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1º Trabalho - Unidade 1 (1.2. Do feudalismo ao capitalismo) Aluno: Pedro Henrique Magalhães Barros 1. Por E. Wood, o burguês seria o capitalista no feudalismo? E. Wood enquanto disserta sobre alguns dos pontos principais do modelo mercantil, perspectiva de transição do feudalismo ao capitalismo que argumenta que o capitalismo é um rompimento com antigas práticas de restrições e crescente mercantilização, a autora confronta um dos fundamentos dessa tese: a visão do burguês como um agente do progresso, associando o termo ao capitalista. Para ela, o burguês não era nada além de alguém sem qualquer status de nobreza, que usualmente desempenhava trabalhos não manuais, podendo representar tanto os comerciantes quanto um servidor público, por exemplo. Ela entende, porém, que na lógica mercantil, o antigo morador da cidade é substituído pelo burguês medieval que se transforma gradativamente no capitalista moderno. 2. Segundo vários autores (seguidores do “modelo mercantil”) o capitalismo surgiria mais rápido a partir da antiguidade, caso não tivessem existido as invasões bárbaras e muçulmanas. Qual a opinião de E. Wood? A inerência do capitalismo à natureza humana defendida pelo modelo mercantil, que tem como consequência lógica a concepção de que o capitalismo poderia surgir mais rapidamente caso não houvesse as invasões bárbaras e muçulmanas é criticada por Ellen Wood. Os autores, que defendem uma grande transformação dos princípios econômicos do feudalismo para a nova racionalidade capitalista, negligenciam as mudanças de fatores externos aos mercados, como nas instituições políticas, jurídicas, culturais e ideológicas. Não só omitem tais mudanças quanto não reconhecem que a lógica intrínseca do mercado se manteve quase constante durante o feudalismo como dito por Wood (2001) "o modelo mercantil não demonstrou nenhum reconhecimento de imperativos que são específicos do capitalismo, dos modos específicos de funcionamento do mercado no capitalismo, e de suas leis de movimento específicas, as quais, de modo singular, obrigam as pessoas a entrarem no mercado e obrigam os produtores a produzirem 'com eficiência'’ aumentando a produtividade do trabalho – as leis da competição, da maximização do lucro e acumulação de capital". 3. Para E. Wood, capitalismo é oportunidade (com liberdade) ou coação? Por que? Como a autora trata da questão de compulsão? A pressuposição do capitalismo como uma oportunidade a ser aproveitada sempre que possível é primordial para estabelecimento do modelo clássico, e Ellen Wood questiona essa determinação em seu livro. O mercado, instituição elementar do capitalismo, é regido por forças de mercado, como leis de oferta e demanda, que na visão da autora coagem os agentes econômicos a agirem de forma mais racional, maximizando seus resultados. A maior liberdade de comércio na sociedade é assentada sobre a coação das forças intrínsecas ao mercado. E. Wood ainda reitera que o capitalismo não é caracterizado pela escolha e oportunidade, mas sim pela compulsão. A função de mediador de todas as relações sociais por parte do mercado faz com que todos sejam obrigados a aderi-lo para garantir sua subsistência. Para além disso, as forças de mercado se propagam e transformam as relações interpessoais, principalmente nos mercados de trabalho. 4. Identifique os principais aspectos do debate entre Dobb e Sweezy. O que E. Wood concorda e critica em Sweezy? Pode se dizer que o principal ponto de debate entre Dobb e Sweezy era na localização do "motor primordial" da transição do feudalismo para o capitalismo. Maurice Dobb, juntamente com R. H. Hilton argumentavam que não foi o comércio que dissolveu o feudalismo, que tanto esse quanto as cidades eram parte integrante do regime feudal. Defendiam que as lutas de classe entre senhores e camponeses promoveram a libertação dos pequenos produtores da exploração feudal, e que da pequena produção nasceu o capitalismo. Contrário as ideias de Dobb, Paul Sweezy alegava que o feudalismo apresentava grande resistência às mudanças, e que a sua ruptura viria de fatores externos. O comércio fazia parte do sistema feudal, mas a integração do comércio entre cidades distantes estimulou a produção baseada na troca, partindo para um período de avanços gradativos até atingir o capitalismo. Sweezy, porém, acreditava que só a dissolução do feudalismo não explicava a ascensão capitalista, dividindo-os em processos distintos, tema negligenciado por Dobb. E. Wood concorda com a ênfase de Sweezy na diferenciação do fim do feudalismo e início do capitalismo, visto que uma visão rasa dessa transição se aproximaria do modelo mercantil. Também aprova as críticas de Sweezy ao modo como Dobb trata a transição, um confronto entre dois modos de produção antagônicos, que mais se adequa a transição entre capitalismo e socialismo. O principal ponto de convergência entre Wood e Sweezy é a objeção do autor à "via realmente revolucionária", julgando serem necessárias melhores explicações acerca do interesse dos pequenos produtores a se portarem como capitalistas, como defende Dobb. Já a principal crítica da autora a Paul Sweezy é com relação a sua compatibilidade com o modelo mercantil, o qual E. Wood faz oposição. 5. Quais as diferenças entre sociedades com mercados e sociedades de mercado, na visão de K. Polanyi? Nas sociedades com mercados, esse se mantinha apenas como uma subdivisão da vida econômica, influenciado por outros fatores. Ademais, esses não eram fundamentalmente competitivos ou movidos pela competição, eram baseados na complementariedade entre regiões. As práticas de comércio externo eram basicamente caracterizadas pelo transporte de mercadorias e, no comércio interno, a competição não era vista como algo positivo pois tendia a desorganizar os mercados. Já na sociedade moderna, ou sociedade de mercado, em que se desenvolvem as concepções de competição como motivação, autorregulação dos mercados e os mecanismos de preço, que garantem ao mercado o papel principal na economia, e torna toda a sociedade e suas relações em um anexo dela. 6. Qual a principal crítica de E. Wood à formulação de Polanyi? A autora critica sobretudo na formulação de Polanyi a manutenção de alguns pensamentos dos modelos mercantis convencionais, como por exemplo na sua crença da inevitabilidade dos avanços que constituem o "progresso espontâneo"” ainda que ele teça alguns argumentos contra as visões tradicionais desse progresso. "Sob alguns aspectos, portanto, os contornos principais da narrativa histórica de Polanyi não são inteiramente diferentes do antigo modelo mercantil: a expansão dos mercados caminha de mãos dadas com o progresso tecnológico na produção do capitalismo industrial moderno" (WOOD, 2001, p. 34). Outra crítica feita por ela ao trabalho de Polanyi diz respeito ao determinismo tecnológico de sua argumentação, em que a Revolução Industrial foi a origem da sociedade de mercado. A ordem de causação escolhida por ele determina os imperativos de mercado como resultado dos avanços tecnológicos inevitáveis. 7. Revoltas camponesas e burguesas: O que foi mais importante para que sociedades assimilassem os mecanismos de mercado? Na visão de Maurice Dobb, a qual compactuam R. H. Hilton e em partes Paul Sweezy, as revoltas camponesas foram responsáveis pela assimilação dos mecanismos de mercado e a ascensão do capitalismo, ainda que não de forma direta. As pressões impostas por senhores feudais aos camponeses para transferirem o trabalho excedente os levaram ao limite, acarretando nas insurreições camponesas. Independentes, eles conduziram o processo de libertação econômica rural e desenvolvimento da produção mercantil. Esses economistas e historiadores econômicos mais recentes divergem das ideias marxistas tradicionais da "revolução burguesa" e, de acordo com Wood (2001) focamna "mudança das relações de propriedade na zona rural inglesa, a expropriação dos produtores diretos que deu origem a uma nova forma de exploração e a novas leis de movimento sistêmicas". O historiador Robert Brenner também criticou a concepção tradicional de revolução burguesa como explicação à transição do feudalismo ao capitalismo, uma vez que essa seria intrinsecamente contraditória e desnecessária, já que a sociedade burguesa, segundo o modelo mercantil, se desenvolve sozinha e dissolve o feudalismo. 8. Pela E. Wood, o capitalismo seria a consequência lógica da degeneração das relações feudais em todas as partes? Por quê? E. Wood, em acordo com a corrente de Dobb e Hilton de que a dissolução do sistema feudal adveio da libertação dos pequenos produtores do controle dos senhores feudais, disserta na segunda parte de seu livro "A Origem do Capitalismo" que as constantes tensões entre as classes, principalmente vinda dos latifundiários que desejavam maior controle e centralização das terras visando maior produtividade, reorganizaram as relações sociais e de propriedade na Inglaterra. Na visão da autora, porém, os conflitos entre camponeses e senhores feudais, degeneração das relações feudais, foram consequências da ética do melhoramento e a busca por produtividade e lucro, que deram origem ao capitalismo. 9. Para Brenner, o capitalismo nasceu com a difusão do assalariamento ou com qual outro fenômeno? Na visão de Brenner, o fenômeno responsável pelo nascimento é a construção de um "sistema particular de relações de classe, no qual os participantes agiam para se reproduzir tais como eram, acarretando a consequência não intencional de disparar um processo de desenvolvimento que deu origem ao capitalismo" (WOOD, 2001, p. 59). Ou seja, os mesmos imperativos de mercado que levou os produtores e proprietários a buscarem maior produtividade e posteriormente submeteu fazendeiros a adotarem o trabalho assalariado, fomentaram o capitalismo. 10. O que seria que teria causado a ruptura dos ciclos malthusianos, segundo Brenner? Brenner argumenta que na Inglaterra, uma extensa parte da terra pertencia aos latifundiários e era cultivada por arrendatários que, ao passar do tempo, acostumaram-se aos pagamentos em quantias monetárias correspondentes às condições de mercado. O desenvolvimento das práticas comerciais fez com que os arrendatários fossem subordinados aos imperativos de mercado, produzindo não mais motivados pela oportunidade de ascensão econômica, mas sim motivados pela competição, se especializando cada vez mais para manter preços competitivos e garantir sua subsistência. Os proprietários das terras, por sua vez, diferentemente da aristocracia francesa, dependiam da produtividade de seus arrendatários, mas não possuíam poder coercitivos sobre eles. Assim, tanto os produtores quanto os possuidores da terra eram fortemente dependentes do mercado, e toda essa conjuntura acionou uma nova dinâmica de crescimento e competição que favoreciam a produtividade e um excedente cada vez maior de produtos para o consumo, o capitalismo agrário. 11. O que vem a ser as etapas teóricas da subordinação “formal” e “real” do trabalho pelo capital, por Thompson? Como E. Wood as localiza na história? A subordinação "formal" é caracterizada pelo capital que se apropriou do trabalho excedente dos trabalhadores que ainda lidavam com as tradicionais formas de produção devido aos imperativos capitalistas, competição e acumulação, mas sem reorganização da ordem produtiva. Esse momento, na visão da autora, é ainda de um capitalismo inicial. Já a subordinação "real" se dá pelo momento da liberdade da mão de obra, das formas de dominação extraeconômicas, mas sob a imposição das leis de movimento capitalistas, em um capitalismo amadurecido e industrial. Referências DOBB, Maurice H. A evolução do capitalismo. 6. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1977. 482 p SWEEZY, Paul M. A transição do feudalismo para o capitalismo. 4. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989. 196 p. WOOD, Ellen Meiksins. A origem do capitalismo. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2001, 143 p.
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