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FACULDADE VENDA NOVA DO IMIGRANTE GEOGRAFIA ECONÔMICA VENDA NOVA DO IMIGRANTE - ES SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 5 2 GEOGRAFIA ECONÔMICA............................................................................. 5 3 GEOGRAFIA ECONÔMICA NOS PROCESSOS HISTÓRICOS E CONTEMPORÂNEOS DE PRODUÇÃO DO ESPAÇO. ................................................... 6 3.1 Espaço Geográfico .................................................................................... 9 4 MERCOSUL .................................................................................................. 12 4.1 Dimensões estratégicas, geopolíticas e geoeconômica .......................... 13 4.2 O acercamento Brasil-Argentina: abandonando a rivalidade geopolítica 14 4.3 Uma base geoeconômica para a inserção internacional ......................... 18 5 O CAPITALISMO ........................................................................................... 22 5.1 As origens 25 5.2 A produção para a troca .......................................................................... 25 5.3 Capital usurário e capital mercantil ......................................................... 26 5.4 O capital manufatureiro ........................................................................... 27 5.5 A revolução industrial .............................................................................. 28 5.6 A burguesia capitalista ............................................................................ 29 6 O MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA ..................................................... 30 6.1 Mais-valia e lucro. ................................................................................... 30 6.2 Capital e trabalho .................................................................................... 33 7 AS CONTRADIÇÕES DO CAPITALISMO ..................................................... 34 7.1 As crises 36 7.2 A irracionalidade do modo de produção capitalista ................................. 37 7.3 Alienação e luta de classes ..................................................................... 38 8 AS ETAPAS HISTÓRICAS DO CAPITALISMO ............................................. 40 8.1 A primeira revolução industrial ................................................................ 40 8.2 O imperialismo ........................................................................................ 41 8.3 A revolução tecnológica .......................................................................... 44 8.4 As contradições do neocapitalismo ......................................................... 46 8.5 As recessões ........................................................................................... 46 8.6 Uma irracionalidade crescente ................................................................ 47 8.7 Um proletariado renovado ....................................................................... 48 9 A CAPACIDADE DE ADAPTAÇÃO DO SISTEMA ........................................ 49 9.1 Os limites de adaptabilidade - A saturação das necessidades ................ 50 9.2 A extinção do salariato ............................................................................ 51 9.3 Declínio do trabalho manual .................................................................... 52 9.4 A hierarquia em perigo ............................................................................ 53 10 ECONOMIA DO BRASIL, ORGANIZAÇÃO ECONÔMICA ......................... 55 11 DIVISÃO TÉCNICA E SOCIAL DO TRABALHO ........................................ 59 12 ESPAÇO INDUSTRIAL BRASILEIRO ........................................................ 61 12.1 Desconcentração industrial e Desmetropolização ................................ 63 13 ESPAÇO AGRÁRIO BRASILEIRO ............................................................. 64 13.1 As questões ligadas a terra .................................................................. 66 13.2 Agricultura Familiar x Agricultura Comercial ........................................ 66 13.3 A Geografia dos conflitos fundiários no Brasil ...................................... 67 14 FONTES ENERGÉTICAS E SUA RELAÇÃO ECONÔMICA ...................... 69 14.1 Hidrogênio 69 14.2 Carvão mineral ou natural .................................................................... 71 14.3 Petróleo 75 14.4 Energia Nuclear ................................................................................... 78 14.5 Hidrelétricas ......................................................................................... 80 15 FORMAÇÃO DOS GRANDES MERCADOS MUNDIAIS............................ 83 15.1 A Formação dos Blocos Econômicos................................................... 85 16 REFERÊNCIAS .......................................................................................... 87 5 1 INTRODUÇÃO Nessa apostila abordaremos de forma sucinta a geografia econômica. Estudaremos as formas de organização econômica no espaço geográfico mundial bem como a gênese das relações econômicas que abrange a divisão técnica e social do trabalho. Veremos ainda sobre a diversidade do espaço econômico agrário, industrial e energético e explanaremos sobre a formação dos grandes mercados mundiais, tal qual o desenvolvimento socioeconômico e espacial do mundo atual. 2 GEOGRAFIA ECONÔMICA A Geografia Econômica procura compreender as inter-relações entre espaço e economia. É o ramo do conhecimento responsável por compreender a lógica da produção e distribuição das atividades econômicas. Além disso, ela visa entender a influência dessas manifestações produtivas sobre o espaço geográfico e as interferências que o meio realiza sobre elas. A Geografia econômica estudas as relações produtivas e o espaço geográfico. Fonte: www.brasilescola.uol.com.br http://www.brasilescola.uol.com.br/ 6 Podemos considerar que o espaço geográfico, tanto no meio urbano quanto no meio rural é essencialmente produzido, ou seja, é construído pelas práticas humanas. O estabelecimento dessas práticas está, quase sempre, relacionado à manifestação de condutas no meio financeiro e tecnológico que irão sustentar ações de impacto. Um exemplo dos efeitos econômicos sobre o meio geográfico é a ocorrência da Revolução Industrial que, via “revolução verde”, conseguiu dinamizar e, ao mesmo tempo, mecanizar a produção no campo, o que teve como consequência a ampliação da fronteira agrícola no Brasil e a intensificação do êxodo rural nas sociedades subdesenvolvidas em geral. Em termos práticos, os estudos de Geografia Econômica costumam ser segmentados em três partes principais: a) a distribuição das atividades econômicas e produtivas sobre o espaço; b) a história das estruturas econômicas e c) a análise das composições da economia em nível regional e suas relações com a dinâmica global.1 3 GEOGRAFIA ECONÔMICA NOS PROCESSOS HISTÓRICOS E CONTEMPORÂNEOS DE PRODUÇÃO DO ESPAÇO. O espaço geográfico, concebido enquanto elemento da sociedade, é produzido e correntemente transformado, apresentando diversas formas, funções e características. O espaço geográfico corresponde ao espaço construído pelas atividades humanas e pelas sociedades, sendo por elas explorado e correntemente transformado. Ele difere- se do meio natural por ser o local onde imediatamente se observa a atuação do ser humano sobre o meio, com a geração de seus respectivos impactos. Trata-se, contudo, de um conceito que possui várias definições e abordagens. 1 Texto extraído de https://brasilescola.uol.com.br/geografia/geografia-economica.htm https://brasilescola.uol.com.br/geografia/espaco-geografico.htm7 Espaço geográfico: múltiplo, diverso e complexo! Fonte: www.brasilescola.uol.com.br De maneira geral, é correto dizer que há uma produção do espaço geográfico, ou seja, ele é resultante das atividades sociais nas esferas econômica, cultural, educacional e outras. Por esse motivo, compreendê-lo é também uma forma de entender o próprio ser humano e a estrutura das sociedades. Há que se dizer que, além de produzido, o espaço geográfico é propriamente concebido. Isso quer dizer que, além de resultado das práticas e intervenções humanas sobre o meio, ele é fruto da forma com que as pessoas enxergam a realidade. Nesse sentido, o espaço também interfere nas diferentes maneiras com que podemos apreender a realidade e a ela dar significado, ganhando, nesse sentido, uma substância, em termos de conteúdo, que lhe dá uma dinâmica própria. É nesse sentido que surge o conceito de lugar, que nada mais é do que o espaço percebido e também aqueles locais sobre os quais os sujeitos adquirem afeição e familiaridade. Aquele ponto turístico preferido, a rua da sua casa ou até a fazenda para onde uma pessoa qualquer costuma viajar são exemplos de lugar, que ganha, portanto, um aspecto subjetivo e individual. Nesse contexto, a Geografia também é a ciência dos lugares. http://www.brasilescola.uol.com.br/ 8 Desde os primórdios da humanidade, antes mesmo da invenção da escrita, os seres humanos atuam no processo de modificação da natureza. Com o tempo, essa prática foi se tornando cada vez mais comum e culminou no desenvolvimento das civilizações, todas elas dotadas de seus espaços, sem os quais não seria possível ter referências sobre elas. Assim sendo, esse espaço é parte constituinte da sociedade que o constrói e, de certa forma, reflexo dela, sendo o produto de suas visões de mundo, práticas sociais, religiões, culturas e, claro, de seu poder. Atualmente, podemos dizer que o nosso espaço atual é fruto não só da sociedade contemporânea, mas também um produto de seu passado. O espaço geográfico, pois, carrega consigo elementos do passado e do presente, sendo o testemunho mais explícito das diferenças de valores culturais, arquitetônicos e morais dos diferentes períodos da história. Quando observamos um prédio antigo ou andamos por ruas centenárias, somos capazes de perceber, ao menos em partes, os valores de épocas anteriores. É nesse sentido que podemos notar a dinâmica da paisagem, outro importante conceito atrelado à ideia de espaço geográfico. Ela não é só a aparência do meio em que vivemos, mas também um reflexo e um condicionante de suas formas e conteúdos. Por definição, podemos compreender a paisagem como tudo aquilo que podemos apreender por meio de nossos sentidos (visão, tato, olfato, paladar e audição), embora também existam as chamadas “paisagens ocultas”, aquelas que se escondem ou são ofuscadas pelas práticas sociais, seja por questões econômicas, seja por visões de preconceito, entre outros. Além das paisagens, para melhor compreender o espaço geográfico, muitas vezes é preciso compreendê-lo em seus aspectos regionais. Para definir o que seria uma região, outro importante conceito, é necessária a adoção de um critério (natural, cultural, econômico, político, etc.) para estabelecer aquilo que chamamos de regionalização. Portanto, região é a porção do espaço dividida e observada a partir de um critério específico, elaborado conforme os nossos interesses e convicções, havendo, dessa forma, tantas regiões quanto critérios diferentes utilizados para elaborá-las. Mas é importante também conceber que o espaço geográfico possui diferentes dinâmicas e relações, carregando consigo os valores morais da sociedade. Em muitos 9 casos, relações de poder são estabelecidas e o espaço passa a ser apropriado, ou seja, controlado. Essa apropriação pode receber limites e fronteiras (a exemplo do território nacional), mas em outros casos não (como os territórios dos traficantes nas favelas, quando os limites não são muito precisos). Por isso, torna-se importante a compreensão do território, que é o espaço delimitado a partir das relações de poder, podendo se apresentar em várias escalas (do local ao global) e também em múltiplas formas (contínuo, em rede, etc.). Portanto, podemos notar que o espaço é um elemento bastante complexo da realidade, tanto é que ele possui uma ciência específica que se preocupa em estudá-lo: a Geografia. Ela analisa-o como um fenômeno social, mas também se preocupa em estudar e compreender as paisagens naturais, haja vista que o seu substrato é de imediato interesse para a sociedade e suas atividades.2 3.1 Espaço Geográfico O conceito de espaço geográfico varia conforme a abordagem realizada. Mas, em geral, refere-se à materialização da relação entre o homem e o meio. 2 Texto extraído de https://brasilescola.uol.com.br/geografia/producao-espaco-geografico.htm 10 O espaço geográfico envolve uma diversidade de aspectos e elementos. Fonte: www.brasilescola.uol.com.br O Espaço Geográfico é um importante conceito para a Geografia, haja vista que ele é o objeto principal de estudo dessa área do conhecimento. Sendo assim, entender o espaço geográfico significa também compreender o papel que essa ciência possui no sentido de investigar a realidade tanto em seu aspecto social quanto em suas premissas naturais, com ênfase nas relações entre sociedade e natureza. Não há, no entanto, um consenso entre os geógrafos sobre o que seria, exatamente, o espaço geográfico, haja vista que muitos deles orientam-se a partir de diferentes correntes de pensamento que apresentam diferentes perspectivas. Por exemplo, para a corrente Nova Geografia, o espaço geográfico corresponde à organização da sociedade e seus elementos sobre o meio. http://www.brasilescola.uol.com.br/ 11 Há autores, como Richard Hartshorne3, que defendem que o espaço geográfico é apenas uma construção intelectual, não existindo de fato na sociedade. Seria, nesse caso, uma concepção da forma como nós enxergamos a realidade no sentido de apreender como acontece a espacialização da sociedade e tudo o que por ela foi construído. Já Milton Santos4 afirma que o espaço geográfico é um conjunto de sistemas de objetos e ações, isto é, os itens e elementos artificiais e as ações humanas que manejam tais instrumentos no sentido de construir e transformar o meio, seja ele natural ou social. Para os geógrafos humanistas, porém, o conceito de espaço geográfico estaria atrelado à questão subjetiva, cultural e individual. Nesse sentido, o espaço é o local de morada dos seres humanos e, mais do que isso, é o meio de vivência onde as pessoas imprimem suas marcas cotidianamente, proporcionando novas leituras à medida que a compreensão do mundo se modifica. Portanto, se consideramos apenas algumas das várias definições existentes, podemos perceber que o conceito em questão possui várias visões conflitantes entre si. O que, no entanto, pode ser estabelecido como consenso é que o espaço geográfico representa a intervenção do homem sobre o meio, ou seja, um produto (que, dependendo da abordagem, pode também ser um produtor) das relações humanas e suas práticas sobre o substrato natural. Se ao longo de um rio, por exemplo, constrói-se uma ponte, estamos provocando a alteração das paisagens locais, o que representa a expressão do espaço geográfico. Se em uma cidade adotam-se medidas de revitalização de áreas degradadas, temos aí a transformação do espaço. Portanto, tudo o que é construído pelo homem é, notadamente, geográfico: hidrelétricas, cidades, campos agrícolas, sistemas de irrigação, entre outros elementos, são as construções mais visíveis do espaço geográfico.5 3 Richard Hartshorne (1899-1992) foi um geógrafo estadunidense muito conhecidopela ampla difusão de suas principais obras: A Natureza da Geografia e Propósitos e Natureza da Geografia. Trata-se de um dos principais nomes dessa ciência, com uma vasta obra que deixou um importante legado, incluindo conceitos e observações ainda hoje empregados. 4 Milton Santos foi um geógrafo brasileiro, considerado por muitos como o maior pensador da história da Geografia no Brasil e um dos maiores do mundo. Destacou-se por escrever e abordar sobre inúmeros temas, como a epistemologia da Geografia, a globalização, o espaço urbano, entre outros. 5 Texto extraído de https://brasilescola.uol.com.br/geografia/espaco-geografico.htm https://brasilescola.uol.com.br/geografia/richard-hartshorne.htm https://brasilescola.uol.com.br/geografia/milton-santos.htm 12 Hidroelétrica, um exemplo da intervenção do homem sobre o meio. Fonte: www.brasilescola.uol.com.br 4 MERCOSUL O Mercosul, iniciativa lançada na última década do século XX, constitui o primeiro processo de integração sul-americano a apresentar resultados concretos e a abrir alternativas regionais para uma melhor inserção internacional da região, atualmente nos quadros de uma ordem mundial emergente. A preocupação central deste ensaio é apresentar, a partir da perspectiva brasileira, a estratégia que o Mercosul representa para uma política de integração regional e de inserção mundial, bem como levantar novas questões pra um debate mais ousado e menos oficioso sobre este importante tema das relações internacionais sul-americanas e hemisféricas. http://www.brasilescola.uol.com.br/ 13 Fonte: www.mercosur.int 4.1 Dimensões estratégicas, geopolíticas e geoeconômica Dentre as questões negligenciadas nas análises sobre o Mercosul, encontram-se os aspectos estratégicos internacionais, geopolíticos e geoeconômicos. O discurso liberal engendrou um raciocínio centrado exclusivamente nos aspectos comerciais. Há, contudo, elementos indicadores da permanência, nem sempre explícita, de fatores políticos ditos “tradicionais”, como os estratégicos, geopolíticos e os geoeconômicos, que supostamente teriam perdido seu potencial explicativo com o fim da Guerra Fria. Não se trata, neste caso, simplesmente de aplicar instrumentos de análise utilizados no passado, mas de considerar que, no quadro do atual processo de reordenamento mundial e de http://www.mercosur.int/ 14 redimensionamento do espaço territorial nos marcos da globalização, tais questões mantêm sua pertinência, além de necessidade de repensá-las à luz das novas realidades. Neste sentido, o Mercosul, na perspectiva da estratégia diplomática brasileira, representa bem mais que os interesses comerciais de curto e médio prazos, ainda que os aspectos conjunturais e reativos possuam um peso considerável. É possível especular-se a respeito de uma sutil estratégia visando construir um espaço econômico regional ampliado, como base para a inserção internacional e, implicitamente, para forjar uma geopolítica particular. Elas envolveriam, num primeiro momento, a região platina, ampliando-se para os países andino-amazônicos e, finalmente, englobando a África austral. 4.2 O acercamento Brasil-Argentina: abandonando a rivalidade geopolítica Historicamente, a matriz da integração regional sul-americana tem sido a cooperação entre os dois maiores países da região, o Brasil e a Argentina. O primeiro acercamento sistemático entre ambos os países, que se estendeu dos anos 50 até o final dos 70, no contexto sucessivo dos regimes populistas e dos regimes militares de Segurança Nacional ante esquerdista, se saldará por mais um fracasso. As estratégias da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina da ONU, 1948) não conseguiram gerar soluções para os impasses do desenvolvimento, especialmente no quadro das repercussões hemisféricas da Revolução Cubana e da reação norte-americana. Foi nas Américas, impulsionadas em parte pela Cepal, mas fortemente condicionadas pelos Estados Unidos, desejosos de manter sua influência no continente, numa conjuntura histórica marcada pela crise e radicalização do nacionalismo populista e pela Revolução Cubana. A ALALC (Associação Latino-Americana de Livre Comércio), estabelecida em 1960 entre os países sul-americanos e o México, além dos objetivos comerciais, almejava fomentar a industrialização e a diversificação econômica, enquanto a Aliança para o Progresso, proposta pelos Estados Unidos em 1961, referia-se vagamente, no campo da integração, ao estabelecimento de uma zona de livre-comércio. Estas primeiras tentativas 15 de integração foram seguidas por outras nos anos 60, como as do Mercado Comum Centro-Americano (MCCA), da Área de Livre-Comércio do Caribe (Carifta, depois Caricom) e do Pacto Andino. As razões do relativo insucesso dessas experiências, à luz dos objetivos propostos, encontram-se vinculadas à estrutura das economias de substituição de importações, que eram pouco propícias à abertura de mercados, ao caráter que os Estados Unidos, enquanto outros, como o Brasil, aprofundaram a industrialização por substituição de importações. Além disso, as concepções geopolíticas que os orientavam conduziram ao acirramento de desconfianças mútuas e rivalidades. Apesar disso, entre a década de 50 e o final da década de 70, configurou-se uma situação nova nas relações entre alguns países latino-americanos, particularmente entre a Argentina e o Brasil, que viriam a ser importantes para o futuro: em conjunturas globalmente adversas para os países da região, propiciava-se um acercamento que extrapolava as simples relações econômicas. Além do Pacto ABC nos anos 50, em abril de 1961, logo após o episódio da Baía dos Porcos, os presidentes Arturo Frondizi e Jânio Quadros assinaram o Tratado de Uruguaiana, que previa um amplo leque de cooperação, desde tecnológica e comercial até o estabelecimento de consultas diplomáticas para a adoção de uma posição comum nos assuntos hemisféricos e mundiais. Fonte: www.efficienza.com.br http://www.efficienza.com.br/ 16 Em 1980 a ALALC foi substituída pela Aladi, que, como o nome indica, objetivava o desenvolvimento e a integração, e o Sistema Econômico Latino-Americano (SELA), que buscava liberalizar o comércio baseando-se em mecanismos mais flexíveis que os empregados pela ALALC. Estas iniciativas davam-se numa conjuntura adversa para a América Latina, como se verá a seguir, e esta circunstância iria permitir o avanço do processo de integração. Contudo, as novas instituições criavam um marco geral para a integração, e não produziam a integração em si mesma, processo que dependia da vontade política de alguns atores de peso. Ao acercamento Brasil-Argentina viria a ser a espinha dorsal da integração regional, coroada com a constituição do Mercosul em 1991. Ao contrário do que afirmam certos manuais oficiosos sobre as relações internacionais latino-americanas, este acercamento não é resultado da democratização, mas fruto de um processo anterior e bem mais complexo e profundo, do qual a redemocratização constitui apenas um dos aspectos. Ao longo das décadas de 70 e 80, o processo de reorganização econômica e política mundial foi tornando inviável a estratégia de inserção internacional do Brasil, tal como foi descrita anteriormente. A revolução científico-tecnológica, a nova divisão internacional da produção, a nova onda globalizante comercial-financeira e a crise do campo soviético, produziram mais e mais dificuldades para o paradigma em que se assentavam as relações exteriores brasileiras. Além disso, no plano interno, a recessão econômica, a crise da dívida externa, a crise de governabilidade e o processo de redemocratização contribuíram para enfraquecer a política externa o país. No novo quadro internacional adverso que se criava, desde o choque petrolífero de 1973, masparticularmente com a reorganização do capitalismo internacional que se seguiu, o governo Geisel começou a revalorizar a América Latina como espaço para a política externa brasileira. Não bastava tentar ampliar a influência sobre os pequenos países vizinhos, como vinha fazendo o governo Médici: era necessário melhorar as relações com a Argentina. O governo Geisel tratou de negociar com Buenos Aires o contencioso da barragem hidrelétrica de Itaipu, especialmente após o início do Processo na Argentina em 1976. A iniciativa neste e em outros campos da relação bilateral foi continuada e aprofundada durante o governo Figueiredo (1979-85). Por esta razão, quando ocorreu a Guerra das Malvinas, em 1982, em pleno quadro da crise da dívida 17 externa que se abatia sobre a América Latina e da nova Guerra Fria do governo Reagan, pode-se considerar que houve não um simples apoio brasileiro à Argentina durante o conflito, mas que amadureceu um processo de crescente convergência entre os dois países, e mesmo uma aliança. Desde que o governo Geisel, longe de aceitar o impacto negativo que o reordenamento político-econômico mundial impunha sobre o desenvolvimento brasileiro, optara por aprofundar ainda mais a industrialização por substituição de importações e imprimir um rumo ainda mais autônomo pra a política externa, as pressões internacionais pela redemocratização do país se intensificaram. Não questiono aqui a posição dos grupos políticos domésticos que, desde a implantação do regime militar, lutavam contra a ditadura, mas chamo a atenção para a mudança de atitude política de importantes atores internacionais e de grupos brasileiros a eles vinculados. A política externa e o projeto de desenvolvimento eram os alvos centrais das novas pressões internacionais. A Argentina viveu algo semelhante durante a Guerra das Malvinas, quando as potências ocidentais, particularmente os Estados Unidos, deixaram claro que não necessitavam mais de seu regime militar no novo contexto mundial e regional. A nova agenda internacional enfatizava agora a abertura dos mercados internos dos países periféricos e a redemocratização, não apenas voltada contra os países socialistas e os regimes revolucionários do Terceiro Mundo, mas que também constituía um eficaz meio de desconcentração (e enfraquecimento) do processo de tomada de decisões diplomáticas. O retorno da democracia, com os presidentes Raul Alfonsín e José Sarney, se dá, portanto, numa conjuntura adversa do ponto de vista econômico e diplomático. A crise da dívida faz com que os países latino-americanos sejam extremamente vulneráveis às pressões do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, num quadro de graves dificuldades econômicas, enquanto o conflito centro-americano permite ao governo Reagan trazer a Guerra Fria para o âmbito hemisférico, o que lhe possibilita também utilizar instrumentos diplomáticos e militares para exercer uma pressão suplementar sobre a América Latina. Neste contexto os dois países aderem ao Grupo de Apoio à Contadora e iniciam um acercamento sistemático e institucionalizado. Em 1985, por intermédio da Declaração de Iguaçu, foi estabelecida uma comissão para estudar a integração entre os dois países e em 1986 foi assinada a Ata para 18 Integração e Cooperação Econômica, que previa a intensificação e diversificação, Cooperação e Desenvolvimento Brasil-Argentina, que previa o estabelecimento de um mercado comum entre os dois países no prazo de dez anos. O que estava por trás desta cooperação, a par dos fatores já apontados, é a marginalização crescente da América Latina no sistema mundial, a tentativa de formular respostas diplomáticas comuns aos fluxos de desvio de comércio e um esforço conjunto no campo tecnológico e de projetos específicos. Fonte: www.futuro-europa.it 4.3 Uma base geoeconômica para a inserção internacional Desde o início dos anos 90, a diplomacia brasileira teve que abandonar a retórica terceiro-mundista de solidariedade entre países em desenvolvimento, concentrando-se no questionamento pontual de regras internacionais que considera injustas e obstaculizadas do desenvolvimento dos países periféricos. Um grande número de questões relativas à matriz anterior de política externa foi retirado da agenda internacional, enquanto novas eram incluídas, como a questão dos direitos humanos, meio ambiente, programa nuclear, normas de propriedade intelectual e o fim da reserva de mercado para a indústria nacional de informática. A adoção de diferentes regimes internacionais, a busca da manutenção de relações satisfatórias com os Estados Unidos http://www.futuro-europa.it/ 19 e a abertura do mercado interno brasileiro, bem como a recente implementação do Plano de Estabilização Monetária (Plano Real, de julho de 1994), procurou estabelecer a confiança junto aos investidores internacionais e adaptar o país às novas realidades. Apesar destas medidas, que sinalizam no sentido de uma aceitação das regras internacionais, o Brasil não abandonou suas parcerias diversificadas nem suas características de global trader. Como foi possível conciliar as duas dimensões? Como as condições de inserção internacional tornaram-se ainda mais adversas nos anos 80, a diplomacia brasileira não conseguiu mais manter suas relações com importantes regiões do mundo na mesma intensidade com que vinha fazendo. O protecionismo crescente e as novas realidades internacionais tornaram as relações com a Comunidade Europeia e com o Japão mais difíceis, enquanto a crise do campo soviético e do Terceiro Mundo inviabilizaram, ao menos temporariamente, a manutenção de vínculos privilegiados com estas regiões. Da mesma forma, a ordem regional estabelecida no Oriente Médio após a segunda guerra do Golfo encerrou as possibilidades de relações estratégicas com esta área. Assim, quanto mais se deterioravam as condições internacionais, mais a política externa brasileira tratou de criar uma nova realidade regional. Por meio da integração com os países vizinhos, além de benefícios econômicos mais imediatos, se reforçaria a base regional como forma de incrementar a participação do Brasil e de seus parceiros platinos no plano mundial. Neste sentido, o Mercosul não constituía um fim em si mesmo, nem o aspecto comercial constituía o objetivo essencial, apesar do discurso oficial, mas fazia parte de um projeto mais abrangente. Quando os Estados Unidos anunciaram a criação do Nafta, o Brasil reagiu lançando em 1993 a iniciativa da Alcsa (Área de Livre- Comércio Sul-Americana) e estabelecendo com os países sul-americanos e africanos a Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul (ZoPaCas), numa estratégia de círculos concêntricos a partir do Mercosul. A primeira estimulava as demais nações sul-americanas a associar-se ao Mercosul por meio da negociação de acordos de livre-comércio. Neste contexto, a Venezuela, a Bolívia e o Chile já negociaram formas de cooperação com o Mercosul em 1995 e 1996. A criação de uma área de integração sul-americana, tendo o Mercosul como núcleo duro, amplia a margem de manobra e a capacidade de resistência ante o poder 20 de atração que o Nafta exerce sobre os países latino-americanos individualmente, como o caso do Chile, por exemplo. Além disso, a possibilidade de uma integração regional ampliada cria alternativas para que os países do subcontinente não fiquem tão expostos às pressões externas para adotar planos liberais ortodoxos de ajuste, que seriam necessários para manter relações privilegiadas com os países desenvolvidos ou estar em condições de participar do próprio Nafta, o que se converteu em autêntico “canto da sereia” para certas nações latino-americanas. No segundo caso, a ideia era criar outro círculo concêntrico em volta do Atlântico Sul, por meio da cooperação do Mercosul com a África Austral. Este novoespaço constituiria uma área de crescimento econômico, tirando proveito das complementaridades existentes e potenciais. Além disso, esta iniciativa amplia o quadro de cooperação Sul – Sul, além de abrir uma rota permanente para os oceanos Índico e Pacífico, propiciando ainda alianças estratégicas com potências médias e/ou mercados emergentes do Terceiro Mundo. Este último aspecto parece ser particularmente importante para a diplomacia brasileira. Em dezembro de 1994, na reunião de cúpula de Miami, o presidente Clinton retomou a proposta da criação de uma zona hemisférica de livre-comércio, que receberia a denominação de Área de Livre-Comércio das Américas (Alca). Na reunião, o Brasil defendeu a futura convergência e cooperação entre os diversos projetos de integração existentes, rechaçando a possibilidade de acordos bilaterais com os Estados Unidos. Além disso, o Itamaraty tratou de assegurar que mesmo este acercamento não deveria implicar a excludência de contatos e acordos com outras áreas, como a união, como a União Europeia. Neste sentido, face ao avanço da estratégia norte-americana, o Mercosul iniciou negociação com a União Europeia, que culminaram com a assinatura do primeiro acordo Inter blocos econômicos, o Acordo Marco Inter-Regional de Cooperação União Europeia-Mercosul, assinado em Madri em dezembro de 1995. Como não poderia deixar de ser, os resultados bastante positivos no campo econômico para o Mercosul e a colaboração com outros núcleos de integração, num quadro de crescente competição econômico-tecnológica no Norte, têm levado a crescentes divergências com os Estados Unidos. Não se trata apenas da constante ampliação das relações comerciais intra Mercosul, mas também de outros elementos. 21 Esta integração tem se expandido geograficamente, tem se aprofundado e cumprido geralmente com o cronograma estabelecido e tem se ampliado socialmente. Hoje existe também uma integração pela base, onde interagem novos atores sociais e políticos, como é o caso da Rede das Merco cidades e dos contatos cada vez mais intensos de sociedade apara sociedade. Além disso, parece ficar cada vez mais claro que o Mercosul tem como objetivo implícito a manutenção de uma base industrial dentro de seu território, criando condições para que as empresas transnacionais permaneçam aqui. Além destes sólidos avanços, os acordos do Mercosul com outras áreas, como a Europa e a Ásia Oriental, inquietam sobremaneira os Estados Unidos. Assim, desde fins de 1996, mas sobretudo após o início do segundo mandato do presidente Clinton, Washington tem atacado o Brasil e o Mercosul por suas práticas comerciais e seu acercamento a outros processos de integração. Neste debate áspero, o Brasil tem argumentado que o Mercosul, que almeja um mercado comum, constitui um projeto mais profundo de integração que o Nafta, que não passa de uma área de livre-comércio, razão pela qual não poderia ser abandonado (para uma adesão país a país ao Nafta) nem absorvido pela América do Norte. A resposta da Casa Branca tem sido renovar o poder de atração do Nafta por meio da promessa de aprovação do Fast Track, especialmente para o Chile. A cooperação com a EU e a Ásia, por seu turno, tem sido duramente atacada pelos Estados Unidos. O Mercosul constitui o primeiro objetivo da política externa do Brasil; a busca de novos acordos hemisféricos, o segundo; e os vínculos extracontinentais, o terceiro. Este foi o espaço de manobra que restou à diplomacia brasileira, que deve resistir às pressões norte-americanas, aprofundando a cooperação no âmbito do Mercosul e ampliando seus vínculos externos. Assim procedendo, o Mercosul tem passado a influenciar a competição internacional, ainda que seu peso relativo seja modesto, pois trata-se de um elemento heterodoxo no atual cenário mundial. Sua importância pode ser inferida do discurso do presidente Clinton ao Senado no início de 1997, quando foi pedir a aprovação do Fast Track: “Precisamos agir, expandir as exportações para a América Latina e a Ásia, as duas regiões que crescem rapidamente, ou ficaremos para trás à medida que essas 22 economias fortaleçam seus lações com outros países”. Ou seja, a integração com os Estados Unidos significa tornar-se importadores de produtos norte-americanos.6 Fonte: www.sandersonlourenco.xpg.com.br 5 O CAPITALISMO O capitalismo é um modo de produção fundado na divisão da sociedade em duas classes essenciais: a dos proprietários dos meios de produção (terra, matérias-primas, máquinas e instrumentos de trabalho) - sejam eles indivíduos ou sociedades - que compram a força de trabalho para fazer funcionar as suas empresas; a dos proletários, que são obrigados a vender a sua força de trabalho, porque eles não têm acesso direto aos meios de produção ou de subsistência, nem o capital que lhes permita trabalhar por sua própria conta. 6 Texto extraído de LIMA, Marcos Costa; MEDEIROS, Marcelo de Almeida. O Mercosul no limiar do século XXI. 1. ed. São Paulo: Cortez, 2000. 28 a 38 p. v. único http://www.sandersonlourenco.xpg.com.br/ 23 O capitalismo não existe em lugar nenhum em estado puro. Ao lado dessas duas classes fundamentais vivem outras classes sociais. Nos países capitalistas industrializados, encontra-se a classe dos proprietários individuais de meios de produção e troca, que não exploram ou quase, mão-de-obra: pequenos artesãos, pequenos camponeses, pequenos comerciantes. Nos países do Terceiro Mundo, encontramos muitas vezes ainda proprietários fundiários semifeudais, cujos rendimentos não provém da compra da força de trabalho, mas de formas mais primitivas de apropriação do sobre trabalho, como a corveia ou a renda em espécie. Trata-se aí, porém, de classes que representam resquícios das sociedades pré-capitalistas, e não classes típicas do próprio capitalismo. O capitalismo não pode sobreviver e desenvolver-se senão quando estão reunidas as duas características fundamentais que acabámos de indicar: o monopólio de meios de produção em proveito de uma classe de proprietários privados; existência de uma classe separada dos meios de subsistência e de recursos que lhe permitam viver de outro modo que não pela venda da sua força de trabalho. O modo de produção capitalista reproduz constantemente as condições da sua própria existência. A repartição do "valor acrescentado", do rendimento nacional, faz surgir, por um lado, uma acumulação de capitais (entre as mãos das empresas) que permite transformar em propriedade privada o essencial dos meios de produção e de troca recém-criados. Esta mesma repartição do rendimento nacional condena, por outro lado, a massa dos assalariados a só ganhar o que eles consomem, mesmo quando o seu nível de vida e de consumo sobem progressivamente; ela não lhes permite se transformarem em capitalistas, isto é, em indivíduos trabalhando por sua própria conta. Duas séries estatísticas universais confirmam a justeza desta tese. Em todos os países capitalistas, a parte da população ativa obrigada a vender a sua força de trabalho não para de aumentar; a parte desta população ativa que constituem os "independentes" e suas "ajudas familiares" não cessa de diminuir. A repartição da fortuna privada faz surgir uma enorme concentração: a metade ou mais da fortuna mobiliária é geralmente detida por 1, 2, 3% das famílias, ou ainda por uma fracção mais reduzida da população. Quando essas condições de existência do modo de produção capitalista são inexistentes à partida, ou existem parcialmente, o capitalismo não pode desenvolver-se https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/t/terceiro_mundo.htm 24 senão criando-as artificialmente, pela força. Assim, em numerosos países do Terceiro Mundo, a penetração capitalista foi travada pela existência de abundantes reservas de terras, que permitiram à massa das populaçõesindígenas sobreviver entregando-se à agricultura nas terras sem proprietário. Para transformar essas populações em proletários, era preciso suprimir o acesso livre a essas terras, quer dizer transformar estas em propriedade privada. Durante o último quarto do século 19, esse processo generalizou-se na América do Norte e em vastas zonas de África. O modo de produção capitalista é essencialmente uma forma de economia de mercado. Ele constitui o único exemplo histórico de uma economia de mercado generalizada. Todos os elementos da vida económica tornam-se mercadorias: não somente a terra (que não existia de forma nenhuma em regime feudal típico), os instrumentos de trabalho, as máquinas, o capital-dinheiro, mas também a própria força de trabalho. Nas origens do capitalismo, há precisamente esta generalização da produção e da circulação de mercadorias na sociedade. As concentrações do capitalismo, que o levarão a desaparecer, provêm todas, em última análise, das concentrações inerentes à própria produção mercantil. O capitalismo é um sistema político-econômico praticado em grande parte do mundo. Fonte: www.mundoeducacao.bol.uol.com.br https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/t/terceiro_mundo.htm https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/t/terceiro_mundo.htm http://www.mundoeducacao.bol.uol.com.br/ 25 5.1 As origens Convém não confundir "capitalismo" e "capital". O primeiro é um modo de produção nascido da penetração do segundo na esfera da produção. Mas antes de transtornar o modo de produção, o capital existia, no seio dos modos de produção anteriores, essencialmente em sociedades feudais e semifeudais e no modo de produção asiático. Fonte: www.infoescola.com 5.2 A produção para a troca A partir de uma certa etapa de desenvolvimento das forças produtivas, a troca - inicialmente ocasional e sem importância nas sociedades mais primitivas - se regulariza http://www.infoescola.com/ 26 no seio de sociedades ainda fundadas sobre uma economia essencialmente natural. Assim aparece a produção para a troca (produção de mercadorias) ao lado da produção para satisfazer diretamente as necessidades dos produtores ou da sua coletividade. A pequena produção mercantil (por exemplo o artesanato corporativo da alta Idade média) não foi criada pelo capital. Ele pode manter-se estável durante séculos e coabitar com uma agricultura de subsistência, com a qual ela estabeleceu relações de troca que não minam nem um nem outro. Mas a troca regularizada, que se estende progressivamente, faz nascer o dinheiro e o comércio do dinheiro, sobretudo quando se trata de uma troca prorrogada no tempo e no espaço (comércio internacional). O capital aparece na sociedade capitalista sob a forma de capital-dinheiro, independentemente do modo de produção e independentemente das classes fundamentais dessa sociedade. Inicialmente intermediário, mas um intermediário que subjuga progressivamente todas as esferas da atividade económica. 5.3 Capital usurário e capital mercantil Os produtos de luxo escoados pelo comércio internacional supõem, para serem consumidos por uma economia essencialmente natural, um equivalente em dinheiro. O capital usurário apropria-se de uma parte da renda fundiária feudal e provoca a dívida geral da nobreza. Ele submete os próprios príncipes, reis, e imperadores, financiando as suas guerras e consumo de luxo. A economia monetária estende-se (nomeadamente com a aparição da renda fundiária em dinheiro), a usura apodera-se de todas as classes da sociedade, nomeadamente por intermédio dos empréstimos sob penhora. Numa economia essencialmente natural, o detentor do capital-dinheiro é primeiro um estrangeiro (Sírio, judeu, lombardo, banqueiro italiano na Idade média na Europa). Mas com a generalização da economia monetária, uma classe de proprietários autóctones de dinheiro aparece progressivamente, acabando por eliminar muitas vezes a dominação de detentores de capitais estrangeiros a partir do momento que é transposta uma etapa determinada de desenvolvimento económico. 27 O início do desenvolvimento do comércio internacional fez aparecer o capital mercantil ao lado do capital usurário. Esse capital financia inicialmente empresas arriscadas, mas que asseguram um lucro bastante elevado (expedições de pirataria, caravanas em direção à Ásia e África). Pouco a pouco, ele organiza-se (as primeiras sociedades por ações, dupla contabilidade), normaliza-se (zona da Liga Hanseática) e institucionaliza-se (grémios, feiras). Cria os instrumentos típicos do crédito capitalista, que são os antepassados de todo o nosso sistema monetário contemporâneo (letras de câmbio, moeda escritural, papel-moeda, ações, títulos de dívida pública negociável). 5.4 O capital manufatureiro As grandes descobertas dos séculos 15 e 16 provocam uma verdadeira revolução comercial: o que ainda ontem era luxo, (açúcar, especiarias, ornamentos em metais preciosos, café) está agora ao alcance de largas camadas da população. O capital mercantil e os grandes bancos fundem-se e financiam tanto o comércio marítimo regular de grande distância como a exploração sistemática de riquezas coloniais (Companhia das Índias orientais). Da resposta do capital comercial às limitações impostas à produção no seio das cidades dominadas pelos ofícios de artesãos, bem como dos lucros nascidos do comércio colonial (pilhagem das colónias, tráfico de Negros, "comércio triangular") nasce o capital manufatureiro, que é a primeira penetração do capital na produção propriamente dita. São os comerciantes-empreendedores que organizam, no campo ou nas cidades outrora pequenas, uma indústria têxtil ou metalúrgica no domicílio, depois, manufaturas nas quais os produtores, transformados em proletários, são reunidos e colocados sob o controlo permanente de vigilantes: trata-se de realizar uma divisão do trabalho mais avançada e de limitar os roubos e as imperfeições. A revolução agrícola (ligada à substituição da rotação trienal por técnicas restauradoras da fertilidade dos solos, e à extensão da pastagem, nomeadamente de ovelhas para alimentar de lã a indústria têxtil em pleno desenvolvimento) aumenta consideravelmente o número de pessoas desenraizadas, sem recursos nem acesso aos meios de subsistência e de produção. A aparição desses desenraizados está ligada, 28 aliás, a todos os fenómenos de decomposição da sociedade da Idade média: o declínio das corporações, dissolução dos séquitos feudais pelo empobrecimento da nobreza. Assim nasce o proletariado moderno, seguidamente fixado, muitas vezes pela força, nas manufaturas e primeiras fábricas. 5.5 A revolução industrial A revolução industrial concretizou esse modo de transformação do modo de produção capitalista. Ao aumentar fortemente as despesas de instalação, ao encarecer os instrumentos de trabalho, ela finaliza a transformação da propriedade dos meios de produção em monopólio de uma classe social: a dos proprietários de capitais. Fonte: www.jovemnerd.com.br Ao permitir obter lucros consideráveis pelo emprego de técnicas mais modernas - ao fazer da inovação tecnológica um motor de mudança constante da produção - a revolução industrial faz refluir a maior parte dos capitais do comércio para a produção. Ao baixar consideravelmente os custos de produção das mercadorias, ela rebenta com todas as particularidades (nacionais, climatéricas, tradicionais) das necessidades e dos produtos ao criar um mercado mundial, à conquista do qual o capital se lança com insaciáveis apetites de lucro. Ao estoirar com todas as antigas limitações da produção, ela cria as condições de uma concorrência que é um chicote para o capital: ele deve aumentar seus lucros a fim de acumular cada vez mais capitais. http://www.jovemnerd.com.br/29 O nascimento do modo de produção capitalista está, portanto, ligado à criação histórica das condições de existência acima indicadas. Ela está ligada à generalização da produção mercantil, à criação do mercado mundial, bem como à acumulação de experiências científicas e de progressos técnicos que tornaram possível a revolução industrial. Todos esses processos culminam na afirmação do poder político da burguesia capitalista. 5.6 A burguesia capitalista O desenvolvimento do capital usurário, do capital mercantil e mesmo do capital bancário pôde realizar-se no seio de numerosas civilizações. Ele não foi inferior na Índia, na China, no império do Islão clássico, ao que foi na Europa ocidental do século 13 ao 15. A China tinha séculos de avanço sobre a Europa no domínio do desenvolvimento de uma série de técnicas produtivas. Mas a potência do poder de Estado central - função nessas sociedades das necessidades de irrigação da agricultura - impôs um processo descontínuo de acumulação de capital-dinheiro. As famílias burguesas mais ricas viam os seus tesouros regularmente confiscados. O capital é submetido, ele cala-se, espreita a ocasião de se re transformar em propriedade imobiliária. No decurso da Idade média europeia, produziram-se fenómenos comparáveis de descontinuidade. Mas, nessa época, o Estado era relativamente fraco, a cidade adquire a primazia progressiva sobre o campo e a jovem burguesia pode fazer uma longa aprendizagem de autonomia política nas comunas mais ou menos livres. Quando a monarquia absoluta aparece, a burguesia é suficientemente forte que ela não pode mais ser dispersada. A Corte deve ao contrário efetuar um jogo de sábia basculação entre esta burguesia e a nobreza de forma a afirmar o poder real, já submetido ao capital pelas correntes de ouro da dívida pública. O ascenso da burguesia em relação ao poder político estabelece as condições de uma continuidade da acumulação do capital que, juntamente com progressos técnicos decisivos, (nomeadamente no domínio da artilharia) permite a penetração do capitalismo na Europa do século 16. 30 Fonte: www.supergrupo1.blogspot.com 6 O MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA A produção capitalista consiste na produção de mercadorias com vista ao lucro. A procura do lucro é imposta pela concorrência. Toda a empresa que não realize um lucro suficiente acumulará menos capital, terá um acesso difícil e mais caro ao crédito, será por consequência afastada na corrida à tecnologia mais moderna e perderá por esse facto mercados em proveito dos seus concorrentes. 6.1 Mais-valia e lucro. Apesar de produção capitalista consistir na produção de mercadorias, é necessário distinguir entre a produção do lucro (ou, mais exatamente, da mais-valia) e a sua realização. A mais valia nasce no decurso do processo de produção; ela provém do facto da mão-de-obra assalariada, ao trabalhar sobre a matéria-prima com a ajuda de máquinas, preenche uma dupla função: conserva o valor do capital constante com o qual ela opera, ao incorporar parcelas deste valor em cada novo produto que fabrica; cria um http://www.supergrupo1.blogspot.com/ 31 valor novo, e este valor ultrapassa o do próprio salário do trabalhador. A mais-valia é a diferença entre o valor criado pela força de trabalho e o seu próprio valor. Fonte: www.analisevermelha.blogspot.com Mas para que o capitalismo possa recuperar o capital investido (capital constante + capital variável, o capital variável representando o preço da força de trabalho) e realizar lucro, é necessário que as mercadorias sejam vendidas, e vendidas a um preço susceptível de aumentar o lucro do capital investido. Isso coloca dois problemas. Primeiro, o da venda propriamente dita, isto é, da existência de uma procura socialmente solvável. Seguidamente, o preço de venda: este pode ser tal que a companhia vende com prejuízo, que ela recupere somente o capital, que ela faça lucro inferior, igual ou superior à média dos outros capitais. A empresa capitalista joga sobre vários teclados, a fim de se assegurar o máximo de proveito. No plano da produção, ela vai procurar baixar ao máximo os custos de fabricação: ela procurará técnicas produtivas mais avançadas, tentará baixar os salários e reduzir a mão-de-obra empregada ao melhorar a organização do trabalho (racionalização). A empresa capitalista recorrerá ao crédito para que a maior parte do capital possa ser investido em máquinas: ela procurará um crédito de circulação, que cobra a quase http://www.analisevermelha.blogspot.com/ 32 totalidade do fundo de maneio, e de créditos a longo prazo no mercado de capitais para alargar a sua esfera de operações para além dos seus próprios meios, emissões de ações e de obrigações. Em geral, quanto mais o raio de operações se alarga, mais a produção aumenta, mais o capital fixo colocado em movimento cresce, e mais o custo unitário (custo da unidade produzida) baixa, e mais aumenta por esse facto a competitividade da empresa e a massa absoluta dos lucros que ela realiza. No plano da venda, efetua-se uma divisão do trabalho entre o capital industrial e o capital comercial e bancário. Este último toma a seu cargo as despesas de distribuição e de venda das mercadorias, encurta a duração da sua circulação entre o momento onde elas são produzidas e o momento onde elas são vendidas, procura estimular a venda por intermédio de técnicas mais diversas, acrescendo assim o raio de ação do capital industrial, isto é massa de lucros que obtém. Em troca, esses capitais apropriam-se de uma parte da mais-valia social produzida nas fábricas capitalistas. Assim efetua-se um movimento de nivelamento da taxa de lucro, pelo fluxo e refluxo constante de capitais, que abandonam os ramos onde a taxa de lucro cai abaixo da média social e afluem em direção dos ramos onde é superior a esta média. Não se trata aí somente de uma tendência: a equalização absoluta das taxas de lucro nunca se realiza em regime capitalista. Há sempre ramos em expansão - cuja produção é ainda inferior à procura social solvável, que gozam permanentemente dum superlucro monopolístico, de uma "renda de monopólio" - e outras em declínio cuja produção é geralmente superior à procura social e cuja taxa de lucro é portanto permanentemente deprimida. Há também, no interior de um mesmo ramo, empresas gozando do monopólio da produtividade que realizam superlucros e empresas envelhecidas que não realizam o lucro médio. A tentativa das empresas em ultrapassar o lucro médio é o motor essencial dos investimentos e da atividade capitalista. Mas da multiplicação destas tentativas surge precisamente a tendência em direção de uma equalização da taxa de lucro. 33 6.2 Capital e trabalho O modo de produção capitalista não é somente dominado pela concorrência entre capitalistas, mas também pela concorrência entre operários e capitalistas. O "valor acrescentado" na produção industrial partilha-se entre o trabalho e o capital; é um dado fixo, no termo de cada processo de produção (ou de cada mês ou de cada ano): a parte de um não pode aumentar sem que a parte do outro diminua. O capitalismo, a fim de acumular capital, procura reduzir a parte dos trabalhadores no valor acrescentado, enquanto que estes, a fim de aumentar seu nível de vida, procuram espontaneamente acrescentar esta parte. Assim nasce a luta de classe elementar no seio deste modo de produção. A oferta da mão-de-obra é em primeiro lugar muito mais abundante do que a procura: a industrialização, na sua fase inicial, suprime mais empregos do que oferece. O movimento demográfico, ligado ao início da revolução industrial, vai no mesmo sentido. Nesta época, o capital procura aumentar a sua parte do rendimento nacional ao baixar os salários reais e prolongando a semana de trabalho. Esta tendênciaprevaleceu no Ocidente do século 16 até meados do século 19; ela prevalece ainda em parte nos países do Terceiro Mundo. Seguidamente, a procura de mão-de-obra aumenta mais rapidamente, quando a industrialização se acelera, sobretudo nos países ocidentais que se tornaram as oficinas industriais do mundo. A oferta tende a reduzir-se decorrente da emigração em massa (70 milhões de Europeus partiram para os países de além-mar). Assim, o jogo da oferta e da https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/t/terceiro_mundo.htm 34 procura parou a baixa absoluta dos salários reais. Estes começam a aumentar progressivamente. Os capitalistas procuram, porém, em manter constante a sua parte do "valor acrescentado" pelo crescimento da produtividade. Como esta implica a maior parte das vezes que as máquinas se substituem às pessoas, ela oferece ao capital a vantagem suplementar de reconstituir periodicamente o exército de reserva industrial e de manter os salários nos limites suportáveis pelo regime. 7 AS CONTRADIÇÕES DO CAPITALISMO A produção capitalista é, lembremos, uma produção em busca do lucro; mas este provém da mais-valia. Só uma parte do capital produz a mais-valia: capital variável, que compra a força de trabalho, a única que cria valor. Ou, à medida que a mecanização cresce, que progride a tecnologia, a parte do capital total dispensado em salário diminui; a parte desse capital despendido em máquinas e instalações fixas aumenta (a composição orgânica do capital aumenta). Se a proporção dos salários no "valor acrescentado" fica na mesma, (isto é, se a taxa da mais-valia é estável), há baixa da taxa de lucro. Esta baixa é somente uma tendência. Pode-se verificar de duas maneiras. Em cada ciclo quinquenal, septenal ou decenal, que conduz de uma crise à outra, a taxa de lucro aumenta primeiro na retoma económica, nomeadamente porque o desemprego e a racionalização pesam ao mesmo tempo sobre os salários individuais, sobre a massa salarial (o emprego), sobre a disciplina e sobre a intensidade do trabalho. Essa taxa sobe com o boom nascido do aumento dos preços, depois começa a ser "corroída" com o pleno emprego, as horas suplementares, o aumento de salários; flutuação da mão-de- obra acentua-se; a disciplina e a intensidade do trabalho diminuem. A taxa de lucro afunda-se na véspera e no início da recessão. 35 Fonte: www.dialogosocialista.wordpress.com Seguidamente - a longo prazo - a taxa média de lucro diminui quando há uma modificação muito importante na composição orgânica do capital. Em geral, é tanto mais elevada quanto menos industrializado for um país. A verificação estatística desta tendência a longo termo, que é fácil até o pós Primeira grande guerra, choca com as dificuldades no decurso das últimas décadas. Os especialistas falam então de uma estabilidade ou mesmo de uma baixa do "coeficiente do capital" (despesa em capital necessária para produzir uma unidade suplementar do rendimento) que, sem ser idêntica à taxa de lucro, está manifestamente em relação com ele. Esta dificuldade provém essencialmente da impossibilidade de determinar o valor do próprio capital, que os hábitos correntes de amortização tendem a subavaliar de maneira considerável, sobretudo com a evasão fiscal. Uma outra dificuldade de verificação estatística provém da inflação monetária constante. O crescimento colossal da produtividade do trabalho teria feito baixar os http://www.dialogosocialista.wordpress.com/ 36 preços para cifras mais baixas se não houvesse a depreciação monetária. Mas como existem distorções consideráveis entre o índice dos preços de retalho dos produtos de grande consumo, o índice dos preços de grosso das matérias-primas e o índice dos preços das máquinas (aliás não comparáveis a longo prazo, porque profundamente modificados), esta depreciação monetária torna muito difícil a comparação das taxas de lucro a trinta ou quarenta anos de distância. 7.1 As crises Os investimentos são o motor da expansão económica. Os capitalistas são levados a investir sob o impulso da concorrência. Mas num regime de propriedade privada dos meios de produção, os investimentos fazem-se essencialmente de maneira descontínua. Os centros de decisão são múltiplos; eles são essencialmente influenciados pelas previsões de lucros. Quando a oferta ultrapassa a procura, quando o mercado parece em rápida expansão, quando as vendas se fazem a preços que deixam lucros consideráveis, as forças que favorecem a extensão dos investimentos prevalece sobre aquelas que tendem a travá-las. Basta que as decisões em investir se multipliquem em alguns sectores para que elas se generalizem rapidamente. O contrário também é verdade: uma redução brusca dos investimentos em vários sectores importantes (porque há superprodução, stocks invendáveis ou capacidade de produção excedentária, ou ainda porque as margens de lucro diminuem) tende a impor uma tendência geral à redução dos investimentos. Mas há habitualmente uma diferença bastante importante no tempo entre o momento onde a decisão de reduzir os investimentos é tomada e o momento onde a produção industrial começa a estabilizar-se ou a diminuir, porque as antigas decisões de investimento demoram a produzir efeitos produtivos. Esta diferença (time lag) é um mecanismo fundamental; explica a eclosão das crises. A descontinuidade das decisões de investimento, os movimentos de entusiasmo (no sentido da expansão ou do aperto) constituem a explicação técnica. Mas a causa mais profunda das crises periódicas reside simultaneamente na queda periódica da taxa de lucro e na diferença crescente entre a capacidade de 37 produção e a procura solvável dos produtos acabados, diferença que qualquer produção para o produto acaba por dar lugar. Poder-se-ia imaginar em caso de absoluta necessidade uma "programação" económica que liga à parte relativamente declinante do valor acrescentado que cabe às massas uma parte declinante da produção de bens de consumo na produção global. Esta tendência verifica-se aliás a longo termo. Mas o crescimento da produção de bens de investimento, quaisquer que sejam as voltas cada vez maiores que toma o processo de produção antes de chegar ao "último consumidor", acaba sempre por aumentar a capacidade de produção de bens de consumo. É por isso que o entusiasmo dos investimentos - indissociavelmente ligado ao regime de propriedade privada dos meios de produção e aos múltiplos centros de decisão para os investimentos importantes, isto é, a concorrência e a anarquia da produção - conduz necessariamente à superprodução periódica. 7.2 A irracionalidade do modo de produção capitalista As crises periódicas de superprodução são a expressão mais nítida da irracionalidade fundamental do modo de produção capitalista. Trata-se aliás de uma irracionalidade particular: a produção capitalista combina uma racionalidade cada vez mais desenvolvida no seio da empresa com uma irracionalidade no seio do sistema considerado no seu conjunto. E às tendências de planificação no interior da empresa, da companhia ao trust juntam-se cada vez mais tendências na programação económica nacional, que colocam em relevo a natureza irracional do sistema à escala internacional. Esta irracionalidade não é senão uma expressão particular da contradição fundamental do modo de produção capitalista: a contradição entre a tendência à socialização progressiva da produção e a manutenção da apropriação privada. A socialização progressiva da produção estabelece laços da interdependência cada vez mais numerosos e cada vez mais complexos entre as empresas, os produtores e os indivíduos do mundo inteiro. Ela tende a fazer depender a sorte de cada um do desenvolvimento da qualificação técnica e intelectual de todos. Ela tende a socializar os custos desatisfação das necessidades cada vez mais numerosas (ensino, saúde, pesquisa científica, construção de estradas, transportes urbanos, luta contra a poluição 38 do ar e das águas). Mas ao mesmo tempo, toda esta mecânica cada vez mais complexa e delicada não pode funcionar senão sob a condição que uma ínfima minoria de homens - os grupos financeiros que dispõem dos principais meios de produção e de troca - realizem os seus lucros. Senão, será necessário reduzir a produção apesar das imensas necessidades insatisfeitas e condenar ao desemprego e à miséria milhões de homens "porque se produz demasiado". Reduzir-se-ão os recursos e as possibilidades de desenvolvimento de povos inteiros porque o preço das matérias-primas cai. Pré- seleciona-se e limita-se o acesso ao ensino superior "por falta de recursos", a prioridade tendo sido dada à produção de bens de destruição em detrimento do desenvolvimento do capital intelectual da nação. 7.3 Alienação e luta de classes Esta contradição entre a socialização crescente da produção e de toda a vida económica, por um lado, e a manutenção da propriedade privada, por outro, cristaliza-se no processo de concentração e de centralização crescente do capital, precisamente à medida que os países se tornam "mais ricos" (e que o nível de vida das massas sobe em termos reais). Na maior parte dos países ocidentais, algumas dezenas de grupos financeiros - e, os mais pequenos entre eles, apenas uma dezena - controlam as principais alavancas de comando da vida económica. E o processo de internacionalização crescente do capital chega a uma situação onde, daqui a uma vintena de anos, cerca de 300 "companhias multinacionais" controlarão a vida económica do mundo capitalista (Cf. P. J. Barber, "Les entreprises internationales", in Analyse et Prévision, Setembro 1966 e The Economist, 13 Julho 1968). No plano social, a generalização da produção mercantil traduz-se pela reificação e uma alienação generalizada das relações humanas. O operário - e, de maneira crescente, igualmente o empregado e o produtor intelectual - é alienado dos instrumentos de trabalho, dos produtos do seu trabalho e do próprio processo de produção. Ele não passa de um apêndice de uma imensa máquina que o tritura sob a fadiga física e nervosa ou sob o aborrecimento. O tempo passado na empresa é considerado como tempo 39 perdido para a verdadeira vida, dispensado simplesmente para ganhar os meios de vida fora do trabalho. O enorme desenvolvimento das forças produtivas, tornado possível pelo capitalismo, aumenta, na verdade, os lazeres. Mas o homem alienado no trabalho não pode libertar-se da alienação nos "tempos livres". Após ter sido alistado na indústria produtiva, eis que ele é colhido pela comercialização dos lazeres, manipulado pelos meios de difusão massiva: é-lhe interdito de livremente e espontaneamente se desenvolver, tanto no seu trabalho que fora dele. Fonte: www.fetracombase.org.br As contradições do modo de produção capitalista alimentam e exacerbam a luta de classes. Esta, espontânea e elementar, torna-se consciente e organizada. Os trabalhadores não se limitam mais a combater por "uma parte maior do bolo". Eles constituem-se em movimento político que procura transtornar as próprias estruturas da sociedade. O seu ideal é então substituir uma economia fundada no lucro privado por uma sociedade virada para a satisfação das necessidades de todos. Eles não poderão chegar aí senão substituindo a propriedade privada dos meios de produção pela propriedade coletiva, gerida pelos próprios produtores, substituindo a anarquia e a concorrência fundamentais da produção capitalista por uma planificação socialista na http://www.fetracombase.org.br/ 40 qual os grandes projetos de investimentos serão decididos democraticamente pela massa da população trabalhadora. 8 AS ETAPAS HISTÓRICAS DO CAPITALISMO 8.1 A primeira revolução industrial A época do capitalismo de livre concorrência está estreitamente ligada à primeira revolução industrial, ou seja, às máquinas movidas pela força do vapor. Os ramos industriais fundamentais são o têxtil, a indústria carvoeira, a indústria da fundição. Os investimentos principais são, além dos investimentos das primeiras fábricas, a construção de caminhos-de-ferro. A indústria é essencialmente situada na Grã-Bretanha, Bélgica, França e na Alemanha ocidental; o resto do mundo é um imenso mercado para esta oficina industrial. Uma grande parte do Terceiro Mundo (a África tropical, a China, a Ásia Central e do Sudeste, a maior parte do mundo árabe) fica ainda de fora da esfera de operação do capital. No seio da classe capitalista, o industrial é o rei. É um empreendedor individual, mesmo quando ele está à cabeça de uma sociedade anónima. Ele é individualista, partidário das trocas livres, favorável à monarquia constitucional, ou à república liberal. Ele admite com relutância o sufrágio universal, pois o Parlamento deve essencialmente controlar os rendimentos e as despesas do Estado, e que o povo paga relativamente poucos impostos. Quanto à classe operária, ela é pouco organizada, dobrada sob o peso da miséria e pronta somente a explosões periódicas das revoltas da fome. A industrialização de toda a Europa ocidental criou um problema de escoamento cada vez mais angustiante para o capital. Os capitais acumulados nas velhas metrópoles encontram aí cada vez menos emprego frutuoso. Começam também, ao mesmo tempo, a corrida para a partilha do Terceiro Mundo em zonas de influência, a extensão dos grandes impérios coloniais, a exportação dos capitais em direção dos países menos industrializados, o emprego dos capitais assim exportado para assegurar um escoamento estável de certos novos ramos chave da indústria, sobretudo a siderurgia. https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/t/terceiro_mundo.htm https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/t/terceiro_mundo.htm 41 Ao mesmo tempo, a base energética e tecnológica da indústria modifica-se. O motor eléctrico e o motor de explosão substituem pouco a pouco a máquina a vapor. Ao lado da siderurgia, os ramos principais da indústria capitalista são agora a construção mecânica e eléctrica, a indústria petrolífera, a indústria automóvel. É a segunda revolução industrial. 8.2 O imperialismo A estrutura interna da classe burguesa não se modifica de forma menos profunda. A concentração de capitais, sobretudo nos novos ramos em expansão, deixa subsistir somente algumas firmas dominantes. Estas deixam progressivamente de praticar a concorrência sistemática pela baixa de preços: os acordos capitalistas tornam-se a regra. Carteis, trusts, holdings, grupos financeiros asseguram copiosos lucros monopolísticos, aos quais se juntam os superlucros coloniais e semicoloniais. No seio da classe burguesa não domina mais o industrial individual, mas o capitão da indústria, o grande capitalista, o criador de impérios financeiros. A centralização dos capitais disponíveis nos bancos dá a estes a preponderância numa fase de necessidades agudas de recursos para financiar a nova revolução industrial. Os bancos penetram na indústria e tornam-se as forças dominantes. É o apogeu do capital financeiro, do capitalismo dos monopólios, do imperialismo. 42 Fonte: www.blogdoenem.com.br Quanto à classe operária do Ocidente, progressivamente libertada do desemprego permanente que cai sobre ela durante um século, organiza-se cada vez mais nos primeiros partidos socialistas de massas e nos primeiros sindicatos. Ela emprega a força assim adquirida para obter melhores salários, uma redução da semana de trabalho, a primeira legislação social. Os superlucros coloniais e monopolísticos fornecem a margem de manobra que permite ao capital fazer concessões. Mas o novo equilíbrioé instável. Ele durará menos de um quarto de século (essencialmente o período 1890-1914). A concorrência Inter imperialista agrava-se, é acompanhada de uma corrida aos armamentos cada vez mais desenfreada, de múltiplas guerras coloniais e de "guerras locais" (guerra russo-japonesa, guerra ítalo-turca, guerra dos Balcãs) que anunciam a conflagração mundial. A carga de armamentos e o declínio da taxa de lucro reduz a margem de concessões do capital; o aumento dos salários reais para. http://www.blogdoenem.com.br/ 43 Os conflitos sociais, que parecem momentaneamente atenuados por volta do início do século, tomam de novo um aspecto cada vez mais violento (revolução russa de 1905, ascenso revolucionário russo na véspera da Primeira Guerra mundial, movimentos pela reforma do sistema eleitoral na Prússia, greve geral de 1905 pelo sufrágio universal na Áustria, de 1913 na Bélgica, greve geral na Itália contra a guerra, etc.) Explosões anunciam-se, atrasadas momentaneamente pela Primeira Grande guerra à qual se resignam as velhas direções sociais-democratas no Ocidente. Elas eclodem com a revolução russa de 1917, a revolução alemã de 1918, o ascenso revolucionário de 1918- 1923 em toda a Europa. Simultaneamente, a guerra russo-japonesa, a revolução russa de 1905 e ainda mais, a revolução russa de 1917 estimularam o acordar das nacionalidades do Terceiro Mundo. Um movimento nacionalista afirmou-se por toda a parte; se ele continua a ser dirigido por uma burguesia nacional na Índia (Partido do Congresso) e na China (Kuomintang), ele permite o nascimento de um jovem movimento operário revolucionário que se afirmará rapidamente comunista e lutará para conquistar primeiro a sua autonomia, depois a hegemonia no seio do movimento revolucionário. Assim se anuncia o declínio do imperialismo clássico, atingido o seu apogeu na véspera da Segunda Guerra mundial. Nas duas guerras mundiais, as diferentes potências imperialistas europeias enfraquecem-se mutuamente. Da Segunda Guerra mundial, o imperialismo americano é o único a sair reforçado do ponto de vista económico, financeiro e militar; ele está consciente da sua potência: a teoria do "super imperialismo" parece confirmada. Mas o imperialismo americano terá brevemente que enfrentar o ascenso da revolução no Terceiro Mundo, que arrancará o país mais populoso do mundo - a China - da zona de exploração do capital; ele assistirá ao desenvolvimento rápido da potência económica e tecnológica da U.R.S.S.; e, para manter está em xeque no continente europeu e no Extremo Oriente, o imperialismo americano deverá ele próprio contribuir para o renascimento do imperialismo europeu e japonês, que se transformarão de novo em temíveis concorrentes. https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/t/terceiro_mundo.htm https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/t/terceiro_mundo.htm https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/k/kuomintang.htm https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/t/terceiro_mundo.htm 44 8.3 A revolução tecnológica Entretanto, uma terceira revolução industrial começou, alimentada sobretudo pelo desenvolvimento tecnológico nascido da Segunda Grande guerra e da guerra fria: a electrónica, e a energia nuclear passam ao primeiro plano das técnicas produtivas. Os conjuntos automáticos e teleguiados substituem-se às linhas de montagem semiautomáticas. A aeronáutica, a indústria de computadores, a construção eléctrica, a petroquímica substitui a indústria siderúrgica e a construção mecânica como ramos industriais chave, disputando mesmo o primeiro lugar à indústria automóvel e ao petróleo. Fonte: www.osetoreletrico.com.br Os trusts monopolistas emancipam-se pouco a pouco do controlo do capital financeiro; os enormes lucros que acumulam permitem-lhes uma taxa de autofinanciamento desconhecida antes da Primeira Grande guerra. Esses trusts multiplicam as filiais no mundo inteiro: assim nasce a "companhia multinacional". Esse vasto movimento de concentração internacional de capitais tem por alvo os próprios http://www.osetoreletrico.com.br/ 45 países imperialistas. Os capitais privados - mesmo se a exploração dos poços de petróleo continua a atrair - afastam-se cada vez mais dos países do Terceiro Mundo considerados como demasiado sujeitos a riscos de expropriação e de revolução social. As exportações de capitais, mais importantes que nunca, dirigem-se prioritariamente para os outros países imperialistas. A industrialização do Terceiro Mundo acelera-se, mas sem que este cesse de ser explorado nas trocas internacionais. Os países imperialistas, ao trocarem as máquinas por produtos têxteis ou conservas do Terceiro Mundo, continuam a realizar super lucros, como faziam ao trocarem os seus produtos acabados por matérias-primas dos países coloniais e semicoloniais. As ameaças que pesam sobre a existência do sistema (revoluções sociais e crises catastróficas) obrigam este a um esforço de adaptação. O Estado intervém cada vez mais na vida económica; torna-se o garante do lucro dos monopólios. Assegura-lhes escoamentos estáveis no sector dos armamentos e um sector público doravante importante; ele tende a estabilizar o nível da procura global e dos investimentos ao aplicar uma política anticíclica e anti-crise. Ele esforça-se, através da programação económica, em coordenar e racionalizar os investimentos privados e estabilizar a taxa de exploração da mão-de-obra ao associar os aumentos de salários ao aumento da produtividade (política de rendimentos). É a fase do neocapitalismo, que deixa primeiro a classe operária desorientada - falta de preparação organizacional e ideológica - por um período de expansão e de aumento do nível de vida de duração surpreendente. Mas logo que se anuncia o fim da longa fase de expansão 1945-1965, que as recessões se multiplicam e se generalizam, que as crises estruturais se mostram mais profundas, que o problema da alienação se coloca com toda a sua amplitude, novas explosões operárias se preparam, levadas sobretudo pelas jovens gerações e de que os acontecimentos de Maio-Junho de 1968 em França são um exemplo típico. https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/t/terceiro_mundo.htm https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/t/terceiro_mundo.htm https://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/t/terceiro_mundo.htm 46 8.4 As contradições do neocapitalismo Momentaneamente encobertas pela duração da expansão neocapitalista, as contradições clássicas do capitalismo surgem à superfície, embora sob uma forma modificada. A "programação económica", os estudos de mercado, a adaptação constante do volume da produção às flutuações da procura solvável pareciam ter resolvido o problema da superprodução periódica; mas esse problema ressurgiu dolorosamente: a capacidade de produção excedentária foi, na Primavera de 1967, de 25% para a indústria da Alemanha ocidental, um ano mais tarde de 25% em França, e de 20% nos Estados- Unidos em 1968. As carvoeiras, a siderurgia, a indústria têxtil parece irremediavelmente atingidas; mas é já a vez da petroquímica e do automóvel. E o que é a capacidade excedentária, senão uma superprodução "congelada" ao nível das máquinas, em vez de ser cristalizada em mercadorias invendáveis? 8.5 As recessões Com o espectro da superprodução, pensava-se ter exorcizado o perigo das crises. Mas eis que surgem as recessões. Elas manifestaram-se primeiro nos Estados-Unidos (1949, 1953, 1957, 1960) assim como na Grã-Bretanha e na Bélgica de maneira atenuada; elas eclodem sucessivamente na Itália (1964), em França e no Japão (1965), na Grã-Bretanha e Alemanha ocidental (1966). A expansão geral diminuiu e a crise do sistema monetário amplificou-se. Ao impor uma solidariedade cada vez mais impulsionada às autoridades monetárias
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