Buscar

ARQUITETURA E URBANISMO NO BRASIL COLÔNIA Museu de Arte Sacra da Boa Morte

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

ARQUITETURA E URBANISMO NO BRASIL COLÔNIA
 Museu de Arte Sacra da Boa Morte
Steffania Lemes Alecrim
Graduando em Arquitetura e Urbanismo - Universidade Federal de Goiás - Regional Goiás 
Steffaniafania@gmail.com
Antiga capital do Estado de Goiás, atualmente Vila Boa possui uma área de 3.108 Km² e uma população estimada segundo o IBGE em 2017 de 26.103 habitantes. Reconhecida como Patrimônio Histórico da Humanidade em dezembro de 2001 pela Unesco.
 No período colonial, que inclui os anos de 1500 até 1822, foi importada algumas correntes estilísticas da arquitetura europeia para a colônia brasileira. Em vista disso, cidades como Salvador, Ouro Preto, Olinda, Pirenópolis, Cidade de Goiás, entre outros locais históricas do Brasil, possuem traços arquitetônicos renascentistas, maneiristas, barrocos, rococós, neoclássicos. 
A Cidade de Goiás, se tornou o primeiro núcleo urbano fundado no território goiano, construída em virtude da descoberta das minas auríferas. E, por conta da proibição por parte da Coroa portuguesa, de construção dos edifícios religiosos em regiões mineradoras, contribuiu para que os templos não se vinculassem tanto aos elementos decorativos e estéticos que são encontrados no litoral da colônia. Apresentando-se conjuntos de edifícios religiosos com extrema simplicidade. Mas, que pode ser percebido uma tentativa dos fiéis designados a manutenção desses edifícios em tentarem reproduzir, carentes de referências artísticas e despreparo técnico, os seus antepassados culturais, tanto em relação ao programa, quanto ao uso de materiais e técnicas construtivas. E, de um modo geral, essas construções assemelham-se com características e formas inspiradas em modelos portugueses. 
A maioria das igrejas existentes na cidade de Goiás, surgiram no período da segunda metade do século XVIII. E, o ouro já se encontrava escasso. Por isso, a cidade foi sendo construída em função da elite burocrática e administrativa. Por conta da desvinculação às ordens religiosas fez com que surgisse uma certa liberdade construtiva.
(Etzel 1984, 195) “os aventureiros que possuíam alguma instrução ou cultura, ao se embrenharem por esses sertões, procuravam sempre as proximidades de Vila Rica, ficando as regiões mais distantes e isoladas de Goiás e Mato Grosso para aqueles mais rudes, dispostos a enfrentarem grandes distancias e todo tipo de dificuldades e que, diferentemente daqueles estabelecidos em Minas Gerais, não demonstravam disposição para fixação. Sendo assim, não somente os edifícios religiosos, mas praticamente todos os aspectos da arquitetura vão se apresentar revestidos de extrema simplicidade e sem qualquer sentido de erudição ou de expressão plástica mais elaborada. ”
O atual Museu de Arte Sacra da Boa Morte, é um exemplo dessa tentativa dos fiéis de trazerem essas informações artísticas para Vila Boa. A Igreja da Nossa Senhora da Boa Morte, a princípio, foi construída em 1762, por iniciativa do capitão de cavalaria Antônio da Silva Pereira. Destinado a ser a Capela de Santo Antônio, já aparecendo em esboços datados de 1751, ao lado da Casa de Câmara e Cadeia (Figura 1).
Figura 1: Desenho da Igreja da Boa Morte. BURCHELL, William, 1751.
Tal capela deveria atender os militares em suas necessidades religiosas. Porém, proibida de ser utilizada pelos mesmos, a construção ainda inacabada foi doada à Irmandade dos Homens Pardos, sendo concluída em 1779. É importante ressaltar que parte da Igreja como: altar-mor, sacristia, imagens de madeira, e o chão, foram destruídos em um incêndio no ano de 1920. Foi reconstruída, permanecendo templo religioso até 1967. Considerada a única igreja que manifesta uma evolução arquitetônica em relação as construções representativas da arquitetura barroca[footnoteRef:1] mineira (Figura 2). [1: A arquitetura barroca integrava o movimento de contrarreforma da Igreja Católica na arte. Entre os objetivos do movimento estava o transporte do observador para a cena demonstrada. É por isso que a arquitetura barroca é observada principalmente em igrejas, catedrais e monastérios. Caracterizada pela complexidade na construção do espaço e pela busca de efeitos impactantes e teatrais, uma preferência por plantas axiais ou centralizadas, pelo uso de contrastes entre cheios e vazios, entre formas convexas e côncavas.
] 
 (Coelho 1997, 219) “raramente, as construções religiosas goianas vão apresentar elementos decorativos em suas fachadas. Exceção expressiva vamos encontrar apenas na Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte, que apresenta a única fachada de expressão barroca da cidade. ”
Figura 2: Fachada Igreja Boa Morte -IPHAN- Instituto Patrimônio Histórico e Artístico.
O edifício fica no encontro das Rua Felix de Bulhões (rua do Horto) com a Rua Senador Caiado (rua da Fundição), ambas residenciais, porém sua fachada principal é voltada para o Largo da Matriz, que se localiza no centro histórico, centro comercial da região. A localização do edifício junto ao largo do palácio concede uma vantagem em relação a todo o conjunto, inclusive no que se refere à Igreja Matriz, onde cria ao observador situado à sua frente uma sensação de profundidade e relevo.(Figura 3).
Figura 3: Igreja Nossa Senhora da Boa Morte entre as Ruas do Horto e da Fundição. Destaque da cobertura. Fonte: https://www.instagram.com/p/BBNIJwaSDuv/?taken-by=ladoalto. Acesso: 14/09/2017 
Sua característica barroca está justamente no frontispício[footnoteRef:2] decorado com volutas e elementos florais. Gabarito de um pavimento, e área do lote de 598,74 m², com área construída de 377 m². Sua planta apresenta o octógono irregular, com disposição para a forma retangular em consequência de suas laterais, que coincidem com as laterais do próprio edifício (Figura 4). Essa é mais uma característica de usar formas poligonais, muito utilizada pelo barroco, principalmente para expor aos templos, conjuntos simbólicos e místicos de dominação dos fiéis. [2: Fachada principal de um edifício.] 
Figura 4: Planta baixa do edifício, térreo e pavimento superior.
Com relação aos materiais construtivos utilizados, em toda a extensão da Capitania, houve uma diversidade que caracterizou a variação na escolha desses materiais, restringindo as construções dos edifícios religiosos à utilização de pedra, com algumas implicando taipa-de-pilão, na elaboração de paredes. 
Possui alvenarias de pedra nas paredes externas/embasamento. Paredes sobre os altares laterais feitos de pau-a-pique, onde se encontram as tribunas situadas sobre os altares, com abertura em verga de arco abatido e parapeito de balaústre torneado dando para a nave, tendo o seu acesso posicionado na sala do consistório[footnoteRef:3]. As paredes internas são de adobe, sobre os arcos do coro, com três aberturas de iluminação, duas janelas emparedadas, e, acima da porta principal, uma outra, com guarda-corpo entalado. Os banheiros, sacristia e a cozinha são feitas de alvenaria de tijolo. Cobertura em quatro águas e telhas de barro canal. Pisos internos em madeira aroeira, e os calçados externos com lajes da própria região. A nave central e capela-mor possui forros em gesso e os demais, em madeira. Frontão decorado em relevo com pináculos. E pinturas em afresco[footnoteRef:4]. (Figura 5) [3: destinado a abrigar a irmandade em suas reuniões.
] [4: Técnica de pintura usada na Renascença italiana. Trabalha o revestimento ainda úmido de paredes e tetos, permitindo a absorção da tinta. Preferencialmente, é feito de nata de cal, gesso ou outro material apropriado.
] 
Figura 5: Capela-mor, altares laterais, tribunas. Acervo digital-UNESP. 
Existem duas outras igrejas na cidade de Goiás que apresentam tribunas nas paredes, todas com aberturas para a nave, o que possibilita a visão da capela-mor, permitindo que as pessoas que se encontram no lugar, assistam aos ofícios. O que difere da Igreja da Boa Morte é a questão que nela a nave que possui o formato octogonal, forma um ângulo em decorrência da parede do arco cruzeiro, fazendo com que a imagem do altar-mor fique bloqueada. 
O
edifício dispõe de características arquitetônicas que se assemelham às demais edificações sagradas da cidade, com a ausência de torre no edifício religioso provocando o surgimento de instalação de sino. Onde é inserida uma torre sineira que se encontra fora do edifício com estrutura de madeira lavrada e cobertura de telha de barro canal (Figura 6).
 
Figura 6: Torre sineira com estrutura de madeira. ALECRIM, Steffania, 2017
Outra semelhança é a simplicidade da organização no interior da quadra. E segue um padrão adotado por muitas edificações da região: acompanhada de um pequeno jardim, formado a partir da irregularidade do terreno, e como o edifício foi separando-se da via pública por um muro alto feito de argamassa (Figura 7).
Figura 7: pequeno jardim. ALECRIM, Steffania, 2017
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 
Coelho, Gustavo Neiva. Arquitetura Religiosa Setecentista em Vila Boa . Vieira , 2014.
—. O Espaço Urbano em Vila Boa. Goiânia: Editora da UCG, 2008.
Colégio de Arquitetos. s.d. http://www.colegiodearquitetos.com.br/dicionario/2009/02/o-que-e-afresco/ (acesso em 14 de 09 de 2017).
Concreto em Curva. s.d. https://concretoemcurva.com/2016/05/04/arquitetura-barroca/ (acesso em 11 de 09 de 2017).
Conhecendo Museus. s.d. http://www.conhecendomuseus.com.br/v1/v1/museu-de-arte-sacra-da-boa-morte/ (acesso em 15 de 09 de 2017).
Creston, Tuler Helena. BRASIL: arquitetura colonial e técnicas construtivas. Minas Gerais , s.d.
Emos, Giovana Luz, e Cristiano Alencar Arrais Arrais. “Estrutura urbana da cidade de Goiás: formas e funções.” Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência. s.d. http://www.sbpcnet.org.br/livro/63ra/conpeex/mestrado/trabalhos-mestrado/mestrado-giovana-emos.pdf (acesso em 14 de 09 de 2017).
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística . 2017. http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=520890&search=goias|goias (acesso em 15 de 09 de 2017).
IBRAM- portal do instituto brasileiro de museus. s.d. http://www.museus.gov.br/tag/museu-de-arte-sacra-da-boa-morte/ (acesso em 14 de 09 de 2017).
Iphan- Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. s.d. http://portal.iphan.gov.br/ans.net/tema_consulta.asp?Linha=tc_belas.gif&Cod=1225 (acesso em 14 de 09 de 2017).
Lima, Elder Rocha. Guia Efetivo da Cidade de Goiás. Goiânia-Go: Iphan, 2008.
—. Itinerário Cora Coralina . Iphan, 2008.
“Plano Museológico Museu de Arte Sacra.” IBRAM- Portal do Instituto Brasileiro de Museus . s.d. http://www.museus.gov.br/wp-content/uploads/2014/03/PlanoMuseologico_MuseuArteSacraBoaMorte.pdf (acesso em 14 de 09 de 2017).
Silva, Leosmar Aparecido. “ASPECTOS SOCIAIS, POLÍTICOS E RELIGIOSOS DA ARQUITETURA.” Câmpus Anápolis de Ciências Socioeconômicas e Humanas. s.d. http://www2.unucseh.ueg.br/vialitterae/assets/files/vl_v2_v2/10-34-Arquitetura_colonial_vilaboense-analise_semiotica_LEOSMAR_A_SILVA.pdf (acesso em 15 de 09 de 2017).

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Continue navegando