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Filosofia da Educação - Trilha de Aprendizagem

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UNIDADE 1 
Compreensão do conceito e das origens da Filosofia 
 
Sabemos que no nosso dia a dia existem vários momentos e situações que nos levam a 
refletir e a nos questionar sobre determinados acontecimentos da nossa própria vida ou da 
vida de outros. No entanto, nem sempre temos respostas para tudo. E, em outras situações, 
conseguimos ter várias hipóteses, respostas divergentes, contrárias, possibilidades de 
solução, entre outras. Assim acontece quando se quer saber o conceito da Filosofia e o seu 
nascimento. Há muitas hipóteses, buscas de respostas, comparações, indagações, 
reflexões etc 
 
Figura 1 – Conceito da Filosofia Fonte: Pixabay 
Marilena Chauí, no seu livro Convite à Filosofia, afirma que a Filosofia surge, quando alguns 
gregos, admirados e espantados com a realidade, insatisfeitos com as explicações que a 
tradição lhes dera, começaram a fazer perguntas e buscar respostas para elas, 
demonstrando que o mundo e os seres humanos, os acontecimentos e as coisas da 
Natureza, os acontecimentos e as ações humanas podem ser conhecidos pela razão 
humana, e que a própria razão é capaz de conhecer-se a si mesma. 
 
Em suma, a Filosofia surge quando se descobriu que a verdade do mundo e dos humanos 
não era algo secreto e misterioso, que precisasse ser revelado por divindades a alguns 
escolhidos, mas que, ao contrário, podia ser conhecida por todos, através da razão, que é a 
mesma para todos; quando se descobriu que tal conhecimento depende do uso correto da 
razão ou do pensamento e que, a verdade podia ser conhecida por todos, e pelo mesmo 
motivo, ser ensinada ou transmitida a qualquer pessoa. 
 
A autora, em seu livro, apresenta-nos quatro definições da Filosofia e ressalta que além de 
existirem várias definições, parece também que há contradições. Ficou confuso para você? 
Não se preocupe. Os apontamentos que seguem nos ajudarão a compreender o conteúdo, 
e ao desenvolver as atividades e questões sugeridas ao longo da disciplina, você 
fortalecerá a sua compreensão e aprendizagem. Vamos em frente! 
 
A Filosofia como Visão de Mundo 
Figura 2: Perguntas sobre o mundo Fonte: Pixabay 
Essa definição refere-se à visão de um povo, de uma civilização ou de uma cultura. A 
Filosofia nesta visão não diferencia as ideias e vivências de um povo, ela é tão genérica e 
tão ampla que não permite, por exemplo, distinguir a Filosofia e Religião, Filosofia e Arte, 
Filosofia e Ciência. Essa definição identifica Filosofia e Cultura, pois esta é uma visão de 
mundo coletiva, que se exprime em ideias, valores e práticas de uma sociedade. 
 
Chauí enfatiza que aí está o problema dessa definição, e por isso, ela não é aceita. Para 
que essa definição fosse aceita, seria preciso que houvesse a especificidade do trabalho 
filosófico e não a coletividade. 
 
Visão de mundo significa conjunto de ideias, de valores, de vivências de um povo que 
compreende a si mesmo e o mundo em que vive. 
 
 
A Filosofia como sabedoria de vida 
Essa definição identifica a Filosofia com a definição e a ação de algumas pessoas que 
pensam sobre a vida moral, dedicando-se à contemplação do mundo para aprender com ele 
a controlar e dirigir suas vidas de modo ético e sábio. 
 
Qual o problema dessa definição? Por que ela não é aceita? Segundo Chauí, essa definição 
nos diz, de modo vago, o que se espera da Filosofia (a sabedoria interior), mas não o que é, 
e o que faz a Filosofia e, por isso, também não podemos aceitá-la. 
 
Para que você compreenda melhor as características dessa definição de Filosofia, segue 
um organograma de forma clara e objetiva: 
 
Figura 3 – Organograma sobre a definição de Filosofia como Sabedoria de Vida. 
 
 
 
A Filosofia como esforço racional para conceber o universo como uma 
totalidade ordenada e dotada de sentido 
Figura 4 -Universo como totalidade Fonte: Pixabay 
 
Nesta perspectiva, há uma distinção entre Filosofia e Religião. Embora haja um mesmo 
objeto de estudo, que é a compreensão do universo, há duas posições: Enquanto a 
Filosofia concebe o universo de forma racional, que se baseia inteiramente na razão, por 
outro lado a religião é o inverso da Filosofia e caminha pela fé, ou seja, pela crença 
inabalável de ensinamentos por revelações divinas. Ressalta-se aqui o objetivo da Filosofia 
de buscar até o fim o sentido e o fundamento da realidade, enquanto que a Religião se 
baseia num dado primeiro e inquestionável que é a fé, a revelação divina. 
 
Mas esta definição também apresenta um problema e não é aceita, porque dá a Filosofia a 
responsabilidade para explicar e compreender de forma total o Universo, elaborando um 
sistema universal ou um sistema do mundo. Entretanto, atualmente, essa não é uma tarefa 
possível. 
 
Quanto a isso, Marilena Chauí afirma: 
 
"Há pelo menos duas limitações principais a esta pretensão totalizadora: em primeiro lugar, 
porque a explicação sobre a realidade também é oferecida pelas ciências e pelas artes, 
cada uma das quais definindo um aspecto e um campo da realidade para estudo (no caso 
das ciências) e para a expressão (no caso das artes), já não sendo pensável uma única 
disciplina que pudesse abranger sozinha a totalidade dos conhecimentos; em segundo 
lugar, porque a própria Filosofia já não admite que seja possível um sistema de pensamento 
único que ofereça uma única explicação para o todo da realidade.” (Chauí, p.15, 2000). 
 
A Filosofia como fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos e 
das práticas 
Nesta perspectiva, a Filosofia cada vez mais, ocupa-se com as condições e os princípios do 
conhecimento que pretende ser racional e verdadeiro; com a origem, a forma e o conteúdo 
dos valores éticos, políticos, artísticos e culturais; com a compreensão das causas e das 
formas da ilusão e do preconceito no plano individual e coletivo; com as transformações 
históricas dos conceitos, das ideias e dos valores. 
 
A Filosofia volta-se, também, para o estudo da consciência em suas várias modalidades: 
percepção, imaginação, memória, linguagem, inteligência, experiência, reflexão, 
comportamento, vontade, desejo e paixões, procurando descrever as formas e os 
conteúdos dessas modalidades de relação entre o ser humano e o mundo, do ser humano 
consigo mesmo e com os outros. Finalmente, a Filosofia visa ao estudo e à interpretação de 
idéias ou significações gerais como: realidade, mundo, natureza, cultura, história, 
subjetividade, objetividade, diferença, repetição, semelhança, conflito, contradição, 
mudança, etc. 
 
Figura 5: Conflito Humano Fonte: Pixabay 
Esta última descrição da atividade filosófica capta a Filosofia como análise das condições 
da ciência, da religião, da arte, da moral; como reflexão, isto é, volta da consciência para si 
mesmo para conhecer-se enquanto capacidade para o conhecimento, o sentimento e a 
ação; e como crítica, das ilusões e dos preconceitos individuais e coletivos, das teorias e 
práticas científicas, políticas e artísticas. Estas três atividades: análise, reflexão e crítica, 
estando orientadas pela elaboração filosófica de significações gerais sobre a realidade e os 
seres humanos. 
 
Além de análise, reflexão e crítica, a Filosofia é a busca do fundamento e do sentido da 
realidade em suas múltiplas formas, indagando o que são, qual sua permanência e qual a 
necessidade interna que as transforma em outras. O que é o ser e o aparecer-desaparecer 
dos seres? 
 
A Filosofia não é considerada uma ciência, mas uma reflexão crítica sobre os 
procedimentos e conceitos científicos. Não é religião: é uma reflexão crítica sobre as 
origens e formas das crenças religiosas. Não é arte: é uma interpretação crítica dos 
conteúdos,das formas, das significações das obras de arte e do trabalho artístico. Não é 
sociologia nem psicologia, mas a interpretação e avaliação crítica dos conceitos e métodos 
da sociologia e da psicologia. Não é política, mas interpretação, compreensão e reflexão 
sobre a origem, a natureza e as formas do poder. Não é história, mas interpretação do 
sentido dos acontecimentos enquanto inseridos no tempo e compreensão do que seja o 
próprio tempo. Conhecimento do conhecimento e da ação dos humanos, conhecimento da 
transformação temporal dos princípios do saber e do agir, conhecimento da mudança das 
formas do real ou dos seres, a Filosofia sabe que está na história e que possui uma história. 
 
Definição de Filosofia à luz de grandes filósofos 
Vamos ver agora algumas definições de Filosofia de grandes teóricos filósofos, e é de 
extrema importância que você 
 
Figura 6: Platão, Descartes, Kant 
 
Platão ​definia a Filosofia como um saber verdadeiro que deve ser usado em benefício dos 
seres humanos. 
 
Descartes ​dizia que a Filosofia é o estudo da sabedoria, conhecimento perfeito de todas as 
coisas que os humanos podem alcançar para o uso da vida, a conservação da saúde e a 
invenção das técnicas e das artes. 
 
Kant ​afirmou que a Filosofia é o conhecimento que a razão adquire de si mesma para saber 
o que pode conhecer e o que pode fazer, tendo como finalidade a felicidade humana. 
 
Marx ​declarou que a Filosofia havia passado muito tempo apenas contemplando o mundo e 
que se tratava, agora, de conhecê-lo para transformá-lo, transformação que traria justiça, 
abundância e felicidade para todos. 
 
Figura 7 – Karl Marx, Maurice Merleau-Ponty, Espinosa Fonte: Pixabay 
Maurice Merleau-Ponty escreveu que a Filosofia é um despertar para ver e mudar nosso 
mundo. 
 
Espinosa ​afirmou que a Filosofia é um caminho árduo e difícil, mas que pode ser percorrido 
por todos, se desejarem a liberdade e a felicidade. 
 
Segundo Marilena Chauí, o primeiro ensinamento filosófico é perguntar: O que é o útil? 
Para que, e para quem algo é útil? O que é o inútil? Por que, e para quem algo é inútil? O 
senso comum de nossa sociedade considera útil o que dá prestígio, poder, fama e riqueza. 
Julga o útil pelos resultados visíveis das coisas e das ações, identificando utilidade e a 
famosa expressão “levar vantagem em tudo”. Desse ponto de vista, a Filosofia é 
inteiramente inútil e defende o direito de ser inútil. 
 
Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar 
guiar pela submissão às ideias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se buscar 
compreender a significação do mundo, da cultura, da história for útil; se conhecer o sentido 
das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; se dar a cada um de nós 
e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa prática 
que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos dizer que a Filosofia 
é o mais útil de todos os saberes de que os seres humanos são capazes. 
 
O nascimento da Filosofia 
Figura 10 – Nascimento da Filosofia Fonte: Brasil Escola 
Ainda com os escritos de Marilena Chauí, vamos conhecer o que ela aborda sobre o 
nascimento da Filosofia. 
 
Os historiadores da Filosofia dizem que ela possui data e local de nascimento: final do 
século VII e início do século VI antes de Cristo, nas colônias gregas da Ásia Menor 
(particularmente as que formavam uma região denominada Jônia), na cidade de Mileto. E o 
primeiro filósofo foi Tales de Mileto. 
 
Além de possuir data e local de nascimento e de possuir seu primeiro autor, a Filosofia 
também possui um conteúdo preciso ao nascer: é uma cosmologia. 
 
A palavra cosmologia é composta de duas outras: cosmos, que significa mundo ordenado e 
organizado, e logia, que vem da palavra logos, que significa pensamento racional, discurso 
racional, conhecimento. Assim, a Filosofia nasce como conhecimento racional da ordem do 
mundo ou da natureza, donde cosmologia. 
 
Apesar da segurança desses dados, existe um problema que, durante séculos, vem 
ocupando os historiadores da Filosofia: o de saber se a Filosofia - que é um fato 
especificamente grego - nasceu por si mesma ou dependeu de contribuições da sabedoria 
oriental (egípcios, assírios, persas, caldeus, babilônios) e da sabedoria de civilizações que 
antecederam à grega, na região que, antes de ser a Grécia ou a Hélade, abrigara as 
civilizações de Creta, Minos, Tirento e Micenas 
 
Durante muito tempo, considerou-se que a Filosofia nascera por transformações que os 
gregos operaram na sabedoria oriental (egípcia, persa, caldéia e babilônica). Assim, 
filósofos como Platão e Aristóteles afirmavam a origem oriental da Filosofia. 
 
Os gregos, diziam que eles, povo comerciante e navegante, descobriram, através das 
viagens, a agrimensura dos egípcios (usada para medir as terras, após as cheias do Nilo), a 
astrologia dos caldeus e dos babilônios (usada para prever grandes guerras, subida e 
queda de reis, catástrofes como peste, fome, furacões), as genealogias dos persas (usadas 
para dar continuidade às linhagens e dinastias dos governantes), os mistérios religiosos 
orientais referentes aos rituais de purificação da alma (para livrá-la da reencarnação 
contínua e garantir-lhe o descanso eterno). A Filosofia teria nascido pelas transformações 
que os gregos impuseram a esses conhecimentos. 
 
Todos esses conhecimentos teriam propiciado o aparecimento da Filosofia, isto é, da 
cosmologia, de sorte que a Filosofia só teria podido nascer graças ao saber oriental. 
 
Essa ideia de uma filiação oriental da Filosofia foi muito defendida oito séculos depois de 
seu nascimento (durante os séculos II e III depois de Cristo), no período do Império 
Romano. Quem a defendia? Os pensadores judaicos, como Filo de Alexandria, e os Padres 
da Igreja, como Eusébio de Cesareia e Clemente de Alexandria. 
 
Por que defendiam a origem oriental da Filosofia grega? Pelo seguinte motivo: a Filosofia 
grega tornara-se, em toda a Antiguidade clássica, e para os poderosos da época, os 
romanos, a forma superior ou mais elevada do pensamento e da moral. Os judeus, para 
valorizar seu pensamento, desejavam que a Filosofia tivesse uma origem oriental, dizendo 
que o pensamento de filósofos importantes, como Platão, tinha surgido no Egito, onde se 
originara o pensamento de Moisés, de modo que havia uma ligação entre a Filosofia grega 
e a Bíblia. 
 
Os Padres da Igreja, por sua vez, queriam mostrar que os ensinamentos de Jesus eram 
elevados e perfeitos, não eram superstição, nem primitivos e incultos, e por isso mostravam 
que os filósofos gregos estavam filiados a correntes de pensamento místico e oriental e, 
dessa maneira, estariam próximos do cristianismo, que é uma religião oriental. 
 
No entanto, nem todos aceitaram a tese chamada “orientalista”, e muitos, sobretudo no 
século XIX da nossa era, passaram a falar na Filosofia como sendo o “milagre grego”. Com 
a palavra “milagre” queriam dizer várias coisas: 
 
2. Que a Filosofia surgiu inesperada e espantosamente na Grécia, sem que nada anterior a 
preparasse; 
 
3.Quea Filosofia grega foi um acontecimento espontâneo, único e sem par, como é próprio 
de um milagre; 
 
4.Que os gregos foram um povo excepcional, sem nenhum outro semelhante a eles, nem 
antes e nem depois deles, e por isso somente eles poderiam ter sido capazes de criar a 
Filosofia, como foram os únicos a criar as ciências e a dar às artes uma elevação que 
nenhum outro povo conseguiu, nem antes e nem depois deles. 
 
ntes e nem depois deles. Nem oriental, nem milagre. Desde o final do século XIX da nossa 
era e durante o século XX, estudos históricos, arqueológicos, linguísticos, literários e 
artísticos corrigiram os exageros das duas teses, isto é, tanto a redução da Filosofia à sua 
origem oriental, quanto o “milagre grego”. 
 
Retirados os exageros do orientalismo, percebe-se que, de fato, a Filosofia tem dívidas com 
a sabedoria dos orientais, não só porque as viagens colocaram os gregos em contato com 
os conhecimentos produzidos por outros povos (sobretudo os egípcios, persas, babilônios, 
assírios e caldeus), mas também porque os dois maiores formadores da cultura grega 
antiga, os poetas Homero e Hesíodo, encontraram nos mitos e nas religiões dos povos 
orientais, bem como nas culturas que precederam a grega, os elementos para elaborar a 
mitologia grega, que, depois, seria transformada racionalmente pelos filósofos. 
 
Identificação do conhecimento mítico e filosófico 
 
Figura 11: Mito da QuimeraFonte: OpenClipart-Vectors / Pixabay 
Neste tópico iniciaremos com o significado da composição etimológica das palavras 
Filosofia e mito para que você possa compreender algumas considerações que virão. 
 
A referida palavra vem do grego philos + sophia. Philos diz respeito à filiação, amizade; e 
sophia simboliza sabedoria 
 
Analisando a formação da palavra de forma bem simples, o resultado será: “o filósofo é 
amigo da sabedoria. ” 
 
Com relação à palavra mito, a sua formação é a seguinte: Mito também vem do grego 
mythos. Dois verbos concorrem para mythos: o primeiro é mytheo que significa a 
conversação, a designação. O segundo verbo é mytheyo, que equivale à narração. O mito é 
aquele que narra, que conta algo a alguém que acredita nele e está disposto a ouvi-lo. 
 
Agora, respaldado no livro Filosofia da Educação do autor Paulo Giraldelli Jr, seguirão 
algumas relações entre mito e Filosofia. 
 
Segundo o autor, 
 
“A Filosofia na perspectiva da Grécia antiga, é uma atividade que visa ao saber". 
 
Aos olhos do filósofo grego clássico, o mito não está preocupado em levar alguém ao saber 
verdadeiro, ao conhecimento, à narrativa explicativa que não evoca relações sobrenaturais 
ou mágicas”. 
 
Mediante as considerações feitas pelo autor, ressalta-se que a função do mito não é 
propagar a verdade, o real conhecimento. 
 
Mas, conforme afirma o autor, a função do mito caracteriza se da seguinte forma: 
 
“O papel do mito é o de informar as pessoas e dar sentido à existência delas, as que creem 
nele, mas principalmente, o mito deve socializar os que vivem em uma comunidade que é 
mantida unida, em grande parte, por tal função de agregação que ele proporciona”. 
 
Você compreendeu bem? 
 
O pensamento mítico consiste na maneira pela qual um povo explica aspectos essenciais 
da realidade em que vive: a origem do mundo, o funcionamento da natureza e dos 
processos naturais e as origens deste povo, bem como seus valores básicos. O mito 
caracteriza-se sobretudo pelo modo como estas explicações são dadas, ou seja, pelo tipo 
de discurso que constitui. O próprio termo grego “mythos” (μυθoσ) significa um tipo bastante 
especial de discurso, o discurso ficcional ou imaginário, sendo por vezes até mesmo 
sinônimo de “mentira”. (Marcondes, 2002). 
 
Você já leu ou ouviu falar sobre o mito da caverna? Essa alegoria retrata bem a questão da 
ignorância e do conhecimento. O Mito da Caverna ou A Alegoria da Caverna, como assim 
também é conhecido, foi escrito por Platão. 
 
Platão nasceu em Atenas, era filósofo e matemático pertencente ao período clássico da 
Grécia. Além disso, foi discípulo de Sócrates e Mestre de Aristóteles. A doutrina de Platão 
possui grande influência em toda a Filosofia ocidental e encontra-se na obra intitulada A 
República. 
 
Figura 12: Platão Fonte: Pixabay 
Você viu quantas informações importantes? Mas não para por aqui. Agora vamos conhecer 
um pouquinho sobre o Mito da Caverna. 
 
O Mito da Caverna 
O Mito da Caverna é uma metáfora, ou seja, uma comparação, uma representação da 
humanidade ou do estado humano em face do mundo, acerca da importância do 
conhecimento filosófico, uma vez que é este conhecimento que possibilitará a visão de 
mundo de uma forma racional, buscando as respostas necessárias na causalidade e não no 
acaso, nem nas relações sobrenaturais ou mágicas, como você viu acima com relação ao 
papel do mito. Além do conhecimento filosófico, a educação também é uma forma de 
remover a ignorância, pois abre possibilidades de crescimento humano quanto à visão de 
mundo e de homem. 
 
O Mito da Caverna representa um mundo fechado às possibilidades de mudança; 
representa o drama de prisioneiros que desde a sua infância estiveram em um lugar onde 
só era possível ver uma parede iluminada por uma fogueira; um mundo onde as pessoas 
estão acostumadas a viverem em um mesmo lugar aprisionadas, acorrentadas, imóveis. Um 
lugar sem luz, sem brilho, sem perspectivas; um ambiente onde só se pode ver o que está à 
frente, pois com os pescoços acorrentados não há possibilidade de olharem para um lado e 
outro. 
 
E, nesta caverna, a fogueira era para iluminar um palco onde estavam umas estátuas de 
animais, plantas e de homens representando cotidianos. E, como só viam o que estavam à 
sua frente, foram se acostumando com as sombras que se projetavam na parede pelo fogo. 
E isso era a única coisa que conheciam. Nunca tinham visto outro lado da parede, o seja, o 
mundo fora da caverna, não conheciam a luz do sol. O único conhecimento que tinham era 
aquelas sombras que o conceberam como realidade. 
 
Consideremos então, que um desses prisioneiros se rebele e resolva de todas as formas 
não se sujeitar mais àquelas condições. Então, decide quebrar as correntes, libertar-se e 
passar para o outro lado da parede, do muro, e assim o fez com muito esforço, sentindo 
toda a dificuldade de se locomover, devido ao tempo em que passou acorrentado e imóvel, 
bem como sem enxergar direito por causa do escuro da caverna em contraste com a luz 
que vem de fora: a luz do sol e não a fogueira. 
 
Figura 13: O mito da caverna Fonte: Pixabay 
No entanto, progressivamente, adapta-se àquela luz e percebe que além do seu mundo, 
existe outro. Este novo mundo é completamente diferente do mundo em que viveu, do único 
mundo que conhecia. Neste novo mundo as pessoas e os objetos, que ele só conhecia 
como sombras na parede da caverna, eram pessoas e objetos reais. E o mais importante é 
que ele constatou que esteve enganado durante toda a sua vida por acreditar que aquelas 
sombras que vira eram reais. E ao vislumbrar uma nova perspectiva de vida, de mundo, de 
realidade, lamenta ter vivido tanta ignorância.Com essa nova visão de mundo e livre da ignorância em que viveu durante toda a vida, 
volta à caverna cheio de entusiasmo e narra de forma maravilhado tudo o que viu aos 
outros. Queria convencê-los de que estavam enganados com aquele mundo, que existia 
luz, existiam pessoas reais, objetos reais e que aquelas imagens que eles viam eram 
apenas sombras. 
 
Mas, infelizmente, os companheiros que ali estavam não acreditaram em nada do que 
ouviram. Ao invés de acreditarem, zombam dele, agem com agressão e ainda comentam 
que o mundo exterior lhe causou mal, pois tinha interferido na consciência e concepção de 
realidade. 
 
Portanto, não o acompanharam nem quiseram ouvir mais nada com relação a esse novo 
mundo, pois tinham o conhecimento do mundo deles e era nisso que acreditavam. 
 
Então, caro (a) aluno (a), o que você acabou de ler é um exemplo da relação entre 
conhecimento filosófico e conhecimento mítico, ressaltando a ignorância e o conhecimento. 
 
Danilo Marcondes, em seu livro Iniciação à História da Filosofia, afirma que as lendas e 
narrativas míticas não são produto de um autor ou autores, mas parte da tradição cultural e 
folclórica de um povo. Sua origem cronológica é indeterminada, e sua forma de transmissão 
é basicamente oral. O mito é, portanto, essencialmente fruto de uma tradição cultural e não 
da elaboração de um determinado indivíduo. 
 
O autor diz que, por conter tradição cultural, o mito é configurado pela própria visão de 
mundo dos indivíduos, através da sua maneira de vivenciar esta realidade. Nesse sentido, o 
pensamento mítico deduz a concordância, a aceitação dos indivíduos, na medida em que 
constitui as formas de sua experiência do real. 
 
O autor, continua idealizando considerações quando se trata do significado do mito e 
expande suas colocações ao dizer que o mito não se justifica, não se fundamenta, portanto, 
nem se presta ao questionamento, à crítica ou à correção. Não há discussão do mito porque 
ele constitui a própria visão de mundo dos indivíduos que pertencem a uma determinada 
sociedade, tendo, portanto, um caráter global que exclui outras perspectivas a partir das 
quais ele poderia ser discutido. Ou o indivíduo é parte dessa cultura e aceita o mito como 
visão de mundo, ou não pertence a ela e, nesse caso, o mito não faz sentido para ele, não 
lhe diz nada. A possibilidade de discussão do mito, de distanciamento em relação à visão 
de mundo que apresenta, supõe já uma transformação da própria sociedade e, portanto, do 
mito como forma reconhecida de se ver o mundo nessa sociedade. 
 
Conversando sobre o mito com Marilena Chauí 
Como o mito narra a origem do mundo e de tudo o que nele existe? 
 
De três maneiras principais 
 
1. Descobrindo a origem dos seres, popularmente dizendo, encontrando o pai e mãe das 
coisas, considerando desta forma, que tudo o que existe se origina de relações sexuais 
entre forças divinas e pessoais. 
 
Destas relações são gerados outros deuses, que são eles: Os Titãs, que são seres 
semi-humanos e semidivinos; Os Heróis, que são considerados filhos de um deus com uma 
humana ou de uma deusa com um humano; Os humanos, os metais, as plantas, os 
animais, as qualidades, como quentefrio, seco-úmido, claro-escuro, bom-mau, justo-injusto, 
belofeio, certo-errado, entre outros. 
 
A narração da origem é a genealogia, ou seja, o relato da origem dos seres, das coisas, das 
qualidades, que outros seres recebem, vindos de seus pais ou antepassados. 
 
Vamos exemplificar, através da narrativa mítica. Contemplando as pessoas apaixonadas, 
que estão demasiadamente cheias de ansiedade e de plenitude, elaboram mil expedientes 
para estar com a pessoa amada ou para seduzi-la e serem correspondidas e também 
serem amadas. O mito narra a origem do amor, isto é, o nascimento do deus Eros, que nós 
o conhecemos popularmente pelo nome de Cupido: 
“Aconteceu uma grandiosa festa entre os deuses, e todos os deuses foram convidados, 
com exceção da deusa Penúria, sempre miserável e faminta. Assim que a festa acabou, 
Penúria veio sorrateiramente e comeu os restos deixados e foi ao encontro do deus Poros, 
considerado o mais astuto e engenhoso dos deuses, ela o seduziu a ter relações sexuais. 
Dessa relação sexual, nasceu Eros (ou Cupido), que, como sua mãe, está sempre faminto, 
sedento e miserável, mas, como seu pai, tem mil astúcias para se satisfazer e se fazer 
amado. Por isso, quando Eros fere alguém com sua flecha, esse alguém se apaixona e logo 
se sente faminto e sedento de amor, elabora astúcias para ser amado e satisfeito, ficando 
ora maltrapilho e semimorto, ora rico e cheio de vida”. 
 
2. Descobrindo a rivalidade ou a aliança, na convivência dos deuses, que desta, surgem as 
coisas no mundo. Esta narrativa, leva a dar origem a uma guerra entre as forças divinas, ou 
uma aliança que provoca reações no mundo dos homens. 
 
O poeta Homero, na Ilíada, que narra a guerra de Tróia, explica por que, em certas 
batalhas, os troianos eram vitoriosos e, em outras, a vitória cabia aos gregos. Os deuses 
estavam divididos, alguns a favor de um lado e outros a favor do outro. A cada vez, o rei 
dos deuses, Zeus, ficava com um dos partidos, aliava-se com um grupo e fazia um dos 
lados - ou os troianos ou os gregos - vencer uma batalha. 
 
Figura 13 - HomeroFonte: Pixabay 
 
A causa da guerra, foi a rivalidade entre as deusas. Elas apareceram em sonho para o 
príncipe troiano Paris, oferecendo a ele seus dons e ele escolheu a deusa do amor, 
Afrodite. As outras deusas, enciumadas, o fizeram raptar a grega Helena, mulher do general 
grego Menelau, e isso deu início à guerra entre os humanos. 
 
3. Descobrindo as recompensas ou castigos que os deuses dão a quem os desobedece ou 
a quem os obedece. 
 
Vamos conhecer como o mito faz a narrativa do uso do fogo pelos humanos. Para os 
homens, o fogo é considerado fundamental, pois sua origem o diferencia dos animais. Essa 
diferença ou superioridade aos animais, se dá, pois, os humanos passam a cozinhar seus 
alimentos, a iluminar suas noites, podem se aquecer no inverno, e ainda fabricar 
instrumentos de metal para o trabalho e para a guerra. 
 
Neste mito narra-se que um titã, Prometeu, mais amigo dos homens do que dos deuses, 
roubou uma centelha de fogo e a trouxe de presente para os humanos. Prometeu foi 
castigado (amarrado num rochedo para que as aves de rapina, eternamente, devorassem 
seu fígado) e os homens também. 
 
Qual foi o castigo dos homens? 
 
Os deuses fizeram uma mulher encantadora, Pandora, a quem foi entregue uma caixa que 
conteria coisas maravilhosas, mas nunca deveria ser aberta. Pandora foi enviada aos 
humanos e, cheia de curiosidade e querendo dar a eles as maravilhas, abriu a caixa. Dela 
saíram todas as desgraças, doenças, pestes, guerras e, sobretudo, a morte. Explica-se, 
assim, a origem dos males no mundo. 
 
Figura 14 - Pandora e sua caixa Fonte: Pixabay 
 
Vemos, portanto, que o mito narra a origem das coisas por meio de lutas, alianças e 
relações sexuais entre forças sobrenaturais que governam o mundo e o destino dos 
homens. Como os mitos sobre a origem do mundosão genealogias, diz-se que são 
cosmogonias e teogonias. 
 
A palavra gonia vem de duas palavras gregas: do verbo gennao (engendrar, gerar, fazer 
nascer e crescer) e do substantivo genos (nascimento, gênese, descendência, gênero, 
espécie). Gonia, portanto, quer dizer: geração, nascimento a partir da concepção sexual e 
do parto. Cosmos, como já vimos, quer dizer mundo ordenado e organizado. Assim, a 
cosmogonia é a narrativa sobre o nascimento e a organização do mundo, a partir de forças 
geradoras (pai e mãe) divinas. 
 
Teogonia é uma palavra composta de gonia e theós, que, em grego, significa: as coisas 
divinas, os seres divinos, os deuses. A teogonia é, portanto, a narrativa da origem dos 
deuses, a partir de seus pais e antepassados. 
 
Qual é a pergunta dos estudiosos? É a seguinte: A Filosofia, ao nascer, é, como já 
dissemos, uma cosmologia, uma explicação racional sobre a origem do mundo e sobre as 
causas das transformações e repetições das coisas; para isso, ela nasce de uma 
transformação gradual dos mitos ou de uma ruptura radical com os mitos? Continua ou 
rompe com a cosmogonia e a teogonia? 
 
Duas foram as respostas dadas. 
 
A primeira delas foi dada nos fins do século XIX e começo do século XX, quando reinava 
um grande otimismo sobre os poderes científicos e capacidades técnicas do homem. 
Diziase, então, que a Filosofia nasceu por uma ruptura radical com os mitos, sendo a 
primeira explicação científica da realidade produzida pelo Ocidente. 
 
A segunda resposta foi dada a partir de meados do século XX, quando os estudos dos 
antropólogos e dos historiadores mostraram a importância dos mitos na organização social 
e cultural das sociedades e como os mitos estão profundamente entranhados nos modos de 
pensar e de sentir de uma sociedade. Por isso, dizia-se que os gregos, como qualquer outro 
povo, acreditavam em seus mitos e que a Filosofia nasceu, vagarosa e gradualmente, do 
interior dos próprios mitos, como uma racionalização deles. 
 
Atualmente consideram-se as duas respostas exageradas e afirma-se que a Filosofia, 
percebendo as contradições e limitações dos mitos, foi reformulando e racionalizando as 
narrativas míticas, transformando-as numa outra coisa, numa explicação inteiramente nova 
e diferente. 
 
Figura 14 - Mito, Deusa Fonte: Pixabay 
Quais são as diferenças entre Filosofia e mito? Podemos apontar três como as mais 
importantes: 
 
1. O mito pretendia narrar como as coisas eram ou tinham sido no passado imemorial, 
longínquo e fabuloso, voltando-se para o que era antes que tudo existisse tal como existe 
no presente. A Filosofia, ao contrário, se preocupa em explicar como e por que, no passado, 
no presente e no futuro (isto é, na totalidade do tempo), as coisas são como são; 
 
2. O mito narrava a origem através de genealogias e rivalidades ou alianças entre forças 
divinas sobrenaturais e personalizadas, enquanto a Filosofia, ao contrário, explica a 
produção natural das coisas por elementos e causas naturais e impessoais. 
 
3. O mito não se importava com contradições, com o fabuloso e o incompreensível, não só 
porque esses eram traços próprios da narrativa mítica, como também porque a confiança e 
a crença no mito vinham da autoridade religiosa do narrador. A Filosofia, ao contrário, não 
admite contradições, fabulação e coisas incompreensíveis, mas exige que a explicação seja 
coerente, lógica e racional; além disso, a autoridade da explicação não vem da pessoa do 
filósofo, mas da razão, que é a mesma em todos os seres humanos. 
 
Transição do pensamento mítico para o filosófico 
Para que você enriqueça mais o seu estudo, conhecerá sobre a passagem do pensamento 
mítico à luz dos escritos do autor Danilo Marcondes, que tece importantes considerações 
sobre essa transição. 
 
Os diferentes povos da Antiguidade – assírios e babilônios, chineses e indianos, egípcios, 
persas e hebreus –, todos tiveram visões próprias da natureza e maneiras diversas de 
explicar os fenômenos e processos naturais. Só os gregos, entretanto, fizeram ciência, e é 
na cultura grega que podemos identificar o princípio deste tipo de pensamento que 
podemos denominar, nesta sua fase inicial, de filosófico-científico. 
 
Segundo o autor, um dos elementos centrais do pensamento mítico e de sua forma de 
explicar a realidade é o apelo ao sobrenatural, ao mistério, ao sagrado, à magia. 
 
As causas dos fenômenos naturais, aquilo que acontece aos homens, tudo é governado por 
uma realidade exterior ao mundo humano e natural, superior, misteriosa, divina, a qual só 
os sacerdotes, os magos, os iniciados, são capazes de interpretar, ainda que apenas 
parcialmente. 
 
O pensamento filosófico-científico nasce basicamente de uma insatisfação com o tipo de 
explicação do real que encontramos no pensamento mítico. De fato, desse ponto de vista, o 
pensamento mítico tem uma característica até certo ponto paradoxal. Se, por um lado, 
pretende fornecer uma explicação da realidade, por outro lado, recorre nessa explicação ao 
mistério e ao sobrenatural, ou seja, exatamente àquilo que não se pode explicar, que não se 
pode compreender por estar fora do plano da compreensão humana. A explicação dada 
pelo pensamento mítico esbarra assim no inexplicável, na impossibilidade do conhecimento. 
 
É nesse sentido que a tentativa dos primeiros filósofos da escola jônica será buscar uma 
explicação do mundo natural (a physis, φυσιs, daí o nosso termo “física”) baseada 
essencialmente em causas naturais, o que consistirá em no assim chamado naturalismo da 
escola. A chave da explicação do mundo de nossa experiência estaria então, para esses 
pensadores, no próprio mundo, e não fora dele, em alguma realidade misteriosa e 
inacessível. O mundo se abre, assim, ao conhecimento, à possibilidade total de explicação 
– ao menos em princípio –, à ciência, portanto. 
 
Figura 16 - Escola Jônica Fonte: OpenClipart-Vectors / Pixabay 
 
Nessa perspectiva, acontece a quebra, a ruptura representada pelo pensamento 
filosófico-científico. Essa ruptura ocorre de forma extremamente radical com o pensamento 
mítico, no que se refere à explicação da realidade. No entanto, embora o pensamento 
filosófico-científico tenha surgido por volta do séc. VI a.C., é importante ressaltar que essa 
ruptura com o pensamento mítico não acontece de completa e imediata. 
 
Esse novo tipo de explicação da realidade surge, mas não elimina o mito. Enfatiza-se, 
portanto, que ainda hoje muitas características e elementos do mito estão presentes em 
nossa contemporânea, em nossa cultura representando nossas crenças, superstições, 
costumes, fantasias etc., no nosso mundo imaginário. 
 
Danilo afirma que o mito sobrevive, mesmo que mude, gradativamente, de função, 
passando a ser antes parte da tradição cultural do povo grego do que a forma básica de 
explicação da realidade. Contudo, sua influência permanece, mesmo em escolas de 
pensamento filosófico como o pitagorismo e na obra de Platão. 
 
É nesse sentido que devemos entender a permanência da referência aos deuses nos 
filósofos gregos daquele período. 
 
É claro que essas mudanças de papel do pensamento mítico, bem como a perda de seupoder explicativo, resultam de um longo período de transição e de transformação da própria 
sociedade grega, que tornam possível o surgimento do pensamento filosófico-científico no 
séc. VI a.C. Basicamente, isso corresponde ao período de decadência da civilização 
micênico-cretense na Grécia, por volta do séc. XII a.C, e de sua estrutura baseada em uma 
monarquia divina em que a classe sacerdotal tinha grande influência e o poder político era 
hereditário, e em uma aristocracia militar e em uma economia agrária. 
 
A partir da invasão da Grécia pelas tribos dóricas vindas provavelmente da Ásia central em 
torno de 900 a 750 a.C., começam a surgir as cidades-Estado, nas quais haverá uma 
participação política mais ativa dos cidadãos, e uma progressiva secularização da 
sociedade. A religião vai tendo seu papel reduzido, paralelamente ao surgimento de uma 
nova ordem econômica baseada agora em atividades comerciais e mercantis. O 
pensamento mítico, com seu apelo ao sobrenatural e aos mistérios, vai assim deixando de 
satisfazer às necessidades da nova organização social, mais preocupada com a realidade 
concreta, com a atividade política mais intensa e com as trocas comerciais. É nesse 
contexto que o pensamento filosófico-científico encontrará as condições favoráveis para o 
seu nascimento. 
 
É significativo, portanto, que Tales de Mileto seja considerado o primeiro filósofo e que o 
pensamento filosófico tenha surgido não nas cidades do continente grego como Atenas – 
que terá seu período áureo posteriormente. 
 
Figura 17- Mapa da Grécia Fonte: Pixabay 
 
Essas colônias, dentre as quais se destacaram Mileto e Éfeso, foram importantes portos e 
entrepostos comerciais, ponto de encontro das caravanas provenientes do Oriente – 
Mesopotâmia, Pérsia, talvez mesmo Índia e China –, que para lá levavam suas mercadorias 
que eram embarcadas e transportadas para outros pontos do Mediterrâneo que os gregos 
cruzavam com suas embarcações. Ora, por esse motivo mesmo, nessas cidades conviviam 
diferentes culturas, e de forma harmoniosa, pois o interesse comercial fazia com que os 
povos que aí se encontravam, sobretudo os gregos fundadores das cidades, fossem 
bastante tolerantes. 
 
A principal contribuição desses primeiros pensadores ao desenvolvimento do pensamento 
filosófico, e podemos dizer também científico, encontra-se em um conjunto de noções que 
tentam explicar a realidade e que constituirão em grande parte, como veremos, alguns dos 
conceitos básicos das teorias sobre a natureza que se desenvolverão a partir de então. 
Embora essas noções sejam ainda um tanto imprecisas, já que se trata do momento 
mesmo de seu surgimento, podemos dizer que a Filosofia e a ciência têm aí o seu início em 
nossa tradição cultural. Veremos como, de certa forma, essas noções constituem o ponto 
de partida de uma visão de mundo que, apesar das profundas transformações ocorridas, 
permanece parte de nossa maneira de compreender a realidade ainda hoje. Isso quer dizer 
que podemos reconhecer nesses pensadores as raízes de conceitos constitutivos de nossa 
tradição filosófico-científica. 
 
Agora que você já estudou um pouco sobre a história do conhecimento mítico e do 
conhecimento filosófico, queremos ressaltar que esse estudo lhe abre uma janela muito 
significativa para o mundo da aprendizagem e do conhecimento. 
 
Existem vários autores, estudiosos, teóricos, professores e filósofos que abordam essa 
questão. Nós utilizamos neste tópico a obra de Danilo Marcondes, pois apresenta de forma 
extraordinária e numa linguagem simples e direta questões filosóficas que contribuem 
significativamente para a construção do seu conhecimento e da sua formação. Nessa 
perspectiva, propomos que leia a obra completa desse autor e ficará maravilhado (a) ainda 
mais. 
 
Conhecimento das bases teóricas que fundamentam a história da 
filosofia da educação 
 
Neste tópico, você estudará algumas correntes filosóficas relacionando-as à educação. 
Segundo Alberto Laino, a Filosofia da Educação busca refletir sobre o que é ou o que 
deveria ser o pensamento em torno da educação. Ela não apresenta uma resposta, mas, 
sim, questionamentos sobre a educação. | 
 
No primeiro momento, apresentaremos a concepção de educação, segundo Abbagnano, 
(1999) 
 
O primeiro conceito de educação é, como se disse, o operado pelas sociedades primitivas, 
e também, parcialmente nas sociedades secundárias, sobretudo no que toca à Educação 
Moral e Religiosa. Consiste na transmissão pura e simples das técnicas consideradas 
válidas e na transmissão simultânea da crença no caráter sagrado, portanto imutável, de 
tais técnicas [...]. 
O segundo conceito de educação é aquele pelo qual a transmissão das técnicas já 
adquiridas tem sobretudo a finalidade de tornar possível, através da iniciativa dos indivíduos 
o aperfeiçoamento dessas técnicas. Desse ponto de vista, a educação é definida não do 
ponto de vista da sociedade, mas do ponto de vista do indivíduo: as formações do indivíduo, 
a sua cultura, tornam-se o fim da educação. 
 
Antes de mencionar as principais correntes filosóficas que embasam a história da Filosofia 
da educação, é importante que você compreenda com mais clareza que a Filosofia é 
considerada como uma ação que não só nasce da prática, mas a redireciona, dando novas 
dimensões e modificações necessárias. 
 
A Filosofia caracteriza-se principalmente pela percepção do pensamento como totalidade, 
mas essa totalidade não significa que seja a soma de tudo que compõe a realidade para 
que assim possamos juntar numa só parte. Não! Não é isso. 
 
Essa totalidade implica na relação entre partes contraditórias, como objetos de estudo que 
fazem parte da estrutura da sociedade. Nessa perspectiva, vários temas e autores 
contribuem para a produção do conhecimento em contextos históricos diferentes. 
 
Você estudará agora a principais abordagens no campo da história da Filosofia da 
educação: a fenomenologia, o existencialismo e o estruturalismo. 
 
A Fenomenologia 
Figura 18- Fenomenologia Fonte: Pixabay 
 
A fenomenologia surgiu a partir da crítica do filósofo alemão Edmund Husserl ao 
psicologismo e nega a possiblidade de um conhecimento objetivo, tendo em vista que os 
atos mentais são sempre subjetivos. Após demonstrar que os psicologistas confundiam o 
ato do conhecimento com seu objeto. Husserl desenvolveu um método de análise que 
busca alcançar um conhecimento objetivo por meio da descrição do conteúdo das vivências 
e, para tanto, resgatou o conceito medieval de intencionalidade do intelecto. Nessa análise, 
concebe-se o sujeito de conhecimento e, – por extensão, o educando no processo de 
aprendizagem – como um ser ativo, cujo intelecto tende aos objetos de conhecimento. 
Destacamse nessa área os estudos de Henrique Nielsen Neto e Maria Aparecida Viggiani 
Bicudo, entre outros. 
 
O Existencialismo 
 
Figura 19 - ExistencialismoFonte: Pixabay 
 
O existencialismo se constituiu como um desdobramento da fenomenologia. Martin 
Heiddeger, por exemplo, buscou desenvolver uma análise fenomenológica fundada em uma 
consideração atenta do ser humano em sua condição existencial última, istoé, como ser 
para a morte. das ideias heiddegeriana, o filósofo francês Jean-Paul Sartre definiu de forma 
mais nítida os contornos da Filosofia existencialista, de acordo com a qual a existência 
humana precede a essência, o que equivale a afirmar que o ser humano está 
constantemente fazendo a si mesmo por meio de suas livres escolhas. Revelam-se 
aspectos da Filosofia existencialista em importantes educadores brasileiros, como Paulo 
Freire e Rubem Alves. 
 
O Estruturalismo 
O estruturalismo se opõe ao existencialismo, pois tente a minimizar ou a negar a liberdade 
humana. Para o antropólogo estruturalista Claude Lévi-Strauss, (2012), por exemplo, o 
pensamento humano é determinado por estruturas inconscientes. 
 
Figura 20 - Levi Strauss Fonte: Pixabay 
Para Foucault, o sujeito é um efeito do discurso. Nesse sentido, a educação é exercida 
conforme as práticas sociais que a constituem, como a hierarquização, as relações de 
poder, o esquadrinhamento do espaço e a produção de indivíduos politicamente dóceis e 
economicamente úteis. Alguns educadores brasileiros como, Alexandre Filordi de Carvalho 
e Jonas Rangel de Almeida, enfatizam o aspecto analítico da abordagem foucaultiana da 
educação, enquanto outros como Maurício Tragtenberg utilizam a análise de Foucault como 
alicerce para uma crítica do modelo tradicional de ensino, propondo sua superação em 
moldes libertários. 
 
Classificação e descrição da tipologia do conhecimento 
 
Figura 21 - Conhecimento Fonte: Pixabay 
 
Caro (a) aluno (a), neste último tópico desta Unidade letiva, você irá estudar sobre os tipos 
de conhecimento. É de extrema importância que você perceba o conhecimento como algo 
que está ligado ao homem e à sua realidade, que ele é construído nas relações entre o 
sujeito e o meio, homem e objeto, homem e desejo, homem e realidade, homem e razão. 
Na perspectiva de explicar e entender o conhecimento, existem várias dimensões e 
tendências que o caracterizam: conhecimento empírico, também conhecido como vulgar ou 
senso comum, conhecimento filosófico, conhecimento teológico e conhecimento científico. 
 
Utilizando as ideias de teóricos como Odília Fachin e Cláudio Nei Nascimento da Silva 
apresentaremos as características de cada um dos tipos de conhecimento citado. 
 
Conhecimento empírico 
 
Figura 22 - Conhecimento empiríco Fonte: Pixabay 
 
O conhecimento empírico caracteriza-se pelo senso comum, é aquele que podemos adquirir 
nas experiências vivenciadas no dia a dia. Ele se apresenta pela forma espontânea e direta 
de entendermos. É um tipo de conhecimento que não é profundo, e sim superficial e 
relaciona-se a coisas práticas. 
 
Acontece de forma sensitiva, subjetiva, acrítica e assistemática e não precisa ser 
comprovado pela ciência, não há utilização de técnicas e métodos rígidos. 
 
Segundo Odília Fachin, (2005) o conhecimento empírico é adquirido independentemente de 
estudos, pesquisas, reflexões ou aplicações de métodos. Em geral, é um conhecimento que 
se adquire na vida cotidiana e, muitas vezes, ao acaso, fundamentado apenas em 
experiências vivenciadas ou transmitidas de uma pessoa para outra, fazendo parte das 
antigas tradições. Esse conhecimento também pode derivar das experiências casuais, por 
meio de erros e acertos, sem a fundamentação dos postulados metodológicos. 
 
A autora enfatiza que o primeiro nível dos contatos entre o intelecto e o mundo sensível se 
faz sentir pelo conhecimento empírico, pois ele se contenta com as imagens superficiais das 
coisas, com a visão ingênua do contexto exterior. Por suas características, é um 
conhecimento que não estabelece relações significativas de suas interpretações, 
proporcionando uma imagem fragmentária da realidade. A forma pela qual se conduz só 
permite estabelecer relações vagas e superficiais entre as informações conseguidas. 
 
Fachin ressalta ainda que as declarações do conhecimento empírico se referem à vivência 
imediata dos objetos ou fatos observados, e possui grandes limitações. Por ser um 
conhecimento do dia a dia e preso a convicções pessoais, passa a ser, muitas vezes, 
incoerente e até impreciso. Outras vezes, produz crenças arbitrárias, com inúmeras 
interpretações para a complexidade dos fatos. Geralmente, isso é fruto de uma inclinação 
de interesses voltados para os assuntos práticos e aplicáveis somente às áreas de 
experiência cotidiana. 
 
Figura 23 - Conhecimento através da vidaFonte: Pixabay 
 
Pelo conhecimento empírico, os indivíduos sabem o que são folhas de uma planta 
ornamental, porém não conhecem sua classificação, pois esse assunto compete à área da 
botânica, ou seja, as pessoas não sabem que uma folha, quando completa, apresenta as 
seguintes partes: bainha, pecíolo e limbo. É um conhecimento limitado, não proporciona 
visão unitária global da interpretação das coisas ou dos fatos. 
Embora o conhecimento popular seja muitas vezes negado no meio acadêmico, devemos 
reconhecer que seu surgimento e utilização correspondem a uma visão específica de 
mundo, presente em contextos sociais marcados pela espontaneidade, como nas 
comunidades agrárias e interioranas. 
 
O conhecimento empírico é considerado prático, pois sua ação se processa segundo os 
conhecimentos adquiridos nas ações anteriores, sem nenhuma relação científica, metódica 
ou teórica. E quando obtido por informações, ele tem ligação e explicação com uma ação 
humana. Seus acontecimentos procedem da vivência e parecem contidos previamente nos 
limites do mundo empírico. 
 
A autora conclui o seu posicionamento afirmando que o conhecimento empírico é a 
estrutura para se chegar ao conhecimento científico; embora de nível inferior, não deve ser 
menosprezado. Ele é a base fundamental do conhecer, e já existia muito antes de o ser 
humano imaginar a possibilidade da existência da ciência. 
 
Conhecimento Filosófico 
 
Figura 23 -Filosofando Fonte: Pixabay 
 
A Filosofia teve seu início na Jônia, Ásia Menor, com Tales de Mileto, e na Magna Grécia, 
sul da Itália, no século VI a.C. Após o sucesso de Atenas na luta contra os persas, 
desviouse e expandiu-se a sabedoria na Grécia. Nesses conhecimentos tiveram grande 
destaque Sócrates (por volta de 469-399 a.C.), Platão (mais ou menos 427-347 a.C.) e 
Aristóteles (por volta de 384-322 a.C.). Por conseguinte, o pensamento filosófico foi 
difundindo-se por todo o mundo civilizado, com uma tradição que prevalece até os dias 
atuais. 
 
O conhecimento filosófico caracteriza-se pela compreensão dos estudos da relação do 
homem com o universo questionando a si mesmo e a realidade. Nele, as perguntas valem 
mais que as respostas, abrange os estudos sobre ética, estética, lógica e política. 
 
Cláudio Nei, afirma que são muitas as contribuições que o conhecimento filosófico 
apresenta. Uma delas é a construção de uma consciência crítica sobre a realidade, pois, de 
modo geral, somos tomados pela rotina das atividades sociais que desempenhamos, o que 
nos absorve para o hábito de proceder todos os dias da mesma maneira, sem nos ater às 
sinuosidades do real. Para percebermos isso, é preciso lançar mão do conhecimento 
científico, que possibilita a elevação do nosso senso crítico, mediante o uso das faculdadesmentais mais elevadas. 
 
Segundo Fachin, o conhecimento filosófico conduz à reflexão crítica sobre os fenômenos e 
possibilita informações coerentes. Seu objetivo é o desenvolvimento funcional da mente e, 
procurando educar o raciocínio. O estudioso, ao obter as informações das operações 
mentais e todas as suas formas de processá-las, chega a um raciocínio lógico e a um 
espírito científico como hábito. É a razão que nos dá o conhecimento; a intuição permite que 
a razão coordene, analise e sintetize em uma visão clara e ordenada. 
 
Existe profunda interdependência entre o conhecimento filosófico e os demais 
conhecimentos, como o científico, o teológico e o empírico. O conhecimento filosófico 
unicamente guia para a reflexão e conduz à elaboração de princípios e valores universais 
válidos. Não está isolado dos demais tipos de conhecimentos, pois se dispõe como um 
elemento dinâmico e operante no processo geral do conhecimento humano. 
 
Conhecimento Teológico 
 
Figura 24 -Filosofando Fonte: Pixabay 
 
Segundo Fachin (2005), o conhecimento teológico é produto do intelecto do ser humano, o 
qual recai sobre a fé; provém das revelações do mistério oculto ou do sobrenatural, que são 
interpretadas como mensagens ou manifestações divinas. Este conhecimento está 
intimamente relacionado à fé e à crença divina, ou ainda a um deus, seja este Deus, Jesus 
Cristo, Maomé, Buda, um ser invisível ou uma autoridade suprema, com quem o ser 
humano se relaciona por meio de sua fé e crença religiosa Não importa qual é a sua crença, 
tampouco qual é o seu deus; importa, porém, sua fé. 
 
Para a autora, de modo geral, o conhecimento teológico apresenta respostas para as 
questões que o ser humano não pode responder com os demais conhecimentos (filosófico, 
empírico ou científico), pois envolve uma aceitação, ou não, como consequência da fé que o 
aceitante deposita na existência de uma divindade. 
 
O conhecimento teológico está ligado à fé, assim como a botânica está ligada à vida das 
plantas. Sem a vida das plantas não poderia haver botânica, ou sem os astros seria 
impossível a existência da astronomia. Da mesma forma, é impossível a existência desse 
conhecimento sem existir a fé. 
 
Segundo Nascimento, a validade do conhecimento religioso depende da fé professada por 
aqueles que consideram legítimas as verdades reveladas, e essas verdades precisam 
apresentar um sentido, uma coerência mínima para que haja por parte dos seguidores uma 
motivação. 
 
Os autores ainda reforçam que entre as características do conhecimento religioso, 
destaca-se sua irrefutabilidade como a mais marcante, aspecto fortemente influenciado por 
um elemento decisivo desse tipo de conhecimento: o dogma. Ao longo da história da 
humanidade, esse tipo de conhecimento sempre esteve presente e, devido à sua condição 
inquestionável, tem servido como instrumento de controle e coerção. Em algumas nações, 
Estado e Religião fundem-se, como no caso de alguns países árabes. 
 
Fachin (2005) reforça que o conjunto teológico é uma verdade indiscutível ao ser humano 
que é essencialmente radicado em uma fé; a prova mais concreta disso reside no fato de 
jamais se ter encontrado uma tribo, por mais selvagem que seja totalmente destituída de 
qualquer culto ou ideia religiosa. 
 
A autora intensifica suas colocações, afirmando que a fé se manifesta por meio da 
capacidade que a pessoa possui para pensar, sentir e querer. Ela tem sua morada na parte 
invisível e espiritual, e é nisso que consiste todo o seu poder, pois assim se possibilita uma 
operação unida e coesa de suas faculdades. Consiste mais em ser do que em fazer. O ser 
humano dificilmente deixará de ter um conhecimento teológico, pois as experiências da 
própria vida estão ligadas a revelações divinas e à própria fé. 
 
Conhecimento Científico 
 
Figura 24 - Conhecimento Científico Fonte: Pixabay 
 
Ao referir-se ao conhecimento científico, Fachin (2005) considera que este conhecimento 
pressupõe aprendizagem superior. Caracteriza-se pela presença do acolhimento metódico e 
sistemático dos fatos da realidade sensível. Por meio da classificação, da comparação, da 
aplicação dos métodos, da análise e síntese, o pesquisador extrai do contexto social, ou do 
universo, princípios e leis que estruturam um conhecimento rigorosamente válido e 
universal. 
 
Tal conhecimento preocupa-se com a abordagem sistemática dos fenômenos (objetos), 
tendo em vista seus termos relacionais que implicam noções básicas de causa e efeito. 
Difere do conhecimento empírico pela maneira como se processa e pelos instrumentos 
metodológicos que utiliza. 
 
Englobando as sequências de suas etapas, o conhecimento científico configura um método. 
 
O conhecimento científico existe porque o ser humano tem necessidade de aprimorar-se 
constantemente, e não assumir urna postura simplesmente passiva, observando os fatos ou 
objetos, sem poder de ação ou controle sobre eles. Compete ao ser humano, usando de 
seu intelecto, desenvolver formas sistemáticas, metódicas, analíticas e críticas da missão de 
inventar e comprovar novas descobertas científicas 
 
Como o conhecimento descreve e explica-nos a realidade, ele faz parte do nosso mundo. 
Não temos conhecimento que vá além da experiência, mas não podemos, em hipótese 
alguma, considerar que a experiência seja complexa. Dessa maneira, o conhecimento, 
mesmo em seu grau mais elevado, não nos proporciona nada mais que um segmento do 
mundo existente. E a realidade é, em si, parte de uma realidade mais ampla. 
 
Para que você possa fixar e compreender melhor as características de cada tipo de 
conhecimento, segue um gráfico resumindo o que se refere aos conhecimentos de forma 
clara e objetiva. 
 
Você acompanhará cada característica e refletirá sobre o que cada uma representa e quais 
as relações que se estabelecem entre elas. 
Nós acreditamos que a classificação dos tipos de conhecimento apresenta uma grande 
relevância na sua vida, pois contribuirá para a formação profissional, além de auxiliar no seu 
desenvolvimento como pessoa, pois é imprescindível que haja um maior conhecimento de 
si e do outro, a fim de que se possa estabelecer relacionamentos entre todos os elementos 
que interfiram no processo de formação humana. 
 
TIPOS DE CONHECIMENTO: empírico, científico, filosófico e religioso 
 
 
Olá, aluno (a)! Chegamos ao final da nossa Unidade 1 e espero que tenha aproveitado cada 
informação aqui abordada para a construção do seu conhecimento. 
 
UNIDADE 2 
 
Filosofia e pensamento educacional na modernidade 
No curso do século XVI a concepção medieval começou a declinar e aos poucos surgiram 
forças que forjaram o atual mundo moderno. Grandes movimentos marcam o período de 
transição que se estende do declínio da Idade Média até o grande surto de progresso do 
século XVII, a saber: 1) o Renascimento italiano, 2) Reforma Luterana, 3) o avanço da 
investigação científica, 4) o projeto filosófico humanista, 5) o Absolutismo francês, 6) 
posteriormente o Iluminismo. 
É em meio a esse quadro que nasce e se desenvolve o pensamento moderno, marcado 
pela confiança na razão. Trata-se de conferir à razão a tarefa de significar o mundo,reproduzi-lo e representá-lo, afastando do pensamento o que é disperso, desconexo, mítico 
e sobrenatural. 
O período conhecido como Filosofia Moderna, portanto, se estende por pouco mais de dois 
séculos e meio de história. Como todo período histórico da filosofia, é bastante difícil 
fixarmos uma data para seu início. Embora alguns autores considerem a Filosofia do 
Renascimento, nos séculos XV e XVI, como parte da Filosofia Moderna, em geral, aceita-se 
que o filósofo que iniciou a Filosofia Moderna tenha sido René Descartes (1596-1650) no 
século XVII, uma vez que seus trabalhos definiram e deram corpo aos métodos filosóficos 
de tal período. Entretanto, como afirma Franklin e Pinheiro (2014), alguns outros filósofos, 
anteriores a Descartes, como Montaigne (1533-1592) e Francis Bacon (1561-1626), 
aparecem também como membros da Filosofia Moderna. 
Da mesma forma, o trabalho de Ludwing Wittgenstein é considerado o término de tal 
período, iniciando o que é normalmente chamado de período pós-moderno. O período da 
Filosofia Moderna não é caracterizado por uma escola ou doutrina específica, mas por um 
estilo de trabalhar as questões filosóficas e por certas premissas ou hipóteses comuns. 
As áreas exploradas nesta época incluíam a filosofia da mente, especialmente o problema 
mente-corpo identificado por Descartes, epistemologia e metafísica. Por não possuir uma 
escola única, a Filosofia Moderna é normalmente dividida pelas correntes filosóficas que 
exploraram os principais temas desta época. Os principais nomes desta época foram 
organizados posteriormente em dois grupos, os racionalistas e os empiristas. Os próprios 
autores não se identificavam desta forma, mas posteriormente, foram assim organizados, 
em termos de história da filosofia. 
Entre os racionalistas encontramos filósofos franceses e alemães, que defendiam que todo 
conhecimento deve originar-se de algum tipo de ideias inatas na mente (aquelas ideias que 
são nativas, já nascem com a pessoa). Contudo, alguns racionalistas afirmaram ainda que 
todo o conhecimento é inato ou provido por meio do raciocínio dedutivo, enquanto outros 
racionalistas aceitavam um maior papel da experiência. Entre os principais racionalistas 
encontramos René Descartes, o logicista e matemático Gottlob Frege e Baruch Spinoza. 
Tendo como principais figuras os filósofos britânicos John Locke, George Berkely e David 
Hume, o empirismo era o opositor natural do racionalismo. Esta posição defendia que a 
mente era uma tábula rasa, termo introduzido por Locke, significando que não possuímos 
ideias inatas e que o conhecimento é impresso em nossa mente através dos dados dos 
sentidos. Com isto, defendeu ainda que haveriam duas formas para o surgimento das 
ideias, pela sensação e pela reflexão, com ideias podendo ser simples ou complexas. 
Tabela 1: Pontos em Comum e Discordâncias 
 
• Racionalismo: Caracteriza-se pela pressuposição de princípios inatos e conhecimentos a 
priori. O visível esconde aquilo que está para além dele. 
• Empirismo: Nega os princípios inatos e a possibilidade de conhecer a priori. O visível, 
nesse caso, é revelador por si só. A sensibilidade é tomada como a relação primeira com o 
real. 
Pontos em comum: Tentam resolver o problema da capacidade de nosso pensamento para 
captar a realidade externa; partem de convicções teóricas fundamentais que permitem a 
constituição do problema: a indubitabilidade das nossas representações e a existência da 
realidade exterior a elas. 
Fonte: O Autor baseado em FRANKLIN & PINHEIRO, 2014, p. 72 
Nessa direção, devemos entender que o Iluminismo europeu pretende debater a educação 
a partir de uma abordagem epistemológica empirista que ressalta o papel das experiências 
vividas pelos homens. No entanto, o mesmo empirismo, em Locke, por exemplo, aponta 
para a importância da educação em elucidar o vivido e/ou preparar para compreendê-lo 
mais plenamente. Portanto, como aponta Novelli (2001) a educação adquire aqui um papel 
de superação em relação ao antigo regime caracterizado pela centralização do ensino e 
pela concentração de conhecimentos entre poucos escolhidos. 
Kant apresentou ainda um sistema filosófico sofisticado que causou uma verdadeira 
transformação na filosofia alemã. 
Embora seu objetivo de encerrar a disputa entre racionalistas e empiristas, pela unificação 
de ambas as posições, não tenha sido atingido, Kant promoveu grandes mudanças e novas 
correntes na filosofia de sua época, sendo particularmente responsável pelo surgimento da 
corrente filosófica conhecida como Idealismo Alemão. O idealismo veio a afirmar que o 
mundo e a mente devem ser entendidos segundo as mesmas categorias, estabelecendo 
quais categorias seriam estas, o principal trabalho neste sentido foi a Crítica da Razão Pura, 
de Kant, publicada em 1781. Este desenvolvido levou também ao trabalho do filósofo Georg 
Wilhelm Friedrich Hegel. 
A seguir, aprofundaremos as ideias filosóficas de Kant, Hegel e Jean Jacques Rousseau, 
bem com suas contribuições para a Filosofia da Educação. Além disso, também será 
melhor definida a diferença entre os filósofos racionalistas e empiristas no contexto da 
Filosofia Moderna. 
Leitura e recortes acerca de educação e filósofos da modernidade 
René Descartes 
René Descartes (1596-1650) foi um filósofo, físico e matemático francês, sendo uma das 
figuras mais importantes da Filosofia Moderna e da Revolução Científica. O filósofo defende 
a ideia de que a razão serve como guia para o conhecimento. Encontra-se aqui justificado o 
título de racionalismo ao pensamento de Descartes. Suas principais obras são: 
 
 
● Discurso (1637); 
 
● Meditações (1641); 
 
● Os princípios da Filosofia (1644). 
 
Figura 1: René Descartes Fonte: Wikicommons 
Muitos especialistas afirmam que, a partir de Descartes, inaugurou-se o racionalismo da 
Idade Moderna. Décadas mais tarde, surgiria nas ilhas Britânicas um movimento filosófico 
que, de certa forma, seria o seu oposto - o empirismo, com John Locke e David Hume. 
A teoria do conhecimento de Descartes começa com a busca pela certeza, por um ponto de 
partida ou fundamento indubitável, sem cuja base o progresso não seria possível. 
Deste modo, o filósofo é conhecido por lançar a “dúvida metódica”, que se baseia numa 
reflexão que deixa de lado qualquer crença cuja verdade possa ser contestada. A intenção 
de Descartes era mostrar que, mesmo partindo de uma posição cética, pode-se alcançar o 
conhecimento. A “dúvida”, portanto, pode ser usada como ferramenta filosófica. Em virtude 
desse posicionamento, já podemos perceber a importância que terá Descartes no 
desenvolvimento das ideias filosóficas que se dirigem para as questões pertinentes à 
educação. Também consiste o método do conhecimento de quatro regras básicas: 
● Verificar se existem evidências reais e indubitáveis acerca do fenômeno ou coisa 
estudada; 
 
● Analisar, ou seja, dividir ao máximo as coisas, em suas unidades mais simples e 
estudar essas coisas mais simples; 
 
● Sintetizar, ou seja, agrupar novamente as unidades estudadas em um todo 
verdadeiro; 
 
● Enumerar todas as conclusões e princípios utilizados, a fim de manter a ordem do 
pensamento. 
 
Descartescomeçou submetendo suas crenças a uma série de argumentos céticos cada vez 
mais rigorosos, questionando como podemos ter certeza da existência de qualquer coisa. O 
mundo que conhecemos pode ser apenas uma ilusão? Não podemos confiar em nossos 
sentidos com base segura para o conhecimento, porque todos já fomos “iludidos” por eles 
com alguma certa frequência. Ele dizia que talvez estivéssemos sonhando, e o mundo 
aparentemente real não fosse mais que um mundo de sonho. 
Com efeito, Descartes considerava que era preciso colocar todos os conhecimentos que 
temos à prova da dúvida: podemos duvidar de tudo, metodicamente, de maneira sistemática 
e hiperbólica (de modo exagerado). 
Para além das reflexões de um “mundo ilusório, Descartes compreendeu que havia uma 
crença da qual ele não podia duvidar: a crença na própria existência. Cada um de nós 
pensa ou diz: “Sou, existo”- e enquanto pensamos ou dizemos isso, não podemos estar 
errados. Em sua obra Discurso sobre o método, ele apresentou o axioma “Penso, logo 
existo”. 
Apesar de muitas críticas, ao localizar a certeza na própria consciência de mim, Descartes 
introduz um tom de primeira pessoa na teoria do conhecimento que dominou os séculos 
seguintes. 
É importante salientar que Descartes não esperava alcançar certezas absolutas e 
inquestionáveis. Ele argumentou: “Arquimedes exigia apenas um ponto de apoio a fim de 
mover a Terra inteira”. Para Descartes, a certeza sobre a própria existência era esse apoio, 
pois ela o salvava das dúvidas, fornecia-lhe uma base firme e permitia iniciar a jornada de 
volta, isto é, do ceticismo ao conhecimento. Foi crucial para seu projeto de investigação, 
mas não o alicerce de sua epistemologia 
● Conceito de epistemologia 
Teoria do conhecimento ou “conhecimento do conhecimento”. Algumas de suas questões 
centrais são: a origem do conhecimento, o lugar da experiência e da razão na gênese do 
conhecimento; a relação entre o conhecimento e a certeza, e entre o conhecimento e a 
impossibilidade de erro; a possibilidade de ceticismo universal; e as formas de 
conhecimento que emergem das novas conceitualizações do mundo. BLACKBURN, 1997, 
p. 118. 
Na continuidade de seu raciocínio, o famoso dualismo cartesiano associado à separação da 
mente e da matéria (corpo) em duas substâncias diferentes mas em interação. O filósofo 
percebe que é necessário haver uma disposição divina para assegurar a existência de 
quaisquer relações entre os dois domínios divididos. 
Jean Jacques Rousseau 
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) foi um importante filósofo, teórico político, escritor e 
compositor autodidata. É considerado um dos principais filósofos do Iluminismo, precursor 
do romantismo e, sobretudo, grande referência para a filosofia da educação. Suas principais 
obras são: 
Figura 2: Jean Jacques Rousseau Fonte: Wikicommons 
● Discurso sobre a desigualdade entre os homens; 
 
● Contrato social; 
 
● Confissões; 
 
● Emílio ou da Educação. 
 
Rousseau foi fortemente influenciado pelo Romantismo europeu. Além do Iluminismo 
deve-se atentar ainda para a presença e atuação do Romantismo que também insistia 
sobre o determinante papel da educação. Segundo Novelli (2001), o Romantismo 
constitui-se numa reação contra a frieza racionalista do Iluminismo, chamando a atenção 
sobre a natureza, a vida, o instinto, enfim, a sensibilidade. Desse modo pretendia-se um 
homem completamente realizado em todas as suas potencialidades. 
Sem sombra de dúvidas, Emílio, ou, da Educação, escrito em 1762, é a obra mais 
enriquecedora que Rousseau nos deixou a fim de pensarmos sobre os processos de 
educação nesse contexto do Iluminismo e do Romantismo, bem como as etapas da infância 
e as formas como os sujeitos se inserem na sociedade. Hoje se considera o primeiro tratado 
sobre filosofia da educação no mundo ocidental. Explica, por conseguinte, como o indivíduo 
pode conservar sua bondade natural (Rousseau sustenta que o homem é bom por 
natureza), enquanto participa de uma sociedade inevitavelmente corrupta. 
O texto se divide em cinco “livros”, os três primeiros dedicados à infância de Emílio, o quarto 
à sua adolescência, e o quinto à educação de Sofia, a “mulher ideal” e futura esposa de 
Emílio, e à vida doméstica e civil deste, incluindo a formação política. 
Rousseau intenciona mostrar a natureza da arte de educar, que consiste em superar os 
obstáculos e em criar melhores condições que possibilitem o desenvolvimento dos 
indivíduos. A infância é compreendida como uma etapa que tem uma finalidade importante 
para o desenvolvimento de qualquer sujeito, e a ela não se deve impor uma “cultura adulta” 
por meio da autoridade. Vejamos o que Rousseau diz acerca deste assunto: 
A natureza quer que as crianças sejam crianças antes de serem homens. Se quisermos 
perverter essa ordem, produziremos frutos temporões, que não estarão maduros e nem 
terão o sabor, e não tardarão em se corromper; teremos jovens doutores e velhas crianças. 
A infância tem maneiras de ver, de pensar e de sentir que lhes são próprias; nada é menos 
sensato do que querer substituir essas maneiras pelas nossas, e para mim seria a mesma 
coisa exigir que uma criança tivesse cinco pés de altura e que tivesse juízo aos 10 anos. 
Com efeito, de que lhe serviria a razão nessa idade? Ela é o freio da força, e a criança não 
precisa desse freio (ROUSSEAU, 1999, p. 86.) 
Para ele, as instituições educativas corrompem o homem e tiram-lhe a liberdade. Para a 
criação de um novo homem e de uma nova sociedade, seria preciso educar a criança de 
acordo com a Natureza, desenvolvendo progressivamente seus sentidos e a razão com 
vistas à liberdade e à capacidade de julgar por si mesma. Logo, é possível afirmar que a 
idéia central da educação, para Rousseau, é a “conformidade com a natureza”. Trata-se da 
busca rousseauniana da verdade na própria natureza e no homem como ponto de 
convergência da universalidade 
No entanto, o objetivo que permeia a tarefa educacional, mesmo trabalhada de forma 
individual e particular, é o da formação do homem para o convívio com seus semelhantes. 
O objetivo maior do projeto pedagógico rousseauniano sintetiza seus dois ideais 
fundindo-os numa só máxima: a de recriar o homem natural dentro da sociedade. E a 
educação é o instrumento mais propício para essa recriação e transformação pessoal que 
invariavelmente, poderá propiciar mudanças na sociedade (PAIVA, 2011, p. 9). Podemos 
afirmar, dessa forma, que educação para Rousseau não é uma tarefa que se limita ao 
ambiente escolar, a programas ou a instituições específicas. Mas sim uma ação global de 
desenvolvimento do homem em todas as suas necessidades. Isso é claro logo no início de 
sua obra: 
Nascemos fracos, precisamos de força; nascemos desprovidos de tudo, temos necessidade 
de assistência; nascemos estúpidos, precisamos de juízo. Tudo o que não temos ao nascer, 
e de que precisamos adultos, é nos dado pela educação (ROUSSEAU, 1999, p. 8). 
Essa educação, conforme ressaltam Franklin e Pinheiro (2014), nos ensina a importância de 
respeitar a criança em seu próprio mundo, repleto

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