperialismo americano é o único a sair reforçado do ponto de vista 
económico, financeiro e militar; ele está consciente da sua potência: a teoria do "super 
imperialismo" parece confirmada. Mas o imperialismo americano terá brevemente que 
enfrentar o ascenso da revolução no Terceiro Mundo, que arrancará o país mais 
populoso do mundo - a China - da zona de exploração do capital; ele assistirá ao 
desenvolvimento rápido da potência económica e tecnológica da U.R.S.S.; e, para manter 
está em xeque no continente europeu e no Extremo Oriente, o imperialismo americano 
deverá ele próprio contribuir para o renascimento do imperialismo europeu e japonês, 
que se transformarão de novo em temíveis concorrentes. 
https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/t/terceiro_mundo.htm
https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/t/terceiro_mundo.htm
https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/k/kuomintang.htm
https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/t/terceiro_mundo.htm
 
44 
 
8.3 A revolução tecnológica 
 
 
 
Entretanto, uma terceira revolução industrial começou, alimentada sobretudo pelo 
desenvolvimento tecnológico nascido da Segunda Grande guerra e da guerra fria: a 
electrónica, e a energia nuclear passam ao primeiro plano das técnicas produtivas. Os 
conjuntos automáticos e teleguiados substituem-se às linhas de montagem 
semiautomáticas. A aeronáutica, a indústria de computadores, a construção eléctrica, a 
petroquímica substitui a indústria siderúrgica e a construção mecânica como ramos 
industriais chave, disputando mesmo o primeiro lugar à indústria automóvel e ao petróleo. 
 
 
Fonte: www.osetoreletrico.com.br 
 
 
 
 
Os trusts monopolistas emancipam-se pouco a pouco do controlo do capital 
financeiro; os enormes lucros que acumulam permitem-lhes uma taxa de 
autofinanciamento desconhecida antes da Primeira Grande guerra. Esses trusts 
multiplicam as filiais no mundo inteiro: assim nasce a "companhia multinacional". Esse 
vasto movimento de concentração internacional de capitais tem por alvo os próprios 
http://www.osetoreletrico.com.br/
 
45 
 
países imperialistas. Os capitais privados - mesmo se a exploração dos poços de petróleo 
continua a atrair - afastam-se cada vez mais dos países do Terceiro Mundo considerados 
como demasiado sujeitos a riscos de expropriação e de revolução social. As exportações 
de capitais, mais importantes que nunca, dirigem-se prioritariamente para os outros 
países imperialistas. 
A industrialização do Terceiro Mundo acelera-se, mas sem que este cesse de ser 
explorado nas trocas internacionais. Os países imperialistas, ao trocarem as máquinas 
por produtos têxteis ou conservas do Terceiro Mundo, continuam a realizar super lucros, 
como faziam ao trocarem os seus produtos acabados por matérias-primas dos países 
coloniais e semicoloniais. 
As ameaças que pesam sobre a existência do sistema (revoluções sociais e crises 
catastróficas) obrigam este a um esforço de adaptação. O Estado intervém cada vez mais 
na vida económica; torna-se o garante do lucro dos monopólios. Assegura-lhes 
escoamentos estáveis no sector dos armamentos e um sector público doravante 
importante; ele tende a estabilizar o nível da procura global e dos investimentos ao aplicar 
uma política anticíclica e anti-crise. Ele esforça-se, através da programação económica, 
em coordenar e racionalizar os investimentos privados e estabilizar a taxa de exploração 
da mão-de-obra ao associar os aumentos de salários ao aumento da produtividade 
(política de rendimentos). É a fase do neocapitalismo, que deixa primeiro a classe 
operária desorientada - falta de preparação organizacional e ideológica - por um período 
de expansão e de aumento do nível de vida de duração surpreendente. Mas logo que se 
anuncia o fim da longa fase de expansão 1945-1965, que as recessões se multiplicam e 
se generalizam, que as crises estruturais se mostram mais profundas, que o problema 
da alienação se coloca com toda a sua amplitude, novas explosões operárias se 
preparam, levadas sobretudo pelas jovens gerações e de que os acontecimentos de 
Maio-Junho de 1968 em França são um exemplo típico. 
https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/t/terceiro_mundo.htm
https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/t/terceiro_mundo.htm
https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/t/terceiro_mundo.htm
 
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8.4 As contradições do neocapitalismo 
 
Momentaneamente encobertas pela duração da expansão neocapitalista, as 
contradições clássicas do capitalismo surgem à superfície, embora sob uma forma 
modificada. 
A "programação económica", os estudos de mercado, a adaptação constante do 
volume da produção às flutuações da procura solvável pareciam ter resolvido o problema 
da superprodução periódica; mas esse problema ressurgiu dolorosamente: a capacidade 
de produção excedentária foi, na Primavera de 1967, de 25% para a indústria da 
Alemanha ocidental, um ano mais tarde de 25% em França, e de 20% nos Estados- 
Unidos em 1968. As carvoeiras, a siderurgia, a indústria têxtil parece irremediavelmente 
atingidas; mas é já a vez da petroquímica e do automóvel. E o que é a capacidade 
excedentária, senão uma superprodução "congelada" ao nível das máquinas, em vez de 
ser cristalizada em mercadorias invendáveis? 
 
 
 
8.5 As recessões 
 
Com o espectro da superprodução, pensava-se ter exorcizado o perigo das crises. 
Mas eis que surgem as recessões. Elas manifestaram-se primeiro nos Estados-Unidos 
(1949, 1953, 1957, 1960) assim como na Grã-Bretanha e na Bélgica de maneira 
atenuada; elas eclodem sucessivamente na Itália (1964), em França e no Japão (1965), 
na Grã-Bretanha e Alemanha ocidental (1966). A expansão geral diminuiu e a crise do 
sistema monetário amplificou-se. Ao impor uma solidariedade cada vez mais 
impulsionada às autoridades monetárias

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