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Resenha - Análise econômica e economia política

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Resenha: Análise econômica e economia política.
O economista Carlos Lessa nos introduz ao problema substantivo no ensino da Economia: qual é o objeto próprio de reflexão em Economia? Para ele são dois os objetos propostos e cada um deles apresenta incompatibilidades em relação aos pontos de abordagem e o modo de tratar os temas.
No início dos seus estudos em Economia o aluno terá contato com a ideia de que a meta do economista seja estudar todos os fenômenos relacionados a escassez relativa, assumindo que não há recursos suficientes para atender todas as demandas. A essa escassez está ligado o conceito de opção. Assim, o economista realiza opções segundo critérios. Esse é o objeto número um ou objeto de análise econômica.
Sobre um outro ponto de vista, se propõe o estudo das leis sociais operantes nos processos de produção e distribuição de bens e serviços. Durante a história, todas as sociedades organizadas encontraram um modo de repartir a produção. O estudo de como essas sociedades atuaram para garantir a produção e repartição é o objeto número dois ou objeto da economia política.
Supostamente não existem tantas diferenças entre os dois objetos. É verdade que todas as sociedades produzem e distribuem bens e também é verdadeiro que não existem recursos suficientes. Entretanto, primeiramente há diferenças nas metodologias aplicadas para cada estudo. A análise econômica tem a escassez e a opção como meta básica de reflexão, é necessário muita abstração, pois teoricamente a falta de recursos é algo que afetou todas as sociedades organizadas. Desse modo, a ciência econômica seria universal e atemporal. Fundamentada no fenômeno da escassez a economia criaria teorias cabíveis a qualquer sociedade de qualquer época.
No objeto número dois de reflexão é evidente a temporalidade, pois cada sociedade possui um modo diverso de tratar as questões envolvidas na produção e distribuição dos bens e serviços. Para a economia política, a ciência econômica não poderia criar teorias universais e atemporais, já que as leis regentes tem limitações no espaço e no tempo. 
Em segundo lugar, ao analisar um elemento é preciso partir o todo para obter um conjunto de partes. Na análise econômica a repartição é feita sobre noções como: produção, equilíbrio geral, sistema econômico etc. Como essa operação analítica é feita sobre elementos ideais o que se obtém são conceitos. Considerando que os objetos colocados sobre análise admitem infinitos modos de partição o que se consegue são conceitos econômicos criados a partir de critérios implícitos e explícitos. Seguindo diferentes conceitos podemos demonstrar A e não-A. Desencadeando na primeira armadilha dos procedimentos de análise: o critério de partição. Mantendo oculto o critério existe a possibilidade de demonstrar o que quer que seja. Outro problema nos processos analíticos é o nível de abstração. Todas as relações funcionais desenvolvidas pela análise econômica só são aplicáveis em um mundo ideal o que prejudica a capacidade dos economistas de encontrar soluções para os complexos problemas econômicos.
A análise econômica utiliza a lógica formal para criação de conhecimento. Admite- se conceitos, estes tem o problema do critério de partição. Ademais, os conceitos possuem várias propriedades. A propriedade tautológica reconhece que o conceito é igual a sua definição. A propriedade da não contradição admite que o conceito é ou não é, não existe uma terceira possibilidade, é o princípio do terceiro excluído. Nesse sentido, se substitui um processo social vivo por um conjunto de conceitos e em seguida se teoriza estabelecendo relações funcionais pelo qual uma variável econômica tem seu comportamento determinado por outra. A teoria está construída nessa concepção de casualidade entre as variáveis o que pode levar a enganos enormes. 
O economista que receber apenas análise econômica padecerá com uma imensa construção intelectual que exclui dimensões importantíssimas dos processos sociais. Segundo o economista francês Thomas Piketti a disciplina “precisa superar sua paixão infantil por matemática e por especulação puramente teórica e com frequência altamente ideológica, em detrimento a pesquisa histórica e colaboração com outras ciências sociais". 
Admite-se na economia política a historicidade do seu espaço de estudo. A dialética é o instrumento possível para refletir sobre a totalidade em transformação. Esse instrumento está em confronto direto com a lógica formal, pois lança mão de determinados conceitos para se debruçar em um “existente em transformação”. Uma tarefa que usa uma operação inversa a da análise econômica: a crítica. Com a crítica é possível reconstruir as ligações que uma parte tem com o todo em que ela está inserida.
Usando o raciocínio analítico o cientista acaba por construir enfoques muito ingênuos sobre as partes analisadas. Com a abertura crítica os fenômenos são estudados considerando o passado das sociedades, procurando entender a lógica de evolução anterior para compreender seu presente. A interpretação da história coloca em evidência os atores sociais, o contexto mundial e as estruturas de poder. Dessa forma, a economia abandona a característica assepsia da análise econômica e traz enfoques mais realistas, produzindo respostas totalmente distintas. 
O problema substancial no processo de formação do economista é compatibilizar os dois objetos de reflexão e adquirir treinamento para saber quando se pensar em termos analíticos e quando deixar de pensar nesses termos. Mesmo sendo indispensável casar esses dois elementos é raro encontrar currículos com aberturas críticas. A explicação elementar para isso é que uma sólida formação em análise econômica oferece ao indivíduo as condições para ser um operador no sistema . A análise exatamente por ser uma operação parcial não se interroga nunca sobre implicações maiores. Assim, o operador pode ser extremamente eficiente em um sistema maior. Uma formação apenas analítica não apresenta o sistema econômico e social como uma realidade em mutação, mas sempre retrata o sistema como eterno. O analista tem o máximo de micro racionalidade sem se perguntar sobre a macro racionalidade onde está colocado. 
Já a formação com abertura crítica forma profissionais cientes da transitoriedade das construções sociais. O estudante tem o estímulo para uma visão supra-sistema enquanto que a análise econômica fortalece visões intra-sistema. Toda sociedade organizada sempre se apresenta dentro do processo educacional como eterna. Desse modo, não surpreende que o ensino da economia procure abordar temas que demonstrem essa eternidade dos sistemas sociais. Que significa enfatizar tremendamente num nível analítico e não permitir aberturas críticas que vão encorajando uma perspectiva diferente daquela do operador intra-sistema preocupado somente com a maximização da micro racionalidade.
É marcante o conteúdo visionário na mensagem de Carlos Lessa para os alunos ingressantes no curso de Economia da Unicamp de 1972. Atualmente existem diversos movimentos pelo mundo contestando a falta de pluralismo da disciplina. Para o movimento Rethinking Economics “a economia, como qualquer outra ciência, precisa e deve estar a serviço do conjunto da sociedade e não servir apenas a uma pequena parcela da população que utiliza, inclusive de vantagens econômicas para explorar outras parcelas da sociedade.” Outro exemplo da relevância do teor da aula magna proferida por Lessa é o surgimento de novas áreas de atuação, a economia aplicada as ciências sociais com pesquisas voltadas para assuntos como: crime, saúde e educação. Rejeitando a ideia de se adaptar ao sistema imposto formulando projetos para uma economia mais justa, mais inclusiva e menos exploradora. A nova geração de economistas está disposta a ir contra a ortodoxia econômica. 
Fernanda Salgueiro Passos.

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