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Behavismo Behaviorismo é um campo da psicologia que considera o comportamento humano como o centro de estudo e investigação da psicologia. A palavra deriva do inglês behavior, que significa comportamento. O Behaviorismo também é conhecido por outros nomes, como comportamentalismo ou comportamentismo. O Behaviorismo teve seu inicio com as pesquisas de dois estudiosos pioneiros, Vladimir Mikhailovich Bechterev e Ivan Petrovich Pavlov. O ponta pé inicial foi dado por Bechterev que o primeiro a imaginar uma psicologia que se baseasse no estudo do comportamento humano, para a qual deu o nome de Psicologia Objetiva. Ivaan Pavlov um renomado fisiologista e ganhador do prêmio nobel de medicina em 1904, ficou conhecido após a teoria de salivação de cães. 1. Ele reparou que o cão sempre salivava quando via seu pote com ração; 2. Logo após o cão estar alimentado eles tocavam um sino (que não causavam efeito no comportamento do animal); 3. Em seguida ao a ração para o cão simultaneamente eles tocavam um sino; 4. Após muitas tentativas, notou-se que apenas com o som do sino o cão saliva, associando assim o som com a ração mesmo não a vendo a sua frente. Concluido: ele percebeu que todos os cães salivavam em frente a um pote de comida porque se tratava de um comportamento inato. E ele não parou ai, continuou investigando e criou o reflexo condicionado que mais pra frente deu inicio ao behaviorismo clássico. O Behaviorismos são subdividido em quatro fases, sendo elas Behaviorismo Filosófico, Behaviorismo Metodológico, Behaviorismo Clássico, Behaviorismo Radical. · Behaviorismo clássico ou metadológico : o Behaviorismo Clássico se propõe a abandonar o estudo dos processos mentais, que dominava a psicologia até então, e mudar seu foco para a observao do comportamento, ele acreditava que é mais produtivo se concentrar no que é observavél descartando assim os processos mentais que se falava na epoca. Segundo o Behaviorismo Clássico, o comportamento se define como qualquer alteração observada em um organismo, que fossem resultado de um estímulo anterior qualquer. É baseado através de observação e experimentação. “qualquer comportamento é sempre uma consequência de um estímulo anterior específico”. · Behaviorismo Filósofico: Considerado analitico ou lógico, é caracterizado pela pré- disposição mental para determinado comportamento ou ação em contrapartida do behavirismo clássico, o behaviorismo filosófico acredita que para a ver determinada resposta para um estímulo específico é necessário antes que o indivíduo tenha uma disposição mental para desenvolver tal resposta. · Behaviorismo Radical: A corrente de behaviorismo surgiu logo após a onda metadólogica, sendo considerada como oposição a anterior. Essa abordagem considera que os comportamentos observáveis eram manifestações externas de processos mentais invisíveis, como o autocontrole, o pensamento, entre outros. É explanado pela corrente que as emoções não dão origem a algum ato ou ação, os comportamento não são onsequências de suas livres escolhas, mais sim de suas ações sejam elas boas os ruins. · Condicionamento operante: Skinner contribuiu criando um método de aprendizado que ocorre em virtude de seus atos e punições com o intuito de compreender um comportamento de um animal no ambiente insirido. Link de videos sobre o tema: · https://www.youtube.com/watch?v=c6kVJNkAeH4 · https://www.youtube.com/watch?v=ipHFpXAgjiA · https://www.youtube.com/watch?v=s4NM1kK5zUc · https://www.youtube.com/watch?v=UkrlNh90BFg · https://www.youtube.com/watch?v=dKXD1Rs-xnI Livros sobre o tema: · · 09-Zilio, D. & Carrara, K. (2016). Behaviorismos, reflexões históricas e conceituais, volume I.pdf INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! BEHAVIORISMOS: REFLEXÕES HISTÓRICAS E CONCEITUAIS DIEGO ZI LIO KESTER CARRARA organizadores VOLUME 1 INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Behaviorismos: reflexões históricas e conceituais, volume I / Diego Zilio, Kester Carrara (organizadores). - São Paulo : Paradigma Centro de Ciências e Tecnologia do Comportamento, 2016. Vários autores ISBN 978-85-69475-02-6 1. Behaviorismo (Psicologia)l 2. Psicologia - Filosofia 3. Psicologia - História I. Zilio, Diego. II. Carrara, Kester. 16-06338 CDD-150.9 índices para catálogo sistemático: 1. Behaviorismos: Psicologia : História 150.9 editor projeto gráfico e diagramação Paradigma Centro de Ciências e Tecnologia do Comportamento Mila Santoro Agosto de 2016 INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! AUTORES Alexandre Dittrich Professor Associado da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Doutor em Filosofia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). Graduado em Psicologia pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB). Bruno Angelo Strapasson Professor Adjunto da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Doutor em Psicologia Experimental pela Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo. Mestre em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Bauru. Graduado em Psicologia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Diego Zilio Professor Adjunto da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Doutor em Psicologia Experimental pela Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo. Mestre em Filosofia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Marília. Graduado em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Bauru. Emilio Ribes Inesta Professor do Centro de Estudos e Investigações sobre Conhecimento e Aprendizagem Humana da Universidade Veracruzana. Doutor em Filosofia pela Universidade Nacional Autônoma do México. Mestre em Psicologia Experimental pela Universidade de Toronto. Graduado em Psicologia pela Universidade Nacional Autônoma do México. Isaias Pessotti Professor Titular da Universidade de São Paulo (USP) - Ribeirão Preto. Doutor em Ciência (Psicologia) pela Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo. Mestre em Filosofia da Ciência pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) - São Paulo. Graduado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo. Jay Moore Professor Emérito da Universidade de Wisconsin-Milwaukee. Doutorem Psicologia Experimental pela Universidade da Califórnia - San Diego. Mestre em Psicologia Experimental pela Universidade de Western Michigan. Graduado em Psicologia pelo Kenyon College. 5 BE H A VI O RI SM O S | A U T O R E S INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! BE H A VI O RI SM O S | A U T O R E S John C. Malone Professor da Universidade do Tennessee - Knoxville. Doutor em Psicologia Experimental pela Universidade de Duke. Graduado em Psicologia pela Universidade Estadual de Nova York (5UNY) - Albany. José Antônio Damásio Abib Professor Adjunto da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR). Doutor em Psicologia Experimental pela Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo. Mestre em Psicologia Experimental pela Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo. Graduado em Psicologia pela Universidade de Brasília (UnB). Kester Carrara Professor Livre-Docente da Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Bauru. Doutor em Educação pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Marília. Mestre em Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Graduado em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Bauru. Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. Maria do Carmo Guedes Professora Titular da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Doutora em Ciências Humanas - Psicologia pela PontifíciaUniversidade Católica (PUC) de São Paulo. Especialista em Psicologia Social e Experimental pela Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo. Graduada em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP) - São Paulo. Renato Ferreira de Souza Professor Adjunto da Universidade Federal de Lavras (UFLA). Doutor em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Mestre em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Graduado em Psicologia pelo Centro Universitário Newton Paiva. Ricardo Pérez-Almonacid Professor do Centro de Estudos e Investigações sobre Conhecimento e Aprendizagem Humana da Universidade Veracruzana. Doutor em Ciências do Comportamento pela Universidade de Guadalajara. Mestre em Psicologia pela Universidade Nacional da Colômbia. Graduado em Psicologia pela Universidade Nacional da Colômbia. Robert H. Wozniak Professor do Bryn Mawr College. Doutor em Psicologia do Desenvolvimento pela Universidade de Michigan. Graduado em Psicologia pelo College of the Holy Cross. 6 INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! SUMÁRIO PREFÁCIO APRESENTAÇÃO 1 O ESSENCIAL EM B. F. SKINNER (1904-1990) Kester Carrara 2 I. M. SECHENOV (1829-1905) E OS "REFLEXOS DO CÉREBRO" Isaias Pessotti 3 I. P. PAVLOV (1849-1936): DO REFLEXO SALIVAR ÀS ATIVIDADES NERVOSAS SUPERIORES Diego Zilio 4 J. LOEB (1859-1924): O COMPORTAMENTO DOS ORGANISMOS NA PRÉ-HISTÓRIA DO BEHAVIORISMO Alexandre Dittrich 5 E. LTHORNDIKE (1874-1949): REVOLUÇÃO E CONTRARREVOLUÇÃO José Antônio Damásio Abib 6 O BEHAVIORISMO CLÁSSICO DE J. B. WATSON (1878-1958) Bruno Angelo Strapasson 11 15 19 33 55 83 113 131 INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! 7 A. P. WEISS (1879-1931): A THEORETICAL BASIS OF HUMAN BEHAVIOR Robert H. Wozniak 159 8 G. H. MEAD (1863-1931): UM AUTOR, DIVERSAS POSSIBILIDADES Renoto Ferreira de Souza Maria do Carmo Guedes 9 E. R. GUTHRIE (1886-1959): A BEHAVIORISM FOR EVERYONE John C. Malone 10 THE NEOBEHAVIORISM OF K. W. SPENCE (1907-1967) Jay Moore 11 LA PSICOLOGIA INTERCONDUCTUAL DE J.R. KANTOR (1888-1984) Emilio Ribes Ihesta Ricardo Pérez-Almonacid 175 199 223 255 INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! PREFÁCIO Conta a lenda que Newton, o físico, sugeria que suas importantes descobertas haviam acontecido porque seus conhecimentos encontravam-se "em pé" sobre ombros de gigantes. Essa ideia foi literalmente trazida para o campo da Análise do Comportamento por Skinner, na afirmação de uma ciência capaz de dar conta do Comportamento Humano (Skinner, 1953, Capítulo 2). Esses gigantes a quem eles - Newton e Skinner - faziam referência eram outros cientistas que tinham olhado para a realidade e feito sobre ela algumas declarações a partir do método científico. Tais declarações, reunidas em obras, ocupariam o papel de ombros, e ao mesmo tempo de base, para que a visibilidade atual do objeto de estudo de qualquer ciência fosse mais ampla no horizonte científico. Anteriormente, o próprio Skinner (1945) já havia afirmado que a Ciência não era uma declaração da verdade: ela nada mais é do que o comportamento verbal dos cientistas. Um comportamento verbal que "se dá" possível em seu tempo de ocorrência, registrado por uma série de declarações permitidas ao cientista por seu método de estudo. Declarações estas que poderiam ser melhores ou piores sobre a realidade, segundo alguns critérios, mas certamente sempre parciais e acumulativas. O que Skinner propõe é uma análise científica do comportamento verbal, inclusive do próprio cientista, para que possamos entender o avanço do conhecimento científico. Behoviorismos é uma obra brilhantemente organizada por Diego Zilio e Kester Carrara que cumpre exatamente essas funções. Em um tempo, nos dá plena consciência de qual é nossa base, ou seja, sobre quais ombros nosso conhecimento atual sobre o comportamento científico repousa. Faz-nos parar momentaneamente de olhar os horizontes do nosso objeto de estudo - o comportamento - e passa a fazer-nos conhecer nossas raízes do conhecimento. A sensação resultante da leitura do livro é a de que agora podemos seguir em frente, em nossa busca de novas declarações, com firmeza! 11 P R E F Á C IO INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! P R E F Á C IO Em outro tempo, Behaviorismos apresenta uma análise muito mais do que histórica ou filosófica de toda a trajetória e vida dos gigantes-autores que nos permitiram olhar o horizonte mais ao longe e além. Destaca ainda as grandes contribuições e pinça as declarações verbais mais importantes desses autores primordiais. Projeta, a partir do crescimento do conhecimento construído até então, melhores direções e melhores focos para onde movimentarmos e inquietarmos nosso olhar. Para essa tarefa, os organizadores reuniram uma plêiade de autores experts em outros autores, que nos arremessam, por meio da leitura deste livro, em uma verdadeira Terra de Gigantes estudiosos do comportamento. Conseguem fazer-nos olhar para as bases e argumentam o quanto as raízes do nosso conhecimento estão fincadas numa terra firme à qual alguns denominaram um dia de Ciência Natural, e dentro dela um território que nos é tão caro chamado por muitos de Psicologia. Analisam, destrincham e interpretam com uma nova e surpreendente metabase aquilo que já foi projetado como cânone de interpretação do comportamento humano - neste caso especial, o comportamento verbal daqueles cientistas que construíram os behaviorismos. O livro é aberto por um texto de Kester Carrara sobre B. F. Skinner (Capítulo 1). É o prenúncio de qual é a Roma a que todos os caminhos irão levar: os capítulos de Behaviorismos argumentam sobre os ombros de quem Skinner fincou suas bases e de quem alçou voo a partir de seus ombros. Tomando impulso na análise do papel de fisiólogos, e apontando tanto para a delimitação do objeto de estudo quanto para o desenvolvimento de conceitos e métodos de conhecimento sobre o comportamento, Isaías Pessotti e Diego Zilio apresentam e analisam as obras de Sechenov (Capítulo 2) e Pavlov (Capítulo 3), respectivamente. Na mesma linha, mostrando a importância da "exploração das fronteiras entre fisiologia e psicologia", Alexandre Dittrich apresenta a vida e a obra de Loeb (Capítulo 4). Este teria exercido uma importante influência na obra de Skinner além de ter sido um orientador intelectual importante para Watson (Capítulo 6), que tem sua história contada para nós por Bruno Strapasson. Watson, ao declarar seu Manifesto Behaviorista, causou impacto e estabeleceu as bases de compromisso com que parte significativa dos autores abordados neste livro estariam comprometidos em suas obras. Nesse caminho para localizar e firmar a psicologia entre as ciências naturais, outro autor relevante é trazido para o foco: contemporâneo de Watson, Weiss (Capítulo 7) 12 INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! nos é apresentado via sua busca de encontrar, conforme Robert H.Wozniak,"a relação entre as bases fisiológicas e a relevância social do comportamento". O momento histórico contado até aqui já tem o behaviorismo declarado. No entanto, histórias paralelas de chegada a pontos semelhantes são então desdobradas. Inspirado em elementos históricos "próximos, mas distantes" do behaviorismo de Watson, José Antonio Damásio Abib se ocupou da trajetória "inovadora e revolucionária" de Thorndike (Capítulo 5). Este teria chegado mais claramente ao estudo do comportamento humano via Darwin, propondo a interpretação do comportamento instrumental e da Lei do Efeito. Conduzidopelo mesmo caminho darwinista, Mead (Capítulo 8) tem suas propostas de interpretações de se/f social mente construído analisadas neste livro por Renato Ferreira de Souza e Maria do Carmo Guedes. Em seguida, algumas outras bases do behaviorismo - podemos dizer, compartilhadas com o behaviorismo radical - poderão ser encontradas nas propostas de Guthrie (Capítulo 9), com sua predileção pela matemática, sua concepção sobre aprendizagem e a psicopatologia vista como normal. Este autor teve sua obra traçada neste livro por John Malone, que ainda ressalta os contornos contextualistas de sua obra. A história de Behaviorismos aqui contada segue em frente retomando a veia respondente do behaviorismo. A linha watsoniana, via Hull, é representada aqui pelo neo-behaviorismo de Spence (Capítulo 10). Jay Moore esmiúça as contribuições desse autor, especialmente, por meio dos conceitos de transposição no controle de estímulos e da redução de drive, tanto nas interpretações sobre o comportamento respondente quanto no instrumental positivo e negativo. Fechando este volume, Emilio Ribes lhesta e Ricardo Pérez-Almonacid apresentam o interbehaviorismo de Kantor (Capítulo 11), um autor reconhecido pelo próprio Skinner como uma influência em sua obra, mas que se afasta dele, segundo os autores, por rupturas marcantes. Uma delas, de caráter lógico, quando Kantor rompe com o modelo de análise e explicação molecular do comportamento e propõe a lógica de campo, que identifica todo fenômeno psicológico como um campo de relações interdependentes dos elementos que o compõem. Como pode ser depreendido da leitura até aqui, Behaviorismos é mais que uma obra de filosofia ou de história de parte da Ciência Psicológica; trata-se de uma verdadeira árvore genealógica de pensamentos. Explica e delineia nossas origens. Esclarece e sossega e a partir da sua leitura podemos dizer "de onde viemos". E nos 13 P R E F Á C IO INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! P R E F A C IO assegura de que estamos incorporados em uma cultura que prioriza um "olhar especial"para o comportamento que leva a um conhecimento nunca antes alcançado sobre o outro e sobre nós mesmos. Roberto Alves Banaco Inverno de 2016 Referencias Skinner, B. F. (1945). The operational analysis of psychological terms. Psychological Review, 52,270-277. Skinner, B. F. (1953). Science and human behavior. New York: MacMillan. 14 INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! APRESENTAÇÃO A proposta de publicação deste livro decorre do convívio acadêmico dos organizadores com a identificação, debate e desenvolvimento de pressupostos, princípios e conceitos que contextualizaram o surgimento da versão skinneriana da filosofia de ciência behaviorista e da própria ciência consolidada como Análise do Comportamento. Pelo menos uma razão compatível com a sólida formação de analistas do comportamento justifica a apresentação do conteúdo subsequente, qual seja a impossibilidade concreta da compreensão de grande parte da proposta behaviorista radical sem um razoável contato com o espírito de época que acompanhou o desenvolvimento histórico antecedente à formulação da proposta do behaviorismo atual. É compreensível que na maioria dos conteúdos curriculares oferecidos nos cursos de Psicologia não estejam detalhadamente presentes as construções teórico- epistemológicas que historicamente embasaram abordagens e escolas psicológicas, incluídas as que pereceram, as que sobreviveram e aquelas que deixaram suas indeléveis marcas no cenário contemporâneo dos principais debates científico- filosóficos acerca das atividades dos organismos vivos. Inevitavelmente, o estudante e o estudioso de Psicologia, ao optarem e se empenharem no domínio de uma das mediações teóricas à sua escolha, são confrontados com a irrenunciável tarefa de recuperar influências, estudar trajetórias e compreender em maior profundidade tanto as transformações gradativas quanto as mudanças radicais derivadas do caráter dinâmico do entorno científico, acadêmico e social de sua área de interesse. Não foi diferente com o behaviorismo. Não se formularam repentinamente e isentas de importantes influências as propostas de Watson e Skinner, do mesmo modo como não tiveram origem única em Hume ou Mach algumas das mais importantes reflexões sobre o fazer ciência. Em adição, para além de Skinner, seguramente o autor behaviorista mais lido e discutido (especialmente na literatura analítico-comportamental brasileira), são vários e variados os autores que foram 15 A P R E S E N T A Ç Ã O INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! A P R E S E N T A Ç Ã O relevantes para a construção e o estabelecimento das práticas culturais behavioristas no contexto geral da psicologia científica. Pode-se dizer que não há apenas uma configuração possível de behaviorismo. Existem behaviorismos. Isso posto, e cientes de que sempre serão inesgotáveis e múltiplas as fontes marcadamente indispensáveis para uma compreensão consistente do behaviorismo contemporâneo, reunimos neste volume parte relevante das influências e convivências conceituais associadas à formulação e consolidação da Análise do Comportamento através da apresentação de alguns autores historicamente importantes, cujas obras foram aqui descritas e analisadas sucintamente por profissionais referenciados na literatura da área. Este primeiro volume inicia-se com capítulo de Kester Corraro dedicado a B. F. Skinner, no qual é ressaltado o desafio de discorrer sobre a personagem mais celebrada e polêmica do movimento behaviorista a fim de delimitar os possíveis elementos centrais de seu behaviorismo radical. Em seguida, Isoios Pessotti escreve sobre I. M. Sechenov, fisiólogo russo responsável por criar um dos primeiros modelos sistemáticos de explicação do comportamento a partir do conceito de reflexo. Considerado o precursor do estudo fisiológico do comportamento na Rússia, Sechenov foi influência notável na formação de I. P. Povlov, foco de análise de Diego Zilio. Em seu capítulo, são traçadas algumas das principais características da proposta pavloviana tendo como pano de fundo considerações de Skinner sobre Pavlov, haja vista que o segundo foi uma das principais influências na formação do primeiro. Alexandre Dittrich, por seu turno, dedica capítulo a J. Loeb. Tendo sido professor de Watson e influência direta (através de seus escritos) e indireta (pela mediação de W. J. Crozier) na formação de Skinner, Loeb é peça central para compreender o behaviorismo enquanto proposta de ciência natural do comportamento. E. L Thorndike é outro autor cuja relevância para o desenvolvimento da ciência do comportamento é costumeiramente negligenciada. José Antônio Damásio Ablb reflete em seu capítulo sobre o legado de Thorndike e o seu lugar entre os comportamentalistas, fazendo contraponto entre o aspecto revolucionário de sua lei do efeito e de sua metodologia de pesquisa experimental e as características conservadoras e ideológicas de sua filosofia social e projeto educacional. Bruno Angelo Strapasson, por sua vez, discorre sobre J. B. Watson. Considerado por alguns como o fundador do behaviorismo, Watson talvez seja um dos autores mais citados da Psicologia, ainda que se possa conjecturar que ele, ao mesmo tempo, seja 16 INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! também um dos autores menos lidos apropriadamente. Nesse contexto, o capítulo dedicado ao autor cumpre a função de apresentar os principais elementos filosóficos, conceituais e metodológicos do behaviorismo clássico de Watson. Robert H. Wozniak aborda em seu capítulo o behaviorismo de A R Weiss. Contemporâneo de Watson, Weiss talvez seja um dos principais (senãoo principal) proponentes do behaviorismo que, nos estágios iniciais do movimento, dedicou parte considerável de sua obra aos desdobramentos filosóficos de sua adoção na Psicologia. Renato Ferreira de Souza e Maria do Carmo Guedes tratam de outro autor usualmente associado ao behaviorismo, mas cuja importância é majoritariamente reconhecida apenas em textos de história da psicologia social: G. H. Mead. Considerado um dos fundadores da psicologia social norte-americana, Mead é um daqueles autores difíceis de classificar: Seria behaviorista? Pragmatista? Interacionista simbólico? Diante dessa situação, o capítulo de Souza e Guedes pretende apresentar elementos históricos, biográficos e conceituais da teoria meadiana a fim de prover um ponto inicial de contato com a sua obra. E. R. Guthrie é o autor abordado no capítulo de John C. Malone. Caracterizada como uma forma elegante (pela sua simplicidade) e sofisticada (pelo seu alcance explanatório) de associacionismo, a teoria da aprendizagem de Guthrie é apresentada em seus detalhes por Malone, que também dá atenção especial à sua aplicação em diversas dimensões da análise do comportamento. O neobehaviorismo de K. W. Spence é o tema do capítulo de JayMoore. De modo geral, o neobehaviorismo é caracterizado pelo uso de explicações que incluem eventos mediacionais hipotéticos para além das relações observadas entre estímulos e respostas. Os neobehavioristas mais conhecidos são L. Hull, E. C.Tolman e Spence (os dois primeiros serão tratados no segundo volume deste projeto). Ao lado de Hull, Spence foi responsável por desenvolver modelos teóricos sobre aprendizagem e motivação que ainda hoje são utilizados em análises comportamentais. O presente volume é finalizado com capítulo de Emilio Ribes lhesta e Ricardo Pérez-Almonacid dedicado a J. R. Kantor. Outro contemporâneo de Skinner, sua obra abrange estudos minuciosos da história da psicologia, epistemologia, lógica, gramática, cultura, fisiologia e, até mesmo, a tragédia humana (como fenômeno artístico, social e natural). Aproveitamos para agradecer a todos os colaboradores que gentilmente acederam ao convite para escrever sobre a trajetória histórica do comportamentalismo. Agradecemos também ao Núcleo Paradigma - Centro de Ciências e Tecnologia do 17 A P R E S E N T A Ç Ã O INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! A P R E S E N T A Ç Ã O Comportamento; especialmente a Roberto Banaco, por ter acreditado no projeto quando ainda era um breve rascunho com os nomes dos"behavioristas"e dos possíveis colaboradores que participariam, e a Roberta Kovac, responsável pela editora do Núcleo Paradigma, que conduziu o processo editorial de maneira exemplar, sempre cuidadosa e atenciosa. Por fim, gostaríamos de dedicar este livro a todos aqueles que, no passado, contribuíram para a criação e manutenção das contingências sociais fomentadoras da prática cultural científica analítico-comportamental. 18 INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! 1 O ESSENCIAL EM B. F. SKINNER (1904-1990) Kester Carrara INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! Ocupa-me a responsabilidade de escrever sobre o mais polêmico quanto celebrado dos behavioristas. Fazê-lo implica um trânsito cuidadoso entre minúcias de sua extensa obra e dimensões contextuais imprescindíveis a uma interpretação criteriosa dos pressupostos básicos de seu pensamento científico. De muitas maneiras se pode escrever e já se escreveu sobre B. F. Skinner, seja recuperando sua biografia, destacando as polêmicas ensejadas por sua obra e seu posicionamento teórico diante delas, resenhando ou analisando seus achados científicos. Entretanto, este ensaio, por sua própria finalidade e movido pela existência de ampla e consistente literatura sobre os aspectos já mencionados, tenciona explicitar dimensões essenciais e irrenunciáveis do Behaviorismo Radical e da Análise do Comportamento, apenas incidentalmente se detendo em detalhes de sua trajetória histórica. O leitor não encontrará nele sequer um breve sinal dos intrincados detalhes que por vezes atravessam sua obra. Não se trata, naturalmente, de uma exposição de princípios comportamentais, o que já foi feito, desde Keller e Schoenfeld (1950), de modo bastante competente por outros analistas. Além disso, o cenário histórico que precedeu, e por vezes ensejou o aparecimento do Behaviorismo Radical de Skinner, é descrito de modo preciso nos próximos capítulos por colegas altamente qualificados. O que poderá, então, o leitor encontrar na sequência, senão apenas as impressões de um profissional interessado, desde 1969, pela obra de Skinner? Que critérios, ademais, poderiam remeter ao que é imprescindível em seu trabalho? Para conduzir uma análise do que se constitua indispensável sem, contudo, transformar este ensaio em reunião de escolhas pessoais, adotarei um roteiro que, embora arbitrário, destaca ofundamental da obra Skinner segundo algumas categorias formuladas no âmbito geral da avaliação de matrizes conceituais da Psicologia: pressupostos filosóficos; formulações conceituais; aplicações; implicações políticas, éticas e ideológicas do Behaviorismo Radical e da Análise do Comportamento. Adotadas essas categorias, a organização do texto distribui sistematicamente o conjunto da obra skinneriana em aspectos considerados fundamentais no contexto desta coletânea, ao mesmo tempo em que facilita ao leitor o acesso crítico à agreste tarefa de examinar tão extensa e valiosa obra com a responsabilidade de proceder à escolha do que seja menos ou mais relevante. 21 1 | 0 E S S E N C IA L E M B .F . S K IN N E R ( 1 9 0 4 -1 9 9 0 ) INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! | 0 E S S E N C IA L E M B . F. S K IN N E R ( 1 9 0 4 -1 9 9 0 ) "Critérios" para escolha de conceitos seminais Evidentennente, nãoéa frequência de ocorrência determos e conceitos em sua obra que, necessariamente, delimita o que é mais importante no contexto paradigmático da proposta de Skinner. De todo modo, um contraexemplo no mínimo coincidente pode ser encontrado tomando-se Science and Human Behavior (1953) como texto representativo do conjunto produzido pelo autor: ali, encontramos 1145 repetições de control e suas variantes; 156 de contingencies; 72 de functional; 56 de relations; 662 de reinforcement; 208 de consequences e mais de 2000 de behavior. Curiosamente, entretanto, apenas nove de selection e nenhuma de radical ou de behaviorism. Se, por um lado, o critério de frequência de ocorrência não parece ser decisivo para considerar quais palavras sugerem diretamente o centro das reflexões skinnerianas, tais termos ensejam chegar a expressões ou arranjos sistemáticos de formulações organizadas de tal modo a expressar princípios indispensáveis da Análise do Comportamento construída com apoio filosófico do Behaviorismo Radical. Naturalmente, tal como ocorre com a maioria dos grandes nomes da Ciência, Skinner fez contato, durante toda a extensão de sua formação, com amplo (mas, a um só tempo, seletivo) grupo de autores. Listar as influências intelectuais que recebeu passaria pela inclusão de Francis Bacon, David Hume, Ivan Pavlov, William James, Ernst Mach e inúmeros outros, sem que o rol pudesse algum dia ser considerado completo, já que seus textos revelam um domínio importante de História, Antropologia, Filosofia, Psicologia, Biologia e Literatura, passando pelos gregos e por nomes e interesses intelectuais tão variados quanto os representados por Bronisfaw Malinowski, Ludwig Wittgenstein, John B. Watson, Charles Darwin e mesmo Johann W. Gõethe eWilliam Shakespeare. Entretanto, tome-se em conta que sua leitura seletiva é, aqui, instrumentalmente orientada pela finalidade de construção de uma ciência (natural) do comportamento. Mesmo quando se considera o físico austríaco Mach como uma das influências mais decisivas para a formulação conceitual-epistemológica comportamentalista de Skinner, parece necessário contextualizá-la e considerá-la no âmbito de finalidades e características de uma ciência suigeneris como a sua Análise do Comportamento. É nesse cenário que Skinner escreve vários artigos desde a conclusão de sua tese de doutorado (1930/31) até a publicação de seu primeiro livro (1938). Neste, aparecem alguns conceitos que serão mais adiante retocados ou abandonados por ele (drive e força do reflexo são exemplos memoráveis). No entanto, embora seja possível polemizar frequentemente sobre algumas formulações fundamentais de Skinner (as 22 INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! noções de comportamento, cultura e sobrevivência da cultura, por exemplo), é notável a consistência interna dos princípios básicos (propriamente derivados de uma análise experimental) entre si e destes em relação a conceitos desenvolvidos indiretamente com auxílio de reflexões teóricas (como em Verbal Behavior, 1957). Essa coerência conceitual-experimental majoritária em Skinner adquire uma importância adicional quando se considera que sua obra não deriva, simplesmente, de mero somatório de influências múltiplas de outros pensadores na história da Ciência. Resulta, diferentemente, de uma articulação profícua e rigorosa, durante aproximadamente 60 anos de trabalho (1930-1990), das relações entre pesquisa empírica e desenvolvimento teórico, o que, na metade final desse período, já suscitava o interesse e dedicação adicionais de muitos pesquisadores sensibilizados com os prognósticos de um promissor futuro para a Análise do Comportamento. O cenário em que se revela a importância da obra skinneriana, portanto, tem características únicas, especialmente no âmbito da Psicologia. Diferencia-se em relação a outras (relevantes) abordagens, justamente, por fazer avançar suas bases para além de uma estrita tarefa conceituai ou de uma descontextualizada tarefa experimental, reunindo-as sob acurada análise de coerência e compatibilidades. Terá sido em parte por essas razões que Skinner, ao ser apontado nos anos quarenta como ateórico e anti-teórico, esclarece, pacientemente, em artigo de 1950 {Are theories oflearning necessary?), as exatas condições sob as quais admitirá "teorizar". Como explicitamos em outra ocasião: Skinner inicialmente recupera alguns conceitos acerca da questão para explicar que o termo teoria a que se refere [e desaprova em suas críticas] é o que inclui em seu significado a explicação de um fato observado com apelo a ações que ocorrem noutro lugar, noutro nível de observação e cuja mensuração se faz em conformidade com outras dimensões que não as derivadas da própria situação e do próprio comportamento envolvidos. É essencialmente a esse tipo de teoria que ele faz as restrições que justificam o título de seu controvertido artigo. É nessa perspectiva que Skinner objeta a três tipos de teorias: as neurofisiológicas, as mentalistas e as conceituais que, respectivamente, ou (1) apelam à explicação do comportamento com base numa concepção não empírica de funcionamento do sistema nervoso central, ou (2) fazem referência a causas do comportamento localizadas na mente (para ele um constructo hipotético constantemente associado a razões teleológicas 23 1 | O E S S E N C IA L E M B .F . S K IN N E R ( 1 9 0 4 -1 9 9 0 ) INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! 1 I 0 E S S E N C IA L E M B . F .S K IN N E R ( 1 9 0 4 -1 9 9 0 ) para o comportamento) ou, finalmente, (3) movem-se num campo onde não há fatos observáveis diretamente. (Carrara, 1994, p. 43) Já nessa época, as objeções de Skinner sinalizam sua segurança em relação à possibilidade de consolidar sua proposta conceituai em bases que não aceitavam o apelo a estruturas hipotéticas destinadas à explicação das atividades dos organismos em suas interações com o ambiente. Nesse aspecto, o Behaviorismo Radical enseja um conjunto de pressupostos, de regramento lógico e de condições sine qua non ao projeto empírico da Análise do Comportamento que, embora possam vir a ser remodelados por esta, não os distorce, deles não desvia, não infringe regras no âmbito da filosofia de ciência escolhida. O liame entre filosofia de ciência e ciência é claro o suficiente para garantir consistência interna entre o que explicar e como fazê-lo. O que explicar não é o comportamento (no sentido rigoroso de que não propõe uma ciência do comportamento, mas uma ciência interessada nas relações entre organismo e ambiente). Todavia, explicar necessita uma sistematização que, embora orientada filosófica e teoricamente, só pode ser construída e testada empiricamente. Para tal, o experimento é a escolha típica da Análise do Comportamento skinneriana. Mas o que revelam os experimentos? Uma resposta à tradicional pergunta sobre "o que é"ou "por que existe"certo fenômeno natural? Skinner segue lógica diversa e opta, coerentemente, pela alternativa dada pela questão sobre "como" ocorrem os fatos (transformados metodologicamente em variáveis) e compreende, com Mach, que descrevê-los nas suas relações é a mais legítima estratégia para responder a tal pergunta. Consolidar a lógica e as estratégias de desenvolvimento que lhe seriam correspondentes não constituiu, certamente, uma história linear, razão pela qual Skinner é recorrente, em toda a sua obra, na discussão de vários conceitos que segue formulando, incluindo o de comportamento (1938, p. 6 e ss.). Isso se dá não somente porque o escopo temático é complexo, mas porque a comunidade de analistas se amplia e há uma crescente retroação discursivo-explicativa sobre os conceitos emitidos por Skinner. Além disso, e sobretudo, porque ciência não consiste em mero acúmulo indiscriminado de achados, mas em acúmulo que ora descarta, ora incorpora novos princípios e resultados empíricos. Assim, não há drástica ou grave incoerência, por exemplo, quando nosso autor pontua inicialmente os conceitos de drive e força do reflexo e, mais tarde, praticamente 24 INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! os abandone. 0 pesquisador, via de regra, vê-se à frente de questões para as quais utiliza a lógica explicativa, cuja tradição conviveu ou tem convivido academicamente. Só o tempo e a experiência proporcionam confrontos com a descoberta acidental e com aquelas decorrentes do esforço de estudo intenso das relações funcionais entre fenômenos por vezes tão aparentemente complexos. Não há, também, que se argumentar sobre as possíveis "falhas conceituais” de Skinner ao longo da construção de seu edifício teórico. Por exemplo, aos que minuciosamente procuram diminuir a importância do autor porque ele teria tido uma compreensão distorcida do fenômeno da deriva continental (quando da explicação da evolução das espécies), resta o convite para que, a despeito das distorções interpretativas que incidentalmente se apresentem no caminho agreste do fazer científico, reflitam parcimoniosamente sobre a relevância do conjunto da obra e suas contribuições para a compreensão do mundo fenomênico. Skinner teria se equivocado (à luz das explicações contemporâneas sobre a evolução das espécies) em relação a uma precisa e desejável elaboração dos seus três "níveis” de variação e seleção, que suscitam a aparência de processos entre si distintos. Além disso, é certo que deixou lacunas diversas sobre a lógica de articulação entre a ontogenia do operante e as transmissõesfilogenética e cultural. No entanto, a meu ver, conquanto a parceria com a biologia evolutiva possa contribuir para novas modulações teóricas e ajustes de precisão conceituai, seria seguramente injusto diminuir a contribuição de Skinner em função desses e outros episódios incidentais tão comuns nas nossas reflexões em busca de conhecimento confiável. A importância de Skinner, como de Pavlov, Mach e Watson, segue para muito além de seus conhecimentos substantivos sobre certos meandros do fazer científico, do mesmo modo que transcende (como no caso de Malinowski) uma avaliação simplesmente idiossincrática (em contraposição a histórica) de valores ético-morais adotados por muitos dos mais importantes personagens da ciência e da filosofia. Isto posto, seguimos para um arbitrário rol e um aligeirado e superficial conjunto de comentários sobre os ingredientes essenciais da Análise do Comportamento como ciência estabelecida com apoio nos pressupostos do Behaviorismo Radical. 0 objetivo é justamente este: identificar os princípios e pressupostos centrais e imprescindíveis que agregam a proposta skinneriana. Os pormenores de tal proposta já não pertencem mais unicamente a Skinner, mas a seus contemporâneos e ao domínio público, de modo que podem, hoje, ser consultados em milhares de artigos de seus comentadores. 25 1 | 0 E S S E N C IA L E M B .F . S K IN N E R ( 1 9 0 4 -1 9 9 0 ) INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! 1 I 0 E S S E N C IA L E M B . F. S K IN N E R ( 1 9 0 4 -1 9 9 0 ) Convicções irrenunciáveis Está próximo do possível poder aquilatar com relativa segurança alguns enunciados, princípios, pressupostos, talvez certos cânones da obra skinneriana. Escolhemos dez, embora seja possível expandi-los para centenas ou reduzi- los radicalmente a apenas um (por exemplo, a seleção pelas consequências), a depender de nossas finalidades. Serão eles examinados (superficialmente) na sequência. Para Skinner: 1. Torna-se crucial que uma ciência do comportamento interessada em mudar o leme da história da Psicologia, conduzindo-a ao âmbito das ciências naturais, considere o determinismo como pano de fundo para inserção de sentenças afirmativas sobre a maneira pela qual se podem explicar fatos da natureza humana. Skinner toma o cuidado de que esse determinismo seja probabilístico e não outro qualquer. Vez que lidará com o mundo empírico do comportamento e do ambiente, o autor adota o pressuposto de um cenário indizível mediante verdades absolutas. O probabilismo, especialmente no que respeita às formulações conceituais derivadas da experimentação, é um dos fatores de correção para o que antes se buscava enquanto realidade das ações humanas explicada em razão de estruturas (quer físicas ou conceituais, porém sempre intraorganísmicas) postuladas até o início do século XX. Aduz-se a essa lógica a consideração de que a dimensão substantiva do empírico se restringe apenas à condição monista e acrescenta-se igualmente a ela a compreensão de que as explicações buscadas excluem certas formulações hipotéticas (mente, intencionalidade, propósito) e privilegiam observação direta (embora não se excluam os estudos teóricos) de relações funcionais entre variáveis. 2. Restaura a introspecção não como método, procedimento ou estratégia de investigação, mas como forma de reconhecer o mundo privado das atividades humanas, colocando-as no mesmo patamar de funcionalidade em que situou o operante e as demais modalidades de comportamento aberto. Em 1945, no Simpósio sobre Operacionismo (Skinner, 1945a; 1945b) ele próprio nomeia a diferença contundente do seu Behaviorismo Radical em relação ao Behaviorismo Metodológico atribuído a Edwin G. Boring e Stanley S. Stevens. Embora faça ressalvas quanto ao status de dado científico atribuído aos relatos verbais, reconhece-os como fonte que pode levar a um conhecimento aproximado (literalmente, uma abordagem) do pensar e dos repertórios 26 INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! comportamentais sob domínio das pessoas (não como algo "depositado" em um arquivo mnemónico, mas como alterações na forma com que o corpo responde a mudanças do ambiente que atuaram e funcionaram como alguma consequência efetiva nas ações dos indivíduos). 3. Ocupa-se de manter aberta uma janela de discussões sobre vários dos conceitos que propõe, dentre eles o de comportamento, proposto sobre bases relacionais desde 1938. Nesse sentido, a Análise do Comportamento não se constitui pautada pela finalidade de estudar o comportamento em si (seja como evento, atributo ou, ainda menos, objeto físico que se aloja nas entranhas de um sistema nervoso complexo), mas o comportamento no âmbito das relações entre o organismo e seu ambiente. O caráter aberto das formulações skinnerianas, contudo, não pode ser entendido como um sinal de fragilidade do sistema, porque há uma característica inalienável na evolução do Behaviorismo Radical e da Análise do Comportamento, compreendida pelo estilo de elaboração, desenvolvimento e consolidação de conhecimento seguro nessa seara. Skinner se comprometeu, no início de sua carreira, a verticalizar inicialmente estudos experimentais para, só depois, arriscar-se em discussões teóricas e desdobramentos conceituais complexos e, adicionalmente, retardar aplicações dos seus achados. Naturalmente, a história revela que nem sempre isso se pôde cumprir, uma vez que, via de regra, grandes e inevitáveis debates, seja na comunidade científica ou na imprensa, exigiram respostas decisivas do autor. 4. Sob esses pressupostos, talvez a pedra angular de sua obra se constitua no processo de seleção pelas consequências, que para alguns é limitadamente descrito em seu artigo de 1981. No entanto, ali, com um texto telegráfico, mas correto, Skinner explicita a essência dos conceitos de contingências de reforçamento (em metáfora que inclui as quatro operações fundamentais da consequenciação) e de sobrevivência. Herança parcial de Darwin, a seleção pelas consequências inclui a dimensão ontogênica do operante, que Skinner considera um "retrato" pormenorizado do que acontece em milhares de anos de evolução filogenética e em dezenas de anos de evolução cultural. O que há de novo e importante na proposta do operante sob essa perspectiva é justamente a possibilidade de que as atividades humanas não sejam mais "explicadas" em termos de dimensões iniciadoras demarcadas por uma mente impalpável, mas por relações com o ambiente que podem 27 1 | O E S S E N C IA L E M B .F . S K IN N E R ( 1 9 0 4 -1 9 9 0 ) INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! 1 I 0 E S S E N C IA L E M B .F .S K IN N E R ( 1 9 0 4 -1 9 9 0 ) ser claramente descritas e mensuradas. Incidentalmente, o fato de que Skinner tenha escolhido o delineamento de sujeito único (com status que permita replicações) não pode ser entendido, sequer por analistas, como uma característica distintiva que identifica os profissionais da área. A escolha do tipo de delineamento não torna ninguém um analista. Skinner fez essa escolha, certamente (como ele próprio informa), pelo fato de que as medidas de tendência central (as médias, modas, medianas) dizem pouco ou quase nada sobre o comportamento individual. Também a fez em função de que o indivíduo que mais se parece consigo mesmo é o próprio indivíduo e, nesse sentido, compará-lo a partir de condições anteriores e posteriores à introdução de algum procedimento fornece medidas bastante precisas sobre os efeitos de variáveis independentes a serem avaliadas. Adicionalmente, note-se que Skinner aponta uma justa e oportuna conveniência para escolher organismos simples e criar um aparato experimentalrazoavelmente livre de muitas das variáveis estranhas disponíveis no ambiente natural. Fosse Skinner buscar o desenvolvimento de todos os princípios que produziu experimentalmente mediante pesquisas em situação natural, é provável que não tivesse produzido um décimo do que conseguiu, seja sozinho ou em colaboração com Ferster (1957) e tantos outros. Para exemplificar, vez mais, que a essência da proposta de Skinner não está, evidentemente no modelo de delineamento que prioritariamente se adota, basta buscar em periódicos qualificados, como JABA e JEAB, experimentos realizados por analistas usando outros formatos de procedimentos de pesquisa, que incluem o uso de estatística inferencial para análise de dados. O que Skinner traz, bastante mais relevante que uma forma econômica e funcional de pesquisar, é uma lógica central subjacente e aplicável a quaisquer instâncias onde comportamento e ambiente estejam ligados por um nexo designado como relações funcionais. Compreender e exercer atividades sob essa compreensão lógica da natureza é o que torna o profissional um analista do comportamento. 5. A esse cenário contextualizador de sua obra, Skinner acrescenta outras tonalidades. Dentre elas, sua convicção de que uma ciência do comportamento tal como a que propõe deve estar baseada em alguma viabilidade funcional. Aos poucos, a aplicabilidade dos princípios que formula vai se tornando mais reconhecida (embora jamais tacitamente aceita), de modo que o autor declara compartilhar com a escolha ética de uma ciência que não apenas descreva 28 INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! regularidades, mas que permita certo otimismo quanto à resolução de questões relevantes tanto na dimensão clínica individual quanto na dimensão cultural que afeta comunidades inteiras. Assume, assim, um pragmatismo moderado, embora a ideia do successful working aparentemente o torne desconfortável diante da lentidão de mudanças sociais por ele esperadas com maior celeridade e apontadas em várias entrevistas. Tem sido informalmente sugerido, em contrapartida, que a Análise do Comportamento se apresenta como uma ciência otimista (ou "para cima", como por vezes se veicula), em contrapartida a uma ciência psicológica "do conflito", que partiria de pressupostos frequentemente apoiados em variáveis individuais ou coletivas que caracterizariam um mal-estar inerente à vida social a ser superado com necessário sofrimento. Todavia, tais ponderações não parecem se apoiar em quaisquer dados concretos, senão em impressões ou vieses fortuitos. 6 . Demarcados seus principais pressupostos, Skinner inscreve no cenário central de sua obra, em construção ágil, o que se conhece por princípios básicos da análise comportamental (são 60 anos de publicações, o que até mesmo pode ser considerado um período curtode tempo-não para a pessoa do pesquisador - quando se estima a vida de uma nova ciência; nesse período, consistente e ampla construção de conhecimento foi alcançada, fundamentalmente por conta da sólida formação de Skinner e de suas características de excelente planejador experimental). Por Skinner (1935; 1937), acordada com Jerzy Konorski e Stefan Miller, surge a confirmação da existência de um novo tipo de condicionamento além do respondente. O operante é revelado e passa a ser o foco principal das investigações do autor. Experimentação é cabalmente a vida científica de Skinner nesse momento, culminando com a publicação do denso Schedules of Reinforcement (1957), com Charles B. Ferster. O texto revela em minúcias as manipulações diferenciais dos dois pesquisadores em relação às variáveis de tempo e frequência de ocorrência como decisivamente influentes na caracterização dos esquemas de reforçamento em intervalo e razão, fixo ou variável. Reconhecer e descrever os inúmeros esquemas, compreender de que maneira a privação e outras operações antecedentes alteram a probabilidade do responder e examinar criteriosamente os diversos procedimentos de extinção passam a ser tarefas imprescindíveis rumo à consolidação da Análise do Comportamento enquanto sistema em busca de 29 1 | O E S S E N C IA L E M B . F. S K IN N E R ( 1 9 0 4 -1 9 9 0 ) INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! 1 | O E S S E N C IA L E M B . F. S K IN N E R ( 1 9 0 4 -1 9 9 0 ) respostas para os principais quesitos da funcionalidade das relações entre comportamento e ambiente. 7. A essa altura, a seminal constituição do paradigma (stricto sensu) da contingência de três termos já se tornara mais um dentre os mais caros conceitos sobejamente testados em situação experimental. Sob condições antecedentes (contextuais) específicas, uma resposta é seguida por alguma consequência. A mudança que suas similares futuras eventualmente exibem sinaliza o tipo de consequência recebida, dentre aquelas tipicamente possíveis no quadrante dos procedimentos de reforçamento positivo e negativo e punição por apresentação de reforço negativo ou retirada de reforço positivo. O repertório alterado do organismo que se comporta diante de um dos múltiplos arranjos possíveis dessas condições é avaliado em termos de um continuum (generalização-discriminação), cuja racional é aplicada a inúmeras situações da vida cotidiana, independentemente de qual espécie de organismo vivo ali esteja e corroborando as características comportamentais em situações parecidas ou diferentes daquelas em que se instalou a resposta original. 8. Em diversas passagens, inclusive naquelas que dizem respeito à preservação e generalidade aplicativa do paradigma da contingência de três termos, Skinner assevera que não lhe parecia necessária a criação de novos conceitos no âmbito de seu sistema. De fato, em seus exercícios de análise de questões sociais várias e das agências de controle, de modo geral, o autor dá conta, com muita competência, da descrição funcional das práticas culturais típicas de seu tempo (Skinner, 1953). 9. Permeou a evolução dos conceitos essenciais uma série de outros agora consolidados: modelagem ou reforçamento diferencial por aproximações sucessivas, modelação, noção de cultura sob o viés comportamental, práticas culturais, planejamento ou delineamento cultural, comportamento social, comportamento verbal (mando, tacto, intraverbal, autoclítico, etc.) e inúmeros outros. Os achados e princípios derivados do ramo central da obra de Skinner podem ser localizados a partir de listas de referência como as de Carrara (1992) e Epstein (1995). 10. O Behaviorismo Radical e a Análise do Comportamento, portanto, se por um lado derivam a experiência de seu proponente principal em parte da influência de sólida literatura por este absorvida, por outro lhe devem tributo por duas 30 INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! virtudes especiais: sua competência como exímio pesquisador experimental; sua capacidade como intelectual consistente e seguro da sistematização que deu ao conjunto de conceitos que torna completo e coerente o nexo entre filosofia de ciência e a própria ciência comportamentalista. Como se pode notar, Skinner construiu um legado considerável, a respeito do qual se pode manter dissensões profundasou compartilhamento teoricamente sustentável. Todavia, se por um lado concordâncias ou discordâncias são perfeitamente possíveis e naturais, parece inadmissível ignorar Skinner como um dos relevantes artífices da Psicologia como ciência. Referências Carrara, K. (1992). Acesso a Skinner pela sua própria obra: publicações de 1930 a 1990. Didática, 28 ,195-212. Carrara, K. (1994). Implicações dos conceitos de teoria e pesquisa na Análise do Comportamento. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 100), 41 -47. Epstein, R. (1995). An updated bibliographyof B. F. Skinner's works. In J. T. Todd & E. K. Morris (Eds.), Modern perspectives on B. F. Skinner and contemporary behaviorism. Westport: Greenwood Press. Ferster, C. B.( & Skinner, B. F. (1957). Schedules of reinforcement. New York: Appleton- Century-Crofts. Keller, F. S., & Schoenfeld, W. N. (1950). Principles of psychology: A systematic text in the science of behavior. New York: Appleton-Century-Crofts. Skinner, B. F. (1935). Two types of conditioned reflex and a pseudo type. Journal of General Psychology, 12,66-77. Skinner, B. F. (1937). Two types of conditioned reflex: a reply to Konorski and Miller. Journal of General Psychology, 16, 272-279. Skinner, B. F. (1938). The behavior of organisms: An experimental analysis. New York: Appleton-Century-Crofts. Skinner, B. F. (1945a) The operational analysis of psychological terms. Psychological Review, 52, 270-277. Skinner, B. F. (1945b). Rejoinders and second thoughts. Psychological Review, 52, 291- 294. Skinner, B. F. (1950). Are theories of learning necessary? Psychological Review, 57(4), 193-216. 31 1 | O E S S E N C IA L E M B . F. S K IN N E R ( 1 9 0 4 -1 9 9 0 ) INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! 1 I O E S S E N C IA L E M B .F . S K IN N E R ( 1 9 0 4 -1 9 9 0 ) Skinner, B. F. (1953). Science and human behavior. New York: MacMillan. Skinner, B. F. (1957). Verbal behavior. New York: Appleton-Century Crofts. Skinner, B. F. (1981). Selection by consequences. Science, 273(4507), 501-504. 32 INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! 2 I. M . . SECHENOV (1829-1905) E OS "REFLEXOS DO CÉREBRO"1 Isaias Pessotti 1 Capítulo publicado originalmente no livro Pré-história do condicionamento. São Paulo: Hucitec-Edusp, 1976. INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! Em 1849, ano do nascimento de Ivan Pavlov, morria um importante especialista em fisiologia experimental, Alexei M. Filomafitsky, cujo nome está ligado à história de Pavlov por três motivos: a) por ter sido professor de Rabbi A. Bossov, autor da primeira fístula estomacal, isto é, da primeira abertura feita no estômago de um animal para observar in vivo processos fisiológicos em curso; b) por ter sido professor de Evgueni S. Botkine, companheiro de pesquisas de Ivan M. Sechenov em Paris e o primeiro a oferecer um trabalho "permanente" a Pavlov; c) por ter sido contemporâneo de Orlovsky e de Inotzentzev, especialistas em atividades tróficas do sistema nervoso, que convidaram Sechenov a participar de seus programas de pesquisas em fisiologia nervosa. O primeiro trabalho publicado por Sechenov foi executado na clínica de Inotzentzev. Quando Filomafitsky morreu, Sechenov, nascido na antiga província de Simbirsk (hoje Ulyanovsk) em 1829, tinha vinte anos e estava procurando seu caminho, primeiro como militar na Escola de Engenharia Militar de Petrogrado e, depois, como aluno da Faculdade de Medicina da Universidade de Moscou. Tendo-se diplomado, aos trinta anos de idade, Sechenov pôs-se a viajar pela Europa em companhia de dois famosos personagens do tempo: o compositor Aleksandr P. Borodin, autor de Príncipe Igor, e o químico Dmitri I. Mendeleiev (futuro mestre de Pavlov que, nesse tempo, tinha apenas sete anos e estudava russo com uma senhora "exigente"de Riazan). Em 1860, foi publicada a tese de Sechenov com o título Dados para a Futura Fisiologia da Intoxicação Alcoólica. Nesse trabalho, seu pensamento já começa a maturar-se ao redor da ideia de uma fisiologia que explique o funcionamento do organismo como parte de uma unidade maior, incluindo o próprio organismo e as forças ambientais que operam sobre ele (Sechenov, 1860/1960a). Esse princípio ficou formulado mais claramente no ano seguinte, na sua Primeira Aula publicada pela Meditzinsky Vestnik (1861/1960b):"O organismo não pode existir sem o ambiente externo que o mantém; por consequência, uma definição científica do organismo deveria incluir também o ambiente que atua sobre ele" (p. 242). 35 2 | !. M . S E C H E N O V ( 1 8 2 9 -1 9 0 5 ) E O S " R E F LE X O S D O C É R E B R O " INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! 2 | I. M . S E C H E N O V ( 1 8 2 9 -1 9 0 5 ) E O S " R E F LE X O S D O C É R E B R O “ Os ulteriores efeitos dessa ideia se encontrarão mais abertamente na idealização, por parte de Pavlov, do “método crônico" para o estudo da fisiologia da digestão, como veremos adiante. Koshtoyants (1956/1960), em uma biografia de Sechenov, afirma: "este postulado está na base de suas descobertas em fisiologia. Em todos os seus experimentos, ele partia do pressuposto da decisiva importância da percepção dos estímulos externos, através de elementos sensoriais definidos, para a atividade reflexa do sistema nervoso central" (p.11). Em 1856, Sechenov realizou novas descobertas no famoso laboratório de Claude Bernard em Paris, onde, além de se beneficiar da valiosa influência deste, entrou em contato com Botkine; os dois cientistas exerceram, com o seu empenho experimental, uma influência decisiva nas atividades futuras de Sechenov. Nesse tempo, o livro de Spencer 4s BGses do Psicologia (julho de 1855) já havia sido publicado e suas ideias sobre as relações entre evolução e origem da faculdade psíquica impressionaram Sechenov (Frolov, 1937/1965). Em 1862, ele voltou ao laboratório de Claude Bernard, três anos após a publicação revolucionária de Darwin /I Origem das Espécies. Nessa segunda estadia em Paris, estudou os centros nervosos que inibem os movimentos reflexos. É nesse período que Sechenov descobre a inibição de determinados movimentos reflexos em rãs espinais com a aplicação de cristais de sal ou corrente elétrica no cérebro médio. É a partir desses estudos, da influência de Claude Bernard, Hermann Helmholtz e Botkine, da leitura de Darwin e do conhecimento dos escritos de John Locke, ao qual o seu trabalho se refere mais de uma vez, que Sechenov dá forma à sua publicação de 1863: Os Reflexos do Cérebro (Sechenov, 1863/1960c). Locke, já em 1690, no seu An Essay Concerning Eluman Understanding, havia formulado o princípio das "associações" para explicar uma extrema variedade de comportamentos nos quais, ainda que não expressa como princípio de aprendizagem, encontra-se já a substituição dos estímulos como origem de gostos, desgostos, desejos e outros aspectos constitutivos da assim dita "vida psíquica" (Locke, 1690/1948). O primeiro título do trabalho de Sechenov, mais adaptado ao seu estilo de pesquisa e de vida e substituído por exigência da censura governamental, era: Uma Tentativa de Estabelecer as Bases Fisiológicas dos Processos Psíquicos. Esse título mostra que Sechenov, longe da Rússia por vários anos e todo compenetrado nas suas pesquisas, não tinha calculado quanto de provocação continha sua obra para a 36 INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! igreja-estado russa de então, e quanto era difícil opor-se à doutrina oficial da época que considerava a alma como princípio único para explicação da "vida psíquica". Nessa época, o número de cientistas expulsos do país era considerável; as agitações populares contra o estado czarista eram frequentes e o controle das publicações tornou-se, como consequência, mais severo. Daí surgiu, para Sechenov, uma notável dificuldade para divulgar as ideias que desejava "comunicar ao mundo". A censura estatal, na verdade, impôs não somente que o título da publicação fosse trocado, mas também que fosse impressa como parte de uma revista médica especializada e, portanto, nãoacessível ao povo, em forma de livro barato, conforme era intenção do autor. O trabalho foi publicado em fascículos semanais na Meditzinsky Vestnik, com o título Os Reflexos do Cérebro, no ano de 1863. Mais tarde, apareceu em um único volume, em 1866, e se atinha na forma de exposição ao Discurso Sobre o Método, de René Descartes (Frolov, 1937/1965). O trabalho versava sobre pesquisas e estudos feitos por Sechenov já em 1860 e expostos na sua tese de doutoramento sobre a qual comentou: A dissertação que eu escrevi para o meu doutorado em 1860 continha as seguintes duas teses: 'Todos os movimentos conhecidos em fisiologia como movimentos voluntários são movimentos reflexos no sentido estrito da palavra', e 'o aspecto mais geral da atividade normal do cérebro (expressa em forma de movimento) é a desproporção entre a excitação e o efeito (movimento) gerado por ela. A primeira destas duas teses é bastante clara e a outra requer alguma explicação. Na falta de qualquer influência do cérebro, as estimulações sensoriais e os movimentos reflexos provocados por elas, correspondem um ao outro quanto à intensidade, ou seja, estimulações suaves provocam movimentos débeis e vice-versa. Todavia, dada a influência do cérebro, tal conformidade não se observa: uma fraca estimulação pode provocar um movimento muito forte (por exemplo, todo o corpo que se agita por causa de um pequeno golpe) e, inversamente, um estímulo muito forte pode não provocar nenhum movimento (como no caso de um indivíduo que, por causa de um grande medo, fica imóvel). (Sechenov, 1860/1960a, p. 579) Em outro texto, continuou Sechenov: 37 2 I I. M . S E C H E N O V ( 1 8 2 9 -1 9 0 5 ) E O S " R E F LE X O S D O C É R E B R O " INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! 2 | I. M .S E C H E N O V ( 1 8 2 9 -1 9 0 5 ) E O S " R E F LE X O S D O C É R E B R O " Se a isso se acrescenta que, nesse tempo, eu preparava minha dissertação e podia não ter presente os três elementos que compreendem os outros reflexos, não obstante o significado psicológico dos elementos intermediários dos atos que terminam em movimentos voluntários, aparece claro que a ideia de determinar o substrato fisiológico dos fenômenos psíquicos no que concerne ao mecanismo da sua formação veio-me à mente já no tempo de minha permanência no exterior. Não há dúvida de que conceitos deste gênero amadureciam na minha mente também durante a minha estadia em Paris, porque lá eu estava ocupado em experiências que envolviam diretamente atos de consciência e de vontade. (Sechenov, 1945/1952, p. 113) O conceito principal do livro de Sechenov era que a "vida psíquica"e a psiquê não são independentes do corpo, mas somente uma função do sistema nervoso central, principalmente do cérebro. O plano geral do livro procurava demonstrar que a "vida psíquica" não era senão um arco reflexo muito complexo, compreendendo estimulações, processos centrais e efetuação de respostas. Sechenov sustenta que todas as atividades (voluntárias ou não) dos organismos, não são senão movimentos musculares de respostas, independentemente do "conteúdo psíquico"que os acompanha. Assim, por exemplo, (...) o sorriso de uma criança ao contemplar um brinquedo, ou o sorriso de Garibaldi, quando perseguido pelo excessivo amor à sua pátria, ou o tremor de uma donzela ao primeiro pensamento de amor, ou ainda Newton ao idealizar as suas leis universais e ao escrevê-las sobre as folhas, o fato último é, em todos os casos, o movimento muscular. (Sechenov, 1863/1960c) Doutra parte, todas essas respostas musculares são os resultados finais de processos nervosos centrais que, por sua vez, têm origem nos órgãos sensoriais. Portanto, todas as atividades humanas têm início em ocorrências percebidas pelos órgãos dos sentidos e as mesmas atividades cerebrais têm, por sua vez, a sua origem na estimulação de receptores internos ou externos. No campo da fisiologia dos órgãos sensitivos, Sechenov se valia da sua grande experiência adquirida com a ajuda de Helmholtz, por ele definido como "o maior fisiologista deste século", referindo-se à sua obra de óptica fisiológica. Não somente 38 INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! sensações simples dão origem ao arco reflexo que corresponde aos atos psíquicos, mas também associações de sensações produzidas por diversos receptores. Frolov (1937/1965) afirma, referindo-se a esse ponto: Sechenov prestou um imenso serviço à ciência com a sua teoria sobre o funcionamento da atividade associada dos órgãos sensoriais, na formação dos assim chamados conceitos superiores de espaço e de tempo, sob a forma de particulares estímulos complexos, dado que muitos sentidos participam contemporaneamente na formação de tais reações, (p. 13) Além da influência de Helmholtz, nota-se também a de Locke, que aparece nitidamente na afirmação de que não existe pensamento ou emoção que não derive de uma estimulação sensorial (de órgãos receptores). Assim, o pensamento e a emoção são os processos intermediários entre as estimulações sensoriais e os movimentos musculares de efetuação motora ou verbal. Sechenov desenvolve brilhantemente as primeiras duas partes do seu modelo, isto é, a ilustração da natureza muscular dos comportamentos que revelam a "vida psíquica"e a lúcida exposição da origem sensorial de pensamentos e emoções. No que interessa ao terceiro problema, ou seja, a explicação do pensamento e das emoções como processos intermediários entre as sensações e as respostas musculares, a segurança de Sechenov é menor, seja porque somente alguns anos mais tarde Pavlov demonstrará experimentalmente a atividade reflexa do córtex cerebral, ou também porque, como faz notar Frolov (1937/1965), as pesquisas de Sechenov se "apoiavam sobre bases metodológicas ainda muito incertas". Contudo, a solução teórica de Sechenov é digna de admiração, dada a clareza com que é formulada: a emoção seria um processo de excitação da atividade muscular, enquanto o pensamento seria um processo de inibição de algumas atividades. Esse esquema teórico inclui dois princípios desenvolvidos precedentemente pelo mesmo Sechenov: a inibição do córtex e os "traços ocultos de estímulos" (Frolov, 1937/1965). A solução, muito avançada, não foi, todavia, construída de todo especulativamente, porque, algum tempo antes, no laboratório de Claude Bernard, Sechenov se dedicara a estudos sobre a atividade dos centros nervosos, principalmente daqueles que inibem os movimentos reflexos. Com efeito, Sechenov, em 1863 "descobriu (...) um fato novo sobre a atividade cerebral dos animais, a inibição de certos movimentos reflexos (...) a assim chamada inibição central" (Frolov, 1937/1965). 39 2 j I M . S E C H E N O V ( 1 8 2 9 -1 9 0 5 ) E O S " R E F LE X O S D O C É R E B R O " INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! 2 | I. M . S E C H E N O V ( 1 8 2 9 -1 9 0 5 ) E O S " R E F LE X O S D O C É R E B R O " O pensamento é justamente um processo central que priva o arco reflexo da sua parte final. O pensamento corresponde, então, a um "reflexo inibido", como diz Frolov. Mas a vida psíquica não se refere somente à inibição dos reflexos originários de sensações imediatas:"Não se deve subestimar, com efeito, a excepcional contribuição de Sechenov por haver trazido à luz os assim chamados troços ocultos de estímulo nas regiões superiores do sistema nervoso humano" (Frolov, 1937/1965). Continuando com Frolov (1937/1965): "Sechenov considerava esses traços como um fator que regula o nosso sistema superior do reflexo (ele interpretava neste modo toda a vida psíquica humana) em um mesmo nível com os estímulos externos efetivose concretos" (p. 13). Essa afirmação amplia muito o esquema de Sechenov, porque permite explicar também as respostas motoras ou verbais não correlacionadas a uma particular excitação presente em qualquer órgão sensorial. No seu trabalho de 1878, publicado na Vestnik Evropy, sob o título Os Elementos do Pensamento, Sechenov dedica cerca de 150 páginas a analisar o pensamento como processo do sistema nervoso central, intermediário entre a sensação (imediata ou sob a forma de troços de estímulo) e o efeito motor ou verbal submetido a processos de inibição mais ou menos duráveis (Sechenov, 1878/1960d). O que expusemos não tem o escopo de resumir os conceitos fundamentais de Os Reflexos do Cérebro, mas quer simplesmente sublinhar como Sechenov via no reflexo uma unidade mínima de comportamento, válida ao mesmo tempo como unidade de análise experimental e como instrumento metodológico para explicar unidades de comportamento mais complexas. Ele mesmo, reconhecendo quanto de hipotético sua obra ainda contivesse, não quis descuidar das vantagens metodológicas que implicava, como também as sugestivas possibilidades de controle experimental das hipóteses propostas. Deixemos o próprio Sechenov (1863/1960c) resumir os conceitos do seu trabalho: Em todo caso, por ocasião do meu retomo de Paris a Petrogrado, estas ideias tomaram forma nas seguintes proposições, em parte provadas e em parte hipotéticas: em sua vida consciente ou inconsciente de todo o dia, o homem jamais é livre das influências sensoriais devidas ao ambiente e levadas a ele através dos seus órgãos sensoriais, e nem mesmo das sensações que partem do seu próprio organismo (os seus próprios sentimentos); são estes os fatores que mantêm íntegra a sua vida psíquica com todas as respectivas manifestações motoras, pois a vida psíquica não é concebível quando os sentidos estão 40 INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! perdidos (esta observação foi confirmada faz vinte anos, através da observação, em casos muito raros, de pacientes que haviam perdido quase todos os seus sentidos), (p. 580) Nesse trecho de Sechenov está resumida a sua teoria relativa à primeira parte do arco reflexo aplicado às atividades ditas psíquicas. O autor deixa entender claramente que o primeiro elemento do reflexo não é necessariamente a sensação produzida por estímulos externos; esses estímulos fazem disparar processos reflexos que terminam em movimentos; mas também os desejos funcionam como excitantes internos com respeito à vida psíquica. Diz a propósito Sechenov (1863/1960c): "Assim como os movimentos do homem são determinados pelas indicações dos órgãos sensoriais, também o modo de comportar-se na sua vida psíquica é determinado por seus desejos e suas aspirações" (p. 580); e "O início do reflexo é sempre causado por uma certa influência sensorial externa; o mesmo se verifica, muitas vezes imperceptivelmente, em toda a nossa vida psíquica (dado que na ausência das influências sensoriais a vida psíquica é impossível)" (p. 580). Quanto ao terceiro elemento do reflexo aplicado aos atos da vida psíquica, a efetuação final, mais ou menos manifesta, Sechenov (1863/1960c) não é menos claro: Na maior parte dos casos, os reflexos terminam em movimentos: existem, porém, também reflexos que se concluem com a supressão do movimento; a mesma coisa se pode observar nos atos psíquicos: a maior parte deles se exterioriza através de manifestações mímicas e ações, mas, em muitíssimos casos a sua parte final é suprimida, com o resultado de que, em lugar de três elementos, o ato é representado somente por dois; o lado meditativo da vida tem, portanto, esta forma. (p. 580) Nessa passagem se resume não só a aguda intuição de Sechenov, mas também a sua preocupação em utilizar o reflexo como um instrumento de análise mais que de descrição da vida psíquica, por simples analogia com os movimentos reflexos. Pode-se dizer, segundo a teoria acima descrita, que o pensamento é um reflexo inibido. Falta, porém, a explicação da emoção, outro processo intermediário entre a excitação e a resposta. Sechenov (1863/1960c) a explica do modo seguinte: 41 2 | I. M . S E C H E N O V ( 1 8 2 9 -1 9 0 5 ) E O S " R E F LE X O S D O C É R E B R O ’ INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! 2 | I. M . S E C H E N O V ( 1 8 2 9 -1 9 0 5 ) E O S " R E F LE X O S D O C É R E B R O " As emoções são fundamentadas, direta ou indiretamente, sobre os assim ditos sentidos sistêmicos, que podem desenvolver-se em fortes desejos (sensações de fome, instintos de autopreservação, desejo sexual, etc.) e que são expressos em ações impetuosas; por esta razão esses podem ser incluídos na categoria dos reflexos com uma terminação intensificada, (p. 580) As emoções são, portanto, também elas, uma "categoria de reflexos". Era necessário um perfeito conhecimento da fisiologia nervosa e uma boa dose de coragem para publicar essas ideias na Rússia de 1863, controlada atentamente pela igreja-estado czarista. Como o primeiro título do trabalho, Uma Tentativa de Estabelecer as Bases Fisiológicas dos Processos Psíquicos, devia ser substituído por imposição do Departamento de Censura, Sechenov (1863/1960c) o trocou e declarou a respeito; "Assim eu troquei o título para Os Reflexos do Cérebro. Fui acusado de ser um involuntário propagador de imoralidade e de princípios de filosofia niilista"(p. 580). E ainda: Os meus mais acérrimos opositores podem de fato acusar-me de afirmar que qualquer ação, independentemente do seu conteúdo, é pré-determinada pela natureza de um dado indivíduo; qualquer ação é causada por um determinado estímulo externo, por vezes insignificante; a ação em si mesma é inevitável e, sendo assim, também o pior criminoso não é responsável pelos seus atos. Podem sustentar, ainda, que os meus ensinamentos dão caminho livre a atividades vergonhosas enquanto persuadem pessoas depravadas de que não são responsáveis por seus atos. (Sechenov, 1863/1960c, p. 580) Muito mais tarde, Skinner (1955/1961), referindo-se a algumas declarações de Dean Acheson e outros opositores da análise experimental do comportamento, afirmará; Isto não é outra coisa senão a remanescência da posição assumida por outras instituições empenhadas no controle dos homens, para as quais, determinadas formas de conhecimento são um mal em si mesmas. (...) Chegamos assim tão longe somente para concluir que pessoas bem intencionadas não podem 42 INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! INDEX BOOKS GROUPS: Perpetuando impressões! estudar o comportamento humano sem se tomarem tiranos ou que pessoas informadas não podem dar prova de boa vontade? (p. 17) Em outro trabalho, Skinner (1956) escreveu: Se o advento de uma poderosa ciência do comportamento causa incômodo, isto não será devido a ser a ciência uma inimiga, em si mesma, do bem-estar humano, mas a que as velhas concepções não são facilmente superadas. Nós esperamos resistências à aplicação das novas técnicas de controle por parte daqueles que fizeram ingente investimento nas antigas, mas não temos razão nenhuma em ajudá-los a preservar uma série de princípios que não são fins em si mesmos, mas meios, já fora de moda, para um objetivo, (p. 32) Não é, pois, de se estranhar que na Rússia czarista da segunda meta do século XIX, as afirmações de Sechenov sobre o determinismo do comportamento provocassem resistências. Na sua autobiografia (1945/1952), Sechenov assim escreve: Não havia necessidade alguma de discutir no meu tratado o problema do bem e do mal; o meu objetivo consistia em analisar as ações em geral e o meu ponto de vista era que, dadas determinadas condições, não só as ações, mas também a sua inibição são inevitáveis, e obedecem à lei da causa e do efeito. Seria
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