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Análise da interação solo-estrutura em blocos sobre estacas via modelagens numéricas Thalles Abrão Doehler Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, eng.thalles@hotmail.com Ademir Aparecido do Prado Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, ademirprado.gecon@gmail.com Maurício Martines Sales Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, sales.mauricio@gmail.com RESUMO: O crescimento dos grandes centros urbanos ocorrido nas últimas décadas tem demandado a construção de edifícios cada vez mais altos em terrenos com área reduzida. Com o aumento do número de pavimentos e dos carregamentos transmitidos às fundações, uma solução muito utilizada nos projetos atuais tem sido os grandes blocos sobre estacas. Visando à redução dos custos de execução mantendo o desempenho satisfatório das fundações, muitos projetistas passaram a considerar a contribuição do contato entre o bloco e o solo subjacente na capacidade de carga da fundação, consolidando o conceito de fundações mistas (radiers estaqueados). Esta concepção considera as interações entre os elementos de fundação e demanda o uso de métodos numéricos que representem o comportamento do conjunto solo-estrutura, dentre os quais se destaca o Método dos Elementos Finitos (MEF). Utilizando o conceito de radier estaqueado, foram realizadas análises numéricas baseadas no MEF, avaliando o desempenho de um bloco sobre 25 estacas. Uma primeira análise considerou o comportamento linear elástico do sistema de fundação, comparando-se o diagrama de momento fletor interno do bloco com o valor calculado a partir de um método analítico simplificado. Foram realizadas análises comparativas, incorporando o comportamento não linear do solo, do concreto e da armadura de flexão do bloco, avaliando-se a relevância destas considerações no dimensionamento estrutural do bloco. Em todas as análises foram observados momentos fletores superiores ao obtido pelo método analítico simplificado, indicando que o uso do mesmo pode levar ao subdimensionamento em algumas regiões dos grandes blocos sobre estacas. Considerando-se o comportamento não linear dos elementos, observou-se considerável redução do momento fletor máximo, devido à redistribuição de esforços ocorrida no nível de carregamento aplicado. Foram observadas também as vantagens provenientes da distribuição não uniforme da armadura de flexão do bloco, seguindo o diagrama de momento fletor, que não gera custos executivos adicionais, proporciona ganhos de desempenho e garante um fator de segurança desejável para o sistema de fundação. PALAVRAS-CHAVE: Dimensionamento de blocos sobre estacas, Radier estaqueado, Interação solo-estrutura, Análise numérica. 1 INTRODUÇÃO Fundações em radiers estaqueados vem sendo utilizadas em diversos países devido ao seu desempenho satisfatório e em muitas vezes com custo inferior ao das fundações profundas convencionais, nas quais se considera que toda a carga é transferida apenas às estacas, admitindo que o bloco seria necessário apenas para a transferência de cargas. Segundo Randolph (1994), em alguns casos a economia proveniente da utilização desta abordagem é da ordem de 65 a 75%, vantagem esta que também foi evidenciada por Poulos (2001). Os projetos de radiers estaqueados, entretanto, demandam análises numéricas complexas que considerem os mecanismos de interação entre os elementos de fundação e o maciço de solo subjacente, requerendo o uso de métodos computacionais capazes de representar o comportamento de todo o conjunto solo-estrutura, dentre os quais se destaca o Método dos Elementos Finitos (MEF). Ao longo das últimas décadas, diversos autores utilizaram o MEF em análises lineares elásticas de fundações estaqueadas, como Ottaviani (1975), Sales (2000), Souza (2010) e Campos (2011). Em análises de fundações submetidas a carregamentos elevados, a consideração do comportamento não linear dos materiais tende a simular mais satisfatoriamente o desempenho do sistema. Munhoz e Giongo (2007) destacam que as análises não lineares tendem a representar melhor o comportamento de blocos sobre estacas, sobretudo em relação aos efeitos de perda de rigidez dos elementos estruturais devido à fissuração do concreto e ao escoamento das armaduras longitudinais. A partir de uma das análises desenvolvidas por Campos (2011), foram realizadas análises de um radier estaqueado hipotético, sobre 25 estacas, cujo dimensionamento estrutural foi calculado inicialmente a partir de um método analítico simplificado, procurando-se observar as divergências entre os momentos internos do bloco e, posteriormente, propondo uma melhor distribuição de sua armadura de flexão. Nas análises numéricas realizadas e apresentadas neste artigo foram considerados dois tipos de comportamento para os materiais constituintes do sistema de fundação: linear elástico e não linear, com o objetivo de mostrar, através da comparação dos resultados, a importância de se considerar o comportamento elastoplástico do concreto armado e do solo no nível de carregamento ao qual o radier estaqueado foi submetido. Para isso, foi utilizado o programa DIANA (TNO, 2008), juntamente com o pré e pós-processador Midas Fx+ for DIANA (MIDASoft, 2008). 2 DESEMPENHO DE RADIERS ESTAQUEADOS O dimensionamento convencional de um bloco sobre estacas considerando que toda a carga aplicada à fundação é suportada pelas estacas, ignorando o contado do bloco com o solo subjacente e a interação existente entre os elementos de fundação, tem se mostrado conservador e antieconômico (POULOS, 1998). Poulos (2001) apresentou uma abordagem para dimensionamento de radiers estaqueados em que se considerou algumas estacas, cuja função principal é a de reduzir os recalques do sistema de fundação, trabalhando com a mobilização total da carga de projeto. Desta forma, o comportamento carga-recalque do sistema tende a ser não linear para a carga atuante, com a ocorrência de deformações plásticas, embora seja garantido um fator de segurança adequado e recalques em níveis aceitáveis. Ao analisar o desempenho de fundações mistas no centro-oeste brasileiro, Sales (2000) demonstrou que, nos casos analisados, quando a capacidade de carga última é atingida por uma determinada estaca, ocorre a redistribuição da carga excedente entre os demais elementos de fundação até que todas as estacas atinjam seu limite de suporte e o comportamento do conjunto seja alterado, mantendo as estacas com carga aproximadamente constante e fazendo com que o acréscimo de carga seja suportado pelo contato entre o radier e o solo subjacente. Bezerra (2003) realizou algumas análises numéricas de radiers estaqueados variando parâmetros como a rigidez relativa do sistema (razão entre os módulos de elasticidade do material da fundação e do solo) e concluiu que a inserção de estacas em regiões mais carregadas e com maiores níveis de recalque, além de reduzirem os recalques diferenciais também proporcionaram uma redução nos momentos fletores do radier. Analisando blocos sobre 2 a 81 estacas, Campos (2011) comparou os esforços internos obtidos a partir de um método analítico simplificado e duas ferramentas numéricas. Nos casos analisados foi observado que, para blocos com até 4 estacas, os resultados levam a dimensionamentos muito semelhantes, o que não ocorre para blocos maiores, nos quais se observam grandes variações entre os momentos máximos e mínimos ao longo de determinada seção do bloco. A autora destaca que nos blocos com grande variação de momento ao longo da seção, a distribuição de armadura do bloco poderia ser otimizada, conforme o momento máximo por trecho, não implicando em custos executivos adicionais. Poulos (1994) apresenta o cálculo para um radier estaqueado na cidade de São Paulo, avaliando a relação entre a quantidade de estacas no bloco e o fator de segurança das mesmas, o recalque máximo, os momentosfletores, a porcentagem de carga suportada por cada estaca e pelo radier e o fator de segurança global do sistema de fundação. No caso analisado, os momentos fletores máximos diminuem nas duas direções com o aumento da quantidade de estacas, mas se mostraram aproximadamente constantes para os casos a partir de 13 estacas, situação em que o fator de segurança das estacas é de 1,45, o percentual de carga suportada pelas estacas é próximo de 90%, o recalque é da ordem de 20 milímetros e o fator de segurança global é de 3,0. Sales et al. (2002) analisaram um bloco sobre 25 estacas de grande diâmetro executado no Distrito Federal e projetado para suportar a carga de 13 pilares, que somada totalizava uma carga permanente de 43910 kN. O projeto de fundação original foi desenvolvido a partir da consideração de que toda a carga deveria ser suportada somente pelas estacas, sendo posteriormente reavaliado segundo o conceito de radier estaqueado. No trabalho foram destacadas as principais alterações nos resultados bem como a avaliação de outros cenários para a mesma fundação, alterando a quantidade e a posição das estacas no bloco, conforme apresentado na Tabela 1. Nas análises realizadas, os autores destacam, dentre outras informações, que na solução adotada para o caso (a) o grupo de estacas suporta uma grande parcela do carregamento total, o que reduz os recalques totais e diferenciais, mas torna a alternativa como a de pior custo/benefício. Já a solução sobre 13 estacas, dentre todos os casos analisados, mostra-se como a mais viável neste critério, pois teria recalques dentro dos limites considerados aceitáveis pelo projetista estrutural, esforços internos menores e fator de segurança global próximo a 4,0. Os autores destacam ainda que, dentro da concepção inicial do projeto, na qual se descarta o contato existente entre o bloco e o solo subjacente, esta configuração seria inaceitável por resultar em um fator de segurança do grupo de estacas inferior a 2,0 e possuir estacas com carregamento muito próximo de sua capacidade de carga última. Tabela 1. Casos analisados e resultados obtidos nas diversas simulações (modificado de SALES et al., 2002). Caso (a) (b) (c) (d) (e) (f) Quantidade de Estacas 25 23 21 13 9 0 Configuração das Estacas no Bloco Carga nas Estacas (%) 91,29 88,93 87,58 76,01 64,03 0,00 Carga transferida ao solo pelo contato com o Bloco (%) 8,71 11,07 12,42 23,99 35,97 100,00 Carga Média nas Estacas (kN) 1603,4 1697,7 1831,4 2567,5 3123,8 - Carga Máx. nas Estacas (kN) 3077,8 3550,5 3420,4 5156,8 4558,3 - Carga Mín. nas Estacas (kN) 982,2 960,9 1060,3 1528,8 2140,1 - Momento fletor Mx Máx. (kN.m) 2202 2074 1902 1450 1157 1836 Momento fletor My Máximo (kN.m) 4515 3536 3508 2713 3149 4214 Recalque Máximo (mm) 7,60 8,29 8,13 9,51 11,00 15,47 Recalque Mínimo (mm) 5,40 5,18 5,75 6,15 6,27 7,54 Recalque Diferencial (mm) 2,20 3,11 2,38 3,36 4,73 7,93 Fator de Segurança do grupo de estacas 3,42 3,14 2,87 1,78 1,23 - Fator de Segurança Global 5,52 5,24 4,97 3,88 3,33 2,10 3 MÉTODOS ANALÍTICOS SIMPLIFICADOS No Brasil os métodos analíticos simplificados de dimensionamento mais empregados para blocos sobre estacas são o método das bielas e tirantes e o método do CEB-FIP (1970) (MUNHOZ, 2004). Destaca-se também o cálculo do bloco como viga ou laje de concreto armado de acordo com a NBR 6118 (ABNT, 2003). De acordo com Campos (2011), embora não existam grandes diferenças entre os métodos analíticos simplificados para o cálculo de momentos internos de blocos sobre estacas, o último método pode ser utilizado para o dimensionamento de blocos flexíveis ou semirrígidos, como os grandes blocos sobre estacas, a partir dos diagramas de esforço cortante e momento fletor. Portanto, este foi o método simplificado de cálculo adotado nas análises deste trabalho. O dimensionamento do bloco a partir do método analítico simplificado foi realizado de acordo com os passos a seguir: • Calculou-se a carga média nas estacas; • A partir destas cargas, obteve-se o diagrama de esforço cortante para cada direção do bloco. Na seção central de um bloco sobre estacas, cujo carregamento esteja aplicado no centro geométrico do mesmo, o diagrama de esforço cortante e momento fletor foram obtidos a partir das seguintes equações: (3.1) (3.2) Onde Np, P, b, Q, M e di correspondem respectivamente à carga em cada estaca, carga uniformemente distribuída aplicada ao pilar, dimensão do pilar na direção de cálculo do diagrama, esforço cortante na seção, momento fletor na seção, e distância do eixo de cada estaca à seção. • A partir do diagrama foram encontradas as seções em que os esforços cortantes são nulos, que correspondem aos pontos com valores máximos e mínimos (locais ou globais) de momento fletor interno no bloco; • Nestas seções, calculou-se o momento fletor interno a partir do carregamento aplicado no bloco e das cargas nas estacas; • A partir do valor máximo global do momento fletor, multiplicado pelo coeficiente de majoração correspondente, encontrou-se o momento fletor de cálculo, a partir do qual foi realizado o dimensionamento estrutural do bloco à flexão em cada uma das direções, de acordo com o procedimento de cálculo para vigas de concreto armado apresentado por Pinheiro et al. (2007), segundo os padrões da NBR 6118 (ABNT, 2003). Conforme destacado por Campos (2011), o momento fletor calculado a partir deste método é dado para toda a largura do bloco. Para efeito de comparação com os resultados das análises numéricas, a grandeza utilizada foi o momento por metro, obtido pela divisão do momento fletor de cálculo pela largura do bloco. 4 PROGRAMA UTILIZADO O DIANA, programa baseado no MEF desenvolvido pela TNO Building and Construction Research Company, foi a ferramenta computacional utilizada nas análises numéricas deste trabalho. De acordo com Souza (2010), esta ferramenta apresenta um importante diferencial em relação à maioria dos programas baseados no MEF, que consiste no seu desenvolvimento, voltado para atender principalmente análises relacionadas à engenharia civil. Este desenvolvimento específico pode ser percebido através dos avançados modelos existentes para simular o comportamento do solo e do concreto armado. Para a análise de fundações estaqueadas, o DIANA foi utilizado por alguns autores, como Souza (2004), Souza (2010), Sakai (2010), Bittencourt, Doehler e Sales (2011) e Campos (2011), atingindo excelentes resultados para os casos analisados. Neste trabalho foi utilizado o Midas Fx+ for DIANA para as etapas de pré-processamento, bem como para a visualização e obtenção de resultados das análises, como esforços, tensões, deformações e deslocamentos. De acordo com a TNO (2008), o Fx+ possui funções avançadas de modelagem numérica, algoritmos desenvolvidos para a geração de malhas de forma automática, diversos tipos de propriedades de materiais e alta tecnologia em saída gráfica. 5 ANÁLISES O caso hipotético analisado corresponde a um bloco sobre 25 estacas semelhante a um dos casos analisados por Campos (2011) com o objetivo de se verificar a distribuição de momentos fletores no bloco e compará-la com o método convencional de dimensionamento estrutural destes elementos. A Tabela 2 apresenta as análises numéricas realizadas. Tabela 2. Análises numéricas realizadas. Análise Solo Concreto Armadura LE Linear Elástico Linear Elástico Armadura não modelada SNL Não Linear Linear Elástico Armadura não modelada SCNL-AC Não Linear Não Linear Modelada, com distribuição uniforme no bloco SCNL-AO Não Linear Não Linear Modelada, com distribuição não-uniforme no bloco As estacas apresentam seção transversal quadrada e a camada de solo considerada é homogênea. O pilar possui seção transversal quadrada, está localizadono centro do bloco e recebe um carregamento de 12.500 kN. A Figura 1 apresenta a geometria do radier estaqueado analisado com a identificação das estacas devido à simetria do problema. Devido à simetria da geometria e do carregamento, foram realizadas modelagens da quarta parte do problema. O domínio vertical considerado foi de 32 metros a partir da base do bloco (H/L > 3), sendo o contorno do maciço considerado indeslocável a esta profundidade. Em relação aos domínios horizontais, foram considerados iguais a 30 metros para cada lado, a partir do eixo do pilar, ficando os nós destas faces do maciço com deslocamentos livres somente na vertical. As condições de contorno nas superfícies de simetria foram consideradas de tal forma que os nós permanecessem nestas superfícies após a aplicação do carregamento, com deslocamentos livres nas demais direções. A Figura 2 apresenta a malha tridimensional do radier estaqueado analisado. Figura 1. Geometria do radier estaqueado considerado nas análises com a identificação das estacas mostrada na vista inferior do bloco (a) e em corte (b). Figura 2. Malha tridimensional do radier estaqueado analisado. Para a análise linear elástica, denominada LE, considerou-se os seguintes parâmetros: • Módulo de Elasticidade do solo: 50 MPa; • Coeficiente de Poisson do solo: 0,3. • Módulo de Elasticidade do concreto do bloco e das estacas: 28 GPa; • Coeficiente de Poisson do concreto do bloco e das estacas: 0,2. Em outra análise, denominada SNL, foi incorporado o comportamento elastoplástico para o solo segundo o critério de Mohr- Coulomb. Neste caso, foram atribuídos os seguintes parâmetros de resistência ao solo: • Coesão: 16 kPa; • Ângulo de atrito: 20º; • Ângulo de dilatância: 5º. Em uma terceira análise, denominada SCNL- AC, foram utilizados para o concreto armado princípios da mecânica da fratura, modelos constitutivos não lineares de Von Mises e modelos de fissuração que prevêem o comportamento completo das curvas tensão- deformação, conforme utilizado por Sakai (2010), considerando a resistência característica à compressão do concreto igual a 25 MPa. Nesta análise foram atribuídos ao solo os mesmos parâmetros da análise SNL. Foi realizada também uma análise, denominada SCNL-AO, em que se propôs o reposicionamento da armadura de flexão do bloco, de acordo com os valores obtidos do diagrama de momento fletor. A Figura 3 apresenta a distribuição de armadura de flexão nos blocos destas duas análises. Figura 3. Distribuição da armadura de flexão vista em planta nas análises SCNL-AC (a) e SCNL-AO (b). 5.1 Resultados A partir das análises realizadas foram comparados os resultados de cargas nas estacas, recalques do sistema de fundação e momentos fletores internos no bloco. Na análise LE, devido à rigidez do bloco, a borda do mesmo sofreu um recalque maior do que seria esperado na borda de um bloco flexível. Consequentemente, as estacas da periferia receberam maior quantidade de carga que as centrais, fazendo com que as primeiras sofressem maiores recalques do que sofreriam caso o bloco fosse flexível. Na análise SNL, o comportamento elastoplástico do solo proporcionou maior deformabilidade a este material, fazendo com que o bloco tivesse maior contribuição na capacidade de carga do sistema de fundação e que a distribuição de cargas nas estacas fosse mais uniforme. Ao contrário das análises anteriores, nos casos SCNL-AC e SCNL-AO observou-se uma maior transferência de cargas para as estacas centrais, aliviando as estacas da periferia do bloco, conforme apresentado na Figura 4. Esta mudança se deve ao comportamento não linear do concreto armado do bloco, cuja tensão máxima superou em mais de 30% a tensão observada na análise LE, chegando próximo da sua resistência característica à compressão, conforme apresentado nas Figuras 5 e 6. Figura 4. Cargas nas estacas obtidas nas análises. Figura 5. Distribuição de tensões no bloco na análise LE (unidades em MPa). Figura 6. Distribuição de tensões no bloco na análise SCNL-AC (unidades em MPa). A partir das distribuições de tensões no maciço de solo obtidas nas análises LE e SCNL-AC, apresentadas na Figura 7, verificou- se que no caso não linear os maiores valores ocorrem abaixo das estacas, indicando a plastificação do solo em alguns pontos ao longo dos fustes das estacas, levando-as a transferir mais carga ao solo por meio de suas bases. Figura 7. Distribuição de tensões no maciço de solo nas análises LE (a) e SCNL-AC (b) (unidades em MPa). Em termos de recalque, verificou-se que os valores observados para as análises SNL, SCNL-AC e SCNL-AO foram muito superiores àqueles identificados na análise LE, devido à ocorrência de deformações plásticas no maciço de solo. A partir do diagrama de momento fletor obtido pela análise LE, verificou-se a variação dos momentos ao longo da largura do bloco, o que não é considerado pelo método analítico simplificado. Na seção que passa pelo eixo de simetria do bloco, observou-se um pico de momento na região central do mesmo, que ultrapassa em mais de 100% o valor calculado pelo método simplificado. Esta discrepância deixa claro que os métodos simplificados de cálculo podem não ser adequados para o dimensionamento de grandes blocos sobre estacas, enfatizando a necessidade de se realizar análises mais precisas com o uso de ferramentas numéricas. Também foi verificado que, ao se considerar o comportamento elastoplástico do solo, o momento fletor no bloco sofreu leve redução na seção analisada. Observou-se ainda que consideração do comportamento não linear do concreto armado levou à redução do pico de momento fletor em relação à análise SNL. A Figura 8 apresenta os diagramas de momento fletor obtidos pelo método analítico simplificado e pelas análises numéricas realizadas. Figura 8. Diagramas de momento fletor na seção que passa pelo eixo do bloco obtidos pelo método analítico simplificado e pelas análises numéricas. Analisando-se a distribuição das tensões nas barras de armadura do bloco, obtida na análise SCNL-AC, observou-se que foi atingida a tensão de escoamento do aço em um elemento localizado próximo ao centro do bloco, região em que há maior deformação e fissuração do concreto, conforme apresentado na Figura 9. Na análise SCNL-AO, o reposicionamento da armadura de flexão do bloco proporcionou redução significativa na tensão máxima de tração nas barras, da ordem de 20%, não atingindo valores superiores a 400 MPa, valor este ainda distante da tensão de escoamento do aço das armaduras, conforme apresentado na Figura 10. Desta forma, observou-se que o reposicionamento da armadura de flexão do bloco de acordo com o diagrama de momento fletor da seção mais solicitada proporcionou um aumento do fator de segurança do bloco. Figura 9. Tensões na armadura do bloco na análise SCNL-AC (unidades em MPa). Figura 10. Tensões na armadura do bloco na análise SCNL-AO (unidades em MPa). 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho apresentou, com o uso de análises numéricas, a avaliação do desempenho de um bloco sobre 25 estacas dimensionado a partir de um método analítico simplificado, avaliando a relevância de se considerar o comportamento não linear do solo e do concreto armado constituintes do sistema de fundação. Avaliou-se o comportamento do sistema em relação à distribuição de cargas e de tensões nos elementos de fundação, aos recalques e aos momentos fletores internos no bloco. Em todas as análises numéricas realizadas foi observada a distribuição heterogênea de cargas entre as estacas e de momento fletor ao longo da largura do bloco, ultrapassando o valor obtido pelo método analítico simplificado e indicando que este método pode não conduzir a resultados confiáveis para o dimensionamento de grandes blocos sobre estacas,sendo necessárias análises mais precisas e detalhadas; A consideração do comportamento não linear do solo foi responsável por elevar consideravelmente o recalque máximo do sistema de fundação e promover uma distribuição mais homogênea de cargas entre as estacas. Ao serem considerados os comportamentos não lineares do maciço de solo, do concreto e da armadura de flexão do bloco, observou-se considerável redução do pico de momento fletor na seção central do bloco e pela alteração na tendência de distribuição de cargas, concentrando maior quantidade de carga nas estacas centrais do bloco e aliviando as periféricas. A redistribuição da armadura de flexão do bloco de acordo com o diagrama de momento fletor, posicionando uma maior quantidade de barras de armadura na região submetida às maiores solicitações, proporcionou uma significativa redução na tensão máxima de tração nas barras de armadura do bloco, melhorando o seu desempenho sem proporcionar custos executivos adicionais. REFERÊNCIAS ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas. (2003) NBR 6118: Projeto de estruturas de concreto - Procedimento. Rio de Janeiro, 2003, 225 p. BEZERRA, J. E. (2003) Estudo do comportamento de fundações em radier estaqueado: conceitos e aplicações, Dissertação de Mestrado, Publicação G.DM-104/03, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, 193 p. BITTENCOURT, D. M. A.; DOEHLER, T.A.; SALES, M. M. (2011) Análise da Influência do tipo seção transversal no comportamento de estacas isoladas via modelagem numérica. In: VI SIMPÓSIO BRASILEIRO DE APLICAÇÕES DE INFORMÁTICA EM GEOTECNIA. 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