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Direitos Humanos - Aula 6

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DIREITOS HUMANOS 
AULA 6 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Profª Tiemi Saito 
 
 
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CONVERSA INICIAL 
Nesta aula vamos analisar de que forma as normas internacionais de 
direitos humanos são recepcionadas e que hierarquia ocupam dentro do 
ordenamento jurídico brasileiro. Desta forma, verificaremos especificamente 
quais foram as primeiras incursões destas normas junto à Constituição Federal 
de 1988. 
Será também objeto de nosso estudo o controle de convencionalidade 
entre as normas de direito interno e de direito internacional em matéria de direitos 
humanos. Observaremos, por fim, o movimento atual de um constitucionalismo 
global por meio de diálogos – horizontais e verticais – de direitos humanos. 
TEMA 1 – PRIMEIRAS INCURSÕES DOS DIREITOS HUMANOS NA 
CONSTITUIÇÃO DE 1988 
O movimento de consolidação do Estado Democrático de Direito por meio 
da Constituição Federal de 1988 foi precedido da vigência de um forte regime de 
exceção que se deu entre os anos 1964 e 1985. Assim, após longas articulações 
e trabalhos da Assembleia Constituinte, o Brasil passou a considerar um 
generoso catálogo de direitos humanos, positivados em seu ordenamento 
jurídico como direitos fundamentais. Entre eles, direitos civis e políticos, bem 
como direitos econômicos, sociais e culturais. 
Neste sentido, o Estado brasileiro conta com a atuação dos três poderes 
da administração pública, quais sejam o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, 
para garantir e proteger os direitos previstos tanto no Sistema Interamericano de 
Direitos Humanos quando no texto constitucional. 
TEMA 2 – HIERARQUIA CONSTITUCIONAL DOS TRATADOS DE DIREITOS 
HUMANOS 
Sabemos que cada Estado soberano exerce dentro de seu país sua 
própria jurisdição. Isso significa dizer que ele mesmo estabelece as leis que fará 
cumprir em seu território. Ocorre que os Sistemas Regionais de Direitos 
Humanos também estabelecem atos normativos, sejam eles tratados, 
convenções ou resoluções, que impõem ao Estado signatário a garantia de 
direitos que muitas vezes seu ordenamento jurídico interno não possui. 
 
 
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Essa relação entre o direito internacional público e o direito interno dos 
Estados levanta a seguinte questão: qual norma será sobreposta à outra? Qual 
delas deverá prevalecer em caso de conflito? 
Tal problemática ainda não possui um consenso entre os aplicadores do 
direito. Contudo, algumas teorias se estruturaram neste intento. A teoria dualista 
sustenta que são dois ramos distintos que não se sobrepõem, assim, os juízes 
podem aplicar apenas as normas nacionais, pelo primado do direito interno. A 
teoria monista, por sua vez, defende que o direito interno e o direito internacional 
integram um mesmo sistema jurídico, no qual o direito internacional encontra-se 
no topo. Todavia, ambas as teorias estão focadas em sistemas legislativos, e 
não na pessoa (ser humano), que deveria ser o centro das discussões. 
Ainda em busca de uma solução para esta questão, o STF se posicionou 
no sentido de que os tratados internacionais comuns têm força de Lei Ordinária 
Federal. Porém, tal localização põe em xeque tanto o princípio pacta sunt 
servanda como o princípio da boa-fé. 
Por outro lado, o próprio texto constitucional coloca os tratados 
internacionais de direitos humanos em uma hierarquia de norma constitucional. 
Todavia, por meio da Emenda Constitucional 45/2004, o poder constituinte 
estabelece como requisito a aprovação do TIDH em cada casa do congresso, 
em dois turnos, por maioria de 3/5 dos votos dos membros, para que tenha força 
de emenda constitucional. Caso contrário, este teria força de norma supralegal. 
Por fim, é importante abordarmos também a corrente que defende o 
human rights-based approach e propõe que a norma que deve prevalecer é a 
mais favorável aos direitos humanos, sob o princípio pro personae. 
TEMA 3 – CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE 
Assim como o Poder Judiciário exerce o controle de constitucionalidade 
das normas do ordenamento jurídico pátrio, a Corte Interamericana de Direitos 
Humanos promove um controle das normas de cada Estado em relação às do 
Sistema Interamericano de Direitos Humanos, no que se refere aos tratados que 
este tenha se vinculado, chamado controle de convencionalidade. 
O Brasil, ao tornar-se signatário da Convenção Americana, reconheceu a 
competência jurisdicional da Corte Interamericana de Direitos Humanos quanto 
aos fatos posteriores a 10/12/1998, podendo ela emitir juízo em casos de 
 
 
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violação de direitos humanos e promover controle de convencionalidade de leis 
e atos normativos brasileiros em relação à Convenção ADH. 
TEMA 4 – CONSTITUCIONALISMO GLOBAL 
A ideia do constitucionalismo global busca a expansão da proteção dos 
direitos humanos por meio da articulação em níveis nacional e internacional. 
Portanto, podemos falar em uma constitucionalização do direito internacional, e, 
por outro lado, uma internacionalização do direito constitucional, proporcionando 
a coexistência e o diálogo dos sistemas de direitos humanos. 
TEMA 5 – DIÁLOGOS DE DIREITOS HUMANOS 
Para que se concretizem os objetivos estabelecidos pelo 
constitucionalismo global, é possível afirmar que a integração interpretativa 
sobre direitos humanos deve, necessariamente, dialogar nos sentidos horizontal 
e vertical, e esta relação se estabelece nos campos normativo e jurisprudencial. 
NA PRÁTICA 
A história de Maha e Souad Mamo iniciou-se no Líbano, onde nasceram 
e não puderam ser registradas, pois nesse país a lei exige que seus genitores 
sejam libaneses. Contudo, seus pais são sírios, sendo a mãe muçulmana e o pai 
cristão, e se casaram no Líbano, por que a Síria não permite este tipo de 
matrimônio. 
Desta feita, elas também não puderam ter reconhecida a nacionalidade 
síria, pois lá o matrimônio entre os país é requisito para nacionalidade dos filhos, 
e o matrimônio celebrado entre seus pais (entre muçulmano e cristão) é ilegal 
para a legislação síria. 
Maha relata as diversas dificuldades enfrentadas ao longo de sua vida, 
sem que houvesse qualquer registro de sua existência. A primeira foi ainda no 
período escolar, quando não podia participar de competições e campeonatos, 
pois não tinha documento de identidade para se inscrever. Quando chegou o 
momento de cursar uma faculdade, embora tivesse o desejo de fazer medicina, 
não pôde se inscrever novamente, por falta de documento. Ademais, no âmbito 
profissional, participava das seleções, passava nas entrevistas, mas a empresa 
declarava: “queremos te contratar, mas sem documento, não é possível”. 
 
 
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A situação se estendeu inclusive quando ela teve uma crise alérgica muito 
forte e lhe foi negado atendimento em dois hospitais em Beirute, pois não tinha 
documento algum de identidade. Sem contar a impossibilidade de ir a bares ou 
festas sociais. 
Ela e seus irmãos encaminharam cartas a todas as embaixadas de outros 
países que se localizavam no Líbano, descrevendo as situações por que 
passavam e pedindo abrigo. Entre todas estas, a grande maioria das respostas 
foi no sentido de que os países gostariam de ajudar, mas eles deveriam ter no 
mínimo passaporte para receber o visto. 
O Brasil foi o único país a recebê-los mesmo sem documentos pessoais, 
e, quatro anos depois de sua chegada (em 2014), nos termos da Lei de Migração 
(Lei n. 13.445/2017), reconhecê-los como apátridas e naturalizá-los como 
brasileiros. 
FINALIZANDO 
Nesta aula foi possível ter uma ampla noção de como dialogam o direito 
internacional público e o direito interno no que se refere aos direitos humanos. 
Pudemos compreender também como se dá a recepção dos tratados 
internacionais de direitos humanos pelo ordenamento jurídico pátrio e como a 
constituição rege a matéria e o STF se posiciona sobre o assunto. 
 
 
 
 
 
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REFERÊNCIAS 
FACHIN, M. G. (Org.). Guia de proteção dos direitos humanos. CadernosUniversitários, Uninter.

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