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TRANSCRIÇÃO AULA DE MICROBIOLOGIA BEATRIZ CUNTA - 2024 ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DA CÉLULA BACTERIANA ● SITUAÇÃO TAXONÔMICA DAS BACTÉRIAS E EVOLUÇÃO MICROBIANA → Avanços no conhecimento da ultraestrutura celular dos seres microscópicos permitiu a diferenciação em dois níveis de organização e complexidade das células (diferenças qualitativas). Antes a divisão era feita de forma quantitativa → seres unicelulares x multicelulares. CÉLULAS PROCARIÓTICAS CÉLULAS EUCARIÓTICAS: - Núcleo com membrana individualizada - Cromossomos múltiplos com aparelho mitótico - Presença de íntrons nos cromossomos (não traduzidos em proteínas) - Ribossomos 80S associados a sistemas de canais (RE) - Organelas membranosas no citoplasma (mitocôndrias, cloroplastos → segregar funções celulares) - Presença de citoesqueleto proteico (actina, miosina, actinina) - Formação de vesículas endocíticas OBS: DESTAQUE PARA A COMPARTIMENTALIZAÇÃO (organização) DAS FUNÇÕES CELULARES, por isso podem atingir tamanhos maiores. → O surgimento dos eucariotos aparentemente ocorreu pelo processo de endossimbiose. Seres próximos uns aos outros poderiam ter se incluído no processo evolutivo, vivendo juntos por algum tipo de troca - simbiose. Pareceu tão favorável ao novo ser formado que ela se torna estável. Assim, com o passar do tempo e com o processo evolutivo, esses seres passaram a dominar (evidências moleculares sólidas). - Protozoários em estômago de cupins digerem a celulose, gerando glicose. - Peixes que produzem luz em águas profundas o fazem pela presença de bactérias em seus órgãos. - Fixação de nitrogênio por leguminosas e gramíneas nas raízes de plantas. → Do ponto de vista evolutivo, temos 3 domínios na "árvore da vida". Temos o domínio das Bactérias, o domínio Archaea (procariontes, porém próximos aos eucariotos) e os Eucarióticos. O grau de agregação, especialização e diferenciação foi responsável por promover diferenças entre os seres posteriores à divisão entre procariontes e eucariontes (depois dessa “cisão” não houve mudanças tão significativas no “design” celular). → Os procariotos constituem um grupo evolucionário estabilizado em uma fase primitiva (porém eficiente) da evolução celular. → As Archaea eram consideradas bactérias, mas suas paredes celulares não possuem peptidoglicano e as sequências dos fatores de tradução e ATPases de membrana são mais próximas às dos eucariotos. Podem viver em ambientes extremos: halófilos (ambientes com alta de NaCl); termófilos (crescem até 100º), psicrófilos (crescem até -10º). OBS: O SEQUENCIAMENTO DO DNA auxilia a provar diferenças entre distintas espécies de bactérias e traçar seu caminho de evolução. ❖ CLASSIFICAÇÃO DAS BACTÉRIAS A fração mínima é de bactérias patogênicas para humanos, plantas e outros animais. Famílias >> Gêneros >> Espécies Enterobacteriaceae >> Escherichia >> E. coli; E. hermanii As subespécies ou variedades são: biotipos, sorotipos, fagotipos, virotipos. A identificação ocorre por: análise de características metabólicas, atividade biológica, aspectos moleculares. ● CITOLOGIA BACTERIANA → A principal estrutura da célula bacteriana é sua parede celular, resistente e flexível. Através dela a bactéria faz sua interface com o habitat, e determina sua forma. → O cromossomo bacteriano é uma fita única circular de cadeia dupla, não contido em um núcleo, mas em uma área definida como nucleoide. As histonas não estão presentes para garantir conformação do DNA. Estrutura interna = procarioto típico. → Plasmídeos também podem estar presentes → fragmentos extracromossômicos menores de DNA circular, geralmente conferindo vantagem seletiva. OBS: sem a membrana celular → transcrição e tradução acopladas. → Há formas básicas de bactéria: uma forma cilíndrica (bacilo, bastonetes - existem variantes), uma esférica (cocos), e uma semelhante a uma cobra (espirilos). → Elas também apresentam arranjos, de acordo com plano de divisão celular) → cocos em cachos, em fileira. Isso é determinado geneticamente, mas a expressão fenotípica é variável pelas condições de crescimento, fase de crescimento, etc. → A membrana plasmática das bactérias se conecta a filamentos de actina → determina forma e o local de formação do septo para a divisão celular. ● PAREDE CELULAR BACTERIANA → Existem alguns tipos de bactérias que não possuem paredes celulares, em contraste com a ampla maioria. Essa ausência faz com que elas vivam em ambientes especiais, em que a pressão osmótica não pode variar, para não sofrer lise. A parede protege a célula bacteriana contra a pressão osmótica e a injúria mecânica. → Em certas situações algumas bactérias podem perder sua parede celular. Algumas sobrevivem, mostrando a ausência de efeito de um antibiótico. Quando se termina o uso do antibiótico, elas deixam de reprimir o gene de síntese de parede celular e voltam a gerar infecção do organismo. → A subcomposição da parede celular e organização define as bactérias em gram-positivas e outras gram-negativas. O método de coloração de Gram se tornou padrão para a classificação de bactérias. Por terem paredes celulares diferentes, elas possuem padrões biológicos distintos. → É um teste rápido, eficaz e fácil. Permite diferenciar duas principais classes de bactérias, desenvolver um diagnóstico inicial, e direcionar a conduta terapêutica. Só não é eficaz em bactérias que estejam sob determinado estresse ou tratadas com antibióticos. → Nesse processo se usa dois corantes contrastantes: um azul (cristal violeta) e outro vermelho. Primeiro, usamos o corante cristal violeta e depois um fixador (lugol). A terceira etapa tem efeito crítico, que é a descoloração por um solvente lipídico (álcool, acetona, éter) das bactérias que possuem lipídios em sua parede celular. Caso ela perca a coloração azul (bactéria Gram negativa), pode ser colorida pelo corante vermelho depois (safranina). ❖ PAREDE CELULAR GRAM POSITIVA → É mais espessa e formada de uma camada unilaminar, constituída por um complexo glicoproteico → peptidoglicano/mureína/mucopeptídeo, onde se fixa o cristal violeta. Esse complexo é formado por um conjunto de aminoácidos e dois amino-açúcares (N-acetilglicosamina e N-acetil murâmico). → Mais externamente, na parede encontram-se por ácidos teicóicos, sendo que alguns deles atravessam o complexo e ancoram na membrana plasmática, já outros se projetam para o exterior, formando na superfície do mucopeptídeo uma estrutura que permite a ligação de várias moléculas para a sobrevivência da bactéria no ambiente. Não há lipídios na sua composição, sendo por isso que o álcool não a solubiliza essa parede no tempo determinado pela técnica de Gram. → A lisozima é uma enzima que consegue clivar os amino-açúcares. → Acontece diferença de pressão osmótica pela degradação do peptidoglicano (e da parede) e a bactéria morre. OBS: ÁCIDOS TEICÓICOS → principais antígenos de superfície das bactérias Gram-positivas. Cadeias de ribitol ou gliceril frequentemente substituídas por açúcares e aminoácidos. São importantes fatores de virulência. Os ácidos lipoteicóicos são liberados no meio e no hospedeiro, podendoinduzir respostas semelhantes à endotóxica, embora de modo mais fraco. → Ligando uma cadeia a outra de proteoglicanos temos uma pentaglicina, intermediada por uma cadeia de peptídeos. O mucopeptídeo é o principal alvo da penicilina, desorganizando-o e desfazendo a parede celular, expondo a membrana celular das bactérias. Como as células humanas não possuem parede celular, esse antibiótico até hoje é o melhor no quesito seletividade. Hoje em dia há enorme resistência a ela, mas a molécula da penicilina já foi manipulada em laboratório para aprimorar seus efeitos. ❖ PAREDE CELULAR GRAM-NEGATIVA → Se trata de uma evolução da primeira, mais complexa. Ela é mais delgada, porém apresenta duas lâminas. Uma das lâminas é a camada de peptideoglicano, mas essa lâmina é bem mais fina que a da Gram-positiva. Não estão presentes os ácidos teicóicos e lipoteicóicos. → Mas a segunda camada, a membrana externa, é rica em lipídios, explicando a reação ao solvente de lipídios Gram. Ela tem a função de peneira molecular, permitindo a difusão de certas moléculas, regulando sua entrada e saída; moléculas pequenas passam com maior facilidade, ao passo que moléculas maiores têm sua passagem impedida, com destaque a enzimas e antibióticos. → Além de lipídios encontramos inseridas proteínas especializadas chamadas de porinas, as quais formam poros e justificam a seletividade. Elas tendem a se agrupar, e ao se juntarem formam buracos que permitem a passagem de moléculas, podendo ser maiores, menores, ou apresentando carga. → O lipopolissacarídeo se projeta para a superfície superior. Ele tem um grande interesse clínico, pois sua parte lipídica se ancora na membrana externa, ao passo que a parte polissacarídica se projeta para fora. Anticorpos se ligam à parede celular por esse polissacarídeo e destroem a bactéria, bem como receptores toll-like da imunidade inata. → O lipídio de ancoragem, chamado de lipídio A, produz um choque endotóxico nas infecções causados por bactérias Gram-negativas, contribuindo para sua toxicidade. O choque pode levar a colapso de várias funções no nosso organismo. OBS: Não há choque endotóxico nas infecções por bactérias Gram-positivas. A indução do choque endotóxico é maior com maior quantidade de bactérias, também chamado de choque séptico. O LPS é liberado pelas bactérias, ativando as células B, macrófagos e outras a liberarem IL-1, IL-6, TNF. → O Lipopolissacarídeo se divide em cerne, com açúcares somente encontrados em bactérias (não em células humanas). Ancorado ao cerne temos uma sequência que forma a cadeia lateral/principal (região de variabilidade, com repetições de uma unidade básica - ocorrendo até 25 delas encadeadas) do polissacarídeo, a cadeia O. Nela se ligam os nossos anticorpos. Caso a bactéria modifique essa última subunidade, ela foge ao reconhecimento dos anticorpos e, consequentemente, da nossa atividade imunológica. OBS: Não há atividade contra o cerne, pois não há tanto acesso disponível (está próximo ao lipídio A e, de certa forma, embutido na membrana externa) para a chegada do anticorpo, sendo mais fácil chegar na região mais externa e repetida do polissacarídeo. A membrana externa contribui para impermeabilidade a diversas drogas e enzimas hidrolíticas, como a lisozima produzida por nosso corpo. Ela não é eficiente para bactérias Gram-negativas, pois não consegue ganhar ao atuar sobre o peptideoglicano, e como essas bactérias possuem a membrana externa, não chega ao proteoglicanos por esse bloqueio. Primeiro, teria que romper a membrana externa. ● OUTRAS ESTRUTURAS DA CÉLULA BACTERIANA → As células procariontes apresentam diversidade em suas estruturas externas, que não se limitam à parede celular, principalmente no quesito de sua virulência (capacidade de produzir doenças). ❖ CÁPSULAS E MICROCÁPSULAS → São estruturas produzidas por algumas bactérias, frouxas e fortemente hidratadas que recobrem a parede celular das bactérias. Elas são refratárias a corantes, difíceis de ver (coloração específica). Em geral são de natureza polissacarídica. → Elas podem ter uma grande extensão (cápsulas ou camadas limosas) ou podem ser discretas (microcápsulas ou envelopes). → Para as bactérias não patogênicas, as cápsulas funcionam como uma rede para capturar moléculas no líquido a sua volta, conseguindo uma grande concentração de nutrientes para sua sobrevivência. → Para as bactérias patogênicas, elas têm função de escapar da fagocitose, impedindo a ação do fagócito, sendo um fator de virulência. As cápsulas possuem uma carga elétrica similar a da superfície dos nossos fagócitos, fazendo com que a bactéria seja repelida. Nosso organismo supera esse trabalho com a produção de anticorpos que recobrem a cápsula, tornando-a rugosa e os fagócitos se tornam capazes de digeri-las. → Além disso, também podem atuar como barreira para moléculas hidrofóbicas tóxicas, e pode promover adesão a superfícies do tecido do hospedeiro ou a outras bactérias. Ex: cáries, pneumonia pneumocócica, uretrite gonocócica. ❖ FLAGELOS BACTERIANOS → Nem todas as espécies bacterianas os possuem, e quando sim, se locomovem através dele. São constituídos de proteínas que se organizam de forma helicoidal e flexível, atravessando a parede celular e permitindo o movimento de toda a célula quando o flagelo se move (por quimiotaxia). → Ele é formado por um filamento e um conjunto motor. O filamento é a estrutura cilíndrica longa, delgada e formada por proteínas flagelinas. O corpúsculo basal é constituído por proteínas de ancoragem; ele tem um movimento de rotação, consumindo ATP. → Flagelos podem ser peritríquios (saem de toda a superfície da célula), ou polares, saem de um local potencial. → A função dele na virulência é discutível, mas em algumas doenças ele é considerado, como por exemplo na cólera. A bactéria com flagelo é mais danosa que a sem o flagelo, pois ele daria maior velocidade a célula para atravessar a camada de muco do nosso intestino e causar a doença. OBS:Deslocamento de uma célula bacteriana flagelada ocorre em “corridas e cambalhotas”. ❖ FÍMBRIAS OU PILI → Em casos de bactérias patogênicas, são produzidas pela maioria. Elas têm como principal função a aderência e a colonização de superfícies mucosas. → Também são estruturas proteicas (pilinas), cilíndricas e rígidas. Na ponta desse filamento há uma segunda proteína com função de identificar o receptor na membrana da célula eucariótica e se ligar a ele, uma ligação muito forte (como se fosse antígenos e anticorpos). Essas últimas são chamadas de adesinas. São codificados pelo plasmídeo. → Certas vezes não possuem função na aderência, mas se associam em transferência unidirecional de material genético. Por isso, há o pili sexual/especial, operando como tubo condutor do material entre bactérias (às vezes entre espécies diferentes). → Quando em função de aderência: pili tipo P (Escherichia coli - infecções urinárias) e pili tipo IV (patógenos Gram-negativos). O pili não é expresso continuamente, sensores permitemque eles sejam expressos para que a bactéria possa se ligar → princípio básico da economia. OBS: Meningite meningocócica → Para desenvolver você tem que ser colonizado primeiro, pela orofaringe e nasofaringe. Principalmente da nasofaringe, relacionado à especificidade da bactéria e de seu tropismo (por conta dessa especificidade). ❖ ESPOROS → São uma outra estrutura que encontramos em uma minoria das bactérias, sendo uma forma de a bactéria sobreviver/resistir a um ambiente hostil, como ela se desidrata e se encapsula para superar o ambiente adverso. São produzidos apenas por algumas bactérias Gram-positivas. → Ele contém uma cópia do DNA bacteriano revestido por uma membrana interna, duas camadas de peptidoglicano e uma última camada de queratina. Assim, protegem o primeiro do calor, de radiação e de vários agentes químicos. → Muito difícil destruí-lo, sendo necessário expor a temperaturas elevadas em autoclave (nem sanitizantes). Esporos não são formas vivas, são criptobióticos, metabolicamente inertes, mas revertem rapidamente à forma metabolicamente ativa. Ex: esporos como os de clostridium tetani sobrevivem ao calor extremo, revertendo à forma ativa quando encontram os tecidos humanos. OBS: Já foram detectados Esporos viáveis com mais de 300 anos. → A esporulação é um processo complexo que demora entre 6 e 8 horas, requer desidratação acentuada, acúmulo de cálcio, encapsulamento de citoplasma e DNA. Ocorre a depleção de nutrientes específicos e uma cascata de eventos genéticos → Os RNAm de esporos são codificados e outros inibidos, aumenta a concentração de ácido dipicolínico. Após a duplicação do cromossomo, uma cópia do DNA é envolvida pela membrana, peptidoglicano e a membrana do septo de divisão. → Depois são envolvidos pelo córtex (lâmina de peptidoglicano e queratina). Já a germinação é um processo rápido, demorando cerca de 90 minutos e depende de sinais vindos do exterior, como água, lesões químicas ou mecânicas → moléculas sensoras situadas na capa externa impermeável.
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