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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FRANCIS AUGUSTO DUARTE 1º Ensaio de Tópicos em Demografia Belo Horizonte 2020 As discussões acerca das migrações internacionais flutuam pelas academias globais a décadas, várias teorias, debates intensos e uma realidade cada vez mais presente. As migrações fazem parte da história do homem desde o início de sua vida na terra, os humanos modernos surgiram no continente africano e depois se espalharam pela mundo, tudo isso a cerca de 60.000 anos atrás, o mundo como conhecemos no século XXI teve por base as migrações, todas as culturas, etnias são resultado de séculos migratórios. Com o advento da revolução industrial, os movimentos migratórios agora por questões econômicas e sociais se tornaram um fator essencial no estudo histórico-social, ocorreram movimentos populacionais significativos na região do Atlântico, ligando a África e a Europa às Américas. Um exemplo claro desses movimentos foi a imigração irlandesa, alemã e britânica significativa para os Estados Unidos, e o desembarque de imigrantes italianos na Argentina e no Brasil durante a transição do século XIX para o século XX.(SOLIMANO, 2003). Diversas teorias foram criadas para uma maior compreensão do fenômeno migratório, principalmente à partir dos anos 50 com o pós segunda guerra mundial e as mudanças no xadrez global, onde o poderio econômico dos Estados Unidos, estava se tornando a maior potência econômica mundial, é importante frisar que o crescimento norte-americano se deve em particular pela entrada exponencial de imigrantes, que como a própria Escola de Chicago trabalhou em seus conceitos e teorias, esta ligado diretamente a um fator econômico. Os Estados Unidos estavam expandindo sua economia e para isso era necessário mão de obra, quando o Welfare State ocorre, os nativos começam 1 à ter melhores oportunidades de trabalho, o que faz com que postos abandonados, como na agricultura, serviço domésticos e de baixa remuneração fiquem com os imigrantes, que se deslocam principalmente da América Latina, rumo a uma maior remuneração e melhores oportunidades. A Escola de Chicago, contribui muito para que os estudos migratórios fossem associados a economia e analisados como um fator sociológico, assim diversas teorias surgem para entender esse fenômeno, temos as análises de Thomas & Znaniecki, que tentam entender os fatores de adaptação e assimilação cultural dos imigrantes, o que é extremamente importante visto que o que se observa em 1 Estado de bem-estar social, é uma forma de organização política e econômica em que o governo atua como um agente assistencial, garantido liberdade e igualdade. diversas cidades globais( usando o termo cunhado por Sassen) é que existe uma certa tendência entre os imigrantes de se estabelecerem perto de outros conterrâneos, devido à maior familiaridade, língua e em uma estrutura maior à sua rede social, alguns exemplos são os bairros do Bronx que tem mais de 56,4 % da sua população de origem latina, ou o Chinatown também em New York, que possui a maior parte de sua população de origem chinesa ou do leste-asiático. Essa aglomeração de imigrantes de origens semelhantes se explica por um acolhimento diferenciado, como pontuam SASAKI e ASSIS: “Assim, os migrantes potenciais concentram-se naquelas poucas localidades onde têm fortes ligações com o lugar de origem deixando de considerar muitos outros destinos teoricamente disponíveis.” (SASAKI, ASSIS, 2000). Dentro dessa discussão de assimilação, podemos destacar também a própria questão da identidade, que vai sendo construída e moldada dentro das culturas, assim é bom citar as palavras do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, que ele mesmo na condição de imigrante, escreve que: (...)a ideia de ter uma identidade não vai ocorrer às pessoas enquanto o pertencimento continuar sendo o seu destino, uma condição sem alternativa. Só começarão a ter essa ideia na forma de uma tarefa a ser realizada(...). (BAUMAN, 2005, p. 17-18). O que Bauman, quis explicar é que a identidade do individuo que esta migrando é uma fenômeno a ser construído, uma vez que não há apenas a sua cultura, mas a comunidade onde está se inserido, mesmo com os outros migrantes, agora dentro de um novo lugar, as identidades vão se entrelaçando. É preciso colocar na balança das discussões globais, a própria ideia de como os mercados e a cidade foram se forjando, Sassen(1988) brilhantemente nos mostra isso ao analisar pobreza, o desemprego crescente nos países chamados periféricos e o aumento demográfico desses países, que possibilitam as migrações o que tem forte relação com a economia mundial e o crescimento da demanda por mão de obra barata. (...)Tais processos estão relacionados com a reorganização da economia mundial nas duas últimas décadas, resultando na formação de um espaço transnacional, onde a circulação de trabalhadores é apenas um dos fluxos dentre outros, como os de capital, mercadorias, serviços e informações.(SASAKI, ASSIS, 2000). Essa discussão é mais ampla do que nos é permitido abordar, assim um dos pontos que deve ser compreendido é que as migrações principalmente no final do século XIX e durante todo o XX, tem um fator econômico forte por trás, assim toda a estrutura econômica e social, como a própria questão de classe abordada por Marx, deve ser pensada no momento do assunto ser colocado a mesa. Como abordado Peixoto ao analisar os estudos de Petras: A razão principal dos fluxos migratórios, segundo Petras, é a existência de “zonas salariais” (wage zones) diferenciadas. Os mecanismos específicos de desenvolvimento e subdesenvolvimento (ou de centralidade e perifericidade) levaram à criação de excedentes de mão-de-obra nas periferias, numa situação generalizada de baixos salários, e a uma necessidade de recursos humanos, acompanhada de altos salários, nos países mais desenvolvidos.(PEIXOTO, 2004) Entender esses fluxos e toda a questão econômica, social e de construção identitária por trás é necessário para compreender o desenvolvimento das migrações até o século XXI, assim como o nascimento de uma onda xenofóbica que tem reestruturado a política global. Referências BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 2005. PEIXOTO, J. (2004). As Teorias Explicativas das Migrações: Teorias Micro e Macro-Sociológicas. Socius Working Papers, nº 11. Lisboa: SOCIUS – Centro de Investigação em Sociologia Económica e das Organizações. PETRAS, Elizabeth McLean (1981), “The global labor market in the modern world-economy”, in M.M. Kritz et al. (Ed.), Global Trends in Migration - Theory and Research on International Population Movements, Nova Iorque, Center for Migration Studies, pp. 44-63 SANTOS, Marco Aurélio dos. MIGRAÇÕES E TRABALHO SOB CONTRATO NO SÉCULO XIX. História, Franca,v.36,e12,2017 Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-90742017000100513&lng=es&nrm=iso>. Acesso em 01 set. 2020. Epub 04-Dez-2017. https://doi.org/10.1590/1980-436920170000000012. SASAKI, Elisa Massae; ASSIS, Gláucia de O. “Teorias das migrações internacionais”. In: ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS POPULACIONAIS, 12., 2000. Anais... Caxambu, 2000. SASSEN, Saskia – The mobility of labor and capital: a study in international investment and labor flow, New York, Cambridge University Pres, 1988. SOLIMANO, Andrés. Globalización y migración internacional: la experiência latinoamericana. Revista de la CEPAL, Santiago, n. 80, agosto. 2003. https://doi.org/10.1590/1980-436920170000000012
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