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Ensino e Educação com igualdade de gênero na infância e adolescência: Um guia prático

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ENSINO E EDUCAÇÃO COM IGUALDADE DE 
GÊNERO NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA 
GUIA PRÁTICO PARA 
EDUCADORES E EDUCADORAS 
 
 
 
 
 
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 
NEMGE - Núcleo de Estudos da Mulher e Relações Sociais de Gênero 
CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2006 
 
 
2 
ENSINO E EDUCAÇÃO COM IGUALDADE DE 
GÊNERO NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA 
GUIA PRÁTICO PARA 
EDUCADORES E EDUCADORAS 
 
 
 
 
 
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 
NEMGE - Núcleo de Estudos da Mulher e Relações Sociais de Gênero 
CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2ª Edição revista e ampliada 
Comemorativa dos 10 anos da 1ª edição 
2006 
 
 
3 
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP 
Reitora: Profª. Drª. Suely Vilela 
Vice-Reitor: Prof. Dr. Franco Maria Lajolo 
Pró-Reitora de Graduação: Profª. Drª. Selma Garrido Pimenta 
Pró-Reitor de Pós-Graduação: Prof. Dr. Armando Corbani Ferraz 
Pró-Reitora de Pesquisa: Profª. Drª. Mayana Zatz 
Pró-Reitor de Cultura e Extensão Universitária: Prof. Dr. Sedi Hirano 
 
Realização: Núcleo de Estudos da Mulher e Relações Sociais de Gênero -
NEMGE 
Coordenadora Científica: Profa. Dra. Eva Altermann Blay 
 
Equipe Responsável do NEMGE 
Profa. Dra. Rosa Ester Rossini 
Dra. Rochelle G. Saidel 
Dra. Sonia Alves Calió 
Isamara Lima de Jesus 
 
Consultoras: 
Profa. Dra. Lia de Freitas Garcia Fukui 
Profa. Dra. Tânia Suely Antonelli Marcelino Bravo 
 
Ilustração: Alexandre Jubran 
Revisão: Frank Roy Cintra Ferreira 
Projeto Gráfico: Marcelo Peri 
Fotolito e Impressão: Tec Art Editora 
 
 
 
 
 
FICHA CATALOGRÁFICA 
 
Universidade de São Paulo - NEMGE/CNPq 
Ensino e educação com igualdade de gênero na infância e na adolescência - 
Guia prático para educadores e educadoras. São Paulo: NEMGE/CNPq, 2ª edição, 
revista e ampliada, 2006 
... p. 
 
1. Educação - São Paulo I. Título 
Primeira edição 1996 
 
 
 
4 
1ª Edição – 1996 
 
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO - MEC 
Ministro: Prof. Dr. Paulo Renato Souza 
Secretaria de Educação Fundamental 
Secratária: Profª. Drª. Iara Glória Areias Prado 
Departamento de Políticas Educacionais 
Diretora: Profª. Drª. Virgínia Zélia de Azevedo Rebeis Farah 
Coordenação Geral de Programas de Atenção Integral 
Coordenador Geral: Prof. Dr. José Aluízio Ferreira Lima 
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação 
Secretário Executivo: Prof. Dr. Barjas Negri 
 
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP 
Reitor: Prof. Dr. Flávio Fava de Moraes 
Vice-Reitora: Profa. Dra. Myriam Krasilchik 
Pró-Reitor de Graduação: Prof. Dr. Carlos Alberto B. Dantas 
Pró-Reitor de Pós-Graduação: Prof. Dr. Adolpho José Melfi 
Pró-Reitor de Pesquisa: Prof. Dr. Hugo Aguirre Armelin 
Pró-Reitor de Cultura e Extensão Universitária: Prof. Dr. Jacques Marcovitch 
 
Coordenadoria Executiva de Cooperação Univ. e de Ativ. Especiais - CECAE 
Coordenador: Prof. Dr. Guilherme Ary Plonski 
Programa de Cooperação Universidade-Sistema Educacional 
Coordenadora: Vera Soares 
 
Realização: Núcleo de Estudos da Mulher e Relações Sociais de Gênero-
NEMGE 
Coordenadora: Profa. Dra. Dulcília Schroeder Buitoni 
 
Equipe Responsável do NEMGE 
Profa. Dra. Rosa Ester Rossini 
Dra. Rochelle G. Saidel 
Dra. Sonia Alves Calió 
Isamara Lima de Jesus 
 
Consultoras: 
Profa. Dra. Lia de Freitas Garcia Fukui 
Profa. Dra. Maria Solange Guarino Tavares 
 
Ilustração: Alexandre Jubran 
Revisão: Frank Roy Cintra Ferreira 
Projeto Gráfico: Marcelo Peri 
Fotolito e Impressão: Tec Art Editora 
 
 
5 
SUMÁRIO 
MENSAGENS 2ª EDIÇÃO 
MENSAGENS 1ª EDIÇÃO 
APRESENTAÇÃO 
PARTE I: UMA INTRODUÇÃO AO CONCEITO DE GÊNERO 
O que é Gênero? 
O que é Igualdade de Gênero? 
O que é Preconceito de Gênero? 
O que é Estereótipo de Gênero? 
O Preconceito de Gênero na Sala de Aula, ... 
... nos Livros e Materiais Didáticos 
A Importância do Papel da Escola e do/da Professor/a 
PARTE II: PARE E PENSE - AUTO-AVALIAÇÃO SOBRE A IGUALDADE DE GÊNERO 
PARTE III: ESTRATÉGIAS PARA PROMOVER A IGUALDADE DE GÊNERO 
Esportes e Educação Física — Cooperação e não Competição 
Atividades Lúdicas (Brincadeiras e Brinquedos) 
A Importância da Auto-Estima 
O Ensino de Sexualidade e Saúde 
Educação para o Trabalho - a Profissão no Futuro 
Proteção Especial à Criança e à Família 
Evitando os Estereótipos 
Trabalhando com a Escola, a Família e a Comunidade 
Atividades para o 8 de Março, Dia Internacional da Mulher 
PARTE IV: COMO EVITAR O SEXISMO NA LINGUAGEM 
Sugestões e Possíveis Soluções 
PARTE V: CONSIDERAÇÕES FINAIS 
PARTE VI: REFERÊNCIAS 
Referências Bibliográficas e Sugestões de Leitura 
Vídeos Recomendados 
Fontes de Informações e Recursos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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MENSAGENS - 2ª Edição 
 
A pesquisa sobre o tema gênero e as questões que o permeiam, como 
preconceito e a conquista da igualdade, assume caráter fundamental, sobretudo 
quando se quer atingir a infância e a adolescência. É a partir das etapas iniciais da 
vida que se transmitem os valores essenciais para a formação da cidadania e se 
investe na correção de distorções que possam comprometer a vida em sociedade. 
O Guia Prático sobre Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância 
e na Adolescência, destinado a educadores e educadoras e elaborado pela equipe 
do Núcleo de Estudos da Mulher e Relações Sociais de Gênero/USP, discorre 
sobre os principais aspectos envolvidos no tema. 
Dedicado aos professores e pesquisadores que desenvolvem estudos na área 
de gênero, não se furta em incluir a discussão nos planos da escola, da 
comunidade e da sociedade. 
Reconheço nessa obra a missão desta Universidade, que trata das grandes 
questões que preocupam a sociedade com base nas atividades de ensino, pesquisa 
e extensão que desenvolve e saúdo a iniciativa. 
 
Profª. Drª. Suely Vilela 
Reitora da Universidade de São Paulo - USP 
 
 
O texto apresenta orientações práticas a serem realizadas por educadores 
preocupados em oferecer às meninas e aos meninos oportunidades iguais na 
escola de hoje, de maneira que eles possam contribuir igualmente à sociedade 
brasileira como as mulheres e os homens de amanhã. 
A motivação deste Guia é a de contribuir para que os futuros homens e 
mulheres deste país aprendam a viver numa sociedade livre dos preconceitos de 
gênero. As sugestões práticas nele contidas - idéias básicas e sugestões para 
educadores e educadoras que atuam com crianças e adolescentes - germinaram da 
pesquisa científica e deverão ajudar aos mesmos a terem uma convivência mais 
construtiva e uma vida melhor. 
O trabalho apresenta estudo sobre a questão do gênero nas propostas, nos 
conteúdos programáticos e no próprio ensino ministrado nas salas de aula 
oferecendo sugestões valiosas no que diz respeito a estes temas. 
 
Profª. Drª. Selma Garrido Pimenta 
Pró-Reitora de Graduação da USP 
 
A discussão sobre e igualdade de gênero é de fundamental importância para a 
formação da cidadania. Nesse sentido, um Guia que situa o debate na esfera dos 
valores humanos e se inspira na contribuição acadêmcia se constituiu num 
referencial basilar para os educadores que têm diante de si o desafio de promover a 
eqüidade entre homens e mulheres. Com Ensino e Educação com Igualdade de 
Gênero na Infância e na Adolescência, temos um instrumento valioso na construção 
de uma sociedade mais justa. 
 
Prof. Dr. Armando Corbani Ferraz 
 
 
7 
Pró-Reitor de Pós-Graduação da USP 
 
 
8 
Quando ganhei o Prêmio Internacional UNESCO/L´Oréal para Mulheres na 
Ciência, em 2001, a primeira pergunta que me fizeram foi: Como é ser mulher 
cientista no Brasil? Para surpresa de todos respondi que nunca me senti 
discriminada no meu país no campo da ciência. Acho que podemos afirmar com 
orgulho que, diferentemente do que ocorre em muitos países, inclusive em vários do 
primeiro mundo, noBrasil, os dois gêneros têm a mesma oportunidade de seguir 
uma carreira científica. Entretanto, apesar da mulher brasileira ocupar, cada vez 
mais, posições de destaque em todas as profissões, ainda existem diferenças de 
gênero principlamente nas camadas sociais mais baixas. Nesse sentido ensinar 
jovens e adolescentes que não somos piores ou melhores, mas que homens e 
mulheres podem ter aptidões e maneiras de pensar diferentes pode contribuir muito 
para desenvolver o melhor potencial em cada um de nós. 
 
Profª. Drª. Mayana Zatz 
Pró-Reitora de Pesquisas - USP 
 
 
O livro Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na 
Adolescência – Guia Prático para Educadores e Educadoras visa combater todas 
as formas de preconceito e discriminação existentes na família, na escola, no 
trabalho e nos vários segmentos da Sociedade Civil. Ele é um instrumento de luta 
na construção de uma sociedade mais justa com igualdade e eqüidade de gênero. 
O guia almeja também enfrentar o preconceito de gênero nos livros e nos 
manuais escolares que apresentam imagens estereotipadas e distorcidas sobre os 
papéis a serem desempenhados por meninas e mulheres e por meninos e homens 
nas diversas instituições da Sociedade e do Estado. 
Tudo isso evidencia que este guia poderá ser útil e instrutivo, desde que seja 
devidamente aproveitado pelos educadores, como instrumento introdutório ao 
estudo das relações de gênero nas escolas brasileiras. A educação funciona como 
um solvente para dissolver qualquer forma de preconceito de gênero. 
 
Prof. Dr. Sedi Hirano 
Pró-Reitor de Cultura e Extensão Universitária - USP 
 
 
O NEMGE, Núcleo de Pesquisa sobre a Mulher e Relações Sociais de Gênero, 
é uma entidade que, a partir da Universidade de São Paulo, procura atender toda a 
comunidade. Com este Guia cumpre a importante tarefa de atualizar docentes, 
psicólogos e psicólogas escolares, e outras pessoas voltadas à educação, em sua 
inestimável tarefa de enfrentar a discriminação de gênero. Suas páginas contém 
significativos exemplos de como educar crianças e adolescentes e, talvez, os 
próprios adultos, para compreender que as diferenças entre homens e mulheres 
não significam que uns são melhores que os outros, que uns mandam e outros 
obedecem, mas sim que apesar de diferentes somos todos seres humanos iguais. 
 
Profª. Drª. Eva Alterman Blay 
Coordenadora Científica do NEMGE - USP
 
 
9 
 
MENSAGENS - 1ª Edição 
 
Apesar das grandes conquistas sociais de nosso tempo, ainda vivemos um 
momento em que as relações entre homens e mulheres, entre meninos e meninas, 
não ocorrem de foram igualitária, acarretando prejuízos para ambos os sexos. Estou 
certo de que a escola é o cenário ideal para a formação do conceito de eqüidade 
nas relações de gênero, com possibilidade de proporcionar nas crianças e 
adolescentes uma atitude que venha abolir a discriminação e os estereótipos 
ligados ao gênero. 
O tempo de permanência, as múltiplas possibilidades de convívio entre meninos 
e meninas e, mesmo, o desenvolvimento das atividades curriculares, tornaram a 
escola o local e o momento privilegiados para a abordagem de tão importante 
questão que é, em essência, uma questão educacional. 
 
Prof. Dr. Paulo Renato Souza 
Ministro da Educação e do Desporto 
 
 
Ao tratar o tema, vejo-me obrigado a fazer um breve relato histórico de como os 
governos têm utilizado o esporte como instrumento de política social. Embora a 
intenção seja a de transmitir uma breve abordagem desta questão sob a ótica 
meramente histórica e subjetiva, é inevitável que seja interpretada como 
pensamento crítico. 
No Brasil Império, devemos entender a abordagem da atividade esportiva 
fomentada pelo Estado, especialemnte no aspecto da definição dos papéis sociais 
dos indivíduos, delimitando claramente o comportamento masculino e feminino em 
nossa sociedade. A preocupação central do Estado na definição dos papéis sociais 
estava na ênfase dada à estereotipação da postura política do homem e da mulher, 
uma preocupação mais próxima da dominação do “corpo forte, ativo, flexível” sobre 
o “corpo frágil”, passivo e dependente”, do que propriamente da educação integrada 
e libertadora que o esporte potencializa, indepednentemente do sexo ou qualquer 
outra modalidade discriminatória. 
Temos trabalhado ativamente na promoção do chamado esporte sócio-
educacional. Ou seja, utilizando o esporte fundamentalmente como veículo de 
promoção da cidadania nos segmentos definidos como prioritários: as crianças e 
os/as adolescentes de baixa renda. Não quero perder a oportunidade de lembrar 
que o esporte, ao contrário do que muitos pensam, é algo muito sério e 
extremamente importante para a formação da cidadania, do caráter, da 
personalidade, da saúde, bom como para a inserção social e econômica do/da 
cidadão/dã. 
 
Edson Arantes do Nascimento 
Ministro Extraordinário dos Esportes 
 
 
 
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A Secretária-Geral da IV Conferência Mundial sobre a Mulher, recentemente 
organizada em Beijin (China) pelas Nações Unidas, mencionou que a questão 
fundamental para a contribuição efetiva das mulheres ao desenvolvimento nacional 
no século XXI é “se elas serão suficientemente equipadas para participar de forma 
completa”. Penso, da mesma forma que a Srª. Gertrude Mogella, que isso será 
conseguido apenas se elas puderem “receber uma educação de qualidade, que as 
prepare para entrar em todos os campos, que as exponha à ciência, tecnologia e 
comunicações, e que estimule a sua criatividade”. 
Este Guia Prático, preparado pela equipe do NEMGE para o Projeto 
USP/PRONAICA, coordenado pela CECAE, é parte desse esforço coletivo de 
oferecer às meninas, assim como aos meninos, oportunidades iguais na escola de 
hoje - em particular nos CAICs, de maneira que elas e eles possam contribuir 
igualmente à sociedade brasileira como as mulheres e os homens de amanhã. 
Estou orgulhoso da participação da Universidade de São Paulo num processo que 
tem o potencial não apenas de melhorar a condição das mulheres, mas também a 
dos homens e, em verdade, de aprimorar o nosso país. 
 
Prof. Dr. Flávio Fava de Moraes 
Reitor da USP 
 
 
Na qualidade de docente da Faculdade de Educação da USP e integrante do 
Conselho Nacional de Educação, tenho interesse especial neste Guia para o ensino 
e educação visando à igualdade de gênero. Não apenas no Brasil, como também 
em praticamente todos os países, os currículos e os textos didáticos contêm, de 
forma geral, preconceitos de gênero. Raramente contemplam considerações 
específicas para meninas e apresentam posições preconceituosas e discrinadoras, 
tanto nos textos, como nas ilustrações. Dessa forma, as escolas reforçam os papéis 
tradicionais femininos e masculinos, que impedem as mulheres de conquistar 
oportunidades para trabalharem e viverem em condições de igualdade. 
Este Guia, elaborado pela equipe do NEMGE é uma contribuição significativa 
para aumentar a consciência do gênero na escola e dar as mesmas oportunidade 
para homens e mulheres. 
 
Profª. Drª. Myriam Krasilchik 
Vice-Reitora da USP 
 
 
 
 
11 
O NEMGE/USP é um dos núcleos de apoio à pesquisa da Universidade de São 
Paulo. Por vezes, imagina-se que a pesquisa acadêmica permaneça confinada no 
interior dos muros da Universidade. Este Guia, contudo, mostra um exemplo 
concreto de pesquisa onde é visível a preocupação com o uso prático e com o 
impacto de seus resultados. Na verdade, a razão primeira de nossa atividade de 
pesquisa é a busca de resultados que melhorem a qualidade de vida das pessoas 
que habitam o Brasil. Mas, nem sempre é possível dar fácil visibilidade aos elos que 
conectam os resultados da pesquisa e seus efeitos sociais. 
A motivação deste Guia é contribuir para que os futuros homens e mulheres 
deste País aprendam a viver numa sociedade livre dos preconceitos de gênero. As 
sugestões práticas nele contidas - idéias básicas e sugestões para educadores e 
educadoras que atuam com criançãs eadolescentes - germinaram da pesquisa 
científica e deverão ajudar meninos e meninas a ter uma convivência mais 
construtiva e, por conseguinte, uma vida melhor, agora e no futuro. 
 
Prof. Dr. Hugo A. Armelin 
Pró-Reitor de Pesquisa da USP 
 
 
 
As diretrizes de política cultural da Universidade de São Paulo contemplam os 
valores humanos como pontos essenciais da vida acadêmica. Eis uma razão, além 
das mais óbvias, para vermos com entusiasmo esta publicação do NEMGE e da 
CECAE, visando à orientação do professorado de 1º e 2º graus em torno de um 
princípio irrnunciável, que é a eqüidade entre homens e mulheres. Infelizmente, 
apesar dos avanços verificados nas últimas décadas, esta ainda não é uma questão 
resolvida na sociedade contemporânea. Custa crer que o mundo moderno, tendo 
evoluído tanto em conquistas tecnológicas, chegue ao final do século XX mantendo 
traços primitivos de comportamento no plano das relações humanas. 
Tendo a escola como “locus” principal para a formação da cidadania, este Guia 
visa o alvo certo para corrigir, no Brasil, uma distorção inaceitável da vida em 
sociedade. A escola, núcleo formador de mentalidade, deve ser a trincheira 
preferencial na luta contra todas as formas exludentes, dentre as quais avulta o 
sexismo ou preconceito de gênero. O NEMGE/USP e a CECAE/USP, divisando 
este caminho, sublinham criativamente uma das missões mais nobres da 
Universidade. 
 
Prof. Dr. Jacques Marcovitch 
Pró-Reitor Cultura e Extensão da USP 
 
 
 
 
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“Nenhum livro para crianças deve ser escrito para crianças”, comentou uma vez 
Fernando Pessoa. Este é um Guia para crianças e adolescentes escrito para 
adultos - educadores e educadoras que têm a responsabilidade de preparar as 
novas gerações para lidar com os desafios do futuro. Constitui a materialização 
prática dos estudos encomendados à dedicada equipe do NEMGE/USP, no 
contexto das atividades de nossa Universidade como Pólo de Suporte Técnico, no 
Estado de São Paulo, ao Programa Nacional de Atenção Integral à Criança e ao 
Adolescente (PRONAICA). Trata-se de iniciativa do MEC, com o apoio do FNDE, 
com base na Lei 8.642/93. Cabe destacar duas características do Guia: a inovação 
e a oportunidade. 
O aspecto inovador está na busca de formas práticas, culturalmente 
adequadas, para lidar efetivamente com a questão de gênero nos estágios da 
formação intelectual e social. A oportunidade está relacionada às mudanças 
contemporâneas, onde fenômenos tais como o desemprego afetam mais 
intensamente as mulheres, requerendo uma ação articulada da sociedade. 
Ainda que tenha sido desenvolvido sob a ótica dos Centros de Atenção Integral 
à Criança e ao Adolescente (CAICs), ambiente particularmente favorável para se 
lidar sistemicamente com a questão do gênero, temos a convicção de que o Guia 
será útil em todas as escolas brasileiras, públicas e privadas. 
 
Prof. Dr. Guilherme Ary Plonski 
Coordenador da CECAE da USP 
 
 
 Ao realizar pesquisas que lidam com a sensibilidade de homens e mulheres, 
propondo novas atitudes e novos olhares ali onde as relações de cidadania se 
constroem - na escola -, o NEMGE/USP contribui para o desenho de uma 
sociedade mais justa. 
Reunindo pesquisadores e pesquisadoras de diferentes áreas, o Núcleo de 
Estudos da Mulher e Relações Sociais de Gênero da Universidade de São Paulo, 
existente desde 1985, promove pesquisas, cursos, seminários, realizando o ideal 
universitário da inter e da multidisciplinaridade. 
 
Profª. Drª. Dulcília H. S. Buitoni 
Coordenadora do NEMGE da USP 
 
 
 
 
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APRESENTAÇAO 
 
Este Guia é o resultado de experiências acumuladas de professoras/es e 
pesquisadoras/es que trabalham com a questão de gênero. 
Com o objetivo de apoiar e orientar as pessoas interessadas em promover a 
igualdade e a eqüidade de gênero na escola, na família, na comunidade e na 
sociedade em geral, a idéia de sua elaboração foi há muito tempo gestada. Ela pôde 
ser concretizada quando o NEMGE - no contexto do convênio celebrado entre o MEC 
e a USP pela sua Coordenadoria Executiva de Cooperação Universitária e Atividades 
Especiais (CECAE) - foi convidado a participar do Programa Nacional de Atenção 
Integral à Criança e ao Adolescente (PRONAICA). 
Nesse Programa, o NEMGE trabalhou a questão de gênero tanto nas propostas 
e conteúdos programáticos como no próprio ensino nos Centros de Atenção Integral 
à Criança e ao Adolescente (CAICs) do Estado de São Paulo, oferecendo sugestões 
às/aos professoras/es. Embora este Guia tenha sido inicialmente idealizado para os 
CAICs, suas recomendações são muito importantes para todas as escolas. 
O lançamento da primeira edição deste Guia coincidiu com a assinatura - em 08 
de março de 1996, Dia Internacional da Mulher - do Protocolo de Cooperação entre 
os Ministérios da Justiça e o MEC, com vista à promoção da igualdade de direitos 
entre homens e mulheres, representando, talvez, a primeira concretização efetiva do 
espírito do Protocolo. 
Essa segunda edição - comemorativa dos 10 anos do lançamento do Guia - 
revista e ampliada, que tem o apoio da Pró-Reitoria de Pesquisa da USP junto ao 
Programa Pró-Divulga, foi escolhida por ser uma obra inserida nos objetivos deste 
Programa e por atender aos requisitos: 
 Generalidade: texto acessível ao grande público. 
 Profundidade: linguagem precisa conduzindo à reflexão. 
 Autoridade: equipe especialista na área de Gênero. 
O NEMGE espera que este Guia seja - nas mãos das e dos profissionais 
envolvidas/os - um instrumento de orientação e de auto-avaliação que permita o 
desenvolvimento de atividades didáticas que diminuiam e eliminem os preconceitos 
de gênero e o sexismo veiculados pelos materiais escolares e, sobretudo, pela 
sociedade. Seu conteúdo não pretende ser exaustivo, nem portador de receitas 
mágicas. É, antes de mais nada, interativo. Foi montado como uma combinação de 
 
 
14 
pesquisa, de auto-avaliação e de sugestões práticas acompanhadas da indicação de 
fontes de informação e de uma bibliografia. 
As/os professoras/es, é obvio, precisam usar sua criatividade e seu conhecimento 
para escolher dentre estes meios, os mais apropriados para a idade e o nível de 
desenvolvimento das/dos estudantes. Cabe também a cada escola colaborar na 
eliminação de imagens estereotipadas associadas às mulheres e aos homens, nas 
práticas comuns em sala de aula, nos livros escolares e na literatura infanto-juvenil, 
introduzindo imagens mais efetivas e concretas a respeito do comportamento 
humano. Nosso desejo é que o contato com este Guia permita, por um lado, um 
melhor entendimento sobre a questão de gênero e, por outro, a obtenção de novos 
recursos para lutar por um ensino com eqüidade e igualdade de gênero. 
Pretendemos dar algumas respostas para a pergunta: como construir na sala de 
aula um ambiente mais justo tanto para meninas como para meninos? 
 É nossa intenção que estas palavras e imagens sirvam como uma ponte entre 
a teoria e a prática e contribuam para fortalecer atitudes de igualdade e eqüidade 
entre mulheres e homens em favor, não apenas do bem-estar das pessoas, mas 
também do desenvolvimento econômico e social. 
Como consta no Relatório da IVa Conferência Mundial sobre a Mulher, China: 
A criação de um ambiente educacional e social onde homens e mulheres, 
meninos e meninas sejam tratados/as igualmente e encorajados/as a 
explorarem completamente seu potencial, respeitando a liberdade de 
pensamento, de consciência, de religião e de crença, e onde os recursos 
educacionais promovam imagens não estereotipadas de homens e mulheres 
pode ter resultado efetivo na eliminação das causas de discriminação contra 
as mulheres e desigualdades entre as mulheres e os homens (ONU, 1995, p. 
29). 
 
A escola tem possibilidade de influenciar a sociedade pois forma, juntamente com 
a família, o conteúdo de valores culturais transmitidos à próxima geração. 
Reconhecemos, entretanto,que a implatanção de mudanças para promover a 
igualdade de gênero é um processo. 
Finalmente, mas não em último lugar, a Equipe responsável por este Guia 
gostaria de expressar seu agradecimento a todas as pessoas que colaboraram na 
realização deste trabalho pelo incentivo, apoio e discussões proveitosas. Se as idéias 
aqui contidas ajudarem as/os professoras/es a se empenhar pelo ensino e pela 
educação com igualdade e eqüidade de gênero, acreditamos que o futuro será bem 
melhor para todas as mulheres e todos os homens do país. 
Equipe do NEMGE/USP 
Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na Adolescência 
 
15 
PPAARRTTEE II:: UUMMAA IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO AAOO CCOONNCCEEIITTOO DDEE GGÊÊNNEERROO 
(CAPA DE SEÇÃO E CARTUM) 
Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na Adolescência 
 
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O que é gênero? 
Gênero é um conceito que identifica o tipo de relação social que se estabelece 
entre homens e mulheres, determinada pela cultura em que vivemos. As relações de 
gênero são socialmente construídas e, como tal, específicas de cada formação social 
que, por sua vez, sofre alterações econômicas e culturais. O termo sexo é diferente 
de gênero, pois diz respeito às diferenças biológicas entre homens e mulheres. 
 
O que é igualdade e eqüidade de gênero? 
De acordo com o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, igualdade é a 
relação entre os indivíduos em virtude da qual todos eles são portadores dos 
mesmos direitos fundamentais que provêm da humanidade e definem a dignidade 
da pessoa humana. 
Quando falamos em igualdade de gênero, estamos aplicando essa definição às 
relações sociais entre mulheres e homens. Nesse sentido, a igualdade de direitos, de 
oportunidades e acesso aos recursos, bem como a distribuição eqüitativa das 
responsabilidades relativas à família são indispensáveis ao bem-estar social. 
Eqüidade de gênero refere-se à igualdade de oportunidades, ao respeito pelas 
diferenças existentes entre homens e mulheres e às transformações das relações de 
poder que se dão na sociedade em nível econômico, social, político e cultural, assim 
como à mudança das relações de dominação na família, na comunidade e na 
sociedade em geral. 
 
O que é preconceito de gênero? 
Chamado também de sexismo, o preconceito de gênero é uma atitude social 
que diminui ou exclui as pessoas, em geral as mulheres, de acordo com o seu sexo. 
Relacionado ao pensamento e aos hábitos individuais e sociais, envolve atitudes que 
afetam o comportamento e freqüentemente nem são percebidas. 
A discriminação de sexo é um pouco diferente do preconceito de gênero, porque 
se refere a tipos de comportamento e práticas individuais e institucionais que, de 
modo claro, são discriminatórias com base no sexo e, em conseqüência, são contra a 
lei. Por exemplo: segundo a Constituição Brasileira, homens e mulheres são iguais 
em direitos e obrigações (Art. 5°, §1, 1988). Qualquer instituição e pessoas que não 
cumpram este artigo, estarão cometendo um ato ilegal. Ambos - discriminação de 
sexo e preconceito de gênero - podem ser dissimulados, já que muitos aspectos do 
Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na Adolescência 
 
17 
preconceito de gênero são sutis e inconscientes por estarem embutidos nos 
comportamentos. 
O foco deste Guia é o preconceito de gênero porque esta é uma atitude que 
pode ser mudada por professores/as na sala de aula. É possível que eles/as se 
perguntem qual a necessidade de tal trabalho, visto que atendem igualmente 
meninas e meninos e que o sistema escolar não estabelece discriminação quanto ao 
sexo. 
Alguns/mas pais/mães e professores/as acrescentarão ainda que meninos e 
meninas continuarão a manifestar preconceitos e ter gostos e comportamentos 
diferentes, apesar dos seus esforços em tratar a todas/os do mesmo modo, porque 
sempre foi assim... e será. Não se deve chegar a esta conclusão, talvez apressada, 
pois como mostraremos aqui, são múltiplos os fatores que colaboram na educação 
de uma criança. Sendo difícil controlá-los, será também difícil educar, de fato, uma 
criança em uma sociedade sexista. 
 
O que é estereótipo de gênero? 
O estereótipo de gênero está ligado ao preconceito de gênero. É uma opinião 
pré-determinada que afeta as relações interpessoais. O estereótipo aparece como 
uma forma rígida, anônima, reproduz imagens e comportamentos e separa os 
indivíduos em categorias. Exemplos: meninas são choronas; meninos não podem 
chorar (Parte III - Evitando os estereótipos). 
 
O preconceito de gênero na sala de aula, ... 
Embora tenhamos consciência de que a questão de gênero permeia toda a 
sociedade, com diferentes formas e disfarces, a escola nossa preocupação central. 
É importante ressaltar que as sugestões aqui apresentadas terão resultado mais 
efetivo na medida em que forem assumidas pelo sistema de ensino como um todo e 
não apenas por unidades isoladas. Cada professor/a poderá adaptá-las às condições 
de suas próprias salas de aula e oferecer um ambiente mais justo. O preconceito de 
gênero afeta tanto meninas quanto meninos. Se for eliminado, melhorará 
sensivelmente a vida de todas e todos, pois um ambiente livre do sexismo oferece 
melhores condições de desenvolvimento físico e psicológico além de possibilitar 
maior aproveitamento escolar. 
Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na Adolescência 
 
18 
É responsabilidade da escola a ajudar a todas/os a se libertarem de 
comportamentos estereotipados e rígidos em relação aos papéis sexuais. Para tanto, 
deve criar programas educacionais que favoreceram a auto-suficiência econômica, a 
satisfação profissional e as habilidades. Este Guia pretende colaborar com 
professoras e professores nesta tarefa difícil, mas fundamentalmente necessária - a 
luta pela construção de uma sociedade com igualdade e eqüidade de gênero. 
O problema do preconceito de gênero nas salas de aula tem base em um 
sistema em que a escola reproduz as estruturas de poder, de privilégios e do 
patriarcado na sociedade. A sua diminuição exige um esforço colaborativo e 
multifacetado entre as pessoas envolvidas com a escola. Não só professores e 
professoras, mas também membros da família, estudantes, administradores/as e 
profissionais envolvidos/as no processo educacional, além de instituições 
governamentais, podem investir para criar ambientes educacionais mais justos em 
relação ao gênero. 
 
... nos livros e materiais didáticos 
É possível analisar exaustivamente o preconceito de gênero nos livros e nos 
manuais didáticos. Aqui apresentaremos apenas alguns exemplos e fontes para 
ilustrar o problema. 
Andrée MICHEL descreve preconceitos de gênero ou sexismo, e aborda 
principalmente sua presença nos livros infanto-juvenis e manuais escolares: 
...agindo segundo estereótipos sexistas, o espírito humano funciona de 
maneira binária, atribuindo às mulheres qualidades e fraquezas que são 
negadas aos homens, ao mesmo tempo em que estes se vêem cumulados de 
qualidades e defeitos que são negados às mulheres. Inútil acrescentar que, 
nesta distribuição de estereótipos sexistas entre ambos os sexos, a balança é 
desigual: os homens recebem muito mais valores positivos (coragem, 
inteligência, auto-afirmação, competência profissional, gosto pelo perigo e 
pela aventura, espírito de iniciativa e eficiência); já as mulheres são 
representadas como seres desprovidos destas qualidades, ditas “viris”, 
surgindo como pessoas dotadas de qualidades consideradas “femininas” e 
supostamente ausentes nos homens (MICHEL, 1989; p. 19). 
 
Em geral, as imagens de homens e mulheres apresentadas nos manuais 
escolares não refletem, a realidade em que vivem hoje as crianças e não oferecem às 
meninas a mesma igualdade de oportunidades dada aos meninos. Neles, deve ser 
considerado que na sociedade a divisão de papéis e de tarefas de mulheres e de 
homens está emcontínua evolução. 
Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na Adolescência 
 
19 
Ao longo dos últimos 30 anos, houve no Brasil notável aumento da participação 
da mulher no mercado de trabalho. Em todos os níveis sociais, as mulheres buscam 
ocupações remuneradas. Geralmente, trabalham fora de casa e continuam a arcar 
com a maior parte ou com toda a responsabilidade das tarefas domésticas. Nesse 
sentido, é necessário estimular os homens a dividir com as mulheres as obrigações 
domésticas. 
Como primeiro passo para enfrentar o preconceito de gênero nos livros e 
manuais escolares, as/os professores/as precisam atentar para o fato de que muitos 
destes materiais ainda apresentam imagens injustas em relação ao gênero e 
precisam introduzir outras atividades didáticas, como as que sugerimos mais adiante. 
Segundo Zuleika Alambert, nos livros didáticos e nos manuais escolares, 
...as discriminações aparecem das formas mais variadas: nas ilustrações, por 
exemplo, mulheres e meninas são minoria em relação a homens e meninos; 
os papéis atribuídos ao sexo feminino são mais reduzidos e menos variados; 
os assuntos escolhidos geralmente favorecem os meninos, as personagens 
principais são sempre masculinas, sejam elas seres humanos ou animais; os 
meninos são mais ativos e as meninas mais contemplativas. (1990, p.26). 
 
Esmeralda Negrão, estudando a imagem da mulher no livro escolar, verificou: 
Praticamente, apenas a personagem masculina desempenha atividades como 
estudar, pensar, refletir, explorar. O trabalho estabelece fronteiras entre os 
mundos masculino e feminino [...] quanto aos papéis na família, o pai é 
apresentado nos livros didáticos como sendo o provedor material por 
excelência, organizador do universo familiar, autoridade, com privilégios. A 
imagem de mãe aparece predominantemente idealizada como abnegada e 
mártir, como “um misto de fada, santa e rainha”, arcando sozinha com todas as 
tarefas domésticas. O lazer infantil também é segregado por sexo. (1990, p.62-
63). 
 
Além disso, referindo-se à conexão entre sexismo e racismo, essa autora 
constatou que, em alguns livros, é negado o direito à existência: 
A imagem do homem branco adulto é tomada como representante da raça 
humana; personagens femininas aparecem com menor freqüência; a menina 
negra quase nunca aparece, e a mulher negra aparece menos que o homem 
negro; personagens masculinas são majoritárias. A mulher índia aparece 
padronizada, sem traços distintos captando suas multiplicidades culturais 
(1990, p. 60-61). 
 
 
A importância do papel da Escola e do/a Educador/a 
Apesar de que a questão de gênero está contemplada nos Parâmetros 
Curriculares Nacionais (PCN) desde 1997, e no Referencial Curricular Nacional para 
a Educação Infantil, desde 1998, muitas/os educadoras/es e escolas insistem em 
Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na Adolescência 
 
20 
mostrar que às mulheres está destinado o papel familiar e o segundo lugar nos 
processos de decisão, o que imprime no consciente e inconsciente das meninas 
limite a seus projetos de vida. 
As expectativas e ações de cada professor/a podem obter muitos resultados na 
vida dos e das estudantes. Seguramente, haverá resistências por parte de colegas, 
supervisores/as, administradores/as, coordenadores/as, pais/mães, alunos/as e da 
comunidade como um todo. Todavia, é importante que o/a professor/a esteja 
seguro/a de que está lutando pelo desenvolvimento completo de meninas e meninos 
e que seu esforço ajudará também no desenvolvimento dos adultos que trabalham 
com as crianças. 
É preciso ser realista quanto ao que se pode conseguir. Muitas vezes, pequenas 
mudanças têm um efeito expansivo que produz transformações em áreas 
imprevistas. Para efetivar essas mudanças, é fundamental envolver as famílias. Ao 
ignorar o potencial e as qualidades das meninas, põe-se em situação de 
desvantagem não só a elas, mas também aos meninos. Tratar as meninas de forma 
séria não é apenas uma questão de justiça, mas de sobrevivência cultural, sócio-
econômica e de cidadania. 
As escolas devem incentivar tanto as meninas como os meninos, a usar as 
habilidades necessárias para participar no mercado de trabalho, na família e na 
comunidade. Desde o início, é essencial adotar uma postura crítica em relação aos 
materiais pedagógicos utilizados na escola que, com freqüência, reproduzem 
mensagens e imagens sexistas e preconceituosas. 
O objetivo deste Guia, portanto, é proporcionar instrumentos que introduzam 
uma postura crítica ao cotidiano do trabalho de educadores e educadoras, 
permitindo-lhes enfrentar e erradicar o sexismo dentro e fora da escola. 
A seguir, apresentamos não só algumas questões importantes como sugestões 
de atividades que podem ser desenvolvidas na escola. 
Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na Adolescência 
 
21 
PPAARRTTEE IIII:: PPAARREE EE PPEENNSSEE.. AAUUTTOO--AAVVAALLIIAACCÃÃOO SSOOBBRREE AA IIGGUUAALLDDAADDEE DDEE 
GGÊÊNNEERROO 
(CAPA DE SEÇÃO E CARTUM) 
Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na Adolescência 
 
22 
Introdução 
Viver é mudar. Estamos permanentemente em movimento e a sociedade onde 
vivemos é muito dinâmica. Temos enorme capacidade de mudança de hábitos 
historicamente apreendidos durante nosso processo de formação. A vida é um 
contínuo processo de aprendizagem. As/os educadoras/es têm enorme 
responsabilidade na formação integral da criança e do/da adolescente. 
A lista abaixo é um instrumento de auto-avaliação que objetiva despertar a 
consciência de professoras/es sobre assuntos pessoais e de interesse social 
relacionados à questão de gênero principalmente na escola. Constitui-se em uma 
série de perguntas cujo sentido é o de criar um ambiente com igualdade e eqüidade 
de gênero. 
Leia com atenção cada pergunta e anote a resposta que melhor se aplica no seu 
relacionamento com os e as estudantes. Faça esta auto-avaliação com honestidade e 
individualmente, pois suas respostas não serão e nem deverão ser revisadas por 
ninguém. Procure responder com rapidez a cada questão. 
 
(CARTUM) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na Adolescência 
 
23 
AUTO-AVALIAÇÃO1 
 
 
Lista de Perguntas 
 
S
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Às 
vezes 
 
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 Encorajo as meninas a não esconder suas capacidades? 
 Tenho a expectativa de que todas e todos os/as 
estudantes explorem as várias opções de engajamento 
profissional? 
 Encorajo todos e todas, incluindo meninas grávidas, a não 
abandonar os estudos? 
 Acho que tanto as meninas como os meninos podem 
desenvolver habilidades de liderança? 
 Oriento meninas e meninos a desenvolver habilidades 
tanto para escutar como para falar? 
 Incentivo meninas e meninos a praticar esportes, mas 
respeito os/as que não gostam de práticas esportivas? 
 Estou atento/a ao fato que muitos e muitas estudantes 
têm uma imagem negativa do próprio corpo? 
 Compreendo que o preconceito de gênero é um problema 
da sociedade e não do indivíduo? 
 Tento conscientizar meninos e meninas sobre como 
acontece o preconceito de gênero? 
 Aceito críticas construtivas a respeito do meu 
comportamento em relação ao gênero? 
 Quando fazem piadas sexistas ou racistas, explico por 
que não são corretas? 
 Incentivo meninas e meninos a desenvolver a 
sociabilidade e aprender a cuidar das outras pessoas? 
 Encorajo meninas e meninos a desenvolver habilidades 
para falar em público e agir como líderes na escola? 
 Em sala de aula, peço aos e às estudantes para realizar 
tarefas tais como abrir janelas, decorar as paredes ou 
operar um equipamento? 
 Intervenho quando as meninas, ao trabalhar em grupo 
com os meninos, são relegadas a cargos estereotipados 
(como secretária, por exemplo)? 
 Reforço nos e nas estudantes os sistemas de valorese de 
justiça? 
 Tento reverter os estereótipos de gênero? 
 Chamo atenção para o fato de que meninas e meninos 
não formam grupos monolíticos? 
 Incentivo meninas e meninos a obter bolsas de estudo e 
prêmios? 
 Desencorajo toda e qualquer violência praticada contra 
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 Lista baseada em WHEELER, Kathryn A., How Schools Can Stop Shortchanging Girls (and Boys): Gender-Equity 
Strategies, Wellesley, Center for Research on Women, 1993, p. 17-28. 
 
Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na Adolescência 
 
24 
mulheres e homens? 
 Questiono comportamentos de perseguição sexual? 
 Procuro não fazer piadas ou comentários racistas e 
sexistas? 
 A decoração da minha sala de aula reflete as 
contribuições de mulheres e homens? 
 Convido mulheres e homens a dar palestras na escola? 
 O trabalho entre as e os estudantes em sala de aula é 
cooperativo? 
 Quando planejo as aulas penso em exemplos da vida 
real? 
 Faço as mesmas perguntas às meninas e aos meninos? 
 Uso o mesmo tom de voz com as meninas e com os 
meninos? 
 Desencorajo a competição, como grupos, entre meninas e 
meninos? 
 Destaco os sucessos de mulheres e meninas assim como 
de homens e meninos? 
 Na sala de aula falo sobre gênero, poder e sexualidade? 
 Reflito sobre o fato de que mais da metade da população 
do mundo é feminina? 
 Uso leituras com textos escritos por mulheres? 
 Uso linguagem não-sexista e incentivo todas as pessoas a 
fazer o mesmo? 
 Enquanto ensino, circulo, observando a aprendizagem 
dos e das estudantes? 
 Propicio oportunidades de práticas esportivas em 
igualdade de condições? 
 Incentivo igualmente o envolvimento das meninas e dos 
meninos em atividades de ciências e matemática? 
 Tento elevar a consciência de minhas e de meus colegas 
sobre o preconceito de gênero? 
 Nas reuniões escolares, converso com as famílias 
recomendando formas de aumentar a eqüidade de gênero 
na escola e em casa? 
 Convido as famílias a participar de atividades da escola 
como voluntários/as, palestrantes, pesquisadores/as? 
 Ajudo os e as estudantes a recuperar as histórias de suas 
famílias, incluindo a das mulheres? 
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Comentários 
Realizada esta auto-avaliação, sem a necessidade de contar pontos, verifique a 
possibilidade de mudar algumas posturas. Volte freqüentemente à esta lista de 
perguntas e constate o quanto está colaborando nas atividades de ensino com 
igualdade de gênero. 
A perfeição é difícil de ser conseguida, mas com boa vontade, você poderá 
construir uma sociedade mais justa, ética, onde mulheres e homens caminhem de 
Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na Adolescência 
 
25 
mãos dadas com igualdade de direitos. É este um dos grandes passos para a 
conquista da cidadania. 
Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na Adolescência 
 
26 
PPAARRTTEE IIIIII:: EESSTTRRAATTÉÉGGIIAASS PPAARRAA PPRROOMMOOVVEERR AA IIGGUUAALLDDAADDEE DDEE GGÊÊNNEERROO 
 (CAPA DE SEÇÃO E CARTUM) 
Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na Adolescência 
 
27 
Introdução 
As estratégias aqui sugeridas podem positivamente estimular transformações em 
nível individual e social que beneficiem a introdução da questão de gênero na sala de 
aula. Podem servir também para proporcionar e elevar a consciência sobre os 
preconceitos de gênero, encorajando comportamentos sem estereótipos. Antes de 
prosseguir no desenvolvimento de tópicos específicos sobre as estratégias de 
promoção da igualdade de gênero, sugerimos alguns exercícios de aquecimento. 
 
Exercícios sobre expectativas e consciência do preconceito de gênero 
1. Fale sobre suas expectativas. Por exemplo: peça que descrevam ou façam 
desenhos de uma mulher perfeita ou de um homem perfeito. Diga como as 
imagens são moldadas pela sociedade, incluindo meios de comunicação (rádio, 
TV, jornais, etc.). 
2. Peça que desenhem a figura de uma/um cientista ou uma/um astronauta em seu 
trabalho. A pessoa desenhada é mulher ou homem? Trabalha só ou em grupo? 
3. Peça que escrevam a história de trabalho de suas famílias, anotando o trabalho 
de todas as mulheres e de todos os homens em cada geração. Converse sobre 
os limites do preconceito de gênero e dos estereótipos no trabalho. 
 
Exercícios para conscientizar sobre o preconceito de gênero 
1. Procure saber se acham que meninas e meninos recebem tratamentos diferentes 
na escola e na sociedade. 
2. Peça que falem sobre as diferenças que provavelmente teriam em suas vidas se 
fossem do sexo oposto. 
3. Avalie com eles e elas como os livros, as revistas, os jornais, os programas de 
televisão, as canções, os brinquedos, etc. tratam a questão de gênero. 
 
Exercícios para promover atitudes sem preconceitos e estereótipos 
1. Reverta as expectativas de papéis sexuais: por exemplo, peça que uma menina 
carregue uma caixa de livros e um menino sirva um lanche. 
2. Varie suas atividades: costurar, brincar com carrinhos, cozinhar, jogar bola, etc. 
3. Estimule as meninas para a ciência e a matemática, e os meninos para a arte, a 
música, a dança e o teatro. 
Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na Adolescência 
 
28 
EESSPPOORRTTEESS EE EEDDUUCCAAÇÇÃÃOO FFÍÍSSIICCAA -- CCOOOOPPEERRAAÇÇÃÃOO EE NNÃÃOO CCOOMMPPEETTIIÇÇÃÃOO 
(CARTUM) 
Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na Adolescência 
 
29 
Introdução2 
Mulheres e homens possuem diferentes bagagens biológicas. Não obstante o 
uso do corpo, suas possibilidades e limitações têm sido e são objeto de 
condicionamentos de gênero que chegam a confundir o cultural com o natural. 
Contudo, nos últimos anos, alguns dos mitos sobre a educação física feminina vêm 
desaparecendo. Hoje, as mulheres estão se destacando em esportes como futebol, 
voleibol, basquete, ciclismo, alpinismo, corridas de Fórmula 1, caratê, judô, atletismo 
etc, dos quais, até ontem, só os homens participavam. 
Em parte isso se deve às trocas sociais produzidas pelo avanço das mulheres na 
conquista de seus direitos, permitindo-lhes enfocar suas vidas numa perspectiva mais 
ampla do que os limites da casa e abrir novos caminhos como o acesso ao mundo do 
trabalho, à cultura, à política, etc. É necessário que desde a mais tenra idade as 
meninas participem, como os meninos, de todas as atividades de esporte e educação 
física, deixando de ser simples espectadoras. 
 
Objetivos 
 Incentivar a cooperação no sentido de desenvolver potencialidades. 
 Despertar o interesse pelo esporte como atividade criativa e saudável. 
 Estimular o esporte, destacando sua importância para a saúde do corpo e da 
mente. 
 
Sugestões 
Propomos algumas atividades de esportes e educação física que evidenciam as 
várias possibilidades de realização conjuntas. 
 Organize atividades esportivas utilizando princípios e estruturas dos jogos 
cooperativos para desenvolver o espírito de cooperação. 
 A partir da observação de imagens, por exemplo, um homem dançando ou 
mulher jogando bola, conversesobre o que sentem a respeito dos esportes. 
 Faça uso de imagens e ilustrações para conversar sobre o papel das 
mulheres nos esportes, antigamente e na atualidade, mostrando aqueles em 
que elas participam (corridas de automóvel, maratona, futebol, atletismo, etc). 
 
2
 O NEMGE agradece ao Prof. Pascoal Luiz Tambucci, do Centro de Práticas Esportivas da USP (CEPEUSP), por seus 
comentários sobre cooperação. 
Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na Adolescência 
 
30 
 Organize jogos com turmas mistas em diversas modalidades, com o objetivo 
de promover a integração, a participação e a cooperação. 
 
Jogos Cooperativos 
Defendendo o princípio de que, se o importante é competir, o fundamental é 
cooperar, Brotto (1995) criou o seguinte esquema, aqui adaptado: 
 
QUAIS SÃO AS ALTERNATIVAS PARA JOGAR? 
Jogos Competitivos (tradicionais) Jogos Cooperativos (alternativos) 
São divertidos apenas para alguns/mas. São divertidos para todos/as. 
A maioria tem o sentimento de derrota. Todos/as têm um sentimento de vitória. 
Alguns/mas são excluídos/as por sua falta de 
habilidade. 
Há mistura de grupos que brincam juntos, 
criando alto nível de aceitação. 
Aprende-se a ser desconfiado/a. Todos e todas participam. Ninguém é 
rejeitado/a ou excluído/a. 
Quem perde fica de fora do jogo, 
simplesmente observando. 
Aprende-se a ter senso de coletividade e a 
compartilhar o sucesso. 
Os/as jogadores/as não se solidarizam e ficam 
felizes quando alguma coisa de ruim acontece 
às outras pessoas. 
Desenvolvem autoconfiança, porque todos/as 
são bem aceitos/as. 
A pouca tolerância à derrota pode desenvolver 
um sentimento de desistência face às 
dificuldades. 
A habilidade de perseverar face às 
dificuldades é fortalecida. 
São poucas as pessoas que se tornam bem 
sucedidas. 
É um caminho de co-evolução. 
 
Para que estas transformações se realizem na prática, tomemos como exemplo, 
alguns jogos e atividades cooperativas sugeridos por Brotto (1995). 
Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na Adolescência 
 
31 
Futpar 
Jogo muito divertido e movimentado. Durante todo o tempo, há envolvimento e 
busca de ajuste de estilo e habilidade entre as pessoas. Trata-se de um jogo de 
futebol. Cada equipe é formada por duplas (ou trios) que permanecem de mãos 
dadas. Jogam sem goleiro/a e ampliam ao máximo as dimensões da quadra. Ao 
mesmo tempo, dependendo do número de participantes, usa-se mais de uma bola. A 
cada gol novas parcerias são estimuladas, propiciando constante desafio de boa 
convivência. Propõe-se a inversão do/a goleador/a: desta forma, a dupla que fez gol 
marca ponto para sua equipe, mas em seguida, muda de lado. Ao final do jogo, 
todos/as jogaram com todos/as, ora na equipe “A”, ora na equipe “B”. Todos/as 
vencem, pois jogam nos dois times. 
 
Basquete Amigão 
Formam-se as equipes, criando oportunidades tanto de estímulo a novos 
agrupamentos como de inibição das “panelinhas”. Primeiramente, desenvolve-se o 
jogo convencional e depois sugere-se novas alternativas, como: 
 Jogar: todos/as que querem jogar devem ter o mesmo tempo de jogo; 
 Tocar e passar: a bola deve ser passada por entre todos/as, antes de ser 
arremessada para a cesta; 
 Fazer cesta: para que o time vença, é preciso que todos/as tenham feito pelo 
menos uma cesta durante o jogo. Dependendo do grupo, em vez da cesta, 
considera-se como ponto o arremesso que tocar o aro ou apenas a tabela; 
 Posições: todas as pessoas passam pelas diferentes posições no jogo 
(armador/a, pivô etc.); 
 Passe misto: a bola deve ser passada alternadamente entre todas as pessoas; 
 Resultado misto: as cestas são convertidas ora por um menino, ora por uma 
menina. 
 
Cadeira Livre 
Forma-se um círculo com cadeiras, deixando uma a mais que o número de 
participantes. O jogo começa com todo mundo sentado, deixando a cadeira livre no 
meio. Disputa-se essa cadeira livre. Quem sentar primeiro fala alto: Eu sentei... As 
outras pessoas voltam para o lugar original deixando livre o lugar de quem conseguiu 
Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na Adolescência 
 
32 
sentar na cadeira livre. As duas pessoas mais próximas dela passam, uma de cada 
vez aos assentos desocupados, como se fossem puxados por ela. Enquanto sentam 
a primeira pessoa deve falar em voz alta: no jardim... e a segunda: com meu/minha 
amigo/a (mencionar o nome da pessoa). A pessoa chamada sai de seu lugar e senta 
ao lado de quem a chamou, deixando vazia a cadeira que ocupava. Essa é a nova 
cadeira livre. A partir daí, repete-se todo o processo para ocupar a cadeira livre. 
 
 
Comentários 
O esporte cooperativo é importante na formação da cidadania, do caráter, da 
personalidade e da saúde, contribuindo também para a igualdade e eqüidade de 
gênero. 
(CARTUM: FOOTPAR) 
 
Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na Adolescência 
 
33 
AATTIIVVIIDDAADDEESS LLÚÚDDIICCAASS:: BBRRIINNCCAADDEEIIRRAASS EE BBRRIINNQQUUEEDDOOSS 
(CARTUM) 
Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na Adolescência 
 
34 
Introdução 
Na educação das crianças, trabalha-se pouco com atividades lúdicas como as 
brincadeiras, e os brinquedos. Existe aqui um potencial que deve ser explorado como 
tarefa consciente e pedagógica, respeitando-se o estágio de desenvolvimento da 
criança e do/a adolescente. 
Desde que um bebê nasce, ganha brinquedos e não se pensa seriamente sobre 
o assunto. Quando vamos comprar um brinquedo, a pergunta é sempre a mesma: É 
menino ou menina? E, nesse momento, não nos damos conta da engrenagem social 
que posiciona homens e mulheres. Quantos meninos brincam com bonecas e 
bonecos? Quantas meninas brincam com bolas e carrinhos? Será que os meninos 
precisam se preparar apenas para serem pais e não companheiros e as meninas 
para serem mães e não companheiras? 
Os educadores e as educadoras devem informar pais e mães tanto da 
importância e função de cada brinquedo como sobre o papel dos jogos na 
formação da criança e da/o adolescente (Romão, 1983, p.14). 
 
Objetivos 
 Estimular brincadeiras e brinquedos não-sexistas, ampliando o leque de 
interesses de alunos e alunas, desenvolvendo suas potencialidades. 
 Despertar o gosto pela leitura como atividade prazerosa e gratificante. 
 
Sugestões 
Relacionamos algumas sugestões de atividades lúdicas que permitem alcançar, 
de forma sadia e sem preconceitos sexistas e racistas, excelentes resultados. 
 
Sobre os Brinquedos Preferidos 
Sugira que indiquem, por ordem de preferência, os brinquedos de que mais 
gostam e as razões da escolha. Discuta diferenças e semelhanças entre as escolhas 
feitas independente do sexo, e as escolhas feitas por pessoas do mesmo sexo. 
Algumas questões podem aparecer durante a discussão: 
 Que brinquedos meninas e meninos preferem? 
 As meninas gostam de brinquedos eletrônicos ? 
 Os meninos gostam de brinquedos menos violentos? 
 É mais importante escolher os brinquedos que interessem mais às crianças 
ou escolher os tradicionais, considerados ‘próprios para meninas e meninos’? 
Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na Adolescência 
 
35 
 
Sobre a Troca de Brinquedos 
 Proponha que tragam de casa seus brinquedos habituais. Sugira a formação 
de dois grupos mistos: um fica com os brinquedos normalmente considerados 
das meninas; o outro, com os brinquedos considerados dos meninos. 
 Depois da brincadeira, é importante organizar uma discussão para que cada 
participante tenha a oportunidade de relatar sua experiência e prazer em 
brincar com brinquedos diferentes dos habituais. 
 
A Leitura como Atividade Lúdica 
 Crianças e adolescentes gostam de ler quando motivadas/os. 
 O hábito da leitura desenvolve a criatividade. Compete ao/à professor/a 
estimular a leitura e, a partirdestas, a montagem pelas crianças de relatórios 
criativos na forma de modelos com massinha, desenhos, cantos, poemas, 
bem como de seus relatórios e de suas histórias. 
 
 
Comentários 
Brinquedos, brincadeiras e jogos são práticas muito sérias, pois funcionam como 
ensaios gerais da vida adulta. Estas atividades possibilitam que a criança e o/a 
adolescente incorporem, com prazer, atitudes positivas quanto às relações de 
gênero. 
Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na Adolescência 
 
36 
PPAARRTTEE VVII:: AA IIMMPPOORRTTÂÂNNCCIIAA DDAA AAUUTTOO--EESSTTIIMMAA 
(CARTUM) 
Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na Adolescência 
 
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Introdução 
A sociedade cria e propaga modelos de pessoas idealizadas que, geralmente, 
não correspondem à realidade de crianças e de adolescentes. Socialmente, a pessoa 
é valorizada pela aparência e não pelo que faz ou por aquilo com que contribui. 
Desde a infância os indivíduos constroem sua imagem corporal e auto-estima a partir 
das relações, desde quando eram crianças, com as pessoas que as cercam. Cada 
pessoa tem seu corpo, seu jeito de ser e de se portar socialmente: mulheres e 
homens são iguais em muitos aspectos e diferentes em outros. 
 
Objetivos 
Ressaltar a construção da imagem corporal e auto-estima, colocando que todo e 
qualquer indivíduo tem direito à realização pessoal e social. 
 
Sugestões 
Algumas sugestões para sensibilizar estudantes de sua auto-imagem: 
 Peça que desenhem o próprio corpo. Converse sobre o que fizeram, 
procurando destacar as diferenças e as igualdades. 
 Oriente-as/os a fazer impressões das plantas dos pés e das palmas das 
mãos, para ter noção de limite: maior, menor, mais largo, mais curto, mais 
longo, etc. 
 Sugira que façam o contorno do próprio corpo, recortando-o e vestindo-o 
como quiserem. Discuta os aspectos pessoais e sociais de homens e 
mulheres. 
 Peça que trabalhem em grupo a sensibilidade ou a leitura do olhar e pelas 
dificuldades e reações, discuta a auto-estima, a sexualidade etc. 
 Procure desenvolver a sensibilidade, o autoconhecimento e a auto-estima, 
reconhecendo o próprio espaço, as dificuldades e facilidades para alcançá-lo. 
 
Comentários 
Como os/as estudantes precisam de constante reforço às suas ações e reações, 
a responsabilidade do/a educador/a é muito grande. Ao perceber que eles/as não 
conseguem enfrentar dificuldades encontradas no percurso da vida, o/a educador/a 
Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na Adolescência 
 
38 
deve buscar auxílio junto ao setor especializado da escola ou da comunidade para o 
desenvolvimento de uma pessoa sadia. 
PPAARRTTEE VVIIII:: OO EENNSSIINNOO DDEE SSEEXXUUAALLIIDDAADDEE EE SSAAÚÚDDEE 
(CARTUM) 
Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na Adolescência 
 
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Introdução 
É importante favorecer o bem-estar sexual e a saúde dos/das estudantes. Para 
isso, é necessário analisarmos a questão da sexualidade em seu contexto histórico, 
social, econômico e cultural, avaliando a inter-relação entre a questão sexual e a 
social. Segundo Alambert (1990, p.28), 
...a educação sexual deve ser considerada como importante instrumento de 
trabalho para educação formal. [...] Mas a Escola tem que vencer os 
preconceitos sobre a questão, a partir do entendimento de que o discurso 
sexual não toca apenas a esfera privada do indivíduo, mas investe na cultura 
e na vida sexual da sociedade. [...] Educação sexual não significa apenas 
informação e educação higiênico-sanitária. [...] A educação sexual que 
prevemos é aquela que leva o indivíduo à aquisição de uma consciência 
sexual favorecida pelo conhecimento da pessoa humana, pelo respeito às leis 
que a regem, pela rejeição aos preconceitos e aos erros cotidianos cometidos 
neste terreno. Portanto, a educação sexual não é uma disciplina isolada; ela 
faz parte da educação geral do indivíduo. 
 
O/a educador/a deve estabelecer a ligação entre a sexualidade, o 
desenvolvimento pessoal, as relações interpessoais e a estrutura social, além da 
auto-estima, dando uma visão histórica e cultural da sexualidade, situando-a no 
contexto político e social. Além disso, diferenciar os valores básicos - igualdade, 
integridade, liberdade, afetividade, consideração pelo outro - dos valores 
controvertidos como a legalização do aborto, a gravidez na adolescência, as 
vulnerabilidades específicas em relação à saúde sexual e reprodutiva como as 
doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e a AIDS. 
A orientação sexual, definida como processo de intervenção sistemática, propõe 
que o/a educador/a propicie informações sobre a sexualidade organizando espaços 
de discussão a respeito das posturas, tabus, crenças e valores quanto ao 
desenvolvimento e ao relacionamento sexuais. É conveniente colocar a discussão 
sobre a questão da sexualidade e da saúde num contexto mais amplo de 
relacionamento entre os seres humanos, encarando a sexualidade como um aspecto 
natural e positivo da humanidade e valorizando a saúde do corpo físico e mental. 
 
Objetivos 
 Desenvolver a capacidade de auto-estima dos e das estudantes, ensinando-
os/as a conhecer o próprio corpo, a gostar e a cuidar dele. 
 Levar a discussão da diferença entre reprodução e sexualidade. 
 Reconhecer e respeitar as diferentes formas de opção e atração sexual. 
Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na Adolescência 
 
40 
 Rejeitar, nas diferentes manifestações, os estereótipos a respeito da 
sexualidade. 
 Orientar sobre as possibilidades de gravidez precoce e suas consequências. 
 Esclarecer e orientar sobre prevenção e abuso de violências sexuais. 
 Disponibilizar material que esclareça e previna sobre os riscos das DSTs e 
AIDS. 
 
Sugestões 
 Crie clima de confiança entre estudantes e professores/as. 
 Realize discussões sobre as dificuldades relativas à sexualidade, pois tornam 
o grupo confiante e o prepara à prevenção de doenças. 
 Enfoque e estimule a discussão de polêmicas surgidas no dia-a-dia sobre 
sexualidade, saúde sexual e reprodutiva. 
 Use as várias possibilidades de expressão da criatividade como 
dramatização, marionete, pintura, modelagem, etc, para trabalhar as 
dificuldades os limites, e as vulnerabilidades de cada pessoa. 
 
 
Comentários 
As escolas devem ser desenvolvidas tanto na criança como no/na adolescente a 
noção de que a saúde e bem estar, associados aos aspectos que garantem a 
qualidade de vida, são o caminho para a promoção individual e social. 
Quando necessário maiores informações e apoio, procure na sala, na 
comunidade, pessoas e profissionais capazes de auxiliar nesta questão, como por 
exemplo, profissionais do Programa de Saúde da Criança e do/a adolescente. 
No caso de suspeita ou constatação de abusos, de violência sexual ou de outras 
formas de violência recorrer ao Conselho Tutelar. Sugere-se ainda procurar e 
denunciar o problema a outras instituições responsáveis pela aplicação do Estatuto 
da Criança e do Adolescente (ECA) ou outras autoridades responsáveis existentes na 
localidade. 
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41 
EEDDUUCCAAÇÇÃÃOO PPAARRAA OO TTRRAABBAALLHHOO -- AA PPRROOFFIISSSSÃÃOO NNOO FFUUTTUURROO 
(CARTUM) 
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42 
Introdução 
No mercado de trabalho, ao longo desses anos, a pressão da força de 
trabalho feminino cria novos espaços. As mulheres ingressam em massa em 
atividades administrativas — secretárias, telefonistas, recepcionistas — e no 
comércio. Na indústria, a trabalhadora ingressa em ramos dos quais até então 
estava ausente, como o elétrico e o eletrônico, e diversifica a sua 
participação, embora esta ainda seja mais intensa na do vestuário. (...) Nos 
últimos anos, apesar de trabalharem principalmente no setorinformal da 
economia, as mulheres também intensificaram sua presença no chamado 
setor formal do mercado de trabalho, sobretudo na administração pública: 
metade dos empregos nesse setor são ocupados, atualmente, por elas 
(UNICEF/FENAPE, 1990, p. 23-24). 
 
Desde a Educação Infantil ao Ensino Fundamental devem ser transmitidas as 
informações iniciais a respeito dos tipos e formas de trabalho identificáveis em sua 
localidade, seu Estado e em todo o país. A desigual distribuição das pessoas no 
mercado de trabalho pode conduzir à consagração de profissões femininas e 
profissões masculinas. Por esta razão, a futura escolha profissional, nem sempre é 
feita de acordo com seus gostos e suas aptidões, mas em relação ao sexo a que 
pertencem. 
 
Objetivos 
 Levar meninas e meninos a constatar que existe vasto leque de profissões. 
 Ajudá-las/os a refletir sobre opções profissionais futuras sob o ponto de vista 
da realização pessoal e não em termos do que é ou não adequado para cada 
sexo. 
 Mostrar que grande parte das profissões podem ser realizadas pelos dois 
sexos. 
 Despertar consciência que toda função igual deve receber remuneração igual. 
 
Sugestões3 
Sobre as Profissões que Conhecemos 
Converse sobre a variedade de profissões que os/as alunos/as vêem como 
possíveis para cada sexo, debatendo temas que abordem: 
 Em que profissões encontramos, habitualmente, os homens? Por quê? 
 Em que profissões encontramos, habitualmente, as mulheres? Por quê? 
 
3
 Sugestões práticas retiradas da obra de Romão (1989, p. 39-41). 
 
Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na Adolescência 
 
43 
 Quais aptidões e interesses exigidos para diferentes profissões? Por quê? 
 As oportunidades de emprego devem ser iguais para os dois sexos? 
 Que atividades em comum costumam ter as meninas e os meninos? Será 
interessante realizá-las em grupo? 
 Quais serão as conseqüências do fato de que é cada vez mais freqüente 
encontrar mulheres e homens trabalhando nas mesmas profissões? 
 
Sobre a Profissão Desejada 
 Sugira uma redação com o tema Qual é a profissão que eu desejo e o que 
eu gostaria de ser, se fosse do sexo oposto? Feitas as redações, discuta: 
 Quantas profissões foram escolhidas pelas meninas? E pelos meninos? 
 Quais as características das profissões escolhidas? 
 Que profissões escolheriam se fossem do sexo oposto? 
 Que status tem as profissões escolhidas? E quando se pensam do sexo 
oposto? 
 Conseguem imaginar-se do sexo oposto? Se não, qual o motivo? 
 
Caso ache conveniente ampliar esta reflexão, apresente novas questões: 
 Até que ponto é justificável haver profissões femininas e profissões 
masculinas? 
 Terão, meninos e meninas, características diferentes logo que nascem? 
 Será que seguem as profissões do pai e da mãe? 
 As profissões ditas masculinas e femininas devem ter a mesma 
remuneração? 
 Sempre existirá diferença de papéis profissionais em função do sexo? 
 
Com imagens de homens e mulheres realizando trabalhos reservados 
tradicionalmente ao sexo oposto, proponha discussões sobre a participação mais 
equilibrada no mercado de trabalho. Deste modo, leve-as/os a pensar nos homens e 
nas mulheres como seres livres na escolha de profissões e atividades que 
anteriormente encontravam-se limitadas a um dos sexos. 
 
Comentários 
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44 
Ressaltar a necessidade de que tarefas domésticas devem ser equitativamente 
distribuídas, mostrando que o sobre-trabalho - cumprir as tarefas domésticas, além 
de exercer uma profissão - não deve recair apenas sobre as mulheres, mas ser 
igualmente compartilhado com os homens. 
Para obter subsídios às discussões sugeridas, procurar estabelecer ligação com 
programas de Educação para o Trabalho propostas tanto por organismos públicos 
(Ministérios, Secretarias, Universidades etc) quanto por entidades não 
governamentais. Utilizar bastante a Internet, seus buscadores e sites. Proporcionar 
aos/as jovens visitas à Centros e Laboratórios de Ensino e Pesquisa, a museus, 
bibliotecas, centros culturais, unidades fabris e de serviços, para que ajudem nas 
suas escolhas possíveis. Promover palestras com profissionais sobre as respectivas 
profissões, destacando o atual período técnico-científico e informacional. Procurar 
integrar a Escola à Universidade através do Programa Jovem Cientista do CNPq. 
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PPRROOTTEEÇÇÃÃOO EESSPPEECCIIAALL ÀÀ CCRRIIAANNÇÇAA EE ÀÀ FFAAMMÍÍLLIIAA 
(CARTUM) 
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46 
Introdução 
É essencial que a escola favoreça a reflexão sobre a violência, sobretudo porque 
tem a possibilidade de atuar em certos meios - no interior da família, na comunidade 
e na própria escola - procurando estimular uma rede de solidariedade que permita à 
criança e ao/à adolescente crescer e viver sem constrangimentos físicos e morais de 
caráter abusivo. 
Para prevenir e atuar, a escola precisa conhecer mais sobre a vida dos/as 
alunos/as e seus problemas, buscando compreender em que situação a 
violência que sofrem surge, se instala e se reproduz (Assis, 1994, p.14). 
 
A estrutura econômica e social desequilibrada e injusta, em que vivem 
numerosas crianças e famílias, é a primeira experiência fundamental de violência. 
Vista como fato natural e corriqueiro, esta violência interfere na formação da criança e 
do/da adolescente e em suas atividades. 
Na maioria das vezes, a violência na família é considerada normal e integrante do 
processo de educação. Apresenta-se sob várias formas: o abuso físico, psicológico e 
sexual, a negligência e o abandono. É um ato de ignorância, desestímulo e 
isolamento, que imprime uma auto-imagem negativa e induz ao fraco desempenho 
escolar e a um comportamento destrutivo. 
 
Objetivos 
 O/a educador/a deve-se capaciytar sobre a questão da violência e 
compreender as relações dos/das estudantes com seus familiares. 
 Considerar as deficiências do sistema escolar - infra-estrutura e qualidade 
digna de ensino - como formas de violência vividas, sem esquecer o/a 
educador/a como agente e vítima de toda essa engrenagem. 
 Incentivar a co-responsabilidade da escola e dos/das educadores/as como 
essencial no processo de luta por uma sociedade mais sadia. 
 
 Sugestões 
 Desenvolva e reconheça o espaço dos/as estudantes na sala de aula. 
 Dialogue, evitando atribuir culpa à família ou estudantes. 
 Reflita sobre seu papel na construção do autoconeito de seus/suas 
alunos/as. 
 Estimule a consciência e a auto-estima. 
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47 
 Em caso de suspeita de abuso, converse tranqüilamente, sem 
responsabilizar ou culpabilizar quem quer que seja. Tenha cautela e 
ofereça apoio e conforto. Evite promessas de ações difíceis ou impossíveis 
de realizar; 
 Busque respaldo com a direção da escola, compartilhando um contato 
com a família. Esta deve ser bem preparado, evitando-se atitudes 
preconceituosas ou predispostas a ‘encontrar o culpado’. 
 Como atitudes de reação e negação são freqüentes, a escola deve 
encaminhar o caso, quando possível, a um serviço especializado no 
atendimento às vítimas da violência. Procure apoio junto ao Conselho 
Tutelar na efetiva aplicação do Estatuto da Criança e do/a Adolescente. 
 
Comentários 
Programas de instituições públicas e privadas voltados à Proteção da Criança e 
da Família devem ser procurados, pois propiciam importante contribuição para o 
efetivo apoio à vítima de violência e orientam como evitar a violência e os 
procedimentos para o bom encaminhamento dos problemas. Procure apoio junto ao 
Conselho Tutelar da localidade. 
Além disso, a escoladeve trabalhar conceitos de Direitos Humanos, tendo a 
criança e o/a jovem como sujeitos de direito. Nessa perspectiva, possibilitar o 
conhecimento aos pais e mães, professores/as e toda comunidade escolar, do 
Estatuto da Criança e do Adolescente, zelando por sua efetiva aplicação. 
Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na Adolescência 
 
48 
EEVVIITTAANNDDOO OOSS EESSTTEERREEÓÓTTIIPPOOSS 
(CARTUM) 
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49 
Introdução 
Como já dissemos, o estereótipo, surge ligado ao preconceito, afetando as 
relações interpessoais. Aparece de maneira rígida, anônima, reproduzindo imagens e 
comportamentos que se refletem no ambiente escolar. A imagem estereotipada é 
produzida automaticamente, sem considerar a individualidade. Exemplos: Meninas 
não entendem bem matemática e ciências. Meninas são mais fracas, meninos mais 
fortes. Meninas são mais sensíveis, meninos mais práticos. Estereótipos como estes 
podem “justificar” a suposta inferioridade das meninas. 
 
Objetivos 
 Mudar atitudes preconceituosas que tratam as meninas secundariamente. 
 Ensinar que cada pessoa é única, tem valor e méritos. 
 Transmitir e despertar hábitos saudáveis que valorizem a eqüidade de gênero. 
 
Sugestões 
 Utilize a auto-avaliação (Parte II), verificando se você tem tendências a impor 
estereótipos na sala de aula. Use-a como veículo para aumentar a consciência 
quanto à utilização de estereótipos e de preconceitos de gênero. 
 Atenção aos livros didáticos que, sutilmente, transmitem estereótipos, como: 
alguns livros de história, situando as mulheres de forma estereotipada. 
 Utilize esses materiais como fontes de discussão, adicionando informações 
que situem mulheres em outras realidades, atuais e passadas (parlamentares, 
pesquisadoras, esportistas etc) que deverão estar incluídas na história 
humana. 
 Fique em alerta e mostre, no momento exato, ações estereotipadas de 
alunas/os. 
 Pense sempre em não cometer injustiças e reforçar preconceitos 
injustificáveis. 
 
 
Comentários 
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50 
O combate ao estereótipo consiste na eliminação do preconceito de gênero e do 
preconceito em geral, oferecendo igualdade de oportunidade e respeitando algumas 
diferenças inerentes ao sexo. 
 
TTRRAABBAALLHHAANNDDOO CCOOMM AA EESSCCOOLLAA,, AA FFAAMMÍÍLLIIAA EE AA CCOOMMUUNNIIDDAADDEE 
(CARTUM) 
Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na Adolescência 
 
51 
Introdução 
As mudanças obtidas na sala de aula refletem-se em casa, quando os/as 
estudantes estão com a família. Na escola, professoras e professores precisam 
interagir com colegas de profissão, coordenadoras/es e administradores/as. Em geral 
na sociedade existem forças que lutam contra os seus esforços para promover a 
igualdade de gênero. É preciso trabalhar junto aos colegas, às famílias de alunos/as 
e a comunidade em geral, para inserir a igualdade e a eqüidade de gênero. Prepare-
se para resistir às pessoas que podem ver nesse Guia um tipo de ameaça pois 
preferem manter o status quo. 
Às vezes, as próprias mães têm medo de abrir espaço para a igualdade de suas 
filhas. Im exemplo, contado por um professor de educação física, que ensinou seus 
alunos/as a lavar as camisetas sujas, depois dos esportes. Algumas mães 
inicialmente reclamaram, dizendo que somente as meninas deveriam lavar as roupas 
e pediam que estas lavassem as camisetas de seus irmãos. Mais tarde, a orientação 
do professor foi elogiada pelas mães que passaram a valorizar e divulgar o 
procedimento. 
 
Objetivos 
 Divulgar a idéia sobre igualdade de gênero na escola, família e comunidade. É 
importante que as atividade referentes à essas idéias sejam integradas entre si. 
 
Sugestões – Escola 
 Tente encontrar professores e professoras que queiram também trabalhar 
pela questão de gênero, compartilhando materiais didáticos e idéias. 
 Se encontrar materiais marcadamente sexistas, fale com supervisores/as e 
explique por que devem ser substituídos por outros. 
 Para apoiar mudanças pessoais: trabalhe com um/uma colega, observando o 
seu desempenho e o que se poderia fazer para melhorar a igualdade de 
gênero. 
 Convide uma das entidades listadas no final deste Guia para dar palestra ou 
fazer um workshop sobre igualdade de gênero em sua escola. 
A Escola é a continuadora da educação informal que a criança começa a 
receber no lar e tem, diante do feminino e do masculino, as mesmas 
perspectivas da educação familiar. É na Escola que a discriminação à mulher 
Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na Adolescência 
 
52 
se formaliza; seu trabalho de modelagem das identidades feminina e 
masculina é permanente, contínuo (Alambert, 1990, p. 24). 
 
Sugestões - Família 
Antes da escola, as crianças convivem com pessoas que, nem sempre, têm 
conceitos claros sobre a questão de gênero. Assim, é comum um aprendizado 
sexista dificultando para a escola a mudança dessas representações. A 
conscientização da família sobre os preconceitos sexistas deve ser realizado nas 
reuniões com pais e mães, pois o exemplo da escola tem enorme importância para a 
fixação do ensinamento. 
 Esteja atento aos comportamentos dos/as estudantes que sempre refletem o 
cotidiano vivenciado no lar. Violência física, emocional e sexual, por exemplo, 
são muito comuns, tendo como vítima a criança. Apoiá-la, nesta situação, é 
de enorme significado e concorre para evitar catástrofes irreparáveis. 
 Tente conhecer e compreender as dificuldades, os problemas e as coisas 
boas, não só da/o estudantes como também da sua família. Convide-a a 
visitar a sala de aula e aproveite para conversar sobre igualdade de gênero. 
 Encoraje as famílias a não estereotipar as crianças dentro de papéis rígidos 
baseados no masculino e no feminino. 
 
Sugestões – Comunidade 
 Utilise recursos da comunidade e solicite palestras sobre a igualdade de 
gênero. 
 Use os materiais disponíveis nas diversas entidades públicas e privadas. 
 Busque entidades que lutam pela igualdade de gênero, convide-as a vir a 
escola. 
 Fale com autoridades locais sobre a importância do ensino com igualdade de 
gênero e convide-as a observar na sua escola atividades ligadas à essa 
questão. 
 Encoraje, divulgue e apoie leis federais, municipais e estaduais que 
promovam a igualdade de gênero. 
Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na Adolescência 
 
53 
AATTIIVVIIDDAADDEESS PPAARRAA OO 88 DDEE MMAARRÇÇOO,, DDIIAA IINNTTEERRNNAACCIIOONNAALL DDAA MMUULLHHEERR 
(CARTUM) 
Ensino e Educação com Igualdade de Gênero na Infância e na Adolescência 
 
54 
Introdução 
 O Dia Internacional da Mulher foi proposto por Clara Zetkin (1857-1933), 
membro do Partido Comunista Alemão que militava junto ao movimento 
operário e se dedicava à conscientização feminina [...]. Ao participar do II 
Congresso Internacional de Mulheres Socialistas, em Copenhagem, em 1910, 
Clara Zetkin propôs a criação de um Dia Internacional da Mulher sem definir 
uma data precisa (em alguns países o Dia foi comemorado em 28 de fevereiro 
ou em 15 de março). A ONU instituiu, em 1975, o 8 de Março como Dia 
Internacional da Mulher (BLAY, 2001, p. 601-608). 
 
É também um dia para refletir no progresso, pedir mudanças e celebrar a 
coragem de mulheres comuns e seu papel na História 
(www.un.org/ecasocdev/geninfo/women). No Brasil, este dia é celebrado por grupos 
de mulheres e também escolas, universidades, entidades públicas e privadas, o que 
oferece oportunidades de envolver famílias e comunidades nas atividades que 
encorajam a igualdade de gênero. 
 
Objetivos 
 Destacar este dia como um dia especial do calendário, reservado às 
mulheres. 
 Utilizar a ocasião para abordar o papel da mulher, sua luta

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