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Período socrático

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•• PARA SABER MAIS 
No período clássico os filósofos - sobretudo 
Aristóteles - tomam as ideias de Parmênides para 
fundamentar a construção da metafísica e formu­
lar os princípios da lógica. Um deles é o princípio de 
identidade, segundo o qual A = A, ou seja, todo ser 
é igual a si mesmo. Se quiser, consulte o capítulo 11, 
"Lógica aristotélica". 
Uma das consequências da teoria de Parmênides 
é a identidade entre o ser e o pensar: ao pensarmos, 
pensamos algo que é, e não conseguimos pensar 
algo que não é. 
Veremos adiante como Platão e Aristóteles 
tentam superar o pensamento de Heráclito e 
Parmênides. 
D Os sofistas: a arte 
de argumentar 
No período socrático ou clássico (séculos V e 
IV a.c.), o centro cultural deslocou-se das colônias 
para a cidade de Atenas. Desse período fazem parte 
Sócrates e seu discípulo Platão, que posteriormente 
foi mestre de Aristóteles. O século V a.C. é também 
conhecido como o século de Péricles, governante na 
época áurea da cultura grega, quando a democrática 
Atenas desenvolveu intensa vida política e artís­
tica. Os pensadores desse período, embora ainda 
discutissem questões cosmológicas, ampliaram os 
questionamentos para a antropologia, a moral e a 
política. Também os sofistas são dessa época, pelos 
quais começaremos. 
Os sofistas fazem parte da época clássica e 
alguns deles são interlocutores de Sócrates. Os 
mais famosos foram: Protágoras, de Abdera (485­
-411 a.C.); Górgias, de Leôncio, na Sicília (485-380 
a.C.); Híppias, de Élis; e ainda Trasímaco, Pródico e 
Hipódamos, entre outros. Tal como ocorreu com os 
pré-socráticos, dos sofistas só nos restam fragmen­
tos de suas obras, reunidas nas doxografias além de 
referências - muitas vezes tendenciosas - feitas 
por filósofos posteriores. 
E ETIMOLOGIA 
Sofista. Do grego sophós, "sábio", ou melhor, "profes­
sor de sabedoria". Posteriormente o termo adqui­
riu o sentido pejorativo para denominar aquele que 
emprega sofismas,ou seja, alguém que usa de racio­
cínio capcioso, de má-fé, com intenção de enganar. 
Sóphisma significa "sutileza de sofista". 
Os sofistas foram sempre mal interpretados por 
causa das críticas de Sócrates, Platão e Aristóteles. 
São muitos os motivos que levaram à visão detur­
pada sobre os sofistas que a tradição nos oferece. Em 
primeiro lugar, há enorme diversidade teórica entre 
os pensadores reunidos sob a designação de sofista. 
Talvez o que possa identificá-los é o fato de serem 
considerados sábios e pedagogos. Vindos de todas 
as partes do mundo grego, ocupam-se de um ensino 
itinerante, sem se fixarem em nenhum lugar. O cons­
tante exercício do pensar e a aceitação de opiniões 
contraditórias, características dos sofistas, possivel­
mente deviam-se à incessante circulação de ideias. 
Para escândalo de seus contemporâneos, os sofis­
tas costumavam cobrar pelas aulas, motivo pelo qual 
Sócrates os acusava de "prostituição". Cabe aqui 
um reparo: na Grécia Antiga, a aristocracia tinha 
o privilégio da atividade intelectual, pois gozava do 
ócio, ou seja, da disponibilidade de tempo, já que 
estava liberada do trabalho de subsistência, ocupa­
ção dos escravos. No entanto, os sofistas geralmente 
pertenciam à classe média e, por não serem sufi­
cientemente ricos para se darem ao luxo de filoso­
far, faziam das aulas seu ofício. Se alguns sofistas 
de menor valor intelectual podiam ser chamados 
de "mercenários do saber", na verdade tratava-se de 
fato acidental que não se aplicava à maioria. 
No entanto, a imagem de certo modo caricatural 
da sofística tem sido revista na tentativa de resga­
tar sua verdadeira importância. Desde que os sofis­
tas foram reabilitados por Hegel no século XlX, o 
período por eles iniciado passou a ser denominado 
Aufklarung grega, imitando a expressão alemã que 
designa o Iluminismo europeu do século XVIII. 
.. A sofistica e o ideal democrático 
Segundo Werner Jaeger, historiador da filosofia, 
os sofistas exerceram influência muito forte no seu 
tempo, vinculando-se à tradição educativa dos poe­
tas Homero e Hesíodo. Sua contribuição para a sis­
tematização do ensino foi notável, pela elaboração 
de um currículo de estudos: gramática (da qual são 
os iniciadores), retórica e dialética; na tradição dos 
pitagóricos, desenvolveram a aritmética, a geome­
tria, a astronomia e a música. 
Os sofistas elaboraram o ideal teórico da demo­
cracia, valorizada pelos comerciantes em ascen­
são, cujos interesses passaram a se contrapor aos 
Doxografia. Do grego dóxa,"opinião", e graphein, "escre­
ver". Compilação das doutrinas dos filósofos, considerada 
os primeiros registros de uma história da filosofia . A mais 
fam osa é a de Diógenes Laércio (séc.11I da era cristã). 
A busca da verdade Capítulo 13 
Período Socrático ou 
Antropológico
da aristocracia rural. Nessas circunstâncias, a exi­
gência que os sofistas satisfazem na Grécia de seu 
tempo é de ordem essencialmente prática, voltada 
para a vida, pois iniciavam os jovens na arte da retó­
rica, instrumento indispensável para que os cida­
dãos participassem da assembleia democrática. 
Por deslumbrarem seus alunos com o brilhan­
tismo de sua retórica, foram duramente criticados 
pelos seguidores de Sócrates, que os acusavam de 
não se importarem com a verdade, pois, afeitos que 
eram à arte de persuadir, reduziam seus discursos 
a opiniões relativistas. Além disso, sabemos como 
Sócrates e Platão não tinham simpatia pela demo­
cracia, por causa do risco da demagogia. 
PARA REFLETIR 
Para criticar os sofistas, Platão usava o conceito de 
phármakon. que significa ao mesmo tempo "remé­
dio" e "veneno". Éveneno quando os sofistas usam a 
linguagem com eloquência para seduzir. iludir. enga­
nar. adular a assembleia sem se importar com a ver­
dade. Quando a linguagem seria "remédio"? 
Se os sofistas foram acusados pelos seus detrato­
res de pronunciar discursos vazios, essa fama deve-se 
ao fato de que alguns deles deram excessiva aten­
ção ao aspecto formal da exposição e da defesa das 
ideias. E também porque em geral os sofistas esta­
vam convencidos de que a persuasão é o instrumento 
por excelência do cidadão na cidade democrática. 
Protágoras representado em mosaico da sala de leitura 
principal da Biblioteca James Harmon Hoose. 2004. 
Unidade 3 o conhecimento 
Os melhores deles, no entanto, buscavam aperfeiçoar 
os instrumentos da razão, ou seja, a coerência e o rigor 
da argumentação. Não bastava dizer o que se conside­
rava verdadeiro, era preciso demonstrá-lo pelo racio­
cínio. Pode-se dizer que aí se encontra o embrião da 
lógica, mais tarde desenvolvida por Aristóteles. 
Protágoras, um dos mais importantes sofistas. 
dizia que "o homem é a medida de todas as coisas". 
Esse fragmento - entre os poucos conservados de 
seus escritos perdidos - pode ser entendido como a 
exaltação da capacidade humana de construir a ver­
dade: o lagos não mais é divino, mas decorre do exer­
cício técnico da razão humana, a quem cabe confron­
tar as diversas concepções possíveis da verdade. 
mSócrates e o conceito 
Sócrates (c.470-399 a.C.) nada deixou escrito. Suas 
ideias foram divulgadas por Xenofonte e Platão, dois 
de seus discípulos. Nos diálogos de Platão, Sócrates 
sempre figura como o principal interlocutor. Já o 
comediógrafo Aristófanes o ridiculariza ao incluí-lo 
entre os sofistas. 
PARA. SABER MAIS 
Se quiser. consulte o tópico "Um filósofo", no final do 
capítulo 1, onde já discorremos sobre o método e o 
pensamento de Sócrates. 
Sócrates costumava conversar com todos, fos­
sem velhos ou moços, nobres ou escravos. A partir 
do pressuposto "só sei que nada sei", que consiste 
justamente na sabedoria de reconhecer a própria 
ignorância, inicia a busca do saber. Os métodos de 
indagação de Sócrates provocaram os poderosos do 
seu tempo, que o levaram ao tribunal sob a acusa­
ção de não crer nos deuses da cidade e de corromper 
a mocidade. Por essa razão foi condenado à morte. 
Qual é, porém, o "perigo" de seu método? Ele 
começa pela fase "destrutiva", a ironia, termoque 
em grego significa "perguntar, fingindo ignorar". 
Diante do oponente, que se diz conhecedor de deter­
minado assunto, Sócrates afirma inicialmente nada 
saber. Com hábeis perguntas, desmonta as certezas 
até que o outro reconheça a própria ignorância (ou 
desista da discussão). 
A segunda etapa do método, a maiêutica (em 
grego, "parto"), foi assim denominada em homena­
gem à sua mãe, que era parteira. Segundo Sócrates, 
enquanto ela fazia parto de corpos, ele "dava à luz" 
ideias novas. Após destruir o saber meramente 
opinativo (a dóxa), em diálogo com seu interlocutor. 
dava início à procura da definição do conceito, 
de modo que o conhecimento saísse "de dentro" de 
cada um. Esse processo está bem ilustrado nos diá­
logos de Platão, e é bom lembrar que, no final, nem 
sempre se chegava a uma conclusão definitiva: são 
os chamados diálogos aporéticos. 
Nas conversas, Sócrates privilegia as questões 
morais, por isso em muitos diálogos pergunta o que 
é a coragem, a covardia, a piedade, a amizade e assim 
por diante. Tomemos o exemplo da justiça: após 
serem enumeradas as diversas expressões de justiça, 
Sócrates quer saber o que é a "justiça em sr, o univer­
sal que a representa. Desse modo, a filosofia nascente 
precisa inventar palavras novas ou usar as do coti­
diano, dando-lhes sentido diferente. Sócrates utiliza 
o termo lagos (na linguagem comum, "palavra', "con­
versa'), que passa a significar a razão de algo. ou seja, 
aquilo que faz com que a justiça seja justiça. 
No diálogo Laques. ou Do valor. os generais 
Laques e Nícias são convidados a discorrer sobre 
a importância do ensino de esgrima na formação 
dos jovens. Sócrates reorienta a discussão ao inda­
gar a respeito de conceitos que antecedem essa dis­
cussão. ou seja. o que se entende por educação e, 
em seguida. sobre o que é virtude. Dentre as virtu­
des. Sócrates escolhe uma delas e indaga: "O que é 
a coragem?". Laques acha fácil responder: ''Aquele 
que enfrenta o inimigo e não foge no campo de bata­
lha é o homem corajoso". Sócrates dá exemplos de 
guerreiros cuja tática consiste em recuar e forçar o 
inimigo a uma posição desvantajosa, mas nem por 
isso deixam de ser corajosos. Cita outros tipos de 
coragem que ultrapassam os atos de guerra, como 
a coragem dos marinheiros, dos que enfrentam a 
doença ou os perigos da política e dos que resistem 
aos impulsos das paixões. Enfim. o que Sócrates 
procura não são exemplos de casos corajosos. mas 
o conceito de coragem. 1 
Aporético. Que diz respeito à aporia (do grego, poros, "pas­
sagem", a "negação", portanto, "impasse", "incerteza"). Os 
diálogos aporéticos não têm continuidade porque o opo­
nente se retira ou o debate não avança até uma solução, 
sobretudo se o interlocutor esquiva-se do debate. 
Esgrimir. Praticar a arte de esgrima; significa também dis­
cutir, debater. O mesmo ocorre com a palavra florear, que 
significa "usar arma branca com destreza" ou "embelezar 
um texto". 
A arte da esgrima. um dos jogos que os gregos anti.gos 
aprendiam nos ginásios. é o assunto inicial do diálogo Laques, 
de Platão. Sabemos que na esgrima os opositores se confrontam a 
fim de ver quem é mais hábil para vencer a luta. Releia o item 
sobre os sofistas e responda às questões: 
a) Em que sentido esgrimir com palavras é indicati.vo das 
criticas feitas por Sócrates e Platão aos sofistas? 
b) Reflita e posicione-se a respeito: Esse é um procedimento 
adequado para a discussão filosófica? 
Esgrima nos 
Jogos Olímpicos 
de Atenas, Grécia 
(Hungria x França), 
2004. 
, 	 Consultar CHAUl, Marilena. Introdução à história dafilosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. São 
Paulo: Brasiliense, 1994. Nas páginas 146 a 151 há um esclarecedor resumo do diálogo Laques com a 
explicitação do processo metodológico de Sócrates. 
A busca da verdade Capitulo 13 
http:indicati.vo

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