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Crimes Hediondos 2

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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL 
Crimes Hediondos 
Cleber Masson 
Aula 03 
 
 
ROTEIRO DE AULA 
 
 
Crimes Hediondos – Lei 8.072/1990 
 
1. Lei 8.072/1990 e origem histórica 
 
O primeiro diploma legislativo a tratar sobre crimes hediondos foi a Lei 8.072/1990. De lá para cá, ela passou 
por diversas reformas. A expressão “crimes hediondos” foi utilizada pela Constituição Federal (art. 5º, XLIII). 
 
Art. 5º (...), XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da 
tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes 
hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se 
omitirem; 
 
Obs. Estamos diante de uma norma constitucional de eficácia limitada e de aplicabilidade mediata, pois 
depende de complementação por lei ordinária. 
 
O que motivou a criação dessa lei? A onda de crimes de extorsão mediante seqüestro no final da década de 
1980. 
 
2. Conceito de crime hediondo 
 
Existem alguns critérios para a definição dos crimes hediondos: 
 
a) Critério Legal 
 
Crime hediondo é aquele que a lei define como tal. 
 
b) Critério Judicial 
 
Por esse critério o Juiz definirá, no caso concreto, se o crime é ou não hediondo. 
 
c) Critério Misto 
 
Para esse critério o legislador fornece parâmetros mínimos, e dentro disso o Juiz tem plena 
liberdade, no caso concreto, para definir um crime como hediondo ou não. 
 
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2.1. Critério adotado no Brasil 
 
O Brasil adota o critério legal para definição dos crimes hediondos. 
 
Art. 5º (...), XLIII, da CF - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a 
prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como 
crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se 
omitirem; 
 
Para regulamentar a disposição constitucional, dispõe o art. 1º da Lei 8.072/1990: 
 
Art. 1º, caput, da Lei 8.072/1990: “São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados 
no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados”: 
 
 Crimes hediondos versus tentativa 
 
Repare que o final do art. 1º, caput, da Lei 8.072/90 refere-se aos crimes hediondos como passíveis de 
serem “consumados ou tentados”. 
 
Obs. A natureza tentada de um crime rotulado pela lei não exclui a sua hediondez. A tentativa não 
altera a classificação do crime, ela é apenas uma causa de diminuição da pena. 
 
2.2. Crimes hediondos e princípio da insignificância 
 
É possível a aplicação desse princípio aos crimes hediondos? A responda é NÃO, pois os crimes 
hediondos são logicamente incompatíveis com o princípio da insignificância. Isso porque a própria 
Constituição, no art. 5º, XLIII, exige um tratamento diferenciado aos crimes hediondos. 
 
O STF classifica os crimes os hediondos como “crimes de máximo potencial ofensivo”. 
 
DICA IMPORTANTE: 
 
o As infrações penais de menor potencial ofensivo (contravenções penais e crimes com pena 
máxima de anos) – são de competência do Juizado Especial Criminal, e admitem os benefícios 
da transação penal e da composição dos danos civis; 
 
o Os crimes e médio potencial ofensivo (aqueles que admitem a suspensão condicional do 
processo) – art. 89 da Lei 9.099/95. São os crimes com pena mínima de até 1 (um) ano, pouco 
importando a pena máxima; 
 
Essa pena máxima tem que ser superior a 2 anos, pois caso contrário será um crime de menor 
potencial ofensivo. 
 
o Crimes de elevado potencial ofensivo (são aqueles incompatíveis com os benefícios da Lei 
9.099/95). 
 
Obs.: Mas o que o STF chama de crimes de máximo potencial ofensivo? Esses crimes são aqueles 
previstos no art. 5º, XLII, XLIII e XLIV da Constituição Federal. 
 
LII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de 
reclusão, nos termos da lei; 
 
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LIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da 
tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como 
crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-
los, se omitirem; 
 
XLIV - constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou 
militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático; 
 
2.3. O rol taxativo dos crimes hediondos (art. 1º da Lei 8.072/90) 
 
O rol é taxativo. O juiz não pode, no caso concreto, criar novos crimes hediondos. 
 
a) Homicídio 
 
Inc. I – homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, 
ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, incisos I, II, 
III, IV, V, VI e VII);  
 
Questões 
 
 O Homicídio desde o surgimento da Lei 8.072/1990 era considerado crime 
hediondo? 
 
Não, pois o homicídio não constava na redação original dessa Lei. O homicídio 
apenas se tornou hediondo com a Lei Glória Perez (Lei 8.930/94). 
 
 O crime de homicídio sempre é hediondo? 
 
o Homicídio qualificado é crime hediondo; 
o Homicídio privilegiado não é crime hediondo; 
o O homicídio simples em regra não será hediondo, mas quando for 
cometido em atividade típica de grupo de extermínio (ainda que por 
um só agente) será considerado hediondo. 
 
Obs. Se o homicídio for praticado por um grupo de extermínio (CP, art. 
121, § 6º) – causa de aumento da pena – por si só não é crime 
hediondo. Mas, na prática, essa modalidade de homicídio será 
acompanhada por alguma qualificadora. 
 
 O que é o homicídio híbrido? 
 
É aquele simultaneamente qualificado e privilegiado. É aceito no Brasil? 
Depende da natureza da qualificadora: 
 
o Qualificadora de natureza subjetiva – não admite homicídio híbrido; 
 
o Qualificadora de natureza objetiva - Admite homicídio híbrido; 
 
Esse homicídio híbrido é crime hediondo? O STJ no HC 153.728, entende que 
não, por: 
 
a. Falta de previsão legal; 
 
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b. A suavidade do privilégio é incompatível com a gravidade da 
hediondez. 
 
PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. ART. 
121, § 1º E § 2º, INCISO IV, C/C ART. 14, INCISO II, AMBOS DO CÓDIGO 
PENAL. CRIME NÃO ELENCADO COMO HEDIONDO. PENA-BASE FIXADA 
ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS DESFAVORÁVEIS. 
REGIME PRISIONAL SEMIABERTO. DIREITO DE APELAR EM LIBERDADE. 
I - Por incompatibilidade axiológica e por falta de previsão legal, o 
homicídio qualificado-privilegiado não integra o rol dos denominados 
crimes hediondos (Precedentes). 
II - Sendo desfavoráveis as circunstâncias judiciais (CP, art. 59) na fixação 
da pena-base, é apropriado o regime prisional semiaberto para o 
cumprimento da reprimenda, muito embora a pena aplicada ao paciente, 
se considerada somente seu quantum, permitisse a fixação do regime 
inicial aberto (Precedentes). 
III - Ante a fixação do regime semiaberto como o inicial de cumprimento 
da pena, deverá o réu aguardar o julgamento do recurso de apelação em 
liberdade, se por outro motivo não estiver preso (Precedentes). 
Ordem parcialmente concedida a fim de fixar o regime semiaberto como 
inicial para cumprimento da reprimenda penal, bem como para que o 
paciente aguarde o julgamento do recurso de apelação em liberdade, 
devendo ser expedido o respectivo alvará de soltura, salvo se por outro 
motivo estiver preso. 
(HC 153.728/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 
13/04/2010, DJe 31/05/2010) 
 
Cuidado em uma prova oral, pois, há algumas vozes dizendo que o homicídio 
qualificado-privilegiado é hediondo, porque o privilégio no homicídio é uma 
mera causa de diminuição da pena(1/6 a 1/3), mas ele continua sendo 
qualificado. 
 
b) Lesão corporal 
 
A lesão corporal em regra não é crime hediondo. Existem duas condições em que será 
considerada como tal: 
 
Inc. I-A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2º) e lesão 
corporal seguida de morte (art. 129, § 3º), quando praticadas contra autoridade ou 
agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema 
prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em 
decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até 
terceiro grau, em razão dessa condição; 
 
 
 
c) Latrocínio 
 
O Latrocínio tem previsão no art. 157, § 3º, in fine, do CP. Portanto, o roubo via de regra 
não é crime hediondo, mas quando ocorrer a morte (latrocínio) ele passa a ser hediondo. 
 
Questão: 
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 E o roubo qualificado pela lesão grave? 
 
Ele tem previsão no art. 157, §3º, 1ª parte, do CP. Não é latrocínio nem crime 
hediondo. 
 
A Lei dos Crimes Hediondos foi a primeira a atribuir “nome” ao latrocínio. 
 
d) Extorsão 
 
A extorsão em regra não é crime hediondo. Porém, quando for qualificada pela morte, 
será delito desta natureza (Art. 1º, III, Lei 8.072/90). 
 
Obs.: Há polêmica envolvendo o sequestro relâmpago (art. 158, § 3º, do CP), que é uma 
modalidade qualificada da extorsão. 
 
Alguns autores sustentam que o sequestro relâmpago com morte seria crime hediondo. 
Cleber Masson explica que “sequestro relâmpago deveria ser crime hediondo”, mas por 
uma falha do legislador não o é. Como o Brasil adota um critério legal, apenas será crime 
hediondo se tiver previsão no art. 1º da Lei 8.078/90. 
 
e) Extorsão mediante sequestro 
 
Inc. IV - extorsão mediante sequestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ lº, 2º e 
3º) 
 
A extorsão mediante sequestro é crime hediondo em todas as suas modalidades (simples 
ou qualificadas) 
 
f) Estupro e Estupro de vulnerável 
 
São crimes hediondos em todas as suas modalidades. 
 
 Inc. V - estupro (art. 213, caput e §§ 1º e 2º) 
 
 Inc. VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1º, 2º, 3º e 4º) 
 
g) Epidemia com resultado morte 
 
A epidemia por si só não é crime hediondo. Exige-se seja qualificada pela morte. 
 
Epidemia é a difusão de doença mediante a propagação de genes patogênicos. 
 
Inc. VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1º) . 
 
 
 
h) Falsificação de medicamentos 
 
Inc. VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins 
terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1º, § 1º-A e § 1º-B, com a redação dada 
pela Lei no 9.677, de 2 de julho de 1998) 
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i) Favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou 
adolescente ou de vulnerável 
 
Inc. VIII - favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança 
ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º) 
 
j) Genocídio 
 
Tem previsão no art. 1º, parágrafo único da Lei 8.072/90: Considera-se também hediondo 
o crime de genocídio previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei no 2.889, de 1º de outubro de 
1956, tentado ou consumado. 
 
 Aspectos principais 
 
Genocídio não é somente a matança coletiva, e sim a intenção de destruir, no todo ou 
em parte, um grupo étnico, racial, nacional ou religioso. A Lei de Genocídio enumera 
diversas condutas nesse sentido. 
 
 O genocídio é classificado como crime contra a humanidade, e não contra a vida. Não 
se trata de delito de competência do Tribunal do Júri, ainda que a conduta consista 
em matar dolosamente membros de um grupo. 
 
O Tribunal do Júri tem competência para julgar crimes dolosos contra a vida. Por sua 
vez, o genocídio é crime contra a humanidade, razão pela qual a competência de 
julgamento é do juízo singular (comum) – Federal ou Estadual, a depender do caso 
concreto. 
 
 O genocídio é um típico caso de norma penal em branco “ao avesso”, isto é, temos as 
condutas criminosas, mas faltam as respectivas penas. 
 
2.4. Crimes hediondos e cláusula salvatória 
 
Essa cláusula salvatória não é admitida no Brasil. É uma denominação criada por Alberto Zacharias 
Toron, com a finalidade de permitir ao juiz, no caso concreto, a retirada do caráter hediondo de um 
crime assim classificado pela lei. 
 
2.5. Crimes equiparados aos hediondos 
 
O tráfico de drogas, a tortura e o terrorismo não são crimes hediondos, e sim assemelhados ou 
equiparados. Em outras palavras, embora não sejam hediondos, recebem da Constituição Federal e 
das leis igual tratamento dispensado aos delitos hediondos. 
 
a) Tráfico de drogas 
 
A figura privilegiada (art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006): Nos delitos definidos no caput e no § 
1o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão 
em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não 
se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. (Vide Resolução nº 
5, de 2012) 
 
Essa figura privilegiada configura o tráfico acidental, e reclama a presença de quatro requisitos 
cumulativos (diminuição de 1/6 a 2/3): 
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a. Agente primário; 
b. Bons antecedentes; 
c. Não se dedica a atividades criminosas; 
d. Não integra organizações criminosas. 
 
O STF entende hoje que essa figura privilegiada não é equiparada a hediondo. 
 
STF: Plenário, HC 118.533, Informativo 831 
 
EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL, PENAL E PROCESSUAL PENAL. TRÁFICO DE 
ENTORPECENTES. APLICAÇÃO DA LEI N. 8.072/90 AO TRÁFICO DE ENTORPECENTES 
PRIVILEGIADO: INVIABILIDADE. HEDIONDEZ NÃO CARACTERIZADA. ORDEM CONCEDIDA. 
1. O tráfico de entorpecentes privilegiado (art. 33, § 4º, da Lei n. 11.313/2006) não se 
harmoniza com a hediondez do tráfico de entorpecentes definido no caput e § 1º do art. 
33 da Lei de Tóxicos. 2. O tratamento penal dirigido ao delito cometido sob o manto do 
privilégio apresenta contornos mais benignos, menos gravosos, notadamente porque 
são relevados o envolvimento ocasional do agente com o delito, a não reincidência, a 
ausência de maus antecedentes e a inexistência de vínculo com organização criminosa. 
3. Há evidente constrangimento ilegal ao se estipular ao tráfico de entorpecentes 
privilegiado os rigores da Lei n. 8.072/90. 4. Ordem concedida. 
 
(HC 118533, Relator (a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 23/06/2016, 
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-199 DIVULG 16-09-2016 PUBLIC 19-09-2016) 
 
Por sua vez o STJ tinha a Súmula 512 dizendo: “A aplicação da causa de diminuição de pena 
prevista no art. 33, § 4º, da Lei n. 11.343/2006 não afasta a hediondez do crime de tráfico 
de drogas”. Essa súmula foi CANCELADA. 
 
b) Tortura: Lei 9.455/1997 
 
c) Terrorismo: Lei 13.260/2016 
 
3. Vedações legais 
 
“Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o 
terrorismo são insuscetíveis de:”  
 
3.1. Anistia, graça e indulto: inc. I 
 
A polêmica inerente ao indulto: proibição constitucional e ampliação legal 
 
CF, art. 5º, inc. XLIII:  “a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia 
a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos 
como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo 
evitá-los, se omitirem”. 
 
A Constituição só proibiu a graça e a anistia. 
 
Lei de Tortura e silêncio eloquente no tocante ao indulto 
 
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Art. 1º, § 6º, da Lei 9.455/1997: “§ 6º O crime de tortura é inafiançávele insuscetível de graça 
ou anistia.” 
 
Questão: 
 
o A proibição do indulto na Lei dos Crimes Hediondos é constitucional? 
 
Formaram-se duas posições sobre o assunto: 
 
 1ª Posição (Defensoria Pública) 
 
Essa proibição do indulto na Lei dos Crimes Hediondos é inconstitucional, pois a Lei 
8.072/1990 fez uma proibição não prevista pela Constituição Federal. 
 
 2ª Posição (MP, Polícia) 
 
A proibição do indulto pela Lei dos Crimes Hediondos é constitucional. Os adeptos 
dessa posição sustentam que a Constituição proibiu a graça e a anistia. Porém, quando 
a Constituição se utiliza da palavra “graça” ela o faz em sentido amplo, para abranger 
a graça propriamente e também o indulto (“graça coletiva). 
 
Historicamente essa segunda posição é a do STF. 
 
3.2. Fiança: Inc. II 
 
Os crimes hediondos e equiparados são inafiançáveis. Na redação original da Lei dos Crimes 
Hediondos também era vedada a liberdade provisória sem fiança. Essa proibição foi abolida pela 
Lei 11.464/2007. 
 
A liberdade provisória sem fiança depende do convencimento do Juiz, no sentido de estarem 
ausentes os requisitos para a decretação da prisão preventiva. 
 
4. Regime inicial fechado para cumprimento da pena privativa de liberdade 
 
Art. 2º, § 1º, da Lei 8.072/90: “A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime 
fechado”.  
 
Na redação original da Lei dos Crimes Hediondos o regime era integralmente fechado (começa e termina no 
regime fechado). O STF decidiu pela inconstitucionalidade desse regime, pela violação dos princípios da 
individualização da pena, da proporcionalidade e também da dignidade da pessoa humana. 
 
Obs.: De 1990 até 2005 o regime integralmente fechado era considerado constitucional. 
 
O art. 1º, § 7º, da Lei de Tortura previa o regime inicial fechado: “O condenado por crime previsto nesta Lei, 
salvo a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado”. 
 
O STF editou a Súmula 698: “Não se estende aos demais crimes hediondos a admissibilidade de progressão 
no regime de execução da pena aplicada ao crime de tortura”. 
 
Depois disso veio a Lei 11.464/2007 dizendo que a pena privativa de liberdade para os condenados por crimes 
hediondos e equiparados será cumprida em regime inicialmente fechado (o cumprimento da pena começará 
no regime fechado, pouco importando a quantidade da pena e a condição pessoal do condenado). 
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Posteriormente o STF decidiu que o regime inicial fechado também é inconstitucional, por violação dos 
princípios da individualização da pena e da proporcionalidade, e por falta de previsão na CF (Plenário, HC 
111.840, Informativo 672) 
 
EMENTA Habeas corpus. Penal. Tráfico de entorpecentes. Crime praticado durante a vigência da Lei nº 
11.464/07. Pena inferior a 8 anos de reclusão. Obrigatoriedade de imposição do regime inicial fechado. 
Declaração incidental de inconstitucionalidade do § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/90. Ofensa à garantia 
constitucional da individualização da pena (inciso XLVI do art. 5º da CF/88). Fundamentação necessária (CP, 
art. 33, § 3º, c/c o art. 59). Possibilidade de fixação, no caso em exame, do regime semiaberto para o início 
de cumprimento da pena privativa de liberdade. Ordem concedida. 1. Verifica-se que o delito foi praticado 
em 10/10/09, já na vigência da Lei nº 11.464/07, a qual instituiu a obrigatoriedade da imposição do regime 
inicialmente fechado aos crimes hediondos e assemelhados. 2. Se a Constituição Federal menciona que a lei 
regulará a individualização da pena, é natural que ela exista. Do mesmo modo, os critérios para a fixação 
do regime prisional inicial devem-se harmonizar com as garantias constitucionais, sendo necessário exigir-
se sempre a fundamentação do regime imposto, ainda que se trate de crime hediondo ou equiparado. 3. Na 
situação em análise, em que o paciente, condenado a cumprir pena de seis (6) anos de reclusão, ostenta 
circunstâncias subjetivas favoráveis, o regime prisional, à luz do art. 33, § 2º, alínea b, deve ser o 
semiaberto. 4. Tais circunstâncias não elidem a possibilidade de o magistrado, em eventual apreciação das 
condições subjetivas desfavoráveis, vir a estabelecer regime prisional mais severo, desde que o faça em 
razão de elementos concretos e individualizados, aptos a demonstrar a necessidade de maior rigor da 
medida privativa de liberdade do indivíduo, nos termos do § 3º do art. 33, c/c o art. 59, do Código Penal. 5. 
Ordem concedida tão somente para remover o óbice constante do § 1º do art. 2º da Lei nº 8.072/90, com a 
redação dada pela Lei nº 11.464/07, o qual determina que “[a] pena por crime previsto neste artigo será 
cumprida inicialmente em regime fechado“. Declaração incidental de inconstitucionalidade, com efeito ex 
nunc, da obrigatoriedade de fixação do regime fechado para início do cumprimento de pena decorrente da 
condenação por crime hediondo ou equiparado. 
 
(HC 111840, Relator (a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 27/06/2012, PROCESSO 
ELETRÔNICO DJe-249 DIVULG 16-12-2013 PUBLIC 17-12-2013) 
 
Para o STF, o legislador não pode obrigar o Juiz a aplicar um determinado regime prisional. 
 
Hoje em dia é possível a aplicação de um regime aberto ou semiaberto para condenado em crime hediondo ou 
equiparado. 
 
ATENÇÃO: A Constituição Federal criou dois pólos diversos: 
 
 Infração penal de menor potencial ofensivo (art. 98, I) 
 
Tratamento mais brando 
 
 Crimes hediondos equiparados (art. 5º, XLIII) 
 
Tratamento mais rigoroso 
 
Tirando essas duas extremidades, teremos a criminalidade comum, por isso não se pode dar tratamento 
idêntico a um crime hediondo (ou equiparado) e a um delito não revestido pela hediondez. 
 
No HC 123.316, em que o paciente condenado pelo crime de tortura recebeu regime inicialmente 
fechado para cumprimento da pena (com base na Lei de Tortura), o STF denegou a ordem entendendo pela 
constitucionalidade do regime inicialmente fechado na Lei de Tortura: 
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PENA – REGIME DE CUMPRIMENTO – CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS. O regime de cumprimento da pena é 
fixado a partir do período correspondente e as circunstâncias judiciais. PENA – REGIME DE 
CUMPRIMENTO – PREVISÃO LEGAL. Se a lei de regência prevê o regime inicial de cumprimento da 
pena, impõe-se a observância, independente das circunstâncias judiciais. 
 
(HC 123316, Relator (a): Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, julgado em 09/06/2015, PROCESSO 
ELETRÔNICO DJe-154 DIVULG 05-08-2015 PUBLIC 06-08-2015) 
 
5. Progressão de regime prisional 
 
o Na criminalidade comum a progressão de regime prisional depende de dois requisitos: a) cumprimento 
de parte da pena (1/6); b) mérito (comportamento favorável). 
 
o Nos crimes contra a Administração Pública exige-se um terceiro requisito: reparação do dano (ou 
restituição da coisa) causado ao erário. 
 
o Nos crimes hediondos – Lei 8.072/90. 
 
Art. 2º, § 2º: “A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos neste artigo, dar-
se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três 
quintos), se reincidente”. 
 
Também se exige o mérito do condenado (condições pessoais que autorizam um regime mais brando). 
 
Para a Lei dos Crimes Hediondos é irrelevante seja a reincidência genérica ou específica, em crime 
doloso ou culposo. Se o agente for reincidente, deverá cumprir 3/5 da pena, além do requisito subjetivo. 
Existe polêmica sobre isso, pois na Defensoria há teses institucionais dizendo que esse cumprimento de 
3/5 só é exigido para agentes reincidentes em crime hediondo ou equiparado. 
 
Esses percentuais diferenciados são constitucionais? Sim, porque é matéria legal, e esse tempo de 
cumprimento da pena diferenciado está em sintonia com o espírito da CF.Obs. A segunda progressão sempre será calculada com base no restante da pena (pena cumprida é pena 
extinta). 
 
6. Prisão temporária 
 
A prisão temporária é uma modalidade de prisão provisória, decretada antes do trânsito em julgado da 
condenação, e tem natureza cautelar. 
 
No Brasil a prisão temporária é possível apenas na fase investigatória, por esse motivo ela não pode ser 
decretada de ofício pelo juiz, dependendo de requerimento do MP ou representação da autoridade policial. 
 
Art. 2º, § 4º, da Lei 8.072/90: “A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no 7.960, de 21 de 
dezembro de 1989, nos crimes previstos neste artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por 
igual período em caso de extrema e comprovada necessidade”. 
 
Obs. Esse prazo de prisão temporária não é computado no prazo para conclusão do Inquérito Policial. 
 
7. Estabelecimentos penais de segurança máxima 
 
MARCIO LIMA DA CUNHA - 05308192790
 
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“Art. 3º da Lei 8.072/90: A União manterá estabelecimentos penais, de segurança máxima, destinados 
ao cumprimento de penas impostas a condenados de alta periculosidade, cuja permanência em 
presídios estaduais ponha em risco a ordem ou incolumidade pública”. 
 
O condenado de alta periculosidade pode não ser necessariamente um condenado por crime hediondo ou 
equiparado. 
 
Obs. Para o presídio federal não vão apenas os condenados pela Justiça Federal. 
 
 
MARCIO LIMA DA CUNHA - 05308192790

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